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Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 135 Aula 11: Dimensionamento de Vigas Uma viga é um elemento de barra e tem por função vencer vãos, trabalhando predominantemente aos esforços de flexão e cisalhamento. Ela estará solicitada à flexão normal simples, quando atuar sobre a mesma somente esforço de flexão, cujo plano de ação contenha um dos eixos principais de inércia da seção transversal. 1. Concepção de Vigas Na primeira parte desta aula serão revisitados alguns conceitos já apresentados e inseridos e alguns outros novos para que se possa atingir os seguintes objetivos no dimensionamento básico das vigas, exceto armaduras, que são: • Fazer a verificação da estabilidade de um elemento estrutural; • Identificar quais são as tensões que ocorrem em uma viga quando submetida a cargas; Vale salientar que, analogamente aos estudos das lajes, o aprofundamento no assunto se dará em esfera básica devido as relações envolvidas neste estudo transcendem as concepções matemáticas abordadas no 2º grau e, portanto, não utilizadas neste curso. Pode-se dizer que esta aula é um complemento das 7 primeiras aulas onde foram dados os pré-requisitos para que se chegasse a este nível de entendimento por parte do aluno e agora, naturalmente, serão sequenciados de maneira a se tentar evidenciar “na prática” os conceitos nesta apostila demonstrados ao longo das aulas. O cálculo de armaduras para vigas não será abordado pela complexidade conceitual não demandada de técnicos. 1.1. Definição Como sabido, Viga é uma Estrutura linear que trabalha, geralmente, em posição horizontal (ou inclinada), assentada em um ou mais apoios e que tem a função de suportar os carregamentos normais à sua direção. As vigas podem ser de Madeira, Concreto, Aço ou mistas. Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 136 1.2. Tensão em Elementos Estruturais Resposta dos elementos estruturais (lajes, vigas, pilares, fundações), aos esforços internos aplicados - força normal (N) que dá origem à tração ou à compressão, momento fletor (M) que dá origem à flexão, momento torçor (Mt – não abordado neste curso) que dá origem à torção e força cortante (V) que dá origem ao cisalhamento. A fórmula geral para qualquer que seja a tensão (Normal, flexão, torção ou cisalhamento) é a já conhecida e batida σ = F/A, que, já se sabe, significa: Tensão = Esforço Aplicado Característica Geométrica da Seção Transversal Estas grandezas podem ser resumidas no seguinte quadro: 1.3. Tensão de Flexão em Vigas Em vigas, quando submetidas a esforços externos (carregamentos transversais com relação ao seu eixo longitudinal), ocorrem deformações de flexão devido ao esforço de momento fletor, surgindo desta forma as tensões de flexão. Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 137 As fibras superiores tendem a se aproximar (tensões de compressão) e as fibras inferiores tendem a se afastar (tensões de tração), quando ocorre o momento fletor positivo e o contrário, quando ocorre o momento fletor negativo, conforme ilustrado nas figuras (a) e (b), respectivamente. 1.4. Diagrama de Tensões Resultantes Resumidamente, ao analisarmos a figura (a), observamos que a tensão máxima de compressão ocorre na fibra superior e a tensão máxima de tração ocorre na fibra inferior da viga: Colocando-se os esforços de compressão nas fibras superiores, tração nas fibras inferiores e ainda nenhum esforço na fibra central, pode-se obter o diagrama de tensões, conforme ilustrado na figura (lembrando que a viga está submetida a esforço de momento fletor positivo). Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 138 A linha apontada na imagem acima será estudada nesta aula. O ponto de transição entre a compressão e a tração é chamado Ponto Neutro, e sua definição será dado adiante. 1.5. Hipótese Fundamental da Teoria da Flexão – Lei de Navier As seções planas de uma viga, tomadas normalmente a seu eixo, permanecem planas após a viga ser submetida à flexão. Essa conclusão é válida para vigas de qualquer material, seja ele elástico ou inelástico, linear ou não-linear. As propriedades dos materiais, assim como as dimensões, devem ser simétricas em relação ao plano de flexão. As linhas longitudinais na parte inferior da viga são alongadas (tracionadas), enquanto aquelas na parte superior são diminuídas (comprimidas). 1.6. Superfície Neutra É uma superfície em algum lugar entre o topo e a base da viga em que as linhas longitudinais não mudam de comprimento. Linha Neutra – é a interseção da superfície neutra com qualquer plano de seção transversal. Na LN, não há esforço, nem de tração, nem de compressão. Para materiais homogêneos (aço, madeira, concreto simples), a LN passa no centro de gravidade (CG) da seção transversal, como mostra a figura: Façamos agora a análise das distâncias entre as seções transversais e consequentemente dos esforços nas fibras superiores, inferiores e na LN em alguns pontos da viga ilustrada na figura: Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 139 2. Tensões na Flexão Esta tensão é a resposta da viga decorrente da flexão. A flexão aparece em uma viga devido ao esforço interno aplicado - momento fletor (M). Convenções: a) Tensão de flexão/compressão: positiva; b) Tensão de flexão/tração: negativa. A fórmula geral se dá por: σf = M . y ILN Onde: σf: tensão de flexão (σfc ou σft); M : Momento fletor na seção considerada; y: distância da LN à fibra considerada; ILN; momento de Inércia em relação à Linha Neutra. Exemplo: Determinar as tensões de flexão nas fibras 1e 2, superior e inferior dos pontos D e B da viga abaixo: Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 140 Resolução: 1º Passo: com as dimensões da seção da viga conhecidas, calcula-se o momento de inércia para o primeiro ponto, que será D. Como a seção é retangular, o momento de Inércia será (fórmula já estipulada em aula anterior) e as Tensões no ponto: Acima da linha Neutra (LN): ILN = bh³ 12 → ILN = 10 . 50³ 12 → ILN = 104167 cm 4 Fibra 1: σf1 = M . y ILN → σf1 = 30 . 12,5 . 100 104167 → σf1 = 0,36 kN/cm² Fibra Superior: σfs = M . y ILN → σfs = 30 . 25 . 100 104167 → σfs = 0,72 kN/cm² Note que o valor 100 na fórmula acima serve para transformar o momento fletor de kNm para kNcm. O resultado foi positivo, logo a tensão de flexão na fibra superior no ponto D (meio do vão) é de compressão. Fibras abaixo da Linha Neutra: Fibra 2: σf2 = M . y ILN → σf2 = 30 . − 12,5 . 100 104167 → σf2 = − 0,36 kN/cm² Fibra Inferior: σfi = M . y ILN → σfi = 30 . − 25 . 100 104167 → σfi = − 0,72 kN/cm² O resultado foi negativo, logo a tensão de flexão na fibra inferior no ponto D (meio do vão) é de tração. Diagrama das tensões de flexão no ponto D: Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 141 2º Passo: Mesmos cálculos de tensões para o ponto B: Fibras acima da Linha Neutra: σf1 = M . y ILN → σf1 = −20 . 12,5 . 100 104167 → σf1 = − 0,24 kN/cm² σfs = M . y ILN → σfs = − 20 . 25 . 100 104167 → σfs = − 0,48 kN/cm² O resultado foi negativo, logo a tensão de flexão na fibra superior no ponto B (apoio) é de tração. Fibras abaixo da L.N.: σf2 = M . y ILN → σf2 = − 20 . − 12,5 . 100 104167 → σf2 = 0,24 kN/cm² σfi = M. y ILN → σfi = − 20 . − 25 . 100 104167 → σfi = 0,48 kN/cm² O resultado foi positivo, logo a tensão de flexão na fibra inferior no ponto B (apoio) é de compressão. 2.1. Verificação da Estabilidade Para não haver rompimento, ou para que haja estabilidade, é necessário que as tensões aplicadas a uma viga obviamente sejam menores que ela suporta. A seguinte função é destacada para essa verificação: Tensão Admissível ≥ Tensão Máxima . Coeficiente de Segurança Portanto, para que se verifique a estabilidade à flexão de uma viga, as inequações abaixo devem ser obedecidas, tanto para a seção de Momento Fletor máximo positivo como para a seção de Momento Fletor máximo negativo. Não veremos neste curso o dimensionamento de armaduras de Vigas, porém, seu dimensionamento, que é complexo a nível técnico, devem ser dimensionadas de tal modo que satisfaçam as inequações. Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 142 σfc ≥ σfcmáx. atuante . 1,4 σft ≥ σftmáx. atuante . 1,4 Onde 1,4 é o coeficiente que indica que a tensão admissível ou de cálculo deve ser 40% superior à que realmente suporta. A barra acima dos símbolos de tensão de flexão indica que esta tensão é uma tensão admissível. Na verificação da estabilidade à flexão, o que interessa são as tensões máximas de flexão (tração ou compressão). Portanto, as tensões máximas de flexão ocorrem nas seções de momento fletor máximo positivo e negativo nas fibras superior e inferior da seção transversal de uma determinada viga. σfc ou ft máx = Mmáx + ou− . y ILN As tensões máximas de flexão ocorrem nas seções de momento fletor máximo positivo e negativo nas fibras superior e inferior da seção transversal de uma determinada viga. As fibras superiores e inferiores são definidas a partir da LN (ysup e yinf), que passa pelo centro de gravidade da seção transversal, conforme ilustrado na figura. Exemplo: Seja o Diagrama de momentos fletores de uma viga onde 𝜎𝑓𝑐 = 2,00 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 e 𝜎𝑓𝑡 = 1,75 𝑘𝑁/𝑐𝑚², verificar se a viga as exigências de estabilidade. Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 143 1º Passo: Cálculo do Momento de Inércia ILN = bh³ 12 → ILN = 10 . 50³ 12 → ILN = 104167 cm 4 2º Passo: Fibras Superiores e Inferiores Utilizaremos a fórmula da tensão admissível para os pontos limites de momento: σfc ou ft máx. = Mmáx + ou− . ysup. ou inf. ILN σfc máx. = 50 . 25 . 100 104167 → σfc máx. = 1,2 kN/cm 2(compressão) σft máx. = 50 . − 25 . 100 104167 → σft máx. = − 1,2 kN/cm 2(tração) 3º Passo: Verificação Utiliza-se os valores das tensões em módulo, pois não teria sentido comparar uma tensão máxima com valor negativo com uma tensão admissível que é sempre positiva. Compressão: σfc ≥ σfc máx. . 1,4 → σfc = 2,0 kN/m² 2 ≥ 1,2 . 1,4 2 ≥ 1,68 (Ok, verifica) Tração: σft ≥ σft máx. . 1,4 → σft = 1,75 kN/m² 1,75 ≥ 1,2 . 1,4 1,75 ≥ 1,68 (Ok, verifica) Como as inequações relativas à flexão se verificaram, chega-se à conclusão de que a viga é estável considerando-se a flexão. 3. Tensão de Cisalhamento Esta tensão é a resposta da viga decorrente do cisalhamento. O cisalhamento aparece em uma viga devido ao esforço interno aplicado - força cortante (chamaremos de V pois utilizaremos Q – que representava o cortante nas outras aulas - para Momento Estático). A tensão de cisalhamento é paralela ao plano da seção transversal, ao contrário da tensão de flexão que é normal ao plano da seção transversal, conforme ilustrado na Figura: Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 144 A tensão de cisalhamento é determinada segundo a equação dada abaixo: τ = V bw . ILN . Q Onde: τ: Tensão de cisalhamento; V: Força cortante na seção considerada; Q: Momento Estático da área, definida pela fibra considerada, em relação à linha neutra; bw : Largura da seção transversal na fibra considerada; ILN: Momento de inércia em relação à Linha Neutra. Como visto na Aula 8, o Momento Estático de Área é o produto entre área (A) e distância (d) = A x d. Para a nossa análise, tem-se: A - Área compreendida entre a fibra analisada e a fibra superior; d – distância compreendida entre o centro de gravidade e a linha neutra. Para uma seção retangular, o comportamento das equações se dão conforme figura: Exemplo: Determinar as tensões cisalhantes nas fibras 1 e 2 e na fibra da LN na seção A da viga abaixo: Aula 11 – Dimensionamento de Vigas UNIDADE 4 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL BÁSICO 145 Resolução: 1º Passo: Momento de Inércia ILN = bh³ 12 → ILN = 10 . 50³ 12 → ILN = 104167 cm 4 2º Passo: Cálculo dos Cortantes Q1 = (b . h/4) . d → Q1 = (10 . 12,5) . 18,75 → Q1 = 2343,75 N QLN = (b . h/2) . d → QLN = (10 . 25) . 12,5 → QLN = 3125 N Q2 = (b . 3h/2) . d → Q2 = (10 . 37,5) . 6,25 → Q1 = 2343,75 N 3º Passo: Cálculo da tensão de Cisalhamento τ1 = VA . Q1 bw . ILN → τ1 = 25 . 2343,75 10 . 104167 → τ1 = 0,056 kN/cm² τLN = VA . QLN bw . ILN → τLN = 25 .3125 10 . 104167 → τLN = 0,075 kN/cm² τ2 = VA . Q2 bw . ILN → τ2 = 25 . 2343,75 10 . 104167 → τ2 = 0,056 kN/cm² 4º Passo: Diagrama Obs.: nas fibras superior e inferior a tensão de cisalhamento é nula. 3.1. Verificação da Estabilidade Analogamente às Tensões na Flexão, para não haver rompimento, ou para que haja estabilidade, é necessário que a seguinte inequação seja verificada: Tensão Admissível ≥ Tensão Máxima . Coeficiente de Segurança Onde 1,4 é o coeficiente que indica que a tensão admissível ou de cálculo deve ser 40% superior à que realmente suporta. Portanto, para que se verifique a estabilidade ao cisalhamento de uma viga, a inequação abaixo deve ser obedecida, para a seção de Força Cortante Máxima. Aula 11 – Dimensionamento de Vigas ESTABILIDADE 146 τ ≥ τmáx . 1,4 Na verificação da estabilidade ao cisalhamento, o que interessa é a tensão máxima de cisalhamento. Exemplo: Verificar a estabilidade da viga quanto a tensão de cisalhamento, conhecendo-se o diagrama do esforço cortante e dimensões da seção transversal: Resolução: 1º Passo: Características geométricas da seção transversal: bw = 10 cm; ILN = (bh³)/12 → ILN = (10 . 50³)/12 → ILN = 104167 cm4 QLN = (b . h/2) . d → QLN = (10 . 25) . 12,5 → QLN = 3125 N 2º Passo: Tensão no Cortante Máximo τmáx = Vmáx . QLN bw . ILN → τmáx = 70 . 3125 10 . 104167 → τmáx = 0,21 kN/cm² 3º Passo: Verificação de Admissibilidade τ ≥ τmáx . 1,4 → τ = 0,25 kN/cm² 0,25 ≥ 0,21 . 1,4 0,25 ≥ 0,30 (Não Verifica!) Como a inequação relativa ao cisalhamento não se verificou, chega-se à conclusão de que a viga não é estável considerando-se o cisalhamento. Para que uma viga seja estável, tanto as inequações relativas à flexão quanto à inequação relativa ao cisalhamento devem ser verificadas. Portanto se uma das inequações não for verificada, a viga "rompe". Baseado e adaptado de Edilberto Vitorino de Borja. Edições sem prejuízo de conteúdo.
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