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A utilização de fórmulas especializadas suplementadas com nutrientes imunomoduladores tem sido indicada em algumas situações clínicas como em pacientes pré-cirúrgicos, oncológicos e em casos de presença de úlceras de pressão. Fórmulas enriquecidas com imunomoduladores devem ser prescritas de 7 a 10 dias antes de cirurgias oncológicas de grande porte, independente do estado nutricional e o uso deve ser descontinuado no dia da cirurgia em pacientes sem desnutrição atual. Em indivíduos que apresentem desnutrição atual ou pregressa, deve-se manter a dieta imunomoduladora por mais 7 dias após a cirurgia. Entre estes estão os aminoácidos arginina e glutamina, os ácidos ribonucléicos e ácidos graxos poli-insaturados: Arginina A arginina é um aminoácido não essencial, que se torna condicionalmente essencial sob estresse. Estudos mostraram que a L-arginina administrada sob a forma de suplemento alimentar pode ter efeitos benéficos no estímulo da função imune na melhoria do equilíbrio de nitrogênio. Pode-se considerar o uso de dietas enriquecidas com arginina em alguns pacientes cirúrgicos, traumatizados e queimados, desde que hemodinamicamente estáveis e sem infecção. Glutamina A glutamina é um combustível importante para a divisão rápida das células, tais como as células da mucosa gástrica e imune, e tem papel central no transporte de nitrogênio no corpo. Sugere-se que a glutamina possa se tornar um aminoácido condicionalmente essencial em pacientes com doença catabólica. Ácido ribonucléico A maioria das moléculas de RNA, por sua vez, orienta a síntese das proteínas celulares. Os nucleotídeos participam de várias reações metabólicas fundamentais à atividade das células. Vários estudos demonstraram a importância dos nucleotídeos na manutenção das respostas imunes celulares. Ácidos Graxos Poli-insaturados Os ácidos graxos poli-insaturados essenciais (PUFA’s) podem ser classificados em duas grandes famílias: ômega-3 e ômega-6 (linoleico e araquidônico) . Os ácidos ômega-3 (EPA e DHA) são capazes de suprimir a produção de citocinas pró inflamatórias, aumentar a ação da insulina, aumentar a síntese de óxido nítrico e a concentração da Acetil-CoA no cérebro, e de proteger os neurônios das ações toxinas do fator de necrose tumoral (TNF-alfa). Em pacientes com lesão pulmonar aguda ou síndrome do desconforto respiratório agudo, sob ventilação mecânica, o tempo de internação na UTI, tempo de ventilação mecânica e ocorrência de novas disfunções orgânicas estão reduzidos com a utilização de dietas enterais enriquecidas com ômega-3. O QUE DIZ A BRASPEN … ● Uso de glutamina: Está contraindicado em pacientes com: - Disfunção orgânica múltipla; - Disfunção renal; - Disfunção hepática; - Instabilidade hemodinâmica. ~ Não se recomenda o uso de maneira rotineira, mas com cuidado caso a caso, como por exemplo, indica-se o uso de glutamina em pacientes traumatizados e queimados. ● Uso de arginina: Fórmula imunomoduladora mais efetiva é aquela que combina arginina + ômega-3, principalmente na redução de infecções e complicações pós-operatórias. ~ Não se recomenda o uso em pacientes sépticos, sob o risco de aumento na mortalidade. ● Uso de ômega-3: Não está indicado em: - pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo MICROBIOTA INTESTINAL NA UTI O paciente em estado crítico padece de diversas condições clínicas como hipotensão, redução da motilidade intestinal, aumento dos níveis de hormônios do estresse, administração de medicamentos e antibióticos, além da alteração da ingestão alimentar que, em conjunto, podem influir na composição e no fenótipo dos microorganismos e aumentar a susceptibilidade do hospedeiro a infecções oportunistas. PROBIÓTICOS NA UTI Definição: Microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Podem promover benefícios como: - Redução da manifestação de algumas doenças do TGI como constipação, diarreia, síndrome do intestino irritável, entre outras. - Atuam no sistema imunológico, ao buscarem reequilíbrio da microbiota intestinal, como no controle de infecções de vias respiratórias, infecções urinárias e vaginoses, entre outras. A ação dos probióticos pode decorrer de três mecanismos: - Competir, por substrato e local, com bactérias patogênicas existentes no lúmen intestinal e inibir a colonização; - Aumentar a função protetora da barreira epitelial ao modular a sinalização para produção de muco e prevenção de apoptose celular; - Modular o sistema imune do hospedeiro. A disbiose ocorre em poucos dias de permanência na UTI e pode estar relacionada com piora clínica do paciente. O interesse em modificar a microbiota intestinal motivou a realização de vários estudos, cujos resultados, por ora, são controversos e não permitem o uso rotineiro de probióticos no doente em estado crítico grave na UTI. O grande avanço na tecnologia de sequenciamento do genoma bacteriano vai nos permitir compreender melhor o papel de novos microrganismos, vírus e fungos em diversas condições clínicas e oferecer, no futuro, a melhor cepa probiótica para cada doença. O DIZ A BRASPEN... ● Uso de probiótico no paciente crítico: Está indicado desde que não haja imunossupressão; - O uso de probiótico em doentes críticos está baseado na manutenção da microbiota intestinal, atuando como barreira microbiológica à translocação bacteriana, prevenindo infecções por bactérias patogênicas, além do efeito da flora saudável na sinalização gênica para produção de citocinas anti-inflamatórias e modulação da resposta imune. - Quando administrado, atenção aos não recomendados: ● imunossuprimidos; ● pós-operatório recente de anastomose intestinal; ● cirurgia de via biliar e pâncreas; ● isquemia intestinal; ● portadores de doenças hematológicas e reumatológicas e curta estada na UTI. ● Uso na pancreatite aguda grave: Deve ser considerado o uso em pacientes com pancreatite aguda grave que recebem enteral. FIBRAS SOLÚVEIS E INSOLÚVEIS EM PACIENTE GRAVE ● Fibras solúveis: Se dissolvem na água e apresentam efeitos metabólicos no TGI, como: - Servem de substrato para microbiota naturalmente presente no intestino; - Formam ácidos graxos de cadeia curta (AGCC); - Regularizam a função intestinal; - Diminuem a absorção de glicose e colesterol. Exemplos: pectina, gomas, mucilagens, inulina e algumas hemiceluloses. Encontradas em frutas, aveia e cevada. Certos tipos de fibras solúveis como a inulina e a fruto-oligossacarídeos (FOS) têm potencial de também melhorar a função intestinal. Essas fibras são chamadas de prebióticos que devem satisfazer alguns critérios como: - Ser resistente à hidrólise e à absorção no intestino delgado; - Ser seletivos para as bactérias comensais benéficos do cólon e estimular o crescimento delas; - Manter uma composição saudável de microbiota e induzir efeitos luminares e sistêmicos benéficos ao hospedeiro. Os efeitos benéficos dos probióticos estão intimamente ligados à função de barreira da mucosa intestinal. Atuam na fermentação no cólon e produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que exercem papéis importantes como: - Facilitar a absorção de água (sistema permutador da atividade sódio-hidrogênio); - Reverter a secreção de toxina indutora de diarreia e da toxina do Clostridium di�cile; - Diminuir o efeito citopático das células do cólon; - Exercer efeitos antiinflamatórios, tais como inibição de fator nuclear kappa-beta (NF-kb) e redução das citocinas. A adição de fibras solúveis na fórmula de nutrição enteral associada a hidratação tem sido sugerida como estratégia para a prevenção e tratamento de distúrbios da motilidade intestinal, mas ainda faltam evidências concretas para indicação da fibra solúvel na prevenção e tratamento de constipação e diarreia na UTI. ● Fibras insolúveis: Não se dissolvem na água e apresentam efeito mecânico no TGI, como; - Aumentam o bolo fecal e atua como agente laxativo; - Previne constipação e hemorróidas, reduzindo o risco de câncer de cólon. Exemplos: celulose,ligninas e hemicelulose, encontrada em farelo de trigo, leguminosas e vegetais. O QUE DIZ A BRASPEN … ● Uso de fibra no paciente grave: Não se recomenda o uso rotineiro de fibras, pois podem ser prejudiciais em condições de instabilidade hemodinâmica, pelo risco de isquemia intestinal, devido à motilidade intestinal significativamente reduzida nesta situação. Assim, qualquer tipo de fibra - solúvel ou insolúvel - deve ser evitada. ● Em pacientes hemodinamicamente estáveis com diarreia persistente, o uso pode ser considerado.