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Resumo Aleitamento Materno 2 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br 1. Introdução O aleitamento materno (AM) protege mãe e criança contra algumas doenças (a proteção se mantém enquanto a criança for amamentada, independentemente da idade) e promove o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, além do bem- estar de ambas. O padrão de AM pode ser classificado em: • AM exclusivo (AME): criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, sem outros líquidos ou sólidos; • AM predominante: além do leite materno, recebe água ou bebidas à base de água e sucos de frutas; • AM complementado: além do leite materno, recebe alimentos complementares, definidos como qualquer alimento sólido ou semissólido; e • AM misto ou parcial: além do leite materno, recebe outros tipos de leite. A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam AM por 2 anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros 6 meses. A introdução precoce de alimentos aumenta a chance de adoecer por infecção intestinal e o risco de alergia alimentar e diminui a duração do AM, interfere na absorção de micronutrientes importantes nele existentes, como ferro e zinco, e reduz a eficácia da lactação na prevenção de novas gestações. Evidências da superioridade da amamentação sob outras formas de alimentação na criança pequena: • Redução na mortalidade infantil: até 13% em menores de 5 anos por causas preveníveis (nenhuma estratégia alcança esse impacto), a amamentação na 1ª hora de vida diminui a mortalidade neonatal; • Redução da incidência e gravidade da diarreia; • Redução da morbidade por infecção respiratória; • Redução de alergias: inclusive a exposição a pequenas doses de leite de vaca nos primeiros dias de vida aumenta a o risco de alergia ao leite da vaca; Imagem: https://cursoamamentacaoorganizada.com/ 3 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br • Redução de doenças crônicas: obesidade, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e hipercolesterolemia; • Melhor nutrição; • Melhor desenvolvimento cognitivo e inteligência; • Melhor desenvolvimento da cavidade bucal; • Proteção contra doenças na mulher que amamenta: câncer de mama e ovário, diabetes mellitus tipo 2, efeito anticoncepcional; • Economia; • Promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho. A partir dos 6 meses, as necessidades nutricionais não são mais atendidas só com o leite, já há maturidade fisiológica e neurológica para receber outros alimentos, o reflexo de protusão da língua diminui facilitando a ingestão de alimentos semissólidos, as enzimas digestivas são suficientes para essa fase e a criança consegue sentar-se facilitando a alimentação por colher. Os alimentos complementares, especialmente preparados para a criança, são chamados de alimentos de transição. A partir dos 8 meses, já pode receber gradativamente os alimentos preparados para a família, desde que sem temperos picantes, alimentos industrializados, pouco sal e oferecidos amassados, desfiados, triturados ou picados. A introdução dos alimentos complementares deve ser lenta e gradual, a criança tende a rejeitar as primeiras ofertas. A alimentação deve ser complementar ao leite materno e não o substituir. Inicialmente, a quantidade que a criança ingere pode ser pequena e se, após a refeição, a criança demonstrar sinais de fome poderá ser amamentada. Os alimentos devem ser oferecidos separados no prato, para que a criança possa conhecer os sabores e texturas. 2. Produção do leite As mamas possuem 15-25 lobos (glândulas tubulo-alveolares), cada um contendo 20-40 lóbulos, formados por 10-100 alvéolos, envolvidos por células 4 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br mioepiteliais. O leite é secretado nos alvéolos por uma cadeia única de células epiteliais altamente diferenciadas e conduzidos por uma rede de ductos. Durante as mamadas os ductos enchem-se de leite e dilatam-se, formando o que antes se chamava equivocadamente de seios lactíferos. O estrogênio ramifica os ductos, o progestogênio forma lóbulos, mas outros hormônios também estão envolvidos no crescimento mamário, como o lactogênio placentário, prolactina e HCG. Apesar de a prolactina estar muito aumentada na gestação, não há secreção de leite porque é inibida pelo lactogênio placentário. O início da secreção de leite (fase II da lactogênese) ocorre graças à queda do progestogênio após o nascimento e a expulsão da placenta, com consequente liberação da produção de prolactina pela hipófise anterior. Assim, a “descida do leite”, que costuma ocorrer até o 3º ou 4º dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção do peito e é de controle hormonal. Em seguida, inicia-se a fase III da lactogênese (galactopoese) que persiste por toda a lactação e é de controle autócrino e depende da sucção e do esvaziamento da mama. O não esvaziamento diminui a secreção do leite por inibição mecânica (o leite acumulado nos alvéolos distorce a forma das células e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores) e química (a remoção contínua de peptídeos supressores de lactação presentes no leite garante a reposição). Grande parte do leite de uma mamada é produzido enquanto a criança mama, sob o estímulo da prolactina, liberada graças à inibição da liberação da dopamina, que é um fator inibidor da prolactina. A liberação de prolactina e ocitocina é regulada pelos reflexos da produção e ejeção do leite, respectivamente, ativados pela estimulação dos mamilos, sobretudo pela sucção da criança. A liberação da ocitocina também ocorre em resposta a estímulos como visão, olfato e audição (ouvir o choro da criança), e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por outro lado, dor, desconforto, estresse, ansiedade, medo, insegurança e falta de autoconfiança podem inibir a secreção de ocitocina. A secreção de leite aumenta de menos de 100 mL/dia no início da lactação para aproximadamente 600 mL no 4º dia, em média. O volume de leite produzido na lactação 5 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br já estabelecida varia de acordo com a demanda da criança. Em média, é de 850 mL por dia no 6º mês na amamentação exclusiva. A taxa de síntese de leite após cada mamada varia, sendo maior quando a mama é esvaziada com frequência. Habitualmente, a capacidade de produção de leite da mãe é maior que a demanda de seu filho. 3. Composição e aspecto do leite A composição é homogênea no mundo todo, à exceção de desnutridas graves. O leite maduro só é secretado por volta do 10º dia, inicialmente é secretado o colostro que contém mais proteínas e menos lipídios e é rico em imunoglobulinas, em especial IgA. O leite de mães de recém-nascidos pré-termo é diferente. O leite possui 90% da sua composição de água, suprindo as necessidades hídricas no AME. O principal carboidrato é a lactose e a principal proteína é a lactoalbumina. As gorduras são o componente mais variável e são responsáveis por suprir até 50% das necessidades energéticas, os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa são essenciais no desenvolvimento cognitivo e visual e na mielinização dos neurônios. A concentração de gordura aumenta no decorrer da mamada, sendo o leite final mais rico em gorduras, levando a saciedade. Há recomendações de suplementação de algumas vitaminas em crianças amamentadas devido a baixas concentrações no leite materno: vitamina K ao nascimento e vitamina D diária até os 18 meses para crianças sem exposição regular ao sol. O ferro deve ser suplementado a partir da introdução da alimentação complementar, quando diminui a ingesta de leite materno e a absorção do ferro da dieta ainda é reduzida, até os 2 anos. A cor e o aspecto do leitevaria ao longo da mamada (coloração de água de coco no início devido ao teor de água e os constituintes hidrossolúveis, depois coloração branca opaca devido a aumento de caseína e no final coloração amarelada devido aos pigmentos lipossolúveis) e com a dieta da mãe (ex: amarelado com dieta rica em betacaroteno e esverdeado em dietas ricas em riboflavina). 6 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br O leite humano possui vários fatores imunológicos específicos e não específicos que conferem proteção ativa e passiva contra infecções nas crianças amamentadas. A IgA secretória é a principal imunoglobulina. Outros fatores de proteção: leucócitos, lisozima e lactoferrina, que atuam sobre bactérias, vírus e fungos, oligossacarídeos, que previnem a ligação da bactéria na superfície mucosa e protegem contra enterotoxinas no intestino e o fator bífido, que favorece o crescimento de uma bactéria que acidifica as fezes dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia. Alguns dos fatores de proteção do leite materno são totais ou parcialmente inativados pelo calor, razão pela qual o leite humano pasteurizado (submetido a uma temperatura de 62,5ºC por 30 minutos) não tem o mesmo valor biológico que o leite cru. A produção do leite vai depender da sucção do bebê (pega correta, frequência das mamadas) que estimula a prolactina. A produção de ocitocina é responsável pela ejeção e é facilmente influenciada pela condição emocional da mãe (autoconfiança). A mãe pode referir que está com pouco leite, nesses casos, geralmente, o bebê ganha menos de 20g e molha menos de 6 fraldas por dia, a orientação é colocar a criança mais Imagem: https://www.help-sc.com.br/blog/dicas-help/leite-materno-o-carinho-que-vem-do-peito/ 7 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br vezes no peito para amamentar inclusive durante a noite, observando se a pega está correta. 4. Técnica de amamentação A técnica de amamentação, em especial o posicionamento da dupla mãe-bebê e a pega/sucção do bebê, são importantes para a retirada efetiva do leite pela criança e proteção dos mamilos. Uma posição inadequada da mãe e/ou do bebê dificulta o posicionamento correto da boca do bebê em relação ao mamilo e à aréola, podendo resultar em “má pega”. Esta, por sua vez, interfere na dinâmica de sucção e extração de leite, dificultando o esvaziamento da mama, com consequente diminuição da produção do leite e ganho de peso insuficiente do bebê, apesar de, muitas vezes, ele permanecer longo tempo no peito. Muitas vezes, o bebê com pega inadequada é capaz de obter o leite anterior, mas tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais nutritivo e rico em gorduras. Além disso, a má pega favorece traumas mamilares. Toda dupla mãe/bebê em AM deve ser avaliada por meio de observação completa de uma mamada. A OMS destaca quatro pontos-chave para posicionamento e quatro para pega, que caracterizam uma boa técnica: • Posicionamento: o Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz em oposição ao mamilo; o Corpo do bebê próximo ao da mãe; o Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido); e o Bebê bem apoiado. Imagem: https://cursoamamentacaoorganizada.com/ 8 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br • Pega o Aréola um pouco mais visível acima da boca do bebê; o Boca bem aberta; o Lábio inferior voltado para fora; e o Queixo tocando a mama. Os seguintes sinais são indicativos de técnica inadequada de amamentação: bochechas do bebê encovadas a cada sucção, ruídos da língua, mama aparentando estar esticada ou deformada durante a mamada, mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando o bebê solta a mama e dor durante a amamentação. Mais recentemente, tem-se valorizado o laid-back breastfeeding, um “jeito de amamentar” mais natural e descontraído, que consiste em adotar posições que facilitam a liberação de comportamentos instintivos na mãe e na criança que favorecem a amamentação. A mãe assume posição semideitada, relaxada, com ombros, cabeça e pescoço bem apoiados; o bebê fica em cima da mãe, em posição longitudinal ou oblíqua, Imagem: https://www.guiadobebe.com.br/cuidados-com-as-mamas-antes-e-durante-a-amamentacao/ 9 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br não havendo necessidade de apoiá-lo, pois ele se mantém fixado à mãe pela força da gravidade, livre da pressão das costas. Orientações básicas que devem ser repassadas às mães/famílias: • Início da amamentação: tão logo quanto possível após o parto, sendo recomendado contato pele a pele na 1ª hora de vida, a maioria dos bebês suga na 1ª hora se lhe for dada essa oportunidade, a sucção precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-parto ao liberar ocitocina e de icterícia no recém- nascido (RN) por aumentar a motilidade do trato gasto-intestinal; • Frequência das mamadas: é comum o bebê em AME sob livre demanda mamar de 8-12x/dia, o que pode ser interpretado como insuficiência na produção; mamas maiores por armazenarem mais podem ter mais flexibilidade com relação ao padrão de amamentação, mas o tamanho da mama não tem relação com a produção do leite; o Toda criança experimenta períodos de aceleração do crescimento em que aumenta a demanda por leite (em torno de 3 episódios antes dos 4 meses: entre 10-14 dias, entre 4 e 6 semanas e em torno dos 3 meses) e dura de 2-3 dias e pode ser interpretado como insuficiência da produção Imagem: https://cursoamamentacaoorganizada.com/ 10 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br pela mãe, por isso esses episódios devem ser antecipados na orientação à mãe, bebês prematuros podem apresentar vários episódios; • Duração das mamadas: não deve ser preestabelecida porque o tempo de esvaziamento da mama varia; • Uso de suplementos: águas, chás e sobretudo outros leites devem ser evitados, porque estão associados a desmame precoce (alguns crianças desenvolvem preferência pela mamadeira) e aumento da morbimortalidade infantil; • Uso de chupetas: desaconselhado, as crianças em geral são amamentadas com menor frequência e há relação com desmame precoce, além de afetar a formação do palato. É importante que a mãe tome mais água filtrada ou fervida (no mínimo 1 litro além da sua ingestão habitual diária) e evite a ingestão de líquidos com calorias, como refrigerante e refresco. As mulheres que se ausentam devem ser incentivadas a realizar a ordenha e armazenar o leite em frasco de vidro, com tampa plástica de rosca, lavado e fervido, a ser estocada por 12 horas na geladeira e até 15 dias no congelador ou freezer, o leite deve ser descongelado e aquecido em banho maria e deve ser oferecido ao bebê em copo ou xícara pequenos. 5. Desmame O ideal seria que o desmame ocorresse naturalmente (desmame natural), na medida em que a criança, sob a liderança da mãe, vai adquirindo competência para isso. Esse tipo de desmame proporciona transição amamentação/desmame mais tranquila, menos estressante para a mãe e a criança, preenche as necessidades da criança (fisiológicas, imunológicas e psicológicas) até elas estarem maduras e, teoricamente, fortalece a relação mãe-filho. 11 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br O desmame abrupto deve ser desencorajado, pois, se a criança não está pronta, ela pode se sentir rejeitada pela mãe, gerando insegurança e, muitas vezes, rebeldia. Na mãe, o desmame abrupto pode precipitar ingurgitamento mamário, estase do leite e mastite, além de tristeza ou depressão, por luto pela perda da amamentação ou por mudanças hormonais. No desmame natural, a criança se autodesmama gradualmente, o que pode ocorrer em diferentes idades, em média entre2 e 4 anos, e, raramente, antes de 1 ano. A mãe tem participação ativa no processo, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para aceitá-los e impondo limites adequados à idade. Há vários indicativos de que a criança pode estar pronta para iniciar o desmame: idade maior que 1 ano, menos interesse nas mamadas, aceita bem outros alimentos, é segura na sua relação com a mãe, aceita outras formas de consolo, aceita não ser amamentada em certas ocasiões e locais, às vezes dorme sem mamar no peito, mostra pouca ansiedade quando encorajada a não mamar e, às vezes, prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe em vez de mamar. Deve-se estar atento para não confundir autodesmame natural com a chamada “greve de amamentação” do bebê, que ocorre principalmente em crianças menores de 1 ano. De início súbito e inesperado, a criança parece insatisfeita e, em geral, é possível identificar uma causa: doença, dentição, diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2 a 4 dias. Muitas vezes, a amamentação é interrompida, apesar do desejo da mãe em mantê-la. As razões mais frequentes alegadas pelas mães para a interrupção precoce do AM são: leite insuficiente, rejeição do seio pela criança, trabalho da mãe fora do lar, “leite fraco”, hospitalização da criança e problemas nas mamas e falta de orientação adequada. Muitos desses problemas podem ser evitados ou superados. Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família a decisão de manter a amamentação até o desmame natural ou interrompê-la em um determinado momento. Muitos são os fatores envolvidos nessa decisão: circunstanciais, sociais, econômicos e culturais. Cabe ao 12 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br pediatra ouvir os interessados e ajudá-los a tomarem uma decisão, pesando os prós e os contras. A decisão, principalmente da mãe, deve ser respeitada e apoiada. Referências bibliográficas 1. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2017. 2. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica. 2ª edição. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.> 13 Resumo de Aleitamento Materno www.sanarflix.com.br
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