Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo P R O D U Ç Ã O : V I T O R D A N T A S P R O D U T O R V E R I F I C A D O D O P A S S E I D I R E T O e Lipólise Vitor Dantas - METABOLISMO TUTORIA 05/SESSÃO 06 OBJETIVOS: → Explicar a lipogênese e lipólise → Explicar beta oxidação ↪ Explicar a lipogênese e lipólise Após a digestão e absorção dos carboidratos, o monossacarídeo (glicose) é transportado pelo GLUT até a célula. Com isso, a glicose vai ser fosforilada pela hexoquinase, dando origem a Glicose 6P. É importante ressaltar que a Glicose 6P tem como caminho principal a glicólise, visando fabricar ATP. Entretanto, existem rotas alternativas que essa molécula pode seguir, como a via das pentoses e a formação de glicogênio. Caso os níveis de ATP estejam altos a enzima isocitrato desidrogenase será inibida, assim, o citrato vai seguir um novo caminho que é q síntese de ácidos graxos. Um ponto interessante é que o produto da via das pentoses, o NADPH, tem papel imprescindível para a formação da cadeia do ácido palmítico, o que demonstra a ligação direta entre as diferentes rotas que a Glicose 6P pode seguir. Um sistema de complementação e retroalimentação que faz com que as reações do metabolismo estejam interligadas. Lipogênese: A lipogênese é o processo de síntese endógena de ácidos graxos. A principal fonte a partir da qual o organismo sintetiza ácidos graxos são os carboidratos, quando estão na forma de acetil CoA. Adotando-se dietas ricas em carboidratos, o excesso de glicose é convertido em glicogênio no fígado, quando na presença da insulina. Como esse armazenamento é limitado, a glicose entra para a via das pentoses-fosfato ou para a via glicolítica, quando na presença do glucagon. O piruvato, produto dessa via glicolítica, é convertido em acetil CoA, por meio do complexo da piruvato desidrogenase (reação irreversível). Dessa forma, com uma ingestão elevada de carboidratos, o fígado passa a produzir grandes demandas de ATP via Ciclo de Krebs. Esse ATP, quando produzido em grandes quantidades, atua como modulador negativo do ciclo de Krebs, pois inibe a enzima isocitrato desidrogenase. Começa então a haver um acúmulo de isocitrato na mitocôndria e, consequentemente, acúmulo de citrato, uma vez que a reação citrato → isocitrato é reversível. Esse citrato acumulado sai da mitocôndria e, no citoplasma, sofre ação da enzima citrato liase e, com gasto de energia, forma o oxaloacetato e acetil CoA, usando para isso uma CoA-SH. É a partir desse Acetil CoA, no citoplasma, que o organismo sintetiza ácidos graxos e colesterol. Além da possibilidade de entrar no Ciclo de Krebs, o Acetil- CoA é o precursor na síntese de lipídios. E é justamente esta reação de conversão do piruvato a acetil-CoA que determina a impossibilidade dos animais de fazer o inverso: a conversão de lipídios em carboidratos não é possível dada a irreversibilidade desta reação. Os animais não possuem qualquer forma de sintetizar carboidratos partindo de um número de carbonos inferior a 3. OBS: O oxaloacetato presente no citoplasma, após a conversão de citrato em OAA e em acetil CoA, sofrerá uma redução, se convertendo em malato, que por meio da enzima málica, o converte em piruvato, gerando NADPH. A síntese de ácidos graxos requer uma grande quantidade de NADPH, cuja fonte é oriunda da Via das PentosesFosfato, como já foi visto, e por meio dessa conversão do malato em piruvato. Para que haja síntese de ácidos graxos, é essencial um correto funcionamento da via das pentoses fosfato: uma molécula de ácido graxo com 16 carbonos, por exemplo, requer 14 moléculas de NADPH para sua formação. Biossíntese dos ácidos graxos: Para que haja síntese de ácidos graxos, é necessário a presença de dois compostos fundamentais: o acetil CoA e malonil CoA. Este, é sintetizado a partir da própria acetil CoA. • Carboxilação da Acetil-CoA para formar Malonil-CoA. A primeira reação que ocorre com o Acetil CoA no citoplasma é a sua carboxilação, pela ação da enzima Acetil CoA Carboxilase (dependente do co-fator biotina). Como a acetil CoA tem apenas 2 carbonos, ela recebe um carbono de íons bicarbonatos para formar o malonil CoA. Vitor Dantas - METABOLISMO •A síntese de ácidos graxos no organismo ocorre no citoplasma, a partir de duas substâncias primordiais: acetil CoA e Malonil CoA. Essa biossíntese é realizada a partir de um complexo enzimático chamado de Acido Graxo Sintetase. Esse complexo consiste em um conjunto de enzimas com múltiplas atividades, apresentando dois sítios principais e distintos, cada um com seu grupo sufidrila. No sítio 1, em que a sufidrila se liga ao aminoácido cisteína (Cys), liga-se um radical acila com qualquer quantidade de carbonos. No sítio 2, em que a sufidrila se liga a uma proteína carreadora de acila (PCA) e ao ácido pantodêmico, liga-se sempre um malonil CoA. Dos radicais acila, o mais simples é o acetil, que tem apenas 2 carbonos. • Inicialmente, a acetil CoA se liga no sítio ativo 1 e, no sítio ativo 2, liga-se o malonil CoA. • A primeira reação propriamente dita é uma reação de condensação, em que a acetil CoA se condensa com a malonil CoA por meio da ação da enzima cetoacil sintase. Nessa reação, há a liberação de um carbono, formando, assim, uma cetona de 4 carbonos no sítio 2. • O próximo passo é a redução da cetona do sítio 2 pela enzima cetoredutase, formando um álcool. Nessa reação, é utilizado a primeira molécula de NADPH (reduzido), liberando ao final um NADP+ (oxidado). • Esse álcool passa por uma desidratação, por meio da enzima desidrase, ocorrendo a liberação de H2O e a formação de uma insaturação entre os cabonos 2 e 3. • Acontece agora, o ultimo passo de um primeiro ciclo: o composto do sítio 2 passa por mais uma redução por meio da enzima enoil redutase, formando assim um composto acil com 4 carbonos, ou seja, um ácido graxo inicial de 4 carbonos. Nessa reação, tem-se a utilização da segunda molécula de NADPH. •Em seguida, a enzima tioesterase transfere esse grupo acil que estava no sítio 2 para o sítio 1. Deixando livre o sítio ativo 2, uma nova molécula de malonil CoA pode se ligar ao seu grupo sufidrila para iniciar um novo ciclo (condensação, redução, desidratação, redução) para que seja adicionado mais dois carbonos a esse grupo acil, até formar um novo grupo acil, agora com 6 carbonos. • Esse ciclo se repete, a partir da ação da enzima tioesterase (que libera o sítio 2), até a formação de um ácido graxo par do qual o organismo necessita no momento. A cada ciclo, ocorre a adição de 2 carbonos ao ácido graxo, o gasto de 2 moléculas de NADPH e 2 moléculas de ATP: uma para formar acetil CoA a partir de citrato e outra para formar malonil CoA apartir de do acetil CoA. OBS: Perceba que a biossíntese dos ácidos graxos a partir do acetil CoA forma apenas ácidos graxos com um número par de carbonos. OBS3: Na lipogênese, há duas grandes fontes de NADPH: a via das pentoses fosfato e a enzima málica (converte o malato em piruvato). Essas duas fontes garantem a produção citosólica do potencial redutor necessário aos processos de lipogênese. Elongases A partir de um ácido graxo pré-formado, esse complexo o alonga (depois de condensar, reduzir, desidratar e reduzir novamente uma molécula de malonil CoA) em 2 carbonos esse ácido graxo pré-existente. Desnaturares As desnaturases são enzimas insaturadoras que têm a capacidade de acrescentar duplas ligações aos carbonos 9, 5, 5 e 4. Com isso, apenas o ácido oléico , dos ácidos graxos insaturados, pode ser sintetizado diretamente pelo corpo (sendo assim classificado de ácido graxo não-essencial). Síntese do ácido graxo palmítico (16c) O principal ácido graxo produzido pelo organismo é o ácido palmítico (16C). A síntese do ácido hexadecanóico (palmítico, 16:0) envolve sete ciclos enzimáticos. A síntese Vitor Dantas - METABOLISMO teminício a partir da malonil-CoA, mas a cadeia do ácido graxo crescente está ligado a uma proteína carreadora de acila (PCA). Em cada ciclo da reação a PCA é recarregada com um grupo malonil e a cadeia acil cresce em dois carbonos. Após sete ciclos, o palmitoil-PCA é hidrolisado, formando o palmitato. Durante todos esses ciclos, ao se formar um ácido graxo com 16 carbonos, foi utilizado 14 moléculas de NADPH. A enzima tioesterase ativa e libera o palmitoil CoA e, no fígado, se esterifica com o glicerol, formando os triglicerídios endógenos. Estes se associam com a proteína Apo B100, formando o VLDL, que será exportada pelo fígado para ser armazenada no tecido adiposo (ver mais adiante: Armazenamento e destino dos triacilglicerois). Alongamento e desnaturação dos ácidos graxos Embora o palmitato, um ácido graxo saturado de 16 carbonos, seja um produto final da síntese dos ácidos graxos, ele pode ser convertido em ácidos graxos de cadeia mais longa (alongamento) ou em ácidos graxos insaturados (desnaturação), por processos enzimáticos separados. As enzimas elongases e desnaturasses estão presentes na mitocôndria e no retículo endoplasmático, respectivamente. Observe que a formação do linoleato (ácido linoleico ω-6) só ocorre em vegetais, bem como a formação do α-linolenato (ácido linolênico ω-3). Por isso, que esses ácidos graxos são considerados essenciais e devem ser ingeridos pela via dieta. Já o oleato (ácido oléico ω-9) pode sim ser adquirido via biossíntese, sendo assim classificado como um ácido graxo não essencial à dieta. Regulação da lipogênese O principal hormônio que ativa todo esse processo anabólico é a insulina. Quando a glicemia está alta, a insulina é liberada, inibindo a glicogenólise e estimulando a glicogênese e a lipogênese. Isso ocorre pois, sob o efeito da insulina, os níveis de fosforilação estão diminuídos. Assim, e enzima que transforma acetil em malonil está mais ativa (acetil carboxilase), pois está no seu estado desfosforilado. • A presença de glucagon, AMP, epinefrina ou palmitil CoA inibe a síntese de ácidos graxos. • A lipogênese tem duas formas de regulação: A curto prazo: ocorre pelos níveis de fosforilação/desfosforilação das enzimas. Níveis de concetração das enzimas lipogênicas: a insulina induz no fígado uma síntese aumentada das enzimas da lipogênese, como por exemplo, o complexo ácido graxo sintetase. Esse complexo tem uma vida útil muito longa. OBS: O tecido adiposo é um dos tecidos que apresentam menores taxas de apoptose, ou seja, o nível de morte celular programada é baixo. Isso tem efeito significativo nas dietas alimentares visando o emagrecimento, visto que deve haver um controle rigoroso no consumo de carboidratos por em média 2 a 3 anos – tempo necessário para haver destruição dos adipócitos. Armazenamento e destino dos triacilglicerois Os triacilglicerois são armazenados na forma de gotas oleosas no tecido adiposo, constituindo as principais reservas de energia do corpo. • No tecido adiposo: o triacilglicerol é armazenado no citosol das células adiposas, sendo prontamente mobilizado quando o corpo necessita de combustível. • No fígado: pouco triacilglicerol é armazenado no fígado, sendo a maior parte exportada junto com o colesterol, ésteres de colesterol e fosfolipídeos e proteína apo B-100, para formar partículas de VLDL (lipoproteínas de muita baixa densidade). As VLDL são secretadas na corrente sanguínea, conduzindo os lipídeos recémsintetizados aos tecidos periféricos. OBS: No caso de alcoolismo crônico ou em dietas cetogênicas e ricas em carboidratos, triglicerídios vão ser armazenados com maior intensidade no fígado, causando o esteatose hepática (fígado gorduroso, o que já constitui um certo grau de lesão hepática). OBS6: A lipogênese é o processo de sintese de ácidos graxos no citoplasma. Nesse processo, destaca-se o tecido hepático e, durante a lactação, também o tecido mamário. A principal fonte desencadeadora desse processo é o excesso de carboidratos, na forma de acetil CoA. Lipólise: A lipólise consiste no processo de obtenção de energia a partir dos triglicerídeos, por meio da oxidação dos ácidos graxos. Com a síntese dos ácidos graxos e seu armazenamento, eles agora podem servir como fonte de energia caso haja uma necessidade energética, sendo eles metabolizados pelo sistema da β-oxidação. Os lipídios constituem a maior fonte de energia para o nosso organismo, com destaque para os ácidos graxos. Porém, a glicólise é imprescindível para os eritrócitos e células do SNC. O processo de lipogênese, ou seja, a armazenagem de carbono na forma de triglicerídeo (TGL), é mediado pela insulina. Quando a glicemia e a oferta de carboidratos exógena diminuem, estimula-se a liberação do glucagon, que tem função glicogenolítica, em nível de tecido hepático. Como a reserva de glicogênio é baixa, para manter a glicemia, o fígado começa a realizar a gliconeogênese. E para que ocorram essas vias, é necessário o fornecimento de energia, função esta garantida pelo metabolismo dos ácidos graxos. No adipócito, rico em TGL estocado, o glucagon liga-se ao seu Vitor Dantas - METABOLISMO receptor, formando o AMPc como segundo mensageiro. Este então, ativa a PKA, fazendo fosforilar uma lipase no interior do adipócito. Essa lipase começa a degradar os TGL armazenados, liberando então, ácidos graxos livres para o sangue. Enzimas triacilglicerol lipases • Lipase pancreática: (suco pancreático) digestão dos triacilgliceróis da dieta, com especificidade para ésteres primários. • Lipase endotelial: ativada pela apo CII e degrada os TGL das lipoproteínas. • Lipase sensível ao hormônio: (adipócitos) mobilização das gorduras, sendo estimulado pela fosforilação do glucagon. Os ácidos graxos livres são distribuídos para os tecidos servindo como fonte de energia. Os hormônios glucagon e epinefrina, secretado em respostas a níveis baixos de glicose no sangue, ativam a adenilato ciclase presente na membrana plasmática do adipócito, aumentado a concentração intracelular de AMPc. O AMPc fosforila uma proteína quinase dependente de AMPc. Deste modo, a enzima lipase de triacilglicerol sensível a hormônio é ativada hidrolisando os triacilglicerol em ácido graxo e glicerol. •Lipase ácida: (lisossomos) catabolismo intracelular das lipoproteínas presentes nos lisossomos. •Lipoproteína lipase: (capilares) hidrólise dos triacilglicerois das lipoproteínas • Lipase hepática: (fígado) catabolismo de lipoproteínas. Hidrólise do triaciglicerol O passo inicial da lipólise consiste na hidrólise dos triglicerídios, formando glicerol e três moléculas de ácidos graxos. A degradação dos ácidos graxos representa uma energia 2,5 vezes maior que a energia liberada pela glicose, ou seja, é de 9cal/g de lipídios. Ácido graxo Ácidos graxos são ácidos monocarboxílicos de cadeia normal que apresentam o grupo carboxila (COOH) ligado a uma longa cadeia alquílica, saturada ou insaturada. Como nas células vivas dos animais e vegetais os ácidos graxos são produzidos a partir da combinação de acetilcoenzima A, a estrutura destas moléculas contém números pares de átomos de carbono. Mas existem também ácidos graxos ímpares, apesar de mais raros. A numeração dos ácidos graxos é feita a partir do carbono do grupo carboxila, com numeração crescente até o grupo metil. Funções dos ácidos graxos Utilizados como fonte de energia. Componentes dos fosfolipídeos. São armazenados na forma de triglicerídeos. Destino dos ácidos graxos Os ácidos graxos livres (AGL), aqueles que foram hidrolisados do glicerol do TGL, são liberados na corrente sanguínea, onde se ligam à albumina (por serem hidrofóbicos) para ser transportados para os músculos esqueléticos, coração e córtex renal. A albumina, além de uma importante função na manutenção da pressão coloidosmótica, ela transportaácidos graxos (hidrofóbicos) livres para distribuí-los aos tecidos. Como a membrana das células é lipoprotéica, os ácidos graxos passam para o interior da célula por simples difusão. Destino do glicerol O glicerol liberado, é transportado através do sangue até o fígado onde é fosforilado pela glicerol cinase, formando glicerol-3-fosfato. Ele pode ser oxidado para formar triacilglicerol no fígado ou pode ser oxidado a diidroxiacetona fosfato, e convertido a gliceraldeído 3- fosfato (pela triose fosfato isomerase), entrando na via glicolítica. OBS: O tecido nervoso, as hemácias e a medula adrenal não podem utilizar os ácidos graxos livres plasmáticos como fonte de energia – utilizam apenas a glicose. OBS: Apenas o glicerol dos TGL são gliconeogênicos, pois os ácidos graxos formam acetil CoA, e esta, para formar piruvato, deveria passar por uma reação reversível, o que não acontece: a formação de acetil CoA a partir de piruvato por meio do complexo da piruvato desidrogenase é uma reação irreversível ↪ Explicar a beta oxidação A β-Oxidação é a quebra de ácidos graxos para obtenção de energia. O glucagon estimula a ação da enzima lipase sensível ao hormônio, hidrolisando triglicerídios (armazenados no tecido adiposo) em ácidos graxos, que se Vitor Dantas - METABOLISMO ligam a albumina para serem transportados pelo sangue (por serem hidrofóbicos). A degradação dos ácidos graxos é necessária tanto para fornecer ATP para que ocorra a gliconeogênese, como também para fornecer energia pela própria degradação dos AG. Em outras palavras, o catabolismo dos ácidos graxos ocorre na mitocôndria é denominado de β-oxidação, na qual fragmentos de 2 carbonos são sucessivamente removidos da extremidade carboxílica da acilCoA, produzindo acetilCoA. No entanto, os ácidos graxos livres provenientes da corrente sanguínea que entram no citosol das células (são permeáveis na membrana plasmática), não podem passar diretamente para o interior da mitocôndria, sendo necessária uma série de três reações. No citosol, os ácidos graxos são convertidos em acil-CoA graxo pela tiocinase (acil-CoA graxo sintetase). A membrana mitocondrial interna é impermeável a moléculas grandes e polares como a CoA. Deste modo, a acilCoA graxo se liga a carnitina, formando acil-carnitina graxo, que é transportado para a membrana mitocondrial interna, por um transportador específico chamado carnitina-acil transferase I. Na matriz mitocondrial, o grupo acil-carnitina se liga a outra molécula de acetil-CoA, regenerando a acil-CoA graxo, que é oxidado por um conjunto de enzimas existente na matriz mitocondrial. OBS3 : O metabolismo dos AG é assim chamada – β-oxidação – devido à quebra sucessiva da ligação entre os carbonos α (segundo carbono, ligado ao grupo carboxila) e β (terceiro carbono) da cadeia do AG. A β-oxidação ocorre por meio de duas etapas: (1) ativação dos ácidos graxos e (2) β-oxidação propriamente dita. Ativação dos ácidos graxos Por ser hidrofóbico, o AG atravessa a membrana plasmática passivamente. Ao entrar no citoplasma, ele sofre uma ativação (bem como ocorre com a glicose, que quando entra na célula, sofre uma fosforilação para ser aprisionada). A ativação do AG é o processo de incorporação de CoA-SH à sua estrutura (ainda no citosol) para a sua futura entrada na mitocôndria. Nesse processo, há um gasto de 2 ATPs independetemente do tamanho da cadeia do AG, formando um acil-CoA (o termo acil é designado para AG com número indeterminado de carbonos) por meio da enzima acil-CoA sintetase (tiocinase). A acil-CoA não é permeável à membrana mitocondrial interna. Para o seu transporte para a matriz dessa mitocôndria, a acil-CoA se liga ao aminoácido carnitina, formando o coposto acil-carnitina, liberando a CoA-SH. A canitina é incorporada ao acil-CoA por meio da enzima Carnitina Acil Transferase I, presente na camada externa da membrana mitocondrinal interna. A acil-carnitina entra na matriz mitocondrial por simporte, em troca da carnitina (que atravessará mais acil-Coa). Essa carnitina é resultado da reação inversa realizada pela enzima Carnitina-Acil Transferase II, presente na camada interna da membrana mitocondrial interna, em que há produção de acil-CoA e carnitina a partir da Acil-Carnitina que entrou na matriz. Estando formada a Acil-CoA na matriz mitocondrial, esta irá sofrer metabolismo por meio da β-oxidação. OBS4 : Quando há uma deficiência de carnitina, não há degradação dos lipídios, uma vez que eles não serão transportados por intermédio dela até a matriz mitocondrial. OBS5 : O suprimento de carnitina emagrece por aumentar a degradação dos lipídios. Β-Oxidação Após a ativação do AG, formando acil-CoA, que é carreado para dentro da matriz mitocondrial por intermédio da carnitina, ele vai sofrer a β-oxidação propriamente dita em quatro etapas iniciais: Inicialmente, a acil-CoA, que entrou na matriz mitocondrial carreado pela carnitina, vai sofrer uma desidrogenação entre o carbono α e β, produzindo uma insaturação entre esses dois carbonos, reduzindo uma molécula de FAD. Essa reação é catabolizada pela enzima acil- CoAdesidrogenase. Essa nova molécula, a trans-∆²-enoil-CoA, sofre uma hidratação por meio da enzima enoil- CoAhidratase. Um hidrogênio da água se liga ao carbono α e a hidroxila se liga ao carbono β, formando um álcool. Em seguida, o álcool (3-L-Hidroxiacil-CoA) sofre uma oxidação em que uma molécula de NAD é reduzida, por meio da enzima 3-L-Hidroxiacil-CoA desidrogenase. Dessa oxidação, forma-se uma cetona no carbono β. Essa cetona (β-acil-CoA) é quebrada pela enzima β- acil-CoA tiolase, formando acetil CoA e um composto acil com dois carbonos a menos. Este volta ao início para sofrer as quatro reações, produzindo novamente outra molécula de acetil CoA e outro composto acil com dois carbonos a menos (quatro a menos, quando em relação ao primeiro). Percebe-se então que, a cada βoxidação, há a formação de FADH2, NADH2 e Acetil CoA (cujo destino será o ciclo de Krebs) e uma nova molécula de AG com dois carbonos a menos que a quantidade inicial. Caso a β-oxidação fosse do ácido palmítico (16C), por exemplo, ele sofreria 7 Vitor Dantas - METABOLISMO βoxidações. Com isso, tem-se o seguinte rendimento (vide a baixo): Oxidação de ácidos graxos de cadeia ímpar Os ácidos graxos saturados com um número ímpar de carbono são oxidados pela mesma via de oxidação dos ácidos graxos pares. Os três carbonos finais formam o propianil CoA (C3), que é metabolizado através de 3 etapas, formando o Succinil-CoA, que também é intermediário do ciclo de Krebs. Oxidação de ácidos graxos insaturados Ácidos graxos insaturados são degradados normalmente pela β-oxidação até aparecer a primeira insaturação (dupla ligação) na forma Cis. Nesse momento, há apenas uma reação para converter essa insaturação na forma Cis para a forma Trans, continuando, a partir daí, a β-oxidação. Isso acontece porque alguma das enzimas envolvidas na β- oxidação tem capacidade apenas de quebrar ligações trans. Caso o AG seja insaturado na forma trans, haverá βoxidação normal com a ausência da 1ª reação (desidrogenação pela desidrogenase), causando uma carência de uma molécula de FAD reduzido (FADH2 2 ATPs). Α-Oxidação dos ácidos fitânicos de cadeias ramificadas O ácido fitânico é um composto instaturado com 15 carbonos presente no fitol das verduras, vegetais em geral, estando presente também, na carde de gado e no leite. No sangue, sua concentração é desprezível de tão pequena. O ácido fitânico é constituído, ao longo de sua cadeia, por grupos metil em que o primeiro está na posição β, impedindo a β-oxidação. A degradação do ácido fitânico dá- se primeiramente por meio da α-oxidação: a enzima α- hidroxilase ocorre a formação de CO2 com participação do carbono α, o que transfere o grupo metil, automaticamente, para um novo carbonoα, deixando o carbono β livre para sofrer β-oxidação. A degradação do ácido fitânico fornece, alternadamente, uma molécula de propionil CoA e de acetil CoA. OBS : Indivíduos com deficiência na enzima α-hidroxilase, apresentará um acúmulo de ácido fitânico no sangue, o que não é o padrão normalidade. Este acúmulo causa a Doença de Refsum, quadro caracterizado por retinite pigmentosa (degeneração da retina, causando baixa acuidade visual) e ataxia (perda da coordenação motora). O tratamento é feito por meio de uma exclusão dos derivados de leite e vegetais da dieta. O excesso de ácido fitânico no sangue, que persiste mesmo com a dieta, passa a ser quebrado pela ω-oxidação (degradação da extremidade oposta à carboxila). Biossíntese e utilização dos corpos cetônicos O excesso de acetil CoA vai ocasionar a formação de corpos cetônicos. A acetil CoA formada na oxidação dos ácidos graxos só entra no ciclo do ácido cítrico se a degradação de lipídeos e carboidratos estiverem equilibradas. A entrada da acetil CoA no ciclo do ácido cítrico, depende da disponibilidade de oxaloacetato para formar citrato. No entanto, durante o jejum prolongado, ou diabetes, o oxaloacetato é usado pela via da gliconeogênese para formar glicose. Deste modo, o acetil CoA em excesso forma corpos cetônicos (acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona). A formação de corpos cetônicos se inicia com a condensação de duas moléculas de acetil CoA, formando acetoacil-CoA, por meio da enzima tiolase. Em seguida, outra molécula de acetil CoA é adicionada ao acetoacil-CoA, formando o β-hidroxi-β-metil-glutaril-CoA (HMG-CoA), que sofre ação da hidroximetilglutaril-CoA liase, formando os corpos cetônicos: acetoacetato e acetil CoA. A partir deste acetato, será formado a acetona (formada por uma descarboxilação espontânea do acetoacetato), que representa outro corpo cetônico, e o β-hidroxi-butirato Vitor Dantas - METABOLISMO (formado pela oxidação do acetoacetato por meio do NAD em uma reação reversível). Formação da β-hidroxibutirato: O acetoacetato pode ser reduzido a β-hidroxibutirato pela β- hidroxibutirato desidrogenase em uma reação reversível. O β-hidroxibutirato é considerado mais energético que o acetoacetato pois, quando a reação ocorre no sentido contrário, há a formação de NADH (3 ATPs). Formação da acetona: O acetoacetato sofre descarboxilação não-enzimática produzindo acetona e CO2. Um indivíduo com cetose, uma condição patológica na qual o acetoacetato é produzido mais rapidamente do que pode ser metabolizado (jejum prolongado, diabetes), passa a apresentar hálito com odor adocicado, característico de acetona, que é liberada pela respiração por ser volátil. OBS: Dentre os três tipos de corpos cetônicos, apenas a acetona não vai ser encontrada no sangue por ser volátil, sendo eliminada pela expiração, o que causa hálito característico da cetoacidose. Logo, a acetona não é utilizada na produção de energia, diferentemente do β- hidroxibutirato e do acetoacetato. OBS: Produção excessiva de corpos cetônicos no diabetes mellitus (tipo I): Quando a velocidade de formação dos corpos cetônicos é maior que a velocidade de sua utilização, ocorre uma elevação em seus níveis sanguíneos Arlindo Ugulino Netto – BIOQUÍMICA II – MEDICINA P2 – 2008.1 6 (cetonemia) e na urina (cetonúria). Essa condição ocorre em casos de jejum prolongado ou diabetes mellitus não controlado. Em indivíduos diabéticos com cetose severa, a excreção urinária de corpos cetônicos é bastante elevada. Uma elevação da concentração de corpos cetônicos no sangue resulta em acidemia. À medida que os corpos cetônicos circulam no sangue, ocorre a liberação de íons prótons (H+), resultando na diminuição do pH sanguíneo denominado acidose. Além disso, a excreção de glicose e corpos cetônicos pela urina resulta em desidratação. Portanto, o aumento de H+ pode causar uma acidose severa (cetoacidose). OBS: A cetoacidose é um quadro mais comum para pacientes acometidos de Diabetes tipo I devido a lipólise acelerada e ao acúmulo de corpos cetônicos e íons H+ no sangue desses pacientes, graças a falta de produção de insulina. A cetoacidose é rara nos pacientes de diabetes tipo II porque os adipócitos permanecem sensíveis a insulina (que inibe a lipólise). Utilização de corpos cetônicos pelos tecidos periféricos • O fígado libera acetoacetato e β-hidroxibutirato, que são transportados pela corrente sanguínea aos tecidos periféricos para serem usados como combustível alternativo. De fato, o músculo cardíaco e o córtex renal dão preferência ao acetoacetato sobre a glicose, para que a glicose seja apenas utilizada pelo cérebro. • Em indivíduos bem nutridos, com uma dieta equilibrada, o cérebro e as hemácias utilizam a glicose como única fonte de energia. No entanto, durante o jejum prolongado e em diabetes, o cérebro utiliza o acetoacetato como fonte de energia. O acetoacetato é convertido em duas moléculas de acetil-CoA pela ação da CoA transferase específica, que podem entrar no ciclo do ácido cítrico. • Os animais são incapazes de transformar ácidos graxos em glicose. Ao entrar no ciclo do ácido cítrico, a acetilCoA é consumida liberando duas moléculas de CO2. Por isso, nos animais, a acetil-CoA ao entrar no ciclo do ácido cítrico não pode ser transformado em piruvato ou oxaloacetato. OBS: O SNC não utiliza ácidos graxos para produção de energia por serem muito pouco permeáveis à barreira hematoencefálica. Já os corpos cetônicos, por serem moléculas pequenas, podem ser utilizados como fonte de energia para o sistema nervoso e muscular. OBS: O cérebro utiliza o corpo cetônico β-hidroxibutirato como fonte de energia transformando-o novamente em acetoacetato, que reage com o succinil CoA, formando succinato + acetil CoA. CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS Doença de Refsum Distúrbio neurológico raro causado pelo acúmulo de ácido fitânico no sangue. O ácido fitânico é formado a partir do fitol, um constituinte da clorofila, encontrado em plantas comestíveis. O ácido fitânico possui um grupo metila no carbono 3 (beta), que bloqueia a β-oxidação. Normalmente uma α–oxidação remove o grupo metila. Indivíduos com a doença de Refsum apresenta deficiência da enzima α- hidroxilase, resultando no acúmulo de ácido fitânico no sangue. Importância clínica: retinite pigmentosa, perda da audição, catarata e arritimia
Compartilhar