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Micobactérias O gênero Mycobacterium consiste em bacilos aeróbios, imóveis, não formadores de esporos, de tamanho 0,2 a 0,6 x 1 a 10 µm. A parede celular é rica em lipídeos, isso torna sua superfície hidrofóbica e resistente a desinfetantes, antibióticos, à própria resposta imune e colorações. Se utilizar a coloração de Gram, vão ser parcialmente Gram-positivas. Não podem ser descoradas com soluções ácidas, pois são acidorresistentes. São fastidiosas (nutricionalmente exigentes) e se dividem a cada 12-24h. Algumas espécies podem demorar até 8 semanas. Há mais de 172 espécies e 13 delas são importantes causa de morbidade e mortalidade. O grupo patogênico ao homem é mais restrito. A velocidade de crescimento e a morfologia colonial são utilizadas para a classificação preliminar das micobactérias. A M. tuberculosis apresenta colônias de coloração carotenoide com bordas peroladas e demoram cerca de 8 semanas para crescer. As Micobactérias não tuberculosas geralmente possuem crescimento rápido. MICOBACTÉRIAS NÃO TUBERCULOSAS (MNT) São MO atípicos e são classificados segundo Runyon: o Grupo I: fotocromogênico, só produzem pigmentos na presença de luz e têm crescimento rápido. Ex.: M. kansasii (pulmão e gânglios) e M. marinum (lesão cutânea). Complexo M. tuberculosis (sempre patogênica) M. tuberculosis M. africanum M. bovis M. leprae Complexo M. avium M. avium M. avium hominissuis M. avium paratuberculosis M. intracellulare o Grupo II: escotocromogênico, produzem pigmento carotenoide na ausência de luz. Ex.: M. scrofulaceum (pulmão e gânglios), M. xenopi (pulmão) e M. flavencens (não patogênica). o Grupo III: não cromogênico, não produzem pigmento e têm crescimento lento. Ex.: complexo M. avium, M. hemophilum (cutânea) e M. ulcerans (úlceras cutâneas). o Grupo IV: de crescimento rápido, causam infecções, porém raras. Ex.: M. fortuitum (pulmão, tecidos moles, osso), M. chelonae e M. abscessus. FISIOLOGIA E ESTRUTURA DO GÊNERO 1. São acidorresistentes. 2. Apresentam ácidos micólicos contendo 70-90 carbonos (algumas bactérias se coram com o Zihel-Nieelsen mas possuem ácidos micólicos com uma quantidade de carbonos inferior a 70). 3. Apresentam alto conteúdo de Guanina + Citosina no DNA (61 a 71%). Parede celular semelhante à dos Gram positivos, membrana interna recoberta por peptidoglicano e não apresenta membrana externa. 30% do genoma da bactéria expressa a produção dos lipídios da parede celular, que correspondem a 60% do peso da parede. Ancoradas à parede celular, há proteínas como a lipoarabinomanana (LAM), que é constituída por D-arabinose e D-galactomanana e em sua terminação ocorre a esterificação dos ácidos micólicos que apresentam alto peso molecular e deixa a parede celular mais hidrofóbica. Ela está funcionalmente relacionada aos lipopolissacarídeos antigênicos O. Além disso os ácidos micólicos também interagem com glicolipídios o que aumenta ainda mais a hidrofobicidade. Há outras substâncias na parede celular que protegem a micobactéria da resposta imune do hospedeiro e de alguns fármacos. A penicilina não é eficiente para tuberculose por conta de sua estrutura hidrofóbica. Mycobacterium tuberculosis M. tuberculosis são bactérias de crescimento lento e coloração castanho-brilhante ou não pigmentadas. Não se deve confundir com os grupos de pigmentadas e crescimento rápido. É um patógeno intracelular de macrófagos. Cresce lentamente, com tempo de dobramento de 18 horas. É obrigatoriamente aeróbio. Capaz de estabelecer infecções que duram a vida toda. Patogenicidade A transmissão se dá através da inalação de perdigotos, as bactérias no ar ambiente conseguem permanecer algumas horas em suspensão e por isso é muito infecciosa. Não produzem exotoxinas, assim como não contém endotoxinas em sua parede celular. Tudo começa pela inalação de MO que culmina no desenvolvimento da imunidade celular. Se instalam nos alvéolos pulmonares e cerca de 3 semanas depois as bactérias inaladas são endocitadas pelos macrófagos alveolares, através dos glicolipídios da parede que interagem com o receptor de manose do macrófago. Pode acontecer de a micobactéria ser eliminada também, entretanto não vão conseguir ter sua ação patogênica. Para se reproduzir dentro do macrófago, vai precisar de algum fator de virulência: M. tuberculosis evita a fusão do fagossomo com o lisossoma de 2 maneiras: 1. Inibe a concentração de Cálcio. 2. Bloqueia a molécula específica que faz esta ligação, o EEA1, vulgo autoantígeno 1 do endossoma primário. Isso impede a destruição da micobactéria pelo fagolisossomo. Ao mesmo tempo que isso ocorre, o fagossoma vai se juntar com outras vesículas intracelulares e com isso vai disponibilizar nutrientes para a reprodução da micobactéria. A LAM atua neutralizando as espécies reativas de oxigênio geradas pelos macrófagos alveolares. Além disso, a bactéria fagocitada também é capaz de evadir a morte do macrófago mediada pelos intermediários reativos NO e H2O2 (EROs)-, através da catabolização desses oxidantes, quem faz isso é a LAM. Pode haver um aumento da proliferação de micobactérias se o indivíduo apresentar polimorfismo no gene NRAMP1 que codifica a proteína. Esse gene é uma proteína responsável pelo transporte no canal iônico do fagolisossomo. A diminuição do conteúdo iônico, principalmente a concentração de Ferro, controla a proliferação de MO intracelular em fagócitos, pois estes usam os íons como cofatores de replicação do DNA. A resposta imune celular é desencadeada de 2 a 6 semanas após a infecção. A APC apresenta o antígeno para o MHC-II, o macrófago passa a secretar IL-2 e TNF-α. Essas citocinas aumentam a inflamação local por meio do recrutamento de células T e NK para a área de macrófagos infectados. Isto induz a diferenciação das células T em TH1, com subsequente secreção do IFN-γ. Na presença de IFN-γ os macrófagos infectados são ativados e há um aumento da fusão do fagossomo-lisossomo e da atividade bactericida. Além disso, IFN-γ também estimula a produção de NO e produz a morte celular. TNF-α recruta monócitos que formam um granuloma epitelial em volta da necrose caseosa, devido ao grande número de bactérias, que vão se manter latência. Esses granulomas caseosos tornam-se encapsulados com fibrina, que efetivamente protege a bactéria da morte pelos macrófagos e assim a bactéria pode ser reativada anos mais tarde. A reativação ocorre por uso de anti-TNF, pacientes imunodeprimidos e até mesmo a idade. Epidemiologia Os seres humanos são o único reservatório natural. Disseminação: pessoa-pessoa pela inalação de aerossóis infecciosos, com partículas pequenas que não são removidas pela ação ciliar da árvore respiratória. A OMS estima que 1/3 da população mundial esteja infectada por M. tuberculosis. Doenças Clínicas Envolve qualquer órgão, mas a maioria dos pacientes imunocompetentes têm a infecção restrita aos pulmões. 5% dos pacientes progridem para a doença ativa em até 2 anos, seja por conta da dose infecciosa ou por conta da imunocompetência do paciente. 5 a 10% apresentam doença em algum momento ao longo da vida. Sintomas: tosse, suores, cansaço, febre, dor no peito, perda de peso e falta de apetite. A imunidade celular é ativada e a replicação geralmente cessa dentro de 3-6 semanas. Tuberculose secundária: pessoas que tiveram contato prévio com o bacilo podem reativar o foco primário ou ter uma reinfecção. A hipersensibilidade leva a uma necrose tecidual e formação de cavidades. Caverna tuberculosa: constituída por uma parede fibrose, há proliferação de granulomas caseosos com extensa necrose central e há multiplicação de bacilos favorecidos pela maior aeração. Tuberculose pulmonar: o foco inicial pode ser primário ou secundário. Pode haver disseminação para a árvore traqueobrônquica, corrente sanguínea ou linfática. Tuberculose extrapulmonar:associada à meningite tuberculosa e outras complicações mais graves da tuberculose. 1º Estágio: inespecífico; 2º Estágio: sinais de lesão intracraniana; 3º Estágio: alterações do ritmo cardíaco e respiratório. Para fazer o diagnóstico destes casos deve ser feita a análise de líquor, além de pesquisa de BAAR, proteínas aumentadas, etc. Tuberculose disseminada: ocorre na ausência de uma resposta imune adequada. Se dissemina massivamente pela via hematogênica. Apresenta lesão granulomatosa (inicialmente), rica em bacilos, com formação de nódulos pequenos e amarelos. É mais proeminente no fígado, medula óssea, baço, rins, meninges, tubas uterinas e epidídimos. Tuberculose e HIV: todos os estágios de infecção pelo HIV estão associados a um aumento do risco de tuberculose: o Imunossupressão menos intensa: tuberculose secundária; o Imunossupressão mais avançada: tuberculose miliar (forma mais avançada). Diagnóstico Evidências radiográficas de doença pulmonar (um ou ambos os lobos superiores dos pulmões são normalmente envolvidos) Teste de reatividade da pele positivo: prova da tuberculina (PPD), que indica infecção prévia pelo MO, mas não necessariamente doença ativa. Vai ser positivo nessas condições: Detecção laboratorial da micobactéria, seja por microscopia ou cultura. É solicitado quando o médico quer confirmar diagnóstico ou quando se quer fazer o controle do tratamento, para monitorar a resposta à terapia socilitada. Fator corda diferencia o M. tuberculosis rapidamente pois algumas espécies de Mycobterium não tuberculosis podem apresentar. O M. tuberculosis inibe os eventos de fusão do fagossomo e lisossomo durante a infecção. Cultura é feita em Lowestein-Jensen ou Middlebrook 7H10. O LJ é formado de ovos coagulados, verde malaquita, sais, glicerol e farinha de batata. Quase todas as micobactérias produzem catalase. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Baciloscopia direta (BK) Solicitada para pacientes sintomáticos respiratórios que estão com doença ativa, quando se tem suspeita clínica ou radiológica de TB pulmonar, ou para acompanhamento e controle de cura com confirmação laboratorial. Materiais utilizados: amostras respiratórias no geral (escarro), além de líquor, etc. São feitas duas coletas de escarro, a primeira no dia da consulta e a segunda no dia seguinte ao acordar, seguindo todas as recomendações para que não seja coletado saliva. Pode ser armazenada na geladeira por até 24h. No laboratório pode ser processada em até 7 dias se armazenada a 2-8°C. Coloração Ziehl-Neelsen, podendo ser das amostras ou da cultura. É sugerido que façam de 2 a 3 amostras em dias diferentes (consecutivos), É uma técnica de baixa sensibilidade, precisa de a 5000-10000 bacilos/mL para ser positiva. Para a visualização dos resultados, é necessário fazer uma coleta adequada, a partir do escarro profundo evitando misturas com saliva para que não misture com células epiteliais. É normal apresentar leucócitos na amostra de cultura. Em amostras que não for de escarro, os resultados são apenas: positivo ou negativo, a contagem de cruzes é feita apenas com escarro. A análise dos resultados é feita em 100 campos: + = menos de 1 bacilo por campo. ++ = 2 a 10 bacilos por campo. +++ = 10+ bacilos por campo. ≥15 mm sem fator de risco ≥10mm fator de risco ≥5mm deficiência na imunidade celular Material impróprio = quando há muitas células epiteliais. Negativo = não há bacilos. No microscópio podem se apresentar: isolados, agrupados ou fragmentados quando o paciente já iniciou o tratamento. Cultura Meio Lowenstein-Jensen (teste padrão ouro). Há também o meio Ogawa. Materiais utilizados: escarro, aspirado de medula óssea, líquor, lavado bronco-alveolar. Necessita de até 8 semanas para que seja detectado crescimento. O meio utiliza ovo de galinha acrescentado de glicerol, verde malaquita, e algumas substâncias que enriquecem o crescimento, não somente do M. tuberculosis mas de outras espécies também. Cresce de forma algodonosa. A partir das colônias se faz uma lâmina corada por Ziehl- Neelsen e partir dela se pode observar o fator corda no M. tuberculosis. Existem algumas bactérias não tuberculosas como M. kansasii, M. terrae e M.phlei que também podem apresentar o fator corda, portanto não fecha diagnóstico. O fator corda é um efeito causada pela principal molécula contendo ácido micólico, a trealose 6,6-dimicolato (TDM) envolvida em importantes mecanismos imunomoduladores responsáveis pela virulência das micobactérias. Sensibilidade de 10-100 células na amostra. Genexpert Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB). Método novo, utiliza PCR em tempo real. Identifica genes de resistência à Rifampicina. O resultado sai em até 2h, consegue detectar os bacilos de M. tuberculosis. Possui alta sensibilidade e especificidade diagnóstica. Maior detecção comparado à baciloscopia. Só é utilizado para diagnóstico, não serve para acompanhamento. Se apresentar resultado negativo no Genexpert e positivo na cultura/baciloscopia, pode se tratar uma tuberculose não causada por M. tuberculosis (específico do Genexpert). Também pode ser hanseníase. Além disso, pode ser um caso de troca de amostra. Outros exames o PPD (imunológico) o Provas bioquímicas e TSA. Kit comercial: BACTEC BD. o Análise de lipídios da parede celular (específico). Fonte: Google imagens o Sondas de ácidos nucleicos. TRATAMENTO
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