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Endocrinologia Semestre VI 2020 FAM - SP Caso clínico 1............................................................................................................................ 1 Anatomia e fisiologia da tireoide............................................................................................ 2 Hipotireoidismo.......................................................................................................................... 5 Hipertireoidismo.........................................................................................................................8 Caso clínico 2............................................................................................................................11 Síndrome Anorexia Caquexia.................................................................................................12 Síndrome Consumptiva...........................................................................................................14 Terapia nutricional....................................................................................................................17 Cuidados paliativos................................................................................................................18 Manejo da dor.........................................................................................................................19 Aspectos médicos legais........................................................................................................19 Caso clínico 3...........................................................................................................................21 Fisiologia da fome e saciedade...........................................................................................22 Obesidade................................................................................................................................23 Tratamento cirúrgico para obesidade.................................................................................24 Caso clínico 4...........................................................................................................................26 Doença celíaca......................................................................................................................27 Intolerância à lactose.............................................................................................................29 Alergia à proteína do leite.....................................................................................................31 Caso clínico 5......................................................................................................................... 34 Parasitoses intestinais..............................................................................................................35 Caso clínico 6..........................................................................................................................43 Drogas psicoestimulantes......................................................................................................44 Transtornos alimentares..........................................................................................................47 Referências..............................................................................................................................52 ENDOCRINOLOGIA – CASO CLÍNICO 1 “Metabolismo Avançado” Perpétua, 32 anos chega ao Pronto Atendimento, trazida pelo seu companheiro, com queixa de palpitação. Diz que sempre “teve boa saúde”, mas que na manhã de hoje despertou com “batedeira no coração”, agitada e nervosa. Negava febre, cefaleia ou dor torácica. No último mês, referiu que apresentou inúmeros episódios similares de palpitação, progressivamente mais frequentes, os quais não estavam, necessariamente, relacionados à atividade física. Notou também sensação de fadiga intensa às atividades habituais, porém negava a presença de “falta de ar”. Relatava sono irregular e, apesar de dormir poucas horas por dia, não se sentia sonolenta. Apresentava também nervosismo “fora do comum” e muita irritabilidade que acreditava estar relacionada ao estresse do trabalho. Apesar de referir um aumento do apetite, emagreceu 8 quilos no período. Nos últimos seis meses, mudou radicalmente sua alimentação, á medida que se tornou vegana. Ao exame físico, apresentava-se visivelmente agitada, o que dificultava a interação com a equipe médica, pressão arterial 160 x 70 mmHg, frequência cardíaca de 144 bpm, retração palpebral e um olhar “assustado”, tireoide palpável sem nodulações, pele úmida e quente e presença de edema pré- tibial. 1 ENDOCRINOLOGIA – ANATOMIA DA TIREOIDE • A glândula tireoide é uma glândula única, que se situa anteriormente à traqueia, entre a cartilagem cricóidea e a incisura supraesternal, entre a 5ª vértebra cervical e a 1ª torácica; • Possui dois lobos conectados por um istmo e quatro glândulas paratireoides na região posterior, produtoras do paratormônio; • Cerca de 50% das glândulas tireoides têm um lobo piramidal que varia em tamanho, estendendo-se superiormente a partir do istmo da glândula tireoide, em geral à esquerda do plano mediano; • A tireoide é uma glândula altamente vascularizada. Sua vascularização arterial é realizada, principalmente, pelas artérias tiroideias superiores e inferiores, e uma artéria mediana inconstante, a artéria tiroideia ima; • As artérias tiroideias superiores são ramos da carótida externa e as tiroideias inferiores são ramos do tronco tirocervical, colateral da artéria subclávia. Já a ima é proveniente do tronco braquiocefálico ou do próprio arco aórtico. FISIOLOGIA • As células do epitélio folicular possuem dois polos, e portanto, duas membranas: a membrana apical (voltada para o lúmen folicular ou “coloide”) e a membrana basal (voltada para o interstício e capilares). • As reações bioquímicas de síntese hormonal ocorrem em torno da membrana apical, onde se encontra a enzima determinante de todo este processo: a peroxidase tireóidea (TPO). • Existem dois hormônios tireoidianos: o T4 (tetraiodotironina ou tiroxina) e o T3 (triiodotironina). Eles são formados pela iodação de resíduos de tirosina de uma glicoproteína chamada tireoglobulina. • O iodo sob a forma de íon iodeto, é captado pela célula tireoide através do carreador Na/I da membrana basal (membrana da face externa da célula). Esse transporte ativo é capaz de garantir uma concentração de iodeto livre 30-40 vezes maior que a do plasma. A enzima peroxidase tireóidea atua catalisando três importantes reações: 1. Oxidação do iodo: combinando o iodeto com o peróxido de oxigênio (H2O2). 2. Iodação dos resíduos de tirosina de tireoglobulina: formando as Iodotirosinas: - MIT: monoiodotirosina; - DIT: Diiodotirosina. 3. Acoplamento das iodotirosinas, formando os hormônios tireoidianos: - T3 (triiodotirosina) = MIT + DIT; - T4 (tetraiodotirosina ou tiroxina) = DIT + DIT. • T3 e T4 são armazenados na tireoglobulina iodada, que se acumula no lúmen dos folículos (coloide). Estes hormônios são liberados através da proteólise da tireoglobulina; 2 ENDOCRINOLOGIA – • O T3 e o T4 são liberados para a corrente sanguínea, enquanto o MIT e o DIT são liberados no citoplasma e sofrem ação da enzima desiodase tipo 1, devolvendo o iodeto para a célula – mecanismo de conservação do iodo; • A tireoide produz e libera muito mais T4 do que T3, numa proporção de 20:1. No entanto, o T3 é o maior responsável pela atividade fisiológica nos tecidos; - O T4 penetra nas células dos órgãos-alvo e logo é convertido em T3 por intermédio da desiodase tipo I (maioria dos tecidos) ou tipo 2 (cérebro, hipófise, tecido adiposo marrom);➔ O T4 é um pró-hormônio e o T3 um hormônio ativo. REGULAÇÃO DA FISIOLOGIA TIREODIANA • A produção de hormônios tireoidianos é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise- tireoide, como boa parte de todo o sistema endócrino; • Os neurônios hipotalâmicos (núcleo supraóptico e supraventricular) sintetizam e liberam o peptídeo TRH (hormônio liberador de tireotrofina). Esta substância é liberada na circulação porta-hipofisária, que irriga as células da adeno-hipófise, entre elas os tireotrofos – células que produzem e secretam o hormônio TS (tireotrofina). Ao se ligar em seu receptor na memebrana do tireotrofo, o TRH estimula a liberação e síntese do TSH, por um mecanismo proteína G/ fosfolipase C/ fosfatidilinositol – dependente; • O TSH (tireotrofina) é uma glicoproteína composta por duas unidades: alfa e beta. - A subunidade alfa é comum aos outros hormônios glicoproteicos (LH, FSH e Hcg); - A beta é a responsável pelo efeito hormonal específico; • O TSH é liberado na circulação sistêmica de forma pulsátil – aproximadamente a cada 2 horas, com níveis séricos máximos entre 0h e 4h; - O gerador de impulso é o próprio hipotálamo; - Os níveis séricos médios de TSH oscilam na faixa entre 0,5-5 mU/L; - O TSH se liga ao seu receptor de membrana (TSH-R) na célula folicular, estimulando a síntese protéinaG/adenilciclase/AMPc; - Os efeitos principais do TSH na célula folicular são: ▪ Efeito trófico: hipertrofia das células foliculares, aumento da vascularização da glândula; ▪ Estímulo à síntese de hormônio tireoidiano: aumento da produção da enzima peroxidase (TPO), bem como a tireoglobulina e o carreador Na/I; ▪ Estímulo à liberação de hormônio tireoidiano: aumenta a reabsorção do coloide contendo tireoglobulina iodada, bem como a atividade lisossômica, e consequentemente maior será a taxa de hormônio liberado e secretado. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREOIDE • Funciona baseado numa alça de retroalimentação negativa; → A glândula tireoide secreta os hormônios T3 e T4; → O T4 penetra nos neurônios hipotalâmicos e nos tireotrofos, convertendo-se em T3; → O T3 tem a capacidade de inibir a liberação hipotalâmica de TRH e a secreção hipofisária de TSH (retroalimentação negativa). Com isso, os hormônios regulam a sua própria produção: O iodo é fundamental para biossíntese dos hormônios tireoidianos. O organismo dispõe de mecanismos de poupar iodo→reabsorção tubular renal de iodo, captação tireóidea e organificação. A organificação do iodo depende da proteína pendrina, presente na membrana apical das células tireoidianas. - A síndrome de Pendred é uma doença genética em que há deficiência de pendrina, cursando com hipotireoidismo primário por deficiência parcial de organificação na tireoide. 3 ENDOCRINOLOGIA – se esta diminui, a produção aumentada de TRH e TSH estimula a secreção de T3 e T4; se a produção hormonal aumenta, a liberação reduzida de TRH e TSH reduz a secreção de T3 e T4. TRANSPORTE DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS • Uma vez liberados pela tireoide, tanto o T3 quanto o T4 são carreados por proteínas plasmáticas; • Quase todo o hormônio tireoidiano circulante (cerca de 99,96% do T4 e 99,6% do T3) encontra-se na forma ligada a proteínas, distribuídos da seguinte forma: 70% ligados à TBG (globulina ligadora de tiroxina), 10% ligados à TBPA (pré-albumina ligadora de tiroxina) e 15% à albumina. • A concentração plasmática total de T3 e T4 reflete muito mais a fração ligada do que a fração livre. • Embora os níveis séricos de T4 total sejam maiores que os de T3 total, o T3 livre tem uma concentração mais próxima à do T4 livre; • Apesar de corresponder a uma pequena fração do total, é a forma livre que possui importância fisiológica e são os seus níveis séricos regulados pelo eixo HHT; • Nos distúrbios da função tireoidiana a fração livre hormonal se altera, influindo diretamente sobre a fração ligada e, portanto, sobre a concentração plasmática total. - Por exemplo: se o T4 livre aumenta no hipotireoidismo, há mais T4 para se ligar às proteínas TBG, TBPA e albumina, aumentando assim a fração ligada, consequentemente, a concentração total do hormônio. MÉTODOS DE DOSAGEM HORMONAL A concentração sérica total do T4 e do T3 geralmente é mensurada por radioimunoensaio, apresentando: T4 total: 5-12 ug/dl; T3 total: 70-190 ng/dl • O T4 total e o T3 total dependem não só da função tireoidiana, mas também dos níveis plasmáticos das proteínas transportadoras desses hormônios (especialmente a TBG), bem como da afinidade de ligação destas proteínas a esses hormônios. T4 total: 5-12 ug/dl T4 livre: 0,9-2 ng/dl T3 total: 70-190 ng/dl T3 livre: 0,2-0,52 ng/dl Ciclo do iodo • O iodo (na forma de iodeto) é proveniente dos alimentos e da água. Como ele é totalmente absorvido pelo TGI, é a quantidade ingerida que determina o quanto o organismo assimila diariamente; • A ingestão recomendada pela OMS é de 150 ug/dia. Se for menor do 50ug/dia a tireoide será incapaz de manter uma secreção hormonal adequada, levando ao hipotireoidismo e ao bócio; • O acréscimo de iodo ao sal de cozinho é obrigatório por lei; medida extremamente barata e que conseguiu erradicar o problema no Brasil. 4 ENDOCRINOLOGIA – • A função tireoidiana é medida, na verdade, pela fração livre dos hormônios no soro – o T4 livre e o T3 livre. - É a forma livre do hormônio que penetra nas células-alvo e executa a função tireoidiana; - É também esta forma regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário; - A fração livre não varia com os níveis de proteína transportadora nem com a afinidade de ligação proteica do hormônio. T4 livre: 0,9-2 ng/dl; T3 livre: 0,2-0,52 ng/dl. Dosagem do TSH • A dosagem do TSH sérico é fundamental, não só para o diagnóstico da disfunção tireoidiana, mas também para confirmar se o distúrbio é primário (originada na glândula) ou secundário/terciário (originado na hipófise ou hipotálamo). • O TSH sérico é o exame mais sensível para o diagnóstico tanto do hipertireoidismo primário como do hipotireoidismo primário. TSH sérico: 0,5-5 uU/ml - Hipertireoidismo primário: TSH baixo <0,5 mU/L - Hipotireoidismo primário: TSH elevado > 5,0 mU/L HIPOTIREOIDISMO Síndrome clínica ocasionada por síntese/secreção insuficiente ou ação inadequada dos hormônios tireoidianos nos tecidos, resultando em lentificação generalizada do metabolismo. • Em suas formas mais graves ocorre deposição de mucopolissacarídeos na derme, gerando edema (sem cacifo) → mixedema. → Hipotireoidismo primário: falência tireoidiana – 90% dos casos; 2-4% em indivíduos > 65 anos. → Hipotireoidismo secundário: falência hipofisária – deficiência de TSH; → Hipotireoidismo terciário: deficiência hipotalâmica de TRH. As formas secundária e terciária costumas ser agrupadas em hipotireoidismo central. • Idade >65 anos; • Sexo feminino (proporção 8:1 com o sexo feminino); • Puerpério; • História familiar; • Irradiação prévia de cabeça e pescoço; • Doenças autoimunes; • Drogas como amiodarona, lítio [...]. • A tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum de hipotireoidismo em áreas com suficiência de iodo (como no Brasil); - Trata-se de uma doença autoimune assintomática nos primeiros meses ou anos de sua instalação, mas que lentamente destrói o parênquima glandular. Tal processo resulta em falência tireoidiana progressiva; - Clinicamente, no momento do diagnóstico, o paciente pode estar eutireoidiano, ▪ Na suspeita de hipertireoidismo, deve- se solicitar: T4 livre, T3 total e TSH ▪ Na suspeita de hipotireoidismo, deve- se solicitar: T4 livre, TSH 5 ENDOCRINOLOGIA – apresentar franco hipotireoidismo ou, expressar sinais e sintomasleves de tireotoxicose. • Em áreas suficientes de iodo, depois do Hashimoto, a etiologia mais frequente passa a ser a iatrogênica; - O uso de drogas tireotóxicas (amiodarona e lítio, principalmente) e a tireoidite pós- parto; • Em áreas com baixo aporte de iodo na dieta (geralmente regiões montonhosas) a causa mais comum de hipotireoidismo é a carência nutricional. • As manifestações se enquadram em um espectro de gravidade: quanto maior a duração e a intensidade da carência hormonal, mais graves e numerosas serão as alterações; • Quadros leves e oligossintomáticos são absolutamente inespecíficos, mas representam a maioria dos casos. Duas mudanças básicas ocorrem na ausência do hormônio tireoidiano: lentificação generalizada dos processos metabólicos e acúmulo de glicosaminoglicanos no interstício de órgãos e tecidos. Manifestações gerais Fadiga; lentificação da voz (fica rouca) e dos movimentos; intolerância ao frio; ganho de peso (acúmulo de glicosaminoglicanos e água nos tecidos, por isso o aumento de peso é discreto); apetite preservado. Cutâneas Pele fria e pálida; pele seca e quebradiça – hiperceratose; hipoidrose (pouca produção de calor – pouco suor); pele escurecida; mixedema Hematológicas Anemia hipoproliferativa; megaloblástica; ferropriva Cardiovasculares Queda do débito cardíaco (baixo metabolismo = baixa demanda de O2); bradicardia; Respiratórias Rinite crônica; hipoventilação; apneia do sono. Renais Redução da TFG, com discreto aumento da creatinina sérica; Gastrointestinais Constipação (hipoperistalse); hipogeusia (redução do paladar); Reprodutivas Redução da libido; disfunção erétil; ejaculação retardada e oligoespermia; oligo/amenorreia e/ou hipermenorragia/menorragia. Neurológicas Deficit cognitivo; lentificação dos reflexos tendinosos profundos; Musculoesqueléti- cas Artralgia; rigidez articular; mialgia; cãibra; Sinais e sintomas em ordem de frequência Sintomas Sinais Cansaço, fraqueza; Pele seca; Intolerância ao frio; Perda de cabelo; Dificuldade de concentração; Depressão; Amnésia; Constipação; Ganho de peso com pouco apetite; Dispneia; Rouquidão; Menorragia (em seguida amenorragia); Parestesias; Hipoacusia. Pele seca, fria e grossa; Edema facial; Edema de mãos e pés; Alopécia difusa; Madarose lateral; Hipertensão arterial; Bradicardia; Edema periférico; Retardo na recuperação do reflexo tendinoso; Síndrome do túnel do carpo; Derrame pericárdico; Derrame pleural. Figura: fácies do hipotireoidismo (mixedema). A pele é espessa, grosseira e seca. Os pelos não possuem brilho e caem. Há edema em torno dos olhos. 6 ENDOCRINOLOGIA – Hipotireoidismo primário • TSH elevado e T4 livre baixo; • T3 também se encontra reduzido, mas não é habitualmente dosado; • Na maioria dos casos, ocorre inicialmente elevação de TSH, com T4 livre normal. → hipotireoidismo subclínico. - Como a glândula é destruída aos poucos, a “reserva” tireoidiana é progressivamente requisitada, sendo necessário um nível relativamente mais alto de TSH para manter o T4 livre dentro do normal. Hipotireoidismo central – secundário ou terciário • TSH baixo ou inapropriadamente normal, em face de um T4 livre que está sempre baixo! • Raramente o TSH estará discretamente aumentado; • Após a confirmação do hipotireoidismo de padrão “central” é realizado uma RNM da sela túrcica, para pesquisa de doenças que justificam este achado. Anticorpos antitireoglobulina e antiperoxidase (TPO) • Sua presença indica um processo autoimune – tireoidite de Hashimoto Teste de TRH • Diferenciação entre doença hipotalâmica x hipofisária. Entretanto, atualmente NÃO é um exame útil na prática. • Administração de dose única diária de levotiroxina (T4), de manhã → adultos saudáveis: 1,6 a 1,8 ug/kg/dia; idosos: 50 ug/dia. • O objetivo é manter o TSH dentro da faixa de referência, isto é, entre 0,5 e 5,0 mU/L; • Iniciando o tratamento, o TSH deve ser dosado após quatro a seis semanas; As indicações para o tratamento do hipotireoidismo subclínico: 1. TSH > 10 mU/L; 2. Gravidez ou planejamento de gravidez; 3. Pacientes que apresentam dislipidemia, depressão, sintomas ou anticorpos positivos; → Os demais casos devem ter acompanhamento clínico e laboratorial de 6 a 1 ano). COMA MIXEDEMATOSO • Expressão mais grave do hipotireoidismo; Início insidioso; Baixa incidência; • Prejuízo das funções do SNC + descompensação cardiovascular e respiratória; • Mais comum em mulheres idosas e nos meses de inverno; • Principais fatores precipitantes: infecções respiratórias e do trato urinário, administração de sedativos, AVE e agravamento de uma condição clínica preexistente. • Principais achados clínicos: - Diminuição do nível de consciência; - Hipovolemia; - Hipotermia; - Bradicardia; - Hiponatremia; - Hipoglicemia; - Infecção associada; - Lactato elevado. • Níveis muito reduzidos de T4 e T3, e elevados de TSH; • Tratamento: levotiroxina em altas doses – reposição imediata de hormônios tireoidianos; Hidrocortisona venosa – para evitar o surgimento de uma crise de adrenal. 7 ENDOCRINOLOGIA – BÓCIOS ATÓXICOS Bócio difuso atóxico (bócio simples) • A principal causa é a deficiência de iodo, endêmica em algumas regiões → bócio endêmico; • Nas demais regiões, predomina o bócio esporádico simples; mais comum em mulheres jovens; • Nas regiões com ingestão suplementada de iodo, a causa mais comum é a tireoidite de Hashimoto; • Outras etiologias que geralmente são causadas por defeitos de síntese dos hormônios tireoidianos – TSH elevado: - Baixa ingestão de iodo; - Deficiência do transportador de iodo (bomba de iodeto); - Defeito da peroxidase; - Defeito na síntese da tireoglobulina; - Doença de Pendred; - Defeito na desalogenase; - Deficiência das desiodases; Clínica e diagnóstico • Ao detectar um bócio no exame físico da tireoide → dosar os hormônios tireoidianos; • Sintomas compressivos da traqueia (tosse e dificuldade respiratória), esôfago (disfagia) ou nervos laríngeos recorrentes (rouquidão). • O bócio mergulhante – bócio subesternal, as vezes só é detectado pelo exame de imagem. Bócio multinodular atóxico (BMA) • A maioria dos bócios difusos atóxicos evoluem para um BMA; • Mais comum em mulheres e aumenta com a prevalência da idade; • Os nódulos variam de tamanho, são múltiplos; alguns são policlonais, outros monoclonais; • Sintomas compressivos. TIREOIDITE DE HASHIMOTO Doença de etiologia autoimune em que ocorre destruição crônica e inflamação linfocítica de tecido tireoidiano; • É a forma de incidência mais frequente de tireoidite e representa a causa mais comum de hipotireoidismo no Brasil; • Ela afeta em torno de 5% da população adulta, e sua prevalência aumenta com o passar dos anos. Essa doença é três vezes mais frequente em mulheres; • A patogênese da tireoidite de Hashimoto ainda não está totalmente esclarecida. Parece haver um defeito na tolerância aos antígenos tireoidianos, que resultaria em dano à tireoide, supostamente desencadeado por fatores genéticos e ambientais; • A maioria dos pacientes com tireoidite de Hashimoto é assintomática. Ainda assim, os principais achados dentro da clínica da tireoidite de Hashimoto são: Sintomas de hipotireoidismo; O bócio surge paulatinamente em 75% dos pacientes; com consistência firme, superfície irregular ou lobulada, simétrico, indolor, com volume de 2 a 4 vezes maior que o normal; HIPERTIREOIDISMO • Hiperperfusão da glândula tireoide, ou seja, um aumento na produção e liberação de hormônios tireoidianos (levotiroxina e triiodotironina); • Desordem que acomete uma proporção de 5 mulherespara cada 1 homem. Possui uma prevalência de 1,3%, aumentando para 4 a 5% em mulheres mais velhas; • O hipertireoidismo leva à tireotoxicose → qualquer estado clínico resultante do excesso de hormônios da tireoide nos tecidos. Tireotoxicose não é sinônimo de hipertireoidismo. A tireotoxicose refere-se a síndrome clínica decorrente do aumento da concentração de hormônios tireoidianos circulantes, mas não necessariamente pelo aumento da função da glândula. O aumento da função da glândula que caracteriza o hipertireoidismo. 8 ENDOCRINOLOGIA – A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo – 60 a 90% dos casos de tireotoxicose. • Insônia, cansaço extremo, agitação psicomotora, incapacidade de concentração, nervosismo, dificuldade em controlar emoções, agressividade, sudorese excessiva, intolerância ao calor, hiperdefecação e amenorreia ou oligomenorreia; • A perda ponderal geralmente é mais comum, entretanto a ingesta calórica pode exceder o gasto metabólico, e o paciente passa a engordar; • Ao exame físico: pele quente e úmida; as extremidades superiores, quando estendidas, evidenciam um tremor fino e sustentado; • Cabelos caem em qualquer passada de pente; • Os achados oftalmológicos, como retração palpebral, olhar fixo e brilhante e o piscar frequente, representam uma exacerbação simpática e encontram-se presente na tireotoxicose independente da causa; • As manifestações cardiovasculares incluem hipertensão sistólica, pressão de pulso alargada (maior diferença entre PA sistólica e diastólica) e taquicardia sinusal; • Atrofia e fraqueza muscular (miopatia) e desmineralização óssea (osteopatia); • Pode-se encontrar ainda edema em membros inferiores, diarreia, ginecomastia, eritema palmar; Diagnóstico laboratorial • Inicialmente deve-se fazer a confirmação de tireotoxicose por meio da dosagem de T4L e TSH; • Caso o paciente apresente um T4L alto e TSH baixo, confirma-se o estado de tireotoxicose; • Um T4L normal com redução do TSH, indica um quadro inicial de tireotoxicose, sendo chamada de subclínica; • Caso ambos estejam aumentados, configura-se um hipertireoidismo central. • A terapia tem como objetivo a diminuição na formação e secreção do hormônio tireoidiano. 1. Drogas antitireoidianas até a remissão; 2. Radioablação com iodo radioativo; 3. Cirurgia (tireoidectomia subtotal); DOENÇA DE GRAVES • Também conhecida como Basedow- Graves ou Bócio Difuso Tóxico – BDT; • É uma desordem autoimune, de etiologia desconhecida, que apresenta como características uma síntese e secreção excessivas de hormônios da tireoide; • Comum em mulheres entre 20-50 anos; • Causa mais comum de hipertireoidismo em pacientes abaixo de 40 anos; • Predisposição familiar – cerca de 15% dos pacientes apresentam um parente com a mesma desordem; • A doença surge geralmente após episódios de estresse agudo. O estresse induz um 9 ENDOCRINOLOGIA – estado de imunodepressão por mecanismos inespecíficos, talvez mediados pela ação do cortisol. Seguindo este período de imunodepressão, existe aparentemente um estado de compensação imunológica, que poderia desencadear a doença de Graves. • Os linfócitos B sintetizam anticorpos “contra” receptores de TSH localizados na superfície da membrana da célula folicular da tireoide; • Esses anticorpos produzem um aumento no volume e função da glândula; • Imunoglobulina estimuladora da tireoide ou anticorpo antirreceptor de TSH estimulante (TRAb); • Na oftalmopatia, que está presente em 20- 40% dos casos, as células musculares lisas e, principalmente os fibroblastos, exibem com certa frequência em sua superfície de membrana antígenos semelhantes ao receptor de TSH. Isso produz uma reação cruzada desses anticorpos, determinando um “ataque” autoimune no tecido retro- ocular e periocular, com liberação de citocinas pró-inflamatórias e fibrosantes; - Hipertrofia dos músculos extra-oculares, devido o aumento de glicosaminoglicanos. • O anticorpo anti-TPO também está presente (80% dos casos). É uma espécie de marcador universal da doença tireoidiana autoimune, estando presente em 95% dos casos de tireoidite de Hashimoto. A doença autoimune da tireoide (Hashimoto) pode alternar fases de hipotireoidismo e hipertireoidismo, na dependência de qual tipo de anticorpo está sendo predominantemente produzido. • Bócio difuso e simétrico a palpação (97% dos casos); • Sopro e frêmito sobre a glândula, ocorrendo este fenômeno devido a um aumento da vascularização local; • A oftalmopatia infiltrativa (oftalmopatia de Graves) é observada em cerca de 20-40% dos casos. Ela se manifesta por exoftalmia ou proptose bilateral, olhar fixo, retração palpebral levando a exposição da esclera acima da margem superior, edema periorbitário, edema e hiperemia conjutival; 10 ENDOCRINOLOGIA – CASO CLÍNICO 2 Crepúsculo da Vida Nilza, 56 anos, da entrada no Pronto Socorro com queixa de dor abdominal de forte intensidade e episódios recorrentes de síncope. Diagnosticada com câncer de colo uterino, em estadiamento IIIB, considerado inoperável, a paciente que concluiu recentemente uma fase de tratamento radioterápico, apresenta histórico de 12 passagens no hospital para medicação analgésica no último mês. Medicada com Cloridrato de Tramadol não apresenta melhora do quadro de dor. Ao exame apresenta-se em regular estado geral, descorada 3+/4+, desidratada ++/4+, ictérica +/4+, cianótica, afebril, frequência cardíaca de 60 batimentos por minuto, pressão arterial de 90x60 mmHg, peso 51Kg, altura 1,68. Abdomen: ruídos hidroaéreos presentes com dor à palpação superficial e profunda em hipogastro e fossas ilíacas. Após discussão e divergência dos médicos residentes, o chefe de plantão opta pela internação pois a paciente não apresentou resposta satisfatória à medicação. Internada, sob cuidado da equipe multiprofissional, Nilza apresenta-se inapetente e perde 6 kg nos primeiros 20 dias de internação. Com essa evolução a equipe opta pela alimentação enteral (sonda enteral). Com 40 dias de internação hospitalar, Nilza apresenta resposta desfavorável a todas a medicações prescritas para o controle da dor sendo indicada pela equipe dos cuidados paliativos a analgesia continua por bomba de infusão. No 60º dia de internação apresenta rebaixamento do nível de consciência e tem diagnosticada escaras de decúbito. Diante do quadro a equipe é procurada pelos familiares de Nilza que solicitam o emprego de meios que permitam abreviar seu sofrimento e são orientados acerca dos aspectos éticos e legais pertinentes. Após 72 dias de internação Nilza apresenta uma parada cardiorrespiratória resultante de um choque séptico e evolui para o óbito. 11 ENDOCRINOLOGIA – SÍNDROME ANOREXIA CAQUEXIA • Ocorre em mais de 80% dos pacientes, sendo a causa principal de morte em 20%; • Anorexia: perda espontânea e não intencional de apetite – um dos sintomas mais comuns no câncer avançado; • Está associada inicialmente ao processo natural da doença ou, mais tardiamente, ao crescimento tumoral e presença de metástases; - Pode estar relacionada à náusea e vômito, à própria doença, ou ser resultante de medicamentos utilizados durante o tratamento [...]; - Consiste em perda de apetite, saciedade precoce, combinação de ambas ou alteração das preferencias alimentares; - A etiologia da anorexia é desconhecida, pois muitos fatores intervêm em sua aparição, além de substâncias liberadas tanto pelo tumor como pelo hospedeiro em resposta à presença do tumor; → Fatores que intervêm na aparição da anorexia: dissfagia, odinofagia, disosmia, disgeusia, xerostomia, mucosite, náuseas, alterações dentárias, ansiedade e medo de vomitar, depressão, alterações bioquímicas, desidratação, constipação,alimentos pouco apetitosos. • Caquexia cancerosa: desnutrição grave acompanhada de anorexia e astenia. - Síndrome complexa e multifatorial caracterizada por um intenso consumo generalizado dos tecidos corporais, muscular e adiposo, com uma perda progressiva e involuntária de peso, anemia, astenia, balanço nitrogenado negativo, disfunção imune e alterações metabólicas, geralmente associadas à anorexia; A diferença mais importante entre desnutrição e caquexia do câncer é a preferência por mobilização de gordura poupando o músculo esquelético na desnutrição, enquanto na caquexia há igual mobilização de gordura e tecido muscular; • O conjunto de manifestações da Síndrome Anorexia Caquexia (SAC) dá origem a uma deterioração da imagem corporal, além disso, o paciente caquético pode apresentar uma maior susceptibilidade a processos infecciosos, diminuição da tolerância ao tratamento oncológico e, ainda, sonolências. • Devido à perda de massa muscular, aumenta a probabilidade de surgimentos de úlceras de decúbito, edema de membros inferiores e uma intensa palidez; • A origem da SAC é multifatorial - o aumento do consumo energético pelo tumor, a liberação de fatores que agem no centro da saciedade diminuindo o consumo alimentar e as citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor levam às anormalidades metabólicas características da síndrome. QUADRO CLÍNICO • Astenia, anorexia, úlcera de decúbito, mal- estar geral, atrofia muscular, edema de MMII, alteração na boca, palidez, letargia, infecções frequentes, perda de peso e deterioração física geral. DIAGNÓSTICO • A suspeita da caquexia ocorre diante de uma perda involuntária de 5% em relação ao peso habitual, em um período de 6 meses; • A perda de peso diminui a resposta do paciente ao tratamento quimioterápico e aumenta a toxicidade da droga no organismo; • Os testes laboratoriais mais comuns na avaliação do EN são a dosagem plasmática de transferrina, proteína transportadora de retinol, e creatinina urinária, embora tenham valor limitado em pacientes com câncer, ante o aspecto crônico da desnutrição. A albumina sérica é, então, o parâmetro mais utilizado, frente ao baixo custo e a alta acurácia. 12 ENDOCRINOLOGIA – CLASSIFICAÇÃO DA SAC 1) Primária: relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor associada a alterações inflamatórias. - Resulta em consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo; 2) Secundária: resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do TGI, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. → As duas condições aparecem concomitantemente em um só indivíduo. ALTERAÇÕES METABÓLICAS • Carboidratos: A célula cancerosa utiliza preferencialmente a glicose como substrato energético, 10 a 50 vezes mais em relação às células normais, o que indica que a presença do tumor aumenta o consumo de glicose. - Porém, os níveis plasmáticos de glicose não diminuem, pois há um aumento na gliconeogênese hepática, a partir de aminoácidos musculares e lactato; - A glicose é degrada até lactato pelas células neoplásicas e o lactato é convertido em glicose no fígado (ciclo de Cori); - Essa conversão resulta em um consumo de 6 moléculas de ATP, levando a uma privação energética que corrobora com a degradação tecidual e perda de peso e de massa corpórea; - A intolerância à glicose é ocasionada pela diminuição da sensibilidade dos receptores das células beta, enquanto a resistência à ação da insulina é ocasionada por redução da sensibilidade dos tecidos periféricos. • Lipídios: a perda de gordura é responsável pela maior parte da perda de peso; - Essa perda de gordura corporal está relacionada ao aumento da lipólise, associada à diminuição da lipogênese, em consequência à queda da lipase lipoprotéica e liberação de fatores tumorais lipolíticos; - A diminuição da lipase lipoprotéica leva à hiperlipidemia; - Pacientes em processo de caquexia excretam na urina o fator mobilizador de lipídios (Lipid Mobilizing Factor - LMF), que age diretamente no tecido adiposo, hidrolisando os triglicerídios a ácidos graxos livres e glicerol, por meio do aumento intracelular do AMPc, de modo análogo aos hormônios lipolíticos, com consequente mobilização e utilização dos lipídios. • Proteínas: O catabolismo muscular está aumentado para fornecer ao organismo aminoácidos para a gliconeogênese, com subsequente depleção da massa muscular esquelética; - A diminuição da síntese proteica pode ser resultante da diminuição da concentração plasmática de insulina e da sensibilidade do músculo esquelético à insulina, ou de reduções dos níveis de formação proteica por suplementação de aminoácidos requeridos para a síntese proteica; - A síntese de proteínas de fase aguda está aumentada a nível hepático nesses indivíduos; - As depleções proteicas manifestam-se com atrofia do músculo esquelético, atrofia de órgãos viscerais, miopatia e hipoalbuminemia. • Metabolismo energético: Um dos determinantes da perda de peso é o aumento do gasto energético; - Um estado de hipermetabolismo ou catabolismo persistente é comum em estados avançados; - Uma das possíveis explicações para esse quadro pode ser a avidez das células neoplásicas malignas em captar glicose; - A indução da UCPs (proteínas mitocondriais expressas pelo tecido adiposo) mediada por sinais orexígenos e anorexígenos que diminuem e aumentam a atividade do sistema nervoso simpático, responsável por regular o gasto energético, interferindo na regulação térmica pelas UCPs; - A ativação das UCPs no músculo e tecido adiposo branco, pelas citocinas, deve ser o mecanismo molecular responsável pelo aumento da produção de calor e consumo muscular. ALTERAÇÕES HORMONAIS • Leptina: Hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo, sendo um componente da alça de homeostase que rege o controle do peso corpóreo. - Níveis elevados de gordura são acompanhados de aumento proporcional dos níveis circulatórios de leptina; 13 ENDOCRINOLOGIA – - Quando há restrição calórica ou inanição, com consequente perda de peso, os níveis de leptina como os de insulina decaem, voltando a elevar-se com a realimentação; - Baixos níveis de leptina cerebral aumentam a atividade de sinais orexígenos hipotalâmicos, que estimulam o apetite, suprimem o gasto energético e diminuem a atividade de sinais anorexígenos, os quais suprimem o apetite e aumentam o gasto energético, ou seja, leptina reduz o apetite e aumenta o gasto energético, ativando circuitos catabólicos e prevenindo circuitos anabólicos; - Altos níveis de leptina bloqueiam a ação do neuropeptídio Y; - As citocinas (aumentadas nas neoplasias) podem produzir longa inibição do apetite por estimularem a expressão e liberação de leptina e/ou mimetizarem os efeitos hipotalâmicos de um feedback negativo excessivo, sinalizado pela leptina, impedindo a execução normal e mecanismos compensatórios, diante da diminuição da ingestão alimentar e aumento da perda de peso; • Neuropeptídeo Y (NPY): é o mais potente peptídio orexígeno (estimulante do apetite), ativado pela diminuição de leptina; - O NPY tem como ação aumentar a ingestão de alimentos, diminuir o gasto energético e aumentar a lipogênese, promovendo o balanço energético positivo e o aumento da reserva de gordura; - Estudos experimentais mostram que os sistemas de controle da alimentação relacionados ao NPY são ineficazes em anoréticos portadores de tumor; • Melanocortina (MC): Constituem uma família de peptídeos regulatórios, que incluem a adrenocorticotrofina (ACTH) e o hormônio melanócito estimulante (MSH); - Essegrupo de peptídeos e seus receptores ajudam a regular o apetite e a temperatura corporal; - Apesar da acentuada perda de peso, em que normalmente se esperaria uma regulação negativa dos sistemas anorexígenos relacionados à melanocortina, o sistema permanece ativo, durante a caquexia neoplásica, aumentando ainda mais a taxa metabólica, a anorexia e a perda de peso; • Grelina: Secretada por células epiteliais do fundo gástrico. Os níveis plasmáticos de grelina podem estar reduzidos em pacientes com SAC devido um bloqueio na resposta adaptada ao jejum, por diminuição da expressão do RNAm da grelina no estômago, diminuindo assim o apetite. MEDIADORES – CITOCINAS As citocinas têm sido associadas como a chave principal de fatores humorais envolvidos na caquexia do câncer e, com a progressão da doença. • Fator de Necrose Tumoral (TNFa): citocina produzida pelo estímulo de células do sistema retículo-endotelial de macrófagos e monócitos. É a primeira citocina associada com a caquexia em resposta à endotoxina; - Está associada ao aumento da lipólise, por ser capaz de inibir a lipase lipoprotéica e a proteólise. • Interleucina 1: A infusão de IL-1 induz saciedade, o que diminui a ingestão de alimentos e de água. É, portanto, antagonista do NPY. SÍNDROME CONSUMPTIVA • Também conhecida como emagrecimento voluntário; • Estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteínas e energia. • Para definição da síndrome consumptiva, deve-se considerar tanto o grau de emagrecimento, bem como o tempo em que 14 ENDOCRINOLOGIA – ele ocorreu, devem ser avaliados sempre de acordo com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involuntário. Considera-se emagrecimento involuntário se houver perda de >5% em 6 a 12 meses. • Etiologias: câncer (45,3%), distúrbios psiquiátricos (16,9%), doenças do aparelho digestório (9,7%), endocrinopatias (7,2%), afecções reumáticas (6,8%), infecções (5,5%) e origem indeterminada (3,5%). FISIOPATOLOGIA DA SC NO CÂNCER • As neoplasias culminam em emagrecimento normalmente secundário a anormalidades metabólicas; • O câncer é uma doença inflamatória, portanto há uma grande produção e liberação de citocinas como TNFa, IL-1, IL-6, as quais são anorexígenas e geram saciedade precoce. Além disso, podem promover a perda de massa magra, através do estímulo aos processos de lipólise e proteólise. O sítio específico acometido pela neoplasia também pode gerar mecanismos para o emagrecimento; • O paciente não consegue restabelecer o seu peso basal justamente pela conjuntura anorexígena da doença, associada ao estado metabólico de gasto energético acelerado (proteólise, lipólise...). CLASSIFICAÇÃO 1) Perda de peso involuntária com aumento do apetite: • Condição associada ao aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Neste caso, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. São causas deste tipo de condição: hipertireoidismo, DM descompensado (diminuição de insulina – hormônio anabólico, glicosúria) síndrome de má absorção, feocromocitoma (tumor produtor de catecolaminas) aumento importante de atividade física. 2) Perda de peso involuntária com diminuição do apetite: • Malignidades, endocrinopatias, doenças crônicas (cardiopatia, pneumopatia, doença renal, doenças neurológicas), doenças infecciosas (tuberculose, infecção fúngica, doenças parasitárias, endocardite bacteriana subaguda, HIV), doenças gastrintestinais, doenças psiquiátricas (depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar), uso de drogas ilícitas e álcool, medicamentos e isolamento social QUADRO CLÍNICO • Na anamnese do paciente com SC deve-se focar em 3 vertentes: 1. Caracterização da perda de peso; 2. Caracterização do apetite: diminuição do apetite e ingesta alimentar ou se o apetite está preservado ou até aumentado, apesar da perda ponderal; 3. Presença de sintomas associados: suores noturnos, febre, fadiga excessiva; Exemplo: Nilza pesava 51kg e em 20 dias perdeu 6kg; Ela perdeu 11,7% do seu peso basal em 20 dias → emagrecimento involuntário. 15 ENDOCRINOLOGIA – • Ao Exame físico: fácies emagrecidas, utilização de roupas largas. Perda da massa magra em conjunto com a atrofia muscular, presença de descamação cutânea, queilite (ressecamento, rachaduras e lesões avermelhadas em lábios) e unhas fracas e quebradiças. Com relação ao peso, observar a duração da perda de peso e a sua relação com o peso basal, aferição de altura e IMC. DIAGNÓSTICO • A anamnese e o EF detalhado levam a percepção da causa do emagrecimento em 90% dos casos. Feito uma hipótese diagnóstica etiológica, a pesquisa laboratorial deve ser direcionada para causa específica. 1. Investigação de inflamação, através de hemograma, PCR, VHS → se houver uma carga inflamatória elevada, aumenta-se a suspeita sobre neoplasias e doenças sistêmicas crônicas; 2. Pesquisa etiológica específica, tentando criar um direcionamento de acordo com achado clínico ou laboratorial. 16 ENDOCRINOLOGIA – TERAPIA NUTRICIONAL • Os objetivos da TN no paciente oncológico incluem prevenção e tratamento da desnutrição; modulação da resposta orgânica ao tratamento oncológico e controle dos efeitos adversos do tratamento oncológico; • A TN auxilia no manejo dos sintomas, evitando a caquexia e contribuindo para a melhora da qualidade de vida do paciente. • Indicações: - Pacientes em risco nutricional grave, que serão submetidos a grandes operações por câncer do trato gastrointestinal; - Pacientes que estão recebendo tratamento oncológico ativo (quimio, imuno e radioterapia), com inadequada ingestão oral; - Pacientes sem qualquer terapia adjuvante que estejam ingerindo <70% das necessidades nutricionais e nos quais a deterioração do estado nutricional esteja ligada à piora da qualidade de vida. A TN, como um componente do tratamento médico, inclui a nutrição oral, enteral e parenteral. • Consiste na administração de nutrientes por meio de suplementos nutricionais VO; • O nutricionista é o responsável em fazer a avaliação e diagnóstico do estado nutricional, determinando o risco nutricional e quantificando a ingesta VO para comparar ao que é recomendado. Identificada a necessidade de uma TN, a melhor via de alimentação é a oral, que deve ser, sempre que possível, preservada; • Para que ocorra a indicação da TNO é necessário que o trato digestivo esteja total ou parcialmente funcionante. • Consiste na administração de nutrientes pelo trato gastrointestinal, através de um tubo, sondas ou ostomias, localizadas no tubo digestivo; • É empregada quando o paciente não pode ou não deve se alimentar por via oral ou quando a ingestão oral é insuficiente; • Para que ocorra a indicação da Terapia Nutricional Enteral (TNE) é necessário que o trato digestivo esteja total ou parcialmente funcionante; - Hiporexia ou anorexia; - Risco de desnutrição ou desnutridos; - Neoplasias; - Pacientes com nível de consciência rebaixado; - Doença inflamatória intestinal; • Utilizá-la por pelo menos 5 a 7 dias; • A TNE deverá ser realizada por meio de sondas nasoenterais (em posição gástrica, duodenal ou jejunal) ou ostomias (gastrostomia, jejunostomia, gastrojejunostomia); • A inserção da sonda deverá ser feita, manualmente, à beira do leito ou com auxílio endoscópico. Após passagem da sonda, deve-se realizar raio-X de controle. • Refere-se à oferta de nutrição por via parenteral (venosa), central ou periférica, realizada quando o trato gastrointestinal está indisponível ou quando a necessidade nutricional não pode ser atendida de forma completapelo trato gastrointestinal (via oral/enteral). • Algumas das indicações: - Trato gastrointestinal não funcionante ou contraindicado ou tentativa de acesso enteral fracassada; - Quando o aporte enteral é insuficiente a associação com NP é recomendada a após cinco dias de TNE sem sucesso; - Desnutrição com mais de 10% a 15% de perda de peso; - Trauma abdominal requerendo repetidos procedimentos cirúrgicos; - Pancreatite Aguda; 17 ENDOCRINOLOGIA – ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO O estadiamento do câncer de colo uterino é clínico e envolve os seguintes métodos: exame ginecológico (exame especular, toque vaginal e toque retal); colposcopia; exame histopatológico; métodos de imagem (radiografia de tórax, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética), citoscopia; retossigmoidoscopia. CUIDADOS PALIATIVOS Cuidados paliativos são uma abordagem para melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentem uma doença ameaçadora da vida, através da prevenção e do alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce e impecável avaliação e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais • Os Cuidados Paliativos regem-se pelos seguintes princípios: - Defesa do direito natural à dignidade no viver e no morrer; - Alívio da dor e de demais sintomas; - Abordagem de equipe integrando cuidados fisiológicos, psicológicos, sociais e espirituais; - Consolo para quem sofre, ainda que de forma silenciosa; - Respeito às crenças e à visão de mundo do paciente; - Compaixão; - Auxílio na debilidade; - Individualização dos cuidados; 18 ENDOCRINOLOGIA – - Respeito às reconciliações e crescimento em final de vida; - Ajuda no luto. MANEJO DA DOR • Decálogo da dor (duração, início e evolução, localização, irradiação, intensidade, qualidade, sinais e sintomas concomitantes, fatores desencadeantes, agravantes e que aliviam, repercussão, tratamentos realizados); • Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton – para pacientes oncológicos: avalia não só sobre dor, mas outros sintomas desagradáveis: náuseas, dispneias, etc. Escala analgésica da dor da OMS: • Dor fraca 1-3: não opioide: paracetamol, dipirona, AINES - Insuficiência renal crônica ou aguda, sangramento mucosa a gástrica, etc; • Dor moderada 4-6: opioide forte ou fraco, não opioide +/- adjuvantes - Codeina + paracetamol, por exemplo; • Dor forte 7-10: opioide forte + não opioide +/- adjuvantes; Outras opções de manejo de dor: • Bomba intratecal (canal raquideano, diretamente no espaço subaracnoide, evitando assim a barreira hematoencefálica atuando assim no sistema nervoso); • Radiofrequência. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NOS CUIDADOS PALIATIVOS O enfoque terapêutico visa ao alívio dos sintomas que comprometem a qualidade de vida, integrando ações médicas, de enfermagem, psicológicas, nutricionais, sociais, espirituais e de reabilitação, que influenciam também no tipo de morte que o paciente terá. • A equipe de enfermagem atua como elo entre os pacientes, familiares e demais profissionais da saúde. É importante que pelo menos parte dos enfermeiros e técnicos em enfermagem tenham formação em Cuidados Paliativos, garantindo assim a compreensão da abordagem oferecida; • Os assistentes sociais garantem o suporte domiciliar dos pacientes, acesso aos medicamentos necessários, bem como auxílio em procedimentos burocráticos (como direitos do paciente ou documentações); • O envolvimento efetivo de psicólogos também é indispensável. O impacto emocional de doenças e situações que ameacem a vida (e/ou sua qualidade) pode trazer consequências danosas tanto para o paciente quanto para seus familiares, podendo chegar a impedir o controle adequado dos sintomas e até mesmo limitar seu tempo de vida. A abordagem adequada dos aspectos emocionais mais complexos é ferramenta-chave para o sucesso terapêutico; • A atuação dos fisioterapeutas proporciona melhora física significativa; • A intervenção nutricional também é capaz de fazer a diferença na recuperação física do paciente e, quando isso não é possível, permite significativa melhora de sintomas, inclusive emocionais; ASPECTOS MÉDICOS LEGAIS Distanásia Prolongamento artificial da vida ou “obstinação terapêutica”. Realização de procedimentos que não modificarão o desfecho do paciente e com capacidade de gerar sofrimento ao paciente. Eutanásia Ato praticado por piedade/compaixão com objetivo claro de óbito do paciente. Eutanásia ativa – a pessoa pratica a ação. Eutanásia passiva – a pessoa deixa de praticar uma ação com o objetivo do óbito. Ortonásia Morte “no tempo certo” com o objetivo de manter a dignidade do paciente. Permanece os cuidados com o paciente, mas não se realiza procedimentos que prolonguem artificialmente. Diferente da eutanásia passiva, não há omissão, pois trata-se de um ato constante de cuidado e com objetivo de dar qualidade de vida. Mistanásia “Eutanásia social” é a morte antes do momento por falta de assistência ou assistência inadequada. 19 ENDOCRINOLOGIA – • O Código de Ética Médica (2009) reforça o caráter antiético da distanásia, entendida como o prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento do doente, sem perspectiva de cura ou melhora, nesse caso aparece o conceito de cuidado paliativo. - Capítulo I - XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. • Além disso, a respeito da eutanásia, o Código de Ética Médica diz que: Capítulo VI - Art. 41. É vedado ao médico abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. - Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. • Além disso, o ato da eutanásia é considerado pelo Código Penal: Código Penal - Art. 121. Matar alguém (homicídio). Paragráfo 1º - Considerado doloso (quando há intenção de matar) com diminuição de pena, em face do relevante motivo moral (eutanásia). 20 ENDOCRINOLOGIA – CASO CLÍNICO 3 Nova vida, velhos hábitos Joana, 52 anos, é acompanhada por seu clínico desde os 19 anos de idade. Naquela época, já apresentando sobrepeso (IMC = 28,5 kg/m2 ), foi orientada a tentar a redução ponderal através da restrição calórica e exercícios regulares. Apesar de pouco aderente às orientações de mudança de estilo de vida e, consequente, não perda ponderal, manteve acompanhamento médico regular. Ao longo do seguimento, observou-se ganho de peso crescente: aos 34 anos, época em que se constatou hipertensão arterial, inicialmente controlada efetivamente por inibidores de ECA e bloqueadores de canal de cálcio, seu IMC era de 34,5 Kg/m2 . Aos 39 anos chegou a um IMC 37,5 kg/m². Em uma de suas consultas de rotina, trouxe exames laboratoriais que evidenciaram: glicemia de jejum 152 mg%, HDL colesterol de 28 mg%, LDL 142 mg% mg, VLDL 50 mg%, triglicérides 255 mg% e urina I com glicosúria. Aos 43 anos, em uso de hipoglicemiantes orais, não fazendo qualquer restrição alimentar e mesmo em utilizando medicações específicas para redução de apetite, alcançou um IMC de 42 kg/m². Antecedentes familiares: Pai, mãe e dois irmãos obesos. Pai com diabetes melitus desde 45 anos de idade. Dois tios maternos com IAM antes dos 55 anos de idade. Exame físico: Altura de 158 cm, peso de 105 Kg (IMC 42 kg/m2 ). Frequênciacardíaca de 84 bpm, pressão arterial de 160/ 100 mmHg. Ictus cordis palpado no 5º espaço intercostal, 2 cm fora da linha hemiclavicular esquerda, sem bulhas acessórias na ausculta cardíaca. Abdome volumoso, sem visceromegalias. Ausência de edema de membros inferiores, pulsos periféricos todos palpáveis. Exames laboratoriais: glicemia 148 mg/dl (pós-prandial 220 mg%); colesterol total 280 mg/dL, LDL colesterol 180 mg%; HDL 30 mg%; VLDL 70 mg%; triglicérides 250 mg/dL. Tendo em vista o quadro clínico e alto risco cardiovascular sem intervenção nos múltiplos fatores de risco e excesso ponderal, optou-se por tratamento cirúrgico da obesidade. No 65º dia de pós-operatório retorna para acompanhamento com seu clínico. Relatava queda de cabelo, unhas quebradiças e sangramento gengival que ocorria mesmo sem trauma ou após escovação dentária. Desde as primeiras semanas de pós-operatório queixava-se de sudorese fria acompanhada por diarreia após ingestão de leite condensado (não conseguiu parar alguns excessos alimentares). 21 ENDOCRINOLOGIA – FISIOLOGIA DA FOME E SACIEDADE O sistema fisiológico que controla a ingestão de alimentos e o gasto energético é constituído de: - Sinais aferentes de curta e longa duração, que permitem perceber o status energético do indivíduo; - Centros cerebrais integradores, mais significativamente no hipotálamo, onde o nível de resposta eferente é determinado; - Sinais eferentes, incluindo aqueles reguladores da intensidade da fome e do nível do gasto energético. • A concentração dos sinais de adiposidade circulantes, sobretudo da leptina, influencia a resposta aos sinais de saciação de curta duração e proporciona, dessa forma, uma ingestão energética suficiente para manter um nível constante de energia armazenada. • O hipotálamo é o locus primário de integração dos sinais periféricos que influenciam o equilíbrio energético; • Dois grupos de neurônios localizados no núcleo arqueado, caracterizados pela produção de neuromediadores, atuam como sítio primário cerebral de recepção de sinais humorais que refletem o status energético corporal; • Os neurônios de AgRP e NPY são orexígenos e inibidos pela leptina; • Os neurônios POMC são anorexígenos, sendo ativados pela leptina e processados a alfa- MSH; • As interações entre esses neurônios junto ao NAH resultam na modulação do débito neural; • Esses neurônios de 1ª ordem enviam projeções para os de 2ª ordem localizados no núcleo paraventricular e na área hipotalâmica lateral, bem como para o rombencéfalo. • O alfa-MSH liga-se e ativa o MC4R enquanto o AgPR inibe os neurônios que possuem esse receptor. Então, os neurônios que possuem MC4R inervam neurônios de outras áreas do hipotálamo e do tronco encefálico para produzir, de maneira integrada, a inibição do apetite e o aumento do gasto energético. - Mutações no MC4R constituem a causa genética mais comum de obesidade; - Na obesidade ocorre a prevalência da ação dos hormônios orexígenos. Sendo que, os hormônios anorexígenos podem até estar aumentados (insulina e leptina), porém há uma resistência a ação desses hormônios. VIA ANOREXÍGENA • Leptina: principal sinal aferente que permite ao cérebro perceber os níveis das reservas energéticas. - É liberada pelos adipócitos; - A queda dos níveis de leptina informa ao cérebro a diminuição de gordura armazenada e resultante de um equilíbrio energético negative; - Em consequência, são produzidos efeitos compensatórios sobreo apetite e o gasto energético, com o objetivo de repor os estoques e reestabelecer o equilíbrio energético. - Os pacientes obesos, embora apresentem concentrações elevadas de leptina (que deveriam reduzir a ingestão alimentar e a gordura corporal), eles parecem ser insensíveis ou resistentes a esse hormônio. Foi demonstrado que tanto fatores genéticos como ambientais contribuem para à resistência à leptina. • CCK: está envolvida na regulação de curta duração do apetite atuando na saciação (sensação de plenitude que contribui para a decisão de parar de comer); - É secretada pelas células duodenais pela presença de gordura e proteína no duodeno; - Estimula a motilidade da vesícula biliar, a secreção de enzimas pancreáticas, o esvaziamento gástrico e a secreção ácida; - Uma secreção alterada ou uma resposta modificada a esse hormônio pode contribuir para a obesidade; - Os níveis de CCK circulantes aumentam após as refeições e a infusão de um agonista (CCK33), a níveis pós-prandiais, suprime a ingestão de alimentos; - GLP-1: secretado pelas células L intestinais do íleo e cólon, aumenta a secreção de insulina, diminui a secreção de glucagon, aumenta a massa de células B, inibe o esvaziamento gástrico e reduz a ingestão de alimentos. • PYY: secretado pelas células L intestinais. O PYY-36 liga-se ao receptor NPY-Y2 hipotalâmico e reduz a ingestão de alimentos; - Indivíduos obesos apresentam níveis de PYY menores do que não obesos após uma refeição. 22 ENDOCRINOLOGIA – Esses hormônios agem no hipotálamo (centro da fome) sinalizando a presença do alimento, através de duas vias: • POMC processado em alfa-MSH (hormônio alfa-melanócito estimulante), se liga no receptor Mc4R, estimulando a saciedade; • CART estimula a saciedade e termogênese. VIA OREXÍGENA • Grelina: secretada pelas células endócrinas que revestem o fundo gástrico; - Sua secreção é estimulada pelo jejum e é suprimida pela ingestão de alimentos. • O hipotálamo secreta os neuromoduladores orexígenos: → NPY: Neuropeptídeo Y, secretado o núcleo arqueado do hipotálamo; Inibe o eixo tireotrófico; Reduz a termogênese; Hiperfagia → AgPR: Proteína relacionada ao AGOUTI, secretado no núcleo arqueado do hipotálamo; Bloqueia a ligação alfa-MSH; Bloqueia o Mc4R; Aumenta MCH, orexina, hipocretina – resultando na fome. OBESIDADE A obesidade pode ser definida como um excesso de gordura corporal. • Uma pessoa com IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 é considerada com sobrepeso e uma com IMC maior que 30 kg/m2 é considerada obesa. Entretanto, o IMC não é uma estimativa direta da adiposidade e não leva em consideração o fato de algumas pessoas podem ter um IMC alto resultante de uma grande massa muscular. • Embora os genes desempenham um papel importante na determinação dos alimentos ingeridos e no metabolismo energético, a baixa atividade física causada por um estilo de vida sedentário e outros fatores ambientais podem desempenhar um papel dominante em muitas pessoas obesas, como evidenciado pelo aumento rápido na prevalência de obesidade nos últimos 20 a 30 anos. • A leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à massa adiposa e atuam perifericamente, estimulando o catabolismo; • No SNC, a insulina e a leptina interagem com receptores hipotalâmicos, favorecendo a saciedade; • Indivíduos obesos têm maiores concentrações séricas destes hormônios e apresentam resistência à sua ação; • Os peptídeos intestinais, combinados a outros sinais, podem estimular (grelina e orexina) ou inibir (colecistocinina, leptina e oximodulina) a ingestão alimentar. Todos atuam nos centros hipotalâmicos, que são os grandes responsáveis pelo comportamento alimentar. ❖ Causas: • Deficiência de leptina (não ativa a POMC e CART) - Resulta em obesidade grave de início já na primeira infância (hiperfagia); • Mutação do gene codificador da POMC • Mutação no Mc4R ❖ Manifestações Clínicas: • Multissistêmica: ortopédico, endócrino- metabólico, cardiovascular, gastrointestinal, neoplasias, pulmonar, psicossocial. ❖ Diagnóstico: • Clínico, através de medidas antropométricas, da classificação do IMC + relação da circunferência abdominal/quadril (RCQ). O ideal é sempre a avaliação combinada. ❖ Tratamento clínico:• O tratamento não medicamentoso inclui prática de atividade física formal, aumento da atividade física informal e mudanças de hábito alimentar; • O planejamento dietético baseia-se no estabelecimento de hábitos e práticas relacionados à escolha dos alimentos, comportamentos alimentares, adequação do gasto energético e redução da ingestão energética que terão que ser incorporados a longo prazo. • O uso de medicamentos no tratamento da obesidade deve sempre visar auxiliar o processo de mudança de estilo de vida e facilitar a adaptação às mudanças dietéticas. Os medicamentos que podem ser utilizados no processo de perda de peso são distribuídos em três grupos: - Os que diminuem a fome ou modificam a saciedade - aumentam a disponibilidade de neurotransmissores (principalmente noradrenalina, adrenalina, serotonina e dopamina) no sistema nervoso central, incluem anfepramona, fenproporex e mazindol, fluoxetina, sertralina e sibutramina; - Os que reduzem a digestão e a absorção de nutrients - orlistat, cujo mecanismo de ação é ligar-se à lípase lipoprotéica pancreática no lúmen intestinal, reduzindo sua ação e, assim, a digestão de triglicerídeos; - Os que aumentam o gasto energético - não são aprovados no Brasil. 23 ENDOCRINOLOGIA – TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA OBESIDADE • Indicações: 1. IMC >=40 ou IMC >=35 na presença de comorbidades que melhorem com a perda de peso (como HAS, diabetes, dislipidemia, doenças articulares); 2. História de obesidade de pelo menos 5 anos sem êxito com tratamento convencional de no mínimo 2 anos; 3. Ausência de contra indicações (abuso de álcool e drogas, doenças psiquiátricos, tentativas de suicídio, risco cirúrgico elevado); 4. Presença de equipe capacitada para os cuidados: cirurgião, endócrino, nutrólogo, psiquiatra e psicólogo. TÉCNICAS 1. Restritivas Diminuição da capacidade de armazenamento do estômago, fazendo com que o paciente coma menos. O alimento ingerido ocasiona distensão gástrica precoce, resultando em impulsos aferentes para o hipotálamo, levando à saciedade precoce. • Gastrectomia vertical (Gastrectomia em manga laparoscópica): restrição gástrica com remoção de 70-80% do estômago próximo ao antro, com componente hormonal associada, a redução da grelina. - Vantagens: maior simplicidade técnica; preservação do piloro, redução dos níveis de grelina; não necessidade de ajustes periódicos; não há componente disabsortiva. • Banda gástrica ajustável: o mecanismo é limitar a quantidade de ingesta de alimentos no estômago proximal. - Vantagens: ajustabilidade, reversibilidade, ajuste gradual (adaptação), baixa morbidade, baixa complicações. Perda de peso média de 10-20%, sendo maior no início e diminuindo gradualmente. • Balão Intragástrico: posicionado por via endoscópica. Indicado como adjuvante no tratamento da perda ponderal, principalmente no prepare pré-operatório de pacientes com superobesidade (IMC > 50 kg/m²). Método provisório, devendo ser retirado no prazo indicado. 2. Mistas • By-pass Gástrico em Y de Roux: procedimento cirúrgico ainda mais utilizado no EUA e no Brasil. Componente principal é restritivo, diminuindo o volume de ingestão para algo em torno de 20 a 30 ml, e um componente disabsortivo, resultando de uma alça de jejuno em Y de Roux de, no mínimo, 75 cm de comprimento, anastomosada com o neoestômago. - É necessário fazer reposição de vitaminas e minerais, principalmente pela exclusão do duodeno, que é o principal local de absorção de ferro, cálcio e vitaminas A e do complexo B. Apesar de a B12 ser absorvida no íleo, ela precisa do fator intrínseco produzido no fundo gástrico para sua absorção por isso sua deficiência também é muito comum. 3. Disabsortivas • Derivação Biliopancreática: Consiste na redução da capacidade gástrica, eliminação do controle pilórico do esvaziamento gástrico e em má absorção proporcionada pelo bypass da maior parte do intestino delgado, onde são retirados cerca de 2,5 metros de intestino. Com isso, as enzimas que permitem absorção de nutrientes passam a ter ação restrita - principal fator de perda de peso é a má absorção. PÓS-OPERATÓRIO • Reposições (polivitaminico, ácido fólico, ferro, cálcio + Vit.D e Vit.B12); • Reabilitação do ponto de vista físico (enfraquecimento ao emagrecer, perda de massa magra além da massa gorda) ; • Tratamento comportamental; • Alarmes (atento a hérnia interna, tromboembolismo pulmonar, insuficiência renal, fistulas etc). COMPLICAÇÕES • Gastrite alcalina: fluxo biliar gástrico (BI ou BII) sem piloro e sem válvula pode ocorrer esse fluxo biliar; • Gastrite intensa, epigastralgia duradoura e não responsiva a IBP; • Síndrome da alça aferente: BII: fluxo retrogrado, ou seja, ao invés do transito seguir no sentido distal da alça, ele pode ‘’escorrer’’ um pouco para a próxima, contra o sentido 24 ENDOCRINOLOGIA – peristáltico, acumulo material alimentar nessa região; • Obstrução da alça aferente, epigastralgia pós-prandial, alivio com vômitos. • O grande problema observado em indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica é que, em médio e longo prazo, os pacientes podem apresentar desnutrição protéico-energética, anemias e hipovitaminoses. - Na maioria das vezes, essas carências nutricionais são completamente evitadas pelo acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar antes, durante e principalmente após o tratamento cirúrgico; - Alguns pacientes submetidos a cirurgias bariátricas podem apresentar hipocalemia, hipocalcemia, hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia, edema, osteomalácia (com fraturas ocasionais espontâneas), anemia e deficiência de vitamina B12 e ácido fólico; - Após a cirurgia bariátrica, os pacientes mantêm ingestão alimentar diária entre 600 kcal e 900 kcal. Esse baixo consumo pode provocar complicações importantes, como desidratação, desequilíbrio hidroeletrolítico, hipotensão ortostática e aumento na concentração de ácido úrico, fadigas, cãibras musculares, cefaléia, distúrbio gastrintestinal e intolerância ao frio; - As deficiências de nutrientes apresentadas pelo paciente são proporcionais ao comprimento da área absortiva excluída do trânsito digestivo normal e à porcentagem de perda de peso. Baixos níveis de ferro, vitaminas B12 e D e cálcio são mais comuns na derivação gástrica em Y de Roux e as deficiências de proteínas e de vitaminas lipossolúveis são principalmente observadas após derivação biliopancreática; - 68% apresentaram deficiência de vitamina K e 63% deficiência de vitamina D. • Síndrome de Dumping: pode ser consequência da realização de operações bariátricas; sua prevalência pode chegar a até 50% em gastrectomias parciais. - Ela caracteriza-se por um conjunto de sintomas vasomotores e gastrointestinais, associados ao esvaziamento gástrico rápido ou à exposição súbita do intestino delgado aos nutrients; - A presença súbita do conteúdo gástrico na porção proximal do intestino delgado tem como resposta fisiológica a liberação de bradicinina, serotonina e enteroglucagon, juntamente com líquido extracelular, levando aos sintomas iniciais (necessidade de deitar, palpitação, hipotensão arterial, taquicardia, fadiga, tontura, sudorese, dor de cabeça, rubor, calor, sensação de saciedade, dor e plenitude epigástrica, diarreia, náusea, vômito, cólica, inchaço, e borborigmo) em menos de 30 min, e dentro de 90 min a 3 h, aos sintomas tardios (transpiração, tremor, dificuldade em concentrar-se, perda de consciência e fome) devido à alta secreção de insulina provocando a hipoglicemia. 25 ENDOCRINOLOGIA – CASO CLÍNICO 4 “Consulta médica cara e sem resultado” Miguel, 7 anos, retorna ao pediatra com quadro persistente de dor abdominal e diarreia.Sua mãe informa que há cerca de um ano Miguel vem apresentando diarreias recorrentes com fezes explosivas com odor extremamente fétido e restos de alimentos. Informa ainda que há 6 meses apresenta piora do quadro quando ingere leite o que não acontecia quando do início das diarreias. Mostra-se insatisfeita pois esta passando pelo terceiro pediatra que não lhe prescreve um medicamento sequer apenas falando o que seu filho pode ou não comer: “Tadinho do meu filho, se alimenta bem, come de tudo, mas vive fraco e magrinho...” Traz o resultado do exame solicitado na consulta anterior: - anticorpos antigliadina IgA, IgG e IgM: reagentes 26 ENDOCRINOLOGIA – DOENÇA CELÍACA A doença celíaca (DC) é uma enteropatia caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, fração proteica encontrada no trigo, cevada e centeio. É desencadeada por mecanismos autoimunes nos indivíduos geneticamente predispostos. • Atinge pessoas de todas as idades, mas compromete principalmente crianças de 6 meses a 5 anos; • Predomínio sexo feminino; brancos. • Agregação familiar: 2-20% parentes de 1º grau são afetados; • Em 2005, encontraram uma incidência de 2,11:1000 para adultos e de 5,44:1000 para crianças de 1 a 14 anos, concluindo que a DC não é uma doença rara no Brasil; • Estima-se que existam 300 mil portadores da doença no Brasil, com maior incidência nas regiões sul e sudeste. A doença celíaca surge como consequência da ação de um fator precipitante ambiental sobre um indivíduo geneticamente predisposto, processo onde possivelmente intervêm outros cofatores ambientais. ➔ Fatores precipitantes: • Glúten: É composto por duas frações - as prolaminas e as gluteninas. Ambas contêm péptidos ativadores da inflamação intestinal. - As prolaminas existentes no trigo designam-se gliadinas (70% no trigo) e sofrem digestão incompleta no intestino delgado. Apesar de serem inócuas nos indivíduos saudáveis, as gliadinas e as gluteninas de alto peso molecular são tóxicas para os doentes celíacos. ➔ Fatores genéticos: • Aproximadamente 97% dos indivíduos com DC possuem marcadores genéticos no cromossoma 6p21, designado Complexo Maior de Histocompatibilidade (HLA) classe II, especificamente HLA-DQ2 (95%) e HLA-DQ8 (5%), sendo este o fator de risco genético mais importante no desenvolvimento desta enteropatia. ➔ Cofatores: • Um estudo longitudinal demonstrou que uma alta frequência de infeções por rotavírus poderia aumentar o risco de desenvolver DC em indivíduos geneticamente predispostos; • As infeções intestinais e consequente alteração da microbiota intestinal microbiana podem levar a um aumento da permeabilidade intestinal, contribuindo assim para a resposta imunitária ao glúten; • Alguns medicamentos como o Interferão alfa também foram associados ao desenvolvimento de suscetibilidade ao glúten; • O tempo de introdução do glúten na alimentação infantil pode assumir um papel no desenvolvimento de DC. A inclusão do glúten na dieta antes dos 3 meses ou após os 7 meses de idade foi associada a um risco aumentado de desenvolver anticorpos para a doença celíaca; • Com base nestas evidências, a Sociedade Europeia de Gastroenterologia recomenda a introdução de pequenas quantidades de glúten, entre os 4 e os 6 meses de idade, durante o período de amamentação. • O glúten ingerido por indivíduos geneticamente predispostos determina uma resposta inflamatória na mucosa do intestino; • A transglutaminase tecidual, presente na mucosa intestinal, retira radicais amina das moléculas de glutamina do glúten transformando-os em ácido glutâmico - Este possui afinidade pelas moléculas HLA DQ2 e HLA DQ8, presentes na superfície de células apresentadoras de antígenos; • A formação desse complexo, HLA-ácido glutâmico, induz alterações fenotípicas em várias células envolvidas na resposta imune, responsável pelas alterações intestinais e sistêmicas da doença; • No intestino pode ocorrer a atrofia das vilosidades intestinais e, consequentemente, má-absorção de nutrientes; 27 ENDOCRINOLOGIA – • A susceptibilidade da DC está fortemente ligada à expressão das moléculas DQ2 e DQ8 do complexo de histocompatibilidade principal na superfície de células apresentadoras de antígenos leucocitários humanos. • Um polimorfismo no exon 5 do gene MICA 5.1 está sendo associado a manifestações atípicas da doença celíaca. Esse polimorfismo promove o surgimento de uma proteína que pode modificar a função reguladora dos linfócitos T na homeostase do epitélio intestinal. A Doença Celíaca pode se apresentar nas formas clínicas clássicas (ou típica), não clássica (ou atípica) e assintomática (ou silenciosa): • Forma clássica: se manifesta principalmente nos primeiros anos de vida – precoce até 24 meses. - Diarreia crônica; Constipação; Anemia ferropriva; Anorexia; Vômitos; Emagrecimento; Comprometimento do estado nutricional; Irritabilidade; Inapetência; Déficit de crescimento; Dor; Distensão abdominal; Atrofia da musculatura glútea. - Dermatite herpertiforme – patognomônico de DC. Essa forma clínica pode ter evolução grave, conhecida como crise celíaca. Isso ocorre quando há retardo no diagnóstico e tratamento. Essa complicação se caracteriza por episódios de diarreia com desidratação hipotônica grave, distensão abdominal, desnutrição grave e hemorragia. • Forma não clássica: quadro mono ou oligossintomático, onde as manifestações digestivas estão ausentes ou, quando presentes, ocupam um segundo plano. - Essa forma se apresenta mais tardiamente na infância e os indivíduos apresentam manifestações isoladas, como baixa estatura, artrite, constipação intestinal, perda de peso sem causa aparente, hipoplasia do esmalte dentário, osteoporose, irregularidade do ciclo menstrual e esterilidade. • Doença Celíaca assintomática: alterações sorológicas e histológicas da mucosa do intestino delgado compatíveis com a doença sem manifestações clínicas. - É vista entre familiares de primeiro grau de pacientes celíacos, sendo reconhecida com maior frequência nas últimas duas décadas após o desenvolvimento de marcadores específicos, como os anticorpos anti-gliadina, anti-endomísio e anti-transglutaminase tecidual. • Forma latente: descrita pelo paciente com diagnóstico prévio de doença celíaca com lesão duodenal comprovada histologicamente que após um período de dieta isenta de glúten, volta a consumi-lo e não apresenta qualquer sintoma associado a patologia e não há lesão histológica na mucosa intestinal. Supõe-se que esses pacientes passam a ter maior tolerância ao glúten ou que precise de maior tempo de exposição para manifestar novos sintomas. ➔ Adultos: palidez cutânea, textura fina da pele, cabelo quebradiço, mucosas pálidas, glossite atrófica, aftas orais, queilite angular, edema de membros inferiores pela hipoalbuminemia, fragilidade óssea, hematomas, tendência a sangramentos são raros. - Mais comum: anemia por deficiência de ferro, fadiga, dores ósseas e articulares, osteoporose, doenças hepáticas, depressão, ansiedade, convulsão, enxaquecas, períodos menstruais irregulares, infertilidade, dermatite herpetiforme, abortos recorrentes. ➔ Crianças: inchaço abdominal e dor, diarreia crônica ou constipação, vômitos, perda de peso, fadiga, defeitos do esmalte dentário, retardo do crescimento, baixa estatura, déficit de atenção e hiperatividade. Sorologia • Pesquisa de anticorpos anti-transglutaminase tecidual (TTG) IgA e/ou IgG - ótima relação sensibilidade/especificidade; teste de escolha; • Pesquisa de anticorpos anti-endomísio (EMA) IgA/IgE – falta de padronização laboratorial, mas altamente específico para DC e útil na detecção de DC ativa, silenciosa ou potencial; • Pesquisa de anticorpos anti-gliadina