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Júlia Figueirêdo – LPI MÓDULO 16 DOENÇA DE VON WILLEBRAND: A doença de von Willebrand (VWD) é a doença hemorrágica hereditária mais comum, causada por distúrbios na forma, concentração ou na funcionalidade do fator de von Willebrand. Não é possível formar um padrão heterogêneo dentre os portadores dessa condição, pois as apresentações variam muito conforme suas diferentes expressões. Para compreender os impactos clínicos da VWD, é necessário compreender que esse fator tem importante papel nos processos de adesão e agregação plaquetária, sendo sintetizado por megacariócitos e células endoteliais. Sua ação é intimamente relacionada fator VIII, formando um complexo circulante pelo plasma.ao Interação do fator de Willebrand com outros compostos na hemostasia primária O fator de von Willebrand, além de estar disperso na circulação, também pode ser estocado em sítios distintos, pronto para ser liberado após lesões vasculares: Corpúsculos de Weibel-Palade: presentes nas células endoteliais, são reativos a agentes como fibrina, histamina e trombina. Plaquetas: encontrado em grânulos responsivos ao colágeno, ADP ou a trombina CLASSIFICAÇÃO E QUADRO CLÍNICO: De acordo com as manifestações fenotípicas, a doença de von Willebrand pode ser dividida em dois grandes grupos, o de alterações quantitativas e os distúrbios qualitativos associados a esse fator. Dessa forma, evidenciam-se: Doença de von Willebrand tipo 1: É a forma mais comum da doença, contemplando as deficiências parciais na concentração do fator de von Willebrand. Pode ser causada tanto pela menor produção quanto pelo aumento na depuração dessa substância. Doença de von Willebrand tipo 2: Nesse grupo há alterações na função antiagregante do fator, sem que ocorra diminuição de sua antigenicidade ou de sua concentração. Conforme a forma de apresentação, essa categoria ainda se divide em: o Tipo 2A: marcado por redução da adesão plaquetária dependente do fator, e pela deficiência específica de multímeros de alto peso molecular (má formação ou clivagem excessiva); o Tipo 2B: há uma maior afinidade pela GP IIb plaquetária, o que leva a formação de pequenos trombos e à trombocitopenia por consumo, de caráter variável, assim como à diminuição de frações de alto peso; o Tipo 2M: essa categoria causa déficit na adesão plaquetária, porém não reduz a concentração de multímeros de alto peso; o Tipo 2N: corresponde à apresentação na qual o fator de von Willebrand possui menor interação com o fator VIII, que passa a circular em menor es Júlia Figueirêdo – LPI MÓDULO 16 É possível usar a relação FVWRCo/FVWAg para detectar os subtipos 2ª, 2B e 2M, diferenciando-os do tipo 1. O ponto de corte para a anormalidade é de valores <0,5-0,7 concentrações. Pode ser confundida com hemofilia A leve. Doença de von Willebrand tipo 3: Representa a forma mais grave da doença, na qual há uma queda intensa na síntese do fator, o que implica em baixa generalizada em sua capacidade de fazer interações, seja com plaquetas ou com o fator VIII. Esses pacientes apresentam sangramentos intensos superficiais (pele e mucosas) e profundos (músculos e articulações). Comparação entre as apresentações da VWD No que tange ao quadro clínico, pacientes portadores da VWD tipo 1 costumam ser assintomáticos, apresentando perda de sangue mais significativa após traumas ou procedimentos cirúrgicos. As apresentações mais comuns desses sangramentos são: Menorragia; Epistaxe; Equimoses; Gengivorragia; Sangramento gastrintestinal; Sangramentos pós-operatórios e após ferimentos pequenos. Os indivíduos com VWD de tipo 3 (principalmente), por sua vez, sofrem com hemorragias graves, como a hemartrose. Locais mais acometidos pela hemartrose, inflamação articular com acúmulo de coleção sanguínea DIAGNÓSTICO: A doença de von Willebrand não apresenta testes de triagem específicos, acurados e sensíveis para todos os tipos de expressões fenotípicas. Testes como o PFA-100 (função plaquetária), TP e o TTPA tem utilização limitada, pois podem sofrer influências externas à doença. Em indivíduos com histórico clínico sugestivo, é possível lançar mão de alguns testes iniciais, como quantificação do fator VIII, antígeno do fator de von Willebrand (FVWAg) e da atividade do cofator de ristocetina do FVW (FVWRCo). De forma análoga ao FVWRCo, o teste de capacidade de ligação ao colágeno também permite mensurar o perfil dos multímeros presentes nesse fator, uma vez que estruturas maiores se ligam mais ao substrato. Após o diagnóstico, testes específicos podem analisar tais estruturas, permitindo Júlia Figueirêdo – LPI MÓDULO 16 Medicações antifibrinolíticas, como o ácido tranexâmico, podem ser usadas no controle de pequenos traumas cutaneomucosos e da menorragia, em dose diária de 4 gramas, por até 5 dias. sua visualização e a detecção de alterações. A quantificação da afinidade pelo fator VIII, por sua vez, possibilita a diferenciação do tipo 2N da VWD em relação à hemofilia A. A agregação plaquetária induzida pela ristocetina (RIPA) normalmente apresenta resultado diminuído em todas as manifestações da doença. No entanto, há resposta exacerbada no subtipo 2B, no qual há maior afinidade entre o fator e a GP IIb/IIIa. Doença de von Willebrand Herança Dominante Principais focos hemorrágicos Lesões cutâneas, mucosas, após cirurgias ou em traumas Contagem de plaquetas Normal PFA-100 Prolongado TP Normal TTPA Normal ou prolongado (em manifestações quantitativas) Fator VIII Pode estar diminuído Fator de von Willebrand Níveis baixos ou função alterada Agregação plaquetária induzida por ristocetina Diminuída Principais achados laboratoriais na doença de von Willebrand TRATAMENTO: O manejo da doença de von Willebrand se fundamenta em três estratégias, que podem ser aplicadas individualmente ou em conjunto, a saber: Estimular a secreção de estoques endógenos do FVW; Repor, de forma exógena, a concentração do fator; Uso de agentes anti-hemorrágicos, sem afetar as concentrações de FVW. A desmopressina (DDAVP), análoga à vasopressina, é responsável por elevar a concentração plasmática de FVW e fator VIII. Para o primeiro composto, o mecanismo de ação mais provável foi a liberação de multímeros de alto peso estocados nos corpúsculos de Weibel-Palade. É recomendada a pacientes com VWD tipos 1, 2A e 2M, e contraindicada ao subtipo 2B (risco de aumento da plaquetopenia) e não apresentando eficácia no tipo 2N. Em caso de falha (ou contraindicação) terapêutica, outra alternativa é a infusão de concentrados de fator von Willebrand. Esse tratamento estimula a aumento liberação do fator VIII, podendo levar à tromboembolismo venoso após administrações contínuas. A administração de estrogênio também pode aumentar as concentrações de FVW plasmático a partir da estimulação endotelial direta, porém possui resultados imprevisíveis. Anticoncepcionais orais podem ser usados para o controle da menorragia ou em casos de falha com os fibrinolíticos. Júlia Figueirêdo – LPI MÓDULO 16 Principais esquemas terapêuticos (iniciais e alternativos) para a VWD
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