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GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA II HEMORRAGIAS DA SEGUNDA METADE DA GRAVIDEZ Patologias importantes que possuem aspecto diverso das patologias ocorridas na primeira metade (trazem intimamente um dano fetal na maioria das vezes) – geralmente levam a maior ameaça da vida materna em relação a primeira metade da gravidez que expõe mais o feto. PLACENTA PRÉVIA (PP) Inserção normal da placenta na região fúndica (na parte fúndica anterior ou posterior do útero, mas sempre em região alta) • Definição: inserção numa região mais baixa do útero – segmento inferior do útero (difícil de descrever anatomicamente, porém é mais visível com a distensão do útero causada pela gravidez) delimitado pelo orifício interno do colo uterino até a transição com o corpo uterino (anel de bandel). ✓ Placenta próxima ou recobrindo o orifício interno do colo uterino ✓ Geralmente a frente da apresentação – entre o orifício interno do colo uterino e a borda inferior da placenta – cotilédones ou placenta inteira impedindo que a apresentação chegue ao canal cervical para dar acesso a saída do canal de parto - descolamento das regiões periféricas e sob o colo uterino levando a hemorragia devido ao descolamento dessas bordas da placenta Classificação dependera da relação com o colo uterino – através do toque (recurso utilizado antes da existência do USG) – observação clínica com sintoma de sangramento, classificação de acordo com o toque Classificação: (classificação clínica – criada antes do uso do USG) • A - PP completa ou centro-total: recobre completamente o canal cervical • B - PP parcial ou centro-parcial: canal cervical dilatada com parte recoberta • C - PP marginal: periferia/borda inferior da placenta fazendo limite com o orifício interno • D - PP lateral: inserida no segmento inferior do útero, porém pelo menos 7 cm do orifício interno do colo uterino – diagnóstico de exclusão na presença de sangramento com características de PP com placenta não palpável. Diagnosticado com USG transvaginal Epidemiologia: não é muito frequente – 1% dos partos → atualmente: aumento da incidência devido a cicatrizes uterinas por cesariana, curetagem e miomectomias, aumento de incidência com idade e pariedade (relacionados ao dano da cavidade uterina), endometrites e adenomiose (qualquer processo infeccioso que possa alterar o endométrio), miomas submucosos (danifica a cavidade uterina, formando descidua inadequada, tendencia do ovo descer para se implantar numa descidua mais saudável), placentas extensas (finas e delgadas com grande extensão que muitas vezes vai atingir a região segmentar do útero, córion frondoso que é responsável por formar a placenta acaba gerando placenta fina e delgada), tabagismo (danifica os vasos e cavidade uterina causando a PP). Não é comum em primigestas, placenta sempre procura região mais saudável do endométrio para se implantar por isso é comum o implante em outra região em pacientes que tem alguma cicatriz na parede uterina. Hemorragia em 90% dos casos – complicação gravíssima, graus de acretismo, sangramento tardio ao redor de 32/34 semanas. Sangramento repentino, indolor, imotivado, reincidente e progressivo (relacionado a área de descolamento). Sangramento vermelho rutilante (vivo) Tônus uterino: normal – permite a palpação do conteúdo (feto), característico de PP. Sangramento tardio + tônus uterino normal = PP Apresentações altas e anômalas: (palpação da escava com feto ausente) cefálica alta, pélvica alta, transversa Alterações hemodinâmicas tardias: anemia, choque (casos extremos) Descolamento apenas da periferia – vitalidade fetal preservada – cardiotopografia normal – descolamento autolimitado, coágulo se esvai impedindo progressão → Diagnóstico: obrigatoriamente clínico, mulher na segunda metade da gravidez com sangramento indolor- suspeita obrigatória – especular e toque vaginal (realizado com muito cuidado). Ultrassom: localização precisa após a 24ª semana (devido ao grau de distensão que torna visível a localização), migração da placenta (? – não migra, é elástica e estica mudando sua posição em relação ao orifício), dificuldade nas placentas posteriores Dopplerfluxometria e RNM: invasão vascular (acretismo) → Condutas: Fatores determinantes: ✓ Idade gestacional e maturidade fetal ✓ Trabalho de parto ✓ Volume da hemorragia • Menos de 36 semanas - conduta expectante (sem indícios de hemorragia grave sem alterações hemodinâmicas e sem trabalho de parto): Repouso e internação hospitalar Avaliação hemodinâmica cuidadosa Repor as perdas e evitar hemorragias graves Acelerar a maturidade pulmonar fetal (corticoide) • Mais de 36 semanas/termo – conduta ativa imediata: Cuidados gerais obrigatórios Reposição volêmica Reserva de hemoderivados Via de parto depende do tipo de inserção – → PP total: sempre cesariana → PP parcial: cesariana, com poucas exceções → PP marginal: vaginal com amniotomia precoce com trabalho de parto espontâneo → Em caso de sangramento vaginal intenso: via de parto é sempre cesariana Complicações: I. Acretismo placentário: vilosidades coriônicas quando se inserem na descidua possuem um plano de clivagem e não consegue progredir além da camada da descidua, no caso a camada esponjosa que é a última (intermediaria) antes da basal, durante a dequitação é retirado a decídua da camada esponjosa, quando o feto se nida → corion frondoso invade a decídua e para sua invasão na camada esponjosa. Acretismo é o poder de crescimento exagerado das vilosidades coriônicas que acabam ultrapassando a camada esponjosa da decídua e atingindo outras camadas. É uma invasão anômala do trofoblasto. • Quando atinge a camada basal: Acreta (camada basal não se solta) • Quando alcança o miométrio: Increta • Quando ultrapassa a serosa: Percreta (perfura a serosa do útero e pode perfurá-lo atingindo a mucosa da bexiga gerando hematúria no final da gravidez) Fatores de risco do acretismo: PP e seus fatores associados Quadro clínico do acretismo: PP que não sangra – de regra possui acretismo, é um grande complicador pois impede o descolamento da placenta sendo necessário fazer histerectomia. Hemorragia profusa no momento da tentativa de descolamento placentário – diagnóstico prévio permite preparo do centro cirúrgico para descolamento placentário e histerectomia, diminuindo o risco de evoluções mais graves, embolização previa da artéria uterina com microembolos diminuindo o risco hemorrágico Diagnóstico pode ser clínico, porém na presença de PP é interessante fazer USG com doppler colorido para ver se os vasos ultrapassam a serosa devido a placenta percreta, pode ser utilizado RNM também, porém visualização é mais difícil utilizado para confirmar suspeita clínica. II. Inserção anômala do cordão: PP com inserção do cordão na membrana, vasos correm a membrana e vão até a placenta – inserção velamentosa (semelhante a uma vela de navio) – pode não trazer complicação, porém pode romper e não estar protegido pela geleia de wharton. III. Vasa prévia: vasos do cordão umbilical na frente da apresentação, nas PP com inserção filamentosa, o próprio âmnio ou cordão que se posiciona na frente da apresentação, se a PP for lateral e o cordão estiver na frente da apresentação pode haver rotura das membranas oculares durante o parto levando ao sangramento e causar choque no feto. Definição: vasos fetais (umbilicais) se localizam na frente da apresentação (rompimento espontâneo ou durante a amniotomia) Rotura da vasa previa: → Fatores de risco: • Inserção marginal do cordão umbilical • Inserção velamentosa• Placenta bilobadas • Placenta suscenturiada (ponte vascular entre os lobos placentários) Placenta em raquete ROTURA DO SEIO MARGINAL Causa mais frequente de hemorragia e bem tardia no final da gravidez. Espaço interviloso (região de contato do compartimento materno com o fetal na placenta) possui uma borda e a membrana recobre esta borda, sendo chamada de seio marginal, essa região fica com sangue materno e se por ventura ela rompe através do descolamento há um sangramento visível, sangramento menor do que o da PP e pode ser repetitivo. Consiste na extrema periferia do espaço interviloso, episódios de sangramento indolor, de pequena quantidade e vermelho vivo. É considerado a maior causa de sangramento da gravidez avançada, diagnóstico feito através da avaliação histopatológica da placenta. DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA (DPP) → Placenta esta normalmente inserida no fundo uterino, separação inesperada antes da expulsão do feto. → Descrita somente a partir da 20ª semana de gravidez → Prematuro: não está relacionado com a IG e ocorre antes do parto → Mecanismo diverso da dequitação Epidemiologia: → Incidência: variável (0,5% a 3,5% dos partos) → 50% antes do TP e 40% dilatação e 10% no período expulsivo → Risco de recorrência: 10x em gravidez subsequente 20x com dois episódios anteriores → Mortalidade fetal de 90% → Mortalidade materna em 3% Etiologia: multifatorial → Causas: Traumáticas ou mecânicas ✓ Externas: traumas, versão externa (transformar uma apresentação em outra através de manobras, não é muito utilizada) ✓ Internas: cordão curto, movimentação excessiva do concepto, hipertensão venosa regional Causas não traumáticas ✓ Estados hipertensivos ✓ Choque anafilático ✓ Tabagismo – descidua ruim ✓ Uso de cocaína e crack Classificação: → Grau 0 – assintomático → Grau 1 (leve) – sangramento discreto, oligossintomático, feto vivo → Grau 2 (intermediário) – sinais clínicos presentes (dor e hipertonia uterina + sangramento) e feto vivo, porém, sintomas serão progressivos e opta-se pela cesárea para manter o bebe vivo → Grau 3 (grave) – sintomas do grau 2 + óbito fetal: III A: sem coagulopatia/ IIIB: com coagulopatia Quadro clínico: • Dor – localizada no fundo uterino ou no local de inserção placentária, dor repentina e intensa, útero tetânico • Hemorragia – presente em 80% dos casos, vermelho escuro e de graus variáveis (de pequena até copiosa) • Alterações hemodinâmicas – quase sempre presentes, sangramento retido dentro do útero, paciente pálida, taquicardica e hipotensa • Aumento do tônus uterino – hiperdinamia, útero não relaxa, ao redor de 40 mmHg, não se palpa o conteúdo (feto) • Vitalidade fetal – invariavelmente comprometida, morte fetal (área descolada superior a 50%) Diagnostico: ✓ Clínico – imediato, baseado na história e exame físico, conduta deve ser tomada com urgência ✓ USG – exceção, descolamentos crônicos de pacientes tabagistas, uso de cocaína – é exceção Tratamento obstétrico: → Feto vivo – resolução imediata do parto, cesariana ad initio → Feto morto – avaliar condições maternas, amniotomia imediata, cesariana se tempo de evolução superior a 4 horas Complicações: → Choque hipovolêmico: o Insuficiência renal aguda o Síndrome de Sheehan (necrose hipofisária) – paciente entra em hipogonadismo → Atonia uterina: o Útero de couvelaire o Hematoma é empurrado contra o endométrio que fica cheio de coágulos, sendo um quadro que acaba em histerectomia, útero fica com coágulos que formam listras tigradas (útero de couvelaire) → CIVD (coagulação intravascular disseminada) o A mais temida o DPP leva a aumento do insumo de plaquetas e fatores de coagulação, porém a placenta é uma região muito extensa e acaba sendo insuficiente, gastando todos os fatores de coagulação e levando a sangramento por diversos poros e entra na CIVD o Uso de plasma fresco congelado ROTURA UTERINA Pode ocorrer espontaneamente, porém é raro. Geralmente está relacionada a partos obstruídos e com a postura e assistência obstétrica. Epidemiologia: • Apanágio da má assistência obstétrica • Surge de partos obstruídos • Insistência na via vaginal • Desrespeito às normas do partograma • Ainda comum nos países subdesenvolvidos • 300 mil mulheres morrem por ano em decorrência do parto Etiologia: → Fatores predisponentes: Miometriais: ✓ Multiparidade ✓ Cesarianas previas ✓ Acretismo Distocias: ✓ Vicio pélvico ✓ Desproporção cefalopelvica ✓ Macrossomia fetal ✓ Tumores prévios (miomas segmentares) → Fatores desencadeantes • Hipercontratilidade uterina ▪ Secundária DCP Ocitócicos • Intervenções obstétricas → Fórcipes alto (proscrito) → Versões (proscrito) → Descolamento manual de placenta (proscrito) → Manobra de zavanelli (manobra heroica de distocia de ombro – proscrito e de exceção) • Traumas Classificação: Quadro clínico: • Gestações iniciais – acretismo placentário ▪ Quadro de abdome agudo – dor intensa, hemorragia e irritação peritoneal ▪ Diagnóstico diferencial com prenhez ectópica • Na segunda metade da gestação: ▪ Quadro brando ▪ Dor hipogástrica associada a sangramento discreto ▪ Exame físico: duas massas (útero e feto). BCF inaudíveis. Evolui com óbito fetal • Iminência de rotura uterina ou síndrome de bandl-frommel: ▪ Útero tenta vencer a sua resistência devido a obstrução através de contrações ▪ Contrações vigorosas e dolorosas (hiperdinamia) ▪ Sinal de bandl: palpação de relevo que separa o corpo uterino do segmento inferior na altura da cicatriz umbilical ▪ Sinal de frommel: palpação dos ligamentos redondos na face ventral do útero ▪ Alterações na frequência cardíaca fetal Síndrome de Bandl-Frommel: • Iminência de rotura uterina • Dor intensa • Distensão exagerada do segmento inferior • Retesamento dos ligamentos redondos Diagnóstico: • Acalmia da dor • Subida da apresentação (sinal de reasens) – feto vai para cavidade abdominal e não é palpável • Superficialidade fetal ao lado da massa uterina contraída • Hemorragia vaginal • Ausência de BCF • Crepitação subcutânea (sinal de clark) – enfisema subcutâneo Prognóstico → Fetal: muito ruim → Materno: bom ✓ Dificuldade de sutura uterina ✓ Lesão de órgãos vizinhos, principalmente bexiga ✓ Histerectomia
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