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URGÊNCIAS ONCOLÓGICAS METABÓLICAS E INFECCIOSAS 2 Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 SÍNDROME DE LISE TUMORAL (SLT) – (URGÊNCIA METABÓLICA) .................... 6 HIPERLEUCOCITOSE E LEUCOSTASE ................................................................. 20 NEUTROPÉNIA FEBRIL (URGÊNCIA INFECIOSA) ................................................ 25 HIPERCALCEMIA (URGÊNCIA METABÓLICA) ...................................................... 34 HIPONATREMIA....................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 49 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 INTRODUÇÃO Emergências oncológicas são condições agudas causadas pelo câncer, ou por seu tratamento, que requerem rápida intervenção, já que envolvem risco de vida iminente ou risco de dano grave permanente. O atendimento às urgências e emergências na oncologia tem papel fundamental na reversão dos casos que se direcionam ao óbito. Deve fomentar a melhora da qualidade de vida e a prevenção de sequelas advindas das complicações. O aumento da sobrevida dos pacientes com câncer pode levar à evolução da doença que, associada à comorbidades e toxicidades dos tratamentos, proporciona ampliação dos casos de emergências oncológicas. Essa evolução pode ser em razão de metástases e tem uma taxa de incidência de 70% dos casos de câncer. Há diversas formas de classificação dessas emergências, por agravos relacionados ao tumor e àqueles provocados pelo seu tratamento; ou por emergências estruturais, metabólicas e secundárias ao tratamento; outros propõem a divisão de acordo com os sistemas acometidos; e, por último, há aqueles que consideram os sintomas e as consequências dos agravos como verdadeiras emergências. Erros ou atrasos no atendimento podem resultar em óbito ou danos irreversíveis. A capacitação dos profissionais para identificar rapidamente o problema e instituir a terapêutica adequada pode modificar o prognóstico ou melhorar significativamente a qualidade de vida desses pacientes. A compreensão dos quadros dessas condições agudas é essencial para a equipe que atende a pacientes em unidades de emergências oncológicas, onde são 5 realizadas triagem, anamnese e exame físico, a fim de decidir sobre a melhor conduta e abordagem possível. Porém, a formação acadêmica da equipe de saúde nem sempre é adequada, o que faz com que muitos profissionais se sintam despreparados para lidar com a complexidade dos agravos oncológicos, nos quais as alterações clínicas se misturam com os quadros evolutivos das neoplasias e com as toxicidades agressivas dos tratamentos. A neoplasia pode ser definida como um tumor que surge devido ao aumento anormal do número de células, ou seja, caracteriza-se como proliferação anormal do tecido. O termo tumor refere-se a um aumento do volume de uma parte do organismo, entretanto, é comumente usado como sinônimo de neoplasia. As neoplasias podem ser consideradas benignas ou malignas usando como critério o seu comportamento biológico. 6 Os pacientes com neoplasias estão sujeitos a desenvolver várias complicações metabólicas que requerem imediata avaliação e tratamento. Entre as principais situações metabólicas que exigem rápida atenção, encontramos a hipercalcemia, a hiponatremia e a síndrome de lise tumoral. Com o aumento da incidência de câncer na população em geral e com a melhora da terapia antineoplásica, os pacientes passaram a ter maior sobrevida e essas emergências ocorrem com mais frequência. Por isso, os médicos devem ser capazes de reconhecer prontamente essas condições clínicas para que o tratamento seja iniciado antes que os sintomas se agravem. SÍNDROME DE LISE TUMORAL (SLT) – (URGÊNCIA METABÓLICA) A Síndrome de Lise Tumoral (SLT) ocorre quando as células tumorais malignas entram em apoptose e libertam o conteúdo intracelular, nomeadamente potássio, fósforo e ácido úrico, para a circulação sanguínea. Dependendo dos fatores de risco do doente e do tipo de neoplasia, a incidência de SLT varia entre 3 a 20%. A SLT geralmente ocorre secundariamente ao início de tratamento antitumoral, particularmente a quimioterapia. As doenças linfo-proliferativas, em particular os linfomas de alto grau (p.e. linfoma de Burkit) e as leucemias agudas estão mais frequentemente associados a esta síndrome. Raramente tumores sólidos com uma taxa proliferativa elevada podem induzir este SLT. Em casos raros a SLT pode ocorrer espontaneamente em tumores com elevada taxa de proliferação. 7 A síndrome de lise tumoral é caracterizada pela destruição maciça de células malignas. Embora possa ocorrer de modo espontâneo, a SLT aparece, em geral, logo após o início do tratamento com agentes quimioterápicos citotóxicos. Ela acontece quando células neoplásicas são destruídas e seu conteúdo intracelular – potássio, fósforo e ácidos nucleicos – é liberado na circulação sanguínea, ultrapassando a capacidade do organismo de excretar essas substâncias. Clinicamente, é caracterizada por hiperfosfatemia, hipercalemia, hiperuricemia, hipocalcemia e insuficiência renal aguda, frequentemente oligúrica. O ácido úrico é produzido pelo metabolismo da purina. Ácidos nucleicos são metabolizados em hipoxantina, xantina e, como produto final, ácido úrico, que é excretado pelos rins. Hiperuricemia, portanto, ocorre mais frequentemente em doenças de alto índice proliferativo, e é agravada pela quimioterapia citotóxica. Em excesso, o ácido úrico e a xantina cristalizam nos túbulos renais, sendo esse um dos principais mecanismos de insuficiência renal na síndrome de lise tumoral. Quanto mais ácida a urina, maior a tendência de cristalização do ácido úrico. A solubilidade da xantina não depende do pH urinário. Hiperfosfatemia leva à precipitação de fosfato de cálcio ectópico e à hipocalcemia, sendo outro importante mecanismo de lesão renal na síndrome de lise tumoral. Ao contrário do ácido úrico, o fosfato de cálcio tende a precipitar em meio alcalino. Além disso, pode ocorrer também precipitação de fosfato de cálcio no sistema de condução elétrica cardíaco, levando a arritmias. A reposição de cálcio aumenta o 8 risco de precipitação. A hipocalcemia é, então, secundária à hiperfosfatemia e pode levar a tetania, arritmias e convulsões. PATOGÊNESE A síndrome de lise tumoral é secundária à libertação massiva do conteúdo intracelularnomeadamente de potássio, fósforo e ácidos nucleicos - na circulação sanguínea aquando da morte celular. O catabolismo dos ácidos nucleicos conduz à hiperuricemia. A capacidade de excreção renal destas substâncias é ultrapassada neste caso, levando à sua acumulação. O desenvolvimento abrupto de hipercalemia, hiperuricemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia acaba por ter efeitos devastadores sobre os vários órgãos dos quais se destacam os rins, o miocárdio e o sistema nervoso central. Os fatores de risco incluem: elevada carga tumoral, frequentemente evidenciada por níveis elevados de LDH; tumores quimiossensíveis; elevada taxa proliferativa; leucocitose elevada em doentes com leucemia; hiperuricemia previa ao início de tratamento; disfunção renal prévia; uso concomitante de fármacos nefrotóxicos; depleção de volume. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A apresentação clínica é variada, podendo ir desde alterações laboratoriais assintomáticas até sinais e sintomas inespecíficos secundários às alterações 9 metabólicas. Em geral surgem alguns dias após o início de terapêutica antineoplásica, nomeadamente a quimioterapia. A hipercalemia é a alteração metabólica com maior risco de morte iminente. Conduz a alterações da permeabilidade normal das células musculares, com especial destaque para as células do miocárdio. Assim é responsável por alterações eletrocardiográficas como ondas T pontiagudas, prolongamento do intervalo PR e alargamento do complexo QRS. Em casos extremos, pode ser responsável por arritmias fatais. Outras manifestações incluem sintomas neuromusculares -como cãibras musculares, fraqueza muscular e parestesias - e sintomas constitucionais náuseas, vômitos e diarreia. A hiperfosfatemia conduz à precipitação de cristais de fosfato de cálcio nos tecidos moles e órgãos viscerais, provocando danos locais. Secundariamente desenvolve-se hipocalcemia. Clinicamente a hipocalcemia manifesta-se como espasmos musculares, cãibras musculares, espasmo carpopedal, parestesia ou tetania. Nas situações mais graves pode incluir sintomas neurológicos, como alteração do estado de consciência, confusão, delírio, alucinações e convulsões, e alterações eletrocardiográficas. O ácido úrico é uma substância pouco solúvel em água. Quando em concentrações elevadas precipita nos túbulos renal, sendo um dos responsáveis pela insuficiência renal. Pode ainda ocorrer precipitação de sais ao nível das articulações, com subsequente desenvolvimento de episódios de gota. A insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial, manifesta-se por diminuição da diurese. Podem ainda estar presentes as manifestações clínicas de uremia. 10 DIAGNÓSTICO A síndrome de lise tumoral é definida por um conjunto de alterações laboratoriais e clínicas. O sistema de classificação de Cairo-Bishop é o mais utilizado. (Tabela 6) 1. Laboratorial: quando há pelo menos dois dos seguintes critérios: aumento de ácido úrico, fósforo, potássio (maior que 25% do valor basal ou do limite da normalidade) ou queda de cálcio iônico (maior que 25% do valor basal do limite normalidade); 2. Clínica: quando há também queda do clearance de creatinina (para valores < 60 mL/min, que pode ser estimado pela equação de Cockroft e Gault ou, para crianças, pela fórmula de Schwartz), convulsão, hipocalcemia sintomática, arritmia cardíaca ou morte. A dosagem sérica de creatinina não pode ser utilizada para diagnóstico ou classificação. 11 TRATAMENTO O melhor tratamento é a antecipação da ocorrência de SLT e a sua prevenção. O tratamento preventivo deverá ser iniciado pelo menos 24 a 48 horas antes do início da quimioterapia. O primeiro passo é a identificação dos doentes de risco. Um sistema de estratificação de risco foi proposto, tendo em conta o tipo de tumor, a carga tumoral, o tratamento, a resposta esperada ao tratamento e a função renal. De acordo com a classificação em risco baixo, intermédio e elevado foram estabelecidas recomendações. (Tabela 7) 12 Para além do risco individual de cada patologia, este sistema de estratificação de risco tem ainda em conta a disfunção renal, o envolvimento renal e a presença de hiperuricemia, hiperfosfatemia e hipercaliemia de base. Assim, perante a presença de um destes fatores, o risco era agravado para o nível seguinte (baixo para intermédio, intermédio para alto). A base de qualquer prevenção é a monitorização adequada do doente. A hidratação constitui igualmente um passo fundamental, tendo como objetivo manter um débito urinário elevado (mínimo 100mL/h). 13 O alopurinol inibe a xantina oxidase diminuindo a produção de ácido úrico, e levando à acumulação de compostos pouco solúveis em água (xantina e hipoxantina). Deve ser usado apenas como agente preventivo, uma vez apenas que não tem qualquer efeito sobre o já existente. Assim, demora cerca de 5 a 7 dias até se conseguir obter a normalização dos valores hiperuricemia. Deve ser iniciado dois dias antes do tratamento e mantido por mais três dias. Por este motivo, não está recomendado em doentes com hiperuricemia prévia (≥ 7,5 mg/dL) ao início de tratamento, devendo-se nestes casos optar pela rasburicase. A rasburicase é uma oxidase de ácido úrico que estimula a degradação deste num composto solúvel em água – alantoína. Ao fim de 4 horas, assiste-se a uma diminuição dos níveis de uricemia. Dado o seu custo, deve ser reservado apenas a populações de risco elevado, sobretudo os com disfunção renal ou hiperuricemia grave prévia. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO E PROFILAXIA A probabilidade de ocorrer a síndrome de lise tumoral depende diretamente de quatro fatores: a) agressividade da doença; b) volume tumoral; 14 c) efetividade do tratamento citotóxico; e d) medidas profiláticas tomadas. Não se devem subestimar condições clínicas que contribuam para o desenvolvimento dessa síndrome, como desidratação, insuficiência renal crônica prévia, oligúria e hipotensão. Graças a essa multifatoriedade, as incidências relatadas de SLT são extremamente variáveis, mesmo quando se estratifica por doença ou risco. Apesar de classicamente associado ao tratamento citotóxico, a lise tumoral pode ocorrer com doses baixas de corticosteroides e até espontaneamente. Pacientes que já têm níveis altos de ácido úrico antes do tratamento, ou com critérios laboratoriais de lise tumoral, têm risco aumentado. No momento, não há dados que permitam classificar categoricamente o risco de síndrome de lise tumoral em pacientes com tumores sólidos ou linfomas, e todas as classificações de risco esbarram em um certo grau de subjetividade. A classificação que será apresentada aqui é baseada em dados disponíveis e opiniões, e deve ser interpretada criticamente. PROFILAXIA 15 O objetivo das medidas profiláticas é aumentar o débito urinário (>2 mL/kg.min), através de hiper-hidratação (2 – 3 L/m2 de superfície corporal) e diurético de alça, e redução dos níveis de ácido úrico. Recomendamos que a hiperhidratação seja feita com soro hipotônico e que se evite ofertar uma quantidade muito grande de NaCl. A hiper-hidratação é a única maneira de reduzir os níveis de fosfato. Vale lembrar que, uma vez instalada, a síndrome de lise tumoral é um quadro grave com consequências potencialmente fatais. Há no mercado brasileiro dois agentes para redução de ácido úrico. O alopurinol, na dose de 300-900 mg/dia por via oral, inibe a xantina oxidase e reduz o risco de cristalização de ácido úrico. Pode haver acúmulo de xantina, que, em menor grau, também pode precipitar nos túbulos renais. O efeito máximo da medicação ocorre após dois dias, que é o tempo que o ácido úrico já existente levapara ser excretado do organismo. Já a rasburicase é uma enzima que converte o ácido úrico em alantoína, muito mais solúvel. A redução dos níveis de ácido úrico ocorre em quatro horas. A dose recomendada é 0,20 mg/kg.dia por cinco dias, por via venosa. Não deve ser utilizada em pacientes com deficiência de G6PD. A rasburicase é mais eficaz e reduz mais rapidamente os níveis de ácido úrico. A única limitação é o custo – por isso é necessário um uso mais racional, com indicação precisa. Um estudo fase III demonstrou que o uso por três dias, ao invés de cinco, associado a alopurinol (tratamento sequencial), tem resultados igualmente satisfatórios em pacientes de alto risco. Há também evidências de que doses menores, que variam de 0,02 – 0,07 mg/kg, ou fixas entre 3,0 – 7,5 mg, são igualmente eficazes. Não há consenso sobre alcalinização da urina. Se, por um lado, ela reduz a cristalização de ácido úrico, por outro aumenta a precipitação de fosfato de cálcio. Portanto, não se deve alcalinizar a urina de pacientes com hiperfosfatemia ou que desenvolvem hiperfosfatemia. Os pacientes de alto risco e grande volume de doença podem, adicionalmente, receber um pré-tratamento quimioterápico em dose baixa 16 para reduzir o risco de lise tumoral ou alterar o tratamento citotóxico de modo a torná- lo menos intenso no início. Em alguns protocolos, esse pré-tratamento já está incluso. ALTO RISCO Os pacientes com doenças de alto índice proliferativo e alta sensibilidade a quimioterapia, como linfoma de Burkitt, leucemia linfoblástica aguda e leucemia mielóide aguda, são os de mais alto risco para desenvolvimento de síndrome de lise tumoral. Nesses pacientes, a carga tumoral, que pode ser estimada pelos níveis de desidrogenase lática (LDH), contagem leucocitária, tamanho do tumor e infiltração maciça de medula óssea, é o principal preditor de desenvolvimento da síndrome. Pacientes com linfoma de Burkitt, exceto estágio I ressecado, e com leucemias agudas com contagem de leucócitos > 25.000/mm3,LDH > 2 vezes o normal ou infiltração maciça de medula óssea devem ser considerados de alto risco. Esses pacientes de alto risco devem receber profilaxia intensiva, que inclui hiper-hidratação e rasburicase. Devem também ser monitorizados com exames laboratoriais (incluindo LDH, ácido úrico, sódio, potássio, fósforo, cálcio, ureia e creatinina) pelo menos duas vezes por dia, pelos primeiros três dias. O débito urinário deve ser monitorizado a cada quatro a seis horas. 17 RISCO INTERMEDIÁRIO A lise tumoral em tumores sólidos não é um evento frequente. Os tumores com maior risco de desenvolver a SLT são os de alta sensibilidade à quimioterapia, como câncer de pulmão de pequenas células, neuroblastoma e tumor germinativo metastático. Esses são considerados de risco intermediário. Além disso, grande volume tumoral, especialmente quando há metástases hepáticas, pode ser considerado um fator de risco para o desenvolvimento da lise. Surpreendentemente, a mortalidade relacionada à síndrome de lise tumoral é alta em tumores sólidos, o que reflete o baixo índice de suspeição e o uso de medidas 18 profiláticas menos efetivas. As neoplasias hematológicas de risco intermediário são os linfomas agressivos ou com grande carga tumoral e com LDH > 2 vezes o normal. Exemplos: linfoma anaplásico, linfoma do manto, linfoma difuso de grandes células B, linfoma folicular 3B, linfoma T periférico. Linfomas de Burkitt estágio I, ressecado ou com LDH < 2 vezes o normal, e linfomas linfoblásticos estágio I ou II com LDH < 2 vezes o normal também devem ser considerados de risco intermediário, assim como leucemias agudas com LDH < 2 vezes o normal e leucócitos < 25.000/mm3. Pacientes de baixo risco, porém com disfunção ou acometimento renal (que é frequente em mieloma múltiplo), devem ser classificados como risco intermediário, bem como as doenças de baixo índice proliferativo que apresentam excelente resposta ao tratamento (como, por exemplo, leucemia linfocítica crônica tratada com esquemas contendo fludarabina e rituximabe). Esses pacientes devem receber profilaxia com alopurinol e hidratação venosa. A necessidade de internação para monitorização clínica e laboratorial deve ser avaliada caso a caso. BAIXO RISCO Pacientes com outros tumores sólidos, mieloma múltiplo sem acometimento renal, linfoma de Hodgkin, leucemia linfocítica crônica tratada com agente alquilante, linfomas cutâneos e linfomas agressivos (excluindo-se linfoma linfoblástico e linfoma de Burkitt) com LDH < 2 vezes o normal são de baixo risco, e a profilaxia deve ser feita apenas com alopurinol. Tumores sólidos totalmente ressecados têm risco negligenciável de lise tumoral e não é necessária profilaxia. 19 20 HIPERLEUCOCITOSE E LEUCOSTASE A hiperleucocitose é uma alteração laboratorial caracterizada por um total de leucócitos acima de 50 x 109 (50.000/microL) ou 100 x 109 (100.000/microL). A leucostase é a hiperleucocitose sintomática, uma emergência médica que normalmente ocorre em pacientes com leucemia mieloide aguda ou leucemia mieloide crônica em crise blástica. Nessas situações, além do aumento celular, há sinais de diminuição da perfusão tecidual, normalmente manifestada por insuficiência respiratória e alterações neurológicas. A mortalidade em 1 semana pode chegar a 40%. EPIDEMIOLOGIA Leucemia mieloide aguda (LMA) : Hiperleucocitose está presente em 10 a 20% das LMA recém-diagnosticadas, sendo mais comum nas formas mielomonocítica (FAB-M4), monocítica (FAB-M5) ou na variante microgranular da forma promielocítica (FAB-M3). Sintomas de leucostase são raros e mais comuns com contagens de leucócitos maiores que 100 x 109 (100.000/microL). Leucemia linfoblástica aguda (LLA): Hiperleucocitose está presente em 10 a 30% das LLA. Esta incidência é maior em pacientes do sexo masculino entre 10 a 20 anos de idade, e os que têm fenótipo de células T. Sintomas de leucostase são raros, sendo que síndrome de lise tumoral e coagulação intravascular disseminada (CIVD) são complicações mais frequentes nestes pacientes. 21 Leucemia linfocítica crônica (LLC): Uma proporção alta de pacientes com LLC se apresentam com hiperleucocitose. Sintomas de leucostase normalmente surgem com leucócitos em níveis acima de 400 x 109 (400.000/microL). Leucemia mieloide crônica (LMC): Pacientes com LMC tipicamente se apresentam com leucocitose e uma contagem média de leucócitos de 100 x 109 (100.000/microL). Normalmente estas células são neutrófilos, metamielócitos e mielócitos. Sintomas de leucostase são muito incomuns em pacientes crônicos, mas eventualmente podem ser vistos em pacientes com crise blástica com número elevado de blastos. QUADRO CLÍNICO As principais manifestações clínicas de leucostase são relacionadas ao sistema nervoso central (40%) e aos pulmões (30%). Os sintomas pulmonares incluem dispneia e hipóxia com ou sem infiltrados alveolares ou intersticiais difusos presentes aos exames de imagem. A pO2 arterial destes pacientes pode estar falsamente diminuída porque os leucócitos em demasia presentes dentro do tubo de análise consomem o oxigênio, sendo assim, a saturação vista por oximetria é mais acurada. Os sintomas neurológios incluem alterações visuais, cefaleia, tontura, zumbido, instabilidade de marcha, confusão mental, sonolência e até mesmo coma. Aproximadamente 80% dos pacientes com leucostase têm febre, que pode ser tanto pela própria leucostase quanto por uma infecção sobreposta. Uma vez que é 22 difícil descartar completamente um quadro infeccioso nestes pacientes, muitas vezes acaba sendo recomendado o tratamento empírico de infecção bacteriana. Alguns sinais maisatípicos de leucostase incluem sinais eletrocardiográficos de isquemia miocárdica ou sobrecarga ventricular direita, insuficiência renal aguda, priapismo, isquemia de membros ou isquemia mesentérica. Quanto ao quadro laboratorial, além da falsa queda de pO2 induzida por consumo dos leucócitos no tubo de análise, podem também ocorrer os seguintes achados: Contagem de plaquetas aumentada à custa de fragmentos de blastos que são confundidos com plaquetas na análise, algo que só pode ser descartado com contagem manual em lâmina; Pseudo-hipercalemia decorrente da liberação de potássio durante a formação de coágulos in vitro pelos blastos leucêmicos, um efeito que pode ser minimizado coletando amostras em tubos heparinizados; CIVD pode ocorrer em até 40% dos pacientes e se apresenta com geração de trombina (diminuição de fibrinogênio) e aumento da fibrinólise (aumento de Ddímero); Síndrome de lise tumoral espontânea ocorre em até 10% dos pacientes com leucostase e tem como características clássicas a elevação de ácido úrico, potássio e fósforo acompanhada de queda de cálcio. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é empírico. Basta haver um paciente com leucemia e uma contagem de leucócitos acima de 100 x 109 (100.000/microL) se apresentando com 23 sintomas sugestivos de hipóxia tecidual, com as manifestações neurológicas e respiratórias já descritas anteriormente. O diagnóstico é iminentemente clínico, portanto, depende da experiência e do grau de suspeita levantada pelo médico, uma vez que, mesmo com um número menor de leucócitos, a leucostase pode ocorrer. Do ponto de vista de anatomia patológica, a leucostase é diagnosticada com base no achado de “trombos” leucocitários presentes em microvasculatura, porém não é custo-efetivo realizar biópsia para se fazer este diagnóstico, uma vez que ele é uma emergência médica. CONDUTA A leucostase, ou hiperleucocitose sintomática, é uma situação de emergência, com mortalidade que independe do número de células encontradas, mas que é diretamente relacionada com os sintomas dos pacientes, uma vez que a mortalidade é maior do que quando os pacientes têm hiperleucocitose assintomática. A citorredução é a base do tratamento. Pode ser feita por meio de hidroxiureia, quimioterapia citorredutora ou leucoaférese. Todos são capazes de diminuir o volume celular, entretanto, apenas a quimioterapia tem real impacto em sobrevida, sendo os outros procedimentos apenas tratamentos transitórios. Infelizmente não há estudos randomizados que comparem os desfechos entre os métodos. Desse modo, o racional seria indicar como primeira opção a quimioterapia citorredutora acompanhada de profilaxia para lise tumoral com alopurinol ou rasburicase e hiper-hidratação. Normalmente, a contagem de leucócitos tem uma queda substancial nas primeiras 24 horas após o início da quimioterapia. Se não for possível iniciar quimioterapia imediatamente, a abordagem pode ser diferente. Pacientes com leucostase, ou seja, sintomáticos, devem fazer leucoaférese 24 associada à hidroxiureia para diminuir e estabilizar o número de leucócitos. A leucoaférese só não deve ser feita em pacientes com leucemia promielocítica aguda, pois pode piorar a coagulopatia intrínseca deste subtipo de leucemia. A hidroxiureia deve ser feita na dose de 50 a 100 mg/kg/dia, por via oral, tendo um poder de baixar o número de leucócitos em 50 a 80% em até 48 horas. A dose usual de hidroxiureia é de 2 a 4 g VO a cada 12 horas, com meta de deixar os leucócitos abaixo de 50 x 109 (50.000/microL). Pacientes assintomáticos podem receber apenas hidroxiureia e, em razão do risco de lise tumoral, devem receber associadamente alopurinol e hiper-hidratação. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS: A leucoaférese normalmente precisa ser feita via cateter central e não tem uma padronização única, sendo feita apenas em centros de referência. É possível, porém não recomendado, realizar o procedimento por veia antecubital com acesso calibroso, como um jelco 14; Na leucoaférese, é normal ocorrer remoção de plaquetas, resultando em plaquetopenia; Muitos pacientes precisam de várias sessões de leucoaférese para diminuir a contagem de leucócitos, porém, em casos de LMA com grande proliferação, pode ser que não se consiga diminuir o volume celular; Leucostase pode ser precipitada pelo aumento da viscosidade do sangue; sendo assim, evita-se ao máximo realizar transfusões de concentrado de hemácias até que o número de leucócitos tenha diminuído. Caso seja inevitável, deve ser feita a transfusão lentamente e de preferência durante a leucoaférese. Não se recomenda realizar diuréticos antes devido à situação de baixa perfusão tecidual que estes pacientes já têm; 25 Os pacientes precisam receber transfusões profiláticas de plaquetas para manter os níveis ao menos em 20 a 30 mil, até que a contagem de leucócitos tenha diminuído e a situação clínica tenha se estabilizado. Isso em virtude do risco de hemorragia intracraniana após a queda de leucócitos, o que pode ocorrer por conta de lesão de reperfusão quando a circulação é reestabelecida em leitos capilares previamente hipoxêmicos ou isquêmicos. PROGNÓSTICO O prognóstico da hiperleucocitose e da leucostase depende do tipo de leucemia (LMA e LLA) e da presença de sintomas. A mortalidade inicial de pacientes com LMA e leucostase é de 20 a 40%. Se o paciente sobrevive ao período inicial, eles tendem a ter períodos mais curtos de remissão. Estes períodos mais curtos também decorrem do volume tumoral inicial, mas principalmente do comportamento biológico e da resistência à quimioterapia, características intrínsecas das leucemias. Os fatores de risco para mortalidade na hiperleucocitose na LMA já foram analisados em estudos retrospectivos. Pacientes que morrem na primeira semana normalmente têm mais coagulopatia, insuficiência respiratória (100% destes casos), insuficiência renal e sintomas neurológicos. Em pacientes com LLA, é raro haver leucostase, tendo uma mortalidade de 5% em pacientes pediátricos. O maior desafio nestes casos é manejar a CIVD, prevenir a síndrome de lise tumoral e acompanhar a possibilidade de recidiva, que é de 50% em 4 anos. NEUTROPÉNIA FEBRIL (URGÊNCIA INFECIOSA) A neutropénia febril continua a ser uma das principais complicações dos regimes de quimioterapia apesar dos avanços na prevenção e no tratamento. A mortalidade tem diminuído, mas mantém-se significativa. A taxa de mortalidade ronda 26 os 5% em doentes com tumores sólidos (1% nos de baixo risco), podendo atingir os 11% nalgumas neoplasias hematológicas. O prognóstico é pior em doentes com bacteriemia documentada, com taxas de mortalidade de 18% se bacteriemia por Gram negativo e 5% se por Gram positivo. A febre é definida por uma única temperatura oral igual ou superior a 38.3ºC, ou duas leituras de temperaturas iguais ou superiores a 38.0ºC com intervalo mínimo entre elas de durante uma hora. A neutropenia é considerada quando a contagem absoluta de neutrófilos é inferior a 1.0 x 109/L. Esta é considerada grave quando a contagem absoluta de neutrófilos é inferior a 0.5 x 109/L. PATOGÉNESE A contagem absoluta de neutrófilos (CAN) pode diminuir por interferência direta do tumor na hematopoese, como ocorre nas leucemias ou na metastização óssea com substituição da medula óssea por células tumorais. No entanto, o efeito citotóxico da quimioterapia constitui o principal responsável. Tipicamente, o nadir da CAN ocorre entre os 5 a 10 dias após a última dose de quimioterapia. Os agentes citotóxicos que mais frequentemente induzem neutropenia incluem: as antraciclinas, os taxanos, os inibidores da topoisomerase, os derivados de platina, gencitabina, vinorelbina e alguns agentes alquilantes.O risco de neutropénia febril depende do grau e da duração do nadir dos neutrófilos, assim como das comorbilidades – nomeadamente disfunção hepática ou renal, da exposição prévia à quimioterapia e da imunossupressão concomitante, entre outros. A infecção é responsável por cerca de metade dos casos de neutropenia febril. 27 A detecção microbiológica de um agente patogénico é possível numa pequena percentagem de casos. As bactérias gram negativas são os agentes mais frequentemente isolados. No entanto, nas últimas décadas as bactérias gram positivas têm assumido uma importância cada vez maior. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A febre é frequentemente o único sintoma. Esta é definida por uma única temperatura oral igual ou superior a 38.3ºC, ou duas leituras de temperaturas iguais ou superiores a 38.0ºC com um intervalo mínimo entre elas de uma hora. A capacidade limitada do doente desenvolver uma resposta inflamatória decorrente do défice de neutrófilos, pode limitar a presença de sinais ou sintomas localizadores do local de infecção. Habitualmente, as infeções apresentam-se de forma atípica: infeções da pele como eritema subtil, meningite sem sinais meníngeos, infeção urinária sem leucocitúria, infeção pulmonar sem alterações auscultatórias ou infiltrados radiológicos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é determinado pela presença de febre em conjunto com uma CAN inferior a 0.5 x 109/L ou previsão de descida abaixo deste valor dentro de 48 horas. O risco de infeção aumenta consideravelmente se CAN 1.0 x 109/L, sendo tanto maior quanto menor o for este número. 28 A colheita da história clínica deve ser exaustiva. Deve ainda ser dado realce ao agente de quimioterapia administrado, ao uso recente de antibioterapia, à toma concomitante de corticoides, a intervenções cirúrgicas recentes, a exames microbiológicos passados positivos. O exame físico deve ser meticuloso. A cavidade oral deve ser examinada, assim como a região perineal. O toque retal ou qualquer manipulação retal deve ser evitada. Todos os locais com dispositivos intravenosos devem ser inspecionados. Recomenda-se a recolha de pelo menos duas hemoculturas, uma das quais a ser colhida do dispositivo intravenoso quando presente. Adicionalmente, exames microbiológicos de urina, expetoração, fezes e líquido cefalorraquidiano devem ser colhidos perante suspeita clínica de infeção destes locais. A radiografia do tórax poderá realizar-se na presença de sintomas respiratórios. Todas as colheitas de Figura: Hemocultura 29 microbiologia devem ser efetuadas previamente ao início de antibioterapia empírica. TRATAMENTO Após o estabelecimento do diagnóstico de neutropénia febril e a colheita de produtos biológicos para estudos microbiológicos, a administração empírica de antibióticos de largo espectro deve ser o mais precoce possível. Estes doentes podem rapidamente desenvolver um quadro de sepses, pelo que qualquer atraso aumenta significativamente o risco de mortalidade. Doentes febris sem outros sintomas devem ser tratados, mesmo perante a um exame físico, exames laboratoriais e imagiológicos sem alterações. 30 O tratamento em regime de internamento ou ambulatório é ditado pela avaliação de risco. Vários instrumentos foram desenvolvidos na tentativa de predizer quais os doentes de alto risco, com maior probabilidade de complicações. O instrumento do Multinational Association for Supportive Care of Cancer (MASCC) é o mais utilizado e com validação prospetiva. Os doentes de baixo risco são aqueles com uma pontuação igual ou superior a 21. Nestes doentes estima-se que o risco de complicação médica e mortalidade é de 6% e 1%, respetivamente. Doentes de baixo risco, sem comorbilidades significativas, e cuja neutropenia se estima ter a duração inferior a uma semana, podem ser tratados em regime de ambulatório com antibioterapia oral. Esta abordagem é controversa, havendo defensores que devam ser sempre hospitalizados pelo menos durante as primeiras 24 horas. Caso a evolução clínica seja favorável o doente pode prosseguir a terapêutica em ambulatório. Em qualquer dos casos é fundamental garantir uma vigilância diária apertada no doente tratado em ambulatório, garantindo um acesso fácil ao hospital caso haja necessidade. A antibioterapia de eleição é a combinação de ciprofloxacina 500mg com amoxicilina-clavulanato 500mg/500mg. Outros regimes terapêuticos a ser usados, embora com um menor nível de evidência incluem, monoterapia com levofloxacina e ciprofloxacina, ou terapêutica combinada de ciprofloxacina com clindamicina. Em caso de agravamento clínico ou persistência de febre por mais de 48horas, os doentes devem ser hospitalizados. As quinolonas não devem ser usadas no tratamento quando administradas profilaticamente. 31 Os doentes de alto risco são todos aqueles com pontuação de MASCC inferior a 21, um tempo previsto de neutropenia superior a 1 semana, uma neutropenia grave (< 0.1 x 109/L) devem ser hospitalizados e iniciar antibioterapia endovenosa. A escolha da terapêutica de primeira linha está dependente do padrão de isolamento e de resistências do local. A monoterapia é tão eficaz quanto a terapêutica combinada dupla, desde que seja usado um antibiótico com atividade anti-pseudomonas (Ceftazidime, Cefepime, Carbopenem, Piperaciclina-Tazobactam). A terapêutica dupla deve ser considerada em doentes com neutropenia com duração estimada superior a uma semana, suspeita de resistência antimicrobiana ou instabilidade clínica. Nestes casos pode associar-se um aminoglicosídeo, fluoroquinolona e/ou vancomicina. Os doentes devem ser avaliados diariamente, quer clinica quer laboratorialmente. Pode ser ainda necessário reavaliação imagiológica caso haja persistência de febre. Perante a melhoria clínica e analítica ao fim de 48 horas, pode suspender-se o aminoglicosídeo na ausência de um agente causal. Caso seja isolado um microorganismo a antibioterapia deverá ser dirigida a este. 32 Se persistir a febre para além das 48horas pode ser necessário fazer um alargamento da cobertura antibiótica com associação de outros fármacos. Quando a febre se mantém após 4 - 7 dias, sem isolamento de microrganismo, deve s er adicionado cobertura antifúngica . 33 A infeção do cateter venoso central é diagnosticada pela diferença do tempo de positividade (DTP) das hemoculturas colhidas a partir do CVC e do sangue periférico. Uma DTP superior a duas horas é muito sensível e específico de uma bacteriemia relacionada com catéter. No caso da infeção ser secundária a Staphylococcus coagulase negativo não é obrigatório remover o dispositivo, no entanto a persistência deste está naturalmente associado a maior risco de infeção recorrente. No caso do microrganismo responsável ser Staphlylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, fungos, micobactérias, a remoção do dispositivo endovenoso é mandatária seguida de mais 14 dias de antibioterapia. A antibioterapia deve ser mantida enquanto persistir a neutropenia (CAN < 0.5 x 109/L). Se a situação clínica o exigir, pode ser prolongada para além deste período. Se o doente se encontrar assintomático, apirético há 5-7dias, na ausência de complicações e em doentes de baixo risco pode descontinuar-se o antibiótico. 34 A administração de fatores estimuladores de crescimento mielóides na neutropenia febril pode reduzir a duração média de internamento e o tempo até recuperação da CAN, no entanto não de forma significativa. O seu uso não está aconselhado nestas situações. Porventura, está aprovado o uso de forma profilática. HIPERCALCEMIA (URGÊNCIA METABÓLICA) A hipercalcemiaé uma das urgências oncológicas mais comum. A incidência descrita em doentes com cancro varia entre os 10 a 30%. Apesar de poder ocorrer em qualquer tipo de cancro, está mais frequentemente associado aos cancros da mama, do pulmão, do rim e da cabeça e pescoço e ao mieloma múltiplo. Quando presente, é habitualmente um mau fator prognóstico. Ocorre em pacientes com tumores sólidos, bem como nas neoplasias hematológicas. Os cânceres mais comuns associados com hipercalcemia são mama, pulmão e mieloma múltiplo. A ocorrência de hipercalcemia no curso de neoplasias tem um impacto prognóstico desfavorável na grande maioria dos casos. A hipercalcemia nesses pacientes ocorre em virtude do aumento da reabsorção óssea e da liberação de cálcio dos ossos. Há quatro principais mecanismos pelos quais isso pode ocorrer: (1) metástases osteolíticas com liberação local de citocinas (incluindo fatores de ativação dos osteoclastos); 35 (2) tumor que secreta proteínas relacionadas ao hormônio da paratireoide (PTHrP); (3) tumor com produção de 1,25-dihidroxivitamina D (calcitriol); e (4) produção ectópica do PTH. As metástases osteolíticas representam cerca de 20% dos casos de hipercalcemia secundária ao câncer. A indução de osteólise local por células tu- morais é comum em alguns tumores sólidos que são metastáticos ao osso e no mieloma múltiplo, sendo menos frequente nos linfomas e na leucemia. O tumor sólido que geralmente produz hipercalcemia por esse mecanismo é o câncer de mama. A destruição óssea observada nas metástases osteolíticas é mediada principalmente pelos osteoclastos e não é um efeito direto das células tumorais. As citocinas como IL- 1 e TNF têm uma participação importante nesse processo, pois aceleram a transformação de precursores de osteoclastos em osteoclastos maduros. O segundo tipo é a hipercalcemia humoral maligna (HHM), causada pela secreção do PTHrP na circulação sistêmica pelas células tumorais. É a causa mais comum de hipercalcemia em pacientes com tumores sólidos não metastáticos e em alguns pacientes com linfoma não-Hodgkin. Essa condição é responsável por até 80% dos pacientes oncológicos com hipercalcemia. Os tumores que mais comumente causam HHM são carcinomas de células escamosas (pulmão, cabeça e pescoço e colo uterino), carcinoma renal, de bexiga e endométrio. O PTHrP tem propriedades hipercalcemiantes pois atua de forma semelhante ao PTH, aumentando a reabsorção óssea (maior atividade osteoclástica) nos rins, promovendo fosfatúria. O PTHrP produzido localmente aumenta a expressão do receptor ativador do fator nuclear kappa B ligante (RANKL) no osso. O RANKL contribui para o desenvolvimento de hipercalcemia pela ligação ao receptor ativador do fator 36 nuclear kappa B (RANK) sobre a superfície de precursores dos osteoclastos. Os resultados da interação RANKL/RANK promovem ativação, migração, diferenciação e fusão de células hematopoiéticas da linhagem dos osteoclastos para iniciar o processo de reabsorção. Além disso, citocinas como IL-6, IL-8, IL-1 e VEGF são secretadas por células do câncer de mama e podem contribuir para os efeitos do PTHrP na reabsorção óssea. O terceiro tipo está relacionado ao aumento da produção de 1,25dihidroxivitamina D (calcitriol). Essa é a causa de quase todos os casos de hipercalcemia em linfoma de Hodgkin e aproximadamente um terço dos casos de linfoma não-Hodgkin. Também tem sido descrita em pacientes com disgerminoma de ovário. Em indivíduos normais, a conversão de 25-hidroxivitamina D (calcidiol) em 1,25dihidroxivitamina D (calcitriol, o metabólito mais ativo da vitamina D) ocorre através de uma 1-hidroxilase no rim que está sob o controle fisiológico do hormônio da paratireoide (PTH). A alta concentração sérica de fosfato pode alterar esse controle. A hipercalcemia deve suprimir a liberação de PTH e, portanto, a produção de 1,25dihidroxivitamina D (1,25 D). O aumento da absorção de cálcio no intestino induzida pela alta concentração sérica de 1,25 D é a anormalidade primária. 37 O quarto tipo está associado à produção ectópica de PTH (e não PTH-rp). É uma condição rara, havendo poucos casos descritos na literatura. Alguns tumores como rabdomiossarcoma metastático, carcinoma papilífero de tireoide e carcinoma de pulmão podem ocasionar hipercalcemia em virtude dessa produção ectópica. QUADRO CLÍNICO Dependendo da severidade e da rapidez de instalação, os pacientes com hipercalcemia podem apresentar graus variados de sinais e sintomas. Os sintomas da hipercalcemia incluem anorexia, náusea, vômito, constipação e poliúria. Os sintomas relacionados ao sistema nervoso central predominam, tais como progressivo declínio da capacidade cognitiva, estupor e coma. As alterações na função renal (incapacidade de concentrar a urina, acarretando poliúria) e no trato gastrointestinal (anorexia, náuseas e vômitos) corroboram para a desidratação e agravam a hipercalcemia. Alterações no aparelho cardiovascular, como hipertensão, bradicardia, encurtamento do intervalo QT, bloqueio AV, assim como fraqueza muscular, dores ósseas e artralgias, fazem parte do quadro. Em geral, as complicações neurológicas e renais são proporcionais ao grau da hipercalcemia. DIAGNÓSTICO 38 O diagnóstico da hipercalcemia é geralmente feito através da dosagem do cálcio sérico total. Porém, esse método pode sofrer interferências que levam ao diagnóstico de resultados falso-positivos e negativos. Na presença de hipoalbuminemia, podemos ter níveis falsamente baixos, e o valor do cálcio deve ser corrigido. Por outro lado, alguns raros mielomas múltiplos produzem imunoglobulinas ligadoras de cálcio, e teremos cálcio total superestimado. Assim, em alguns casos seria melhor considerar o cálcio ionizado. Adota-se, atualmente, que a elevação de cálcio até 12 mg/dl corresponde a uma alteração leve, cuja avaliação deve ser feita em ambulatório. Níveis de cálcio plasmático entre 12-14 mg/dl configuram uma elevação moderada de cálcio, e acima de 14 mg/dl correspondem a hipercalcemia grave, que se associa a um quadro amplo de manifestações clínicas. Essa situação configura, em geral, uma urgência médica, e o seu pronto reconhecimento e tratamento implicam em redução acentuada de morbimortalidade. A dosagem de PTH-rP circulante só é necessária quando a origem da hipercalcemia não pode ser definida com base nos exames clínicos.Da mesma forma, a dosagem de 1,25 dihidroxivitamina D terá valor na presença de linfomas e outros raros tumores que produzem essa vitamina. A radiografia do esqueleto é muito útil nos casos de mieloma, enquanto a cintigrafia óssea auxiliará na identificação das metástases nos demais tumores. Deve-se suspeitar de hipercalcemia humoral em qualquer paciente com um tumor sólido na ausência de metástases ósseas. E também em pacientes com hipercalcemia de outra forma inexplicável, que apresentam uma concentração baixa de PTH no soro. Níveis de PTH inapropriadamente normais/altos em um paciente 39 que sabidamente tem câncer nos remetem à pesquisa de hiperparatireoidismo primário ou a mais um raro caso em que o PTH é produzido pela neoplasia. O diagnóstico de hipercalcemia humoral maligna (HHM) pode ser confirmado ao se demonstrar uma alta concentração sérica de PTHrP. Essa alta concentração está presente na maioria dos pacientes com tumores sólidos hipercalcêmicos. As concentrações séricas de PTHrP são baixas (indetectável na maioria dos ensaios) em pacientes com hiperparatiroidismo primário e em indivíduos normais. Além de sua importância diagnóstica, os níveis séricos de PTHrP em pacientes com hipercalcemia induzida por tumor podem fornecer informações sobre o prognóstico. Pacientes comhipercalcemia induzida por PTHrP relacionados ao câncer normalmente têm doença avançada e um mau prognóstico. TRATAMENTO O tratamento definitivo da hipercalcemia em pacientes com neoplasia requer o tratamento da doença de base e deve ser instituído logo que possível. Além disso, é necessária a correção da desidratação e dos distúrbios metabólicos. O tratamento baseia-se em: 40 1. Medidas gerais: Remover o cálcio da alimentação parenteral, interromper medicamentos que contribuem para a hipercalcemia (suplementação de cálcio e vitamina D, lítio, tiazídicos), além de reduzir sedativos para melhorar o nível de consciência e favorecer a deambulação, sempre que possível. 2. Hidratação: Os pacientes habitualmente encontram-se desidratados, pela menor ingestão de alimentos e fluidos causada por anorexia, náuseas e vômitos. A hipercalcemia, por si só, reduz a capacidade tubular renal de reabsorver água por mecanismo mediado pelos receptores de cálcio, o que agrava ainda mais a hipercalcemia e a desidratação. Por outro lado, a redução da filtração glomerular reduz a capacidade renal de excretar cálcio. Assim, a hidratação generosa do paciente com grandes quantidades de solução salina é uma etapa fundamental do tratamento. Somente após adequada expansão de volume pode-se associar diurético de alça, como a furosemida, para aumentar ainda mais a calciúria. 3. Reposição de fosfato: A hipofosfatemia é comum em decorrência do efeito fosfatúrico do PTHrP nas HHM, do uso de diuréticos de alça, da própria hipercalcemia ou da menor ingestão alimentar. A reposição de fosfato auxilia a reduzir a reabsorção óssea e, quando necessária, deve ser feita por sonda nasogástrica A reposição intravenosa (IV) deve ser evitada pelos riscos de insuficiência renal, hipotensão e hipocalcemia grave. 4. Glicocorticoides: Quando o excesso de 1,25 dihidroxivitamina D está envolvido na gênese da hipercalcemia, o tratamento pode incluir glicocorticoides para reduzir a absorção intestinal, recomendando-se prednisona 60 mg/dia via oral (VO) por 10 dias ou hidrocortisona 200 a 300 mg IV durante 3-5 dias. 5. Redução de reabsorção óssea: Combater a osteólise é fundamental, e os bisfosfonatos são os medicamentos mais eficientes para esse fim, por seu reconhecido efeito apoptótico e antiproliferativo sobre os osteoclastos. Eles devem ser 41 iniciados tão logo detectada a hipercalcemia, preferindo-se a via venosa devido à pobre absorção por VO. Pelo seu potencial nefrotóxico, o zolendronato deve ser evitado nos pacientes com alteração da função renal. O pamidronato parece ter menor potencial nefrotóxico, sendo inclusive considerado para uso em pacientes com disfunção renal (Tabela 1). No momento, nenhum tratamento específico que inibe a liberação de PTHrP está disponível. A administração de análogos da vitamina D pode diminuir a liberação de PTHrP in vitro. Se esses agentes se revelarão eficazes em pacientes, ainda não se sabe. Em casos refratários pode ser necessário o uso de diálise peritoneal ou hemodiálise. 42 HIPONATREMIA A hiponatremia é a alteração eletrolítica mais frequente na prática clínica hospitalar e reflete uma alteração do balanço de água, com consequente diminuição da osmolaridade plasmática. A osmolaridade é o fator determinante da distribuição da água corporal. Em condições normais, existe um equilíbrio entre a administração de água (proveniente da ingestão, dos alimentos e do metabolismo) e a sua excreção (na urina, nas fezes e em perdas insensíveis pela pele e pelo aparelho respiratório), o que mantém a osmolaridade plasmática dentro de determinados limites. Essa regulação do balanço de água é mediada por osmorreceptores localizados no hipotálamo, que 43 na presença de alterações da osmolaridade plasmática determinam modificações na ingestão e na excreção de água. Essas, por sua vez, são mediadas pelo mecanismo da sede e por alterações na secreção de vasopressina ou hormônio antidiurético (ADH), promovendo a retenção de água livre. Pacientes com câncer frequentemente sofrem de hiponatremia, e a fisiopatologia nem sempre é bem compreendida. A síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH) deve ser considerada quando um paciente oncológico se apresenta com hiponatremia. A SIADH é uma condição clínica caracterizada pela diminuição gradual da natremia, com valores extremamente reduzidos, por vezes de 100 a 110 mmol. Com origem no hipotálamo, ou ectopicamente em neoplasias, a secreção de ADH ocorre de forma inapropriada para os estímulos osmóticos e não osmóticos, resultando em retenção de água, diluição de solutos e aparecimento de hiponatremia e hipoosmolaridade. Embora a SIADH possa ser causada por muitas drogas como antidepressivos, inibidores de enzima conversora de angiotensina e alguns quimioterápicos, o tumor mais frequentemente associado com essa síndrome é o carcinoma de pequenas células do pulmão e o adenocarcinoma do pâncreas. 44 Outra causa frequente de hiponatremia em pacientes com câncer é a presença de edema levando a uma síndrome de diluição. Tal situação clínica pode ser observada na presença de ascite e/ou derrame pleural. Perante um doente com hiponatremia hipotônica, é essencial determinar o seu estado da volemia. Assim é possível classificar a hiponatremia em três grupos principais: 1. Hipovolêmica (decréscimo da quantidade total de água e de sódio, com maior preponderância deste último); 2. Euvolemico (aumento da quantidade total de água, com natremia normal ou diminuída); 3. Hipervolemico (aumento da quantidade total de água e de sódio, com menor preponderância deste último). Em doentes com cancro, a síndrome de secreção inapropriada da HAD – SIHAD é a principal causa de hiponatremia. Outras causas mais comuns num doente oncológico do que na população em geral incluem: a produção ectópica de PNA, a hiponatremia por distribuição de líquidos no terceiro espaço e pseudo hiponatremia. Qualquer neoplasia pode ser responsável por SIHAD. O cancro classicamente associado é cancro do pulmão de pequenas células. Os carcinomas da cabeça e do pescoço, as neoplasias hematológicas e o cancro do pulmão nas pequenas células também podem levar à produção exógena de HAD. Alguns agentes citostáticos podem também ser responsáveis por esta condição clínica, dos quais se destaca: ciclofosfamida, ifosfamida, alcalóides vinca (vincrastina, vinblastina, vinorelbina), cisplatina e carboplatina. 45 Alguns casos de cancro do pulmão de pequenas células apresentam hiponatremia por mecanismos independentes da HAD. A produção ectópica de PNN foi demonstrada em alguns desses tumores. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A apresentação clínica é variada, manifestando-se primariamente por sintomas neurológicos. A sua gravidade vai depender do grau de hiponatremia e da velocidade de instalação. Os sintomas mais comuns são: anorexia, náusea, astenia, cefaleias, alteração do estado de consciência e cãibras musculares. Nos casos mais graves, pode manifestar-se por crise convulsiva, coma ou até mesmo a morte. QUADRO CLÍNICO Os sintomas e sinais clínicos vão depender da rapidez com que a hiponatremia ocorreu. A hiponatremia resulta, quase invariavelmente em hipotonicidade do líquido extracelular (LEC), com consequente fluxo de água em direção ao líquido intracelular (LIC). Com isso, pode ocorrer edema intracelular, com prejuízo do funcionamento de algumas células, principalmente as do sistema nervoso central (SNC), onde a restrição volumétrica exercida pelos ossos do crânio limita a expansão do parênquima cerebral ocasionada pelo edema. Osachados neurológicos causados pela hiponatremia variam em função da sua gravidade e também da velocidade de instalação. 46 O tecido nervoso dispõe de mecanismos capazes de contrabalancear as oscilações da osmolaridade plasmática, de forma que uma instalação insidiosa da hiponatremia permite que esses mecanismos se instalem causando menos sintomas do que quando da instalação abrupta. Entre os vários mecanismos destaca-se a perda de solutos do LIC para compensar a hipotonicidade do meio externo, de forma a evitar o influxo excessivo da água e, portanto, o edema cerebral. Os sintomas neurológicos da hiponatremia são inespecíficos, semelhantes a outras encefalopatias metabólicas. Nas formas leves de hiponatremia (Na > 125 mEq/l), sintomas gerais ocorrem como mal-estar e náuseas. Valores de sódio plasmático < 120 mEq/ cursam com cefaleia e obnubilação. As formas graves de hiponatremia (Na < 115 mEq/l) costumam induzir coma e convulsões. Mais raramente, manifestações clínicas envolvendo outros sistemas podem ocorrer em função do influxo rápido de água para o LIC, como hemólise intravascular e microangiopatia. TRATAMENTO A escolha da terapia adequada em pacientes com hiponatremia devido a SIADH varia de acordo com a gravidade da hiponatremia, com a presença ou ausência de sintomas e, até certo ponto, da osmolaridade urinária. Entre os pacientes com hiponatremia sintomática grave que se apresentam com convulsões ou outras anormalidades neurológicas graves, recomendamos intervenção urgente com solução salina hipertônica, em vez de outras terapias. Um regime eficaz inicial é de 100 ml de solução salina 3% dado como um bolus IV, o que deve elevar a concentração de sódio no soro por cerca de 1,5 meq/l em homens e 2,0 meq/l em mulheres, reduzindo assim o grau de edema cerebral. 47 Se os sintomas neurológicos persistirem ou piorarem, um bolus de 100 ml de solução salina 3% pode ser repetido uma ou duas vezes mais, em intervalos de dez minutos. Alguns pacientes apresentam manifestações neurológicas menos graves, principalmente aqueles com concentração de sódio sérico abaixo de 120 meq/l, por mais de 48 horas, ou hiponatremia crônica moderada (sódio sérico 120-129 meq/l). A terapêutica inicial desses pacientes depende, em parte, da gravidade dos sintomas. Para pacientes com confusão e letargia, recomenda-se a administração inicial da terapia salina hipertônica para elevar o sódio sérico, que deve ser medido em duas a três horas. A taxa de perfusão subsequente deve ser ajustada para atingir uma taxa de correção de menos de 10 meq/l em 24 horas e menos de 18 meq/l em 48 horas. Caso haja necessidade de correção rápida, os antagonistas do receptor da vasopressina podem ser usados. Eles produzem uma diurese seletiva de água, sem afetar o sódio e a excreção do potássio. O conivaptan (VAPRISOL®) e o tolvaptano estão disponíveis e aprovados para o uso em pacientes com hiponatremia secundária a SIADH, porém seu uso é limitado em virtude da necessidade de internação hospitalar e do alto custo. Para pacientes que têm apenas sintomas leves, como esquecimento e distúrbios da marcha, sugerimos terapia inicial com restrição de líquidos e comprimidos orais de sal ao invés de solução salina hipertônica. A terapia de manutenção em pacientes que inicialmente tinham hiponatremia sintomática pode prevenir uma subsequente redução do sódio sérico e recorrência dos sintomas possíveis. Sugerimos restrição de líquidos a menos de 800 ml/dia. Se o sódio sérico é persistentemente inferior a 130 meq/l, adicionamos comprimidos orais de sal e, se necessário, um diurético de alça (por exemplo, furosemida 20 mg por VO, duas vezes por dia) em pacientes com osmolaridade urinária alta (mais que o dobro 48 do plasma). Entre os pacientes assintomáticos com SIADH, iniciamos o tratamento com restrição de líquidos. Comprimidos orais de sal podem ser adicionados e depois, se necessário, um diurético de alça em pacientes com osmolaridade urinária alta. 49 REFERÊNCIAS RIZZARDINI, D. and Espinoza, X. (2005). Urgencias Oncológicas. Revista Pediatría Electrónica, (2). MARADEI, S., Arcuri, L. and Tabak, D. (2011). Urgências metabólicas no paciente oncológico. Onco&. SILVA, M. (2012). Urgências Oncológicas Metabólicas e Infeciosas. ZAMBON, L. (2013). Hiperleucocitose e leucostase | dos Sintomas ao Diagnóstico e Tratamento | MedicinaNET. [online] Medicinanet.com.br. Available at : http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5365/ hiperleucocitose _e_ leucostase.htm [Accessed 17 Jan. 2020].
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