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Apostila Curso EaD Consumidor Revisada 01-09

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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal 
Belo Horizonte – 2021
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
Coordenação Geral 
Dra. Cinara Maria Moreira Liberal 
 
Subcoordenação Geral 
Dr. Marcelo Carvalho Ferreira 
 
Coordenação Didático-Pedagógica 
Rita Rosa Nobre Mizerani 
 
Coordenação de Recrutamento e Seleção 
Dr. Luiz Carlos Ferreira 
 
Coordenação Técnica 
Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão 
 
Coordenação de disciplina 
Dr. Renato Nunes Guimarães 
 
Conteudistas: 
Dra. Danúbia Helena Soares Quadros 
Larissa Dias Paranhos 
 
Produção do Material: 
Polícia Civil de Minas Gerais 
 
Revisão e Edição: 
Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais 
 
 
Reprodução Proibida 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4 
2 CONSUMIDOR E FORNECEDOR: DEFINIÇÕES BÁSICAS ............................................................... 5 
2.1 CONSUMIDOR ................................................................................................................................................5 
2.2 FORNECEDOR ................................................................................................................................................ 6 
2.3 EM QUAIS CASOS PODEMOS ACIONAR O CDC? ...................................................................................... 6 
2.4 PRODUTOS E SERVIÇOS .............................................................................................................................. 7 
3 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR .......................................................................................... 9 
4 VÍCIOS DO PRODUTO OU SERVIÇO .............................................................................................. 17 
5 BREVES APONTAMENTOS SOBRE OFERTAS E PUBLICIDADES ................................................. 20 
5.1 OFERTA ........................................................................................................................................................ 20 
5.2 PUBLICIDADE .............................................................................................................................................. 23 
5.2.1 Publicidade enganosa ................................................................................................ 24 
5.2.2 Publicidade abusiva ................................................................................................... 25 
6 A PROTEÇÃO CONTRATUAL E PRINCIPAIS PRÁTICAS ABUSIVAS ............................................ 28 
6.1 CLÁUSULAS ABUSIVAS ............................................................................................................................. 30 
6.2 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS ........................................................................................................ 33 
6.3 PRÁTICAS ABUSIVAS ................................................................................................................................. 34 
6.3.1 Venda casada ............................................................................................................. 36 
7 DOS CRIMES ................................................................................................................................. 39 
7.1 CRIMES MAIS COMUNS PRATICADOS CONTRA O CONSUMIDOR ....................................................... 39 
7.1.1 Crimes previstos na Lei nº 8.078, de 1990 (CDC) ................................................ 39 
7.1.2 Crimes previstos na Lei nº 8.137, de 1990 ............................................................. 42 
7.1.3 Crimes previstos na Lei nº 1.521, de 1951 ............................................................... 44 
7.2 GOLPES MAIS COMUNS NA DELEGACIA ESPECIALIZADA..................................................................... 45 
7.2.1 Pirâmide Financeira .................................................................................................. 45 
7.2.2 Golpe da carta de crédito ......................................................................................... 46 
 
 
 
7.2.3 Golpes em sites de comércio eletrônico ................................................................ 47 
7.2.4 Fraude do falso emprego .......................................................................................... 48 
7.2.5 Golpe do falso empréstimo ....................................................................................... 48 
7.2.6 Golpe do intermediário ............................................................................................. 49 
7.2.7 Golpes praticados através da OLX .......................................................................... 49 
8 OUTRAS AÇÕES DE PREVENÇÃO.................................................................................................. 51 
9 OS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR ........................................................................... 53 
9.1 MINISTÉRIO PÚBLICO ................................................................................................................................ 54 
9.2 DELEGACIA DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................................................. 55 
9.3 PROCON ....................................................................................................................................................... 56 
9.4 PROCON-ALMG ........................................................................................................................................... 57 
9.5 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ............................................................. 59 
9.6 ENTIDADES CIVIS DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR .......................................................... 59 
9.7 DEFENSORIA PÚBLICA ............................................................................................................................... 60 
9.8 COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR/ALMG ................................................................................. 60 
9.9 COMISSÃO DA OAB/MG ............................................................................................................................. 61 
10 CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 62 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 64 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Em 1990, o Congresso Nacional, conforme orientação da Constituição 
Federal Brasileira de 1988 (nossa Carta Magna), elaborou a Lei nº 8.078, criando o 
Código de Defesa do Consumidor (CDC). 
No dia 11 de setembro de 2021, o Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 
8.078, de 1990 – completa 31 anos. A Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (PCMG) 
comemora essa importante data oferecendo um curso didático acerca do tema não só 
para os policiais, mas também para toda a sociedade. 
Com enfoque no Código de Defesa do Consumidor, serão tratados os direitos 
básicos do consumidor, as práticas abusivas, os principais crimes – incluindo os 
golpes que mais são denunciados pelos consumidores na Delegacia Especializada –, 
bem como as atribuições dos órgãos de defesa do consumidor. 
Por se tratar de verdadeiro “microssistema jurídico”, já que nele estão 
inseridas normas de direito penal, civil, constitucional, processuais penais, civis e 
administrativas, com caráter de ordem pública e por constituir legislação 
extremamente avançada, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor influenciouas legislações dos outros países do MERCOSUL. 
Trata-se de uma lei visionária, que mudou o cenário do mercado brasileiro, 
notadamente no que tange à proteção dos mais vulneráveis nas relações de consumo. 
O conteúdo da Lei nº 8.078, de 1990, trouxe regras e princípios que a tornaram uma 
das leis mais avançadas na defesa dos consumidores em todo o mundo. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
5 
 
 
2 CONSUMIDOR E FORNECEDOR: DEFINIÇÕES BÁSICAS 
 
Para dar início ao nosso estudo e 
ampliar o entendimento de todos quanto 
aos temas que serão tratados ao longo 
desse curso, é de suma importância 
esclarecer quem são o consumidor e o 
fornecedor, qual é a abrangência do 
CDC e o que são produtos e serviços. 
 
2.1 CONSUMIDOR 
 
O consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo. O Código de Defesa 
do Consumidor, em seu artigo 2º, define consumidor como “toda pessoa física ou 
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (BRASIL, 
1990). Assim fazendo, a lei de consumo não deixa dúvidas de que o cidadão 
individualmente considerado (pessoa física) é consumidor. 
Crianças e adolescentes também são consumidores, bastando que o 
atendimento de suas demandas e pleitos ocorra com o acompanhamento de um 
responsável. 
Estão equiparadas a consumidores todas as pessoas, determináveis ou não, 
expostas às chamadas práticas abusivas dos fornecedores (art. 29, CDC). 
Da mesma forma do conceito contido no artigo 2º, parágrafo único, do CDC, o 
consumidor aqui equiparado é aquela pessoa ou coletividade de pessoas que não, 
necessariamente, adquiriu produtos ou serviços, mas já passou a sofrer algum tipo de 
dano ou mesmo perigo de dano, tão somente, por ter contato com a conduta praticada 
pelo fornecedor ao anunciar o seu produto e serviço, por receber a cobrança de uma 
dívida já paga ou da qual nunca deu causa ou, ainda, por ter o seu nome inscrito 
erroneamente em um cadastro de consumidores ou banco de dados. 
São atividades não necessariamente atreladas ao consumo direto do produto 
ou serviço, mas que mesmo assim ocasionam danos aos cidadãos que com elas têm 
contato, os quais devem ser tratados, pois, como consumidores. 
 
6 
 
 
2.2 FORNECEDOR 
 
O CDC, de forma genérica e ampla, define o fornecedor em seu artigo 3º, caput, 
que traz a seguinte redação: 
 
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de 
produtos ou prestação de serviços. [...] (BRASIL, 1990). 
 
De acordo com a doutrina brasileira, essa lista de atividades mencionadas na 
lei é meramente exemplificativa. Assim, se um comerciante exercer uma atividade que 
não encontra conectivo direto com qualquer das supracitadas hipóteses elencadas no 
artigo 3º, mas se resume em disponibilizar produto ou serviço aos consumidores, 
dúvida não há de que é ele fornecedor. 
 
 
2.3 EM QUAIS CASOS PODEMOS UTILIZAR O CDC? 
 
Aplica-se ao CDC: 
▪ Profissionais liberais e seus clientes (STJ, REsp nº 80.276); 
▪ Entidades de previdência privada (STJ, Súmula nº 321); 
▪ Na relação entre condomínio e concessionária de serviço público (STJ, 
REsp nº 650.791); 
▪ Contratos do sistema financeiro de habitação (STJ, AgRg no REsp nº 
107.33.11). 
Além disso, de acordo com a Súmula nº 297 do STJ, “o Código de Defesa do 
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. 
 
O CDC estabelece que é fornecedor a pessoa jurídica pública. Isso significa que a lei impõe até mesmo 
aos prestadores de serviços públicos (atividades disponibilizadas por órgãos ou entes do Poder Público) 
respeito às suas disposições. 
Todavia, nem todos os serviços são tratados à luz do CDC; há serviços públicos que são oferecidos 
aos consumidores mediante remuneração específica e de modo individualizado. São exemplos o transporte 
público, a rodovia com pedágio, os serviços de telefonia, luz, água e esgoto. Nesses casos, quem explora 
esses serviços é o Estado (por meio das empresas públicas) ou particulares conhecidos como concessionários de serviços públicos. 
Ficam de fora da incidência do CDC os serviços públicos pelos quais o cidadão tem acesso independentemente de pagamento específico. 
Cita-se como exemplo a segurança pública.
 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/547534/recurso-especial-resp-80276
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/49386/recurso-especial-resp-650791-rj-2004-0051054-8
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4151077/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1073311-rj-2008-0144560-8
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4151077/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1073311-rj-2008-0144560-8
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
7 
 
 
Por outro lado, não se aplica o CDC: 
▪ À atividade notarial (STJ, REsp nº 625.144); 
▪ Às relações entre condomínio e condôminos (STJ, REsp nº 650.791); 
▪ Entre autarquia previdenciária e seus beneficiários (STJ, REsp nº 
369.822); 
▪ Às relações de locação (STJ, Ag Rg no REsp nº 510.689); 
▪ Contratos de crédito educativo (STJ, REsp nº 600.677); 
▪ Relações de caráter trabalhista (Artigo 3º, parágrafo 2º, CDC). 
 
Então, se um trabalhador procura (procurar) um Procon para ver garantidos os 
seus direitos de receber salários ou verbas indenizatórias atrasadas ou não pagas por 
seu patrão, faltará atribuição legal para esse órgão tomar qualquer providência. 
No tocante às relações de locação, 
existindo a intermediação ou a administração do 
contrato firmado por uma empresa imobiliária, 
passa a surgir um serviço específico mediante 
remuneração que enseja a proteção da parte 
mais frágil da relação (o locatário), identificado 
como consumidor. 
Por oportuno, destaca-se que ao longo 
do curso serão citadas e abordadas jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça, 
já que, no âmbito nacional, trata-se da última instância responsável por examinar os 
temas relacionados ao Código de Defesa do Consumidor. 
 
2.4 PRODUTOS E SERVIÇOS 
 
Neste contexto, é importante também tratarmos, ainda que rapidamente, sobre 
produtos e serviços que são abrangidos pelo CDC. 
A Lei nº 8.078/90 trata os bens da vida como produtos (qualquer bem, móvel 
ou imóvel, material ou imaterial) ou serviços (qualquer atividade fornecida no mercado 
de consumo, mediante remuneração), de acordo com o seu artigo 3º. 
Com base nesses conceitos, é possível compreender a abrangência da lei, que 
pode alcançar desde a contratação de planos de saúde até a compra de um simples 
calçado. Em ambas as situações, o consumidor está em situação desfavorável. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
8 
 
 
Os produtos são bens que se transferem do patrimônio do fornecedor para o 
do consumidor, sejam eles materiais (ex.: aparelho telefônico) ou imateriais (ex.: um 
programa de computador). 
Os produtos móveis são aqueles que, como o próprio nome indica, são 
passíveis de deslocamento, sujeitos a entrega (ex.: um veículo, uma televisão, 
alimentos), enquanto são imóveis os bens incorporados natural ou artificialmente ao 
solo (ex.: lote de terra urbana ou rural, residencial ou comercial; um apartamento). 
Já os serviços são atividades humanas executadas pelosfornecedores, de 
interesse dos consumidores que delas necessitam (ex.: o serviço de transporte de 
passageiros). 
Se os produtos e serviços são, via de regra, essenciais à existência digna dos 
consumidores, o CDC tratou de estabelecer que os produtos e serviços colocados no 
mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos 
consumidores, salvo se essa periculosidade resultar da própria natureza da prestação 
(artigo 8º), devendo o fornecedor, neste último caso, advertir os consumidores. É o 
caso de produtos inflamáveis, tóxicos e que causam alergia: não podem ser 
comercializados sem advertências expressas e ao alcance do consumidor. 
9 
 
 
3 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
 
O conhecimento dos direitos do cidadão faz parte da construção da cidadania. 
Ser cidadão é conhecer e exigir os seus próprios direitos, cumprindo com suas 
respectivas obrigações. 
O conceito de cidadania está vinculado à oportunidade que cada indivíduo tem 
de exercer livremente as suas opções e escolhas, com a garantia de receber 
tratamento igualitário e respeitoso perante a sociedade e o Poder Público. 
A identificação do consumidor como pessoa destinatária de atenção e cuidados 
especiais no mercado tem fundamento na Constituição Federal de 1988 e no próprio 
Código de Defesa do Consumidor. 
O artigo 170 da Carta Magna determinou que toda e qualquer atividade 
econômica desenvolvida no Brasil levará em conta a defesa do consumidor. No 
mesmo sentido é o artigo 4º, inciso I, do CDC, que estabelece como valor principal o 
reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. 
A razão dessa proteção é simples, já que o consumidor é o elo mais fraco na 
relação de consumo. Atualmente, consumir é uma necessidade básica e vital. Boa 
parte dos gêneros alimentícios, vestuários, saúde, serviços de transporte, telefonia e 
energia elétrica são oferecidos ao público mediante pagamento e sob condições já 
preestabelecidas pelos fornecedores. Na verdade, o consumidor quase nunca terá o 
direito de escolha livre, segura ou consciente. 
Nesse contexto, as opções do consumidor são, basicamente, aceitar ou não 
aceitar; confiar no que é dito pelos fornecedores ou deixar de consumir. Porém, esta 
última opção nem sempre é viável se não há como o consumidor deixar de ter acesso 
a bens e serviços que comumente são a base de sua sobrevivência. 
Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm modificado profundamente 
os meios de produção e comercialização dos produtos e serviços. 
Ocorre que com esse ambiente 
eletrônico de relacionamento econômico 
e social, cujo acesso de seus usuários dá-
se pela utilização de computadores a eles 
conectados, há, por exemplo, inúmeros 
consumidores adquirindo produtos e 
10 
 
 
serviços pela internet, em um ambiente complexo que, muitas vezes, limita as 
informações necessárias para o exercício de uma escolha segura e consciente. 
Noutra banda, a oferta de produtos e serviços em grande escala também 
dificulta ao fornecedor a individualização do seu atendimento, desconsiderando as 
necessidades reais do destinatário final do processo de produção e circulação de bens 
e serviços. 
Sem conhecer ou ver garantidos quais direitos lhe assistem, um cidadão não 
tem boas condições de avaliar, no seu dia a dia, em que situações estará na iminência 
de sofrer um prejuízo ou quais medidas pode ele adotar para evitá-lo. 
 
SEGUEM OS PRINCIPAIS DIREITOS: 
 
1) DIREITO À INFORMAÇÃO: 
Ter uma informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, 
com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, 
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem, é direito do 
consumidor. 
Em decorrência desse princípio, os 
preços devem ser informados e afixados 
de maneira clara, precisa e de fácil 
visualização para o consumidor. Se a loja 
possui produtos na vitrine, os valores 
destes também devem ser expostos. 
Caso opte pelo uso do código de barras para identificação do valor, será 
necessária a instalação de equipamentos de leitura ótica para consulta, os quais 
devem estar localizados na área de venda e em local acessível aos consumidores. 
No caso de o estabelecimento realizar vendas parceladas, não basta colocar o 
preço à vista. Também devem ser informados o valor total a ser pago com 
financiamento, o número, a periodicidade e o valor das prestações, além da taxa de 
juros, eventuais acréscimos e encargos que incidirem sobre o parcelamento. 
Algumas determinações citadas acima constam na Lei nº 10.962, de 2004, e 
no Decreto Federal nº 5.903, de 2006, que dispõem sobre as regras para afixação de 
preços. 
 
11 
 
 
2) DIREITO À EDUCAÇÃO, LIBERDADE DE ESCOLHA E INFORMAÇÃO ADEQUADA: 
Todo consumidor tem direito à educação e divulgação acerca da correta forma 
de utilização e manuseio de serviços e produtos, justamente para que tenha garantida 
uma mínima oportunidade de exercer livremente o seu direito de escolha e, dessa 
forma, atinja igualdade nas contratações (artigo 6º, inciso I, CDC). 
Sozinho, dificilmente conseguirá obter a quantidade de informações que detém 
o fornecedor, sendo essa a razão de uma educação específica para os consumidores. 
A finalidade da educação ao consumidor é permitir que, minimamente informado, ele 
se equilibre um pouco mais em relação ao fornecedor, pelo menos para poder 
identificar o que é realmente de sua vontade. 
Os PROCONS e, de uma maneira geral, todo o sistema de proteção ao 
consumidor devem envidar esforços para a promoção da educação formal e informal 
dos consumidores. A educação é um direito de todos, previsto expressamente na 
Constituição Federal (artigo 205). 
 
3) DIREITO A NÃO SER ESTIPULADO UM VALOR MÍNIMO PARA A COMPRA COM CARTÃO DE CRÉDITO OU 
DÉBITO: 
 
 
4) DIREITO DE EXIGIR O CUMPRIMENTO DE QUAISQUER ANÚNCIOS VEICULADOS 
Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por 
qualquer meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos obriga 
o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar integrando o contrato que vier a 
ser celebrado. Nesse sentido, o consumidor tem direito de exigir o seu cumprimento. 
 
5) DIREITO DE ARREPENDIMENTO: 
Nas compras realizadas pela internet, telefone ou através de revistas, poderá 
haver a desistência do consumidor, dentro do prazo de 7 (sete) dias, a contar da 
 
Vale lembrar, porém, que é POSSÍVEL estipular preços distintos para pagamento em 
dinheiro ou cartão. 
De acordo com a Lei nº 13.455, de 2017, “fica autorizada a diferenciação de preços de 
bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo ou do instrumento de pagamento 
utilizado” (BRASIL, 2017). 
 
12 
 
 
assinatura ou do recebimento do produto, sempre que a compra ocorrer fora do 
estabelecimento comercial (assunto abordado em tópico próprio). 
 
6) DIREITO À SAÚDE, VIDA E SEGURANÇA: 
O primeiro direito básico do consumidor é ter preservadas, no mercado de 
consumo, a sua saúde, vida e segurança. 
Especialmente voltado às pessoas físicas, esse direito demonstra que o CDC 
realmente traz preocupações com o consumidor e regras de zelo para ele. 
Infelizmente, ainda é possível observar que alguns consumidores adquirem um 
produto ou serviço e vêm a experimentar perigos não resguardados pelo fornecedor 
que resultam na perda da própria vida, a exemplo de acidentes rodoviários, marítimos 
ou aéreos, cirurgias malsucedidas, intoxicações alimentares, etc. São as hipóteses de 
acidentes de consumo. 
 
7) DIREITO À PROTEÇÃO CONTRA PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA: 
Uma vez que o fornecedor posiciona-se mais favorável que o consumidor no 
mercado, é direito deste ser protegido contra todo e qualquer tipo de abuso de direito 
cometido por aquele, seja no momento de anunciar os seus produtos e serviços – 
proteção contra a publicidade enganosa e 
abusiva –, no trato direto com oconsumidor 
nos momentos anteriores ou concomitantes 
à venda – proteção contra métodos 
comerciais coercitivos ou desleais –, ou na 
falta de imposição de condições contratuais 
injustas aos que com ele contratam – 
proteção contra cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e 
serviços – (artigo 6º, inciso III, CDC). 
A palavra abusiva, muito utilizada na seara consumerista, diz respeito à 
característica de quem exerce um direito, uma faculdade, ultrapassando os limites da 
normalidade, do costume e do bom senso. 
Sob esse panorama, se uma empresa não recebeu o pagamento de um 
consumidor que com ela adquiriu determinado produto ou serviço, o seu direito de 
cobrar essa dívida não poderá, por exemplo, ser exercido mediante agressões físicas 
13 
 
 
ou com o envio de ameaças escritas ao consumidor. Apesar de ser direito do 
fornecedor cobrar pela dívida, esse direito não pode ser praticado de modo abusivo. 
Especificamente em relação ao contrato, o CDC garante ao consumidor, além 
da possibilidade de invalidar as cláusulas abusivas, mesmo tendo assinado o 
documento, o direito de modificar disposições que imponham ganho exagerado ao 
fornecedor em detrimento de seu considerável prejuízo, além de rever o contrato, caso 
ocorra um fato posterior ao acordo das partes que torne inviável ao consumidor o 
cumprimento de sua prestação (artigo 6º, inciso IV, CDC). 
 
8) DIREITO AO DANO MORAL: 
Dano moral corresponde ao abalo psíquico, intelectual ou moral que uma 
pessoa sofre, seja ele por ofensa à sua honra, intimidade, imagem, nome, privacidade 
ou até mesmo físico. Nesse sentido, cabe indenização por danos morais decorrentes 
do sentimento de tristeza pela perda de um filho. Da mesma forma, há danos morais 
pela frustração do extravio de bagagem em viagem aérea. 
Por outro lado, se tem entendido 
que os aborrecimentos do dia a dia, os 
meros dissabores a que todos estão 
sujeitos na vida em sociedade não 
caracterizam dano moral. Assim, de 
acordo com entendimento firmado pelo 
Superior Tribunal de Justiça: “o mero 
dissabor não pode ser alçado ao 
patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade 
dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela 
se dirige” (REsp. nº 606.382, julgado em 4 de março de 2004). Cita-se como exemplo 
de mero dissabor o consumidor permanecer esperando na fila de uma loja com o 
atraso de 10 minutos para atendimento. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL – LOJA – DISPOSITIVO DE SEGURANÇA – 
MERCADORIA FURTADA – ALARME. O soar falso do alarme magnetizado 
na saída da loja, a indicar o furto de mercadorias do estabelecimento 
comercial, causa constrangimento ao consumidor, vítima da atenção pública 
e forçado a mostrar seus pertences para comprovar o equívoco. Dano moral 
que deve ser indenizado. Recurso conhecido e provido (STJ, 4ª T, Resp 
327.679/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 04.12.2001). 
 
14 
 
 
Interessante notar que, havendo culpa concorrente do consumidor, pode haver 
a redução da indenização, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça. Vejamos: 
 
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE DO 
FORNECEDOR. CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA. HOTEL. PISCINA. 
AGÊNCIA DE VIAGENS. – Responsabilidade do hotel, que não sinaliza 
convenientemente a profundidade da piscina, de acesso livre aos hóspedes. 
Art. 14 do CDC. – A culpa concorrente da vítima permite a redução da 
condenação imposta ao fornecedor. Art. 12, § 2º, III, do CDC. – A agência de 
viagens responde pelo dano pessoal que decorreu do mau serviço do hotel 
contratado por ela para a hospedagem durante o pacote de turismo. Recursos 
conhecidos e providos em parte. (Resp 287849/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado 
de Aguiar, julgado em 17.04.2001, DJ 13.08.2001). 
 
9) DIREITO À PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS: 
O consumidor tem direito de ser indenizado dos prejuízos que vier a sofrer por 
fato atribuído ao fornecedor. De acordo com o CDC, o consumidor tem direito à 
“efetiva reparação e prevenção de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos 
e difusos” (artigo 6º, inciso IV). O direito à indenização é um dos fundamentos da vida 
em sociedade e assegura a todos que o Estado promoverá, na forma da lei, que o 
causador de um dano recompense o prejudicado obrigatoriamente, caso aquele não 
cumpra sua obrigação espontaneamente. 
A indenização significa que o ofensor deve restituir à vítima o status quo ante. 
Por exemplo, no caso de veículo atingido em razão de acidente no trânsito, a 
indenização seria a realização do próprio conserto ou entrega do dinheiro 
correspondente aos gastos para o reparo integral do veículo. 
 
10) DIREITO À FACILITAÇÃO DE ACESSO À JUSTIÇA: 
O artigo 6º, inciso VIII, do CDC 
garante como direito básico do 
consumidor a inversão do ônus da 
prova. Mas o que isso significa? 
Em regra, quem alega tem que 
provar. Numa determinada demanda 
judicial, o autor da ação deve provar 
a existência dos fatos alegados para 
obter êxito. É comum que alguém tenha determinado direito, mas, por ausência de 
provas, não obtenha ganho de causa. 
15 
 
 
A inversão do ônus da prova é justamente a possibilidade de o juiz considerar 
provados os fatos alegados pelo consumidor, desde que as afirmações contenham 
verossimilhanças ou ficar evidente a dificuldade de produzir determinada prova. 
Portanto, compete ao fornecedor, para não perder a causa, demonstrar que os fatos 
não ocorreram como alegado pelo consumidor na ação. 
 
11) DIREITO AO SERVIÇO PÚBLICO E EFICAZ: 
Corolário do princípio da eficiência inserto na Constituição Federal de 1988, 
trata-se de um direito básico do consumidor ter acesso a um serviço público adequado 
e eficaz, de acordo com o artigo 6º, inciso X, do CDC. 
O STJ já decidiu, como exemplo de concretização das regras gerais da boa-fé, 
que as operadoras de planos de saúde não podem limitar o prazo de cobertura para 
pacientes que se internam em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o que significa 
dizer que essa exigência contratual era totalmente contrária à legítima expectativa dos 
pacientes que, quando buscaram esse tipo de serviço, não tiveram condições ou 
mesmo oportunidade de avaliar a malfadada exigência contratual. 
Nesse sentido, dispõe a Súmula nº 302, do STJ, que é abusiva a cláusula 
contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. 
A presença do Estado nas relações de consumo dá-se pelo dever de ação 
governamental (artigo 4º, inciso 
II, CDC), repetindo a já referida 
norma constitucional dirigida ao 
Estado de promover a defesa do 
consumidor na forma da lei 
(artigo 5º, inciso XXXII, CF/88). 
 
12) DIREITO DE SER DEVOLVIDA A QUANTIA EM DOBRO, CASO HAJA ERRO NA COBRANÇA: 
Cobrou errado, pagou em dobro! Neste caso, o STJ entende que deve haver 
má-fé por parte do fornecedor. Esse direito refere-se à repetição do indébito. O que 
isso significa? O pagamento de valores decorrentes de cobrança indevida ao 
consumidor gera o direito à repetição do indébito em dobro, salvo se demonstrado 
erro justificável pelo fornecedor, na forma do parágrafo único, do artigo 42, do CDC. 
Nesse sentido, colaciona-se decisão da Turma Recursal dos Juizados 
Especiais do DF: 
16 
 
 
“O art. 42, parágrafo único, do CDC dispõe que, sendo o consumidor cobrado 
em quantia indevida, terá direito à repetição do indébito, por valor igual ao 
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros 
legais, salvo hipótese de engano justificável, que deverá ser demonstrado 
pelo fornecedor a fim de afastar a sanção imposta no mencionado dispositivo 
legal, o que não ocorreu nos presentes autos. Somente se configura erro 
justificável quando o fornecedor dos serviços adota todas as cautelas 
possíveis para evitar a cobrança indevida e esta ocorre por circunstâncias 
alheias ao seu controle, o que não restou demonstrado nos autos. No caso,a própria empresa ré/recorrida assume, em sua contestação, a existência de 
erros sistêmicos nas transações comerciais modernas que, por vezes, 
causam inconvenientes durante as relações de consumo. 8. Nesse 
descortino, constatado o pagamento em duplicidade, impõe-se o dever de 
devolução em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC, 
segundo o qual não se revela imprescindível, para o reconhecimento do 
direito à dobra, a existência do dolo ou má-fé, sendo suficiente, para a 
incidência da sanção, a constatação de erro injustificável.” 
Acórdão 1237607, 07358258020198070016, Relator: CARLOS ALBERTO 
MARTINS FILHO, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito 
Federal, data de julgamento: 17/3/2020, publicado no PJe: 2/4/2020. 
 
VOCÊ SABIA? O consumidor tem o direito de não pagar multa por perda de 
comanda de consumo, considerada uma prática ilegal, contra o CDC. 
É importante que o consumidor conheça os seus direitos e que, por outro lado, 
sejam tais direitos respeitados pelos fornecedores. 
http://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=TURMAS_RECURSAIS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1237607
17 
 
 
4 VÍCIOS DO PRODUTO OU SERVIÇO 
 
Caso o produto ou serviço 
apresente vícios, haverá, de acordo com o 
CDC, três opções para o consumidor. 
No caso de vício do produto, o artigo 
18 do CDC concede ao consumidor três 
alternativas: 
1ª) a substituição do produto por outro da mesma espécie; 
2ª) a restituição da quantia paga; 
3ª) o abatimento proporcional do preço. 
 
No tocante ao vício do serviço, o artigo 20 do CDC dispõe três alternativas em 
favor do consumidor: 
1ª) reexecução dos serviços sem custo adicional; 
2ª) restituição da quantia paga; 
3ª) abatimento proporcional do preço. 
 
 
Se o vício do produto ou do serviço acarretar outros prejuízos que extrapolam 
a questão da funcionalidade, é direito do consumidor obter a cabível indenização 
(dano moral e material), já que é um direito básico do consumidor de efetiva reparação 
dos danos patrimoniais e morais (artigo 6º, inciso VI, do CDC). 
Seguem alguns entendimentos jurisprudenciais sobre o tema: 
 
CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. TELEFONE CELULAR. PRODUTO 
ESSENCIAL. EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA. 
OPÇÃO DO CONSUMIDOR COM BASE NO ART. 18, § 1º E § 3º, DO CDC. 
SUBSTITUIÇÃO IMEDIATA DO PRODUTO. NEGATIVA DA VENDEDORA. 
POSTERIOR CONSERTO DO APARELHO PELA ASSISTÊNCIA TÉCNICA. 
DANOS MORAIS E MATERIAIS. RESSARCIMENTO. APELO 
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível No 70030724124, Décima 
 
A escolha entre as opções indicadas é SEMPRE do consumidor. Deve ele verificar qual 
das alternativas atende melhor aos seus interesses. 
 
18 
 
 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, 
julgado em 26/11/2009). 
 
CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. USO IMEDIATO DA ALTERNATIVA 
DE SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO. INCIDÊNCIA DO ART. 18, § 1º E § 3º, 
DO CDC. ALTERNATIVA DO CONSUMIDOR NÃO RESPEITADA PELA RÉ 
(SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO). PRODUTO ESSENCIAL AO AUTOR. 
ENVIO DO PRODUTO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA, POR DIVERSAS VEZES. 
AUSÊNCIA DE SOLUÇÃO DO DEFEITO APRESENTADO. DANO MORAL. 
SENTENÇA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1 - Ação onde 
postula a parte a reparação por danos morais. Consumidor que adquire 
telefone celular com defeito, não se prontificando a ré a realizar a troca do 
aparelho. Incidência do art. 18, § 1º e do § 3º, do CDC, o qual autoriza o 
consumidor, imediatamente, vez que produto essencial, a exigir, a sua própria 
escolha, a substituição do produto, a restituição da quantia paga, ou o 
abatimento proporcional do preço. 2 - Descumprimento de dever contratual 
de parte da ré. 3 - Quantum indenizatório. Critérios de fixação no caso 
concreto. Valor mantido, vez que se apresenta consentâneo com a realidade 
do caso concreto e com os parâmetros adotados por esta Câmara. 4. 
Honorários advocatícios majorados para 15% sobre o valor da condenação, 
para que bem remunerem o profissional do direito. Apelo improvido. Recurso 
adesivo parcialmente provido. (Apelação Cível No 70025048943, Décima 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, 
julgado em 30/10/2008). 
 
Infelizmente, embora se trate de importante disciplina em favor dos interesses 
do consumidor, principalmente no aspecto relativo à solidariedade entre fabricante e 
comerciante de produtos, ainda se pode observar, em alguns casos, desrespeito ao 
Código de Defesa do Consumidor. 
 
 
O Código de Defesa do Consumidor estabelece no artigo 26, prazos 
específicos para reclamar dos vícios dos produtos e dos serviços. A redação é a 
seguinte: 
 
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil 
constatação caduca em: 
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de 
produtos não duráveis; 
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de 
produtos duráveis. [...] (BRASIL, 1990). 
 
 
Existem estabelecimentos que, diante de vício do produto, ao invés de realizarem a troca do bem ou devolução 
do dinheiro, encaminham o interessado à assistência autorizada e o consumidor desinformado nem percebe que 
seus direitos estão sendo violados. 
19 
 
 
Em seguida, é esclarecida a forma de contagem dos prazos. Tratando-se de 
vício aparente, “inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva 
do produto ou do término da execução dos serviços.” (Artigo 26, § 1º). De outro lado, 
se o vício é oculto, “o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar 
evidenciado o defeito” (artigo 26, § 3º). Isso não quer dizer que os fornecedores 
(comerciantes, distribuidores, importadores, fabricantes) tenham uma eterna 
responsabilidade pela qualidade dos seus produtos. É lógico que, como tudo na 
natureza, os bens de consumo possuem vida útil e sofrem um desgaste normal e 
previsível com o tempo. 
Portanto, não estão os fornecedores obrigados a reparar vícios decorrentes do 
envelhecimento natural das peças. Como o Código de Defesa do Consumidor não 
fixou um prazo máximo para aparecimento do vício oculto, o critério deve basear-se 
na experiência comum e durabilidade natural do bem. 
Na prática, se a questão não for resolvida a contento, caberá ao juiz, com o 
auxílio de peritos, determinar se o vício decorre do envelhecimento do bem ou, ao 
contrário, de um problema de fabricação. 
 
 
 
20 
 
 
5 BREVES APONTAMENTOS SOBRE OFERTAS E PUBLICIDADES 
 
Dentre os assuntos que envolvem o Direito do Consumidor está a questão 
das ofertas e publicidades, as quais, de forma sucinta, serão abordadas neste 
capítulo, com especial ênfase nas chamadas propagandas abusivas e enganosas. 
 
5.1 OFERTA 
 
Oferta ou proposta é toda informação, 
publicidade, suficientemente precisa veiculada 
por qualquer forma ou meio de comunicação, 
relacionada a produtos e serviços oferecidos ou 
apresentados ao fornecedor. É uma declaração 
unilateral e caracteriza uma obrigação pré-contratual, gerando vínculo com o 
fornecedor e proporcionando automaticamente ao consumidor a possibilidade de 
exigir aquilo que fora ofertado, ou seja, a oferta é obrigatória, tem força vinculante 
em relação ao ofertante e ao ofertado e deve ser mantida por lapso temporal 
suficiente para a concretização do negócio. 
De acordo com o artigo 48 do CDC, as declarações de vontade constantes de 
escritos particulares, recibos e pré-contratos vinculam o fornecedor e, se forem 
descumpridas, ensejama execução específica da obrigação, prevista no artigo 84 
do mesmo diploma legal. 
O princípio da vinculação da oferta é preceituado no artigo 30 do CDC e, para 
que a oferta vincule o fornecedor, são necessários dois requisitos básicos: a 
veiculação e a precisão da informação. Logo, a oferta não terá força obrigatória se 
não houver veiculação da obrigação. 
Já no artigo 31 do CDC, consta o princípio da veracidade da oferta, que prevê 
a necessidade de a oferta conter informações corretas, claras, precisas, ostensivas 
e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, 
composição, preço, garantia, prazos de validade, origem, entre outros dados e, 
ainda, o alerta contra os riscos que os produtos ou serviços possam oferecer à saúde 
e segurança dos consumidores. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601384/artigo-48-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10596143/artigo-84-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603696/artigo-30-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603657/artigo-31-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
21 
 
 
Conforme consta do artigo 35 do CDC, em caso de descumprimento da oferta, 
o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: 
▪ exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, 
apresentação ou publicidade; 
▪ aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 
▪ rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente 
antecipada, monetariamente atualizada e perdas e danos. 
 
De acordo com o artigo 30 do CDC, é preciso esclarecer que esse tipo de 
oferta deve ser suficientemente precisa, daí excluindo-se as promessas exageradas 
e com nítida função de promover as qualidades do produto. Em outras palavras, se 
um fornecedor de calçados divulga que seus sapatos são os melhores do mercado 
ou um fabricante de bicicletas anuncia que está disponibilizando a mais alta 
tecnologia, não há precisão suficiente para obrigar o fornecedor na futura 
contratação. Cuidam-se de elogios admitidos no senso comum para destacar o 
produto ou serviço sem que sejam capazes de induzir os consumidores em erro. 
Assim, se em uma loja consta determinado produto com etiqueta exposta no 
valor de R$10,00, sendo que ao passar pelo caixa para efetuar o pagamento é 
apresentado o valor de R$15,00, o consumidor tem direito a comprar os produtos 
pelo valor de R$ 10,00. De acordo com o artigo 30 do CDC, toda informação 
suficientemente precisa relativa a produtos e serviços, quando divulgada por 
qualquer meio, vincula o fornecedor à oferta. 
Este é o princípio que a doutrina definiu como “princípio da vinculação”. Nesse 
sentido, considerando que a oferta integra o contrato a ser celebrado, a regra do 
CDC é: prometeu, cumpriu! 
Especial atenção deve ser dirigida às informações que indiquem os riscos que 
os produtos ou serviços possam 
causar à saúde, vida e segurança 
dos consumidores. 
Isso demonstra que a oferta 
bem apresentada não se limita a 
prevenir prejuízos financeiros, mas 
também previne e evita a ocorrência 
de intoxicações, reações alérgicas e 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603397/artigo-35-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
22 
 
 
demais acidentes. Assim, por exemplo, as bulas de remédio têm se apresentado 
com letras maiores e com linguagem de mais fácil compreensão para aqueles quem 
não conhecem a Medicina, de acordo com a Resolução RDC nº 140, de 29 de maio 
de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 
Mas, assim como as formas de contratação massificadas atingiram efeitos 
prejudiciais aos consumidores, o mesmo pode ser dito em relação às chamadas 
publicidades empregadas pelos fornecedores para a divulgação de seus produtos e 
serviços. 
Entende-se por publicidade toda e qualquer forma comercial e massificada de 
oferta de produtos ou serviços patrocinados por um fornecedor identificado (direta 
ou indiretamente), persuadindo sujeitos dispostos a consumi-los. O CDC refere-se à 
publicidade como a atividade do fornecedor de oferecer ao público os seus produtos 
e serviços. 
É comum pessoas confundirem publicidade com propaganda, apesar de não 
ser a mesma coisa. Enquanto a publicidade tem cunho comercial, a propaganda 
refere-se à divulgação de mensagens ideológicas, políticas ou religiosas. Nesse 
sentido, o correto é se referir aos anúncios relativos a produtos e serviços como 
publicidades. 
A evolução tecnológica tem sido cada vez mais rápida e tem se preocupado 
com o desenvolvimento de novos produtos em um período de tempo cada vez mais 
curto. Isso acontece principalmente com produtos eletroeletrônicos, computadores e 
até com carros. 
A intervenção dos meios de comunicação na vida e no comportamento da 
sociedade é inteiramente marcante e uma realidade irreversível. 
 
 
Outra situação comum e abordada pelo CDC (artigo 34) diz respeito à divergência de 
informações dadas por diferentes funcionários de um mesmo estabelecimento comercial. 
Se o consumidor é atendido por um vendedor que lhe informa que o produto custa R$ 
40,00 (quarenta reais) e poderá ser pago em duas vezes no cartão de crédito, não tem 
razão o gerente da loja que contradiz seu vendedor, desautorizando a primeira informação, 
afirmando que os R$ 40,00 só valeriam para pagamento à vista. De acordo com a regra do CDC, a primeira informação – 
mais benéfica ao consumidor – passou a integrar o acordo das partes. 
Nos serviços de telefonia celular, é comum a oferta de planos nos quais o consumidor poderá falar de graça por 2 
(dois) anos entre números da mesma operadora. Mas, ao procurar mais detalhes, o consumidor descobre que essa 
gratuidade somente vale para 2 (dois) ou 3 (três) números de telefone da mesma operadora indicados pelo consumidor. 
Claramente, trata-se de informação diversa da que foi ofertada.
 
23 
 
 
É essencial que os consumidores sejam orientados a guardar folders, jornais, 
anúncios e demais meios nos quais houve a divulgação da oferta, pois esses 
documentos servem de prova para a garantia dos seus direitos. O Procon pode 
requisitar dos fornecedores a apresentação desses informativos se o consumidor não 
tiver condições de apresentá-los. 
 
5.2 PUBLICIDADE 
 
A publicidade é o meio utilizado pelo fornecedor para demonstrar os seus 
produtos e serviços. Porém, tais anúncios devem ser leais, transparentes e 
permeados de boa-fé. 
O artigo 36, parágrafo único, do CDC 
determinou que o fornecedor, após realizar a 
publicidade, deverá guardar em seu poder 
dados fáticos, técnicos e científicos capazes 
de comprovar as qualidades anunciadas dos 
produtos ou serviços, para informação dos 
legítimos interessados. O que se busca é 
fazer com que as informações publicitárias sejam dotadas de verdade e correção. 
Toda publicidade deve ter conteúdo informativo verdadeiro, não se permitindo 
afirmações falsas. Conforme se verá mais adiante, a publicidade que descumpre esse 
princípio é enganosa. Somado a isso, toda publicidade deve ser identificada (artigo 
36, CDC), permitindo ao consumidor que saiba ou tenha consciência que está, em 
determinado momento, sendo alvo da oferta de um produto ou serviço. 
Um exemplo de publicidade não identificada ou de difícil identificação é a 
chamada subliminar, aquela em que a mensagem publicitária é passada por meio de 
recursos visuais ou sonoros estimulantese capazes de influenciar os consumidores 
no momento da escolha, mas que operam em seu subconsciente. Com certeza, 
apesar de parecer algo muito complexo e avançado, essa já é a realidade do mercado 
atual e se demonstra abusiva em relação à fragilidade dos consumidores, 
especialmente quando visa atingir um público menos informado. 
O CDC é incisivo ao proteger o consumidor contra efeitos nocivos da 
publicidade. Para tanto, proíbe toda publicidade enganosa ou abusiva. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
24 
 
 
5.2.1 Publicidade enganosa 
 
O artigo 37, § 1º, do CDC traz a seguinte definição para a chamada 
publicidade enganosa: 
 
Art. 37 – [...]. 
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de 
caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, 
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da 
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço 
e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. [...] (BRASIL, 1990). 
 
A característica da publicidade enganosa é de ser suscetível de induzir o 
consumidor ao erro. Para configurá-la, basta que a informação seja inteira ou 
parcialmente falsa ou que omita dados importantes. Um exemplo é a propaganda 
que menciona liquidação inexistente, a fim de atrair o consumidor até a loja. 
É frequente também a chamada publicidade enganosa por omissão, definida 
no artigo 37, § 3º, do CDC, que ocorre quando o fornecedor “deixar de informar sobre 
dado essencial do produto ou serviço” (BRASIL, 1990). Em outras palavras, na 
publicidade enganosa por omissão, falta uma informação essencial em relação ao 
produto ou serviço. Um exemplo bastante comum refere-se às vendas de produtos 
parcelados nas quais há a inclusão de juros. Esses anúncios têm sido feitos 
simplesmente com a indicação do valor da parcela, omitindo os anunciantes as 
informações básicas referentes à diferença de preço para pagamento à vista e, 
especialmente, o valor final das parcelas com juros embutidos. As parcelas aparecem 
em valores baixos que cabem no orçamento do consumidor. 
Portanto, a informação errônea, assim como a ausência de informação, torna 
o produto ou serviço defeituoso, ensejando a responsabilização civil do fornecedor 
que o inseriu no mercado. 
Contudo, o consumidor deve saber 
avaliar, de forma clara e precisa, se vale 
mais a pena guardar o dinheiro para 
adquirir o bem à vista, evidentemente 
comparando o número de parcelas e a 
diferença entre estas e o valor à vista, 
dados que nem sempre são informados. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603106/par%C3%A1grafo-1-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603022/par%C3%A1grafo-3-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
25 
 
 
Outro exemplo é a venda de uma televisão a um preço promocional, mas que, 
para funcionar, depende da utilização de um determinado acessório, que deverá ser 
adquirido à parte. Ora, se o funcionamento do bem depende de outro equipamento, 
por dever de veracidade, o fornecedor deve disponibilizá-lo no mercado em condições 
plenas de uso, isto é, incluindo-o no preço pago pelo consumidor. Para ser claro, o 
televisor deveria ser anunciado assim: “vende-se TV que não funciona, exceto se você 
adquirir o equipamento necessário para o seu funcionamento”. 
 
5.2.2 Publicidade abusiva 
 
Outra forma de publicidade indevida é a abusiva, definida no artigo 37, § 2º, 
do CDC, como se vê: 
 
Art. 37 – [...]. 
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer 
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se 
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita 
valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se 
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. [...] 
(BRASIL, 1990). 
 
Conforme se extai da redação desse 
dispositivo legal, a publicidade abusiva é 
antiética e lesa a vulnerabilidade do consumidor, 
atingindo os seus valores sociais básicos, 
podendo até chegar a ferir a sociedade como um 
todo. A publicidade abusiva é, portanto, proibida, 
pois veicula mensagens que atentam contra 
valores não apenas individuais, mas de toda a sociedade, tais como aquelas que 
contêm discriminação racial, de crença, gênero, incitação à violência, 
comportamentos destrutivos, antissociais e prejudiciais à saúde, vida ou segurança 
do consumidor e de seu próximo, publicidade atinente à valores religiosos, bem como 
que explorem a fragilidade das crianças. Também serão abusivas as publicidades 
que possam conduzir as crianças a comportamentos destrutivos. 
A título de exemplo, pode-se citar, ainda, um lançamento de um condomínio 
de luxo em que os responsáveis veiculam a seguinte frase: “Venha conhecer o 
condomínio que pobre não entra”. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603106/par%C3%A1grafo-1-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
26 
 
 
Aqui, é válido destacar que a expressão dentre outras, expressa no dispositivo 
legal acima, indica que as práticas apresentadas são exemplificativas, podendo 
existir outras que serão igualmente consideradas abusivas à luz do CDC e dos 
princípios constitucionais. Portanto, nenhuma campanha pode praticar ato 
discriminatório de qualquer espécie. Isso significa que os publicitários devem tomar 
bastante cuidado e verificar se os conteúdos apresentam algum tipo de ação vedada 
pelo CDC. Além do mais, nenhuma campanha pode explorar a poluição, depredação 
do ambiente ou desperdício de qualquer forma. 
Nesse sentido, deve-se destacar que a lista de valores protegidos é meramente 
exemplificativa, isto é, admite que haja outras situações ali inseridas, colhidas da 
percepção de quem irá analisar ou fiscalizar determinada publicidade. 
No tocante ao ônus da prova da veracidade e correção da informação ou 
comunicação publicitária, caberá ele a quem as patrocina. 
 
 
Neste contexto, interessante trazer à baila algumas 
ações em que o fornecedor pode evitar campanhas abusivas, 
já que se trata de um curso para toda a sociedade. 
O fornecedor deve, por exemplo, entender se elas 
podem sofrer mais de uma interpretação ou ser mal entendida 
por um público específico, fazer pesquisas reais com pessoas 
de perfis diferentes para entender se elas compreendem a divulgação de maneira 
minimamente parecida, compreender se não há incentivo à destruição do meio 
ambiente, verificar se a divulgação não é excessiva ou causa algum dano às crianças. 
Embora a velocidade de veiculação seja importante, lembre-se de que todo 
cuidado é pouco no planejamento e exibição delas. Em vez de conseguir melhorar a 
forma com que a marca é entendida, a sua empresa pode obter processos na justiça 
e receber grandes multas. 
Assim, por exemplo, a contrapropaganda é uma sanção cabível “quando o 
fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do 
artigo 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator”, conforme dispõe o artigo 
60 do CDC. Em outras palavras, a contrapropaganda significa a correção e o 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
27 
 
 
esclarecimento da falha da publicidade veiculada ao público(seja ela enganosa ou 
abusiva), normalmente valendo-se de veículos ou meios de comunicação iguais ou 
mais eficientes que os utilizados para a divulgação da publicidade ilícita. Para tanto, é 
importante, entre outros critérios, acompanhar o mesmo horário e tempo de exposição 
da publicidade enganosa ou abusiva. 
Observe-se que as despesas necessárias para a contrapropaganda, isto é, o 
seu custeio, caberão ao próprio fornecedor e a sua imposição não exclui a 
possibilidade de aplicação de outras sanções administrativas cabíveis ao caso 
concreto. 
Por fim, a publicidade enganosa ou abusiva pode ensejar prejuízos patrimoniais 
e/ou morais aos consumidores, devendo-se identificar quem deverá ressarci-los. 
A enganosidade ou a falsidade da publicidade não precisa ter sido praticada e 
provocada por culpa do fornecedor, agência, celebridade ou patrocinador para a 
incidência do CDC. Basta ao consumidor ou órgão de proteção e defesa demonstrar 
a falha ou a potencialidade lesiva do informe para que as providências legais 
apreciadas surtam os seus efeitos. 
Exemplo prático: 
É muito comum a venda de 
remédio prometendo emagrecimento 
em poucos dias, de 5 a 10 quilos e 
sem qualquer exercício físico. Caso o 
consumidor compre o produto e não 
obtenha o resultado prometido, trata-
se de publicidade enganosa. 
 
O Ministério Público, assim 
como o Procon, tem legitimidade para representar os consumidores em juízo em 
Ações Civis Públicas (ações coletivas), requerendo a suspensão da publicidade 
enganosa e/ou abusiva ao Poder Judiciário, postulando a condenação do fornecedor 
e demais responsáveis em danos morais coletivos. 
Frisa-se que os consumidores não precisam ter comprado ou adquirido o 
produto para que tenha cabimento a ação judicial, pois a figura protegida é o 
consumidor equiparado do artigo 29 do CDC, isto é, a coletividade de pessoas 
expostas a uma publicidade ilícita. 
28 
 
 
6 A PROTEÇÃO CONTRATUAL E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS ABUSIVAS 
 
Especificamente em relação ao contrato, 
além da possibilidade de invalidar as cláusulas 
abusivas, mesmo tendo assinado o documento, o 
CDC garante ao consumidor o direito de modificar 
disposições que imponham ganho exagerado ao 
fornecedor em detrimento de prejuízo considerável 
àquele (consumidor), bem como o direito de rever 
o contrato, caso ocorra um fato posterior ao acordo 
das partes que torne inviável ao consumidor o cumprimento de sua prestação (artigo 
6º, inciso IV, CDC). 
É nesse contexto que o Código de Defesa do Consumidor disciplina o contrato. 
Objetiva-se proteger a parte mais frágil na relação: o consumidor. A disciplina da lei 
abrange todas as espécies de contratos: verbais, escritos, de adesão, paritários, etc. 
Além da preocupação com a clareza, transparência e lealdade, o CDC 
considera, no seu artigo 51, uma série de cláusulas nulas, ou seja, sem qualquer valor 
jurídico, conforme se verá mais adiante. Portanto, nem tudo que está escrito no 
contrato possui valor jurídico. O juiz pode, ao analisar determinado contrato, promover 
a revisão do seu conteúdo ou simplesmente negar eficácia a algumas cláusulas. 
Além disso, o Código de Defesa do Consumidor apresenta importante regra de 
interpretação das cláusulas em relação aos contratos de consumo. Dispõe o artigo 47 
que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao 
consumidor” (BRASIL, 1990). Desse modo, quando a análise das cláusulas permitirem 
duas ou mais interpretações, deve prevalecer a que for mais vantajosa ao consumidor. 
 
 
Sobre esse assunto, o artigo 49 do CDC traz a seguinte redação: 
 
O CONSUMIDOR PODE SE ARREPENDER DA COMPRA JÁ REALIZADA? 
O Código de Defesa do Consumidor é expresso no sentido de que as vendas 
efetuadas fora do estabelecimento comercial podem ser canceladas no prazo de 7 
(sete) dias. 
 
29 
 
 
Art. 19 - O consumidor pode desistir do contrato no prazo de 7 dias a contar 
da sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre 
que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do 
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio 
(BRASIL, 1990). 
 
A ideia é tutelar a possibilidade de escolhas maduras e refletidas do 
consumidor. Quer-se evitar as compras por impulso, quando o vendedor vai até a 
residência ou trabalho do consumidor que, pelas circunstâncias, não tem como avaliar 
adequadamente as vantagens da compra. 
Outra ideia é que a escolha adequada pressupõe contato físico e direto com o 
bem. Nenhuma fotografia ou imagem (internet, catálogos, revistas) substitui o toque, 
a percepção da qualidade do produto oriunda da proximidade física com o 
consumidor. Portanto, a possibilidade de cancelamento do contrato, com fundamento 
no artigo 49 do CDC, abrange tanto as compras realizadas no trabalho e domicílio do 
vendedor, como aquelas efetivadas por meio da internet e telefone. 
 
 
O cancelamento da compra independe da existência de 
vício ou qualquer espécie de problema com o bem. Basta 
encaminhar ao fornecedor, por qualquer meio, a manifestação 
de vontade de cancelar o contrato. 
 
Caso o consumidor exercite o direito de arrependimento 
previsto no supracitado artigo 49 do CDC, os valores eventualmente pagos, a qualquer 
título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente 
atualizados. O consumidor, portanto, tem direito à devolução integral dos valores 
eventualmente adiantados. Os custos decorrentes do transporte devem ser 
suportados pela empresa. É um ônus para o fornecedor que se beneficia pelo maior 
número de vendas e lucros ao comercializar produtos “fora do estabelecimento 
comercial”. 
No tocante à forma de contagem do prazo de 7 (sete) dias, deve prevalecer a 
mais benéfica ao consumidor. No caso de compra pela internet, o prazo inicia-se do 
dia do recebimento do produto e não da “assinatura” do contrato. 
30 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. 
CONTRATO CELEBRADO FORA DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL 
DO CONSUMIDOR. COMPRA PELA INTERNET. APLICAÇÃO DO ART. 49 
DO CDC. PRAZO DE REFLEXÃO. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. 
Basta que o contrato de consumo tenha sido celebrado fora do 
estabelecimento comercial do fornecedor para que seja aplicável o disposto 
no art. 49 do Código de Defesa do Consumidor, garantindo-se ao 
consumidor o direito de arrepender-se no prazo de 7 (sete) dias a contar de 
sua assinatura no contrato ou do ato de recebimento do produto ou serviço. 
(Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC 5003790-
22.2018.8.13.0394 MG). 
 
6.1 CLÁUSULAS ABUSIVAS 
 
A Lei nº 8.078, de 1990, revela preocupação 
com o conteúdo dos contratos, fato que se reflete na 
definição legal de um rol de cláusulas abusivas, 
nulas de pleno direito, ou seja, sem qualquer valor 
jurídico. É o que se vê no caput do artigo 51: 
 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais 
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor 
por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem 
renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o 
fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, 
em situações justificáveis; 
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos 
casos previstos neste código; 
III - transfiram responsabilidades a terceiros; 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem 
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a 
boa-fé ou a equidade; 
V - (Vetado); 
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; 
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; 
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico 
pelo consumidor; 
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluirou não o contrato, embora 
obrigando o consumidor; 
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de 
maneira unilateral; 
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que 
igual direito seja conferido ao consumidor; 
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua 
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; 
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a 
qualidade do contrato, após sua celebração; 
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; 
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; 
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias 
necessárias. 
31 
 
 
XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do 
Poder Judiciário; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) 
XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das 
prestações mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos direitos do 
consumidor e de seus meios de pagamento a partir da purgação da mora ou 
do acordo com os credores; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) 
XIX - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) [...] (BRASIL, 1990). 
 
Essa relação de cláusulas abusivas é meramente exemplificativa, ou seja, pode 
haver outras cláusulas abusivas que não constem no citado dispositivo, e a expressão 
entre outras existente no texto do artigo não deixa dúvidas quanto à abertura do rol. 
A sanção para as cláusulas abusivas, de acordo com o CDC, é a nulidade da 
disposição: são nulas de pleno direito (art. 51, caput). Isso significa que o juiz pode 
negar qualquer efeito à cláusula e, eventualmente, a todo o contrato. Em regra, a 
nulidade da cláusula não afeta todo o contrato, mas, se a exclusão da cláusula gerar 
ônus excessivo para qualquer das partes, todo contrato deve ser invalidado. A 
respeito, estabelece o § 2º do art. 51: “A nulidade de uma 
cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, 
exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de 
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das 
partes” (BRASIL, 1990). 
Além da sanção de nulidade, avaliada e aplicada 
pelo juiz no julgamento de determinada ação, a existência 
de cláusulas abusivas, independentemente de ocorrência efetiva de danos aos 
consumidores, permite aos PROCONS a aplicação de sanções administrativas. 
O CDC indica a nulidade de cláusula contratual ao informar, objetivamente, que 
determinada disposição contratual é nula, como ocorre, por exemplo, na hipótese de 
limitação de indenização do consumidor em razão de um acidente de consumo. Traça 
princípios orientadores da análise do caso concreto, como o disposto no artigo 51, 
inciso IV, que considera nulas as cláusulas que “estabeleçam obrigações 
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou equidade”. 
Note-se que, da mesma maneira que disciplinou as práticas abusivas, a lei não 
indica, exaustivamente, todas as cláusulas que podem ser invalidadas. 
 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE REEMBOLSO - 
SEGURO SAÚDE COLETIVO - AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA 
INTERNACIONAL S.A. - RELAÇÃO DE CONSUMO - QUALQUER 
32 
 
 
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL QUE COLOQUE O CONSUMIDOR EM 
SITUAÇÃO DE EXAGERADA DESVANTAGEM NÃO PODE 
PREVALECER, POR SE TRATAR DE CLÁUSULA ABUSIVA (CDC, ART. 
51, IV E XV), CONTRARIANDO A PRÓPRIA NATUREZA DO CONTRATO 
- ALEGAÇÃO DE VALIDADE DE CLÁUSULA QUE LIMITA O NÚMERO DE 
SESSÕES DE PSICOTERAPIA - ILEGALIDADE - CLÁUSULA ABUSIVA - 
EM DECORRÊNCIA, DEVIDO O REEMBOLSO DAS TRÊS SESSÕES 
REALIZADAS – PREVISÃO DA ANS COM FUNDAMENTO EM CLÁUSULA 
ABUSIVA NÃO TEM O CONDÃO DE TORNAR LEGÍTIMA A CONDUTA DA 
RECORRENTE DE LIMITAR O TRATAMENTO MÉDICO - NESSE 
SENTIDO: "Plano de saúde – Seguradora que se nega a prestar mais de 
12 sessões anuais de psicoterapia a paciente diagnosticado com quadro de 
depressão – Abuso na recusa baseada em restrição contratual e também 
na RN n. 338/2013 da ANS que fere a razoabilidade e desrespeita as 
peculiaridades de cada paciente – Reconhecimento da obrigação da ré de 
fornecer o tratamento, independentemente da limitação genérica constante 
de cláusula contratual - Inteligência da Súmula 96 desta Egrégia Corte - 
Não provimento do apelo da UNIMED ARARAS e provimento do recurso 
adesivo da autora para majorar os honorários advocatícios para R$2.000,00 
(APL 1003986-40.2014.8.26.0038 SP, 4ª Câmara de Direito Privado, 
Relator Enio Zuliani, P. 02/07/2015, j. 25/06/2015) - SENTENÇA MANTIDA 
PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS NOS TERMOS DO ART. 46 DA LEI 
N. 9.099/95 - RECURSO IMPROVIDO. (TJ-SP - RI: 
00035907520118260009 SP 0003590-75.2011.8.26.0009, Relator: 
Regiane dos Santos, Data de Julgamento: 04/08/2017, 2ª Turma Recursal 
Cível e Criminal, Data de Publicação: 07/08/2017) 
 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. CLÁUSULA 
CONTRATUAL ABUSIVA. PAGAMENTO DE 20% SOBRE PARCELAS 
VINCENDAS EM CASO DE DESISTÊNCIA. ALUNO QUE CURSOU 2 
MESES DE UM TOTAL DE 20 MESES DE DURAÇÃO. VANTAGEM 
EXCESSIVA. VIOLAÇÃO AO ART. 51, IV CDC. SENTENÇA MANTIDA. 
RECURSO IMPROVIDO. - O CDC, em seu art. 51, IV, estabelece que são 
nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que coloquem o 
consumidor em desvantagem exagerada; - No caso concreto, o 
apelado participou do curso por somente 2 meses, sendo o valor 
total do mesmo de R$ 18.528,00 para o período de duração de 
05/04/2013 a 13/12/2014; - Logo, a exigência da multa rescisória 
de 20% sobre o valor total das parcelas vincendas se mostra 
deveras abusiva, ferindo a legislação do consumidor diante da 
flagrante ofensa ao art. 51, IV do CDC; - Tal vantagem excessiva 
trazida pela cláusula em questão não se mostra viável e atenta aos 
preceitos da boa-fé e equidade contratuais; - RECURSO 
CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJ-AM 06048868020158040001 AM 
0604886-80.2015.8.04.0001, Relator: Ari Jorge Moutinho da Costa, 
Data de Julgamento: 28/06/2018, Segunda Câmara Cível). 
 
6.2 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS 
 
No âmbito da proteção contratual, outro assunto muito importante e que está 
diretamente relacionado a muitas práticas comerciais são os empréstimos e 
financiamentos. 
A Lei nº 8.078, de 1990, estabelece no artigo 52 algumas regras específicas 
para o fornecimento de produtos e serviços que envolva a outorga de crédito ou 
concessão de financiamentos. 
33 
 
 
Assim, inicialmente, o caput do artigo 52 detalha as informações mínimas que 
devem ser apresentadas ao consumidor antes da contratação. Vejamos: 
 
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de 
crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, 
entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: 
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; 
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; 
III - acréscimos legalmente previstos; 
IV - número e periodicidade das prestações; 
V - soma total a pagar, com e sem financiamento. [...] (BRASIL, 1990). 
 
A ideia básica é que o consumidor deve ter completa noção do custo do 
empréstimo, com juros e taxas embutidos. Somente conhecendo o preço total do 
empréstimo pode-se realizar uma decisão consciente sobre a aquisição do bem 
mediante crediário. 
Deve ser apresentada a informação 
adequada e completa sobre o empréstimo, 
incluindo a forma de cálculo de reajuste das 
prestações e o impacto no orçamento familiar, 
o que é fundamental para a decisão do 
consumidor, inclusive para evitar situações de 
superendividamento. É importante que os fornecedores, além de informar, 
aconselhem os consumidores sobre todos riscos do contrato. 
Embora seja a taxa de juros a principal componente do preço do empréstimo, 
todos os gastos oriundos, direta e indiretamente, do contrato devem ser claramente 
informados. Com as informações, principalmente “soma total a pagar com esem 
financiamento”, pode o consumidor decidir, efetivamente, sobre os benefícios e 
diferenças do pagamento à vista ou a prazo. 
No entanto, é notório que alguns bancos omitem indevidamente os demais 
custos constantes do contrato. 
 
6.3 PRÁTICAS ABUSIVAS 
 
O Código de Defesa do Consumidor vislumbra o equilíbrio das relações de 
consumo. Para alcançar tal equilíbrio, optou-se por regular a proteção ao consumidor 
no que tange à formação do contrato e a sua execução. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
34 
 
 
Práticas abusivas são práticas comerciais, 
comportamentos ilícitos, que afrontam a principiologia 
e a finalidade do sistema de proteção ao consumidor, 
bem como se relacionam com o abuso do direito. 
Dentre os princípios inerentes à relação de 
consumo, destacam-se o princípio da transparência, o 
princípio da boa-fé, o princípio da equidade (ou 
equilíbrio contratual) e o princípio da confiança. Cada princípio, ao ser violado, tem 
correspondência com alguma prática comercial abusiva, como veremos a seguir. 
O CDC estabelece, nos artigos 39, 40 e 41, uma série de práticas comerciais 
que o legislador considera como abusivas. 
 
É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas 
abusivas: 
 
1. Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto 
ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. 
 
A venda quantitativa consiste na exigência de o consumidor adquirir em 
quantidade maior ou menor do que aquela de que necessita. Alguns fornecedores 
cuidam para que os seus anúncios mencionem a quantidade de peças que têm em 
estoque com o fito de cumprir o artigo 39, inciso II, do CDC. 
Pela costumeira ocorrência da venda casada, o tema será abordado em tópico 
próprio. 
 
2. Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas 
disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes. 
 
3. Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou 
fornecer qualquer serviço, inclusive às amostras grátis. 
 
Como exemplo pode-se citar o envio, sem solicitação prévia, de cartão de 
crédito ao consumidor. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10602881/artigo-39-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10602816/inciso-ii-do-artigo-39-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
35 
 
 
RECURSO ESPECIAL- CONSUMIDOR- AÇÃO CIVIL PÚBLICA- ENVIO DE 
CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO – PRÁTICA COMERCIAL 
ABUSIVA – ABUSO DE DIREITO CONFIGURADO. 1- O envio do cartão de 
crédito, ainda que bloqueado, sem pedido pretérito e expressa do 
consumidor, caracteriza prática comercial abusiva, violando frontalmente o 
disposto no artigo 39, III, do CDC. Recurso Especial provido. (STJ – RESP 
1.199.117/SP – rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino – 3ª T. – j. 18.12.2012 
– DJe 04.03.2013. 
 
4. Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, 
saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; 
 
É o caso de idosos que sofrem inúmeros descontos abusivos por parte dos 
bancos em suas aposentadorias, a fim de amortizar as parcelas de um empréstimo. 
 
5. Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 
 
6. Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do 
consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; 
 
7. Repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no 
exercício de seus direitos; 
8. Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as 
normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não 
existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade 
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial 
(Conmetro); 
 
9. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de 
seu termo inicial a seu exclusivo critério; 
 
10. Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha 
a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação 
regulados em leis especiais; 
 
É a situação, por exemplo, da pessoa de aparência humilde que vai a uma 
concessionária com o objetivo de comprar um carro de luxo e o vendedor, 
acreditando ser ele pobre, recusa a venda. 
 
11. Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. 
 
É o que ocorre, por exemplo, quando um alimento é vendido por determinado 
preço em um supermercado e, no dia seguinte, o preço é aumentado absurdamente. 
36 
 
 
12. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de 
seu termo inicial a seu exclusivo critério. 
 
13. Aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. 
 
14. Permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior 
de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. 
 
6.3.1 Venda casada 
 
A venda casada é uma prática comercial proibida pelo artigo 39, inciso I, do 
CDC, que consiste na venda de produtos ou serviços sob a obrigatoriedade da 
aquisição de outros. É uma das ilegalidades mais frequentes em estabelecimentos 
comerciais e instituições financeiras. De acordo com esse dispositivo legal: 
 
 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de 
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; 
[...] (BRASIL, 1990). 
 
As vendas casadas também podem acontecer de maneira oculta, isto é, 
quando uma pessoa adquire um produto e um serviço adicional não informado que é 
embutido no valor pago. Essa prática é muito comum, por exemplo, na compra de 
passagens e obtenção de crédito em bancos. 
 
 
CONSUMAÇÃO MÍNIMA EM BARES, RESTAURANTES E CASAS NOTURNAS 
 
Este é provavelmente um dos mais famosos exemplos 
de venda casada. Nenhum consumidor deve ser obrigado a 
consumir o que não deseja dentro de um estabelecimento. Por 
isso, a consumação mínima em qualquer circunstância é uma 
prática ilegal. 
37 
 
 
CONSUMO DE ALIMENTOS NO CINEMA 
 
O Superior Tribunal de Justiça estabelece que nenhuma empresa de cinema é 
autorizada a impedir a entrada de clientes com alimentos comprados em outros 
estabelecimentos. Em prática de venda casada muito comum, as pessoas eram 
comumente obrigadas a comprar pacotes de pipoca por preços elevados dentro dos 
cinemas. 
Nesse sentido, no julgamento do Recurso Especial nº 1.331.948, o ministro 
relator, Villas Bôas Cueva, destacou em seu voto que a conduta da empresa de 
cinemas violou, mesmo que indiretamente, o artigo 39, inciso I, do Código de Defesa 
do Consumidor. De acordo com o magistrado: 
 
Ao compelir o consumidor a comprar dentro do próprio cinema todo e 
qualquer produto alimentício, a administradora dissimula uma venda casada 
e, sem dúvida alguma, limita a liberdade de escolha do consumidor, o que 
revela prática abusiva: não obriga o consumidor a adquirir o produto, porém 
impede que o faça em outro estabelecimento [...]. 
 
A venda casada, ainda de acordo com a lição do supracitado magistrado, 
“ocorre, na presente hipótese, em virtude do condicionamento a uma única escolha, a 
apenas uma alternativa, já que não é conferido ao consumidor usufruir de outro 
produto senão aquele alienado pela empresa”. 
 
COMPRA DE PASSAGENS COM HOSPEDAGENS E PASSEIOS: 
 
O STJ também entende a venda de passagens 
e serviços de hospedagem, passeio e seguro de 
maneira conjunta

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