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PRÉ PROJETO DE PESQUISA
Carlos Otávio Rodrigues dos Santos
Analise do funcionamento de uma Fóssa Séptica Biodigestora em área rural
Belém, 2021
1 - INTRODUÇÃO
A falta de saneamento básico na zona rural é um problema que ainda afeta quase 80% da população do campo e traz sérios riscos à saúde (S	ILVA, 2014). Dentre esses riscos, cita-se uma série de doenças no ser humano como a diarreia, doenças dermatológicas, cólera, leptospirose, disenteria bacteriana etc, as quais algumas podem levar a morte, principalmente em crianças e idosos. As doenças são transmitidas pelo uso ou ingestão de água contaminada e pelo contato da pele com o solo e lixo contaminados (RODRIGUES; MORALES, 2019).
Ademais, a população rural da região Norte (por volta de 4,2 milhões de pessoas) é a que apresenta o principal déficit quanto ao saneamento básico, onde apenas 22% tem acesso adequado ao abastecimento de água e o somatório de domicílios utilizando fossas rudimentares ou sem esgotamento sanitário representa 66,1% do total (IBGE, 2012).
Segundo Figueiredo et al. (2019), boas práticas de saneamento são fundamentais não apenas para evitar doenças, mas para promover a saúde, proteger o meio ambiente e aumentar a qualidade de vida da população. No caso de fossas rudimentares, como as “fossas negras”, que são comuns em propriedades rurais, podem contaminar o solo e a água, pois, ao direcionar o esgoto para um “buraco” aberto na terra, parte desse esgoto se infiltra no solo e contamina o meio ambiente, uma vez que os dejetos humanos podem chegar ao lençol freático e aos rios que abastecem as cidades, causando contaminação das águas e doenças nas pessoas (SILVA, 2014).
Nesse sentido, cita-se a Fossa Séptica Biodigestora – FSB, tecnologia desenvolvida pela EMBRAPA em 2001, para atender comunidades rurais. O sistema é simples e de baixo custo, sendo possível tratar o esgoto dos banheiros (fezes e urina humanas) de forma eficiente, eliminando o mau cheiro e reduzindo os micróbios que podem causar doenças, além disso, o seu efluente pode ser utilizado para a agricultura. (OLIVEIRA, 2018). 
Dessa forma, o presente projeto objetiva a construção de uma FSB, de forma a proporcionar direcionamento adequado de águas negras em uma residência na zona rural. Além disso, serão avaliados a quantidade e a qualidade do efluente gerado, de forma a viabilizar o seu uso pela agricultura. Como garantia do bom funcionamento do sistema, 1 (um) morador da residência onde a FSB vai ser instalada, será capacitado para realizar manutenção, e construir novos sistemas na região, agindo como multiplicador do projeto. 
 	Portanto, sendo o déficit sanitário um problema real e atual, a proposta apresenta relevância, no sentido que contribui com a diminuição de residências sem esgotamento sanitário adequado, o que melhora a qualidade de vida dos seus habitantes. 
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A precariedade no saneamento básico é uma realidade global, pois cerca de 2,4 bilhões de pessoas no mundo não têm saneamento adequado, mais de 1 bilhão de pessoas não dispõem de banheiro, em torno de 633 milhões de pessoas no mundo não usufruem fonte de água potável e, por consequência disso, 3,5 milhões de pessoas morrem no mundo por ano, além de infecções respiratórias, diarreia, malária, entre outros fatores que são gerados pela falta de saneamento (ITB, 2018).
Ademais, dados coletados e organizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (IBGE, 2014) indicam que aproximadamente 12,6% dos domicílios rurais pesquisados no Brasil não possuem nenhum tipo de sistema de tratamento de esgoto e que 57,7% adotam soluções consideradas inadequadas para o esgotamento sanitário, tais como o lançamento em valas, corpos d’água ou em fossas rudimentares. Em termos de esgotamento sanitário, Sales; Roland (2017), afirmam que as situações mais críticas do Brasil permanecem nas regiões Norte e Nordeste. 
No que tange à região amazônica, a população da zona rural muitas vezes situa-se distante dos núcleos urbanos e sem acesso adequado aos serviços de abastecimento de água tratada e à correta disposição dos resíduos sólidos e esgotamento sanitário. Tal situação possui reflexo direto na qualidade de vida do morador do campo, principalmente quanto à exposição de doenças de veiculação hídrica, relacionadas à falta de saneamento básico, como as doenças diarreicas (MARMO; SILVA, 2014).
	Dessa forma, iniciativas de baixo custo que estão aliadas à sustentabilidade, como as FSBs, são estratégias fundamentais para a melhoria do saneamento básico em zonas rurais. Essa tecnologia visa reduzir o uso de fossas negras e sumidouros, a contaminação do solo, bem como o lançamento do esgoto não tratado nos rios, permitindo ainda que o adubo líquido (efluente) que sai no final da fossa, seja utilizado na fertilização de plantas. (OLIVEIRA 2018).
	Nesse sentido, além da própria EMBRAPA, que desenvolveu a tecnologia, outras instituições, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI e a Fundação Banco do Brasil - FBB têm disseminado a tecnologia, bem como prefeituras municipais, organizações não governamentais - ONGs e empresas públicas e privadas. Estima-se que cerca de 11.000 unidades já tenham sido instaladas em mais de 250 municípios brasileiros, predominantemente na região Sudeste (FIGUEIREDO et al., 2019).
3 - METODOLOGIA
A pesquisa terá duas fases: na primeira será realizada a escolha do local e a construção da FSB propriamente dita, já a segunda, será composta das análises, manutenção e monitoramento da FSB. A capacitação ocorrerá concomitantemente à construção. Vale ressaltar que o atual sistema atenderá uma residência de até 5 moradores.
3.1- Construção e funcionamento
O sistema é composto por três caixas (A, B e C) de fibrocimento ou fibra de vidro de 1.000 litros (L) cada, e apenas a primeira caixa (A) é conectada à tubulação do vaso sanitário. Nas caixas A e B (módulos de fermentação), ocorre o tratamento do esgoto. A caixa C é para o armazenamento do líquido tratado. É fundamental que não se jogue resíduos de pias, chuveiros, tanques e máquinas de lavar (roupa ou louça). A figura 1 ilustra uma FSB que age por gravidade.
Figura 1 – Ilustração de uma FSB, com destaque dos pontos de entrada (1) e saída (2).
 AA
1A
2A
CA
B
Fonte: Figueiredo et al. (2019).
Inicialmente, a primeira caixa (A) é carregada com 20 litros de uma mistura de água e esterco bovino fresco (10 litros de água + 10 litros de esterco), e, a cada 30 dias, 10 litros da mesma mistura (5 litros de água + 5 litros de esterco) devem reabastecer o sistema, através da válvula de retenção (1). Se a caixa C encher em um período menor que 10 dias, deve-se acrescentar mais uma caixa com capacidade para complementar a fermentação. O sistema é facilmente redimensionado caso haja necessidade, incorporando outros módulos de fermentação, de forma proporcional ao número de moradores.
3.2 - Análises.
	As análises ocorrerão quinzenalmente por 8 (oito) meses, e os parâmetros a serem analisados são turbidez, pH, condutividade elétrica (CE), demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), sólidos suspensos totais (SST), fósforo total (P-total), Coliformes Totais e Escherichia coli., de acordo com o preconizado por Figueiredo et al. (2019), em pesquisa realizada em Campinas, São Paulo. As amostras serão coletadas nos pontos (1) e (2), identificados na Figura 1.
	Serão calculadas as médias e os desvios padrão para todos os parâmetros analisados. Ademais, todas as análises foram realizadas com base nos métodos descritos em APHA et al. (2012).
4 - RESULTADOS ESPERADOS
A construção da FSB beneficiará uma residência de até 5 pessoas, as quais poderão contar com um esgotamento sanitário adequado, de forma a contribuir com a diminuição dos problemas socioambientais acarretados pela contaminação do lençol freático, os quais advêm, em parte, da utilização de fossas rudimentares. 
Além disso, caso o efluente apresente segurançapara ser utilizado na agricultura, o sistema oferecerá um insumo para ser utilizado na agricultura. Isso agrega mais valor ao sistema, na medida em que o agricultor pode economizar na compra de adubos, e terá em sua propriedade uma quantidade maior de adubação orgânica.
Nesse sentido, a quantificação do efluente que vai ser gerado garante o cálculo da economia de água advinda do sistema, o que é um ganho para o meio ambiente em meio à crise hídrica global.
Por fim, a capacitação do morador é fundamental para garantir a correta manutenção do sistema, além do mesmo se tornar um agente multiplicador na comunidade, o que gera um meio de renda para este morador, e leva adiante os benefícios do projeto.
REFERENCIAS
DANTAS, F. A.; LEONETI, A. B.; OLIVEIRA, S. V. W. B.; Oliveira, M. M. B. Uma análise da situação do saneamento no Brasil. FACEF Pesquisa: Desenvolvimento e Gestão, v.15, n.3, 272-284, 2012.
FIGUEIREDO, I. C. S.; et. al. Fossa Séptica Biodigestora; Avaliação Crítica da eficiência da tecnologia, da necessidade da adição de esterco e dos potenciais riscos a saúde pública. Revista DAE, n.220, v.67, 2019.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios 2014. Rio de Janeiro, RJ, v.33, p. 133, 2014.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios – PNAD. Rio de Janeiro. 2012.
ITB - Instituto Trata Brasil. (2018). Ranking do Saneamento. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/ranking-2018/realatorio-completo.pdf. 
MARMO, C. R.; SILVA, W. T. L. Fossa Séptica Biodigestora: experiência de transferência de tecnologia na Amazônia legal. In: Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária. São Carlos, 18 a 20 de novembro de 2014. 
OLIVEIRA, B. R. et al. Construção do sistema de fossas sépticas biodigestoras adaptadas para várzeas estuarinas do Rio Amazonas. Embrapa Instrumentação. DF: Embrapa, Brasília. 2018.
RODRIGUES, A. L. A.; MORALES, C. A. S. Saneamento Básico: Estudo de caso de propriedades rurais do município de Santa Margarida do Sul. Agrarian Academy, Goiânia, v.6, n.12, p.108-119, 2019.
SALES, B. M.; ROLAND, N. O saneamento básico nas áreas rurais e comunidades tradicionais: análise geográfica do déficit brasileiro e da atuação da atuação da FUNASA. In: Congresso Internacional de Engenharia de Saúde Pública e de Saúde Ambiental, 1. Anais... Belém, 2017.
SILVA, W. T. L. Saneamento Básico Rural. 1 ed. Brasília. DF: Embrapa, 2014.

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