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Emergências Oncológicas – INTRODUÇÃO Os pacientes oncológicos, por consequência da evolução ou do tratamento da doença, estão sob o risco de desenvolver quadros emergenciais, dentre os quais destacam-se os de natureza metabólica, hematológica, infecciosa e as ditas estruturais, representadas, sobretudo, pelas obstruções nas suas diversas formas. HIPERCALCEMIA A hipercalcemia é considerada a síndrome paraneoplásica mais comum, sendo mais observada nos mielomas, tumores de mama, pulmão, rim e cabeça e pescoço. Dentre os vários mecanismos conhecidos de hipercalcemia, destaca-se a secreção, pelas células tumorais, do peptídeo relacionado ao paratormônio (PTHrP). O PTHrP liga-se à superfície de células renais e ósseas, estimulando a reabsorção óssea e a reabsorção de cálcio pelos túbulos renais. Outros mecanismos possíveis de hipercalcemia envolvem a produção de pTH (ao invés do PTHrP, mas isso é raro de acontecer), a superprodução de vitamina D (linfomas) e a reabsorção óssea por ação osteolítica neoplásica (câncer de mama, mieloma múltiplo de linfomas). Quadro clínico: obstipação, letargia, dor abdominal, náuseas, vômitose poliúria. O ECG pode mostrar redução do intervalo QT e arritmias. A poliúria resulta da diurese osmótica induzida pela hipercalcemia, bem como pela inibição do hormônio antidiurético. Diagnóstico: dosagem de cálcio ionizado. Os níveis de PTH ou de PTHrP podem ser determinados, mas não são indispensáveis. Tratamento: hidratação venosa com soro fisiológico deve ser iniciada a 200 a 300 ml/hora, a depender da condição cardíaca. Desde que não seja contraindicada, a infusão de 1 a 2 litros de soro fisiológico nas primeiras duas horas, seguida da administração de furemida 20 a 40 mg IV, forçam uma eliminação mais rápida do cálcio. Os tiazídicos devem ser evitados, pois pioram a hipercalcemia. Os bisfosfonatos são drogas que inibem a reabsorção tanto normal quanto patológica pelos osteoclastos. As opções consideradas em pacientes oncológicos são o pamidronato (60 a 90mg IV infundidos em 2 a 4 horas) e o ácido zoledrônico (4mg IV, com infusão em 15 minutos). Ambas requerem cuidados e ajustes das does na presença de insuficiência renal. A calcitonina pode ser usada nas primeiras 12 a 24 horas, mas seus efeitos são modestos, não devendo ser usada como medida isolada. Como os bisfosfonatos requerem cerca de 2 dias para uma atuação plena, seus efeitos e os da calcitonina acabam por se complementarem. SÍNDROME DA SECREÇÃO INAPROPRIADA DO HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (HIPONATREMIA) A hiponatremia caracteriza-se por níveis séricos de sódio menores de 136 mmol/L. Pode ser leve (135 a 131 mmol/L), moderada (130 a 126 mmol/L) ou severa (<125 mmol/L). A causa mais comum é a síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIHAD). Essa alteração é típica do carcinoma pulmonar de pequenas células. Algumas drogas, como a cisplatima, ifosfamida e a vincristina, podem estimular a produção de ADH ou aumentar sua atividade. Quadro clínico: hiponatremia moderada (cansaço, dificuldades de concentração e de memória, cefaleia, anorexia nervosa, náuseas, mialgia e cãibra); hiponatremia severa (distúrbios neurológicos como convulsão, alucinações, coma e morte). Diagnóstico: Constatada pela redução da osmolaridade plasmática para menos de 180 mOsm/L e aumento da osmolaridade urinária para mais de 100 mOsm/L. O sódio urinário está acima de 400 mmol/L, mesmo diante de uma ingesta normal de sal. Os níveis de hormônio antidiurético, apesar de não serem rotineiramente dosados, estão elevados. Tratamento: O tratamento da neoplasia é fundamental. Na hiponatremia moderadamente sintomática, a restrição volêmica (ingerir 0,5 a 1 L de água/dia), associada ao aumento da ingesta de sal e proteínas, geralmente é suficiente. Nos pacientes com sintomas neurológicos severos, a reposição do sódio com solução salina hipertônica de forma cuidadosa, deve ser levada em consideração. A reposição não deve ultrapassar 8 a 10 mmol/L em 24 horas ou, 18 mmol/L nas primeiras 48 horas, pelos risco de mielinólise central pontinha. SÍNDROME DE LISE TUMORAL Resulta da lise celular acelerada, com liberação de grandes quantidades de ácidos nucleicos, fósforo e potássio na circulação. Ocorre mais frequentemente após quimioterapia para tumores altamente sensíveis, como leucemias e linfomas. Ademais, tem sido reportada em tumores de crescimento rápido, como o linfoma de Burkitt. Os fatores de risco para o desenvolvimento da SLT são inerentes ao tumor e à própria condição clínica do paciente. Aqueles relacionados à neoplasia são tumores de crescimento rápido, grandes volumes tumorais (>8 a 10cm) e tumores quimiossensíveis. Os relacionados ao quadro clínico são insuficiência renal, desidratação, hiperuricemia, leucocitose e envolvimento da medula óssea. Os ácidos nucleicos são degradados em ácido úrico, não solúvel em água, que podem precipitar sob a forma de cristais em diversos órgãos, como rins, causando insuficiência renal, nas articulações, causando um quadro de gota e no sistema de condução do coração. A hiperfosfatemia pode levar à insuficiência renal, pela precipitação de cristais de fosfato e cálcio nos túbulos. Este componente também pode se depositar no coração, levando à arritmia. A hiperpotassemia aguda e severa pode produzir arritmias graves. Quadro clínico: não há sinais/sintomas específicos da lise tumoral acelerada, mas sim das alterações eletrolíticas e metabólicas causadas por ela. O quadro pode variar desde alterações laboratoriais assintomáticas, até manifestações clínicas que incluem irritabilidade neuromuscular, tetania, convulsões, insuficiência renal com acidose metabólica, arritmias e parada cardíaca. Tratamento: a melhor forma de agir é por meio da prevenção, antecipando-se à ocorrência da síndrome. A hidratação agressiva (3 litros/dia) é a medida isolada mais importante, visando assegurar uma diurese abundante. A quimioterapia é iniciada somente após essa hidratação. Desde que haja hidratação adequada, os diurético de alça podem ser usados para aumentar o débito urinário. O Alopurinol bloqueia a transformação de hipoxantina em xantina e da xantina em ácido úrico, reduzindo a formação de ácido úrico a partir dos ácidos nucleicos. O Alopurinol é iniciado em situação es de risco, 2 a 3 dias antes da quimioterapia. A enzima urato oxidase leva à degradação do ácido úrico em alantoína, solúvel em água e excretada na urina, mostra-se como uma alternativa ao tratamento da hiperuricemia, com o inconveniente de ser onerosa e pouco disponível. Está indicada em casos em que o Alopurinol não se mostra eletivo ou não deva ser usado. A hiperfosfatemia é tratada pelo uso de dieta com restrição de fósforo, utilizando quelantes do fósforo com o hidróxido de alumínio, ou em casos extremos, por meio da diálise A hiperpotassemia, como em outras situações, é tratada por meio da aplicação de solução polarizante (insulina 10 u + glicose 50 gramas infundidos em 60 minutos), poliestirenossulfato (resina de troca de cátions – troca cálcio por portásio, sobretudo no intestino grosso), além de uma boa hidratação e do gluconato de cálcio, como estabilizador de membrana, nos casos severos com alterações eletrocardiográficas. HIPERVISCOSIDADE SANGUÍNEA Causada pelo mieloma múltiplo, leucemias ou gamopatias monoclonais, como a macroblobulinemia de Waldestrom (MW). Nos casos de MW, uma quantidade excessiva de imunoglobulinas circulantes estão presentes. A IgM, pelo seu maior tamanho, é a principal responsável, ligando-se à água na sua porção carboidrato e levando a um aumento da pressão osmótica e da resistência ao fluxo sanguíneo.Quadro clínico: a tríade clássica inclui alterações neurológicas (cefaleia alteração do nível de consciência, vertigem, ataxia ou parestesias), mudanças visuais (decorrentes de alterações venosas retinianas que levam à visão borrada, redução da acuidade visual e eventualmente cegueira) e sangramento sobretudo gastrointestinal, gengival, uterino e nasal). Diagnóstico: sem teste específico, devendo-se avaliar a história, o exame físico e os exames laboratoriais: Eletrólitos, determinação da viscosidade sanguínea e níveis de imunoglobulinas (eletroforese). A viscosidade sanguínea normalmente varia de 1,2 a 2,8 centipoide (cP). Geralmente não são produzidos sintomas quando menor que 3 cP. A hiponatremia e hipercalcemia são frequentes. Tratamento: a plasmférese é a maneira amis rápida de reduzir a viscosidade sanguínea. Se não disponível, a sangria de 100 a 200 pode ser usada para reduzir sintomas. A infusão de soro fisiológico visando uma hidratação adequada, seguida da administração de furesemida, também pode reduzir os sintomas. O tratamento definitivo, todavia, inclui a abordagem da causa-base, que frequentemente demanda quimioterapia cm alquilantes ou com análogos os nucleosídeos. HIPERLEUCOCITOSE E LEUCOSTASE Hiperleucocitose é definida como o número de leucócitos >100.00/mcL Esta condição, por sua vez, pode levar à leucostase, pois o aumento dos leucócitos leva à agregação de blastos na microcirculação, como consequência do aumento da viscosidade sanguínea. Quadro clínico: em geral os sintomas decorrem de alterações pulmonares, cujas manifestações vão da dispneia à insuficiência respiratória, ou sinais de acometimento do sistema nervoso central, levando à quadros que vão da confusão à sonolência. Outras alterações possíveis são hemorragia intracraniana, hemorragia retiniana, trombose de veias da retina, IAM, insquemia de membros e CIVD. Diagnóstico: não há testes específicos. Há necessidade de avaliarmos os dados clínicos, laboratoriais e eventualmente os exames e imagem. Tratamento: leucoferese, usualmente iniciada quando o números de blastos é maior que 100.00/mcL. SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR Essa síndrome é consequência da oclusão desse vaso (Veia cava superior), provocada na maioria dos casos por tumores malignos. Em uma porcentagem menor, destacam-se causas como trombos pelo uso de cateteres venosos centrais e de marcapassos. A maior parte das vezes é causada por carcinoma pulmonar não pequenas células, seguida do linfoma não-Hodgkin. Outras possíveis causadores são os timonas, tumores de células germinativas e as neoplasias metastáticas de outras localizações, sobretudo da mama. Quadro clínico: dispneia (sintoma mais frequente), sensação de inchaço, dor torácica e disfagia. Ao exame físico, observa-se edema de cabeça e pescoço, dos MMSS e da parede torácica. Igualmente, ocorre dilatação venosa da parede torácica, dos MMII e da cabeça e pescoço. Os sintomas/sinais mais preocupantes são os neurológicos, como cefaleia, confusão mental ou mesmo coma, sugerindo isquemia cerebral. A evolução mais habitual, contudo, é o desenvolvimento de circulação colateral com a melhora gradual do quadro. Diagnóstico: o diagnóstico é clínico, mas exames complementarem fornecem informações relativas à extensão e localização da oclusão, fundamentais para uma programação terapêutica adequada. Raio-x: alargamento de mediastino na maioria dos casos; TC de tórax: detalha anatomicamente a lesão no mediastino; Flebotomia: informa sobre a existência de colaterais, mostrando pormenores do sítio e extensão da oclusão na veia cava. Biópsia de linfonodos supraclaviculares, desde que suspeitos, bem como a broncoscopia com citologia oncótica do escarro e punção aspirativa transbrônquica, podem levar ao diagnóstico em quase 50% dos casos. Na presença de derrame pleural: toraconcentese com citologia oncótica do líquido e biópsia da pleura. Biópsia de medula óssea nos casos de carcinoma pulmonar não pequenas células e o linfoma não Hodgkin. Biópsia transtorácica da massa mediastinal guiada por tomografia é uma alternativa segura à biópsia a céu aberto. Tratamento: a conduta inicial inclui medidas gerais (repouso no leito em posição semi sentada e oxigenioterapia). Não se recomenda a radioterapia sem o diagnóstico anatomopatológico da lesão, o que poderia dificultar o reconhecimento preciso do tipo de neoplasia a posteriori. A terapia específica envolve quimio e radioterapia, com a finalidade de reunir o volume do tumor causador da compressão. A angioplastia percutânea com balão e colocação de próteses expansíveis (stents) podem ser usados com sucesso para manter a patência da via cava, ficando como primeiro escolha para causas benignas. Causa benignas: angioplastia percutânea com balão e colocação de próteses expansíveis (stents). Causas malignas: diagnóstico anatomopatológico da lesão, depois radio e quimioterapia. DERRAME PERICÁRDICO MALIGNO O acúmulo ne líquido no são pericárdico pode ocorrer por metástases do câncer de mama ou de pulmão (maioria das vezes), melanoma, linfomas, leucemias e ainda por complicações da radioterapia da parede torácica ou mesmo os agentes quimioterápicos. A maioria dos derrames pericárdicos são pequenos e assintomáticos. Todavia, sua presença é indicador de mau prognóstico, com sobrevida em geral menor que 1 ano. Até 2L de líquido no saco pericárdico pode não causar comprometimento importante da função ventricular. Quadro clínico: a tríade clássica do derrame pericárdico com tamponamento cardíaco (dilatação de veias cervicais + precórdio silencioso + hipotensão) é rara. As queixas de desconforto torácico, palpitações, ortopneia, dispneia e fadiga são frequentes. No exame físico, observamos a hipofonese de bulhas, pulso paradoxal e com baixa amplitude. O ECG mostra complexos com baixa voltagem e alterações inespecíficas do segmento S-T. O ECO é o exame mais indicado, já que associa o diagnóstico de derrame à avaliação funcional cardíaca, mas, na ausência deste, o próprio USG pode ser bastante útil. Tratamento: não há vantagens claras de drenar derrames assintomáticos, mesmo que sejam volumosos. Nos casos de tumores sensíveis, tanto a quimioterapia quanto à raidoterpaia podem ser úteis para prevenir recidivas. Pacientes com sintomas agudos são tratados por meio de periocardiocentese ou pela confecção de janela pericárdica, a qual pode ser realizada por toracoscopia videoassistida ou a céu aberto. O estudo citológico oncológico do líquido deve ser feito em TODOS os casos. COMPRESSÃO DA MEDULA ESPINHAL Ocorre devido à presença de metástases nos corpos vertebrais que destroem a cortical e invadem o espaço epidural (canal vertebral), ou levam à fratura da vértebra com deslocamento de fragmentos ósseos para aquele espaço, que comprime a medula espinhal. A compressão também pode ocorrer por metástases paravertebrais que invadem o forame intervertebral. O dano se dá por lesão direta pelo fragmento ósseo, ou por compressão, que leva a edema vasogênico intramedular, com comprometimento da perfusão e necrose. As neoplasias mais observadas como causas de metástases são as de mama, próstata, pulmão, os linfomas e o mieloma múltiplo. O seguimento envolvido geralmente é a coluna torácica, seguido da coluna lombar e, em terceiro lugar, a cervical. Quadro clínico: dor dorsal (principal). A natureza da dor pode variar com o local, podendo ser radicular ou referida. A localização mais comum é a torácica, seguida da lombossacra. Outros achados incluem perda de força, alterações sensoriais e disfunção autonômica. Diagnóstico: a presença de dores de início recente na região dorso-lombarou na mudança do padrão dessas dores em pacientes com câncer com maior propensão a produzirem metástases para a coluna (citados anteriormente), devem ser encaradas como tal até que se prove o contrário. As queixas iniciais são “pernas pesadas”, dificuldades para subir uma escada ou levantar de uma cadeira. As dores pioram ao se deixar, fazendo com que estes pacientes acordem com dores ou até prefiram dormir sentados. A manobra de Lasegue exacerba essa dor e o achado mais comum é o de paraparesia, já que o acometimento torácico é o mais frequente. O acometimento cervical pode levar à quadriparesia. Ao diagnóstico, metade dos pacientes apresentam incontinência urinária ou requerem cateterização vesical por retenção. O padrão ouro para diagnóstico de compressão medular é a ressonância nuclear magnética (RNM), que deve incluir toda a coluna. Na ausência desta, fazer TC ou mielografia, mas essas possuem menos acurácia. NÃO HÁ COMO DIAGNOSTICAR A COMPRESSÃO MEDULAR APENAS PELA AVALIAÇÃO CLÍNICA, POR ISSO, CONSIDERAMOS QUE A RNM É PARTE DA INVESTIGAÇÃO. Tratamento: os corticoides devem ser iniciados imediatamente, eles reduzem o edema vasogênico além de serem bastante eficazes no controle da dor. A preservação motora depende da rapidez com que se inicia o tratamento. Dexametasona 10 mg IV, seguida de mais 3 a 10 mg a cada 6 horas. A radioterapia pode ser importante nos tumores responsivos, sendo indicada em alguns casos (sem consenso). Ademais, é frequente a aplicação de 30 Graus, fracionados em 10 sessões. Os tumores mais sensíveis são os linfomas, mieloma e o câncer de mama, e os menos responsivos são: câncer de pulmão não pequenas células, o câncer renal e o melanoma. A cirurgia vem ganhando muito espaço. Está indicada na presença de lesão na coluna, sem diagnóstico prévio de câncer, na presença de radiculopatia dolorosa e progressiva em vigência da radioterapia, quando há o envolvimento de área previamente irradiada, compressão medular resultante de fratura do corpo vertebral e instabilidade da coluna. O procedimento pode variar de laminectomia paliativa por via posterior até a abordagem anterior, com ressecção do corpo vertebral e fixação da coluna em caos selecionados e com maior perspectiva de sobrevida A quimioterapia está indicada nos casos de linfoma de Hodgkin. O tratamento de lesões não sintomáticas na coluna tem benefícios incertos, podendo-se optar pela observação clinica seguido de exames seriados. METÁSTASES CEREBRAIS – HIPERTENSÃO INTRACRANIANA As metástases cerebrais são o tipo mais frequente de tumor intracraniano e são relativamente comuns em pacientes com câncer. Os tumores que mais levam Às metástases cerebrais são o de pulmão, seguido do de mama e do melanoma. O tumor de pulmão e o melanoma tendem a produzir metástases múltiplas, enquanto os de mama, cólon e rim comumente produzem metástases solitárias. Essas lesões podem levar ao aumento da pressão intracraniana, produzindo manifestações clínicas. A causa mais comum de aumento da pressão intracraniana é o edema cerebral. Os tumores também podem levar à elevação da pressão intracraniana por hidrocefalia, secundária ao aumento do fluxo cérebro-espinhal no espaço ventricular, ao impedimento do seu fluxo à absorção do mesmo. Quadro clínico: cefaleia de início subagudo, de intensidade severa e resistente a analgésicos, com piora pela manhã ao acordar, seguida de náuseas, vômitos, vertigem, sintomas neurológicos focais, alterações neurocognitivas e convulsões, que podem levar ao “status epileticus” ou uma combinação desses sinais/sintomas. A existência de papiledema na fundoscopia ocular, quase sempre indica aumento da PIC. Diagnóstico: TC pode ser usada, mas é menos sensível, especialmente se o tumor apresentar pequenas dimensões ou se situar na fossa posterior. Entretanto, a RNM é o exame de maior sensibilidade e especificidade. A utilização da RNM com gadolínio permite a distinção mais precisa da natureza destas lesões, entre neoplásica, infecciosa, inflamatória ou isquêmica. Tratamento: medidas gerais (decúbito elevado e hidratação venosa), associadas à aplicação de corticoesteróides. Os corticoides tendem a recuperar a permeabilidade capilar, reduzir o edema perilesional e a compressão cerebral. Dexametaona de 10 a 2mg IV em bolus seguida de 4 a 10 mg de 6/6h. O uso de diuréticos osmóticos, como o Manitol 10% IV, na dose inicial de 0,75 a 1g por KG de 3/3 a 6/6 horas, é uma alternativa para redução do edema cerebral. A internação em UTI está indicada para os casos em que há depressão do nível de consciência. O meio mais rápido para alívio da PIC é a intubação orotraqueal com hiperventilação, mantendo a PCO2 entre 25 e 30 mmHg. Mas devemos iniciar corticoides e Manitol o quanto antes. O tratamento definitivo envolve a aplicação da radioterapia em todo o cérebro, ou da cirurgia para a exérese da lesão, (meio mais eficiente para redução da PIC), ou ainda a radiocirurgia estereotáxica. A quimioterapia pode ser usada em tumores altamente sensíveis, como os tumores de células germinativas, linfomas ou carcinomas de pequenas células, ou em casos nos quais a radioterapia não se mostra uma opção efetiva. OBSTRUÇÃO DE VIAS AÉREAS Pode ocorrer pelo crescimento das lesões intrínsecas das vias aéreas, como nos tumores de laringe, traqueia e brônquios, por lesões oriundas de órgãos adjacentes ou ainda por metástases para o mediastino. O carcinoma broncogênico é considerado a principal causa de obstrução de vias aéreas por tumores. Mas tumores como linfomas, de tireoide, timomas, tumores de células germinativas, tumores carcinoides ou os adenoidecísticos do pulmão também podem provocar obstrução. Quadro clínico: dispneia, estridor, hemoptise e tosse. Ao exame físico, pode-se encontrar sibilos, redução do MV e cianose. Diagnóstico: Rx (pouco sensível e não específico) pode mostrar estreitamento da traqueia. A TC, de maior acurácia, pode relevar o estreitamento brônquico, além de definir com maior exatidão a anatomia mediastinal e possíveis lesões primárias ou metastática. A broncoscopia proporciona a visualização direta da lesão, permitindo a biopsia e até o tratamento da obstrução. Tratamento: Traqueostomia nos casos de obstrução da laringe; Broncoscópio rígido, especialmente nos casos de compressão extrínseca das vias aéreas ou no controle de hemorragias; Broncoscopia flexível; Radio (par os canceres sensíveis) e quimioterapia ( linfoma, carcinoma pulmonar de pequenas células e tumor de células germinativas) em causas malignas; Stents são o tratamento de eleição para desobstrução por compressões extrínsecas das vias aéreas. O laser pode ser usado para alívio das obstruções causadas por tumores. OBSTRUÇÃO DE VIAS URINÁRIAS – TRATO URINÁRIO BAIXO Inclui obstruções da bexiga, próstata e uretra. Por acometerem a via de saída comum, afetam ambos os rins comprometendo sua função. Podem ser causadas pela hiperplasia prostática benigna (HPB), câncer de próstata, estenose uretral, prostatite ou serem resultado de iatrogenia durante a passagem de sondas vesicais, que lesam a uretra por falso trajeto, provocando edema e hematoma. As obstruções de sondas de Foley, uso de anticolinérgico e o pós cirúrgico de cirurgias pélvicas extensas, como ressecções abdominoperineais e histerectomias radicais também podem levar a esse quadro. Tratamento: diante desse quadro, a passagem de um cateter urinário fornece alívio rápido a esses pacientes. A lesão uretral iatrogênica geralmente requer cistostomia como tratamento. OBSTRUÇÃO DE VIAS URINÁRIAS – TRATATO URINÁRIO ALTO A obstrução por tumor ou cálculo são as causas mais frequentesde oclusão do trato alto. Diagnóstico: diante das alterações da função renal, USG ou TC sem contraste podem ser usadas para investigar a presença de obstrução renouretral ou bilateral. A RNM substitui a TC quando houver comprometimento prévio da função renal. A ausência de contrate pode limitar a acurácia do exame tomográfico em definir o fator obstrutivo, sobretudo nos casos de tumores. Tratamento: Oclusões por cálculo: tansulosina 0,4 mg/dia (antagonista de receptores alfa 1 adrenérgicos) facilita a passagem dos cálculos. A presença de dor incontrolável, infecção ou insuficiência renal contraindicam essa conduta, demandando intervenção. Intervenção: pode ser feita por 2 métodos: Passagem de cateteres ureterais do tipo “duplo J”, que exigem troca a cada 3 a 6 meses para evitar incrustações ou infecções. A passagem do duplo J geram sintomas irritativos com maior facilidade. Nefrostomia percutânea guiada por USG ou fluoroscopia. CISTITE ACTÍNICA - HEMATÚRIA Pode ser causada pela irradiação de tumores pélvicos (câncer de colo de útero, da bexiga e da próstata). A lesão à bexiga ocorre em 3 fases: A fase inicial ocorre de 4 a 6 semanas após o término da radioterapia e se caracteriza pela presença de edema da mucosa, hiperemia e inflamação; A segunda fase ocorre de 6 meses a 2 anos após o tratamento, com necrose do endotélio vascular e fibrose da bexiga. A terceira fase resulta da progressão da fibrose, levando a contração da bexiga, que se torna friável e mais propensa a sangramentos. Tratamento: diante de sangramentos, a cateterização vesical com sonda de Foley 22 French e a irrigação vesical com soro fisiológico, para evacuação do sangue e de coágulos, são as medida siniciais. A cistoscopia pode está indicada em casos de falta de melhora com as duas primeiras medidas. O uso de medicações como polissulfato sódico de pentosano (pentosano polissulfato), de ação trombolítica, em aplicações de 100mg 3x/dia pode ser feito em casos de falha terapêutica. Da mesma forma, o ácido aminocapróico tem sido usado em casos refratários. Para pacientes com hemorragia contínua, a derivação urinária pode oferecer uma chance de sucesso, sendo a cistectomia uma alternativa mais agressiva.