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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal Belo Horizonte – 2021 DIREITO DO CONSUMIDOR Coordenação Geral Dra. Cinara Maria Moreira Liberal Subcoordenação Geral Dr. Marcelo Carvalho Ferreira Coordenação Didático-Pedagógica Rita Rosa Nobre Mizerani Coordenação de Recrutamento e Seleção Dr. Luiz Carlos Ferreira Coordenação Técnica Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão Coordenação de disciplina Dr. Renato Nunes Guimarães Conteudistas: Dra. Danúbia Helena Soares Quadros Larissa Dias Paranhos Produção do Material: Polícia Civil de Minas Gerais Revisão e Edição: Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais Reprodução Proibida SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4 2 CONSUMIDOR E FORNECEDOR: DEFINIÇÕES BÁSICAS ............................................................... 5 2.1 CONSUMIDOR ................................................................................................................................................5 2.2 FORNECEDOR ................................................................................................................................................ 6 2.3 EM QUAIS CASOS PODEMOS ACIONAR O CDC? ...................................................................................... 6 2.4 PRODUTOS E SERVIÇOS .............................................................................................................................. 7 3 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR .......................................................................................... 9 4 VÍCIOS DO PRODUTO OU SERVIÇO .............................................................................................. 17 5 BREVES APONTAMENTOS SOBRE OFERTAS E PUBLICIDADES ................................................. 20 5.1 OFERTA ........................................................................................................................................................ 20 5.2 PUBLICIDADE .............................................................................................................................................. 23 5.2.1 Publicidade enganosa ................................................................................................ 24 5.2.2 Publicidade abusiva ................................................................................................... 25 6 A PROTEÇÃO CONTRATUAL E PRINCIPAIS PRÁTICAS ABUSIVAS ............................................ 28 6.1 CLÁUSULAS ABUSIVAS ............................................................................................................................. 30 6.2 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS ........................................................................................................ 33 6.3 PRÁTICAS ABUSIVAS ................................................................................................................................. 34 6.3.1 Venda casada ............................................................................................................. 36 7 DOS CRIMES ................................................................................................................................. 39 7.1 CRIMES MAIS COMUNS PRATICADOS CONTRA O CONSUMIDOR ....................................................... 39 7.1.1 Crimes previstos na Lei nº 8.078, de 1990 (CDC) ................................................ 39 7.1.2 Crimes previstos na Lei nº 8.137, de 1990 ............................................................. 42 7.1.3 Crimes previstos na Lei nº 1.521, de 1951 ............................................................... 44 7.2 GOLPES MAIS COMUNS NA DELEGACIA ESPECIALIZADA..................................................................... 45 7.2.1 Pirâmide Financeira .................................................................................................. 45 7.2.2 Golpe da carta de crédito ......................................................................................... 46 7.2.3 Golpes em sites de comércio eletrônico ................................................................ 47 7.2.4 Fraude do falso emprego .......................................................................................... 48 7.2.5 Golpe do falso empréstimo ....................................................................................... 48 7.2.6 Golpe do intermediário ............................................................................................. 49 7.2.7 Golpes praticados através da OLX .......................................................................... 49 8 OUTRAS AÇÕES DE PREVENÇÃO.................................................................................................. 51 9 OS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR ........................................................................... 53 9.1 MINISTÉRIO PÚBLICO ................................................................................................................................ 54 9.2 DELEGACIA DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................................................. 55 9.3 PROCON ....................................................................................................................................................... 56 9.4 PROCON-ALMG ........................................................................................................................................... 57 9.5 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ............................................................. 59 9.6 ENTIDADES CIVIS DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR .......................................................... 59 9.7 DEFENSORIA PÚBLICA ............................................................................................................................... 60 9.8 COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR/ALMG ................................................................................. 60 9.9 COMISSÃO DA OAB/MG ............................................................................................................................. 61 10 CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 62 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 64 4 1 INTRODUÇÃO Em 1990, o Congresso Nacional, conforme orientação da Constituição Federal Brasileira de 1988 (nossa Carta Magna), elaborou a Lei nº 8.078, criando o Código de Defesa do Consumidor (CDC). No dia 11 de setembro de 2021, o Código de Defesa do Consumidor – Lei n° 8.078, de 1990 – completa 31 anos. A Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (PCMG) comemora essa importante data oferecendo um curso didático acerca do tema não só para os policiais, mas também para toda a sociedade. Com enfoque no Código de Defesa do Consumidor, serão tratados os direitos básicos do consumidor, as práticas abusivas, os principais crimes – incluindo os golpes que mais são denunciados pelos consumidores na Delegacia Especializada –, bem como as atribuições dos órgãos de defesa do consumidor. Por se tratar de verdadeiro “microssistema jurídico”, já que nele estão inseridas normas de direito penal, civil, constitucional, processuais penais, civis e administrativas, com caráter de ordem pública e por constituir legislação extremamente avançada, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor influenciouas legislações dos outros países do MERCOSUL. Trata-se de uma lei visionária, que mudou o cenário do mercado brasileiro, notadamente no que tange à proteção dos mais vulneráveis nas relações de consumo. O conteúdo da Lei nº 8.078, de 1990, trouxe regras e princípios que a tornaram uma das leis mais avançadas na defesa dos consumidores em todo o mundo. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 5 2 CONSUMIDOR E FORNECEDOR: DEFINIÇÕES BÁSICAS Para dar início ao nosso estudo e ampliar o entendimento de todos quanto aos temas que serão tratados ao longo desse curso, é de suma importância esclarecer quem são o consumidor e o fornecedor, qual é a abrangência do CDC e o que são produtos e serviços. 2.1 CONSUMIDOR O consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo. O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º, define consumidor como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (BRASIL, 1990). Assim fazendo, a lei de consumo não deixa dúvidas de que o cidadão individualmente considerado (pessoa física) é consumidor. Crianças e adolescentes também são consumidores, bastando que o atendimento de suas demandas e pleitos ocorra com o acompanhamento de um responsável. Estão equiparadas a consumidores todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às chamadas práticas abusivas dos fornecedores (art. 29, CDC). Da mesma forma do conceito contido no artigo 2º, parágrafo único, do CDC, o consumidor aqui equiparado é aquela pessoa ou coletividade de pessoas que não, necessariamente, adquiriu produtos ou serviços, mas já passou a sofrer algum tipo de dano ou mesmo perigo de dano, tão somente, por ter contato com a conduta praticada pelo fornecedor ao anunciar o seu produto e serviço, por receber a cobrança de uma dívida já paga ou da qual nunca deu causa ou, ainda, por ter o seu nome inscrito erroneamente em um cadastro de consumidores ou banco de dados. São atividades não necessariamente atreladas ao consumo direto do produto ou serviço, mas que mesmo assim ocasionam danos aos cidadãos que com elas têm contato, os quais devem ser tratados, pois, como consumidores. 6 2.2 FORNECEDOR O CDC, de forma genérica e ampla, define o fornecedor em seu artigo 3º, caput, que traz a seguinte redação: Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. [...] (BRASIL, 1990). De acordo com a doutrina brasileira, essa lista de atividades mencionadas na lei é meramente exemplificativa. Assim, se um comerciante exercer uma atividade que não encontra conectivo direto com qualquer das supracitadas hipóteses elencadas no artigo 3º, mas se resume em disponibilizar produto ou serviço aos consumidores, dúvida não há de que é ele fornecedor. 2.3 EM QUAIS CASOS PODEMOS UTILIZAR O CDC? Aplica-se ao CDC: ▪ Profissionais liberais e seus clientes (STJ, REsp nº 80.276); ▪ Entidades de previdência privada (STJ, Súmula nº 321); ▪ Na relação entre condomínio e concessionária de serviço público (STJ, REsp nº 650.791); ▪ Contratos do sistema financeiro de habitação (STJ, AgRg no REsp nº 107.33.11). Além disso, de acordo com a Súmula nº 297 do STJ, “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. O CDC estabelece que é fornecedor a pessoa jurídica pública. Isso significa que a lei impõe até mesmo aos prestadores de serviços públicos (atividades disponibilizadas por órgãos ou entes do Poder Público) respeito às suas disposições. Todavia, nem todos os serviços são tratados à luz do CDC; há serviços públicos que são oferecidos aos consumidores mediante remuneração específica e de modo individualizado. São exemplos o transporte público, a rodovia com pedágio, os serviços de telefonia, luz, água e esgoto. Nesses casos, quem explora esses serviços é o Estado (por meio das empresas públicas) ou particulares conhecidos como concessionários de serviços públicos. Ficam de fora da incidência do CDC os serviços públicos pelos quais o cidadão tem acesso independentemente de pagamento específico. Cita-se como exemplo a segurança pública. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/547534/recurso-especial-resp-80276 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/49386/recurso-especial-resp-650791-rj-2004-0051054-8 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4151077/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1073311-rj-2008-0144560-8 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4151077/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1073311-rj-2008-0144560-8 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 7 Por outro lado, não se aplica o CDC: ▪ À atividade notarial (STJ, REsp nº 625.144); ▪ Às relações entre condomínio e condôminos (STJ, REsp nº 650.791); ▪ Entre autarquia previdenciária e seus beneficiários (STJ, REsp nº 369.822); ▪ Às relações de locação (STJ, Ag Rg no REsp nº 510.689); ▪ Contratos de crédito educativo (STJ, REsp nº 600.677); ▪ Relações de caráter trabalhista (Artigo 3º, parágrafo 2º, CDC). Então, se um trabalhador procura (procurar) um Procon para ver garantidos os seus direitos de receber salários ou verbas indenizatórias atrasadas ou não pagas por seu patrão, faltará atribuição legal para esse órgão tomar qualquer providência. No tocante às relações de locação, existindo a intermediação ou a administração do contrato firmado por uma empresa imobiliária, passa a surgir um serviço específico mediante remuneração que enseja a proteção da parte mais frágil da relação (o locatário), identificado como consumidor. Por oportuno, destaca-se que ao longo do curso serão citadas e abordadas jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça, já que, no âmbito nacional, trata-se da última instância responsável por examinar os temas relacionados ao Código de Defesa do Consumidor. 2.4 PRODUTOS E SERVIÇOS Neste contexto, é importante também tratarmos, ainda que rapidamente, sobre produtos e serviços que são abrangidos pelo CDC. A Lei nº 8.078/90 trata os bens da vida como produtos (qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial) ou serviços (qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração), de acordo com o seu artigo 3º. Com base nesses conceitos, é possível compreender a abrangência da lei, que pode alcançar desde a contratação de planos de saúde até a compra de um simples calçado. Em ambas as situações, o consumidor está em situação desfavorável. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 8 Os produtos são bens que se transferem do patrimônio do fornecedor para o do consumidor, sejam eles materiais (ex.: aparelho telefônico) ou imateriais (ex.: um programa de computador). Os produtos móveis são aqueles que, como o próprio nome indica, são passíveis de deslocamento, sujeitos a entrega (ex.: um veículo, uma televisão, alimentos), enquanto são imóveis os bens incorporados natural ou artificialmente ao solo (ex.: lote de terra urbana ou rural, residencial ou comercial; um apartamento). Já os serviços são atividades humanas executadas pelosfornecedores, de interesse dos consumidores que delas necessitam (ex.: o serviço de transporte de passageiros). Se os produtos e serviços são, via de regra, essenciais à existência digna dos consumidores, o CDC tratou de estabelecer que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, salvo se essa periculosidade resultar da própria natureza da prestação (artigo 8º), devendo o fornecedor, neste último caso, advertir os consumidores. É o caso de produtos inflamáveis, tóxicos e que causam alergia: não podem ser comercializados sem advertências expressas e ao alcance do consumidor. 9 3 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR O conhecimento dos direitos do cidadão faz parte da construção da cidadania. Ser cidadão é conhecer e exigir os seus próprios direitos, cumprindo com suas respectivas obrigações. O conceito de cidadania está vinculado à oportunidade que cada indivíduo tem de exercer livremente as suas opções e escolhas, com a garantia de receber tratamento igualitário e respeitoso perante a sociedade e o Poder Público. A identificação do consumidor como pessoa destinatária de atenção e cuidados especiais no mercado tem fundamento na Constituição Federal de 1988 e no próprio Código de Defesa do Consumidor. O artigo 170 da Carta Magna determinou que toda e qualquer atividade econômica desenvolvida no Brasil levará em conta a defesa do consumidor. No mesmo sentido é o artigo 4º, inciso I, do CDC, que estabelece como valor principal o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. A razão dessa proteção é simples, já que o consumidor é o elo mais fraco na relação de consumo. Atualmente, consumir é uma necessidade básica e vital. Boa parte dos gêneros alimentícios, vestuários, saúde, serviços de transporte, telefonia e energia elétrica são oferecidos ao público mediante pagamento e sob condições já preestabelecidas pelos fornecedores. Na verdade, o consumidor quase nunca terá o direito de escolha livre, segura ou consciente. Nesse contexto, as opções do consumidor são, basicamente, aceitar ou não aceitar; confiar no que é dito pelos fornecedores ou deixar de consumir. Porém, esta última opção nem sempre é viável se não há como o consumidor deixar de ter acesso a bens e serviços que comumente são a base de sua sobrevivência. Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm modificado profundamente os meios de produção e comercialização dos produtos e serviços. Ocorre que com esse ambiente eletrônico de relacionamento econômico e social, cujo acesso de seus usuários dá- se pela utilização de computadores a eles conectados, há, por exemplo, inúmeros consumidores adquirindo produtos e 10 serviços pela internet, em um ambiente complexo que, muitas vezes, limita as informações necessárias para o exercício de uma escolha segura e consciente. Noutra banda, a oferta de produtos e serviços em grande escala também dificulta ao fornecedor a individualização do seu atendimento, desconsiderando as necessidades reais do destinatário final do processo de produção e circulação de bens e serviços. Sem conhecer ou ver garantidos quais direitos lhe assistem, um cidadão não tem boas condições de avaliar, no seu dia a dia, em que situações estará na iminência de sofrer um prejuízo ou quais medidas pode ele adotar para evitá-lo. SEGUEM OS PRINCIPAIS DIREITOS: 1) DIREITO À INFORMAÇÃO: Ter uma informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem, é direito do consumidor. Em decorrência desse princípio, os preços devem ser informados e afixados de maneira clara, precisa e de fácil visualização para o consumidor. Se a loja possui produtos na vitrine, os valores destes também devem ser expostos. Caso opte pelo uso do código de barras para identificação do valor, será necessária a instalação de equipamentos de leitura ótica para consulta, os quais devem estar localizados na área de venda e em local acessível aos consumidores. No caso de o estabelecimento realizar vendas parceladas, não basta colocar o preço à vista. Também devem ser informados o valor total a ser pago com financiamento, o número, a periodicidade e o valor das prestações, além da taxa de juros, eventuais acréscimos e encargos que incidirem sobre o parcelamento. Algumas determinações citadas acima constam na Lei nº 10.962, de 2004, e no Decreto Federal nº 5.903, de 2006, que dispõem sobre as regras para afixação de preços. 11 2) DIREITO À EDUCAÇÃO, LIBERDADE DE ESCOLHA E INFORMAÇÃO ADEQUADA: Todo consumidor tem direito à educação e divulgação acerca da correta forma de utilização e manuseio de serviços e produtos, justamente para que tenha garantida uma mínima oportunidade de exercer livremente o seu direito de escolha e, dessa forma, atinja igualdade nas contratações (artigo 6º, inciso I, CDC). Sozinho, dificilmente conseguirá obter a quantidade de informações que detém o fornecedor, sendo essa a razão de uma educação específica para os consumidores. A finalidade da educação ao consumidor é permitir que, minimamente informado, ele se equilibre um pouco mais em relação ao fornecedor, pelo menos para poder identificar o que é realmente de sua vontade. Os PROCONS e, de uma maneira geral, todo o sistema de proteção ao consumidor devem envidar esforços para a promoção da educação formal e informal dos consumidores. A educação é um direito de todos, previsto expressamente na Constituição Federal (artigo 205). 3) DIREITO A NÃO SER ESTIPULADO UM VALOR MÍNIMO PARA A COMPRA COM CARTÃO DE CRÉDITO OU DÉBITO: 4) DIREITO DE EXIGIR O CUMPRIMENTO DE QUAISQUER ANÚNCIOS VEICULADOS Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar integrando o contrato que vier a ser celebrado. Nesse sentido, o consumidor tem direito de exigir o seu cumprimento. 5) DIREITO DE ARREPENDIMENTO: Nas compras realizadas pela internet, telefone ou através de revistas, poderá haver a desistência do consumidor, dentro do prazo de 7 (sete) dias, a contar da Vale lembrar, porém, que é POSSÍVEL estipular preços distintos para pagamento em dinheiro ou cartão. De acordo com a Lei nº 13.455, de 2017, “fica autorizada a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado” (BRASIL, 2017). 12 assinatura ou do recebimento do produto, sempre que a compra ocorrer fora do estabelecimento comercial (assunto abordado em tópico próprio). 6) DIREITO À SAÚDE, VIDA E SEGURANÇA: O primeiro direito básico do consumidor é ter preservadas, no mercado de consumo, a sua saúde, vida e segurança. Especialmente voltado às pessoas físicas, esse direito demonstra que o CDC realmente traz preocupações com o consumidor e regras de zelo para ele. Infelizmente, ainda é possível observar que alguns consumidores adquirem um produto ou serviço e vêm a experimentar perigos não resguardados pelo fornecedor que resultam na perda da própria vida, a exemplo de acidentes rodoviários, marítimos ou aéreos, cirurgias malsucedidas, intoxicações alimentares, etc. São as hipóteses de acidentes de consumo. 7) DIREITO À PROTEÇÃO CONTRA PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA: Uma vez que o fornecedor posiciona-se mais favorável que o consumidor no mercado, é direito deste ser protegido contra todo e qualquer tipo de abuso de direito cometido por aquele, seja no momento de anunciar os seus produtos e serviços – proteção contra a publicidade enganosa e abusiva –, no trato direto com oconsumidor nos momentos anteriores ou concomitantes à venda – proteção contra métodos comerciais coercitivos ou desleais –, ou na falta de imposição de condições contratuais injustas aos que com ele contratam – proteção contra cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços – (artigo 6º, inciso III, CDC). A palavra abusiva, muito utilizada na seara consumerista, diz respeito à característica de quem exerce um direito, uma faculdade, ultrapassando os limites da normalidade, do costume e do bom senso. Sob esse panorama, se uma empresa não recebeu o pagamento de um consumidor que com ela adquiriu determinado produto ou serviço, o seu direito de cobrar essa dívida não poderá, por exemplo, ser exercido mediante agressões físicas 13 ou com o envio de ameaças escritas ao consumidor. Apesar de ser direito do fornecedor cobrar pela dívida, esse direito não pode ser praticado de modo abusivo. Especificamente em relação ao contrato, o CDC garante ao consumidor, além da possibilidade de invalidar as cláusulas abusivas, mesmo tendo assinado o documento, o direito de modificar disposições que imponham ganho exagerado ao fornecedor em detrimento de seu considerável prejuízo, além de rever o contrato, caso ocorra um fato posterior ao acordo das partes que torne inviável ao consumidor o cumprimento de sua prestação (artigo 6º, inciso IV, CDC). 8) DIREITO AO DANO MORAL: Dano moral corresponde ao abalo psíquico, intelectual ou moral que uma pessoa sofre, seja ele por ofensa à sua honra, intimidade, imagem, nome, privacidade ou até mesmo físico. Nesse sentido, cabe indenização por danos morais decorrentes do sentimento de tristeza pela perda de um filho. Da mesma forma, há danos morais pela frustração do extravio de bagagem em viagem aérea. Por outro lado, se tem entendido que os aborrecimentos do dia a dia, os meros dissabores a que todos estão sujeitos na vida em sociedade não caracterizam dano moral. Assim, de acordo com entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça: “o mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige” (REsp. nº 606.382, julgado em 4 de março de 2004). Cita-se como exemplo de mero dissabor o consumidor permanecer esperando na fila de uma loja com o atraso de 10 minutos para atendimento. RESPONSABILIDADE CIVIL – LOJA – DISPOSITIVO DE SEGURANÇA – MERCADORIA FURTADA – ALARME. O soar falso do alarme magnetizado na saída da loja, a indicar o furto de mercadorias do estabelecimento comercial, causa constrangimento ao consumidor, vítima da atenção pública e forçado a mostrar seus pertences para comprovar o equívoco. Dano moral que deve ser indenizado. Recurso conhecido e provido (STJ, 4ª T, Resp 327.679/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 04.12.2001). 14 Interessante notar que, havendo culpa concorrente do consumidor, pode haver a redução da indenização, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça. Vejamos: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR. CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA. HOTEL. PISCINA. AGÊNCIA DE VIAGENS. – Responsabilidade do hotel, que não sinaliza convenientemente a profundidade da piscina, de acesso livre aos hóspedes. Art. 14 do CDC. – A culpa concorrente da vítima permite a redução da condenação imposta ao fornecedor. Art. 12, § 2º, III, do CDC. – A agência de viagens responde pelo dano pessoal que decorreu do mau serviço do hotel contratado por ela para a hospedagem durante o pacote de turismo. Recursos conhecidos e providos em parte. (Resp 287849/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado em 17.04.2001, DJ 13.08.2001). 9) DIREITO À PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS: O consumidor tem direito de ser indenizado dos prejuízos que vier a sofrer por fato atribuído ao fornecedor. De acordo com o CDC, o consumidor tem direito à “efetiva reparação e prevenção de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos” (artigo 6º, inciso IV). O direito à indenização é um dos fundamentos da vida em sociedade e assegura a todos que o Estado promoverá, na forma da lei, que o causador de um dano recompense o prejudicado obrigatoriamente, caso aquele não cumpra sua obrigação espontaneamente. A indenização significa que o ofensor deve restituir à vítima o status quo ante. Por exemplo, no caso de veículo atingido em razão de acidente no trânsito, a indenização seria a realização do próprio conserto ou entrega do dinheiro correspondente aos gastos para o reparo integral do veículo. 10) DIREITO À FACILITAÇÃO DE ACESSO À JUSTIÇA: O artigo 6º, inciso VIII, do CDC garante como direito básico do consumidor a inversão do ônus da prova. Mas o que isso significa? Em regra, quem alega tem que provar. Numa determinada demanda judicial, o autor da ação deve provar a existência dos fatos alegados para obter êxito. É comum que alguém tenha determinado direito, mas, por ausência de provas, não obtenha ganho de causa. 15 A inversão do ônus da prova é justamente a possibilidade de o juiz considerar provados os fatos alegados pelo consumidor, desde que as afirmações contenham verossimilhanças ou ficar evidente a dificuldade de produzir determinada prova. Portanto, compete ao fornecedor, para não perder a causa, demonstrar que os fatos não ocorreram como alegado pelo consumidor na ação. 11) DIREITO AO SERVIÇO PÚBLICO E EFICAZ: Corolário do princípio da eficiência inserto na Constituição Federal de 1988, trata-se de um direito básico do consumidor ter acesso a um serviço público adequado e eficaz, de acordo com o artigo 6º, inciso X, do CDC. O STJ já decidiu, como exemplo de concretização das regras gerais da boa-fé, que as operadoras de planos de saúde não podem limitar o prazo de cobertura para pacientes que se internam em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o que significa dizer que essa exigência contratual era totalmente contrária à legítima expectativa dos pacientes que, quando buscaram esse tipo de serviço, não tiveram condições ou mesmo oportunidade de avaliar a malfadada exigência contratual. Nesse sentido, dispõe a Súmula nº 302, do STJ, que é abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. A presença do Estado nas relações de consumo dá-se pelo dever de ação governamental (artigo 4º, inciso II, CDC), repetindo a já referida norma constitucional dirigida ao Estado de promover a defesa do consumidor na forma da lei (artigo 5º, inciso XXXII, CF/88). 12) DIREITO DE SER DEVOLVIDA A QUANTIA EM DOBRO, CASO HAJA ERRO NA COBRANÇA: Cobrou errado, pagou em dobro! Neste caso, o STJ entende que deve haver má-fé por parte do fornecedor. Esse direito refere-se à repetição do indébito. O que isso significa? O pagamento de valores decorrentes de cobrança indevida ao consumidor gera o direito à repetição do indébito em dobro, salvo se demonstrado erro justificável pelo fornecedor, na forma do parágrafo único, do artigo 42, do CDC. Nesse sentido, colaciona-se decisão da Turma Recursal dos Juizados Especiais do DF: 16 “O art. 42, parágrafo único, do CDC dispõe que, sendo o consumidor cobrado em quantia indevida, terá direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável, que deverá ser demonstrado pelo fornecedor a fim de afastar a sanção imposta no mencionado dispositivo legal, o que não ocorreu nos presentes autos. Somente se configura erro justificável quando o fornecedor dos serviços adota todas as cautelas possíveis para evitar a cobrança indevida e esta ocorre por circunstâncias alheias ao seu controle, o que não restou demonstrado nos autos. No caso,a própria empresa ré/recorrida assume, em sua contestação, a existência de erros sistêmicos nas transações comerciais modernas que, por vezes, causam inconvenientes durante as relações de consumo. 8. Nesse descortino, constatado o pagamento em duplicidade, impõe-se o dever de devolução em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC, segundo o qual não se revela imprescindível, para o reconhecimento do direito à dobra, a existência do dolo ou má-fé, sendo suficiente, para a incidência da sanção, a constatação de erro injustificável.” Acórdão 1237607, 07358258020198070016, Relator: CARLOS ALBERTO MARTINS FILHO, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de julgamento: 17/3/2020, publicado no PJe: 2/4/2020. VOCÊ SABIA? O consumidor tem o direito de não pagar multa por perda de comanda de consumo, considerada uma prática ilegal, contra o CDC. É importante que o consumidor conheça os seus direitos e que, por outro lado, sejam tais direitos respeitados pelos fornecedores. http://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=TURMAS_RECURSAIS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=1237607 17 4 VÍCIOS DO PRODUTO OU SERVIÇO Caso o produto ou serviço apresente vícios, haverá, de acordo com o CDC, três opções para o consumidor. No caso de vício do produto, o artigo 18 do CDC concede ao consumidor três alternativas: 1ª) a substituição do produto por outro da mesma espécie; 2ª) a restituição da quantia paga; 3ª) o abatimento proporcional do preço. No tocante ao vício do serviço, o artigo 20 do CDC dispõe três alternativas em favor do consumidor: 1ª) reexecução dos serviços sem custo adicional; 2ª) restituição da quantia paga; 3ª) abatimento proporcional do preço. Se o vício do produto ou do serviço acarretar outros prejuízos que extrapolam a questão da funcionalidade, é direito do consumidor obter a cabível indenização (dano moral e material), já que é um direito básico do consumidor de efetiva reparação dos danos patrimoniais e morais (artigo 6º, inciso VI, do CDC). Seguem alguns entendimentos jurisprudenciais sobre o tema: CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. TELEFONE CELULAR. PRODUTO ESSENCIAL. EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA. OPÇÃO DO CONSUMIDOR COM BASE NO ART. 18, § 1º E § 3º, DO CDC. SUBSTITUIÇÃO IMEDIATA DO PRODUTO. NEGATIVA DA VENDEDORA. POSTERIOR CONSERTO DO APARELHO PELA ASSISTÊNCIA TÉCNICA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. RESSARCIMENTO. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível No 70030724124, Décima A escolha entre as opções indicadas é SEMPRE do consumidor. Deve ele verificar qual das alternativas atende melhor aos seus interesses. 18 Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, julgado em 26/11/2009). CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. USO IMEDIATO DA ALTERNATIVA DE SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO. INCIDÊNCIA DO ART. 18, § 1º E § 3º, DO CDC. ALTERNATIVA DO CONSUMIDOR NÃO RESPEITADA PELA RÉ (SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO). PRODUTO ESSENCIAL AO AUTOR. ENVIO DO PRODUTO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA, POR DIVERSAS VEZES. AUSÊNCIA DE SOLUÇÃO DO DEFEITO APRESENTADO. DANO MORAL. SENTENÇA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1 - Ação onde postula a parte a reparação por danos morais. Consumidor que adquire telefone celular com defeito, não se prontificando a ré a realizar a troca do aparelho. Incidência do art. 18, § 1º e do § 3º, do CDC, o qual autoriza o consumidor, imediatamente, vez que produto essencial, a exigir, a sua própria escolha, a substituição do produto, a restituição da quantia paga, ou o abatimento proporcional do preço. 2 - Descumprimento de dever contratual de parte da ré. 3 - Quantum indenizatório. Critérios de fixação no caso concreto. Valor mantido, vez que se apresenta consentâneo com a realidade do caso concreto e com os parâmetros adotados por esta Câmara. 4. Honorários advocatícios majorados para 15% sobre o valor da condenação, para que bem remunerem o profissional do direito. Apelo improvido. Recurso adesivo parcialmente provido. (Apelação Cível No 70025048943, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, julgado em 30/10/2008). Infelizmente, embora se trate de importante disciplina em favor dos interesses do consumidor, principalmente no aspecto relativo à solidariedade entre fabricante e comerciante de produtos, ainda se pode observar, em alguns casos, desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor. O Código de Defesa do Consumidor estabelece no artigo 26, prazos específicos para reclamar dos vícios dos produtos e dos serviços. A redação é a seguinte: Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. [...] (BRASIL, 1990). Existem estabelecimentos que, diante de vício do produto, ao invés de realizarem a troca do bem ou devolução do dinheiro, encaminham o interessado à assistência autorizada e o consumidor desinformado nem percebe que seus direitos estão sendo violados. 19 Em seguida, é esclarecida a forma de contagem dos prazos. Tratando-se de vício aparente, “inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.” (Artigo 26, § 1º). De outro lado, se o vício é oculto, “o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito” (artigo 26, § 3º). Isso não quer dizer que os fornecedores (comerciantes, distribuidores, importadores, fabricantes) tenham uma eterna responsabilidade pela qualidade dos seus produtos. É lógico que, como tudo na natureza, os bens de consumo possuem vida útil e sofrem um desgaste normal e previsível com o tempo. Portanto, não estão os fornecedores obrigados a reparar vícios decorrentes do envelhecimento natural das peças. Como o Código de Defesa do Consumidor não fixou um prazo máximo para aparecimento do vício oculto, o critério deve basear-se na experiência comum e durabilidade natural do bem. Na prática, se a questão não for resolvida a contento, caberá ao juiz, com o auxílio de peritos, determinar se o vício decorre do envelhecimento do bem ou, ao contrário, de um problema de fabricação. 20 5 BREVES APONTAMENTOS SOBRE OFERTAS E PUBLICIDADES Dentre os assuntos que envolvem o Direito do Consumidor está a questão das ofertas e publicidades, as quais, de forma sucinta, serão abordadas neste capítulo, com especial ênfase nas chamadas propagandas abusivas e enganosas. 5.1 OFERTA Oferta ou proposta é toda informação, publicidade, suficientemente precisa veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação, relacionada a produtos e serviços oferecidos ou apresentados ao fornecedor. É uma declaração unilateral e caracteriza uma obrigação pré-contratual, gerando vínculo com o fornecedor e proporcionando automaticamente ao consumidor a possibilidade de exigir aquilo que fora ofertado, ou seja, a oferta é obrigatória, tem força vinculante em relação ao ofertante e ao ofertado e deve ser mantida por lapso temporal suficiente para a concretização do negócio. De acordo com o artigo 48 do CDC, as declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos vinculam o fornecedor e, se forem descumpridas, ensejama execução específica da obrigação, prevista no artigo 84 do mesmo diploma legal. O princípio da vinculação da oferta é preceituado no artigo 30 do CDC e, para que a oferta vincule o fornecedor, são necessários dois requisitos básicos: a veiculação e a precisão da informação. Logo, a oferta não terá força obrigatória se não houver veiculação da obrigação. Já no artigo 31 do CDC, consta o princípio da veracidade da oferta, que prevê a necessidade de a oferta conter informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade, origem, entre outros dados e, ainda, o alerta contra os riscos que os produtos ou serviços possam oferecer à saúde e segurança dos consumidores. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601384/artigo-48-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10596143/artigo-84-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603696/artigo-30-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603657/artigo-31-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 21 Conforme consta do artigo 35 do CDC, em caso de descumprimento da oferta, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: ▪ exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; ▪ aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; ▪ rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada e perdas e danos. De acordo com o artigo 30 do CDC, é preciso esclarecer que esse tipo de oferta deve ser suficientemente precisa, daí excluindo-se as promessas exageradas e com nítida função de promover as qualidades do produto. Em outras palavras, se um fornecedor de calçados divulga que seus sapatos são os melhores do mercado ou um fabricante de bicicletas anuncia que está disponibilizando a mais alta tecnologia, não há precisão suficiente para obrigar o fornecedor na futura contratação. Cuidam-se de elogios admitidos no senso comum para destacar o produto ou serviço sem que sejam capazes de induzir os consumidores em erro. Assim, se em uma loja consta determinado produto com etiqueta exposta no valor de R$10,00, sendo que ao passar pelo caixa para efetuar o pagamento é apresentado o valor de R$15,00, o consumidor tem direito a comprar os produtos pelo valor de R$ 10,00. De acordo com o artigo 30 do CDC, toda informação suficientemente precisa relativa a produtos e serviços, quando divulgada por qualquer meio, vincula o fornecedor à oferta. Este é o princípio que a doutrina definiu como “princípio da vinculação”. Nesse sentido, considerando que a oferta integra o contrato a ser celebrado, a regra do CDC é: prometeu, cumpriu! Especial atenção deve ser dirigida às informações que indiquem os riscos que os produtos ou serviços possam causar à saúde, vida e segurança dos consumidores. Isso demonstra que a oferta bem apresentada não se limita a prevenir prejuízos financeiros, mas também previne e evita a ocorrência de intoxicações, reações alérgicas e https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603397/artigo-35-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 22 demais acidentes. Assim, por exemplo, as bulas de remédio têm se apresentado com letras maiores e com linguagem de mais fácil compreensão para aqueles quem não conhecem a Medicina, de acordo com a Resolução RDC nº 140, de 29 de maio de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Mas, assim como as formas de contratação massificadas atingiram efeitos prejudiciais aos consumidores, o mesmo pode ser dito em relação às chamadas publicidades empregadas pelos fornecedores para a divulgação de seus produtos e serviços. Entende-se por publicidade toda e qualquer forma comercial e massificada de oferta de produtos ou serviços patrocinados por um fornecedor identificado (direta ou indiretamente), persuadindo sujeitos dispostos a consumi-los. O CDC refere-se à publicidade como a atividade do fornecedor de oferecer ao público os seus produtos e serviços. É comum pessoas confundirem publicidade com propaganda, apesar de não ser a mesma coisa. Enquanto a publicidade tem cunho comercial, a propaganda refere-se à divulgação de mensagens ideológicas, políticas ou religiosas. Nesse sentido, o correto é se referir aos anúncios relativos a produtos e serviços como publicidades. A evolução tecnológica tem sido cada vez mais rápida e tem se preocupado com o desenvolvimento de novos produtos em um período de tempo cada vez mais curto. Isso acontece principalmente com produtos eletroeletrônicos, computadores e até com carros. A intervenção dos meios de comunicação na vida e no comportamento da sociedade é inteiramente marcante e uma realidade irreversível. Outra situação comum e abordada pelo CDC (artigo 34) diz respeito à divergência de informações dadas por diferentes funcionários de um mesmo estabelecimento comercial. Se o consumidor é atendido por um vendedor que lhe informa que o produto custa R$ 40,00 (quarenta reais) e poderá ser pago em duas vezes no cartão de crédito, não tem razão o gerente da loja que contradiz seu vendedor, desautorizando a primeira informação, afirmando que os R$ 40,00 só valeriam para pagamento à vista. De acordo com a regra do CDC, a primeira informação – mais benéfica ao consumidor – passou a integrar o acordo das partes. Nos serviços de telefonia celular, é comum a oferta de planos nos quais o consumidor poderá falar de graça por 2 (dois) anos entre números da mesma operadora. Mas, ao procurar mais detalhes, o consumidor descobre que essa gratuidade somente vale para 2 (dois) ou 3 (três) números de telefone da mesma operadora indicados pelo consumidor. Claramente, trata-se de informação diversa da que foi ofertada. 23 É essencial que os consumidores sejam orientados a guardar folders, jornais, anúncios e demais meios nos quais houve a divulgação da oferta, pois esses documentos servem de prova para a garantia dos seus direitos. O Procon pode requisitar dos fornecedores a apresentação desses informativos se o consumidor não tiver condições de apresentá-los. 5.2 PUBLICIDADE A publicidade é o meio utilizado pelo fornecedor para demonstrar os seus produtos e serviços. Porém, tais anúncios devem ser leais, transparentes e permeados de boa-fé. O artigo 36, parágrafo único, do CDC determinou que o fornecedor, após realizar a publicidade, deverá guardar em seu poder dados fáticos, técnicos e científicos capazes de comprovar as qualidades anunciadas dos produtos ou serviços, para informação dos legítimos interessados. O que se busca é fazer com que as informações publicitárias sejam dotadas de verdade e correção. Toda publicidade deve ter conteúdo informativo verdadeiro, não se permitindo afirmações falsas. Conforme se verá mais adiante, a publicidade que descumpre esse princípio é enganosa. Somado a isso, toda publicidade deve ser identificada (artigo 36, CDC), permitindo ao consumidor que saiba ou tenha consciência que está, em determinado momento, sendo alvo da oferta de um produto ou serviço. Um exemplo de publicidade não identificada ou de difícil identificação é a chamada subliminar, aquela em que a mensagem publicitária é passada por meio de recursos visuais ou sonoros estimulantese capazes de influenciar os consumidores no momento da escolha, mas que operam em seu subconsciente. Com certeza, apesar de parecer algo muito complexo e avançado, essa já é a realidade do mercado atual e se demonstra abusiva em relação à fragilidade dos consumidores, especialmente quando visa atingir um público menos informado. O CDC é incisivo ao proteger o consumidor contra efeitos nocivos da publicidade. Para tanto, proíbe toda publicidade enganosa ou abusiva. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 24 5.2.1 Publicidade enganosa O artigo 37, § 1º, do CDC traz a seguinte definição para a chamada publicidade enganosa: Art. 37 – [...]. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. [...] (BRASIL, 1990). A característica da publicidade enganosa é de ser suscetível de induzir o consumidor ao erro. Para configurá-la, basta que a informação seja inteira ou parcialmente falsa ou que omita dados importantes. Um exemplo é a propaganda que menciona liquidação inexistente, a fim de atrair o consumidor até a loja. É frequente também a chamada publicidade enganosa por omissão, definida no artigo 37, § 3º, do CDC, que ocorre quando o fornecedor “deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço” (BRASIL, 1990). Em outras palavras, na publicidade enganosa por omissão, falta uma informação essencial em relação ao produto ou serviço. Um exemplo bastante comum refere-se às vendas de produtos parcelados nas quais há a inclusão de juros. Esses anúncios têm sido feitos simplesmente com a indicação do valor da parcela, omitindo os anunciantes as informações básicas referentes à diferença de preço para pagamento à vista e, especialmente, o valor final das parcelas com juros embutidos. As parcelas aparecem em valores baixos que cabem no orçamento do consumidor. Portanto, a informação errônea, assim como a ausência de informação, torna o produto ou serviço defeituoso, ensejando a responsabilização civil do fornecedor que o inseriu no mercado. Contudo, o consumidor deve saber avaliar, de forma clara e precisa, se vale mais a pena guardar o dinheiro para adquirir o bem à vista, evidentemente comparando o número de parcelas e a diferença entre estas e o valor à vista, dados que nem sempre são informados. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603106/par%C3%A1grafo-1-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603022/par%C3%A1grafo-3-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 25 Outro exemplo é a venda de uma televisão a um preço promocional, mas que, para funcionar, depende da utilização de um determinado acessório, que deverá ser adquirido à parte. Ora, se o funcionamento do bem depende de outro equipamento, por dever de veracidade, o fornecedor deve disponibilizá-lo no mercado em condições plenas de uso, isto é, incluindo-o no preço pago pelo consumidor. Para ser claro, o televisor deveria ser anunciado assim: “vende-se TV que não funciona, exceto se você adquirir o equipamento necessário para o seu funcionamento”. 5.2.2 Publicidade abusiva Outra forma de publicidade indevida é a abusiva, definida no artigo 37, § 2º, do CDC, como se vê: Art. 37 – [...]. § 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. [...] (BRASIL, 1990). Conforme se extai da redação desse dispositivo legal, a publicidade abusiva é antiética e lesa a vulnerabilidade do consumidor, atingindo os seus valores sociais básicos, podendo até chegar a ferir a sociedade como um todo. A publicidade abusiva é, portanto, proibida, pois veicula mensagens que atentam contra valores não apenas individuais, mas de toda a sociedade, tais como aquelas que contêm discriminação racial, de crença, gênero, incitação à violência, comportamentos destrutivos, antissociais e prejudiciais à saúde, vida ou segurança do consumidor e de seu próximo, publicidade atinente à valores religiosos, bem como que explorem a fragilidade das crianças. Também serão abusivas as publicidades que possam conduzir as crianças a comportamentos destrutivos. A título de exemplo, pode-se citar, ainda, um lançamento de um condomínio de luxo em que os responsáveis veiculam a seguinte frase: “Venha conhecer o condomínio que pobre não entra”. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603148/artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603106/par%C3%A1grafo-1-artigo-37-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 26 Aqui, é válido destacar que a expressão dentre outras, expressa no dispositivo legal acima, indica que as práticas apresentadas são exemplificativas, podendo existir outras que serão igualmente consideradas abusivas à luz do CDC e dos princípios constitucionais. Portanto, nenhuma campanha pode praticar ato discriminatório de qualquer espécie. Isso significa que os publicitários devem tomar bastante cuidado e verificar se os conteúdos apresentam algum tipo de ação vedada pelo CDC. Além do mais, nenhuma campanha pode explorar a poluição, depredação do ambiente ou desperdício de qualquer forma. Nesse sentido, deve-se destacar que a lista de valores protegidos é meramente exemplificativa, isto é, admite que haja outras situações ali inseridas, colhidas da percepção de quem irá analisar ou fiscalizar determinada publicidade. No tocante ao ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária, caberá ele a quem as patrocina. Neste contexto, interessante trazer à baila algumas ações em que o fornecedor pode evitar campanhas abusivas, já que se trata de um curso para toda a sociedade. O fornecedor deve, por exemplo, entender se elas podem sofrer mais de uma interpretação ou ser mal entendida por um público específico, fazer pesquisas reais com pessoas de perfis diferentes para entender se elas compreendem a divulgação de maneira minimamente parecida, compreender se não há incentivo à destruição do meio ambiente, verificar se a divulgação não é excessiva ou causa algum dano às crianças. Embora a velocidade de veiculação seja importante, lembre-se de que todo cuidado é pouco no planejamento e exibição delas. Em vez de conseguir melhorar a forma com que a marca é entendida, a sua empresa pode obter processos na justiça e receber grandes multas. Assim, por exemplo, a contrapropaganda é uma sanção cabível “quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do artigo 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator”, conforme dispõe o artigo 60 do CDC. Em outras palavras, a contrapropaganda significa a correção e o https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 27 esclarecimento da falha da publicidade veiculada ao público(seja ela enganosa ou abusiva), normalmente valendo-se de veículos ou meios de comunicação iguais ou mais eficientes que os utilizados para a divulgação da publicidade ilícita. Para tanto, é importante, entre outros critérios, acompanhar o mesmo horário e tempo de exposição da publicidade enganosa ou abusiva. Observe-se que as despesas necessárias para a contrapropaganda, isto é, o seu custeio, caberão ao próprio fornecedor e a sua imposição não exclui a possibilidade de aplicação de outras sanções administrativas cabíveis ao caso concreto. Por fim, a publicidade enganosa ou abusiva pode ensejar prejuízos patrimoniais e/ou morais aos consumidores, devendo-se identificar quem deverá ressarci-los. A enganosidade ou a falsidade da publicidade não precisa ter sido praticada e provocada por culpa do fornecedor, agência, celebridade ou patrocinador para a incidência do CDC. Basta ao consumidor ou órgão de proteção e defesa demonstrar a falha ou a potencialidade lesiva do informe para que as providências legais apreciadas surtam os seus efeitos. Exemplo prático: É muito comum a venda de remédio prometendo emagrecimento em poucos dias, de 5 a 10 quilos e sem qualquer exercício físico. Caso o consumidor compre o produto e não obtenha o resultado prometido, trata- se de publicidade enganosa. O Ministério Público, assim como o Procon, tem legitimidade para representar os consumidores em juízo em Ações Civis Públicas (ações coletivas), requerendo a suspensão da publicidade enganosa e/ou abusiva ao Poder Judiciário, postulando a condenação do fornecedor e demais responsáveis em danos morais coletivos. Frisa-se que os consumidores não precisam ter comprado ou adquirido o produto para que tenha cabimento a ação judicial, pois a figura protegida é o consumidor equiparado do artigo 29 do CDC, isto é, a coletividade de pessoas expostas a uma publicidade ilícita. 28 6 A PROTEÇÃO CONTRATUAL E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS ABUSIVAS Especificamente em relação ao contrato, além da possibilidade de invalidar as cláusulas abusivas, mesmo tendo assinado o documento, o CDC garante ao consumidor o direito de modificar disposições que imponham ganho exagerado ao fornecedor em detrimento de prejuízo considerável àquele (consumidor), bem como o direito de rever o contrato, caso ocorra um fato posterior ao acordo das partes que torne inviável ao consumidor o cumprimento de sua prestação (artigo 6º, inciso IV, CDC). É nesse contexto que o Código de Defesa do Consumidor disciplina o contrato. Objetiva-se proteger a parte mais frágil na relação: o consumidor. A disciplina da lei abrange todas as espécies de contratos: verbais, escritos, de adesão, paritários, etc. Além da preocupação com a clareza, transparência e lealdade, o CDC considera, no seu artigo 51, uma série de cláusulas nulas, ou seja, sem qualquer valor jurídico, conforme se verá mais adiante. Portanto, nem tudo que está escrito no contrato possui valor jurídico. O juiz pode, ao analisar determinado contrato, promover a revisão do seu conteúdo ou simplesmente negar eficácia a algumas cláusulas. Além disso, o Código de Defesa do Consumidor apresenta importante regra de interpretação das cláusulas em relação aos contratos de consumo. Dispõe o artigo 47 que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor” (BRASIL, 1990). Desse modo, quando a análise das cláusulas permitirem duas ou mais interpretações, deve prevalecer a que for mais vantajosa ao consumidor. Sobre esse assunto, o artigo 49 do CDC traz a seguinte redação: O CONSUMIDOR PODE SE ARREPENDER DA COMPRA JÁ REALIZADA? O Código de Defesa do Consumidor é expresso no sentido de que as vendas efetuadas fora do estabelecimento comercial podem ser canceladas no prazo de 7 (sete) dias. 29 Art. 19 - O consumidor pode desistir do contrato no prazo de 7 dias a contar da sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio (BRASIL, 1990). A ideia é tutelar a possibilidade de escolhas maduras e refletidas do consumidor. Quer-se evitar as compras por impulso, quando o vendedor vai até a residência ou trabalho do consumidor que, pelas circunstâncias, não tem como avaliar adequadamente as vantagens da compra. Outra ideia é que a escolha adequada pressupõe contato físico e direto com o bem. Nenhuma fotografia ou imagem (internet, catálogos, revistas) substitui o toque, a percepção da qualidade do produto oriunda da proximidade física com o consumidor. Portanto, a possibilidade de cancelamento do contrato, com fundamento no artigo 49 do CDC, abrange tanto as compras realizadas no trabalho e domicílio do vendedor, como aquelas efetivadas por meio da internet e telefone. O cancelamento da compra independe da existência de vício ou qualquer espécie de problema com o bem. Basta encaminhar ao fornecedor, por qualquer meio, a manifestação de vontade de cancelar o contrato. Caso o consumidor exercite o direito de arrependimento previsto no supracitado artigo 49 do CDC, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. O consumidor, portanto, tem direito à devolução integral dos valores eventualmente adiantados. Os custos decorrentes do transporte devem ser suportados pela empresa. É um ônus para o fornecedor que se beneficia pelo maior número de vendas e lucros ao comercializar produtos “fora do estabelecimento comercial”. No tocante à forma de contagem do prazo de 7 (sete) dias, deve prevalecer a mais benéfica ao consumidor. No caso de compra pela internet, o prazo inicia-se do dia do recebimento do produto e não da “assinatura” do contrato. 30 DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATO CELEBRADO FORA DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL DO CONSUMIDOR. COMPRA PELA INTERNET. APLICAÇÃO DO ART. 49 DO CDC. PRAZO DE REFLEXÃO. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. Basta que o contrato de consumo tenha sido celebrado fora do estabelecimento comercial do fornecedor para que seja aplicável o disposto no art. 49 do Código de Defesa do Consumidor, garantindo-se ao consumidor o direito de arrepender-se no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura no contrato ou do ato de recebimento do produto ou serviço. (Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC 5003790- 22.2018.8.13.0394 MG). 6.1 CLÁUSULAS ABUSIVAS A Lei nº 8.078, de 1990, revela preocupação com o conteúdo dos contratos, fato que se reflete na definição legal de um rol de cláusulas abusivas, nulas de pleno direito, ou seja, sem qualquer valor jurídico. É o que se vê no caput do artigo 51: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de concluirou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. 31 XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder Judiciário; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus meios de pagamento a partir da purgação da mora ou do acordo com os credores; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) XIX - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) [...] (BRASIL, 1990). Essa relação de cláusulas abusivas é meramente exemplificativa, ou seja, pode haver outras cláusulas abusivas que não constem no citado dispositivo, e a expressão entre outras existente no texto do artigo não deixa dúvidas quanto à abertura do rol. A sanção para as cláusulas abusivas, de acordo com o CDC, é a nulidade da disposição: são nulas de pleno direito (art. 51, caput). Isso significa que o juiz pode negar qualquer efeito à cláusula e, eventualmente, a todo o contrato. Em regra, a nulidade da cláusula não afeta todo o contrato, mas, se a exclusão da cláusula gerar ônus excessivo para qualquer das partes, todo contrato deve ser invalidado. A respeito, estabelece o § 2º do art. 51: “A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes” (BRASIL, 1990). Além da sanção de nulidade, avaliada e aplicada pelo juiz no julgamento de determinada ação, a existência de cláusulas abusivas, independentemente de ocorrência efetiva de danos aos consumidores, permite aos PROCONS a aplicação de sanções administrativas. O CDC indica a nulidade de cláusula contratual ao informar, objetivamente, que determinada disposição contratual é nula, como ocorre, por exemplo, na hipótese de limitação de indenização do consumidor em razão de um acidente de consumo. Traça princípios orientadores da análise do caso concreto, como o disposto no artigo 51, inciso IV, que considera nulas as cláusulas que “estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou equidade”. Note-se que, da mesma maneira que disciplinou as práticas abusivas, a lei não indica, exaustivamente, todas as cláusulas que podem ser invalidadas. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE REEMBOLSO - SEGURO SAÚDE COLETIVO - AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL S.A. - RELAÇÃO DE CONSUMO - QUALQUER 32 DISPOSIÇÃO CONTRATUAL QUE COLOQUE O CONSUMIDOR EM SITUAÇÃO DE EXAGERADA DESVANTAGEM NÃO PODE PREVALECER, POR SE TRATAR DE CLÁUSULA ABUSIVA (CDC, ART. 51, IV E XV), CONTRARIANDO A PRÓPRIA NATUREZA DO CONTRATO - ALEGAÇÃO DE VALIDADE DE CLÁUSULA QUE LIMITA O NÚMERO DE SESSÕES DE PSICOTERAPIA - ILEGALIDADE - CLÁUSULA ABUSIVA - EM DECORRÊNCIA, DEVIDO O REEMBOLSO DAS TRÊS SESSÕES REALIZADAS – PREVISÃO DA ANS COM FUNDAMENTO EM CLÁUSULA ABUSIVA NÃO TEM O CONDÃO DE TORNAR LEGÍTIMA A CONDUTA DA RECORRENTE DE LIMITAR O TRATAMENTO MÉDICO - NESSE SENTIDO: "Plano de saúde – Seguradora que se nega a prestar mais de 12 sessões anuais de psicoterapia a paciente diagnosticado com quadro de depressão – Abuso na recusa baseada em restrição contratual e também na RN n. 338/2013 da ANS que fere a razoabilidade e desrespeita as peculiaridades de cada paciente – Reconhecimento da obrigação da ré de fornecer o tratamento, independentemente da limitação genérica constante de cláusula contratual - Inteligência da Súmula 96 desta Egrégia Corte - Não provimento do apelo da UNIMED ARARAS e provimento do recurso adesivo da autora para majorar os honorários advocatícios para R$2.000,00 (APL 1003986-40.2014.8.26.0038 SP, 4ª Câmara de Direito Privado, Relator Enio Zuliani, P. 02/07/2015, j. 25/06/2015) - SENTENÇA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS NOS TERMOS DO ART. 46 DA LEI N. 9.099/95 - RECURSO IMPROVIDO. (TJ-SP - RI: 00035907520118260009 SP 0003590-75.2011.8.26.0009, Relator: Regiane dos Santos, Data de Julgamento: 04/08/2017, 2ª Turma Recursal Cível e Criminal, Data de Publicação: 07/08/2017) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. CLÁUSULA CONTRATUAL ABUSIVA. PAGAMENTO DE 20% SOBRE PARCELAS VINCENDAS EM CASO DE DESISTÊNCIA. ALUNO QUE CURSOU 2 MESES DE UM TOTAL DE 20 MESES DE DURAÇÃO. VANTAGEM EXCESSIVA. VIOLAÇÃO AO ART. 51, IV CDC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. - O CDC, em seu art. 51, IV, estabelece que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada; - No caso concreto, o apelado participou do curso por somente 2 meses, sendo o valor total do mesmo de R$ 18.528,00 para o período de duração de 05/04/2013 a 13/12/2014; - Logo, a exigência da multa rescisória de 20% sobre o valor total das parcelas vincendas se mostra deveras abusiva, ferindo a legislação do consumidor diante da flagrante ofensa ao art. 51, IV do CDC; - Tal vantagem excessiva trazida pela cláusula em questão não se mostra viável e atenta aos preceitos da boa-fé e equidade contratuais; - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJ-AM 06048868020158040001 AM 0604886-80.2015.8.04.0001, Relator: Ari Jorge Moutinho da Costa, Data de Julgamento: 28/06/2018, Segunda Câmara Cível). 6.2 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS No âmbito da proteção contratual, outro assunto muito importante e que está diretamente relacionado a muitas práticas comerciais são os empréstimos e financiamentos. A Lei nº 8.078, de 1990, estabelece no artigo 52 algumas regras específicas para o fornecimento de produtos e serviços que envolva a outorga de crédito ou concessão de financiamentos. 33 Assim, inicialmente, o caput do artigo 52 detalha as informações mínimas que devem ser apresentadas ao consumidor antes da contratação. Vejamos: Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento. [...] (BRASIL, 1990). A ideia básica é que o consumidor deve ter completa noção do custo do empréstimo, com juros e taxas embutidos. Somente conhecendo o preço total do empréstimo pode-se realizar uma decisão consciente sobre a aquisição do bem mediante crediário. Deve ser apresentada a informação adequada e completa sobre o empréstimo, incluindo a forma de cálculo de reajuste das prestações e o impacto no orçamento familiar, o que é fundamental para a decisão do consumidor, inclusive para evitar situações de superendividamento. É importante que os fornecedores, além de informar, aconselhem os consumidores sobre todos riscos do contrato. Embora seja a taxa de juros a principal componente do preço do empréstimo, todos os gastos oriundos, direta e indiretamente, do contrato devem ser claramente informados. Com as informações, principalmente “soma total a pagar com esem financiamento”, pode o consumidor decidir, efetivamente, sobre os benefícios e diferenças do pagamento à vista ou a prazo. No entanto, é notório que alguns bancos omitem indevidamente os demais custos constantes do contrato. 6.3 PRÁTICAS ABUSIVAS O Código de Defesa do Consumidor vislumbra o equilíbrio das relações de consumo. Para alcançar tal equilíbrio, optou-se por regular a proteção ao consumidor no que tange à formação do contrato e a sua execução. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 34 Práticas abusivas são práticas comerciais, comportamentos ilícitos, que afrontam a principiologia e a finalidade do sistema de proteção ao consumidor, bem como se relacionam com o abuso do direito. Dentre os princípios inerentes à relação de consumo, destacam-se o princípio da transparência, o princípio da boa-fé, o princípio da equidade (ou equilíbrio contratual) e o princípio da confiança. Cada princípio, ao ser violado, tem correspondência com alguma prática comercial abusiva, como veremos a seguir. O CDC estabelece, nos artigos 39, 40 e 41, uma série de práticas comerciais que o legislador considera como abusivas. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: 1. Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. A venda quantitativa consiste na exigência de o consumidor adquirir em quantidade maior ou menor do que aquela de que necessita. Alguns fornecedores cuidam para que os seus anúncios mencionem a quantidade de peças que têm em estoque com o fito de cumprir o artigo 39, inciso II, do CDC. Pela costumeira ocorrência da venda casada, o tema será abordado em tópico próprio. 2. Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes. 3. Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço, inclusive às amostras grátis. Como exemplo pode-se citar o envio, sem solicitação prévia, de cartão de crédito ao consumidor. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10602881/artigo-39-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10602816/inciso-ii-do-artigo-39-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 35 RECURSO ESPECIAL- CONSUMIDOR- AÇÃO CIVIL PÚBLICA- ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO – PRÁTICA COMERCIAL ABUSIVA – ABUSO DE DIREITO CONFIGURADO. 1- O envio do cartão de crédito, ainda que bloqueado, sem pedido pretérito e expressa do consumidor, caracteriza prática comercial abusiva, violando frontalmente o disposto no artigo 39, III, do CDC. Recurso Especial provido. (STJ – RESP 1.199.117/SP – rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino – 3ª T. – j. 18.12.2012 – DJe 04.03.2013. 4. Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; É o caso de idosos que sofrem inúmeros descontos abusivos por parte dos bancos em suas aposentadorias, a fim de amortizar as parcelas de um empréstimo. 5. Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 6. Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; 7. Repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; 8. Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); 9. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; 10. Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; É a situação, por exemplo, da pessoa de aparência humilde que vai a uma concessionária com o objetivo de comprar um carro de luxo e o vendedor, acreditando ser ele pobre, recusa a venda. 11. Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. É o que ocorre, por exemplo, quando um alimento é vendido por determinado preço em um supermercado e, no dia seguinte, o preço é aumentado absurdamente. 36 12. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. 13. Aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. 14. Permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. 6.3.1 Venda casada A venda casada é uma prática comercial proibida pelo artigo 39, inciso I, do CDC, que consiste na venda de produtos ou serviços sob a obrigatoriedade da aquisição de outros. É uma das ilegalidades mais frequentes em estabelecimentos comerciais e instituições financeiras. De acordo com esse dispositivo legal: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; [...] (BRASIL, 1990). As vendas casadas também podem acontecer de maneira oculta, isto é, quando uma pessoa adquire um produto e um serviço adicional não informado que é embutido no valor pago. Essa prática é muito comum, por exemplo, na compra de passagens e obtenção de crédito em bancos. CONSUMAÇÃO MÍNIMA EM BARES, RESTAURANTES E CASAS NOTURNAS Este é provavelmente um dos mais famosos exemplos de venda casada. Nenhum consumidor deve ser obrigado a consumir o que não deseja dentro de um estabelecimento. Por isso, a consumação mínima em qualquer circunstância é uma prática ilegal. 37 CONSUMO DE ALIMENTOS NO CINEMA O Superior Tribunal de Justiça estabelece que nenhuma empresa de cinema é autorizada a impedir a entrada de clientes com alimentos comprados em outros estabelecimentos. Em prática de venda casada muito comum, as pessoas eram comumente obrigadas a comprar pacotes de pipoca por preços elevados dentro dos cinemas. Nesse sentido, no julgamento do Recurso Especial nº 1.331.948, o ministro relator, Villas Bôas Cueva, destacou em seu voto que a conduta da empresa de cinemas violou, mesmo que indiretamente, o artigo 39, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor. De acordo com o magistrado: Ao compelir o consumidor a comprar dentro do próprio cinema todo e qualquer produto alimentício, a administradora dissimula uma venda casada e, sem dúvida alguma, limita a liberdade de escolha do consumidor, o que revela prática abusiva: não obriga o consumidor a adquirir o produto, porém impede que o faça em outro estabelecimento [...]. A venda casada, ainda de acordo com a lição do supracitado magistrado, “ocorre, na presente hipótese, em virtude do condicionamento a uma única escolha, a apenas uma alternativa, já que não é conferido ao consumidor usufruir de outro produto senão aquele alienado pela empresa”. COMPRA DE PASSAGENS COM HOSPEDAGENS E PASSEIOS: O STJ também entende a venda de passagens e serviços de hospedagem, passeio e seguro de maneira conjunta
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