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Exame dermatológico da criança INTRODUÇÃO O período do recém-nascido vai desde o momento do nascimento até o 30º dia de vida. Este primeiro mês é uma fase de transição do meio ambiente líquido do útero ao seco do mundo externo. Numerosas peculiaridades anatômicas e funcionais da pele do recém-nascido saudável são consideradas normais durante este período de vida. Portanto, é necessário reconhecer as manifestações que de forma transitória se observam nesta etapa, diferenciando-as daquelas indicadoras de risco e assim prevení-las. Nesse espaço de tempo, a pele do recém-nascido (RN) sofre várias modificações para adaptar-se da vida intrauterina para a vida no meio exterior. As alterações cutâneas verificadas compreendem desde processos temporários, causados por mecanismos fisiológicos até quadros permanentes, decorrentes de enfermidades graves. As lesões transitórias da pele do recém-nascido constituem grupo de alterações que evoluem em tempo menor de dois anos (geralmente em um mês). A incidência de cada uma delas se vincula às características da pele do neonato e às particularidades raciais e ambientais. Algumas das lesões transitórias têm, por si mesmas, alterações da barreira cutânea e estas são as que mais interessam neste trabalho. PELE DO RECÉM-NASCIDO (RN) A pele do RN exerce importante papel fisiológico na regulação da temperatura e atua como barreira protetora contra as infecções. Em relação à pele do adulto, poucas diferenças são observadas do ponto de vista estrutural, as mais marcantes são as diferenças funcionais. Assim, a absorção percutânea no RN é maior, principalmente nas regiões axilares, inguinais, retroauriculares e bolsa escrotal. Os prematuros (idade gestacional inferior a 37 semanas) têm maior permeabilidade cutânea que os RN a termo (idade gestacional de 37 a 41 semanas); após três semanas de vida, essa diferença não é mais observada. Nos cuidados diários do RN, deve-se evitar a destruição do manto ácido que o reveste, já que essa substância é provida de propriedades bactericidas; assim, os banhos com sabonetes alcalinos devem ser evitados, dando-se preferência aos banhos rápidos com água morna. Não é recomendado usar cremes ou loções, pois podem alterar o manto ácido protetor e, consequentemente, aumentar a absorção percutânea. Diversas substâncias têm sido relacionadas como causa de toxicidade por absorção percutânea nos RN, principalmente nos prematuros, entre elas, salientam- se fenol, ácido bórico, ácido salicílico, epinefrina, corticosteroides, estrogênios, hexaclorofeno, gama benzeno hexacloreto (lindano), sabões iodados, corantes com anilina, álcool benzílico e clorexidina. Portanto, todas devem ser evitadas. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS TRANSITÓRIAS Nesse primeiro mês de vida, é frequente o surgimento de fenômenos transitórios na pele do RN, que costumam desaparecer espontaneamente, sem necessidade de tratamento. 1. Verniz caseoso Ao nascer, a pele da criança está recoberta por substância graxenta, denominada verniz caseoso, composta por células epidérmicas descamadas e por secreções sebáceas. Sua finalidade está relacionada com a lubrificação, facilitando a passagem pelo canal do parto, e atribuem-se, também, propriedades bactericidas; por esse motivo, recomenda-se não removê-lo, deixando que seu desaparecimento ocorra espontaneamente em alguns dias. É mais espesso no RN a termo que no pós- -termo, que nasce com a superfície da pele bem lisa. É uma barreira mecânica para a colonização bacteriana. O material da matriz lipídica do vernix é não-laminar e a análise de seu componente lipídico revela a presença de ésteres de cera e colesterol, ceramidas, escaleno, triglicérides e fosfolipídios. As ceramidas encontradas no vernix são supostamente produtos do desenvolvimento do estrato córneo, enquanto o escualeno é um produto de origem sebácea. Apesar de que a sensação do vernix ser oleosa, sua composição contém apenas 10% de lipídios, enquanto que 80% é formada por água localizada em seu compartimento celular. Durante o último trimestre da gravidez, a produção de vernix aumenta e associase com incremento da turbidez do líquido amniótico ao se aproximar do termo gestacional. Observou-se associação entre a presença de turbidez do líquido amniótico e o amadurecimento fetal. Em estudos recentes, demonstrou-se in vitro que o surfactante pulmonar produz efeito de emulsificação e desprendimento do vernix. Estes achados apoiam a existência de mecanismo que opera in utero pelo qual interagem o amadurecimento pulmonar e o cutâneo dentro do ambiente fetal. O feto engole o líquido amniótico que contém o vernix em suspensão. 2. Lanugem A pele do RN pode ser recoberta por pelos finos, não pigmentados e com pouco potencial para crescimento, denominados lanugem, que são mais abundantes nos RN pré-termo. Localizam-se, mais frequentemente, na região dorsal, nos ombros e na face. A lanugem desaparece nas primeiras semanas de vida, e é substituída por pelos vellus durante os primeiros meses. 3. Descamação fisiológica Apresentação na primeira semana de vida extrauterina. Em geral, as escamas são finas e discretas de 5-7 mm, mas em certas ocasiões podem ser grandes e laminares, semelhantes à ictiose. A descamação se completa na terceira semana de vida. Ainda não foi determinado se este processo de descamação é secundário à remoção do vernix, com a consequente diminuição da produção de fator umectante natural (importante para manter a flexibilidade e plasticidade do estrato córneo; sua ausência produz ressecamento e descamação). Quando a descamação está presente desde o nascimento deve ser considerada anormal. Pode indicar pós-maturidade, anoxia intrauterina e ictiose. Alteração mais comum do RN. Durante as primeira semanas de vida, pode ocorrer descamação fisiológica caracterizada por escamas finas e não aderentes, principalmente nos tornozelos, nas mãos e nos pés. Nas crianças pós-termo, essa descamação costuma ser mais intensa. 4. Coloração em arlequim Essa alteração não deve ser confundida com o feto ou ictiose arlequim, que é uma forma grave de ictiose. Na coloração em arlequim, observa-se que, com a criança em decúbito lateral, o hemicorpo em contato com o leito fica eritematoso, enquanto o lado oposto torna- se pálido. O quadro evolui em surtos, de poucos segundos a alguns minutos, é mais frequente nos primeiros dias de vida e, geralmente, remite em algumas semanas. 5. Cútis marmorata fisiológica Manchas produzidas pela dilatação de capilares e vênulas, conferindo um aspecto reticulado de coloração marmórea ou azulada ao quadro. Essas lesões são frequentes nos membros inferiores do RN, principalmente quando expostos ao frio. O quadro é fisiológico e transitório e deverá ser diferenciado da cútis marmorata telangiectásica congênita, que persiste geralmente até o segundo ano de vida e não melhora com o aquecimento da pele. 6. Hiperplasia sebácea Pápulas pequenas e esbranquiçadas, localizadas na abertura do folículo pilossebáceo, no dorso nasal, no lábio susperior, na fronte e na região malar. Representa hiperatividade sebácea por estímulo androgênico, não é necessário tratamento, já que desaparece após algumas semanas. Acompanhada por mília em 50% dos casos. 7. Mília Representada por cistos de inclusão epidérmicos puntiformes que se originam do aparelho pilossebáceo dos pelos vellus. São achados frequentes e se apresentam como micropápulas esbranquiçadas de 1 a 2 mm, principalmente no nariz, na fronte e nas regiões malares. Ocorre em 40% dos RN a termo e regride espontaneamente. MANCHAS VASCULARES Geralmente detectadas ao nascimento e nem sempre involuem, a mais comum é a mancha salmão, que ocorre emmais de 50% dos RN. São lesões de coloração rosada ou avermelhada que se localizam na nuca, na glabela, na região nasolabial ou nas pálpebras, e acentuam-se quando a criança chora. A maioria desaparece na infância, porém as da nuca frequentemente persistem até a idade adulta. As manchas vinho do porto também são planas, de coloração vinhosa, geralmente unilaterais, que ocorrem principalmente na face. Como são malformações vasculares, não apresentam qualquer sinal de regressão durante a vida. O diagnóstico diferencial principal se dá em relação aos hemangiomas que, no RN, podem se manifestar como máculas angiomatosas ou anêmicas, com telangectasias, que aumentam de tamanho a partir da 3ª ou 5ª semanas de vida, tornando-se elevadas. Os hemangiomas, na maioria das vezes, involuem até os 5 a 7 anos de idade. MANCHAS HIPERPIGMENTADAS Estão presentes em 4% dos RN. Existem vários tipos, abordados nos Capítulos 20 e 64, e os principais são: 1. Manchas café com leite Máculas acastanhadas, de diferentes tamanhos, geralmente no tronco ou nas extremidades. Podem estar presentes ao nascimento, mas aumentam em número com o crescimento da criança. Muitas vezes, são um achado isolado, mas também associam-se a outras doenças, como a neurofibromatose, que deve ser suspeitada quando presentes em número maior que cinco. 2. Hipermelanose nevoide Mácula hipercrômica, seguindo as linhas de Blaschko, aumentam até o segundo ano de vida e não têm associação com outras doenças. 3. Mancha mongólica A mais comum de todas as manchas do RN, principalmente em nosso meio, e com predomínio nas raças amarela e negra. É composta por células pigmentadas presentes na derme profunda, que, histologicamente se asemelham ao nevo azul e nevos de Ota e Ito. Clinicamente caracterizada por mancha hipercrômica, cuja tonalidade varia desde o azul até o cinza, e com dimensões variando de poucos centímetros até o comprometimento de grandes áreas. As localizações principais são as regiões lombossacral e glútea, mas pode acometer outras áreas, como os membros. Geralmente, poupa a face, as superfícies flexoras, as palmas das mãos e as plantas dos pés. Evolutivamente, tende a aumentar de tamanho e de tonalidade até o primeiro ou segundo ano de vida, regredindo espontaneamente durante a infância, na maioria dos casos. MANCHAS HIPOPIGMENTADAS Menos comuns que as hiperpigmentadas, as mais frequentes são: 1. Nevo despigmentoso ou hipocrômico Mácula hipocrômica geralmente unilateral e solitária, de tamanhos variados. 2. Manchas em folha Presentes ao nascimento, não têm alteração de tamanho ou forma com o desenvolvimento da criança. Encontradas no tronco ou nas extremidades, são um alerta, quando houver mais de uma lesão, para a pesquisa de esclerose tuberosa (ver Capítulo 55). 3. Hipomelanose de Ito ou incontinência pigmentar acromiante Manchas hipocrômicas lineares que seguem as linhas de Blaschko no tronco e extremidades. Podem se associar a alterações do sistema nervoso central, retardo mental, convulsões, dismorfismo craniofacial, entre outras. 4. Nevos anêmicos Mais comuns no tronco. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS DECORRENTES DE TRAUMAS PRÉ OU PÓS-PARTO Logo após o nascimento, é comum observarem-se lesões eritematosas, erosões e lacerações ou equimoses, em consequência de traumatismos sofridos pelo RN durante o parto, principalmente quando teve auxílio do fórceps. Algumas situações, no entanto, são diretamente relacionadas à passagem pelo canal do parto ou à cesariana. A maioria dessas alterações evolui satisfatoriamente, sem deixar sequelas. 1. Bossa serossanguínea (caput succedaneum) A manifestação traumática mais comum, caracterizada pela deformidade da cabeça, aparece logo após o parto à custa de edema ou hemorragia do tecido subcutâneo, resultante da pressão exercida pelo útero e pela parede vaginal sobre o crânio do RN. Apresenta-se como tumefação difusa que pode se estender além dos limites das suturas cranianas. Não é necessário tratamento, já que o edema regride em poucos dias, e a deformidade craniana, um pouco mais tarde. 2. Céfalo-hematoma Representa uma complicação frequente (1,5% dos partos). Caracteriza-se por hemorragia subperióstea e está limitado, frequentemente, à superfície de um osso craniano, geralmente os parietais, mas pode ser observado nos ossos occipital ou frontal. Diferentemente do caput succedaneum, esse aumento de volume não ultrapassa a linha média, pois não transpõe as suturas ou a fontanela. Clinicamente, observam-se massas tumorais sem alteração da cor da pele, localizadas nas regiões descritas. Não estão presentes ao nascimento, mas, como o sangramento periósteo ocorre lentamente, a tumefação começa a ser notada nas primeiras horas e aumenta nos primeiros dias de vida. Na maioria das vezes, há regressão espontânea após 2 semanas a 3 meses, e não é necessário tratamento 3. Lesões causadas por iatrogenia Lesões cicatriciais na pele do RN podem decorrer de procedimentos médicos para diagnóstico pré-natal, como amniocentese, biópsia de vilosidades coriônicas ou biópsia fetal. São caracterizadas por pequenas depressões, em geral, múltiplas e localizadas preferencialmente no tronco e nas extremidades, em certos casos, há laceração ou hemorragias cutâneas. Podem ocorrer malformações mais graves quando há sangramento intra-amniótico após a amniocentese, que interfere no desenvolvimento do feto. Com o uso da ecografia para acompanhar esses procedimentos, as complicações têm diminuído nos últimos anos, girando em torno de 1%. Lesões na pele podem ser ocasionadas pelos cuidados em unidade neonatal, como lacerações ou erosões por adesivos (esparadrapos) e eletrodos, e edema ou equimoses em virtude da utilização de soros. 4. Bolhas por sucção O quadro, geralmente, está localizado no antebraço, nos dedos ou no lábio superior, é caracterizado por uma ou duas bolhas não inflamatórias, de conteúdo seroso, que se transformam em erosões. Presentes ao nascimento, são provocadas por sucção pelo feto intraútero; a resolução é espontânea e sem sequelas, em alguns dias. Provavelmente por sucção oral intrauterina, ocorre em menos de 1% dos recém-nascidos saudáveis, observadas no dorso das mãos, pulsos, polegares, lábios ou zona radial de antebraços. As lesões são bolhas ou erosões de conteúdo seroso, que medem 5- 20 mm, presentes desde o nascimento. Curam em poucos dias sem deixar sequelas. O diagnóstico diferencial deve ser feito com trauma obstétrico. Como existe perda da solução de continuidade com dano à barreira, deve-se evitar impetiginização secundária, além do uso de cicatrizantes. DERMATOSES INFLAMATÓRIAS Durante os 30 dias iniciais de vida, o RN pode desenvolver quadros inflamatórios, a maioria desaparece em semanas ou meses. 1. Miliária Quadro muito frequente em virtude de uma parcial obstrução dos dutos sudoríparos em razão de sua imaturidade e também pela exposição a fatores que aumentem a transpiração, como roupas e ambientes com baixa ventilação. Mais comum nos prematuros, em climas mais quentes ou quando os RN ficam em incubadoras, não está presente ao nascimento, é mais frequente na primeira ou na segunda semana de vida. Observa-se a partir da segunda semana de vida, com pequenas vesículas superficiais. Dermatose ocasionada por obstrução dos condutos sudoríparos, por imaturidade das glândulas sudoríparas do neonato. Mais comum na época de calor ou após fototerapia. Ao melhorar, deixam descamação residual. Existem 3 tipos: cristalina, rubra e profunda. A forma cristalina ou sudamina ocorre em nível intracórneo ou subcórneo, com vesículas pequenas, transparentes, superficiais, sem halo inflamatório na frente e pele recoberta porpelos finos. Início 6-7 dias de vida. A forma rubra é decorrente da ruptura intraepidérmica do conduto, manifesta-se como pequenas pápulas eritematosas ou pápulo-vesículas. Às vezes, as vesículas transformam-se em pústulas (miliária pustulosa). As principais localizações são as áreas intertriginosas, mas também são observadas na face, couro cabeludo e ombros. O controle envolve evitar o calor, uso de roupas em excesso, banhos refrescantes e adicionar compressas de camomila. A miliária profunda ou pustulosa situa-se mais profundamente por obstrução (subdermo-epidérmico) do conduto sudoríparo e é muito rara no neonato. O diagnóstico diferencial se faz com eritema tóxico neonatal e herpes neonatal 2. Eritema tóxico Alteração transitória da pele do RN, caracterizada pela presença de pápulas amareladas sobre base eritematosa, muito semelhante à picada de pulga ou à miliária rubra; pode também haver pústulas. Está localizado preferencialmente no tronco e na face e sua etiologia permanece desconhecida. O diagnóstico é clínico, mas, se necessário, pode ser confirmado pelo exame microscópico do conteúdo da pústula, rico em eosinófilos. O quadro se inicia geralmente do primeiro ao 15º dia de vida e não há necessidade de tratamento, já que desaparece espontaneamente em poucos dias. Dermatose de origem desconhecida, mais frequente no recém-nascido a termo (50%), ocorre a partir do 1º ao 4º dia de vida, com máculas eritematosas de poucos milímetros a vários centímetros de diâmetro, com ou sem pequenas pápulas cor-de-rosa pálido ou amareladas (70% dos casos), e/ou vésicopústula de 1-2 mm rodeadas por halo eritematoso (30%), sobretudo no tronco superior. As lesões são assintomáticas, com duração de 2-3 dias, portanto, não necessitando tratamento. O diagnóstico é clínico; em caso de dúvida, pode-se realizar biópsia de pele, encontrando-se ao exame anatomopatológico infiltrado com eosinófilos e em outras ocasiões eosinofilia periférica. Confunde-se com melanose pustulosa neonatal transitória (anatomopatológico com neutrófilos), com candidíase e infecções virais. 3. Melanose pustulosa transitória Doença frequente, ocorrendo em até 4% dos neonatos negros e em menos de 1% dos brancos. A etiologia é desconhecida e o quadro clínico é caracterizado pela presença de lesões vesicopustulosas que se rompem em 1 a 3 dias, formando escamas delicadas e esbranquiçadas, e por máculas hiperpigmentadas que persistem por semanas ou meses. Esse quadro está localizado preferencialmente nas regiões frontal, retroauriculares, cervical, tronco inferior, pré-tibial e palmoplantares; está sempre presente ao nascimento, como pústulas ou já como manchas. Não há sintomatologia sistêmica. O diagnóstico diferencial deverá ser feito com o eritema tóxico, o impetigo estafilocócico, a candidíase congênita, a miliária e a acropustulose. O tratamento não é necessário, já que o quadro regride espontaneamente em semanas. Causa desconhecida, apresenta-se desde o nascimento, na face e tronco com pústulas pequenas, flácidas e superficiais, que se rompem facilmente e formam crosta e colarete de escamas, deixam máculas hiperpigmentadas acastanhadas residuais. Dentre os principais diagnósticos diferenciais temos candidíase, eritema tóxico neonatal, escabiose, herpes. Persiste durante meses e não existe tratamento. 4. Necrose gordurosa subcutânea do RN (NGSRN) Hipodermite benigna e autolimitada, apresenta etiologia desconhecida. O quadro inicia-se entre a 1ª e a 6ª semanas de vida, em bebês geralmente saudáveis, com a presença de eritema e edema e posterior evolução para placas e nódulos de consistência endurecida, bem delimitados e não aderente aos planos profundos. 5. Acne neonatal Geralmente, está presente desde o nascimento ou nas primeira semanas de vida. Clinicamente, o quadro é polimorfo, caracterizado pela presença de comedões, pápulas eritematosas e pústulas, raramente com cistos, localizados nas regiões zigomáticas, mentonianas e dorso nasal. É mais frequente no sexo masculino, por provável estimulação da glândula sebácea pelos hormônios tanto do neonato como da mãe. Ocorre involução espontânea em poucas semanas, por isso não é necessário tratamento. 6. Lúpus neonatal (LN) Rara condição do neonato, caracterizada pela presença de lesões cutâneas associadas ao bloqueio cardíaco congênito (Figura 68.4). A grande maioria das mães dos pacientes com LN apresenta anticorpo Anti-Ro (SS-A) positivo e, com menor frequência, anti-La (SSB) ou anti- U1 RNP; no momento do nascimento, elas podem ou não apresentar doença ativa. Em 60% dos casos, as mães apresentam achados clínicos de S. Sjöegren ou lúpus eritematoso sistêmico. DOENÇAS INFECCIOSAS DO RN 1. Herpes simples A infecção do RN pelo vírus do herpes simples pode ocorrer por transmissão intraútero, por contato com o trato genital baixo durante o parto ou por contato direto após o nascimento, já no período neonatal. O risco de transmissão é maior na primoinfecção genital da gestante em relação à infecção herpética recorrente. O agente etiológico é o vírus do herpes simples tipo I (HHV-1) e o do tipo II (HHV-2), este último o mais frequente no herpes neonatal. O tempo de incubação é de 2 a 21 dias para a infecção neonatal adquirida. As manifestações de infecção que ocorrem nas primeiras 48 horas de vida indicam transmissão intrauterina, responsável por apenas 5% das infecções neonatais pelo vírus herpes. Apresentam-se como uma tríade de alterações: cerebrais (microcefalia, hidrocefalia); oculares (microftalmia, corioretinite); e vários tipos de manifestações cutâneas, como vesículas, bolhas, lesões cicatriciais e hipopigmentação. Quando a infecção é adquirida no parto, a doença se apresenta tanto como forma localizada, apenas com lesões mucocutâneas, como disseminadas, com comprometimento visceral, principalmente cerebral (encefalite). Geralmente, no máximo em uma semana de vida, a doença já se manifesta plenamente; as alterações cutâneas, quase sempre presentes, estão representadas por lesões vesicobolhosas sobre base eritematosa que evoluem para crostas hemáticas aderentes. O diagnóstico precoce é muito importante e deverá ser confirmado pelo exame citológico (Tzanck) de uma vesícula íntegra para pesquisa das células multinucleadas gigantes, pela detecção do antígeno viral e pela cultura do vírus. A reação de PCR pode ser feita no líquido cerebrospinal, na urina ou por biópsia de pele. O tratamento se dá com a administração de aciclovir endovenoso, na dose de 30 mg/kg/dia, durante dez dias. 2. Sífilis A sífilis pré-natal (SPN) é causada pelo Treponema pallidum e transmitida ao feto por via placentária em qualquer época da gestação. Pode ser transmitida por gestantes tanto com sífilis precoce (até dois anos) quanto tardia. 3. Impetigo bolhoso neonatal Geralmente, afeta os recém-nascidos durante a 1ª ou 2ª semana de vida; o RN prematuro é mais suscetível. A doença é causada pelo Staphylococcus aureus, grupo II, fagotipo 71. Quando ocorrer em berçário, é de especial importância que todas as medidas de isolamento sejam tomadas, e é necessário o exame dos contactantes para evitar as microepidemias. Clinicamente, é caracterizado por vesícula inicial que evolui para bolha de conteúdo claro, que logo se transforma em purulento; as lesões superficiais frequentemente se rompem, deixando áreas erosadas com colaretes de escamas na periferia, essas áreas desnudas de pele podem aumentar, acometendo grandes extensões desse órgão, porém, a criança permanece com seu estado geral conservado. A síndrome da pele escaldada estafilocócica, embora muito raramente, pode ocorrer no RN. O diagnóstico é geralmente clínico, mas é possível realizarexames bacteriológicos, principalmente para detectar a sensibilidade da cepa estafilocócica aos antibióticos. O tratamento local deverá ser instituído com compressas de soluções antissépticas KMnO4 a 1/20.000 e pomadas de antibiótico (mupirocina e ácido fusídico). Deve-se tratar também os possíveis focos, principalmente nasal, umbilical e ungueal. O tratamento sistêmico, nos casos mais extensos, é feito durante sete dias, com dicloxacilina de 25 a 50 mg/ kg/dia, cloxacilina de 50 a 100 mg/kg/dia, oxacilina ou vancomicina, para os casos resistentes à meticilina. Nos berçários, o paciente deverá ser isolado e precisam ser tomadas medidas rigorosas para evitar a infecção hospitalar. 4. Síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE) Quadro dramático causado por uma toxina epidermolítica produzida pelo Staphylococcus aureus grupo II fago fagotipos 3 A, 3 C, 71 e 55. A toxina epidermolítica, conhecida como exfoliatina, é responsável por todo o quadro clínico observado na SPEE. Ela é liberada no foco da infecção e disseminada por via hematogênica, induzindo à clivagem intraepidérmica por alteração na desmogleína-1. O quadro clínico inicia-se com febre e irritabilidade, apresentando eritema em torno dos lábios e narinas; rapidamente, toda a pele torna-se eritematosa e quente. Após 24 a 48 horas, a pele começa a se desprender, com formação de bolhas flácidas, e grandes áreas erosadas são observadas, principalmente nas dobras axilares, cervicais e inguinais; o sinal de Nikolsky é positivo. Com a evolução do quadro, fina descamação surge em todo o corpo, permanecendo algumas áreas fissuradas, principalmente em torno da boca e dos olhos. Completa resolução dos casos não complicados ocorre em torno de 10 a 12 dias. O diagnóstico é feito pelo isolamento do agente etiológico nos focos, principalmente narinas, conjuntiva, tonsila, nasofaringe e região umbilical; o exame bacteriológico das lesões cutâneas (bolhas) permanece rotineiramente negativo, e o exame histopatológico revela clivagem epidérmica alta, com células acantolíticas. O diagnóstico diferencial mais importante é com a necrólise epidérmica tóxica por drogas, rara em neonatos; os exames bacteriológicos e histopatológicos permitem fazer essa diferenciação. O tratamento da SPEE exige internação, em que medidas de suporte clínico deverão ser tomadas, principalmente em relação ao equilíbrio hidroeletrolítico. Antibioticoterapia sistêmica deverá ser instituída, com oxacilina ou vancomicina. O tratamento tópico deverá ser direcionado para os focos de infecção (narinas, conjuntiva, região umbilical), com pomadas de antibiótico à base de mupirocina. A evolução geralmente é boa e a total resolução do quadro ocorre em doze dias. As complicações mais frequentes são os quadros septicêmicos, que podem levar o paciente ao óbito, ocasionados, geralmente, por demora no diagnóstico e na instituição da terapêutica 5. Candidose Causada pela Candida albicans presente no canal vaginal. No RN, pode ser decorrente de infecção intrauterina (forma congênita) ou adquirida na passagem pelo canal do parto (forma neonatal). As lesões da candidose congênita manifestam-se ao nascimento ou no primeiro dia de vida; iniciam-se como máculas e vesículas com base eritematosa, que evoluem para pústulas; geralmente, disseminam-se para grandes áreas do corpo, levando à descamação. Não há lesões orais ou comprometimento sistêmico. As manifestações da candidose neonatal se iniciam após a 1ª semana de vida como lesões aftoides orais, vesículas e pústulas localizadas nas grandes dobras, na parte interna das coxas e na área de fraldas. O diagnóstico clínico é confirmado pelo exame micológico direto, e, na maioria dos casos, apenas o tratamento tópico com antifúngicos é suficiente. 6. Rubéola congênita O vírus da rubéola é um ARN vírus encapsulado da família Togaviridae. O período de maior contágio ocorre nos dias prévios ao aparecimento do exantema, ocorrendo microcefalia em 39% até 7 dias depois de aparecido. A infecção primária na mãe grávida pode produzir, por meio da transmissão placentária do vírus, quadro clínico no neonato conhecido como Síndrome de Rubéola Congênita. Esta síndrome pode ser vista em até 85% dos neonatos cujas mães desenvolveram a infecção nas primeiras 4 semanas de gestação. É caracterizada por retardo no crescimento intrauterino (43%), anormalidades viscerais (50-75%), microcefalia (39%), manifestações cutâneas (20-50%) e microftalmia (20%). As lesões dermatológicas são purpúricas devido eritropoiese extramedular, disseminadas no rosto, tronco e extremidades. As lesões não neonatais que podem ser observadas são urticária recorrente e cutis marmorata. O diagnóstico pode ser realizado através da detecção de IgM específica (maior de 20 mg/dl) no neonato, com diagnóstico presuntivo. A infecção congênita também pode ser confirmada pela presença de título estável ou ascendente de IgG contra o vírus da rubéola. O isolamento viral por meio de cultivo de secreções nasais, urina, sangue e/ou líquido cefalorraquídeo confirma o diagnóstico. O tratamento é sintomático. 7. Varicela congênita e neonatal Quando a infecção materna acontece nos dois primeiros trimestres da gestação, se apresenta a varicela congênita. Por outro lado, a varicela perinatal é adquirida quando a infecção materna acontece no último trimestre da gravidez. A varicela congênita é rara, mas quando ocorre, as cicatrizes segmentárias cutâneas se acompanham de manifestações embriopáticas. A varicela perinatal, que aparece nos primeiros 10 dias de vida, se considera de aquisição transplacentária, as vesículas podem se desenvolver em qualquer localização, incluindo pulmão, fígado e sistema nervoso central. O diagnóstico é realizado com o teste de Tzanck das vesículas (coleta do conteúdo das vesículas para pesquisa de células gigantes multinucleadas), os cultivos virais, imunofluorescência direta e PCR. Caso se desenvolva a varicela materna entre os 5 dias pré-parto e os 2 dias pós-parto, o neonato deve receber imunoglobulina específica como profilaxia. O tratamento indicado para os neonatos afetados é aciclovir 20 mg/kg/doses IV. 8. Escabiose neonatal Infestação parasitária do estrato córneo por Sarcoptes Scabiei var hominis. O contágio faz-se pelo contato direto, com período de incubação de 2-6 semanas. DERMATOSES DO LACTANTE E ESCOLAR MAIS COMUNS • Dermatite seborréica • Dermatite atópica • Dermatite da área da fralda 1. Dermatite seborréica É um problema frequente nas primeiras semanas de vida. É erupção eritematosa coberta por escamas oleosas (amarelo-acinzentadas). Acredita-se que é devida à colonização por Malassezia spp., e sua melhora após o tratamento com azoles e clioquinol sugere que a fermentação tem papel na etiologia desta dermatose. Acredita-se que os hormônios maternos, ao produzirem aumento na produção sebácea e fatores nutricionais, como a deficiência de biotina, poderiam ter papel na etiopatogenia. Afeta couro cabeludo (crosta láctea), rosto, sobrancelhas, regiões retroauriculares, nariz, pré- esterno e pregas axilares e inguinais. Na área da fralda costuma começar como intertrigo; posteriormente, o processo avança além das pregas inguinais. Não é pruriginosa. As lesões costumam macerar-se e apresentar infecção bacteriana ou candidiásica. Não há evidência de que as crianças com dermatite seborréica tenham maior probabilidade a ter a doença na idade adulta. Diagnóstico: geralmente é clínico. Em caso de dúvida, pode-se realizar biópsia da pele para diferenciar de psoríase infantil. Diagnóstico diferencial: a) Dermatite de contato b) Dermatite atópica c) Histiocitose de células de Langerhans d) Psoríase infantil2. Dermatite atópica A Dermatite Atópica (DA) é uma doença crônica, recorrente, que afeta de 15 a 20% dos indivíduos em idade pediátrica. Dermatose da pele mais comum na infância. A prevalência da DA aumentou 2 a 3 vezes na últimas décadas; mais de 15 milhões de pessoas nos EUA têm sintomas de DA. Mais comum em zonas urbanas, sendo que 50% das vezes inicia-se no primeiro ano de vida. Definição: Doença inflamatória crônica e recidivante, manifestada por pele seca e prurido em regiões típicas que variam de acordo com a faixa etária, de etiologia multifatorial. A história pessoal ou familiar de atopia é observada em 70% dos casos. Fisiopatologia: Complexa interação entre fatores genéticos, imunológicos e exógenos. Duas teorias: • Inside-Outside: inicia com resposta imunológica a alérgenos e irritantes, desencadeando inflamação, infecção e alteração da barreira cutânea. • Outside-Inside: nesta segunda hipótese, acredita-se que uma disfunção primária da barreira ocasiona entrada de antígenos, infecção e resposta inflamatória, explicando diferentes aspectos da doença em diferentes momentos. O suporte para esta teoria foi a descoberta de duas mutações em genes que codificam a produção da filagrina, que é fundamental para a formação do fator de umidificação natural. Na DA, encontra-se composição anormal de ceramidas (redução em quantidade e alteração da distribuição) e colesterol elevado. Esta alteração nos lipídios não polares (ceramidas, colesterol, etc.) afeta a umidade cutânea, já que formam capa hidrofóbica e, portanto, são determinantes na permeabilidade cutânea. Concluindo, na dermatite atópica existe a disfunção da barreira cutânea com perda de água transepidérmica (PTA) na pele afetada e clinicamente normal. A exacerbação dos sintomas de DA é relacionada ao grau de ressecamento, coceira e ardor.
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