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1- ENTENDER O CICLO MENSTRUAL E SUAS ALTERAÇÕES; O ciclo menstrual nada mais é do que um processo cíclico decorrente da secreção alternada de quatro principais hormônios: estrógeno e progesterona (secretados principalmente nos ovários), Hormônio Luteinizante (LH) e Hormônio Folículo Estimulante (FSH), os dois últimos, secretados pela hipófise. A hipófise é uma glândula endócrina situada na sela túrcica, cavidade óssea localizada na base do cérebro. No início de cada ciclo, quando a menstruação ocorre, há liberação hipofisária de pequenas quantidades de FSH e LH (pequenos pulsos), que juntos provocam o crescimento e amadurecimento dos folículos ovarianos. O crescimento destes folículos induz o aumento da produção de estrógeno. Este é secretado em uma taxa crescente, estimulando a proliferação endometrial, e atingindo o seu pico aproximadamente na metade do ciclo. A concentração alta de estrógeno inicialmente reduz o pulso de LH e FSH e, em seguida, provoca um aumento súbito – surto pré-ovulatório – destes dois hormônios, estimulando a ovulação (ruptura do folículo e liberação do óvulo). Após a ovulação, os elementos residuais do folículo rompido formam o desenvolvimento do corpo lúteo que secreta estrogênio e quantidades elevadas de progesterona com o objetivo de manter a gestação, até que a placenta possa assumir esta função. Observe o esquema abaixo de um ciclo menstrual normal, de 28 dias, mostrando as flutuações das concentrações hormonais sanguíneas (a) e (b) e os estágios de crescimento do folículo e do corpo lúteo (c), assim como as alterações do endométrio (d), no útero, durante o ciclo menstrual. https://www.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_II/modulo_II/referencia3.html https://www.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_II/modulo_II/referencia3.html https://www.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_II/modulo_II/referencia3.html https://www.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_II/modulo_II/referencia3.html A: liberação pulsátil do LH e do FSH; B: aumento da quantidade de estrógeno; C: redução dos pulsos de LH e FSH; D: surtos pré-ovulatórios de LH e FSH; E: estrógeno e grandes quantidades de progesterona secretados devido à ovulação; F: não havendo fecundação a concentração de estrógeno e progesterona caem. Não havendo fecundação os níveis de progesterona e estrogênio caem, provocando a diminuição da produção de LH e FSH, de modo que o corpo lúteo regrida – fase luteínica - reduzindo por sua vez a produção de progesterona e estrogênio e fazendo com que o endométrio descame, ocorrendo a menstruação e dando início a um novo ciclo. Uma síntese deste ciclo é apresentado sob a forma de diagrama na figura A.4. Diagrama do ciclo menstrual, mostrando a secreção alternada dos principais hormônios envolvidos no processo: LH, FSH, progesterona e estrógeno, quando não ocorre fecundação. A ovulação ocorre aproximadamente entre 10-12 horas após o pico de LH (reta tracejada vertical nas figuras A.3 (a) e (c)). De uma maneira geral, este período de tempo entre o pico de LH e a menstruação é de 14 dias. Considera-se período fértil (período em que a mulher está mais apta a engravidar) aquele que inicia três a quatro dias antes da ovulação e termina três a quatro dias após a ovulação. Normalmente, para fins de cálculos, considera-se o dia fértil (dia exato da ovulação) como sendo o 14º dia antes do início da menstruação seguinte. Quando, durante o ciclo menstrual, ocorre a fecundação, o embrião atinge o útero e a placenta secreta um hormônio chamado de hCG – Human chorionic gonadotropin – que impede a degeneração do corpo lúteo. Este tem a função de manter a produção de progesterona e estrógeno, hormônios críticos para a manutenção da gestação. A produção ovariana destes hormônios inibe a produção hipofisária de LH e FSH, impedindo o estímulo de novos folículos ovarianos e, consequentemente, a ovulação durante todo o período da gestação. Há assim um bloqueio do ciclo menstrual. No final da gravidez o corpo lúteo se desintegra, diminui a quantidade de progesterona, provocando a contração do útero que facilita a expulsão do feto durante o parto. Após o parto um novo ciclo menstrual se inicia, conforme é possível observar no diagrama da figura abaixo. Diagrama do ciclo menstrual, mostrando a secreção alternada dos principais hormônios envolvidos no processo: LH, FSH, progesterona e estrógeno, quando há fecundação. Vale lembrar que os hormônios gonadotrópicos, LH e FSH, secretados na hipófise, são produzidos tanto no homem quanto na mulher, mas agindo naturalmente, sobre diferentes órgãos. Os hormônios sexuais, progesterona e estrógeno, secretados pelas respectivas glândulas sexuais (ovários, nas mulheres e testículos, nos homens), também são produzidos por ambos os sexos quando estimulados pelos hormônios gonadotrópicos. No decorrer do ciclo menstrual (CM) os níveis dos hormônios sexuais, estrogênio e progesterona, apresentam uma regulação dinâmica. Sabe-se que durante o início do CM existem baixos níveis de estrogênio e progesterona; e que na fase folicular tardia, próxima à ovulação, há um pico nos níveis de estrogênio, seguido por outro pico de estrogênio e progesterona no meio da fase lútea. Ao longo dos últimos anos as variações desses hormônios sexuais femininos têm sido alvo de muitas pesquisas. Nesse sentido, a literatura reporta que a fisiologia feminina parece ser afetada por alterações hormonais cíclicas decorrentes do ciclo menstrual, no qual estrogênio e progesterona, além da regulação da função reprodutiva, apresentam ações sobre o sistema nervoso central (SNC). Estudos apontam que esses hormônios sexuais podem apresentar influência sobre os neurotransmissores como GABA, serotonina e glutamato, via ação nos receptores de membrana, sendo capazes de influenciar diferentes regiões cerebrais com alteração da percepção sensorial e respostas motoras. Em adição, sugere-se que o estrogênio e a progesterona apresentam influência sobre funções fisiológicas como a capacidade aeróbia e anaeróbia, alteração em tecidos moles, força muscular, propriocepção, coordenação neuromuscular e controle postural. Por exemplo, o estrogênio, além de atuar sobre o SNC, atua também no nível celular diminuindo a produção de colágeno nos tendões por atenuar a atividade fibroblástica. Dedrick et. al8 explicam que receptores de estrogênio estão presentes no músculo esquelético, o que pode alterar o controle motor e padrões de transmissão de força miofascial. Constantini et al.5 relatam que a progesterona apresenta efeito termogênico central, o que explica o aumento da temperatura corporal (de 0.3°C até 0.5°C) durante a fase lútea (FL) e, ainda nesta fase, pode melhorar a ventilação-minuto e resposta ao exercício máximo. Já Fridén et al.6 apontam que o aumento da progesterona durante a fase lútea, metabolizada em neuroesteroides como allopregnanolone e pregnanolone, pode explicar distúrbios de equilíbrio e da função motora nessa fase devido à ação sobre os receptores de GABA-A. 2- Compreender a sop (epidemiologia, fatores de risco, etiopatogenia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento); EPIDEMIOLOGIA A SOP é um dos distúrbios endócrinos mais comuns entre as mulheres. Em estudos populacionais, foi relatada uma média da prevalência da SOP entre mulheres em idade reprodutiva de aproximadamente 6%. Entre as mulheres anovulatórias, a prevalência da SOP é de cerca de 30%.7 É comum a irregularidade menstrual associada à SOP surgir antes dos 18 anos de idade. Os sinais de excesso de androgênios clinicamente significativo costumam se manifestar em seguida, contudo podem se sobrepor ao aparecimento da irregularidade menstrual. As adolescentes que apresentam menstruação irregular aos 16 anos de idade estão sujeitas a um risco aumentado de desenvolvimento de SOP, em especial quando são obesas ouapresentam níveis elevados de hormônio luteinizante (LH).8 O pico da incidência de SOP ocorre entre 18 e 30 anos de idade. Fatores étnicos e raciais, entre outros fatores populacionais, podem influenciar o fenótipo e a prevalência da SOP. Em um amplo estudo de coorte junto ao Kaiser Permanente (um sistema de assistência médica norte-americano), a prevalência da SOP entre mulheres na faixa etária de 25 a 34 anos foi de 2,6%. As mulheres com SOP foram mais propensas a obesidade, dislipidemia e diabetes. No grupo de pacientes com SOP, as afrodescendentes e hispânicas tenderam mais do que as brancos à obesidade, enquanto as asiáticas foram menos propensas a serem obesas do que as brancas. Nesta mesma coorte, as afrodescendentes foram mais propensas, e as hispânicas, menos propensas do que as brancos a serem hipertensas, enquanto as asiáticas e hispânicas tenderam mais do que as brancas a serem diabéticas. Em outro estudo, foi relatado que as mulheres norte-americanas com ascendência mexicana com SOP apresentaram maior índice de massa corporal (IMC) e níveis mais altos de insulina de jejum, quando comparadas às mulheres brancas com SOP. O risco de SOP varia de acordo com o país. Na Grécia (6,8%) e nos Estados Unidos (6,6%), por exemplo, a prevalência a SOP parece ser maior do que na Finlândia (3,5%).12 Nas populações que apresentam baixa média de IMC e baixa prevalência de DM, o risco de desenvolvimento de SOP provavelmente é menor. A história familiar constitui um fator de risco forte para o desenvolvimento de SOP. Além disso, entre as mulheres com esta condição, a existência de uma história familiar de diabetes representa um forte fator de risco para o desenvolvimento de comprometimento da tolerância à glicose e diabetes. O impacto da história familiar sobre o risco sugere que fatores genéticos exercem um papel importante na etiologia da SOP. FATORES DE RISCO Historia familiar de diabetes, pré diabetes, excesso de gordura abdominal (aumento do tamanho da cintura), inatividade física, hipertensão arterial, obesidade, mulheres que tiveram diabetes em sua gestação ou filhos com mais de 4 kg, uso de corticoides ETIOPATOGENIA A etiologia da SOP ainda não é completamente conhecida. Acredita-se que exista desordem multigênica complexa, incluindo anormalidades no eixo hipotálamo-hipofisário, esteroidogênese e resistência insulínica. Esteroidogênese anormal :A maioria dos autores considera que a esteroidogênese anormal, de origem ovariana ou adrenal, seja a desordem primária da SOP. Altas concentrações de testosterona circulante e dehidroepiandrosterona (DHEA) ocorrem em 60 a 80% e 20 a 25% das mulheres com SOP, respectivamente. Associado ao excesso de tais andrógenos, há, ainda, um aumento na produção de estradiol pelas células granulosas ovarianas Resistência insulínica: Na última década, tem-se observado que a maioria das mulheres com SOP apresenta algum grau de resistência insulínica, mesmo as não obesas. Estudos sugerem a existência de predisposição genética, a qual acaba se manifestando em decorrência do estilo de vida e obesidade. A hiperinsulinemia resultante da resistência insulínica determina um aumento tanto na produção dos andrógenos como no de sua porção biologicamente ativa. O mecanismo comum proposto para tal estaria relacionado a alterações nos receptores insulínicos e na enzima que regula a produção adrenal e ovariana de andrógenos.10 Os efeitos sistêmicos da hiperinsulinemia estão citados no quadro a seguir. Anormalidades na função pituitária: A desorganização na liberação das gonadotrofinas Hormônio Luteinizante (LH) e Hormônio Folículo Estimulante (FSH) pela pituitária têm sido implicada na patogênese da SOP. Nas pacientes com SOP, a relação LH/FSH está alterada, sendo a secreção de LH superior em relação à do FSH, resultando em aumento da produção de andrógenos pelas células da teca e em ciclos anovulatórios. 12, 13 No entanto, estudos mais recentes têm demonstrado que estas alterações nos níveis do LH sejam um evento secundário e não primário.13 Assim, níveis mais elevados de androstenediona circulante são observados, com consequente aumento da conversão periférica desta em testosterona. O excesso de andrógeno altera a relação de regulação dos hormônios femininos, resultando em níveis de estrógenos aumentados, irregularidade menstrual e infertilidade. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas dermatológicas do hiperandrogenismo incluem: hirsutismo, acne, seborréia, alopecia e, nos casos mais graves, sinais de virilização. Existe considerável heterogeneidade nos achados clínicos, assim como pode haver variação na mesma paciente com o tempo. Por outro lado, o hiperandrogenismo pode não determinar manifestações periféricas como observado principalmente nas mulheres asiáticas. Hirsutismo: o hirsutismo é definido como crescimento excessivo de pêlos terminais em áreas andrógenodependente das mulheres. É um dos critérios clínicos mais utilizados para o diagnóstico do excesso de andrógeno, sendo observado em 50-80% das pacientes que apresentam hiperandrogenismo. A escala Ferriman-Gallwey é utilizada para diagnóstico do hirsutismo, considerado presente quando o escore é ≥ 8. Porém, este escore é avaliador-dependente e não considera o impacto do hirsutismo no bem estar da paciente. Não há correlação do escorecom os níveis de andrógenos, uma vez que a resposta da unidade pila - sebácea aos andrógenos varia consideravelmente. A formação dos folículos pilosos ocorre durante o desenvolvimento fetal e sua concentração reflete as diferenças étnicas. A velocidade de crescimento do pêlo varia de acordo com diferenças genéticas na atividade da enzima 5α-redutase que converte a testosterona em dehidrotestosterona (DHT), que é o metabólito mais potente. Existem duas isoenzimas da 5alfaredutase: tipo 1, presente nas glândulas sebáceas e pele da região pubiana e o tipo 2, encontrada nos folículos pilosos, região genital e couro cabeludo. A diferença de atividade entre elas determina a variação de apresentações clínicas nas mulheres com hiperandrogenismo. Está estabelecido que as mulheres hirsutas possuam atividade aumentada da 5a-redutase nos folículos pilosos. A atividade da 5a-redutase é estimulada tanto pelo hiperandrogenismo, quanto pelo fator de crescimento insulina-like (insulin-like grow factor-, IFG) e pela própria insulina. A testosterona e DHT determinam alterações no pelo e em seu ciclo. Transformam o pêlo vellus em terminal, mais espessos e pigmentados, nas áreas andrógeno-sensíveis (face, pescoço, tórax e região pubiana), após meses ou anos de exposição e é irreversível. A duração da fase anágena também é relacionada aos níveis de andrógenos circulantes e varia nas diferentes regiões do corpo. Os andrógenos prolongam a fase anágena nos folículos do corpo e a reduzem em algumas áreas do couro cabeludo. Para diferenciar hirsutismo de hipertricose, na mulher, é necessário determinar o tipo de pelo em excesso e sua distribuição. A hipertricose é o excesso de pelos por todo o corpo, embora seja considerada também como aumento de pêlos vellus em áreas não dependentes dos andrógenos, como antebraços e panturrilhas. O excesso de pelos vellus isoladamente não reflete hiperandrogenismo, podendo estar associado a fatores hereditários, medicações, desordens metabólicas ou irritação física da pele. No hirsutismo existe aumento de pêlos terminais nas áreas andrógeno dependentes Acne: acne é uma desordemda unidade pilo-sebácea, com lesões na face, pescoço, dorso e região peitoral. A importância dos andrógenos na etiopatogenia da acne é bem documentada. No entanto, como na acne vulgar os níveis de andrógenos costumam ser normais acredita-se que a conversão local esteja aumentada por maior sensibilidade dos receptores para andrógenos nos pacientes com acne em relação à população normal, talvez representando ofator mais importante no desencadeamento da doença. Os andrógenos causam não apenas o aumento da glândula sebácea e da produção de sebo, mas também descamação anormal das células do epitélio folicular. Estes fatores determinam a formação dos comedões e, em combinação com a colonização do folículo pelo Propionibacterium acnes, resultam em inflamação e aparecimento progressivo de pápulas, pústulas, nódulos, cistos e cicatrizes. Inúmeros estudos tentam correlacionar a apresentação clínica da acne com marcadores de hiperandrogenismo. Embora alguns tenham demonstrado correlação entre acne e níveis elevados de sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEA- S), DHT, androstenediona, testosterona e do IFG, outros não comprovaram este achado. Alopecia Androgenética: alopecia androgenética na mulher é caracterizada pela perda de cabelo na região central do couro cabeludo, com repercussão psico-social importante. Na presença de andrógenos, níveis elevados de 5-alfa-redutase, maior concentração de receptores androgênicos e níveis mais baixos da enzima citocromo p450, a fase anágena é encurtada e os folículos terminais sofrem miniaturização, transformando-se em pelos vellus. As alterações podem ocorrer de maneira difusa, mas geralmente são mais evidentes nas regiões frontais e parietais. O diagnóstico deve excluir outras causas de perda de cabelo na mulher, como eflúvio telógeno, alopecia areata, síndrome de perda anágena e tricotilomania. A maioria das pacientes com alopecia androgenética tem função endócrina normal. Desta forma, são importantes a anamnese e o exame físico na busca de outros sinais de hiperandrogenismo. Podem ser necessários exames complementares como densidade dos cabelos, avaliações hematológicas e bioquímicas, além de exame histológico do couro cabeludo para evidenciar os cabelos miniaturizados. Acantose nigricante: acantose nigricante é caracterizada por placa acastanhada e aveludada com acentuação dos sulcos da pele. É mais comumente observada no pescoço e áreas intertriginosas como axilas, virilhas e região inframamária. É relatada em 5% das pacientes com SOP. A ligação excessiva da insulina sérica aos receptores de IGF-1 nos tecidos periféricos determina a proliferação de queratinócitos e fibroblastos e assim a acantose nigricante é manifestação cutânea da hiperinsulinemia, e não somente de obesidade. Histologicamente há papilomatose, hiperceratose e acantose com mínima ou nenhuma hiperpigmentação da camada basal. Apesar de ser mais associada à obesidade, SOP e diabetes, pode estar presente em doenças genéticas, reação medicamentosa (ácido nicotínico) e malignidades. A presença de acantose nigricans indica o teste de tolerância à glicose. Quando severa, extensa e progressiva pode estar associada à malignidade, principalmente se as mucosas também estiverem envolvidas. Outras Complicações: A disfunção de múltiplos sistemas hormonais que caracterizam a SOP determina risco aumentado para inúmeras doenças. É importante, portanto, a avaliação e o acompanhamento das pacientes, visando reduzir a morbidade e as implicações clínicas. A intolerância à glicose e o diabetes são considerados os distúrbios mais importantes nas mulheres com SOP. Ainda não há consenso, mas acredita- se que a SOP esteja relacionada a risco aumentado para doenças cardiovasculares. No entanto, observações clínicas não conseguiram demonstrar maior morbidade e/ou mortalidade nas mulheres com SOP, apesar da reconhecida associação entre resistência insulínica e alteração do perfil lipídico. Como a SOP está associada a ciclos menstruais irregulares pode ocorrer dificuldade para engravidar, hiperplasia endometrial e carcinoma endometrial. Estas pacientes apresentam maior prevalência de aborto, câncer de ovário e de mama, esteatose hepática não alcoólica, apnéia do sono obstrutiva e sintomas de depressão. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da SOP é de exclusão. A suspeita se fundamenta em irregularidade menstrual e sinais de hiperandrogenismo: hirsutismo, acne, aumento das concentrações séricas de testosterona total, livre ou de androstenediona. A SOP é uma doença multifatorial e complexa, por isso, os seus sintomas são parecidos com outras enfermidades, como os miomas uterinos e a endometriose . Desse modo, o diagnóstico é feito por exclusão das doenças que possuem sintomas parecidos com a SOP. A confirmação ocorre quando a paciente apresenta, pelo menos, dois dos três critérios abaixo: • oligomenorreia (ciclos menstruais com intervalos superiores a 35 dias) ou amenorreia (ausência da menstruação por mais do que 6 meses); • hiperandrogenismo clínico (presença de acne, hirsutismo ou alopecia) ou laboratorial (alteração no nível de algum androgênio); • presença de cistos nos ovários (pelo menos, 12 cistos com tamanho entre 2 mm a 9 mm ou volume ovariano superior a 10 cm³). Os principais exames solicitados para confirmar a SOP são o teste físico, o exame de imagem e o exame hormonal. O exame físico é feito no consultório médico com o objetivo d e avaliar a presença de alterações nos ovários e no útero. A ultrassonografia é o principal exame de imagem para detectar a presença de cistos ovarianos. Caso a paciente não seja virgem, o ultrassom transvaginal é o mais indicado. Para verificar desequil íbrios hormonais, os hormônios mais analisados são o FSH, o LH e a testosterona. TRATAMENTO A SOP pode ser tratada de algumas formas, e o tratamento de escolha dependerá de alguns fatores, como o desejo da mulher de engravidar e os sintomas que ela apresenta. Veja abaixo as formas de tratamento mais uti l izadas. https://artmedicina.com.br/endometriose/ https://artmedicina.com.br/ultrassonografia-pelvica/ PERDA DE PESO Promover mudanças no esti lo de vida, como a prática regular de uma atividade física e a manutenção de uma dieta balanceada, é uma das primeiras orientações às pacientes com SOP, principalmente àquelas que apresentam também obesidade. A perda de peso pode ajudar a restabelecer a periodicidade nos ciclos menstruais e a ovulação, aumentando as chances de uma gravidez natural. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Um tratamento frequentemente recomendado para regular os níveis de hormônios das pacientes com SOP e diminuir os sintomas de hiperandrogenismo é o uso de anticoncepcionais orais. No entanto, essa não é uma opção para mulheres que queiram engravidar. Outra opção de tratamento medicamentoso são as drogas insulinossensibil izantes. A mais comum delas é a metformina, que ajuda a diminuir a produção dos hormônios masculinos e regular os ciclos ovulatórios. TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Caso a paciente não tenha tido sucesso com outros tipos de tratamento e tenha o desejo de engravidar, a recomendação médica pode ser a de util izar técnicas de reprodução assistida. Tanto as técnicas mais simples, como a relação sexual programada (RSP), quanto a mais complexa delas, a ferti l ização IN VITRO (FIV), começam com um tratamento de estimulação ovariana. Nessa fase, a mulher administra medicamentos à base de hormônios, por via oral ou injetáveis, para estimular o ovário a completar o processo ovulatório, invariavelmente produzindo mais de um óvulo no mesmo ciclo. Esse processo é acompanhado pelo médico por meio de ultrassonografias periódicas e, se necessário, a medicação é ajustada para atingir o resultado desejado. Quando os óvulos estão do estágio de desenvolvimento ideal, a paciente administra um hormônio diferente, que terá por função desencadear a ovulação. A partir desse momento, as técnicas têm procedimentos diferentes. Na RSP, o casal é orientado a ter relações sexuais no momento adequado para conseguir a gravidez. Já na FIV, é agendado um procedimento para a retirada dos óvulos da mulher. No mesmo dia, o parceiro vai até o laboratório para colher o sêmen e, com os gametas masculinos e femininos em mãos, profissionais altamente especializadosrealizam a fertil ização. Os embriões resultantes permanecem alguns dias em cultivo no ambiente laboratorial para só depois serem transferidos para o útero da mulher. A indicação da melhor técnica de reprodução assist ida será feita pelo médico após uma análise criteriosa do casal, pois a opção mais adequada depende também de outras questões. Entre elas estão a idade da mulher e se há outros fatores de infertil idade feminina ou masculina envolvidos. https://reproduce.com.br/relacao-sexual-programada-rsp-ou-coito-programado/ https://reproduce.com.br/fertilizacao-in-vitro-fiv/ https://reproduce.com.br/infertilidade-masculina/ TRATAMENTO DA INFERTILIDADE A infertilidade deve ser o alvo do tratamento nas pacientes com SOP que manifestem o desejo de engravidar. No caso de paciente com sobrepeso ou obesidade, devemos iniciar pela perda do peso, pois, com a redução do peso, há uma melhora na irregularidade menstrual, além de aumentar a resposta à indução da ovulação e reduzir a chance de possíveis complicações obstétricas. A primeira linha de tratamento da infertilidade nas mulheres com SOP é o Citrato de Clomifeno, que consiste num modulador seletivo do receptor de estrogênio. Esse medicamento age inibindo o feedback negativo do estrogênio no hipotálamo, o que aumenta o FSH, estimulando o desenvolvimento folicular e induzindo a ovulação. Outra opção de tratamento é a metformina, com eficácia menor que a do citrato de clomifeno, no entanto, as pacientes que não respondem à monoterapia com o citrato de clomifeno podem se beneficiar da associação dessas duas drogas. Além disso, há evidências de que um pré-tratamento com a metformina por 3 meses pode aumentar a eficácia do tratamento com o citrato de clomifeno. Podemos usar também Inibidores da Aromatase. A aromatase é uma enzima responsável pela conversão de andrógenos em estrógenos. Ao inibir a atividade dela, há um bloqueio dessa conversão de andrógenos em estrógenos, o que faz com que tenha um menor feedback do estrógeno no hipotálamo, aumentando o GnRH e, consequentemente, o FSH, o que estimula o desenvolvimento folicular e ovulação. Essa opção geralmente é utilizada nas pacientes resistentes ou com efeitos colaterais à terapia com o citrato de clomifeno. O FSH recombinante também é utilizado no tratamento da infertilidade em pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos, principalmente nas resistentes ao citrato de clomifeno. No entanto, essa terapia acarreta um maior risco nos casos de Síndrome de Hiperestimulação Ovariana e gravidezes múltiplas. Uma opção mais invasiva é o Drilling ovariano laparoscópico, o qual consiste em uma cirurgia de estimulação física ovariana. Não é muito utilizada por ter um resultado passageiro e os riscos de uma cirurgia. Além disso, não acarreta melhorias na resistência insulínica. Por último, temos a opção da Fertilização in vitro (FIV). É realizada principalmente em pacientes resistentes a outras terapias ou com outros problemas reprodutivos, como algum problema anatômico nas trompas, endometriose ou parceiro infértil. TRATAMENTO DA DISFUNÇÃO MENSTRUAL E PREVENÇÃO DO CÂNCER DE ENDOMÉTRIO Já quando se trata de uma paciente que não tem interesse em engravidar, temos como tratamento de primeira linha o uso de anticoncepcionais orais. Tais medicamentos atuam regulando o ciclo menstrual, reduzindo o risco de carcinoma endometrial, além de acarretar uma melhora no quadro de hiperandrogenismo. Quanto à escolha do ACO a ser utilizado, dá-se preferência aos que possuem baixa dose de etinilestradiol, exceto no caso de pacientes obesas, que podem precisar de uma dose maior. Em casos de intolerância ao ACO ou em pacientes que não precisam de contracepção, pode ser realizada a administração cíclica de progestágeno, uso de acetato de medroxiprogesterona ou metformina. Dessas três outras opções, a administração cíclica de progestágeno e o acetato de medroxiprogesterona são as únicas que possuem efeito protetor endometrial. TRATAMENTO DO HIPERANDROGENISMO Quando a paciente não tem interesse em engravidar e sua queixa principal são as manifestações do hiperandrogenismo, têm-se algumas opções possíveis de tratamento. Novamente, a primeira linha continua sendo os anticonceptionais orais. Isso porque o progestágeno age suprimindo a secreção de LH, o que reduz a produção de androgênios pelos ovários, e também compete com a 5α-redutase e no receptor androgênico, reduzindo a ação androgênica. Além disso, o estrógeno, que compõe a pílula anticoncepcional, age no fígado aumentando a quantidade da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG). Ao ligar-se aos androgênios, a fração livre deles é reduzida e, consequentemente, tem-se uma menor ação androgênica. Os tratamentos estéticos e cosméticos entram como uma opção quando se trata de reduzir a clínica do hiperandrogenismo. São exemplos a descoloração dos pelos, depilação, tratamento medicamentoso de acnes, entre outros. Outra opção é o creme de eflornitina, que pode ser utilizado quando a queixa principal é o hirsutismo, pois ele inibe a enzima que catalisa a síntese da poliamina folicular. Logo, ao ser inibida, tem-se uma inibição consequente do crescimento de pelos. Sua eficiência é aumentada se for utilizado associado à depilação a laser. As primeiras opções no tratamento do hiperandrogenismo são essas acima. No entanto, ao ser analisada a eficácia do tratamento após 6 meses e ela não for satisfatória, pode-se adicionar antiandrogênios, como por exemplo, BLOQUEADORES DE RECEPTOR ANDROGÊNICO e INIBIDORES DA 5Α-REDUTASE. Essa associação não é recomendada em pacientes que estão em uso de contraceptivos, devido à feminização que causa no feto em caso de gravidez. Apesar dessa contraindicação em pacientes com contracepção, a associação dos antiandrogênios com ACO é mais eficiente que a monoterapia com qualquer um deles. A metformina não é muito utilizada quando se trata de reduzir as manifestações dohiperandrogenismo, pois ela possui efeito discreto ou nulo quanto à redução do hirsutismo. 3- COMPREENDER A AÇÃO DA METFORMINA NO TRATAMENTO DA SOP; A resistência à insulina em pacientes com a SOP, também está associada à obesidade e com os piores resultados no tratamento com os indutores da ovulação, onde sã o observadas com frequência baixa taxas de gravidez, elevadas taxas de aborto, uso de maiores dos es de gonadotrofinas e maiores taxas de cancelamento do ciclo de indução da ovulação. Contudo, a modificação no esti lo de vida dessas pacientes tem uma resposta significativa levando em consideração que exercícios físicos e a perda de peso podem restaurar as alterações hormonais associadas à SOP, com um aumento das concentrações plasmáticas e diminuição dos níveis séricos de insulina e androgênios. Perda de peso de forma significativa entre 5 a 10% sendo suficiente para restabelecer a função ovariana e melhorar a resposta à indução da ovulação. ● A resistência insulínica caracteriza-se pela diminuição da sensibil idade dos tecidos à ação da insulina, gerando importantes implicações metabólicas. Na SOP, a resistência à insulina provoca deterioração da função das células beta do pâncreas, redundando em intolerância à glicose ● Mulheres com ovário policístico apresentam maior risco de diabetes tipo 2 justamente por apresentarem maior resistência insulínica. O resultado é que o corpo irá produzir mais insulina porque as células ficam menos sensíveis à ação dela ● Dentre as técnicas descritas para análise da resistência insulínica incluem-se o índice HOMA, que é uma medida da insulina mUI/l x glicemia mmol/dl / 22.5, o teste de tolerância oral à glicose (TTOG), que consiste na administração de 75g de glicose e, a seguir, faz-se a determinação da glicemia e insulina nos tempos 0, 30, 60 e 120 minutos e a relação entre glicemia e insulina (G/I), cujo valor considerado normal é menor que 4,5. O TTOGé provavelmente o método mais simples para avaliar a resistência à insulina e intolerância à glicose em mulheres com SOP ● Deve ser enfatizado que todas as mulheres obesas com SOP devem ser avaliadas quanto à presença de resistência à insulina, bem como é imperioso pesquisar outros agravos como hipertensão arterial, disl ipidemias, obesidade central e intolerância à glicose USO DE METFORMINA NA PACIENTE COM SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO Metformina é um medicamento hipoglicemiante oral pertencente à classe Biguanidas, é indicada para o tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 e obesos. O principal efeito terapêutico da metformina é o controle glicêmico, e o seu mecanismo de ação é a diminuição da gliconeogênese, da absorção intestinal de glicose, e da lipólise e o aumento da captação periférica de glicose. Neste contexto, o uso da metformina para tratamento da SOP apresentou dados de grande relevância, uma vez que a maioria das pacientes são obesas e apresentam hiperinsulinemia. De acordo com Xu Y, et al. (2017), a droga da classe das Biguanidas escolhida como forma de tratamento para SOP, diminui consideravelmente o Índice de Massa Corpórea (IMC) e os níveis de insulina em jejum, melhorando assim a sensibilidade à insulina, hiperandrogenismo, ciclo menstrual e ovulação (XU Y, et al., 2017). Nesse sentido, o estudo de Rencber SF, et al. (2018), utilizou como modelo para o experimental rato in vivo, com o objetivo de comparar os efeitos terapêuticos da metformina e do resveratrol na SOP. O estudo demonstra uma significativa perda de peso com o uso da metformina, em que apresenta efeito indutor sobre a enzima Proteína Quinase Ativada por Monofosfato de Adenosina (AMPK) intracelular, agindo na redução da enzima acetil CoA carboxilase (ACC) diminuindo a biossíntese de ácidos graxos e, em seguida, aumenta a β-oxidação, sendo todos esses fatores contribuintes para a redução de peso (RENCBER SF, et al., 2018). Além dos benefícios já apresentados, o experimento mostrou que o resveratrol e a metformina podem regular a ovulação, atuando sobre os hormônios gonadotróficos e apresentou resultado importante na manutenção da foliculogênese. O estudo Tanbo B, et al. (2018), mostra que a metformina em comparação a outros medicamentos apresenta resultados mais baixos em taxa de ovulação (TANBO T, et al., 2018). Porém, de acordo com a publicação é um medicamento barato, o que torna mais acessível para os pacientes com SOP. Além disso, o estudo demonstra que o efeito terapêutico da metformina reduz o risco de Síndrome de Hiperestimulação Ovárica, um efeito colateral dostratamentos de infertilidades. Por último, sob a perspectiva dos efeitos adversos do uso da metformina exige cuidado, pois de acordo com Morley, et al. (2017) o uso de metformina eleva os efeitos gastrointestinais nas pacientes com SOP.
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