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1 INDIVÍDUO VEBLENIANO

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INDIVÍDUO VEBLENIANO E NEOCLÁSSICO: UMA COMPARAÇÃO 
 
 
Carine de Almeida Vieira 
Universidade Federal de Santa Maria 
carine.a.vieira@gmail.com 
 
Solange Regina Marin 
Universidade Federal de Santa Maria 
solremar@yahoo.com.br 
 
Júlio Eduardo Rohenkohl 
Universidade Federal de Santa Maria 
julioroh@gmail.com 
 
 
ÁREA TEMÁTICA: HISTÓRIA ECONÔMICA E SOCIAL 
 
RESUMO 
 
 
O comportamento do indivíduo na economia tradicional é uma questão polêmica na teoria 
econômica em decorrência da falta de realismo e da dissociação com outras áreas de 
conhecimento. Contudo, a literatura econômica está carregada de variáveis sociológicas, 
institucionais e psicológicas. Essas variáveis exercem influência sob o comportamento do 
agente que não devem ser desprezada. Tendo em vista as concepções vebleniana e 
neoclássica, este trabalho tem o objetivo de comparar as visões e comportamentos dos 
indivíduos. A questão que permeia a pesquisa é qual a abordagem que melhor descreve o 
comportamento do indivíduo? Quais as diferenças entre os indivíduos vebleniano e 
neoclássico? O argumento defendido é que o agente por meio do viés vebleniano melhor 
demonstra o comportamento humano na medida em que inclui variáveis socioeconômica, 
culturais, influência institucional, bem como não o dissocia de suas experiências do passado. 
O viés do comportamento humano através do Homo economicus é insuficiente para explicar o 
comportamento do indivíduo, devido a grande parte de simplificações da visão neoclássica. 
Para uma análise mais próxima do comportamento real, capaz de compreender os 
comportamentos e os processos econômicos contemporâneos, é necessário levar em 
consideração as várias influências, ou seja, da sociedade ou das experiências passadas. Na 
visão vebleniana, o individuo é resultado de suas experiências, do ambiente em que vive, 
sendo que suas preferências são mutáveis ao longo do tempo. Dessa forma, para a análise 
comportamental do indivíduo o viés vebleniano é mais próximo do comportamento humano, 
entretanto mais complexo na medida em que inclui elementos que não tem padrão e que são 
subjetivos com modificações ao longo do tempo e diverso dependendo da sociedade com seus 
costumes e crenças. 
 
PALAVRAS CHAVES: indivíduo vebleniano. indivíduo neoclássico. comportamento. 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O comportamento do indivíduo gera um pouco de polêmica, quando considerado 
através da economia tradicional
1
, em decorrência do pouco realismo e da dissociação com as 
outras áreas de estudo. A economia tradicional trouxe uma abordagem de um ser com o único 
desejo de maximizar seu bem-estar, egoísta, sem passado, enfim, um homem sem qualquer 
ligação com as pessoas do mundo real. Para isso, qualquer comportamento que saísse do 
esperado pela teoria era tido como um fato isolado e desconsiderado. 
Costa (2009) argumenta que após a revolução marginalista, a física e a matemática 
começaram a serem usadas como instrumento de análise na Ciência Econômica. Esse foi o 
início do expurgo dos pressupostos psicológicos da teoria econômica, através da formalização 
axiomática da teoria de escolha atrelada ao desenvolvimento dos métodos econométricos. 
Contudo, a teoria econômica está carregada de variáveis sociológicas, institucionais e 
psicológicas. Essas variáveis exercem influência sobre o comportamento do agente que não 
devem ser desprezadas. Veblen (1988; 1966; 1909) mostra como essas variáveis influenciam 
as escolhas dos indivíduos e também a maneira com que eles agem. 
Cavalieri (2012) ressalta que Veblen estabeleceu três critérios que devem ter em uma 
teoria evolucionista: as instituições não podem ser tomadas como dadas, permanentes e 
imutáveis; o comportamento do indivíduo deve ser motivado além dos motivos do hedonismo 
puro; e não se pode tomar uma situação como dada de modo apriorístico. O autor defende que 
é justamente essa subjetividade defendida por Veblen que determinaria o ambiente 
institucional e a psicologia humana de acordo com as ideais que se deseja demonstrar. 
Para Cavalieri (2012), Veblen tenta demonstrar que enquanto economistas clássicos 
estavam evoluindo para uma teoria evolucionista, o marginalismo se desvia dessa direção na 
medida em que empacavam na teleologia, na estática, na taxonomia e na subjetividade. 
Hogdson (2007b) salienta que as recentes mudanças na economia abrem um espaço sem 
precedentes para o estudo da economia evolucionária e institucional, o que traz uma nova 
frente de estudo na teoria econômica, com credenciais evolutivas e institucionais. 
A partir dessa nova tendência de estudo na teoria econômica, a questão que permeia a 
pesquisa é qual a abordagem que melhor descreve o comportamento do indivíduo? Quais as 
diferenças entre os indivíduos vebleniado e neoclássico? O argumento defendido é o de que o 
agente vebleniano melhor demonstra o comportamento humano na medida em que inclui 
 
1
 Quando se menciona economia tradicional, Homo economicus e mainstream faz-se referência à economia 
neoclássica, conforme o texto de Veblen (1909). 
3 
 
variáveis socioeconômicas, culturais, institucionais, bem como não o dissocia de suas 
experiências do passado. 
Tendo em vista os dois vieses, neoclássico e Vebleniano, através do quais os indivíduos 
podem ser analisados, este trabalho tem o objetivo de comparar as visões e comportamentos 
dos indivíduos. A escolha da abordagem do agente Homo economicus se deu em decorrência 
de ainda hoje ter supremacia na teoria econômica. Já a escolha pelos escritos de Veblen se deu 
em virtude de ser um dos primeiros autores a abordar o papel das instituições na Economia, 
com espaço ao evolucionismo em sua análise histórica e as influências que a sociedade tem 
sobre o padrão de comportamento com espaço para um indivíduo irracional em muitos 
aspectos, ou até mesmo com outras formas de racionalidade. 
Além da introdução esse trabalho está dividido em mais quatro seções. A primeira 
apresenta a visão do indivíduo e seu comportamento na abordagem neoclássica. A segunda 
introduz a visão de Veblen sobre o indivíduo. A terceira seção faz um comparativo das duas 
visões do comportamento do indivíduo, com ênfase para as divergências. Por fim, algumas 
considerações. 
 
 
2. O INDIVIDUO SEGUNDO A ABORDAGEM NEOCLÁSSICA 
 
Na economia tradicional, o indivíduo é determinado principalmente por três 
características: reducionismo metodológico, comportamento racional com informação perfeita 
e equilíbrio (PRADO, 1994). 
Vercelli (1994) define uma teoria que faz uso do reducionismo metodológico simplifica 
a complexidade dos fenômenos estudados de uma maneira inapropriada ou distorcida, isto é, 
de modo que enfraquece a possibilidade de descrição, explicação ou previsão de fenômenos 
complexos. Isso não necessariamente implica que uma teoria não reducionista seja complexa, 
mas sim que não seja simplificada a tal ponto que perca sua ligação com a realidade. 
Na Economia, o reducionismo completo só ganhou êxito após os estudos de Walras. 
Entretanto, Walras não foi capaz de finalizar seu projeto, pois “apesar de seus repetidos 
esforços não pôde ir além da análise dos processos de tâtonnement de tal modo que somente a 
parte estática da mecânica encontrou aplicação à economia” (VERCELLI, 1994, p. 8). Isso 
culminou no abandono da teoria de equilíbrio geral pelos profissionais da época que 
4 
 
concluíram que a característica estática do equilíbrio era irrelevante para a explicação de uma 
realidade complexa que evolvia fenômenos como a inflação, desemprego, ciclos econômicos 
e dentre outros (VERCELLI, 1994) 
SegundoVercelli (1994), essa abordagem voltou a ganhar espaço a partir dos trabalhos 
de Hicks e Samuelson que obtiveram êxito em dar fundamentos dinâmicos ao equilíbrio geral 
condizente aos princípios da dinâmica clássica. Foi constituído um equilíbrio que tem como 
“conceito intrinsicamente dinâmico, mas que seu potencial descritivo e prospectivo depende 
crucialmente de suas estabilidades”, o que proporcionou o estudo sistemático da estabilidade 
do equilíbrio geral (VERCELLI, 1994, p. 8), 
No viés reducionista, os agentes econômicos são vistos como “unidades de decisão 
clarividentes, dotados de racionalidade grosso modo perfeita e já constituídas como tais em 
face das escolhas” (PRADO, 2006, p.305). A abordagem do homem econômico adotado 
através desse viés está fortemente ligada ao paradigma do individualismo metodológico. 
Hoffmann & Pelaez (2011) argumentam que essa análise restringe as investigações do 
comportamento humano como seres estritamente econômicos com comportamento racional. 
O individualismo metodológico foi definido por Udehn (2002, p. 497 apud 
HOFFMANN & PELAEZ, 2011) como “a principle, rule or program telling historians and 
social scientists how to define collective concepts, explain social phenomena, and/or reduce 
macro to micro”. Sendo assim, há uma redução ou simplificação de fenômenos complexos do 
mundo real a situações gerais. Segundo Prado (p. 312, 2006), no plano agregado trabalha-se 
com “propriedades inerentes aos mercados ou mesmo das propriedades da economia como 
um todo”. 
O Individualismo metodológico pode ser conceituado, segundo Tourinho (1993, p. 1), 
como “um conjunto de ideias e valores que colocam o indivíduo particular no centro das 
atenções e tendem a atribuir a esse indivíduo a possibilidade de realização pessoal, de forma 
independente daqueles que o circundam”. 
Udehn (2001) distingui o individualismo metodológico segundo diversos graus, que 
varia do fraco ao forte. No individualismo metodológico forte, o autor inclui a Teoria do 
Contrato Social, a Teoria Geral de Equilíbrio e o Individualismo Metodológico Austríaco. Os 
dois primeiros são classificados por Udehn (2001) como individualismo natural, já que o 
meio sociocultural não exerce qualquer influência. O individualismo metodológico austríaco é 
como individualismo social, pois “to acknowledge it's conception of the human individual as 
a social being, and of society as an intersubjective reality (UDEHN, 2001, p.347). Como 
5 
 
individualismo metodológico forte, o autor inclui o individualismo metodológico popperiano 
e o de Coleman. A partir dessa classificação, na medida em que é incluído fatores de 
explicação de caráter coletivo, são concebidos com menor intensidade, ou seja, deixam de ser 
individualismo metodológico forte e passam a ser fracos (HOFFMANN & PELAEZ, 2008). 
O individualismo metodológico presente na teoria neoclássica é o da Teoria de 
Equilíbrio Geral, Hoffmann & Pelaez (2008) argumentam que é a partir da revolução 
marginalista que a Ciência Econômica passa a ter um enfoque mais individualista. 
 
“é no contexto da abordagem neoclássica que a TEG apresenta um IM particular, extremamente 
reducionista e atomístico, ao tomar como ponto de partida o indivíduo isolado, sem relações 
sociais, que interage em um mercado com tecnologia e instituições dadas” (UDEHN, 2002 apud 
HOFFMANN & PELAEZ, 2008, p. 4). 
 
Nesse sentido, o homem econômico é egoísta e racional e age sempre para maximizar 
seu bem estar via obtenção dos maiores retornos possíveis. Para chegar a esse resultado, os 
agentes não somente tomam a melhor decisão, como também empregam todas as informações 
disponíveis a seu favor da melhor maneira possível. Chafim & Krivochein (2012) 
argumentam que a justificativa para a adoção do individualismo metodológico é puramente 
prático-instrumental, ou seja, não está relacionada a sua veracidade mas sim a capacidade de 
formular teorias cada vez mais simples com melhores descrições funcionais dos fenômenos 
econômicos. 
Abramovay (2004) ressalta que o princípio de que cada agente age apenas baseado no 
auto interesse atinge o maior grau de elegância na teoria de equilíbrio geral, no qual o 
comportamento toma uma forma completamente previsível e o objetivo básico de sua 
concepção econômica é “demonstração das implicações lógicas de dados gostos ou 
necessidades, combinados com o conhecimento perfeito e confrontados com a escassez e a 
mobilidade dos recursos” (SHACKLE, [1967] 1991, p. 4 apud ABRAMOVAY, 2004, p. 42). 
Os agentes econômicos passam a reagir mecanicamente aos estímulos do ambiente, 
sendo que essa reação e o equilíbrio resultante não são provenientes de um processo evolutivo 
e sequencial de aprendizagem. A interação dos indivíduos no mercado através da compra e 
venda acontece sem ruídos por causa da concorrência. Contudo, os agentes econômicos não 
precisam interpretar os sinais emitidos pelos outros, pois o ambiente social é dado 
imediatamente aos indivíduos. O mundo econômico toma uma transparência básica a ponto de 
não haver a necessidade de interpretação por parte dos atores econômicos (ABRAMOVAY, 
2004). Davis (2003) ressalta que a consciência do agente neoclássico é representada através 
de uma única função de utilidade, composta por preferências dadas e fixas. Dessa forma, o 
6 
 
indivíduo tem um comportamento mecânico que o exime de interpretação com preferências 
dadas e fixas, bem como um ser isolado das influências do seu ambiente social. 
Em relação às interações sociais, estas não passam de meras relações contratuais de 
maneira que não exercem qualquer influência sobre os agentes. Prado (2006) salienta que para 
ocorrer completa abstração dos elementos inerentes as interações humanas, estabelece-se a 
inexistência de fatores como ignorância, coerção, assimetria de poder e os contratos incluem 
todas as circunstancias possíveis. 
Na passagem do plano individual para o agregado, as características dos indivíduos são 
desconsideradas e, grosso modo, somadas. Prado (2006) defende que é justamente nessa 
passagem que o viés reducionista aparece e que esse caminho consiste em uma decomposição. 
Para Prado (2006), os indivíduos são tomados cada um por um átomo plenamente constituído 
e que as interações, que ocorrem direta e indiretamente, são externas e não tem o poder de 
influenciar ou alterar as suas determinações. 
A agregação das escolhas dos indivíduos resulta em um equilíbrio estático e atemporal; 
o cenário de hoje não tem ligação com o passado. (PRADO, 1994) Ou seja, as variáveis 
econômicas são determinadas por condições iniciais e características decorrentes de processos 
históricos são ignoradas na medida em que não exercem influência. 
O individuo econômico também sofre uma separação do seu meio socioinstitucional. A 
ação individual se estabelece a partir da motivação egoísta dos agentes (Hofmann e Pelaez, 
2011). Pode-se sintetizar o homem econômico como: 
 
 
Interested in satisfying given preferences, and in consuming privately “bundles” of goods, rather 
than investing in relationships. She is basically asocial, acting more through “exit” than “voice”, 
and most (if not all) of her relationships with others are through markets or contracts 
(TSAKALOTOS, 2005, p. 5) 
 
Contudo, Hodgson (2007c) ressalta que não é possível abstrair o meio socioinstitucional 
das relações; todas as versões de contrato social ou de uma teoria de equilíbrio geral exigem 
interação, começam pela própria comunicação entre os agentes. 
 
Communication involves some form of language, and languages by their nature are systems of 
rules. Furthermore, exchange involves the transfer of property rights, with rules established 
through prior socialinteractions. Similarly, all contracts rely on social structures of enforcement. 
Hence social contract theory and general equilibrium theory both presume structured relations 
between individuals, rather than individuals in isolation (HODGSON, 2007c, p.6). 
 
7 
 
Segundo o autor, a escolha individual exige a aquisição de aparato cognitivo que 
envolve um processo de socialização e educação que necessitam da interação entre os agentes. 
A aquisição desse aparato cognitivo envolve o processo de socialização e educação, que 
implica na extensa interação entre os indivíduos. 
Além de o indivíduo ser auto interessado, ele tem a característica de racionalidade 
perfeita, ou seja, o agente é capaz de colher todas as informações de todos os meios 
disponíveis, calcular o uso das diversas alternativas e escolher a que lhe trouxer maiores 
rendimentos. O agente tem um grau cognitivo que o permite conhecer todas as alternativas e 
também suas consequências através da coleta de todas as informações sem importar a 
complexidade do ambiente e a variedade de informações. Como o indivíduo é capaz de 
vincular o valor do resultado a cada ação e escolher o curso da ação que lhe fornece maior 
vantagem a partir de suas preferências, isso não só implica a alta capacidade cognitiva, mas 
também a ausência de incerteza (AUGUSTO, 2010). 
Segundo Abramovay (2004), o consumo é a expressão da racionalidade humana, pois 
cada indivíduo tem sua curva de preferências e independente da maneira de como ela é 
formada, obedece as regras de funcionamento invariáveis quanto a relação entre meios e fins. 
Pressupõe-se que o indivíduo tem completa autonomia sobre suas escolhas e sua preferência é 
irredutível a qualquer instancia ou esfera explicativa que não seja o que ele foi feito por meio 
de suas escolhas. 
Possas (1997) argumenta que há principalmente dois aspectos que limitam a 
racionalidade do agente: a incerteza com relação aos acontecimentos do futuro e a 
complexidade cognitiva, para identificar as informações relevantes, e computacionais para 
processa-las em tempo e custo hábil. Como as decisões e cálculos são realizados quando as 
ações ainda estão em curso, para haver a possibilidade de maximização do resultado é 
necessário que não haja incerteza em relação ao futuro. 
Do contrário, os resultados seriam incertos e isso inviabilizaria os cálculos 
maximizadores dos agentes. Dessa forma, no processo decisório do homem econômico a 
alternativa que resultar em níveis mais elevados de utilidade serão preferidos sobre o restante 
das alternativas. Deve-se ressaltar que as preferências dos indivíduos são dadas e que não se 
alteram dentro da análise e o indivíduo da análise apresenta um comportamento padrão de 
escolha. Sendo assim, através do agente representativo é possível exceder as conclusões 
retiradas da análise de uma pessoa para o coletivo. Nesse sentido, os indivíduos dentro da 
8 
 
economia neoclássica têm suas preferências homogêneas (AUGUSTO, 2010). Assim, na 
próxima seção é apresentado o indivíduo pelo viés vebleniano. 
 
 
3. O INDIVÍDUO VEBLENIANO 
 
Cavalieri (2013) argumenta que Veblen produziu-se sob um pluralismo teórico ao 
rejeitar as ferramentas que as grandes escolas de economia política que o precediam faziam 
uso. Veblen (1909) apresenta as limitações da análise feita pela escola marginalista. A grande 
crítica apresentada pelo autor está atrelada as generalizações de ordem teleológica ou 
dedutiva, seguindo o princípio central do cálculo hedonista. , 
 
“Under the guidance of this tenet and of the other psychological conceptions associated and 
consonant with it, human conduct is conceived of and interpreted as a rational response to the 
exigencies of the situation in which mankind is placed; as regards economic conduct it is such a 
rational and unprejudiced response to the stimulus of anticipated pleasure and pain — being, 
typically and in the main, a response to the promptings of anticipated plea-sure, for the hedonists 
of the nineteenth century and of the marginal utility school are in the main of an optimistic 
temper” (VEBLEN, 1909, p. 3) 
 
Através desse instrumental metodológico, os elementos culturais, instituições e o direito 
a propriedade são tomados como parte natural das coisas, que não necessitam explicação 
sobre sua evolução ou formação. Veblen (1919) responsabiliza a própria noção de ciência 
vigente no período denominado pelo autor como “pre-Darwinian”, ou seja, anteriores as 
ideias evolucionistas de Darwin. A ciência nesse período tinha como preocupação a 
classificação das coisas em seu produto final, sem procurar o entendimento de sua evolução 
até esse ponto. Eram estabelecidas relações de imutabilidade que determinavam um equilíbrio 
estável. 
Na noção de ciência defendida por Veblen (1919) e denominada como “post-
Darwinian”, há destaque para o processo evolutivo das coisas. Nas palavras do autor, 
 
...that modern science is becoming substantially a theory of the process of consecutive change, 
which is taken as a sequence of cumulative change, realized to be self-continuing or self-
propagating and to have no final term (VEBLEN, 1919, p. 37). 
 
9 
 
Veblen (1919) argumenta que a ciência moderna exige o estudo de fenômenos levando 
em consideração a trajetória genética, ou seja, demanda uma análise das fases anteriores a 
formação da comunidade atual. O esquema de vida predominante na comunidade é formado 
pelo consenso de hábitos formados pelos indivíduos. O esquema cultural é um complexo de 
hábitos de vida e de pensamento predominantes entre os membros da comunidade, sendo que 
as pessoas sofrem influência em variados graus. 
Para Veblen (1909), o estudo da civilização exige que se entendam as relações causais, 
ou seja, as alterações cumulativas ao longo do tempo, convergindo para uma formulação 
teórica na forma de uma história de vida. Dessa forma, se a economia é uma ciência que 
estuda a conduta humana é necessária uma análise da relação do homem com os meios 
materiais de vida. 
In so far as it is a science in the current sense of the term, any science, such as economics, which 
has to do with human conduct, becomes a genetic inquiry into the human scheme of life; and 
where, as in economics, the subject of inquiry is the conduct of man in his dealings with the 
material means of life, the science is necessarily an inquiry into the life-history of material 
civilization, on a more or less extended or restricted plan (VEBLEN, 1909, p. 6-7). 
 
Dessa forma, o indivíduo através do viés vebleniano contrasta em muitos aspectos com 
o Homo economicus. A diferença está na essência do comportamento do indivíduo, dos 
costumes, dos instintos entre outros aspectos. Nessa seção serão analisadas as características 
do indivíduo vebleniano. 
 
 
3.1 Instintos 
 
Os instintos para Veblen seriam propensões inatas intrínsecas a psicologia humana, que 
determinariam o seu comportamento. Os instintos exigem algum grau de pensamento, não são 
ações inconscientes dos indivíduos, como por exemplo, a respiração ou o reflexo de tirar a 
mão caso algo esteja quente a ponto de queimá-la. Dessa forma, os instintos consistem em 
características resultantes do processo evolutivo que foram transmitidos hereditariamente e 
que devem ter sido importantes para a sobrevivência da espécie (CAVALIERI, 2013). 
 
Like other species, man is a creature of habits and propensities. He acts under the 
guidance of propensities which have been imposed upon him by the process of selection to 
which he owes his differentiation from other species. He is a social animal; and the10 
 
selective process whereby he has acquired the spiritual make-up of a social animal has at 
the same time made him substantially a peaceful animal (VEBLEN, 1898b, p. 193). 
 
O comportamento humano é impreciso e é influenciado através de inclinações e 
propensões em certos tipos de comportamento em determinadas situações, contudo são apenas 
propensões e não o comportamento em si. Nas palavras de Veblen (1988, p. 12) “...tanto os 
hábitos dos grupos primitivos conhecidos hoje, como os hábitos dos antropóides; acentuam-na 
as inclinações conhecidas da natureza humana”. 
Monasterio (1998) ressalta duas características relevantes sobre os instintos na obra de 
Veblen: a imutabilidade relativa e sua indeterminação. A primeira característica se refere à 
permanência dos instintos em sua essência, praticamente desde o começo da humanidade. A 
indeterminação alude o fato da capacidade da natureza humana tem de se ajustar as exigências 
ambientais diversas. O autor argumenta que os instintos necessitam das instituições para se 
realizarem, sendo que as últimas modificam-se ao longo do tempo. 
Os vários instintos influenciam de maneira simultânea o comportamento humano, o que 
tornaria inviável atribuir a cada ação a influência de um instinto específico (VEBLEN, 1937 
apud MOSNASTERIO, 1998). No entanto, a separação da natureza humana em diversos 
instintos é uma construção teórica que visa facilitar o entendimento. Monasterio (1998) 
classifica em quatro instintos: trabalho eficaz, inclinação paternal, curiosidade vã e instinto 
predatório. 
Veblen (1937 apud MONASTERIO, 1998) ressalta que o instinto de trabalho eficaz 
trata-se de um instinto auxiliar na medida em que coordena os meios eficientes para alcançar 
objetivos ulteriores, independente dos fins. Dessa forma, esse instinto além de determinar 
seus próprios fins, também auxilia na determinação dos meios para a realização dos outros 
instintos. O instinto do trabalho eficaz está relacionado à preferência pela ociosidade e 
aversão ao trabalho braçal, pois essa seria uma marca de inferioridade. 
 
A desnecessidade de trabalhar não é só algo honorífico e meritório; muito cedo se torna um 
requisito a decência... Essa desnecessidade de trabalhar é a prova convencional da riqueza, sendo 
portanto a marca convencional de posição social; e essa insistência sobre o mérito da riqueza leva 
a uma insistência sobre o ócio. Segundo as leis da natureza humana, já conhecidas, essa norma se 
apodera da prova convencional da riqueza e fixa-a, com o tempo, nos hábitos de pensamento dos 
homens como sendo algo de essencialmente meritório e nobre, ao passo que,....o trabalho digno se 
torna intrinsicamente indigno (VEBLEN, p. 23-24, 1988). 
 
As únicas ocupações que eram permitidas para a classe ociosa eram cargos 
governamentais, guerras, o esporte e as funções rituais como o sacerdócio. Veblen (1988) 
ressalta em relação a esses tipos de ofícios, mesmo que defendido por muitos como 
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indiretamente produtivas, a questão chave que está por traz é que as mesmas não têm por fim 
desejado o aumento da riqueza por esforço produtivo. Veblen (1988) classifica essas 
profissões como de natureza predatória e não produtiva. A ligação do trabalho a inferioridade 
era tão forte que Veblen (1988) trás um exemplo de um rei da França que perdeu a vida ao se 
negar a fazer o esforço de afastar a cadeira real e preferiu ficar perto da lareira e se deixar 
queimar, pois no momento não havia nenhum funcionário. 
O instinto predatório é derivado do instinto do trabalho eficaz, na medida em que é 
necessário para a uma sociedade ter sua subsistência garantida para poder existir uma classe 
ociosa. Para Veblen (1988) a instituição da classe ociosa surgiu durante a transição da 
selvageria primitiva para a barbárie, isto é, durante a transição de um modo de vida pacífico 
para um modo mais agressivo e guerreiro. São necessárias duas condições para que se efetive 
o surgimento dessa classe. A primeira indica que é indispensável à comunidade ter um modo 
de vida predatório, ou seja, os homens que normalmente são os incumbidos de caça e 
representam a classe ociosa em potencial devem estar habituados a preferir usar a estratagema 
ao invés da força física. A segunda condição é a subsistência da comunidade deve ser obtida 
de forma relativamente fácil e que de certa maneira livre as pessoas do trabalho regular 
rotineiro. 
 
Self-interest, as an accepted guide of action, is possible only as the concomitant of a 
predatory life, and a predatory life is possible only after the use of tools has developed so 
far as to leave a large surplus of product over what is required for the sustenance of the 
producers (VEBLEN, 1898b, p.194). 
 
Veblen (1898b) salienta que a instituição da classe ociosa é resultado da discriminação 
do tipo de trabalho onde algumas são vistas como dignas e outras não, de maneira que uma 
vez estabelecida essa classificação, as funções dignas são ligadas as façanhas e proezas e as 
não dignas são as rotineiras onde não há nenhum elemento espetacular. Monasterio (1998) 
argumenta que a partir desse momento, há uma alteração nos fundamentos da emulação. Isso 
se deve a mudança no critério de estima do indivíduo, enquanto na fase da selvageria consistia 
na capacidade de trabalho para o grupo, na fase seguinte se da através das proezas como a 
caça e guerra. 
Monasterio (1998) argumenta que o excedente econômico e o instinto predatório é que 
propiciaram o surgimento da propriedade privada e a classe ociosa. Isso correu na medida em 
que permitiu que alguns indivíduos tomassem posse de alguns bens e que pudessem se isentar 
do trabalho sem comprometer a sobrevivência da comunidade. 
12 
 
O instinto de inclinação paternal tem forte ligação com a questão da preservação da 
espécie, embora vá além da mera preocupação de ter filhos ou não. Na verdade, esse instinto 
está preocupado com o bem-estar da prole ou dos descendentes do grupo como um todo 
(VEBLEN, 1914 apud PONTES, 2008). Para Monastério (1998) a própria manutenção do 
meio ambiente seria um exemplo desse instinto, se houver preocupação com relação à 
subsistência das próximas gerações. 
O instinto de curiosidade vã consiste na busca pelo conhecimento sem ligação com fins 
pecuniários. Caso resulte em alguma forma lucrativa, isso seria uma consequência, mas não 
um objetivo em si (MONASTERIO, 1998). Embora em uma comunidade pecuniária, o 
instinto de curiosidade se submete aos lucros que pode gerar, o indivíduo ainda tem por 
objetivo facilitar a vida da comunidade em geral. 
Quando Veblen (1966, p. 21) descreve as inspirações do homem de negócios, ele 
argumenta que “em comum com os outros homens, o homem de negócios é inspirado pelo 
ideal de prestar serviço e pelo desejo de tornar a vida mais fácil para seus semelhantes”. 
Nesse sentido, esse instinto tem certa semelhança com o instinto de trabalho eficaz. Por mais 
que essa urgência de inspirações de grandes negócios proporcione para muitos homens a “arte 
de ganhar dinheiro”, as relações dos homens entre si e com interesses na coletividade 
persistem na medida em que há ainda certo senso de equidade, honestidade no trato e 
integridade no trabalho. 
Pontes (2008) argumenta que os instintos são uma parte muito importante na 
determinação do comportamento humano, contudo o entendimento dos mesmos não é 
condição suficiente, mas sim necessária para o entendimento completo da conduta. Dessa 
forma, há ainda alguns elementos que tem um papel extremamente relevante para a 
explicação do comportamento do indivíduo como os hábitos e as instituições. A próxima 
seção trata desseselementos e como eles se relacionam com a conduta das pessoas, de acordo 
com a visão de Veblen. 
 
 
3.2 Hábitos, Instituições e Racionalidade 
 
 Monasterio (1998) argumenta que para Veblen os hábitos consistem em padrões de 
comportamento criados pelos homens que especificam os meios para a chegada de 
determinados fins, e estes são determinados ou sofrem fortes influências dos instintos 
13 
 
humanos. Hodgson (2006) salienta que hábitos e comportamentos são diferentes, mesmo que 
um comportamento repetido seja importante para estabelecer um hábito. A aquisição de um 
hábito não significa que ele deve ser usado em todas as situações, na verdade, deve haver um 
estímulo ser utilizado. Nas palavras do autor, “habits are submerged repertoires of potential 
thought or behaviour, to be triggered by an appropriate stimulus or context” (HODGSON, 
2006, p. 8). Uma vez enraizado esse hábito no comportamento do indivíduo, este será um 
ponto de inércia social na sociedade. 
 Veblen (1988) argumenta que esses hábitos de pensamentos são herdados de processos 
passados para circunstâncias do passado. 
 
A estrutura social sofre mudanças, evolui, adapta-se a uma situação modificada apenas mediante 
uma mudança nos hábitos mentais de várias classes da comunidade. A evolução da sociedade é 
substancialmente um processo de adaptação mental de parte do indivíduo, sob a pressão de 
circunstâncias que já não toleram hábitos mentais formados segundo um diferente conjunto de tais 
circunstâncias e segundo um diferente conjunto das mesmas no passado (VEBLEN, 1988, p. 89). 
 
 Para Veblen (1988), os hábitos mentais estão ligados aos costumes e circunstâncias do 
passado, o progresso social consiste em uma abordagem progressiva de um contínuo ajuste 
das relações externas com as internas. Contudo, as relações externas estão sujeitas a uma 
constante mudança e isso faz com que o ajuste nunca seja exato; a proximidade do ajuste 
depende da facilidade com qual o ajuste se faz. Embora os próprios ajustes dos hábitos 
mentais, segundo o autor, são feitos tardiamente e com relutância e só acontecem caso sejam 
confrontados com uma situação insustentável em relação às opiniões adotadas. 
 Veblen (1998) defende que os hábitos tendem a ser preservados indefinidamente; a 
mudança implica a busca de um novo padrão de comportamento, o que é incômodo e exige 
esforço mental. 
 
... é uma repulsão instintiva diante de qualquer desvio de modo adotado de fazer ou encarar as 
coisas – uma repulsão comum a todos os homens a ser vencida tão-somente pela pressão das 
circunstâncias. Toda e qualquer mudança nos hábitos de vida e de pensamento é incômoda 
(VEBLEN, 1988, p. 91-92). 
 
 Os hábitos mentais para toda uma sociedade formam as instituições. Veblen (1909) 
argumenta que o crescimento e as mutações do tecido institucional são o resultado da conduta 
de cada um dos membros do grupo, pois é a partir da experiência dos indivíduos, do hábito 
que as instituições surgem. 
14 
 
 Hodgson (2007a) argumenta que as instituições canalizam e restringem o 
comportamento humano de modo que induzem as pessoas a formar novos hábitos. Contudo, o 
autor defende que as pessoas não formam novos hábitos e preferências porque as forças 
sociais os obrigam. Na verdade, a própria evolução da sociedade que se altera e que limita as 
capacidades das instituições sociais, é que fazem com que os indivíduos tenham novas 
percepções. Sobre essas novas percepções emergem novos hábitos de pensamento e 
preferências. Dessa forma, “as a result, shared habits are the constitutive material of 
institutions, providing them with enhanced durability, power and normative authority” 
(HODGSON, 2007a, p. 332). 
 Veblen (1988, p.88) define as instituições como o “produto de processos passados, 
adaptados as circunstâncias passadas, e por conseguinte, não estão em pleno acordo com as 
situações do presente”. As instituições são hábitos institucionalizados, e estes sempre estão 
defasados em relação à situação presente. Dessa forma, a compreensão das instituições 
vigentes deve ser analisada em relação aos “hábitos de pensamento passados e às 
circunstâncias materiais nas quais estes foram formados” (MONASTERIO, 1998, p. 56). 
 Veblen (1988) enfatiza que o ajuste de uma instituição pode ser tão defasado que só 
quando surgem motivos pecuniários é que este ocorre. A classe ociosa é que representa maior 
resistência as mudanças institucionais, mas isso não significa que o restante da sociedade não 
seja resistente. Na verdade as outras classes sociais são mais vulneráveis as forças econômicas 
que impulsionam mudanças. Contudo, os motivos por trás da resistência à mudança entre as 
classes têm diferentes origens. 
 
Os abjetamente pobres, e as pessoas cujas energias são absorvidas na luta para o sustento diário, 
são conservadores, pois não podem realizar o esforço de pensar no dia de amanhã; de igual modo, 
os muito prósperos são conservadores por que têm poucas ocasiões de ficar descontentes com a 
situação presente (VEBLEN, 1988, p. 93-94). 
 
 Dessa forma, Veblen (1988) defende que as forças que levam ao reajustamento das 
instituições, principalmente em uma economia avançada e industrial, são quase inteiramente 
de natureza econômica. Essa defasagem institucional juntamente com os instintos que são 
muitas vezes contraditórios, e a racionalidade contribuem para tornar o indivíduo vebleniano 
complexo. O homem econômico proposto por Veblen trata-se de um ser complexo e suas 
escolhas não se reduzem a uma escala de preferências (MONASTERIO, 2005). 
 Monastério (2005) argumenta que para compreender a racionalidade do indivíduo 
vebleniano é necessário levar em consideração dois fundamentos: a razão suficiente e a causa 
eficiente. Segundo o autor, a razão suficiente aborda a maneira com que o futuro determina o 
15 
 
curso dos acontecimentos presentes, ou seja, é necessária a presença de um agente inteligente 
e capaz de antecipar as consequências e suas ações correntes. Já a causa eficiente está 
associada às relações de causa e efeito sem a presença da reflexão por parte do agente, sendo 
um exemplo o comportamento habitual por não levar em consideração as consequências. Os 
hábitos de pensamento guardam uma relação com a relação causa eficiente na medida em que 
a reflexão do indivíduo esteja em algum grau envolvida nos hábitos de pensamento. Contudo, 
a relação causa eficiente também deve ser incluída para a análise do comportamento do 
agente. 
 A conduta humana é motivada por fatores racionais e habituais. Hogdson (2007) 
ressalta que a racionalidade individual depende de mecanismos institucionais e culturais. A 
capacidade de raciocínio humano é ligada a evolução social e a contextos biológicos, a 
racionalidade é inserida ao contexto social e opera através de sinais específicos, gatilhos e 
restrições. Segundo Hogdson (2007, p.331), “these structures and circumstances are part of 
our biological and social heritage. Among them are institutions that frame our cognitions, 
enable some behavioral options and constrain us from others.” 
 O comportamento do agente em Veblen (1988) é influenciado pelas instituições 
vigentes e pelas crenças da comunidade. Como as instituições se modificam no tempo, as 
preferências dos indivíduos não são dadas ou estáticas. Um exemplo de como isso é 
apresentado na obra do autor é o consumo conspícuo, onde as pessoas, principalmente a 
classe ociosa, obtêm determinados bens com fim ostentatório e influenciam outras classes 
sociais do que é digno ou não. 
 
A classe ociosa está no topo da estrutura social em matéria de consideração; e seu modo de vida, 
mais os seus padrões de valor, proporcionama comunidade as boas normas de reputação. A 
observância desses padrões, em certa medida, torna-se também incumbência de todas as classes 
inferiores de escala....O resultado é os membros de cada camada aceitarem como ideal de decência 
o esquema de vida em voga na camada mais alta logo acima dela, ou dirigirem as suas energias a 
fim de viverem segundo aquele ideal (VEBLEN, 1988, p. 41). 
 
 A existência das instituições externas ao indivíduo, impostas pela comunidade em que 
vivem, torna impraticável uma abordagem de conduta onde o agente é analisado 
isoladamente. Da mesma forma, as preferências não podem ser fruto somente de um processo 
endógeno, na medida em que há todas essas influências externas aos indivíduos. Hodgson 
(2009) salienta que as preferências são parcialmente moldadas pelas instituições e 
circunstâncias culturais. 
 
 
16 
 
4. COMPORTAMENTO DO AGENTE VEBLENIANO E NEOCLÁSSICO 
 
 O quadro 1 mostra algumas das principais características em que as duas abordagens 
diferem em relação ao indivíduo e seu comportamento. 
 
Quadro 1. Síntese das principais características do individuo 
Indivíduo Vebleniano Homo economicus 
Racionalidade do indivíduo é 
imperfeita, limitada e indissociável das 
instituições. 
Comportamento com racionalidade 
perfeita e maximizadora. 
As preferências são resultado de um 
processo com influências de instituições. 
As preferências são dadas e fixas. 
O indivíduo é resultado de suas 
experiências passadas e carrega isso como 
determinante de seu comportamento. 
O indivíduo não responde as 
pressões do ambiente e não é composto 
por experiências passadas. 
O indivíduo e as instituições sofrem 
influência recíproca. 
Somente as características 
individuais dos indivíduos são 
consideradas. 
Fonte: Elaborada pela autora com base em Monastério (2005) e Veblen (1898a, 1909, 1989b, 1988). 
 
 Veblen (1898a) defende um agente com comportamento resultante de um processo 
cumulativo de hábitos de pensamento que vão de acordo com os costumes da comunidade em 
que faz parte. A história da vida econômica do indivíduo, na visão de Veblen, é um processo 
cumulativo de adaptação dos meios aos fins que se alteram ao longo do tempo na medida em 
que o processo avança. Tanto o agente como seu ambiente, em qualquer ponto no tempo, é 
resultado do último processo; os métodos de vida hoje são guiados pelos hábitos de vida de 
ontem e pelas circunstâncias deixadas como resíduo mecânico da vida de ontem. 
 
They are the products of his hereditary traits and his past experience, cumulatively wrought out 
under a given body of traditions conventionalities, and material circumstances; and they afford 
the point of departure for the next step in the process (VEBLEN, 1898a, p. 12). 
 
 Para Veblen (1988), as escolhas do agente são guiadas por vários fatores, como as 
instituições vigentes, cultura e crenças. A própria natureza humana é dotada de diversas 
propensões que muitas vezes são contraditórias e irracionais. Hogdson (2009) ainda afirma 
17 
 
que o aparato cognitivo que é necessário no processo de tomada de decisão é auxiliado por 
uma estrutura social existente, que é composto por “a combination of conscious and 
unconscious processes, socialization and education” (HODGSON, 2009, p. 15). A 
racionalidade individual depende de mecanismos e apoio culturais e institucionais, ligados ao 
contexto social e herança biológica. 
 Já a racionalidade do Homo economicus trata de um indivíduo maximizador de 
utilidade que tem cognição suficiente para analisar todas as informações disponíveis e 
calcular qual a alternativa que traz maiores rendimentos, e assim consegue prever o futuro das 
diversas alternativas. Esse indivíduo tem desejo de obter o máximo de bens produzidos, mas é 
avesso ao trabalho. Para Veblen (1898b), esse axioma vai contra a evolução e preservação da 
espécie. 
 
A consistent aversion to whatever activity goes to maintain the life of the species is 
assuredly found in no other species of animal. Under the selective process through which 
species are held to have emerged and gained their stability there is no chance for the 
survival of a species gifted with such an aversion to the furtherance of its own life process 
(VEBLEN, 1898b, p.187). 
 
 Na visão vebleniana, o indivíduo não é avesso ao trabalho, o próprio instinto 
predatório é útil para a preservação da comunidade e evolução da sociedade, pois é necessário 
que haja pessoas que pensem maneiras de facilitar o serviço braçal. Esse instinto é 
representado por pessoas que preferem a estratagema à força física, assim encontram formas 
de facilitar seus trabalhos e evitar a força física. Da mesma forma, é importante para a 
comunidade ter pessoas para o serviço militar, na medida em que são essas que fazem a 
defesa do território e de sua comunidade em caso de conflitos armados. 
 O Homo economicus é um ser egoísta e é motivado exclusivamente por motivos 
pecuniários. Esse egoísmo é resultado do individualismo metodológico, onde há uma 
simplificação dos fenômenos complexos do mundo real a situações gerais, onde o indivíduo é 
o centro da análise. Hodgson (2007a) destaca que o homem econômico racional tem perdido 
espaço na teoria econômica, na medida em que as preferências sociais envolvendo motivos 
não egoístas ou de cooperação são evidenciados através de experimentos, que evidenciaram 
que o agente calculador de dor e prazer não é suficiente. As pessoas não agem sempre 
pensando somente em seus ganhos, como no instinto de inclinação paternal onde o indivíduo 
tem preocupação com o bem-estar geral da comunidade. 
 As preferências do indivíduo de Veblen (1988) não são movidas somente por motivos 
pecuniários, também são influenciadas pelas instituições e pelo que a comunidade acredita 
18 
 
que é certo. Hodgson (1998) argumenta que as preferências dos indivíduos não são formadas 
exclusivamente por questões individuais, mas que sofrem influências sociais do ambiente que 
vivem. Como acontece no consumo conspícuo ou até mesmo na emulação, as preferências são 
influenciadas por diversos elementos e as mesmas não são estáticas, são na verdade resultado 
de um processo. 
 Para o Homo economicus as preferências são dadas e endógenas, não sofrem 
influência de qualquer elemento e também não passam por alterações ao longo do tempo. 
Hodgson (2007a) argumenta que a ideia de preferências endógenas com dependência do 
contexto em que está inserido é mais próxima da abordagem evolutiva, na medida em todos 
os componentes do sistema evolui, o mesmo acontece com as preferências individuais. O 
autor ressalta que os economistas mesmo que saibam que as preferências não são fixas, 
apenas as tomam para fins de uma hipótese simplificadora. Contudo, alguma maleabilidade 
das preferências pode ser necessária para explicar completamente a evolução e a estabilidade 
das instituições. 
 Na sociedade descrita por Veblen, a classe ociosa influencia as preferências das 
classes mais baixas e o próprio consumo serve como fim ostentatório e status de poder 
econômico. Veblen (1988) ainda ressalta que as instituições vigentes sofrem alterações ao 
longo do tempo, mesmo que, de maneira geral, estejam sempre atrasadas em relação ao 
período vigente, as mesmas se modificam e o impulso para essa mudança geralmente é dado 
por motivos pecuniários. 
 O Homo economicus é um agente sem passado na medida em que não são 
consideradas suas experiências, além de não responder a qualquer pressão ou modificação do 
ambiente em que está inserido. Já o indivíduo vebleniano responde aos estímulos que recebeda sociedade; o ato de consumir para mostrar aos outros que pode se dar ao luxo de ter 
determinado bem é uma reação. A análise do comportamento do indivíduo vebleniano não 
pode ser dissociada da sociedade em que está inserido, pois há uma relação de dependência 
comportamental entre suas escolhas e a sociedade. Da mesma forma, a modificação de suas 
preferências é um indicativo que, na abordagem de Veblen (1988), as pessoas têm esse 
passado e levam consigo como um aprendizado que vai influenciar seu comportamento 
futuro. 
 
 
 
19 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O viés do comportamento humano através do Homo economicus é insuficiente para 
explicar o comportamento do indivíduo, devido a grande parte de simplificações da visão 
neoclássica. Essa insuficiência se deu através do desligamento do mundo real com a aceitação 
de um indivíduo único, racional, maximizador de utilidade, egoísta, isento de instintos com 
preferências dadas, homogêneas e fixas. Esse viés considera um agente que não acumula 
experiências ou sofre influência da sociedade, na medida que seu passado não tem qualquer 
relação com suas escolhas do presente e nem as crenças ou culturas do ambiente em que vive. 
Para uma análise mais próxima do comportamento, capaz de compreender os 
comportamentos e os processos econômicos contemporâneos, é necessário levar em 
consideração as várias influências, ou seja, da sociedade ou das experiências passadas. Na 
visão vebleniana, o individuo é resultado de suas experiências, do ambiente em que vive, 
sendo que suas preferências são mutáveis ao longo do tempo. A análise comportamental do 
agente fica extremamente limitada se considerado um homem econômico como o apresentado 
pela teoria neoclássica. 
Em decorrência disso, muitas alterações já foram inseridas na teoria econômica, 
contudo é importante ressaltar que o homem vebleniano tem maiores semelhanças com o 
comportamento humano. O agente na visão de Veblen tem seu comportamento baseado em 
fatores psicológicos (instintos e hábitos), enquanto o homem neoclássico renega tais fatores. 
Dessa forma, para a análise comportamental do indivíduo o viés vebleniano é mais próximo 
do comportamento humano, entretanto mais complexo na medida em que inclui elementos 
que não tem padrão e que são subjetivos com modificações ao longo do tempo e diverso 
dependendo da sociedade com seus costumes e crenças. 
 
 
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