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Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 1 Pancreatite aguda Conceito: A pancreatite aguda é definida pela inflamação aguda do pâncreas que pode envolver tecidos peripancreáticos ou órgãos à distância; É uma doença comum e com amplo espectro de apresentação, havendo desde formas leves, mais comuns e que respondem bem ao tratamento conservador, a formas graves, que requerem internações prolongadas em unidades de terapia intensiva, uso de antimicrobianos de amplo espectro e intervenções cirúrgicas; Morbidade e mortalidade são baixas nos casos leves e elevadas nos graves, sobretudo naqueles com necrose pancreática infectada. Para a distinção entre as duas formas, utilizam-se critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos isolados ou agrupados sob forma de escores prognósticos; Apesar de sua frequência elevada, morbidade e mortalidade, a fisiopatologia da pancreatite aguda é mal conhecida; e as evidências de um tratamento ideal são poucas. Classificação: A classificação mais amplamente adotada para estudo das pancreatites agudas é a Classificação de Atlanta Epidemiologia: A incidência da pancreatite aguda no Brasil é desconhecida; A mortalidade na pancreatite aguda respeita um padrão bimodal, devendo-se, nas primeiras duas semanas, à resposta inflamatória sistêmica e às disfunções orgânicas por ela induzidas. Após esse período, deve-se, habitualmente, às complicações infecciosas da doença; Melhor conhecimento da fisiopatologia da pancreatite aguda e desenvolvimento e implementação de novas medidas terapêuticas reduziram a mortalidade nos casos graves, embora ela ainda atinja 30% em alguns casos; É importante ressaltar que as pancreatites graves são, geralmente, de etiologia biliar. Fatores de risco/Etiologia: Litíase biliar: o A migração de cálculos biliares é a principal causa de pancreatite aguda, correspondendo a,aproximadamente, 40% dos casos; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 2 o O mecanismo pelo qual os cálculos provocam a pancreatite aguda é desconhecido, mas as hipóteses mais prováveis são: Passagem de um cálculo gerando edema transitório da papila com discreta obstrução ao esvaziamento do ducto pancreático principal; Durante a passagem do cálculo através da ampola, possibilidade de refluxo de bile em função da obstrução transitória. o Apesar da litíase biliar ser a principal causa de pancreatite aguda, apenas 3 a 7% dos pacientes portadores de cálculos desenvolvem a doença, sendo os principais fatores de risco para sua ocorrência sexo masculino e cálculos menores do que 5 mm. o Um dado interessante é que a pancreatite biliar é mais comum em mulheres, pois a litíase é muito mais comum entre elas do que entre os homens; o O barro biliar é uma suspensão viscosa de bile na vesícula biliar que pode conter cálculos pequenos ou microlitíase (cálculos < 3 mm). A ultrassonografia permite sua identificação, embora possa ser difícil identificar microcálculos em meio à lama biliar. Em geral, surgem em indivíduos com estase biliar funcional ou mecânica. Não há estudos associando a presença desses achados com a ocorrência de pancreatite aguda, mas sua incidência nos portadores de pancreatite aguda idiopática é de, aproximadamente, 70%; o Colecistectomia e uso de ácido ursodeoxicólico reduzem sua incidência. Álcool: O álcool é responsabilizado por 30% das pancreatites agudas, afetando, predominantemente, homens jovens com relato de consumo alcoólico abusivo; De modo geral, pacientes que apresentam pancreatite aguda por álcool já possuem, na maioria das vezes, evidências funcionais ou morfológicas de pancreatite crônica, de tal maneira que é inadequado usar a designação pancreatite aguda, devendo-se classificá-la como pancreatite crônica agudizada ou crise de agudização de uma pancreatite crônica. Hipertrigliceridemia: Trata-se de causa rara para pancreatite aguda; A doença surge pela deposição excessiva de cálcio no ducto pancreático com ativação prematura do tripsinogênio; Pode ocorrer em pacientes com hiperparatireoidismo, hipercalcemia paraneoplásica, sarcoidose, toxicidade por vitamina D ou no intraoperatório de cirurgias cardíacas, durante as quais utiliza-se, rotineiramente, infusão de altas doses de cálcio. #Obs: O tripsinogênio é uma pró-enzima pancreática, um precursor inativo para a enzima tripsina. Normalmente, o tripsinogênio é produzido no pâncreas e transportado para o intestino delgado. Neste, ele é ativado e transformado em tripsina por uma enzima da mucosa intestinal. A principal função da tripsina é a digestão de proteínas. Drogas: Medicamentos são causa incomum para pancreatite aguda, respondendo por, aproximadamente, 1,4% dos casos; Apesar de sua baixa frequência, são um problema em por acreditar-se que tais pancreatites agudas são subestimadas, uma vez que, para seu diagnóstico, é necessário alto índice de suspeita; Além disso, casos leves podem não ser reconhecidos, pois a amilase não é dosada de modo rotineiro, como o são as aminotransferases, o período de latência entre a exposição à Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 3 droga e o efeito adverso é variável entre os indivíduos e as medicações, e muitos casos de pancreatite aguda são erroneamente atribuídos ao etanol ou à litíase biliar; Os mecanismos responsáveis pela pancreatite aguda medicamentosa são variáveis, incluindo: Efeito tóxico direto da droga; Reações de hipersensibilidade; Efeito tóxico indireto, mediado por hipertrigliceridemia ou outras anormalidades metabólicas. #Obs: Hipersensibilidade é um processo de dano tissular (dano em um tecido) secundário a uma reação inflamatória. As principais drogas relacionadas às pancreatites agudas são: Infecções: Vários agentes infecciosos são potenciais causadores de pancreatite aguda, mas a frequência com que isso ocorre é desconhecida; O diagnóstico etiológico, nesses casos, é complexo e depende da definição do quadro de pancreatite paralelamente à definição da existência da infecção; Pancreatite aguda de causa infecciosa deve ser cogitada se o paciente apresentar a síndrome causada pelo agente infeccioso, o queocorrena maioria dos casos. Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) O quadro de pancreatite aguda pode ser observado após 5% das CPRE diagnósticas e 7% das CPRE terapêuticas; Os principais fatores de risco para sua ocorrência são: História pregressa de pancreatite; Sexo feminino; Bilirrubinas séricas normais; Ausência de pancreatite crônica; Canulação difícil; Dilatação biliar por balão; Esfincterotomia; Múltiplas injeções de contraste; Suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi. Tumores: Quaisquer tumores pancreáticos ou papilares que provoquem obstrução à drenagem do suco pancreático podem levar a quadros de pancreatite aguda, sobretudo em indivíduos acima dos 40 anos de idade, podendo o comprometimento agudo do pâncreas ser até mesmo a primeira manifestação da neoplasia. Adenocarcinomas e neoplasias intraductais mucinosas do pâncreas são as principais responsáveis por tais quadros. Fisiopatologia: Pancreatites agudas têm como evento inicial a ativação prematura do tripsinogênio no interior das células pancreáticas em quantidades suficientes para superar os mecanismos de defesa capazes de proteger o pâncreas da tripsina ativada; O resultado disso é a ativação seriada dos demais zimogênios e da fosfolipase A2, promovendo aautodigestão do parênquima pancreático; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 4 Essa agressão inicial leva a complicações inflamatórias locais e ao desencadeamento de uma resposta inflamatória sistêmica; Os mecanismos implicados incluem lesão endotelial, liberação de citocinas pró e anti-inflamatórias, estresse inflamatório e translocação bacteriana a partir do trato gastrintestinal, sobretudo o cólon; A migração de grandes contingentes de células inflamatórias para o pâncreas faz com que a agressão se perpetue e possa se generalizar; As alterações microcirculatórias são muito importantes na fisiopatologia das formas mais graves de lesão pancreática aguda, observando-se vasoconstrição, estase capilar, shunts arteriovenosos, aumento da permeabilidade capilar e isquemia tecidual; Todos esses fatores podem levar a edema local; e, nos casos mais graves, o processo pode se generalizar, com extravasamento de quantidades relevantes de água livre do plasma para o terceiro espaço, provocando hipotensão e hemoconcentração; Na fase tardia das pancreatites agudas graves, infecções dos tecidos pancreático e peripancreático surgem como principal causa de mortalidade; A hipotensão secundária ao extravasamento de água livre para o terceiro espaço por alteração da permeabilidade capilar resulta em isquemia intestinal e queda da barreira mucosa, provocando microfraturas epiteliais que permitem o deslocamento de microorganismos provenientes da luz do cólon para a circulação linfática e venosa; Muitas vezes, esses pacientes possuem algum grau de supercrescimento bacteriano subclínico, seja por íleo prolongado ou uso concomitante de antimicrobianos de amplo espectro; Uma vez em contato com o tecido pancreático necrótico, tais micro-organismos encontram um ambiente propício para proliferação; A circulação sistêmica de citocinas (IL-1,IL-8,IL-6, TNF-alfa), fosfolipase A2 e espécies reativas do oxigênio provoca lesões em órgãos à distância e disfun- ção de múltiplos órgãos, destacando-se, principalmente, a síndrome do desconforto respiratório do adulto. Quadro clínico: Dor abdominal é a principal queixa da maioria dos pacientes com pancreatite aguda, sendo sua intensidade variável de leve desconforto à dor incapacitante. Caracteristicamente, a dor abdominal é contínua, mal definida, localizada no epigástrio ou no andar superior do abdome, irradiando-se para o dorso, mas também pode atingir o flanco direito ou esquerdo; O alívio da dor ocorre na posição genupeitoral, e há agravamento com a adoção da posição supina ou com o esforço; #Obs posições: Em 90% dos casos, a dor se acompanha de náuseas e vômitos, possivelmente relacionados à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago; O exame físico dos pacientes varia de acordo com a gravidade do quadro; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 5 Assim, no exame físico de pacientes com a doença leve, há desconforto abdominal à palpação do epigástrio e do andar superior do abdome, podendo-se notar um plastrão (massa) inflamatório; habitualmente, não são observados sinais de distensão abdominal ou descompensação hemodinâmica; Nas formas graves, nota-se um paciente agudamente enfermo, com sinais de toxemia, abdome doloroso, distendido, com respirações superficiais em razão da irritação frênica pelo processo inflamatório e evidências de irritação peritoneal; Outros sinais de gravidade incluem hipotensão, taquicardia, febre e íleo paralítico; alterações sensoriais também podem surgir, caracterizando a encefalopatia pancreática. #Obs: Íleo paralítico É a incapacidade do intestino de se contrair normalmente e expelir os resíduos do corpo. Até 25% dos pacientes com quadro de pancreatite aguda encontram-se ictéricos em função da litíase biliar, seja por coledocolitíase com ou sem colangite aguda, seja pela passagem do cálculo biliar na via biliar principal, associada a edema da papila duodenal; Hemorragia digestiva pode ocorrer por úlceras de estresse ou presença da síndrome de Mallory-Weiss secundária a vômitos intensos. #Obs: A síndrome de Mallory-Weiss consiste em laceração (estrago) não penetrante das mucosas do esôfago distal e do estômago proximal, causada por vômitos, ânsia ou soluços. Diagnóstico: Para diagnóstico de uma pancreatite aguda, os seguintes critérios são utilizados: Dor abdominal persistente, de forte intensidade, localizada no andar superior do abdome com irradiação para o dorso e associada a náuseas e vômitos; Amilase ou lipase maior ou igual a três vezes o limite superior da normalidade; Achados tomográficos compatíveis com pancreatite aguda; Dosagem das enzimas pancreáticas é o exame laboratorial mais indicado para diagnóstico da pancreatite aguda mas elas podem se encontrar alteradas em grande número de condições tanto pancreáticas quanto não pancreáticas, de modo que elevações discretas devem ser analisadas em um contexto clínico bastante amplo; O intervalo de tempo entre início dos sintomas e dosagem das enzimas deve ser lembrado, pois elevações persistentes das enzimas após a resolução do quadro sugerem presença de complicações, como pseudocistos; Elevações superiores a três vezes o limite superior da normalidade são consideradas mais específicas para diagnóstico de pancreatite aguda, e os níveis séricos dessas enzimas não possuem qualquer implicação prognóstica. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 6 Exames de imagem mais utilizados e alterações mais observadas neles para diagnóstico das pancreatites agudas: Prognóstico: A pancreatite aguda possui um curso clínico bastante distinto nas formas leves e graves; As formas leves correspondem a 85% do total das pancreatites agudas e se caracterizam por serem autolimitadas, com melhora clínica em até sete dias sob tratamento conservador com jejum e analgésicos. Nessa situação, a mortalidade é de, aproximadamente, 3%; A forma grave, por outro lado, associa-se a até 30% de mortalidade, e os pacientes costumam apresentar disfunções orgânicas múltiplas, complicações infecciosas e necessidade de internação prolongada em ambiente de terapia intensiva; Por essas diferenças entre a forma leve e grave, são imprescindíveis a determinação prognóstica e o reconhecimento precoce das formas graves, de modo que se implementem medidas de monitorização e tratamento intensivo nos casos de maior gravidade; Foram desenvolvidos diversos escores prognósticos e identificados parâmetros clínicos e laboratoriais capazes de predizer a gravidade. Escore de Ranson: O escore de Ranson é o mais tradicional, mas tem como desvantagem principal a necessidade de pelo menos 48 horas de observação após admissão para definição do prognóstico. Uma pontuação maior ou igual a três indica quadros graves; Este escore pode ser calculado várias vezes ao longo do dia para avaliar a resposta do paciente ao tratamento instituído. Escore de APACHE II: O escore APACHE II avalia uma série de parâmetros clínicos e laboratoriais; Apesar de mais trabalhoso para ser calculado permite avaliar os pacientes de forma mais rápida do que o escore de Ranson, não sendo necessárias 48 horas de espera; Um escore APACHE II maior ou igual a oito sugere quadros graves. Escore de Balthazar-Ranson: O escore de Balthazar-Ranson se baseia nos achados da tomografia de abdome para predizer gravidade, não considerando parâmetros clínicos ou laboratoriais; Nele, uma pontuação total maior ou igual a seis indica quadros graves. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 7 Idade avançada (> ou = 55 anos), obesidade (IMC > ou = 30kg/m2) e presença de disfunções orgânicas à admissão sem reversão por mais de 48 horas são parâmetros clínicos simples que sugerem quadros graves; Diversos parâmetros laboratoriais têm sido propostos para avaliação de gravidade em pancreatites agudas, como hemoconcentração, altos níveis de proteína C reativa e dosagens elevadas de IL-6, IL-8, elastase neutrofílica, fosfolipase A2 e peptídeo ativador do tripsinogênio, sendo estes últimos pouco disponíveis na prática clínica diária. Diagnósticos diferenciais: Inclui diversas condições como doença ulcerosa péptica, colecistite, obstrução intestinal, oclusão mesentérica, cólica nefrética (cólica ureteral), dissecção de aorta e quadros de síndrome coronariana e pneumonia, entre outras condições; Pacientes com úlcera péptica podem ter dor na mesma distribuição usual da dor da PA; A obstrução intestinal apresenta dor em cólica e os exames de imagem são característicos de obstrução mecânica; A isquemia mesentérica, por sua vez, ocorre principalmente em idosos e se manifesta com leucocitose, distensão abdominal e diarreia sanguinolenta, principalmente após refeições. A amilase pode estar aumentada e o diagnóstico de certeza é através da angiografia. Tratamento: Medidas gerais: A avaliação dos sinais vitais (frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória, saturação periférica de oxigênio, temperatura e diurese) deve ser realizada de quatro em quatro horas nas primeiras 24 horas; Oxigênio suplementar deve ser fornecido se narcóticos forem administrados ou houver queda da saturação de oxigênio; #Obs: Narcóticos são uma variedade de substâncias que deprimem o sistema nervoso central e produzem assim sonolência e acentuada redução na sensibilidade à dor. A gasometria arterial deve ser realizada se: A saturação de oxigênio for menor ou igual a 95%; Se houver hipotensão; Se houver alteração do parâmetro respiratório por causa do alto risco de complicações respiratórias associadas às formas graves. Nessas situações, controle radiográfico também é necessário. Reposição volêmica: Na PA a hipovolemia secundária ao sequestro de grandes quantidades de líquido para o terceiro espaço implica acentua- ção dos fenômenos isquêmicos no pâncreas inflamado aumentando o risco de necrose e outras complicações secundárias à hipovolemia, como insuficiência renal aguda; A reposição volêmica deve ser iniciada precoce e agressivamente, visando a manter estabilidade hemodinâmica, diurese maior do que 0,5 a 1 mL/kg/hora e normalização do hematócrito; De modo geral, nas primeiras 24 horas, infunde-se 30 a 40 mL/kg de Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 8 cristalóides, sendo metade deste volume nas primeiras seis horas de observação, não havendo evidências suficientes que favoreçam o uso de colóides em relação ao de cristaloides; A via periférica pode ser utilizada com segurança nos pacientes com pancreatites leves, mas recomenda-se uso de veia central em portadores de pancreatites agudas graves; Devem ser evitados reposição volêmica subótima (padrão abaixo do ideal) e uso de diuréticos para promover diurese. Analgesia: Dor abdominal é o sintoma predominante na maioria dos pacientes com pancreatite aguda, devendo ser combatida de maneira eficaz; Analgésicos opióides por via venosa são preferíveis, pois a via subcutânea não é recomendada, sobretudo em pacientes com instabilidade hemodinâmica não revertida; A meperidina foi tradicionalmente favorecida em relação à morfina em razão do conceito de esta última poder promover espasmo do esfíncter de Oddi e agravamento da pancreatite, mas esse é apenas um risco teórico sem confirmação prática. #Obs: Não há relatos convincentes de que a morfina seja capaz de induzir espasmo do esfíncter ou mesmo pancreatite aguda em portadores de litíase biliar em seres humanos. Nutrição: É considerado tratamento padrão para os quadros leves; Sua adoção baseia-se no conceito fisiológico de que a alimentação aumenta a secreção de enzimas pancreáticas e isso, no contexto de uma pancreatite aguda, aumentaria o processo inflamatório local e perpetuaria a agressão sistêmica; Pacientes com pancreatite aguda leve, habitualmente, são mantidos em jejum oral por três a sete dias até que seja possível a reintrodução de dieta; De modo geral, recomenda-se realimentação quando houver melhora da dor, presença de ruídos hidroaéreos e redução dos níveis de amilase/lipase abaixo de três vezes o limite superior da normalidade; Na pancreatite aguda grave, sempre que possível, deve-se optar pela introdução da dieta por via enteral após estabilização hemodinâmica, pois seus efeitos tróficos sobre a mucosa intestinal reduzem translocação bacteriana e incidência de complicações infecciosas; As complicações da dieta enteral também são menores do que as da via parenteral (p. ex., infecção de cateter, trombose de vasos profundos), bem como seu custo; A maioria dos consensos recomenda que a forma de administração da dieta enteral seja através do uso de sondas nasojejunais, embora dados preliminares sugiram que sondas nasogástricas seriam eficazes e não implicariam exacerbação da pancreatite; Aqueles que não tolerarem a via enteral, seja por íleo paralítico ou outras complicações, e aqueles cuja meta calórica não foi atingida somente com dieta enteral até 48 horas após sua introdução devem receber nutrição parenteral. Antimicrobianos profiláticos: Não há consenso a respeito do uso de profilático de antimicrobianos nos casos graves, mas é interessante destacar que a maior parte da mortalidade relacionada à pancreatite aguda se dá nesses casos; dos quais, cerca de 30% apresentam necrose pancreática; De todas as necroses pancreáticas, 70% infectam, sendo o risco maior entre a segunda e a quarta semanas de doença e em pacientes com mais de 30% de necrose do tecido pancreático; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 9 A maior parte das infecções ocorre por translocação bacteriana a partir do intestino; sendo, em grande parte, monobacterianas; Os principais patógenos sãoE.Coli, Klebsiella, Staphylococcus e Pseudomonas; Devem ser utilizados antimicrobianos de amplo espectro e com boa penetração no tecido pancreático, como carbapenêmicos, metronidazol, fluoroquinolonas, clindamicina e cefalosporinas; Em pacientes com necrose superior a 30% do tecido pancreático e disfunções orgânicas clinicamente importantes, podem ser usados antimicrobianos profilaticamente. Quando iniciados, devem ser mantidos por sete a quatorze dias ou até que tenha sido totalmente descartada a possibilidade de infecção. Deve-se ter em mente que o uso profilático de antimicrobianos pode aumentar o risco de resistência bacteriana e infecções fúngicas. Manejo da necrose pancreática: A necrose pancreática é, por si só, um marcador de gravidade da pancreatite aguda, refletindo maior dano ao parênquima e disfunção microcirculatória mais importante; O diagnóstico da necrose pancreática é feito, preferencialmente, por meio de tomografia computadorizada com contraste venoso, mas pode ser suspeitado quando há sinais inflamatórios persistentes (p. ex., febre, leucocitose, proteína C reativa elevada > 15 mg/dL, após 48 horas de doença), instabilidade hemodinâmica e disfunçãode órgãos e sistemas; Quando identificada necrose pancreática, é fundamental determinar se é ela estéril ou infectada. À tomografia abdominal, presença de bolhas no retroperitônio sugere infecção. Nos casos nos quais não haja tal achado, deve-se proceder à aspiração percutânea guiada por tomografia de áreas suspeitas com coloração pelo Gram e cultura do material obtido; A necrose estéril deve ser tratada conservadoramente, e uma necrosectomia deve ser adiada desde que as condições clínicas do paciente o permitam, até a terceira ou quarta semana de evolução para permitir melhor organização do processo inflamatório e demarcação do tecido viável em relação ao inviável.Após esse período, se houver persistência de dor abdominal relevante que impeça a alimentação oral ou disfunções orgânicas significativas, indica-se intervenção cirúrgica, optando-se por procedimentos minimamente invasivos; A necrose infectada deve ser entendida como marco importante na evolução da pancreatite aguda grave,pois sua instalação traduz agravamento clínico e aumento da mortalidade. O tratamento é o desbridamento, por necrosectomia cirúrgica convencional ou procedimentos menos invasivos (drenagem percutânea guiada por tomografia, drenagem endoscópica, retroperitoneoscopia etc.), o que dependerá da experiência individual e da disponibilidade de recursos do local; O momento para o desbridamento não é conhecido, devendo ser avaliado conjuntamente por gastroenterologista, intensivista e cirurgião. Tratamento endoscópico: Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) com esfincterotomia é indicada para remoção de cálculos biliares em pacientes com: Colangite associada à pancreatite aguda; Pancreatites agudas graves; Colecistectomizados com pancreatite aguda biliar; Evidências de obstrução biliar significativa; Que não são bons candidatos a uma colecistectomia; Idealmente, deve ser realizada nas primeiras 48 a 72 horas do início do quadro. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 10 Complicações:
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