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Isadora Albuquerque Hipercalcemia FISIOLOGIA DO CÁLCIO O cálcio corre no plasma de duas maneiras: 1. Ligada as proteínas plasmáticas, principalmente a albumina; 2. Na sua forma livre, que é o cálcio ionizado. Quando o cálcio diminui no intravascular, os hormônios reguladores do cálcio entram em ação: 1. Paratormônio (PTH), que é um hormônio produzido pelas paratireoides. Ele atua no osso, aumentando a reabsorção óssea, através do aumento da atividade osteoclástica, ele vai aumentar, então ele vai gerar aí uma hipercalcemia, pelo aumento da reabsorção óssea. Ademais, atua no rim, aumentando a reabsorção renal de cálcio. 2. Vitamina D, que atua aumentando a absorção intestinal de cálcio, em todos os níveis do intestino delgado e, no rim, aumentando também a reabsorção renal de cálcio. As paratireoides são 4 glândulas que ficam na tireoide, e quando o cálcio cai, elas produzem o paratormônio. Hormônios contraregulatórios: 1. Calcitonina: vai subir quando os níveis de cálcio estão altos, a fim de diminuir os níveis de cálcio. Ela atua diminuindo a quantidade de cálcio sérico, através do aumento excreção renal de cálcio. APRESENTAÇÃO Se apresenta na forma de cálcio total (8,5 a 10,5 mg/dL) e na forma de cálcio ionizado (1,15 a 1,3 mmol/L) HIPERCALCEMIA A quantidade de cálcio total sérico está aumentado (maior do que 10,5 mg/dL). Classificações: Hipercalcemia leve > 10,5 e <12 mg/dL. Hipercalcemia moderada Entre 12-14 mg/dL Hipercalcemia grave > 14 mg/dL. As manifestações de hipercalcemia podem variar, desde um paciente assintomático, com aumento laboratorial, até uma crise grave de hipercalcemia, que cursa com rebaixamento do nível de consciência, confusão mental, convulsão e coma. QUADRO CLÍICO Depende da magnitude da hipercalcemia (quanto mais alto, mais chance o paciente tem de apresentar manifestações), e da velocidade de ascensão. O cálcio é uma molécula fundamental para vários sistemas orgânicos, dentre eles: a condução nervosa (então ele dá sintomas neurológicos), a contração muscular (então vai ter sintomas tanto da musculatura estriada, quanto da musculatura lisa), do metabolismo ósseo e da coagulação. Os sintomas mais precoces da hipercalcemia são os sintomas neurológicos e, principalmente, os sintomas neuropsiquiátricos (dificuldade de concentração, ansiedade, insônia). Mas pode ter também sintomas neurológicos graves, como confusão mental, rebaixamento do nível de consciência, crise epiléptica e coma. Há, ainda, a presença fraqueza muscular, tendo em vista que o cálcio atua na contração do músculo estriado. Isadora Albuquerque Sintomas gastrointestinais: o cálcio atua na musculatura lisa, então o paciente frequentemente tem constipação, náusea, vômito, anorexia. Sistema renal: o sintoma mais frequente é a poliúria. A hipercalcemia frequente leva a lesão tubular e dificuldade de concentração da urina, é o diabético insipidus nefrogênico. Nesses pacientes, é comum o a paciente apresentar poliúria e polidipsia e o paciente se apresenta desidratado com perda renal de água. Pode ocorrer ainda nefrolitíase e insuficiência renal, pela deposição renal de cálcio. Se depositar dentro do túbulo, causa o cálculo renal (nefrolitíase) e se depositar no parênquima renal, ocorre a insuficiência renal. Isso ocorre principalmente em casos de hipercalcemia crônica Sintomas cardiovasculares: encurtamento do intervalo QT e arritmias, pois ele atua também na contração da musculatura cardíaca. As arritmias mais frequentemente encontradas são a bradicardia sinusal e o bloqueio atrioventricular de primeiro grau. ETIOLOGIA 90% das hipercalcemias são causadas por duas doenças: 1. Hiperparatireoidismo paciente ambulatorial, com cálcio dosado, oligossintomático, assintomático. 2. Neoplasias paciente internado, com hipercalcemia mais importante. Outras causas que merecem ser lembradas são os medicamentos, os principais são: a) Diuréticos tiazídicos, pois atuam diminuindo a excreção renal de cálcio; b) Intoxicação por carbonato de cálcio, o que vai levar a uma síndrome rara, que é a síndrome do leite alcalino. Essa síndrome ocorre em pacientes que tomam muito carbonato de cálcio, pela presença frequente da dispepsia, ou que fazem reposição de carbonato de cálcio associado a insuficiência renal crônica. A intoxicação por carbonato de cálcio vai levar a uma hipercalcemia, alcalose metabólica e insuficiência renal, que gera um ciclo vicioso, causando mais hipercalemia, alcalose metabólica... c) Lítio: causa hipercalcemia pela hiperprodução de PTH pelas glândulas paratireoides d) Hipervitaminose D: a vitamina D aumenta a absorção intestinal de cálcio. Essa intoxicação por vitamina D pode ser exógena, em pacientes que tomam vitamina D, ou endógena, pela hiperprodução de vitamina D pelo organismo. A hiperprodução endógena vai acontecer em doenças granulomatosas, como, por exemplo, a sarcoidose e granulomatose de Wegener e) Hipercalcemia hipocalciúrica familiar: esses pacientes tem uma desordem genética que bloqueiam a excreção renal de cálcio. Assim, vão excretar pouco cálcio e, consequentemente, vão ter hipercalcemia. f) Tireotoxicose: aumenta a atividade dos osteoclásticos. g) Insuficiência adrenal: pelo aumento da reabsorção óssea e atividade osteoclástica h) A insuficiência renal crônica pode cursar com hipercalcemia em pacientes que tomam muito carbonato de cálcio, como quelante do fosfato ou, mais importante, associado ao hiperparatireoidismo secundário ou terciário. É muito comum que os pacientes renais crônicos tenham hiperfosfatemia, pois o fosfato é um dos íons mais prejudicados quando acontece a insuficiência renal, principalmente na insuficiência renal crônico. Quando o fosfato está alto no sangue, ele se liga ao cálcio, gerando uma hipocalcemia. Então é comum que esses pacientes recebam carbonato de cálcio como forma de tratar a hiperfosfatemia e pode ocorrer, então, intoxicação por carbonato de cálcio e na presença de doença óssea adinâmica, hipercalcemia. Uma outra justificativa para a hipercalcemia causada pela insuficiência renal crônica é: as paratideoides estão continuamente sendo estimuladas, então pode haver uma hiperplasia das glândulas paratireoides, com hiperprodução de PTH. Isso costuma normalizar o cálcio, deixando ele um pouquinho elevado, mas não gera uma hipercalcemia muito importante, isso é o hiperparatireoidismo secundário. Isadora Albuquerque Ou ainda, pode ocorrer um adenoma de paratireoide, com uma produção muito exacerbado do PTH e aí sim, gerando hipercalcemia DIAGNÓSTICO A primeira coisa a fazer é dosar o cálcio total ou o cálcio iônico. É importante lembrar que o cálcio ele corre no plasma ligado às proteínas plasmáticas, principalmente a albumina. Sendo assim, precisamos corrigir a calcemia total para albumina. Como fazer isso? A cada 1g/L de variação na albumina altera-se 0,8mg/dL na calcemia. Então se a albumina varia para baixo, eu corrijo a calcemia para cima. Se for feita a correção e o paciente tiver com hipercalcemia, nós imediatamente dosaremos o PTH HIPERCALCEMIA PTH ALTO (PTH dependentes) Principal diagnóstico: hiperparatireoidismo – causada pela hiperprodução de PTH Diagnóstico diferencial: hipocalciúria hipercalcêmica familiar – excreção renal de cálcio baixo (<1%); Para diferenciar as duas, é só dosar a calciúria. Se a excreção renal de cálcio for normal ou, mais frequentemente, alta, esse paciente tem um hiperparatireoidismo. PTH BAIXO OU NORMAL (PTH independentes) Principal diagnóstico: neoplasia – podeproduzir hipercalcemia por diversos mecanismos. Os principais são 3: I. PTHRP, que é uma proteína semelhante ao PTH e vai agir no osso aumentandoa reabsorção óssea e no rim aumentando a reabsorção de cálcio. II. Produção de vitamina D, como ocorre nos linfomas; III. Na presença de metástase óssea, pela secreção parácrina de citocinas, pode haver hiperativação dos osteoclastos e, consequentemente, hipercalcemia. Diagnósticos diferenciais: doenças granulomatosas, síndrome de leite- álcali, medicações, intoxicação por vitamina D ou vitamina A, hipertireoidismo, imobilização. TRATAMENTO 1ª medida: HIDRATAÇÃO (soro fisiológico, solução isotônica, ringer lactato) É comum que os pacientes cheguem desidratado, pois eles tem a poliúria causada pelo diabetes insipidus nefrogênico. Então a gente hidrata esse paciente a fim de manter ele euvolêmico. Diuréticos tiazídicos, especificiamente a furoremida: se o paciente começa a ficar hipervolêmico, usaremos diuréticos. A furosemida tem como um dos efeitos colaterais justamente a hipocalcemia. Bifosfonados (Pamidronato, Zoledronato): a hidratação e o diuréticos costumam ser INEFICAZES no tratamento de hipercalcemia grave. Esses bifosfonados supracitados atuam bloqueando a atividade osteoclástica e, portanto, tratando a hipercalcemia através da inibição da reabsorção óssea. O problema dos bifosfonados é que eles demoram 2-4 dias para fazer efeito e dura de 15 a 30 dias. A vantagem é que ele é dose única e dura todo esse tempo. Então você usa em pacientes com hipercalcemia grave, principalmente os que têm alterações neurológicas. Calcitonina: como os bifosfonados demoram para agir, em pacientes graves precisamos de uma droga que haja RAPIDAMENTE. A hidratação vai fazer um pouco disso, mas a calcitonina é o mais importante. A calcitonina é um hormônio contrarregulador do cálcio e ela atua reduzindo a calcemia através da excreção renal de cálcio. A vantagem é que ela atua rapidamente, então em 6h o cálcio já começa a diminuir, mas a desvantagem é que ela só dura 48 horas. EM CASOS GRAVES SEGUIMOS O SEGUINTE PLANO: Hidratação + Bifosfonados (que vai começar a agir quando a calcitonina estiver diminuindo) + calcitonina (para diminuir na hora) e vai manter o tratamento com bifosfonados. Corticoide: usado quando a hipercalcemia está associado a doenças granulomatosas e a intoxicação por vitamina D. Isadora Albuquerque Ele atua diminuindo a atividade osteoclástica, mas principalmente diminuindo a produção de vitamina D pelo granuloma. Tratar a causa: SEMPRE, pois vai ser a medida que vai controlar a hipercalcemia de maneira definitiva.
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