Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sedativos e hipnóticos 1 Sedativos e hipnóticos Estresse Condição que desafio o equilíbrio e põe em risco a estabilidade/segurança de um organismo. O estresse promove: Reflexos autonômicos Secreção adrenal (glicocorticoides/adrenalina) Despertar e alerta Comportamentos de defesa (ansiedade, medo, evitar situações) Emoções negativas (ansiedade, tristeza, raiva) É uma função fisiológica/adaptativa na quantidade certa → desempenho ótimo = energizado, focado e facilidade nas atividades; mais ou menos que o ótimo, diminui o desempenho Bases neuroquímicas O estresse é associado a um desbalanço em vias inibitórias/excitatórias do SNC. DURANTE O ESTRESSE → EXCITATÓRIA (noradrenérgica, serotoninérgica, glicocorticoide, glutamatérgica) > INIBITÓRIAS (endocanabinoide, GABAérgica, serotoninérgica) Inibição neuronal por ação de GABA GABA → neurotransmissor inibitório; atua em receptores GABAa, GABAb e GABAc. GABAa pentamérico (2alfa, 2beta, 1gama) permeável a cloreto - GABAc também. Com a abertura do receptor GABAa, há entrada de Cl-, hiperpolarização e inibição da transmissão do PA. Diversidade de subunidades é importante para ligação com diferentes substâncias - álcool, esteroides, barbitúricos (alfa-beta; mais interno ao canal) e benzodiazepínicos (alfa-gama; quase na abertura externa); GABA se liga entre subunidade alfa e beta. obs.: GABA fica entre alfa-beta. BZD entre alfa-gama. obs.: GABAa está espalhado pelo SNC - o mais estudado, com mais fármacos. obs.: há diversas subunidades de alfa (1 → 6) Sedativos e hipnóticos 2 Agentes sedativos e hipnóticos SEDATIVO → fármacos capazes de deprimir a atividade do SNC HIPNÓTICO → produzem sonolência e facilitam iniciar o sono USOS TERAPÊUTICOS: Sedação emergencial (pacientes agitados ou em surto) Adjuvante anestésico (amnésia) Insônia e transtornos do sono Anticonvulsivantes Relaxante muscular Transtornos de ansiedade (agudo - controle do surto/crônico) Transtornos de humor (agudo) Esquizofrenia (agudo/crônico) Controle de abstinência (depressores) Cronologia dos sedativos/hipnóticos Barbitúricos Veronal (barbital), gardenal, tiopental (hospital), fenobarbital, secobarbital. De barbital (veronal) a fenobarbital. Obsoletos como ansiolíticos. Utilizados como anticonvulsivantes e anestésicos. Sedativos e hipnóticos 3 Mecanismo de ação Sítio de ação (receptor) no canal de cloreto do GABAa (dentro do poro) - ligação entre alfa-beta. Podem abrir o canal de GABAa por si só - em doses altas, atuam como se fossem agonistas GABAa (abrem o canal, mesmo na ausência de GABA) = em casos de overdose, haverá uma grande depressão do SN. Em doses pequenas, ligam-se ao receptor e aumentam a afinidade por GABA (agonistas alostéricos - facilitam a ação de GABA sobre o receptor) = aumento do tempo de abertura e hiperpolarização (aumenta o influxo de Cl-). Também aumentam a afinidade dos benzodiazepínicos (BZD) e reduzem a ativação de receptores AMPA (glutamatérgico). Efeitos farmacológicos e potencial indesejável Anticonvulsivante (córtex) Anestésico geral (sistema reticular ativador) Sedativo/hipnótico (hipotálamo - controle do sono) Indutores enzimáticos (interações) Tolerância e dependência (potencial de abuso) Tolerância cruzada (outros depressores; quando troca por outros depressores, haverá tolerância a este, devido ao mecanismo de ação semelhante) Hiperalgesia (?) - depressor da consciência, mas não diminui a sensação de dor - não é utilizado como anestésico único Sedativos e hipnóticos 4 Depressão geral do SNC (morte) Sonolência, náusea, vertigem, tremores obs.: uso crônico de agonistas, leva à diminuição dos receptores para tentar controlar o efeito artificial = redução de GABAa (por isso, ao trocar para um BZD, haverá tolerância - poucos receptores) Intoxicação barbitúrica Janela terapêutica estreita Depressão cardiorrespiratória (leva à morte) Perda de consciência e cianose (depressão respiratória) Interação com depressores do SNC (álcool) obs.: intoxicação opioide = depressão respiratória somente Farmacocinética Muito lipofílicos. Saem do sangue rapidamente - chegam rapidamente ao SNC = efeito sedativo, hipnótico e anestésico rápido. RELAÇÃO "DURAÇÃO DE EFEITOS x APLICAÇÃO CLÍNICA": Tiobarbitúricos → rápido início, porém pouca duração = anestésico Pentobarbital, secobarbital → início moderado e duração moderada = hipnose rápida/sedação (sem "ressaca" no dia seguinte) Butobarbital, amobarbital → início lento e duração moderada = hipnose/sedação (sem "ressaca" no dia seguinte) Fenobarbital → início lento e longa duração = anticonvulsivante/sedativo Em intoxicações, aumenta-se a eliminação por hidratação e aumento do pH urinário (barbitúricos são ácidos e, com aumento do pH, são ionizados e eliminados mais rapidamente). obs.: "soro da verdade" → pentotal sódico (injeção letal ao ser adicionada com KCN); seletividade para o córtex pré-frontal = diminui a capacidade de esconder informações Sedativos e hipnóticos 5 Benzodiazepínicos (BZD) Alpralozam (frontal), clonazepam (rivotril), diazepam (valium), flumazenil, midazolam (dormonid - ansiolítico pré- cirúrgico), bromazepam (lexotan) lorazepam. obs.: clonazepam e alprazolam (liberação lenta) são os mais potentes - utilizadas em crise de pânico, crises de ansiedade Novos agentes depressores mais seguros. Composto por um anel benzeno e diazepínico. Mecanismo de ação Agonistas alostéricos GABAa (sítio BZD - interface alfa-gama). Aumentam a afinidade do GABAa pelo GABA e aumentam a frequência de abertura, o que promove hiperpolarização (influxo de Cl-). Ativação GABA-dependente - só vai ter efeito na abertura do canal, se o GABA estiver ligado (modulação alostérica) - se houver uma ativação constante e o GABA começar a ser degradado, o efeito dos BZD é controlado = segurança. RELAÇÃO MECANISMO x PERFIL DE SEGURANÇA: Mesmo com altas doses de BZD, por ele possuir ativação GABA-dependente, ele não abrirá 100% dos canais de Cl- dos receptores GABAa. Já os barbitúricos, mesmo em baixas concentrações de GABA, se houver altas doses, haverá abertura de ~100%. Quanto maior a [GABA], maior a potência do BZD. Com os barbitúricos, a abertura do canais de Cl- são muito mais potentes e "descontroladas". Para atingir uma dose letal de BZD, é necessária uma dose altíssimas. Com os barbitúricos, é mais fácil. Sedativos e hipnóticos 6 Efeitos farmacológicos e potencial indesejável Ansiolíticos (inibição de estruturas límbicas - córtex, amígdala, hipocampo, hipotálamo, PAG etc) Sedativo/hipnótico (inibição de estruturas límbicas - córtex, amígdala, hipocampo, hipotálamo, PAG etc) Anticonvulsivante (córtex) - clonazepam e diazepam (crises epilépticas agudas) Relaxante muscular (ME - inibição espinal) - importante para crises agudas de ansiedade em que o paciente somatiza e tem sintomas de dores musculares Amnésico (córtex e hipocampo) Bloqueio de canais de cálcio T (clonazepam) - GABAa-independente Antidepressivo (alprazolam) - GABAa-independente Principais usos e limitações terapêuticas Alívio agudo de ansiedade (não é 1a escolha) - ansiedade crônica é antidepressivo Pânico (principalmente, crises) - clonazepam e alprazolam Epilepsia - clonazepam (uso crônico), lorazepam (caso agudo) e diazepam (caso agudo) Adjuvante anestésico - midazolam TOC e PTSD - podem piorar o quadro Incoordenação motora Deve haver descontinuação gradual Não fazer uso crônico (>3 meses) Abuso e dependência obs.: BZD (clonazepam) melhora o sono por até 2 meses Farmacocinética Altamente lipofílico. Alta absorção via oral e biodisponibilidade. Oral, injetável (iv ou im) e retal. "Reservas" plasmáticas e adiposa (aumento do tempo de meia-via aparente). Sedativos e hipnóticos 7 obs.: BZD são metabolizados em outros BZD também ativos (diazepam → nordazepam) = além de se acumular em tecidos lipofílios, intermediários ativos aumentam ainda mais seu tempo de meia-vida - bom para pacientes que esquecem de tomar, eventualmente.Pico de ação e duração de efeito (tempo de meia-vida) variável. Alprazolam → pouca meia-vida Clorezapato → alta meia-vida Diazepam → meia-vida intermediária Flurazepam → alto tempo de meia-vida Lorazepam → pouca meia-vida Triazolam → pouquíssima meia-vida Metabólitos ativos e eliminação renal Em geral, metabolizados pelo fígado e eliminados pelos rins. Quanto menos metabólitos ativos o fármaco tiver, mais rápido ele será metabolizado e eliminado. DIAZEPAM → longa meia-vida NORDAZEPAM → longa meia-vida OXAZEPAM → meia-vida intermediária LORAZEPAM → meia-vida intermediária MIDAZOLAM → meia-vida curta (metabólicos de meia- vida curta) ALPRAZOLAM → meia-vida intermediária (metabólicos de meia-vida curta) TRIAZOLAM → meia-vida curta (metabólicos de meia-vida curta) FLURAZEPAM → meia-vida curta (e seu metabólito também) Drogas Z em cinza claro - não são BZD Sedativos e hipnóticos 8 Alguns dos metabólitos também podem ser utilizados diretamente, o que diminui o tempo de meia-vida. RELAÇÃO "DURAÇÃO DE EFEITOS x APLICAÇÃO CLÍNICA": Midazolam → menor duração de efeito = hipnótico/anestésico Lorazepam → duração de efeito intermediário = hipnótico/anestésico Alprazolam → duração de efeito intermediário = ansiolítico Diazepam → longa duração de efeito = ansiolítico/anticonvulsivante Clonazepam → longa duração de efeito = ansiolítico/anticonvulsivante Sedativos e hipnóticos 9 ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS QUE PODEM ACONTECER: Cuidado com idosos: Insuficiência renal → facilita o acúmulo no organismo Alterações hepáticas → facilita o acúmulo no organismo Massa adiposa → facilita o acúmulo no organismo Requer ajuste de dose e monitoração! Pouco risco de letalidade obs.: em geral, recomenda-se não prescrever BZD para idosos → pode piorar memória, massa muscular, facilitar quedas Efeitos indesejados Podem ser explorados na clínica. Efeito paradoxal → indivíduo, ao invés de ficar sedado, fica agitado = indivíduo com tolerância ao fármaco e dose baixa Em doses pequenas, BZD atua em inibir o córtex pré-frontal do que outras regiões do cérebro = pessoa desinibida Sedação/confusão e hipnose (perda de consciência) Induz amnésia anterógrada (a partir de quando tomou o fármaco) Relaxamento muscular Tolerância e dependência Síndrome de retirada → abstinência ao parar subitamente; pior quanto maior a potência do fármaco e menor o tempo de meia-vida Toxicidade e depressão do SNC (pouco) Parada respiratória (se o paciente possuir enfisema, bronquite, apneia do sono) obs.: rohypnol → boa noite cinderela Interações com outros depressores do SNC Sinergismo supra-aditivo Risco real de intoxicação ex.: BZD + valproato = psicose; opiode, barbitúrico, haloperidol (antipsicótico), anti-histamínicos (dramin), álcool Outros ligantes do sítio BZD em GABAa ANTAGONISTAS BZD → flumazenil; impede a ação do BZD ao ocupar o sítio = antídoto para intoxicação de BZD (recobra a consciência e melhora o desfecho) AGONISTAS INVERSOS DO BZD → abecarnil; sem uso clínico. Explorando diferenças em GABAa Diferentes subunidades alfa podem trazer diferenças na afinidade entre fármacos BZD → alguns receptores em determinadas regiões do cérebro podem ter subunidade alfa específica, o que pode trazer mais especificidade para certo BZD e mudar o padrão de ação Distribuição heterogênea de populações GABAa no SNC: Sedativos e hipnóticos 10 Anestésico gerais e etanol possui afinidade a alfa 4 e 6. ALFA 1 → anticonvulsivante, sedação/hipnose, dependência, amnésica (alfa5) ALFA 2 → ansiolítico, relaxante muscular (alfa 3 e 5) A afinidade diferenciada por subunidades alfa pode trazer um perfil mais "limpo" de efeitos indesejados. Com base nesse estudo para trazer fármacos mais específicos e com menos efeitos indesejados, criaram-se os fármacos Z. "Compostos Z", Z-hipnóticos (BZD-like) Zolpidem, zopiclone, eszopiclone, zaleplom Não são BZD (diferentes estrutura química) Possuem afinidade pelo sítio BZD. Seletivo para GABAa com alfa1 (sedativos/hipnóticos). Hipnóticos de nova duração. Efeito ultracurto (4-6h) - se consumir a noite, não tem sonolência no dia seguinte. Perfil indesejado mais sutil. Pouco efeito ansiolítico (nulo) - não atua em alfa2. Menor chance de tolerância/dependência - se for utilizada >3 meses, sim obs.: flumazenil também é antagonista. Ação sedativa e hipnótica dos agentes Regra "geral" dos depressores do SNC → ação sedativa e hipnótica dos agentes depende do gradiente de concentração plasmática dos depressores. Pequenas concentrações = ANSIOLÍTICOS Sedativos e hipnóticos 11 Concentrações intermediárias = SEDATIVOS Altas concentrações = HIPNÓTICOS obs.: BZD não chega a paralisar, apenas sedar/hipnose (ativação GABA-dependente); barbitúricos vai desde sedativo até paralisia completa; compostos Z vão desde sedativos até hipnóticos = BZD e compostos Z são mais seguros Para casos de insônia, prescrever BZD de curta duração (uso agudo). FUNÇÃO → Reduz a latência do sono (hipnogênico) e aumenta sua duração (hipnogócico) Cronicamente, reduz as ondas lentas e aumenta as frequências rápidas → indivíduo dorme, mas não se sente descansado. NÃO usar >3 meses. Em uso crônico, se houver retirada, haverá rebote, com piora aguda do sono. OUTROS: Zolpidem e seletivos GABAa subunidade alfa1 Agonistas de melatonina - ramelteon (MT1/2) Alguns antidepressivos (sedação>hipnose) - verificar se a sedação é interessante (para pacientes deprimidos e agitados ok, para deprimidos e sonolentos não) Anti-histamínicos de 1a geração (difenildramina e prometazina) Curiosidade GABAérgica Sedativos e hipnóticos 12 Expressão de GABAa e hormônios sexuais → de acordo com a presença de hormônios sexuais, pode haver flutuações de ativação de GABAa, presença e dessensibilização de receptores = transtorno disfórico pré-menstrual (alterações da expressão de GABAa nas regiões límbicas - SCP - do cérebro durante o ciclo menstrual, promovendo alterações neurobiológicas), agressão e anabolizantes
Compartilhar