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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS Inquérito Policial n°: Objeto: Queixa-Crime por calúnia, difamação, injúria e dano moral. CARMEN, brasileira, estado civil, advogada, portadora do RG de n°_, CPF n°_, residente e domiciliada na Rua, no Condomínio Paraíso Urbano, apt. N°_, na cidade de Porto Alegre/RS, CEP _, telefone (051) _, com endereço eletrônico _, vem, perante Vossa Excelência, por meio de sua procuradora, conforme procuração com poderes especiais anexa, com fundamento no artigo 100,§2° do CP e artigos 30, 41 e 44 do CPP, oferecer QUEIXA-CRIME em face de CÉSAR, brasileiro, casado, profissão __, portador do RG de n°, CPF n°, telefone (051) _, com endereço eletrônico, residente e domiciliado na Rua_, no Condomínio Paraíso Urbano, apt.13, na cidade de Porto Alegre/RS, CEP _, pela prática dos seguintes fatos criminosos, de ação penal privada: I - DA COMPETÊNCIA No tocante à competência deste juízo para tratar do feito, importa, brevemente, discorrer sobre a competência do Juizado Especial Criminal nos crimes de Ação Penal Privada. É de competência do Juizado Especial Criminal o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo, consideradas aquelas cuja pena máxima não excede 02 (dois) anos, conforme art. 60 e 61, caput, da Lei 9.099/95. No presente caso, verifica-se que o Querelado pode ter incidido nas penas relativas aos delitos de calúnia, difamação e injúria, em concurso material, tipificados, respectivamente, nos artigos 138, 139 e 140 cumulado com o artigo 69, todos do Código Penal, ao ter imputado falsamente fato definido como crime a Querelante e proferido expressões ofensivas à sua honra e integridade moral. Sendo assim, verifica-se que a soma das penas cominadas nos artigos 138 a 140 do Código Penal é suficiente para afastar a competência do Juizado Especial Criminal. II – DOS FATOS No dia 07 de março de 2020, a Querelante foi chamada a intervir em uma discussão entre dois vizinhos, Jair, proprietário da casa nº 17, acusava César, ora Querelado, da casa nº13, de ter deslocado a cerca divisória dos fundos do seu terrenos, invadindo parte de área comum do condomínio, que constitui APP (Área de Preservação Permanente), bem como o Querelado teria suprimido vegetação nativa, o que poderia gerar expressiva multa administrativa, prejudicando a todos os condôminos. De posse das plantas originais do condomínio, a Querelante efetivamente ratificou que a cerca do Querelado estava fora dos limites de sua propriedade, tendo solicitado a correção do problema e replantação da vegetação suprimida de forma a reconstituir a área afetada. No entanto, irresignado, o Querelado passou a desferir ofensas verbais contra a Querelante, acusando-a de ser “perua, gorda, galinha e desonesta”. Ainda, continuou dizendo: “Você tem um caso (extraconjugal) com Jair, pois ontem eu os vi se beijando atrás da cancha de futebol. Além disso, eu soube que você furta valores do condomínio, ao simular a contratação e pagamento de serviços não prestados”. Insta salientar que no momento do fato, estavam presentes os condôminos Jairo, Júlio, Vitor e Suzana, respectivamente moradores das casas 30,16,15 e 45, além do zelador Genival. Naquela mesma noite, a Querelante entrou no Facebook, especificamente no grupo do condomínio com o intuito de postar informações e regramento sobre a APP, a fim de evitar novas ocorrências similares. Para a sua surpresa, o Querelado, havia postado, há seis horas antes do ocorrido, todas as ofensas que lhe desferira pela manhã, não só no grupo fechado, mas também na página particular de Carmen, aberta a todos os seus amigos e colegas de trabalho. Importante mencionar que as postagens já contabilizavam 150 (cento e cinquenta) reações e 27 (vinte e sete) comentários de diversos tipos, entre os quais haviam xingamentos da esposa do Querelado, Michele. Com todos os fatos ocorridos, a Querelada ficou muito abalada, chorou na frente de seus filhos, Pedro e Henrique e teve que tomar um calmante para dormir. No dia seguinte, a Querelante, de posse do print das publicações do Querelado, procurou a Delegacia de Polícia de sua região e narrou os fatos à autoridade policial, entregando o conteúdo impresso das mensagens ofensivas e página da rede social na Internet, onde elas poderiam ser visualizadas. Ademais, narrou todas as ofensas presenciais proferidas na manhã do dia 07 de março de 2020. III – DO DIREITO a. Da Injúria Inicialmente, devemos destacar que injuriar alguém, significa imputar a este uma condição de inferioridade perante a si mesmo, pois ataca de forma direta seus próprios atributos pessoais. O artigo 140, caput, do Código Penal dispõe que: Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1o - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2o - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3o- Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei no 10.741, de 2003). Pena - reclusão de um a três anos e multa.(Incluído pela Lei no 9.459, de 1997). Grifamos. Sendo assim, não resta dúvida que o ocorrido no caso em análise, que o querelado ofendeu a dignidade da querelante ao proferir xingamento e ofensas diante de seus vizinhos, não sendo suficiente tamanho humilhação utilizou da rede social Facebook para continuar as ofensas e xingamentos, abalando a honra e o respeito do querelante acusando- lhe de ter praticado atos que desabonaram sua própria imagem. O Código Penal dispõe, ainda, em seu Art. 141 caput, inc. III dispõe: Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. Nesse sentido, de forma garantida em lei as imputações (xingamentos, insultos) de uma pessoa a outra caracteriza o crime de injúria tipificado no art. 140 do Código Penal, incidindo ainda, na causa de aumento previsto no art.141, inciso III, do mesmo Código. A ofensa ao decoro da Querelante é clarividente, conforme pode se verificar na sentença a seguir: “perua, gorda, galinha e desonesta”, proferido pelo Querelado. b) Da Calúnia Para a caracterização do crime de calúnia, o agente não necessariamente precisa ter consciência de que são falsas suas afirmações, basta que haja a incerteza da autoria, para que este assuma os riscos decorrentes da ofensa à integridade moral alheia. O elemento subjetivo específico do crime de calúnia, qual seja, a vontade de atingir a honra objetiva da vítima, atribuindo falsamente fato definido como crime, emerge claro ao ter o Querelado acusado a Querelante de “furtar valores do condomínio ao simular a contratação e pagamento de serviços não prestados” Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os morto. c) Da Difamação O crime de difamação consiste na atribuição a alguém de um fato desonroso, mas não descrito na lei como crime. No mesmo sentido, Fernando Capez diz que não deve o fato imputado revestir- se de caráter criminoso; do contrário, restará configurado o crime de Calúnia. Aimputação de fato definido como contravenção penal caracteriza o crime em estudo. Não é necessário que a imputação seja falsa, ocorrendo o crime em tela no momento em que é levado a outrem os fatos desabonadores de um determinado indivíduo (sujeito passivo). É a imputação de um fato ofensivo à reputação. O fato ofensivo deve, necessariamente, chegar ao conhecimento de terceiros, pois o que é protegido pela lei penal é a reputação do ofendido. O Código Penal, dispõe acerca do conceito de difamação. Vejamos: Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. d) Do Concurso Material No caso concreto, o Querelado mediante pluralidade de conduta, praticou uma pluralidade de crimes: a) calúnia; b) difamação; c) injúria. É cediço que os três crimes, ora analisados, não são da mesma espécie. Assim, ocorrerá a incidência do concurso material prevista no art. 69 do CP, que estabelece que os delitos praticados devem ser somados. Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. e) Do Dano Moral No presente feito, a narrativa dos fatos se depreende da existência de danos morais a serem reparados, pois a atitude do querelado foi lesiva à esfera subjetiva da querelante. O envio dos xingamentos representa lesão, caracterizando a responsabilidade pelo pagamento de indenização pelo abalo moral, uma vez configurado o ato ilícito, nos termos do art. 186 do Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e artigo “Aquele que por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” Nos ensinamentos do laureado Mestre Wilson Melo da Silva, os danos morais são definidos como sendo “lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico.” Para melhor explicitar o seu pensar, o insigne mestre complementa: “Danos morais, pois, seriam exemplificadamente, os decorrentes das ofensas à honra, ao decoro, à paz interior de cada qual, às crenças íntimas, à liberdade, à vida, à integridade corporal “. (Grifamos) Em suas palavras Carlos Roberto Gonçalves, conceitua o dano moral: é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1o, III, e 5o, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação. Destarte, além dos efeitos penais, resta configurado o dano moral in re ipsa, ou seja, decorrente do fato em si – ínsito na própria coisa – aquele cuja caracterização do abalo moral ou transtorno da tranquilidade psíquica do indivíduo independe de comprovação do prejuízo, restando configurado o dano moral, no caso dos autos. Nesse sentido, reafirma a jurisprudência do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. OFENSAS VERBAIS. DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM INDENIZATÓRIO MAJORADO. Trata-se de ação de indenização por danos morais decorrentes de ofensas verbais proferidas pelo requerido em desfavor do autor, julgada procedente na origem. DEVER DE INDENIZAR – Consabido que a obrigação de indenizar ocorre quando alguém pratica ato ilícito. O artigo 927 do Código Civil refere expressamente que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. No mesmo sentido, o artigo 186 do precitado Diploma Legal menciona que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. No caso dos autos, restou comprovado que a parte demandante foi vítima do crime de injúria, nos autos do processo criminal n. 125/2.15.0000900-7, de modo que fica também demonstrada a ocorrência do dano moral na esfera cível, tendo em vista que ocorre in re ipsa, ou seja, independe da comprovação do sofrimento experimentado pela vítima, QUANTUM INDENIZATÓRIO – Valorando-se as peculiaridades da hipótese concreta e os parâmetros adotados normalmente pela jurisprudência para a fixação de indenização, em hipóteses símiles, majoro o valor da condenação e fixo em R$ 8.000,00 (...), de modo a ficar de acordo com os critérios da razoabilidade e proporcionalidade. APELAÇÃO PROVIDA (Apelação Cível, Nº 70081527228, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em: 15-08-2019). Grifamos. Assim, considerando os danos de natureza imaterial sofridos pela querelante em razão da conduta do querelado, cabe ao Juízo, na sentença condenatória, fixar o valor mínimo para reparação dos danos causados. Com a fixação de indenização a título de dano moral não se pretende desfazer dor e tristeza, o aborrecimento desmedido. A indenização consiste, isto sim, numa compensação, numa tentativa de substituir o sofrimento por uma satisfação, além do aspecto retributivo e verdadeiramente punitivo no tocante ao causador do dano. A condenação almejada é integrada por uma dupla atribuição na esfera jurídica do prejudicado: manter a segurança jurídica em relação ao lesado, bem como estabelecer uma sanção civil de natureza compensatória. Assim sendo, requer-se a condenação do querelado ao pagamento de indenização pelo dano causado em valor não inferior a 05 (cinco) salários- mínimos, nos termos do artigo 387, IV, do Código de Processo Penal. IV – DOS PEDIDOS Ante o Exposto, requer a Vossa Excelência: a) Requer a juntada da guia de custas judiciais paga; b) Depois de confirmada judicialmente a autoria e materialidade dos delitos dos autos, SEJA O QUERELADO CONDENADO, julgando-se procedente a presente queixa-crime, nas penas cominadas nos artigos 138, 139, 140 e 141, inciso III c/c art. 69, todos do Código Penal; c) Seja o Querelado condenado ao ônus da sucumbência; d) requer-se, outrossim, seja arbitrado por Vossa Excelência o valor dos danos a personalidade provocadas pela conduta criminosa, ao seu prudente arbítrio, em valor não inferior a 5 (cinco) salários mínimos, nos termos do art. 387, inciso IV do Código de Processo Penal; e) Seja fixado, na sentença penal condenatória, o valor de reparação de que trata o art. 387, IV, do CPP, bem como sejam intimadas as testemunhas abaixo arroladas; f) Protesta provar o alegado, por todos os meios de prova admitidos em Direito inseridos nesta exordial, como também especialmente pela juntada posterior de documentos, ouvida do noticiado, depoimentos de testemunhas, perícias, diligências e tudo mais que se fizer necessário para a prova real no caso “sub judice”. Nestes termos, pede deferimento. Charqueadas, 05 de abril de 2021. __________________________________ Advogado(a) OAB/RS 0000/00 VÍTIMA: CARMEN TESTEMUNHAS: 1- JAIR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da identidade de n°, CPF de n°, residente e domiciliado na Rua, n°, Bairro, casa 30 em Porto Alegre/RS, telefone para contato; 2- JÚLIO, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da identidade de n°, CPF de n°, residente e domiciliado na Rua, n°, Bairro, casa 16 em Porto Alegre/RS, telefonepara contato; 3- VÍTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da identidade de n°, CPF de n°, residente e domiciliado na Rua, n°, Bairro, casa 15 em Porto Alegre/RS, telefone para contato; 4- SUZANA, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da identidade de n°, CPF de n°, residente e domiciliado na Rua, n°, Bairro, casa 45, em Porto Alegre/RS, telefone para contato; 5- GENIVAL, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da identidade de n°, CPF de n°, residente e domiciliado na Rua, n°, Bairro, em Porto Alegre/RS, telefone para contato.
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