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Alterações na Circulação sábado, 24 de abril de 2021 11:36 Aspectos da normalidade O sistema circulatório é um conjunto fechado de tubos interligados que conduz o sangue impulsionado por um mecanismo de bombas. De modo resumido, tal sistema é formado por uma bomba (coração), por tubos de distribuição e coletores (artérias, veias e vasos linfáticos) e por uma grande rede de tubos de paredes finas, denominada microcirculação (arteríolas, vênulas e capilares), que permite a troca de substâncias entre o sangue, o interstício e as células. Hiperemia Hiperemia é o aumento da quantidade de sangue no interior dos vasos em um órgão ou tecido, especialmente na microcirculação. Maior volume de sangue na microcirculação resulta do aumento da velocidade do fluxo sanguíneo (hiperemia ativa), da redução da drenagem venosa por diminuição da velocidade de fluxo (hiperemia passiva ou congestão) ou desses dois fatores, quando há hiperfluxo associado a dificuldade de retorno venoso, como acontece em inflamações (hiperemia mista). • Hiperemia ativa ▪ Ocorre quando ocorre vasodilatação arteriolar, o que aumenta o fluxo de sangue no local, o qual torna a coloração avermelhada. ▪ Ex.: Rubor facial • Hiperemia passiva ou congestão ▪ Hiperemia passiva ou congestão ocorre quando a drenagem venosa está dificultada por: (1) diminuição do retorno venoso em consequência de obstrução localizada, como acontece em trombose venosa, obstrução de veias por causas variadas ou aumento da viscosidade sanguínea, por empilhamento de hemácias (hiperemia passiva ou congestão localizada); (2) redução do retorno venoso sistêmico ou pulmonar, como acontece na insuficiência cardíaca (hiperemia passiva pulmonar e hiperemia passiva sistêmica. Aspectos morfológicos • Devido a redução da velocidade circulatória, os órgãos ou locais comprometidos tornam-se vermelhos, com tonalidade violácea ou arroxeada. • Microscopicamente, encontra-se dilatação de vênulas e capilares, que estão cheios de sangue. O interstício fica expandido por edema. É frequente também o extravasamento de hemácias, que saem dos vasos por entre as células endoteliais empurradas pelo aumento da pressão hidrostática (hemorragia por diapedese, ver adiante). A insuficiência cardíaca direita causa hiperemia passiva em todo o organismo. A insuficiência cardíaca esquerda, ocorre a hiperemia passiva nos pulmões, que se acompanhada de edema. Insuficiência de longa duração (falta isso) Hemorragia Hemorragia ou sangramento caracteriza-se pela saída de sangue dos vasos ou coração para o meio externo, para o interstício ou para as cavidades pré- formadas. Hemorragias podem ser internas ou externas e recebem nomes particulares. • Hemorragias puntiformes ou petéquias são diminutas áreas hemorrágicas (até 3 mm de diâmetro), geralmente múltiplas. Na maioria das vezes, resultam de defeitos qualitativos ou quantitativos de plaquetas. • Púrpura é a lesão superficial um pouco maior do que as petéquias, geralmente na pele, múltipla, plana ou discretamente elevada, podendo atingir até 1 cm de diâmetro. • Equimose é a hemorragia que aparece como mancha azulada ou arroxeada, mais extensa do que a púrpura e que pode provocar aumento discreto de volume local. Equimoses são frequentes em traumatismos. • Hematoma consiste em hemorragia em que o sangue se acumula e forma uma tumoração. Como a equimose, hematoma é frequente após traumatismos. Hemorragias em cavidades pré-formadas são denominadas de acordo com a sua topografia. Por exemplo: • Hermatro ou hermatrose, para a cavidade articular • Hemopericárdio, hematórax e hemoperitônio para as respectivas cavidades serosas. • Hemossalpinge, hematométrio e hematocolpo são coleções sanguíneas na luz da tuba uterina, na cavidade uterina e na cavidade vaginal, respectivamente • Hemobilia é a hemorragia no interior da vesícula biliar ou dos ductos biliares A exteriorização de hemorragias por orifícios corpóreos também recebe nomes específicos • A eliminação de sangue pelas narinas é denominada epistaxe. • Pela tosse e oriunda do sistema respiratório, é chamada hemoptise quando em maior volume e escarro hemoptoico quando discreta. • Hematêmese é a eliminação de sangue pela boca oriundo do sistema digestório e eliminado por vômito. • A eliminação de sangue pelo ânus pode ocorrer de duas maneiras: (1) sangue digerido, que confere cor escura às fezes (semelhantes a borra de café), recebe o nome de melena; (2) sangue não digerido, de cor vermelha, constitui a hematoquezia. Otorragia é a perda de sangue pelo meato acústico externo. • Hematúria é a eliminação de sangue com a urina, podendo ser macroscópica ou microscópica. • Metrorragia é a perda de sangue originado do útero fora da menstruação; a perda excessiva de sangue na menstruação chama-se menorragia ou hipermenorreia; se a frequência e/ou o tempo de duração da menstruação aumentam, trata-se de polimenorreia. Etiopatogênese Hemorragias podem ser causadas por: • Perda da integridade da parede vascular ▪ A causa mais comum para lesões na parede vascular é o traumatismo que provoca ruptura no vaso. • Alterações dos mecanismos de coagulação sanguínea ▪ Quase sempre a hemorragia ocorre por lesões pequenas com um sangramento desproporcional. ▪ As principais hemorragias por alterações nos mecanismos da coagulação sanguínea estão relacionadas com: (1) deficiência congênita ou adquirida de fatores da coagulação; (2) excesso de anticoagulantes, endógenos ou exógenos. • Modificações qualitativas ou quantitativas das plaquetas ▪ Redução do número (trombocitopenia) e alterações funcionais de plaquetas (trombastenia) acompanham-se de hemorragia, especialmente como petéquias ou púrpuras. • Mecanismos complexos e ainda mal definidos A dengue hemorrágica pode ser muito grave e levar ao estado de choque. Os mecanismos da hemorragia e do choque na dengue são complexos e ainda mal esclarecidos. Além da trombocitopenia que acompanha a doença, existem alterações funcionais na parede vascular induzidas por anticorpos contra antígenos do vírus que dão reação cruzada com células endoteliais. A disfunção endotelial na dengue é responsável não só pela fuga de plasma para o interstício como também por hemorragias. Consequências As consequências são variadas, dependem do volume do sangue, do tempo de sangramento, do local e da velocidade de perda. Em diversos tipos podem ocasionar o óbito. Homeostasia É a parada ou a cessação do sangramento, pode ser feia naturalmente ou artificialmente. A homeostasia espontânea envolve a parede vascular, as plaquetas e o sistema de coagulação sanguínea. Vasoconstrição arteriolar Trata-se de uma reação reflexa e imediata após a agressão de um vaso, especialmente quando é uma agressão mecânica. Nela o vaso tendo a contrair uma porção de si afim de evitar o escape do sangue. Tampão plaquetário Quando ocorre lesão endotelial, o fator von Willebrand, que existe normalmente na matriz subendotelial ou vem do plasma e é fixado na matriz extracelular, fica exposto na região afetada. Plaquetas, que possuem receptores para várias moléculas (Figura 9.10), aderem ao local lesado por meio de ligação ao colágeno e, sobretudo, ao fator von Willebrand (adesão plaquetária), formando o tampão plaquetário. Adesão de plaquetas e estímulos mecânicos por aceleração do seu movimento na região lesada e pelo choque delas contra as arestas da lesão vascular promovem ativação plaquetária • A coagulação sanguinea completa a homeostasia. Trombose Trombose é a solidificação do sangue no leito vascular ou no interior das câmaras cardíacas,em um indivíduo vivo. Trombo, que é a massa de sangue que fica presa à superfície de onde se originou, pode formar-se em qualquer território do sistema cardiovascular; cavidades cardiacas, artérias, veias e microcirculação. A fluidez do sangue é essencial para a circulação sanguínea e o transporte de oxigenio e nutrientes para os tecidos. A coagulação é um mecanismo que tem por finalidade tamponar eventuais sítios de fuga do sangue do interior dos vasos. Apesar de ser muito eficiente nesse aspecto, essa coagulação também traz riscos para a vido do indivíduo, tendo em vista que se houver solidificação do sangue em lugares inadequados a circulação sanguinea pode ser dificultada ou impedida. Etiopatogênese A formação de trombos envolve o processo de coagulação sanguínea e a atividade plaquetária, estando associada a três componentes (clássica tríade de Virchow): (1) lesão endotelial; (2) alteração do fluxo sanguíneo; (3) modificação na coagulabilidade do sangue. Na maioria dos casos, dois ou os três fatores atuam na formação de trombos. Lesão endotelial O endotélio tem ações pró- e anti coagulante. Lesão estrutural do endotélio com solução de continuidade ocorre em traumatismos (p. ex., cateterismo), por agressões químicas, em inflamações e em ateromas. Perda de células endoteliais expõe a membrana basal (conjuntivo subendotelial), sobre a qual as plaquetas aderem e são ativadas, iniciando a formação do trombo. Nem sempre é necessária a perda de células endoteliais para se formarem trombos. Alterações funcionais, mesmo sem destruição endotelial, são capazes de modificar o balanço entre fatores pró e anticoagulantes, favorecendo a trombose. Hipóxia de qualquer origem, por exemplo, agride o endotélio e o torna pró-coagulante. Disfunção endotelial ocorre em várias condições, como hipertensão arterial, diabetes melito, hipercolesterolemia, tabagismo e ateromas. Alterações no fluxo sanguíneo Modificações na velocidade do sangue (aumento ou redução) e turbulência no fluxo sanguíneo (formação de redemoinhos ou movimento não linear/laminar) são importantes na gênese de trombos. Aumento da coagulabilidade do sangue Aumento da coagulabilidade sanguínea, por defeitos genéticos ou por condições adquiridas, resulta de: (1) aumento do número de plaquetas; (2) maior disponibilidade de fatores pró- coagulantes; (3) redução de inibidores da coagulação. Aumento do número de plaquetas e da síntese de fatores da coagulação, especialmente fibrinogênio, acompanha inflamações localizadas ou generalizadas (citocinas estimulam o endotélio e o tornam pró- coagulante) e a resposta sistêmica ao parto, como um componente de defesa para facilitar a hemostasia. Outras situações também acompanham-se de aumento da coagulação sanguínea: (a) em indivíduos com certos tipos de câncer, encontram-se hipercoagulabilidade sanguínea e maior tendência à formação de trombos em vários locais (síndrome de Trousseau) (b) anticoncepcionais orais associam-se a maior risco de trombose, assim como gravidez e período pós-parto; (c) síndrome de anticorpos antifosfolipídeos deve-se à formação de autoanticorpos contra componentes lipídicos (p. ex., cardiolipina), os quais podem agredir células endoteliais ou ativar plaquetas. Evolução / Consequências O crescimento do trombo pode obstruir parcialmente ou totalmente a luz de um vaso ou das câmaras cardiacas, com um prejuízo no fluxo sanguíneo. O trombo pode crescer e após algum tempo ser dissolvido ou organizado. Trombos recentes muitas vezes sofrem dissolução (trombólise) espontânea pelo sistema fibrinolítico. Se não são dissolvidos, os trombos sofrem conjuntivização ou calcificação. A organização faz-se por meio de reação inflamatória em que os fagócitos englobam as células do coágulo e digerem a fibrina, ao mesmo tempo em que liberam fatores de crescimento e quimiocinas que atraem e ativam células que originam o tecido de granulação, que acaba incorporando o trombo à parede dos vasos ou do coração (conjuntivização). Embolia Embolia ocorre quando algum vaso sanguíneo é obstruido por um corpo sólido, liquido ou gasoso e esse corpo não se mistura com o sangue ou a linfa. Esse corpo que obstrui é denominado de êmbolo. A embolia pulmonar é a mais frequente. Embolia sólida Êmbolo sólido são fragmentos de trombos ou de tecidos. Os mais comuns são os êmbolos trombóticos, originados da fragmentação ou do desprendimento de trombos em paredes cardíacas, valvas do coração, aorta e veias profundas. Quando se originam de trombos em câmaras cardíacas esquerdas ou em artérias sistêmicas, os êmbolos podem obstruir vasos em qualquer território e causar isquemia. Se oriundos do coração direito ou de veias da grande circulação, provocam obstrução das artérias pulmonares (embolia pulmonar). Embolia gasosa É definida como bolhas de gás no sangue circulante que obstruem o fluxo sanguineo. O exemplo clássico é o da síndrome de descompressão, que resulta da formação de bolhas de ar, especialmente nitrogênio, quando um indivíduo submerso em grande profundidade retorna à superfície. Em águas profundas, a pressão atmosférica elevada aumenta a solubilização do nitrogênio do ar inspirado no sangue; se o indivíduo retorna à superfície rapidamente, a pressão atmosférica cai, e o nitrogênio dissolvido volta ao estado gasoso e forma bolhas (êmbolos) que obstruem vasos na microcirculação. Embolia por líquidos Os mais comuns são embolia por líquido amniótico e por gordura. Isquemia Isquemia é a redução ou a falta de fluxo sanguíneo para um órgão ou território do organismo, ou seja, aporte de sangue para manter as necessidades metabólicas dos tecidos. Causas Na maioria das vezes, a isquemia é causada por obstrução de artérias, veias ou capilares. As causas da obstrução podem estar na luz no vaso ou fora dela, esta por compressão da parede vascular. Obstrução arterial Principal causa da isquemia, podendo ser provocada por obstáculos intravasculares, por compressão extrínseca ou por espasmos da parede arterial. Pode ocorrer de forma parcial ou total, pode ser resultado de casos de aterosclerose, trombose arterial, embolia e arterites. A compressão extrínseca pode ocorrer por tumores, compressão de tecidos moles no decúbito prolongado e na síndrome compartimental. Obstrução da microcirculação Obstrução de capilares com isquemia localizada pode ser causada por: • Aumento da viscosidade sanguínea, coo em Policitemias e na anemia falciforme • Coagulação intravascular disseminada, com micro trombos na microcirculação • Compressão extrínseca, como ocorre em pacientes acamados que desenvolvem úlceras decúbito • Embolia gasosa ou gordurosa • Parasitismo de células endoteliais e de celulas de Kupffer Obstrução venosa Pode ser resultado de trombose ou de compressão extrínseca. A causa principal de compressão venosa extrínseca é torção do pedículo vascular, mas pode ocorrer também por compressão por tumores ou linfonodos aumentados de volume. Isquemia por obstrução de uma veia depende também da rede de vias colaterais de drenagem. Se a obstrução interrompe o retorno venoso e aumenta a pressão hidrostática na microcirculação, o fluxo sanguíneo fica comprometido e pode até cessar, se a pressão hidrostática iguala-se à arterial (estase circulatória) Consequências • A redução da quantidade de oxigenio fornecido (hipóxia) ou até a ausência do seu suprimento (anóxia), capazes de provocar necrose (infarto). • Os tecidos sofrem pela hipóxia e anóxia de formas diferentes, o tecido nervoso é muito mais sensível que os tecidos musculares e ósseos, por exemplo. • Algunsórgãos podem sofrer nenhuma ou quase nenhuma lesão quando transplantados, devido a sua conservação em baixa temperatura, o que reduz seu metabolismo. • No geral, quanto mais longa mais grave é a isquemia Infarto É uma área localizada de necrose isquêmica, por interrupção do fluxo sanguíneo arterial ou venoso. Infarto pode ser branco ou vermelho (hemorrágico). Consequências • As consequências dependem da sua extensão e do orgão comprometido. • Muitos infartos podem ser fatais, como os infartos do miocárdio, do encéfalo e dos intestinos; podem também passar despercebidos, como acontece em infartos renais ou esplênicos ou até mesmo em pequenos infartos do miocárdio. Morfologia Em geral, os infartos apresentam-se como lesão de forma piramidal (ou em cone), tendo o vértice em correspondência com o local da obstrução vascular e a base na região periférica. Referência BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia geral. In: Bogliolo patologia geral. 1998. p. 312-312.
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