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1 Junyara Souza Conceito atual de anestesia: inconsciência, analgesia, relaxamento muscular e bloqueio dos reflexos simpáticos. Melhora dos perfis farmacodinâmicos e farmacocinéticos das drogas; Progresso em anestesiologia: avanços na monitorização, protocolos, checklists, qualidade e segurança. FARMACOCINÉTICA: Estuda a relação temporal entre a administração do fármaco e sua concentração no sítio de sua ação (biofase), além do metabolismo e eliminação do fármaco. O que o corpo faz com o fármaco. Conceitos importantes: → Biodisponibilidade → Volume de Distribuição (VD) → Clearance (Cl) → Biotransformação → Modelos compartimentais → Histerese Biodisponibilidade: A biodisponibilidade é definida como a fração da dose administrada que efetivamente é absorvida e chega à corrente sanguínea. Proporção de exposição de uma dose de fármaco fornecida por uma outra via versus a sua administração IV Volume de distribuição: Volume plasmático aparente de distribuição de um fármaco. É a dose de fármaco (ou soluto) dividida pela concentração do fármaco no plasma. Varia com as propriedades físico-químicas do fármaco e reflete a sua capacidade de penetração nos tecidos. VD = Dose/Concentração Modelo unicompartimental: o volume de distribuição permanece constante no modelo unicompartimental. Não é o caso do organismo. Modelo bicompartimental: Tecido com alta afinidade para a droga. Nesse caso, a concentração plasmática cai para 2.5 mg/mL após um bolos de 10mg, o que leva o volume de distribuição para 4l. 2 Junyara Souza Cinética de primeira ordem: uma percentagem fixa da droga é eliminada a cada fração fixa de tempo Ex: 50% da dose a cada 2 min, tanque de 1l, bolos de 10mg. Clearance: Volume plasmático “clareado” da droga por unidade de tempo (ex: L/min). É definida como o volume de plasma do qual o fármaco é completamente removido por unidade de tempo. Relação entre Clearance volume de distribuição: → C= 64mg-48mg / 1min / 16mg/l C=1l/min → C=48mg-36mg / 1min / 12mg/l C=1l/min → C= 36mg-27mg / 1min / 9mg/l C=1l/min É importante notar que a depuração não indica a quantidade do fármaco que está sendo removida, mas sim, o volume de líquido biológico, como o sangue ou o plasma, do qual o fármaco teria sido totalmente removido. Biotransformação: Metabolismo hepático (Oxidação, redução, hidrólise e conjugação): → Reações de fase I: Oxidação e redução. Envolvem um sistema de enzimas chamado P450. Essas enzimas podem ser induzidas por algumas drogas (ex: erva de São João) que aumentam a capacidade intrínseca, ou inibidas 3 Junyara Souza por outras drogas (B bloqueadores, antibióticos) → Reações de fase II: Conjugação e hidrólise. Ocorrem fora do sitema P450. A glucuronidação é a adição de grupos polares (ácido glucurônico) às moléculas hidrofóbicas gerando metabólitos hifrofílicos, mais fáceis de excretar através do rim Metabólitos hepáticos são inativos na maioria das vezes, com algumas exceções (midazolan, morfina, cetamina). Modelos farmacocinéticos multicompartimentais: Os modelos compartimentais consistem num ou mais compartimentos periféricos conectados a um compartimento central. O compartimento central é representado pelo plasma e tecidos altamente perfundidos. Assim, quando uma dose intravenosa do fármaco é administrada, ela entra diretamente no compartimento central e também é deste compartimento que ocorre a sua eliminação, uma vez que é no compartimento central que se encontram os órgãos envolvidos na eliminação, primariamente rins e fígado, e tecidos altamente perfundidos. Num modelo multicompartimental o fármaco distribui-se em várias velocidades dentro de diferentes grupos de tecidos. Aqueles que apresentam elevado fluxo sanguíneo podem equilibrar-se com o compartimento plasmático, assim somado ao sangue compõem o compartimento central. Enquanto essa distribuição inicial do fármaco é efetuada, o fármaco é liberado para um ou mais compartimentos periféricos compostos de grupos de tecidos com menor fluxo sanguíneo e afinidade pelo fármaco. O corpo pode ser representado como uma série, ou sistemas, de compartimentos que se comunicam reversivelmente entre si. Um compartimento não é uma região anatómica ou fisiológica real, mas é considerada como um tecido ou grupo de tecidos que devem possuir fluxo sanguíneo e afinidade por fármacos similares. Dentro de cada compartimento considera-se que o fármaco se distribua uniformemente; a mistura do fármaco dentro do compartimento é rápida e homogénea, tanto que a sua concentração é representada como uma concentração média e cada molécula do fármaco possui igual probabilidade de sair do compartimento. Conceitualmente, fármacos movem-se para dentro e para fora dos compartimentos. O emprego de modelos compartimentais em farmacocinética leva, geralmente, implícita a suposição de que os processos que se estudam, ou o fluxo dos fármacos até ao compartimento, se desenvolvem segundo cinética de primeira ordem. Por exemplo, o resumo dos processos que retiram medicamentos do organismo irreversivelmente, pode caracterizar-se por uma constante de velocidade de eliminação de primeira ordem cinética, que compreenderia a excreção urinária, a biotransformação e outros processos que contribuem na retirada do fármaco do organismo. O medicamento é administrado no tanque central, de onde é distribuído para dois tanques periféricos e eliminado ao mesmo tempo; O volume dos tanques é proporcional aos volumes de distribuição. 4 Junyara Souza Tempos de meia-vida: T1/2 (A): meia-vida de distribuição (tempo necessário para que a concentração do fármaco no organismo reduza-se à metade (50%) na fase de distribuição); T/1/2 (B): meia-vida de Eliminação (tempo necessário para que a concentração do fármaco no organismo reduza-se à metade (50%) na fase de eliminação. T 1/2 vida contexto sensível: tempo necessário para a concentração do fármaco, no compartimento central, diminuir em 50% (half-time) após o término de um regime específico de infusão. QUANDO FAZ INFUSÃO CONTÍNUA. Simulação do acúmulo de propofol nos tecidos periféricos (linha azul) e a quantidade cumulativa de propofol eliminado (goldline) após um bolus de 2 mg/kg para um homem de 53 anos de 77 kg: Simulação de tempos de decaimento para infusão alvo-controlada de propofol, mantendo uma concentração alvo de 4 μg/mL por 30, 60 e 120 minutos. Uma vez terminado, o tempo necessário para atingir 0,5 μg/mL foi 30, 40 e 65 minutos para cada infusão, respectivamente: Histerese: Tempo para equilíbrio entre as mudanças na concentração plasmática e o efeito da droga. Leva em consideração o tempo para droga sair do plasma para o sítio de ação e o tempo para ação da droga quando nesse sítio. Atraso no equilíbrio entre o aumento e a queda nas concentrações arteriais da droga e o início e o fim do efeito da droga. Constante de equilíbrio (ke0), é a velocidade com que o fármaco por via venosa entra em equilíbrio com seu efeito máximo terapêutico no sítio efetor. Ke0 alto (alta velocidade), produz efeito mais rápido; Histerese rápida = tempo curto para fazer efeito. FARMACODINÂMICA: Estuda a relação entre a concentração do fármaco no sítio de ação (biofase – sítio efetor) e o seu efeito específico. (atividade farmacológica). 5 Junyara Souza Conceitos farmacodinâmicos: → Potência → Ligação proteica → Efeitos adversos e colaterais Mecanismo de ação dos fármacos: Alvos para a ação dos fármacos: canais iônicos ou proteína G → Receptores acoplados a canais (Ionotrópicos): alvos para a ação de neurotransmissores rápidos (AChR, GABA e Glutamato). → Receptores acoplados à proteínaG (metabotrópicos): atuam sobre os efetores intracelulares (AChR e receptores adrenérgicos). Relação dose-resposta: Afinidade: é a tendência do fármaco de se ligar ao receptor; Eficácia: é a tendência do fármaco de, uma vez ligado, ativar o receptor e produzir um máximo de efeito; Potência: Quantidade de droga necessária para provocar um efeito esperado. Tem relação com afinidade e eficácia. Inversamente proporcional, se usa pouca droga – efeito alto; Dose eficaz 50: dose que produz resposta desejada em 50% dos animais em estudo. Dose letal 50: dose que produz a exterminação em 50% dos animais em estudo. Índice de proteção ou índice terapêutico: é a relação entre a dose letal, 50% (DL50), e a dose eficaz, 50% (DE50). É a dose segura. Número necessário a tratar (NNT): se refere ao número de pacientes que precisa ser tratado para que um deles mostre o efeito desejado ou indesejado; Taquifilaxia: é a diminuição gradativa do efeito de uma droga quando administrada de modo contínuo ou repetida, após poucos minutos da utilização (ex.: nitroprussiato de sódio, efortil). Tolerância: é a diminuição mais lenta do efeito de um fármaco quando administrado de modo contínuo ou repetido, após dias ou semanas. Interação fármaco receptores: Agonistas: “ativam” o receptor ao ocupá-lo. Sua potência depende da afinidade pelo receptor e da sua eficácia. → Agonistas totais: produzem efeito máximo (alta eficácia). → Agonistas parciais: produzem efeito submáximo (eficácia intermediária). Antagonistas: ligam-se aos receptores sem produzir resposta. Antagonista químico: duas substâncias se combinam em solução e o efeito da droga ativa é perdido. Ex.: quelantes, Ac neutralizantes etc. Antagonista farmacocinético: reduz a absorção, aumenta o metabolismo ou a eliminação. Ex.: fenobarbital (promove a indução enzimática; acelera o metabolismo de vários fármacos) Antagonista competitivo: compete com o agonista pelos receptores, resultando na redução do efeito deste Antagonista não competitivo: bloqueia os eventos desencadeados pelo agonista. Ex.: nifedipina bloqueia os canais de Ca++, reduzindo a hipertensão arterial Antagonista fisiológico: descreve duas drogas com ações opostas no organismo. Ex.: a histamina aumenta a produção de secreção ácida, enquanto o omeprazol inibe a bomba de prótons (reduz a secreção ácida). 6 Junyara Souza ANESTÉSICOS VENOSOS NÃO OPIOIDES: Indutores anestésicos: → Barbitúricos → Benzodiazepínicos → Etomidato → Propofol → Cetamina Os anestésicos venosos são mais utilizados no estágio de indução anestésica, visto que levam ao estado de inconsciência em cerca de 20 segundos, assim que o fármaco chega ao cérebro. A vantagem desses anestésicos é que eles “burlam” a fase excitatória da anestesia, que é indesejável. Porém, os anestésicos venosos não devem ser utilizados para manutenção da anestesia, pois sua eliminação é relativamente lenta quando comparada com os fármacos inalatórios, exceto em procedimentos de curta duração, nos quais pode-se usar a ketamina sem a necessidade de um anestésico inalatório. Analgesia: as drogas usadas têm o objetivo apenas de aliviar ou minimizar a dor. Ou seja, elas provocam a ausência ou o amortecimento da dor sem perda de consciência. Anestesia: são usadas drogas anestésicas no paciente para que o cérebro dele não reaja à dor durante um procedimento cirúrgico. Barbitúricos: Derivados do "ácido barbitúrico", (união do ácido malônico com a ureia); Descoberto por Adolf Von Baeyer em 1864 Os usados mais comumente são os tiobarbitúricos: → Tiopental (Pentotal, ácido 5-etil-5[1- metilbutil]2-tiobarbitúrico) → Tiamilal (Surital, ácido 5-alil-5 [1--metilbutil]2- tiobarbitúrico) → Oxibarbiturato metoexital (Brevital, ácido 1- metil-5-alil-5[1-metil-2-pentanil] barbitúrico). Não é tão usado atualmente. Mecanismo de ação: Deprimem o sistema ativador reticular no tronco cerebral por facilitação dos receptores GABA-A. São potentes anestésicos, com alguma ação analgésica. Por serem altamente lipossolúveis, têm ação ultrarrápida e metabolismo lento, ou seja, sua excreção é mais demorada, visto que a alta lipossolubilidade provoca maior grau de distribuição dessas drogas pelos tecidos do corpo. A lipossolubilidade é essencial para a penetração da barreira hematoencefálica. Efeitos farmacodinâmicos: diminuem a taxa de metabolismo cerebral do oxigênio, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana (podem induzir um EEG isoelétrico). Ação anestésica (Hipnótica) dos barbitúricos é terminada primariamente por redistribuição. Lenta eliminação terminal por metabolismo hepático, conjugação biliar e excreção renal. Tiopental tem meia-vida de eliminação de 10 a 12 horas e o metoexital de aproximadamente 4h Estimulam a formação de porfirina e podem precipitar uma crise aguda em pacientes com porfiria. Contraindicados nesses casos. Usos clínicos: Indução de coma por barbitúrico!! Tiopental (indução anestésica): → 3 a 5 mg/kg em adultos, 5 a 6 mg/kg em crianças e 6 a 8 mg/kg em bebês → Indução inconsciência em menos de 30 segundos e o despertar espontâneo dentro de 20 minutos. Metoexital (indução anestésica): → 1 a 1,5 mg/kg em adultos. Em doses menores pode ativar descargas convulsivas corticais no EEG em pacientes com epilepsia do lobo temporal 7 Junyara Souza Propofol: Composto alquilfenol preparado em uma emulsão de lecitina de ovo, óleo de soja, glicerol e ácido etilenodiaminotetracético ou metabissulfito como um antimicrobiano. MUITO LIPOSSOLÚVEL! TEM QUE SER DILUÍDO! Atua como facilitador gabaérgico (aumenta a afinidade de ligação do GABA com o receptor GABAA (similar ao barbitúrico) Reduz a resistência vascular sistêmica (vasoplegia por uma redução do tônus simpático e efeito direto no músculo liso vascular) além de depressão miocárdica direta, com queda da pressão arterial (dose dependente) Reduz a taxa metabólica cerebral do consumo de O2, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana. Contudo, seu efeito sobre o sistema cardiovascular pode reduzir a pressão de perfusão cerebral (PPC). Possui qualidades neuroprotetoras similares ao tiopental. Possui também propriedades antipruriginosas e antieméticas. A emulsão de propofol causa dor à injeção. Fazer anestésico local antes. Propriedades: Ação anestésica do propofol é terminada primariamente por redistribuição. Pode ser usado em bólus único ou em infusão contínua. A meia-vida de redistribuição é muito curta (2-8 minutos), e a meia-vida contexto-dependente para infusões de até oito horas é menor do que 40 minutos. Metabolismo é primariamente hepático, com metabólitos hidrossolúveis inativos são eliminados por via renal. Doença hepática e renal clinicamente significativa não altera acentuadamente a farmacocinética do propofol (outros sítios de degradação, como o pulmão). O uso de infusão em alta dose no longo prazo pode causar síndrome de infusão do propofol (SIPR) caracterizada por insuficiência cardíaca, rabdomiólise, acidose metabólica, insuficiência renal, hipercalemia, hipertrigliceridemia e hepatomegalia. A SIPR é rara, sua fisiopatologia é incerta, mas é geralmente fatal. Usos clínicos: Dose de indução em adultos é de 1,5 a 2,5 mg/kg. Obeso: usar peso corporal magro Infusão contínua alvo controlada (anestesia venosa total) Idoso: reduzir dose (volume de distribuição diminuído e depuração mais lenta) Bolus lento ou gradual atenuar o efeito cardiovascular Benzodiazepínicos: Ligam-se aos mesmos receptores GABAA que os barbitúricos, mas em um local diferente do receptor. SÃO MUITO LIPOSSOLÚVEIS. Mecanismo de ação similar ao propofol e barbitúricos. Diminuem, do mesmo modo, a taxametabólica cerebral do consumo de O2, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana. São eficazes na supressão e no controle de convulsões. GERALMENTE EM TENTATIVA DE SUICÍDIO - Sedação com benzodiazepínicos pode ser revertida farmacologicamente por Fumazenil é um antagonista competitivo específico. Dose de flumazenil é de 0,5 a 1 mg intravenosa. Cuidado: eliminação mais rápida do que os benzodiazepínicos. Propriedades: São metabolizados no fígado e são suscetíveis à disfunção hepática e à coadministração de outras medicações São altamente ligado à proteína (fração de fármaco livre aumentada na doença hepática grave e na doença renal crônica) Metabolismo hepático. Os metabólitos primários do diazepam (desmetildiazepam e o 3-hidroxidiazepam) são farmacologicamente ativos e prolongam os efeitos sedativos. 8 Junyara Souza Um metabólito conjugado do midazolam, alfa- hidromidazolam, também pode se acumular em pacientes com DRC em uso de grandes doses de midazolam. Os recém-nascidos podem exibir síndrome de abstinência por benzodiazepínicos administrados à mãe (geralmente são evitados durante a gravidez). Ter flumazenil em sala de parto. Usos clínicos: Midazolan: → Dose de indução: 0,1 a 0,2 mg/kg por via IV. → Recuperação lenta limita sua utilidade como agente de indução na rotina → Normalmente usa propofol ou etomidato Sedação e ansiólise em doses menores. Anticonvulsivante em doses hipnóticas Etomidato: Derivado imidazólico carboxilado Lipossolúvel em pH fisiológico (dissolvido em propilenoglicol na solução injetável - dor a injeção) É um estereoisômero. Apenas o isômero R possui atividade clínica anestésica. Age por ligação aos receptores GABAA, aumentando a afinidade dos receptores pelo GABA. Parece causar desinibição subcortical, explicando os movimentos mioclônicos involuntários e o trismo encontrados comumente durante a indução com essa medicação. Diminui a taxa metabólica cerebral de consumo de O2, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana, enquanto mantém uma boa PPC secundária à estabilidade hemodinâmica. Tem maior estabilidade hemodinâmica que o propofol. É capaz de produzir potenciais semelhantes à convulsão no EEG em pacientes epilépticos sem criar convulsões reais, apesar de ter propriedades anticonvulsivantes. NÃO É BOA ESCOLHA EM PACIENTES EPILÉTICOS. Usado na ECT. Propriedades: Náuseas e vômitos pós-operatórios > tiopental > propofol Não tem qualquer propriedade analgésica Inibe transitoriamente a 11-beta-hidroxilase (enzima envolvida na produção de esteroides) o que causa supressão adrenocortical (supressão por 5 a 8 horas com única dose). Não é uma boa droga para fazer infusão contínua. Não causa liberação de histamina e causa mínima depressão hemodinâmica (fundamenta seu uso na prática clínica). Despertar ocorre primariamente por redistribuição. Eliminação terminal por biotransformação hepática em metabólitos inativos que são excretados por via renal. Usos clínicos: Perfil hemodinâmico favorável na indução (mínima depressão cardiovascular) Frequentemente usado em pacientes com doença cardiovascular significativa ou para situações de emergência (choque) – atenção para pacientes chocados, deve-se fazer a ressuscitação volêmica anteriormente; Dose de indução para adultos é de 0,2 a 0,3 mg/kg Início de ação rápido, aproximadamente um tempo de circulação do braço ao cérebro. A mioclonia e o trismo que podem seguir a indução (ventilação difícil inicialmente) Não inibe a resposta simpática à laringoscopia e à intubação, a não ser que seja combinado com um analgésico. Cetamina: Derivado fenciclidina (fenilcicloexilpiperidina) altamente lipossolúvel Esterioisômeto: → Mistura racêmica (50% isômero S e 50% R) 9 Junyara Souza → Forma S mais potente que o estereoisômero R com menos efetos psicodélicos (delírios, alucinações), taxa de depuração maior e recuperação mais rápida Estimula o sistema nervoso simpático com mínima depressão respiratória Broncodilatação potente. Antagonista do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA): receptor excitatório das vias centrais de dor (medula espinhal, áreas associativas do sistema tálamolimbicocortica). Seu neurotransmissor excitatório é o glutamato. Propriedades: Produz vasodilatação cerebral, com AUMENTO do fluxo sanguíneo cerebral, pressão intracraniana e da TMCO2 (contraindicada em pacientes com hipertensão intracraniana e intraocular). Provoca mioclonia, aumento da atividade do EEG e nistagmo Propriedades anticonvulsivantes Anestesia dissociativa: bloqueia o sinal doloroso na medula espinal e “dissocia” o tálamo e o sistema límbico (o paciente parece estar consciente, com olhos abertos, olhar fixo e nistagmo, porém irresponsivo aos estímulos sensoriais). Isoladamente, é um depressor miocárdico direto, mas, pela liberação indireta de catecolaminas aumenta PA, FC e Débito Cardíaco. Em pacientes com choque cardiogênico DEVE-SE TER ATENÇÃO, pode ter um déficit no armazenamento de catecolaminas. O término do efeito clínico da cetamina é devido primariamente à redistribuição. A cetamina é metabolizada no fígado (P450) em vários metabólitos, dos quais, a norcetamina retém algumas das propriedades anestésicas. Os metabólicos são excretados por via renal. Apesar de manter os reflexos das vias aéreas superiores, não protege contra broncoaspiração!!! Causa aumento do lacrimejamento e da salivação, que podem levar a laringospasmo (requer pré- tratamento com anticolinérgico como glicopirrolato ou atropina) Pode provocar efeitos psicodélicos como alucinações, experiências fora do corpo e medo (consideração em pacientes psiquiátricos). ATENÇÃO: Os efeitos psicodélicos são reduzidos com associação aos benzodiazepínicos. USAR CETAMINA EM ASSOCIAÇÃO COM BZD. Múltiplas vias de administração (intravenosas, intramuscular, oral, retal e mesmo peridural e intratecal) Usos clínicos: Dose de indução anestésica em adultos é de 1 a 2 mg/kg IV Indução IM (4 a 6 mg/kg) com quando há dificuldade de acesso venoso (pediátricos e não cooperativos), Indução IM mantém ventilação espontânea Usada como medicação adjunta na anestesia geral (analgesia preemptiva antes da incisão cirúrgica ou como estratégia de modulação da dor e prevenção de hiperalgesia pelos opióides) Usada na modulação da dor crônica. Opioides: Opiáceos: Alcaloides naturais, isolados a partir do ópio (mistura de alcalóides do suco das sementes da Papaver somniferum); Morfina, isolada em 1817 pelo farmacêutico alemão Sertuener Codeína (metilmorfina), pode ser obtido de duas formas, diretamente da papoula ou sinteticamente por metilação da morfina Tebaína ou paramorfina: antagonista da morfina, utilizado para criar derivados sintéticos como a naloxona. Papaverina: é utilizada pela medicina como espamolítico, vasodilatador Narcotina ou noscapina: usada como antitussígeno, sudoríparo e antipirético, mas não tem efeito analgésico. 10 Junyara Souza Heroína ou diamorfina: opiáceo semissintético obtido de pequena modificação na molécula original da morfina A partir de 1960 surgiram os opióides sintéticos como o fentanil, sufentanil e alfentanil. O termo opióide passou a ser usado para os fármacos sintéticos desenvolvidos em laboratório; Opióide são todas as substâncias endógenas, naturais e sintéticas, que apresentam ação semelhante à da morfina (ação em receptores opióides e antagonizados pela naloxona). Mecanismo de ação: Modulação e inibição da transmissão nociceptiva ao nível do corno dorsal da medula espinhal reduzindo atividade da substância P Desinibição dos interneurônios de vias descendentes inibitórias eferentes Ao nível encefálico, a ocupaçãode receptores opioides nos interneurônios da substância cinzenta periaquedutal (SCPA) modulando e modificando a interpretação dos estímulos nociceptivos aferentes. Efeitos farmacológicos: Alterações psicomotoras, variando de sedação à agitação (ação em nível subcortical, formação reticular ascendente e sistema límbico) Depressão da ventilação pulmonar (redução dose- dependente da resposta dos centros respiratórios à hipoxemia e à hipercapnia) Inibição da tosse (receptores centrais do bulbo) Broncoconstrição (ação direta da histamina liberada dos mastócitos, que exibem receptores opióides em sua membrana) Prurido (ocupação de receptores μ nos neurônios espinhais e nos receptores 5HT3 de serotonina no tronco cerebral) Hipotensão arterial (pelo efeito simpaticolítico e vasodilatação secundária à redução do tônus simpático dos centros vasomotores e liberação de histamina Bradicardia sinusal pelo estímulo central vagal na base do IV ventrículo. Miose (ação direta no núcleo autonômico do nervo oculomotor) Náuseas e vômitos: estimulação da zona quimioceptora do gatilho no bulbo, associada ao retardo do esvaziamento gástrico e aumento do tônus do piloro Constipação intestinal: aumento do tônus basal da parede do intestino delgado e do cólon, reduzindo a peristalse Redução da secreção biliar e pancreática, podendo desencadear espasmo do esfíncter de Oddi. Retenção urinária: elevação do tônus das fibras circulares do esfíncter vesical, e redução daatividade de suas fibras longitudinlais Metabolismo e metabólitos ativos: Opióides são lipossolúveis, altamente ligados a proteínas, bases fracas que são ionizadas em pH fisiológico. De forma geral são metabolizados pelo sistema CYP hepático + conjugação hepática em diferentes graus seguida de excreção renal) O remifentanil é a principal exceção a essa regra (metabolizado por esterases plasmáticas, portanto, não dependem da função hepática ou renal). 11 Junyara Souza Tolerância: necessidade de doses maiores para atingir um efeito analgésico semelhante com o uso crônico. A tolerância analgésica aumenta mais do que a tolerância aos efeitos depressores da respiração, reduzindo a janela terapêutica. Hiperalgesia: Resposta aumentada a estímulos dolorosos normais por três mecanismos: ativação do receptor NMDA (sistema glutaminérgico central), liberação aumentada de neuropeptídeos espinais excitatórios e facilitação espinal descendente. Dependência: caracteriza-se por uma síndrome de abstinência complexa com sinais físicos e distúrbios emocionais. Morfina: Protótipo dos opioides Pouco lipossolúvel o que aumenta sua latência (pico no SNC em 90 minutos IV) reduzindo o risco de reduzindo o risco de depressão respiratória aguda (observar o pico da concentração antes da próxima administração) Meia vida de eliminação em torno de 4-6h Grandes doses em bolos provoca liberação de histamina e hipotensão. Extenso metabolismo de primeira passagem após administração oral produzindo altos níveis de seu metabólito principal, morfina-6-glicuronídeo. Fentanil: Muito lipossolúvel, com pico de efeito em 3 a 5 min após adm IV, com duração de efeito entre 30 e 45 min (meia vida de eliminação de aprox 2h). Alto risco de depressão respiratória. Vias de administração: IV, tansdérmica, transmucosa, intranasal. Útil para sedações e analgesias em procedimentos cirúrgico menores e também durante as fases de indução e manutenção da anestesia. A meia-vida contexto-sensível prolongada o que limita o uso de infusões Sufentanil: Mais potente opióide comercialmente disponível (10x > fentanil) Alfentanil: 10x menos potente que o fentanil Pico plasmático 90 segundos após a administração IV em bólus Remifentanil: Congênere potente do fentanil, com rápido início de ação (90 seg), curta duração (~3 minutos) e meia-vida contexto-dependente curta (~5 minutos) Metabolizado por hidrólise de éster no sangue e tecidos, não sendo afetado pela insuficiência hepática ou renal Como não se acumula e o término de seu efeito é muito confiável, o remifentanil é adequado para uso em infusão contínua para pequenos procedimentos e também infusão durante a anestesia geral Ao optar pelo seu uso, a analgesia pós-operatória deve ser bem administrada Metadona: Disponível na forma oral e IV Usada no tratamento da dependência de opióides por seu prolongado tempo de meia vida. 12 Junyara Souza Usada também no tratamento da dor crônica (isômero dextrógiro também tem antagonismo NMDA, que pode atenuar os efeitos da tolerância opioide) A metadona prolonga o intervalo QT Naloxona: Antagonista competitivo do receptor opioide com maior afinidade para o receptor, revertendo todos os efeitos clínicos dos opioides Muito usada para reverter a depressão ventilatória induzida pelo opioide Por ser rapidamente metabolizada no fígado, sua duração de ação em geral é mais curta do que a do opioide que se destina a reverter (pacientes devem ser cuidadosamente monitorados para a recorrência da depressão ventilatória A naloxona pode causar taquicardia e, mais raramente, edema pulmonar e até mesmo morte súbita em indivíduos anteriormente saudáveis Nalbufina, pentazocina e butorfanol: São agonistas-antagonistas opióides mistos (agonismo e antagonismo em receptores diferentes) e agonista parciais Esses “agonistas parciais” têm um menor potencial de abuso do que agonistas opióides, mas são menos eficazes no tratamento da dor Usados para atenuar os efeitos secundários dos opióides (depressão ventilatória, prurido), mantendo algum nível de analgesia (agonismo parcial). O antagonismo precipita a síndrome de abstinência em pacientes dependentes de opioide. 13 Junyara Souza
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