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Métodos de Raciocínio e Tipos de Argumentos

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UFF – Laboratório de leitura e interpretação de textos 
Tópico 3 – Argumentação no gênero acadêmico
TIPO TEXTUAL ARGUMENTATIVO: MÉTODOS DE RACIOCÍNIO E TIPOS DE ARGUMENTOS
Conhecendo os métodos de raciocínio
Os principais métodos de raciocínio empregados na formulação de argumentos, são: o raciocínio indutivo e o raciocínio dedutivo.
A palavra “método” significa um conjunto de procedimentos que conduzem a um determinado objetivo. No texto argumentativo, esses métodos conduzem à formulação de justificativas sólidas que embasam a tese, por meio de operações lógicas. Veja a seguir os principais métodos de raciocínio que você pode empregar na construção de seu texto.
Método indutivo – esse método parte de afirmações particulares para chegar a uma conclusão maior, de cunho geral. No entanto deve ter cuidado para não criar uma generalização falsa, o que desrespeita o princípio de relação (um texto coerente deve apresentar o que se convencionou chamar de coerência externa, a adequação à realidade de que fala. Não deve, pois, fazer afirmações falsas sobre a realidade). Assim, ao selecionar os fatos em relação aos quais você vai traçar uma lei universal, tome cuidado para não afirmar algo que não se aplica a todos os casos. 
Veja agora como o método indutivo pode ser usado na formulação de argumentos, observando o trecho abaixo, retirado de um texto de Salvatore Santagada.
O filme Central do Brasil, de Walter Salles, tem como protagonista a professora aposentada Dora, que ganha um dinheiro extra escrevendo cartas para analfabetos na Central do Brasil, estação ferroviária do Rio de Janeiro. Outra personagem é o menino Josué, filho de Ana, que contrata os serviços de Dora para escrever cartas passionais para seu ex-marido, pai de Josué. Logo após ter contratado a tarefa, Ana morre atropelada. Josué, sem ninguém a recorrer na megalópole sem rosto, sob o jugo do estado mínimo (sem proteção social), vê em Dora a única pessoa que poderá levá-lo até seu pai, no interior do sertão nordestino. (...)
No filme, a grande questão do analfabetismo está acoplada a outro desafio, que é a questão nordestina, ou seja, o atraso econômico e social da região. Não basta combater o analfabetismo, que, por si só, necessitaria dos esforços de, no mínimo, uma geração de brasileiros para ser debelado, pois, em 1996, o analfabetismo da população de 15 anos e mais, no Brasil, era de 13,03%, representando um total de 13,9 milhões de pessoas. Segundo a UNESCO, o Brasil chegaria ao ano 2000 em sétimo lugar entre os países com maior número de analfabetos.
No Brasil, carecemos de políticas públicas que atendam, de forma igualitária, a população, em especial aquelas voltadas para as crianças, os idosos e as mulheres. A permanência da questão nordestina é um exemplo constante das nossas desigualdades, do desprezo à vida e da falta de políticas públicas que atendam aos anseios mínimos do povo trabalhador. Não saber ler nem escrever, no Brasil, é um elemento a mais na desagregação dos indivíduos que serão párias permanentes em uma sociedade que se diz moderna e globalizada, mas que é debilitada naquilo que é mais premente ao povo: alimentação, trabalho, saúde e educação. Sem essas condições básicas, praticamente se nega o direito à cidadania da ampla maioria da população brasileira.
Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a questão social de várias frentes, em especial na educação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social.
Esse é um texto predominantemente argumentativo sobre a questão do analfabetismo, embora sua introdução tenha sido dedicada à descrição do filme Central do Brasil. Longe de constituir um desvio ao tema, essa breve sinopse do roteiro, acompanhada por rápida apresentação das personagens, desempenha papel importante na construção da argumentação do texto. 
Ao chamar atenção para um caso específico, mesmo que fictício, de problemas sociais atrelados ao analfabetismo, o autor apresenta um exemplo claro e particular de uma ideia mais geral, que apresenta no último parágrafo, como conclusão ao texto: “Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a questão social de várias frentes, em especial na educação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social”.
Assim, a referência ao filme é apresentada como um argumento de natureza mais específica, em vistas a traçar, na conclusão, uma generalização ao que foi dito sobre a questão do analfabetismo na obra de Walter Salles. Assim, o autor do texto estendeu aos demais casos de analfabetismo o que Central do Brasil apresenta em um contexto mais específico. Salvatore Santagada empregou, pois, o método indutivo em sua argumentação, pois partiu do particular (caso de analfabetismo em Central do Brasil) para o geral (analfabetismo em geral).
Método dedutivo – esse método parte de uma afirmação mais geral para chegar a conclusões mais específicas, aplicando essa regra mais genérica a casos particulares. Esse método tem a vantagem de que, caso a afirmação geral esteja correta, as conclusões sempre estarão corretas.
Veja agora como o método dedutivo pode ser empregado na condução da argumentação, observando o trecho abaixo, retirado do artigo “Direito de morrer ou direito à dignidade?”, de Daniele Carvalho.
No início da semana, uma menina inglesa, de apenas 13 anos, foi notícia no mundo. Hannah Jones teve leucemia e os fortes remédios ingeridos desde os 5 anos de idade enfraqueceram seu coração. Hannah precisaria passar por uma cirurgia para tentar evitar a morte, mas teria poucas chances de sucesso. Além disso, se sobrevivesse, a adolescente teria que se submeter a cuidados médicos intensivos pelo resto da vida. Hannah optou por não fazer a cirurgia e disse que prefere morrer com dignidade. O hospital onde ela estava internada entrou com um processo na Justiça para obrigá-la a fazer a operação. Após ser examinada por uma assistente social, o hospital desistiu da causa, dando à menina o direito de morte e de voltar para casa. 
No caso de uma criança ou adolescente, as doenças terminais ficam ainda mais complexas. De acordo com a legislação, os pais são responsáveis legais dos seus filhos até completarem a maioridade, aos 18 anos, interferindo em qualquer tipo de atitude que possa influenciar suas vidas. Embora os pais de Hannah tenham apoiado sua decisão, foi a própria menina que fez a escolha. Segundo o bioeticista e chefe da Divisão Técnico-Científica do INCA, Dr. Carlos Henrique Debenedito, as crianças tem após os 8 anos um desenvolvimento cognitivo, ou seja, uma capacidade de ouvir e compreender. “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade permite uma decisão consciente e, no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”.
Nesse trecho, a autora do artigo cita a fala do Dr. Carlos Henrique Debenedito, que apresenta seu ponto de vista sobre o caso da menina Hannah Jones. Veja que, antes de o biocientista posicionar-se diante desse caso específico, seu raciocínio parte de uma afirmação mais ampla, que se refere a todas as crianças após os oito anos de idade: “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade permite uma decisão consciente”.
Só depois de fazer uma afirmação de natureza mais geral, o chefe da Divisão Técnico-Científicado INCA define seu posicionamento quanto à possibilidade de decisão de Hannah Jones: “no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”. Isso mostra a aplicação de sua idéia mais geral – a capacidade de decisão das crianças com mais de oito anos – a uma situação particular: o caso de Hannah, a qual, segundo ele, tem capacidade cognitiva para tomar sua decisão.
Atividade 2
Leia atentamente o texto abaixo, retirado do editorial da Gazeta do Povo, e identifique o método de raciocínio empregado pelo autor para chegar à conclusão de que os provões são necessários para garantir equilíbrio entre quantidade e qualidade no acesso à Educação Superior.
Provões necessários
O Ministério da Educação fez a coisa certa: cortou o número de vagas oferecidas por quatro cursos de medicina em três estados (Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro) porque não ofereciam condições de dar boa formação profissional aos seus futuros alunos. As deficiências das instituições de ensino, todas particulares, foram constatadas por meio do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade): elas fazem parte de um grupo de 17 escolas classificadas com as medíocres notas 1 e 2 no certame do ano passado. A decisão do MEC vai ao encontro da indiscutível necessidade de promover o equilíbrio entre quantidade e qualidade. Se é importante proporcionar a chance para que mais estudantes ingressem no ensino superior, mais importante ainda é garantir-lhes ensino de padrão minimamente aceitável – princípio que deve valer não só para os que almejam a carreira médica, como foi o caso – como para os futuros engenheiros, professores, dentistas... Nesse sentido, a criação, no governo de Fernando Henrique Cardoso, dos exames de desempenho das escolas brasileiras, de que níveis sejam, revela-se como um instrumento indispensável para a melhoria geral da qualidade do ensino no país. Deveriam ser mais respeitados pelos próprios estudantes, que tanto resistem aos “provões”. 
Conhecendo os tipos de argumentos
Ora construída por indução ora por dedução, a argumentação é obviamente a parte central do texto argumentativo. Apenas uma seleção inteligente de argumentos pode convencer alguém da relevância da tese defendida pelo autor. Assim, é fundamental que você baseie seu discurso em argumentos aceitos pelo leitor, de modo que ele também se convença de sua tese, mesmo que não esteja inicialmente de acordo com ela.
Para isso, você agora vai estudar os principais tipos de argumentos, de modo que possa fazer uso deles, da melhor forma possível, em seus próprios textos.
Argumentação por causa/conseqüência
Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é explicar os motivos que levaram você a posicionar-se daquela forma. Esse é um dos tipos de argumentos mais freqüentes e eficazes, visto que argumentar é, justamente, dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado do artigo “Por um país da mala branca”, de Mauro Chaves.
Já que os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento), é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social. E já que nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas), façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos.
Recente moda futebolística pode-nos apontar o caminho dessa transformação, que troca a sanção pelo estímulo e a punição pela perda de vantagem. É a chamada prática da "mala branca", pela qual um clube paga a outro para que este ganhe. É claro que isso nada tem que ver com o suborno da "mala preta" - a execrável compra de goleiros, zagueiros e outros de um time para que deixem a bola passar e percam o jogo. A "mala branca", ao contrário, é um saudável incentivo para que os profissionais do esporte ajam corretamente, isto é, esforcem-se ao máximo para ganhar um jogo.
Logo no primeiro parágrafo, o autor explicita nos seguintes trechos a tese que defende: “é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social” e “façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos”. Segundo o autor, para tornar a lei mais eficiente, é preciso substituir práticas punitivas por incentivos a quem cumpre os regulamentos. 
Para sustentar essa tese, lança mão no mesmo parágrafo de dois argumentos de valor causal: “os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento)” e “nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas)”. Veja que ambos os argumentos expressam os motivos pelos quais o autor adota sua tese; logo, são introduzidos por um conectivo que expressa relação de causa (“já que”), como você viu na lição sobre coesão textual.
No entanto, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para não expressar uma falsa relação de causa/conseqüência entre idéias que são apenas próximas, mas não desencadeadoras uma da outra.
Argumentação por exemplificação
Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos reais em que a tese se prova verdadeira. Nesse sentido, é muito importante selecionar exemplos fortes, preferencialmente de conhecimento geral ou surpreendentes. Um exemplo mal escolhido, por ser pouco representativo, por exemplo, pode suscitar no leitor desconfiança e uma forte contra-argumentação. 
Veja abaixo, em um trecho da reportagem “Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?”, de Sérgio Pires, como a exemplificação foi empregada para defender determinado ponto de vista.
Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?
Há anos o assunto é motivo de discussões. Nessa semana, de novo. O professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas, Jorge Stolfi, disse em audiência na Câmara Federal que as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: que o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada. Lembrou que vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de “riscos incontornáveis” de fraude. Destacou que a única maneira de fazer com que o sistema seja totalmente seguro é adotar o voto impresso, como maneira complementar para a segurança da votação. O professor afirmou ainda, contrariando técnicos dos TREs e do próprio TSE, que há sérios riscos “de fraudes feitas por pessoas internas ao sistema, que não podem ser detectadas antes, durante ou depois da eleição". E agora, José? 
Jorge Stolfi manifesta claramente seu ponto de vista no trecho “as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: (...) o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada”. Para defender essa opinião, utiliza como argumento exemplos de países que discordam do sistema de votação eletrônica: “vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de ‘riscos incontornáveis’ de fraude”. 
Perceba que o professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas foi cuidadoso na seleção dos países que empregou para respaldar sua tese: Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra são todos países desenvolvidos que têm organizações políticas democráticas mundialmente reconhecidas.
Argumentação por dados estatísticos
Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhecimento público. É preciso tomar cuidado, no entanto, paraselecionar quais dados serão usados, citando a fonte de que foram retirados. 
Veja abaixo como o uso de valores numéricos calculados por agências especializadas foi usado no artigo “Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009”.
Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009
De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 SoHo Square, as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%.
Além disso, a pesquisa intitulada "O Sonho é maior que o medo - Panorama sobre o comportamento de compra das mulheres brasileiras" apurou que 41% das mulheres da classe C e 36% da D avaliam que a economia brasileira está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise.
Na opinião do presidente da agência que encomendou o estudo, Mauro Motryn, os números mostram que as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na crise. "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando."
Mauro Motryn tem um ponto de vista claro diante do comportamento das mulheres das classes C e D em relação à crise econômica: "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando." Para justificar esse posicionamento, o presidente da agência de publicidade 141 SoHo Square baseia-se em dados estatísticos de pesquisa que encomendou ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%”.
Argumentação por testemunho de autoridade
Nos textos de escrita acadêmica, é muito freqüente que, para respaldar uma tese, um autor se refira a pesquisas anteriores, de outro pesquisador. Para isso, cite a fonte de onde retirou a citação empregada em seu texto, tendo cuidado de empregar como argumento as palavras de alguém reconhecido como profundo conhecedor da causa discutida.
Veja abaixo como esse recurso foi empregado na argumentação do artigo “Produção científica no Brasil sobe, mas não o número de patentes”, do qual transcrevemos um trecho a seguir.
A produção científica brasileira subiu de 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os artigos científicos publicados no mundo, mas esse conhecimento ainda não se traduz na prática. Quando se analisa o registro de patentes nos Estados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero.
"O Brasil está muito atrás de outros países que até produzem menos artigos científicos. Dificilmente um País que produz ciência não faz as duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas não é o caso do Brasil", disse Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). 
O autor do artigo, em sua argumentação, denuncia o baixo número de patentes registrado no Brasil, apesar da alta produção científica. Para defender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo, o autor se vale das palavras de uma autoridade no assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A própria instituição por ele presidida é reconhecida internacionalmente como referência no que diz respeito à pesquisa científica. 
Argumentação por contra-argumentação
Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você já imagina quais serão os possíveis posicionamentos contrários de alguns leitores. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar essas visões diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-argumentação. É preciso tomar cuidado, no entanto, para refutar com consistência os argumentos que se opõem à sua tese, ou seu posicionamento pode perder credibilidade.
Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Crise e poder”, de Rubens Ricupero, e atente para o uso que o autor fez da contra-argumentação para respaldar sua tese.
A crise econômica é também uma crise da globalização. Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. Ora, o que vimos é que esta foi de fato responsável pelo contágio da doença. O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros.
A primeira conclusão, portanto, é que, apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação, cujo poder em relação ao mercado e à sociedade é reforçado pela crise. 
A tese central defendida pelo autor no trecho analisado é que, “apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação”. No entanto, para chegar a essa afirmativa, o texto parte de uma idéia contrária a ela: “Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização”.
Veja que essa idéia contrária à tese foi introduzida pela expressão “dizia-se”, a qual não define quem é que dizia que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. O agente responsável por essa ação não pode ser identificado no texto. Só o que sabemos é que não se diz mais isso; chega-se a tal conclusão pelo tempo do próprio verbo em “dizia-se”. 
É importante perceber que a oposição entre essa afirmativa inicial e a tese defendida pelo autor não torna o texto contraditório. Na verdade, para fortalecer sua argumentação, o autor afirma algo que era dito antigamente para logo rechaçar essa idéia, na frase: “O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros”. A palavra “porém”, conectivo de oposição (conforme você estudou na lição sobre coesão textual) introduz uma ressalva à idéia inicial do texto, dando suporte à tese defendida pelo autor.
Atividade 3
O tema dos parágrafos será a implantação da Lei Seca. Portanto, antes de redigi-los, opte por uma tese, posicionando-se a favor ou contra a legalização desse tipo de punição no Brasil.
Agora que você já optou por uma tese, escreva um parágrafo argumentativo que a sustente, empregando, um dos tipos abaixo: a) causa/consequência; b) exemplificação; c) dados estatísticos; d) testemunhos autorizados; ou e) contra-argumentação.
Glossário
Modalização – Modalizar é expressar como o falante/autor vê aquilo que diz/escreve. Ao afirmar “Indiscutivelmente, amanhã choverá”, o falante mostra, com o modalizador “indiscutivelmente”, ter absoluta certeza do que diz.
Contra-argumentação – Estratégia argumentativa em que se apresenta uma justificativa contrária à tese apresentada no texto, para, por meio de argumentos mais fortes, desautorizar o ponto de vista oposto ao que se defende.

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