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Transição Religiosa Católicos abaixo de 50% até 2022 e abaixo do percentual de evangélicos até 2032 - Instituto Humanitas

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06 Dezembro 2018
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"Nas novas projeções, a presença católica na população chegaria a 49,9% em
2022 e a 38,6% em 2032, enquanto a presença evangélica seria de 31,8% e
39,8% nas mesmas datas. Ou seja, no ritmo atual da transição religiosa, não
é improvável que os católicos fiquem com menos de 50% das filiações
nacionais em 2022 (nos 200 anos da Independência do Brasil) e que
sejam ultrapassados pelos evangélicos até 2032", escreve José Eustáquio
Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e
doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola
Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por
EcoDebate, 05-12-2018.
Eis o artigo. 
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Transição Religiosa – Católicos abaixo de 50%Transição Religiosa – Católicos abaixo de 50%
até 2022 e abaixo do percentual de evangélicosaté 2022 e abaixo do percentual de evangélicos
até 2032até 2032
http://www.ihu.unisinos.br/
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/582494-a-transicao-demografica-nos-200-anos-da-independencia-do-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/585119-cresce-o-numero-de-jovens-brasileiros-que-nao-pretendem-ter-filhos
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/606471-a-historia-revela-desenvolvimento-economico-ocorre-quando-o-padrao-de-vida-da-populacao-aumenta-entrevista-especial-com-thales-zamberlan-pereira
Transição religiosa no Brasil
O Brasil é o maior país católico do mundo e possui mais de 100 milhões de
habitantes que se auto declaram católicos (praticantes ou não praticantes).
Em termos percentuais, os católicos representavam mais de 90% da
população em meados do século XX. Mas este quadro veio mudando
rapidamente nas últimas décadas e há 4 tendências claras:
1. As filiações católicas vem caindo em termos relativos durante todas as
décadas do século XX, mas o declínio se acentuou entre 1991 e 2010 (queda
de 1% ao ano), sendo que houve declínio absoluto entre 2000 e 2010;
2. As filiações evangélicas crescem de forma consistente e com aceleração
nas últimas décadas, mas o crescimento é abaixo do percentual de perda
católica (também houve diversificação das denominações e aumento dos
evangélicos não institucionalizados);
3. Há também crescimento do percentual das religiões não cristãs;
4. Por fim, nota-se um aumento absoluto e relativo do número de pessoas
que se autodeclaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos);
Estas 4 tendências podem ser resumidas em duas grandes linhas:
1. Mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos;
2. Aumento da pluralidade religiosa, com queda no percentual de filiações
cristãs (católicas + evangélicas) e aumento das outras religiões e dos sem
religião.
A Igreja Católica esteve presente no Brasil deste o início do projeto colonial
português. A primeira missa foi rezada no domingo, dia 26 de abril de 1500,
quatro dias após o desembarque da frota de Pedro Álvares Cabral (que era
um católico fervoroso). A igreja participou do projeto de colonização e
cresceu muito se fortalecendo junto às populações rurais, com baixa
mobilidade social e com pouco dinamismo.
Contudo, com o processo de desenvolvimento e de urbanização houve um
desenraizamento da população rural brasileira que migrou para as
periferias dos centros urbanos e não encontrou apoio e presença da Igreja
Católica. A falta de padres e o clericalismo afastou a Igreja Católica das
áreas de expansão demográfica. O conservadorismo, o antimodernismo, a
centralização do poder e a rigidez da hierarquia católica dificultaram a
expansão da igreja nas áreas mais dinâmicas do país, acelerando o processo
de desafeição ao catolicismo. A ética católica nunca se deu muito bem com
o capitalismo (como mostrou Max Weber). Os escândalos de pedofilia
agravam a situação.
Já os evangélicos – que dão ênfase na experiência direta e pessoal de Deus
através do Batismo no Espírito Santo – conseguem atingir um grande
público através da “Cura divina” e da “teologia da prosperidade”. Eles
possuem grande descentralização e autonomia, rápida formação de pastores,
cultos dinâmicos e alegres, abertura de templos pequenos perto das
comunidades, fazem uso de músicas e outras formas de atração de fiéis, etc.
Um marco do crescimento evangélico no Brasil é o uso de diversas mídias
(jornais, rádios, televisão, internet, WhatsApp, etc.) e a presença atuante na
política (inclusive na Frente Parlamentar Evangélica). Há uma
retroalimentação entre números de fiéis e representação evangélica. Nas
pesquisas de opinião, as igrejas são consideradas mais confiáveis do que os
partidos.
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/566858-igrejas-vazias-sinal-que-a-hierarquia-nao-quer-ver-artigo-de-alberto-melloni
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575645-pedofilia-na-igreja-o-ponto-cego-do-papa-francisco
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584603-brasil-bolsonaro-e-a-teologia-da-prosperidade
http://www.ihu.unisinos.br/173-noticias/noticias-2011/40944-metade-da-populacao-brasileira-sera-crista-evangelica-ate-2020
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583891-bancada-evangelica-cresce-e-tera-91-parlamentares-no-congresso
O deputado federal mais votado da história do Brasil (Eduardo Bolsonaro),
com quase 2 milhões de votos é evangélico, assim com a deputada federal
mais votada da história (Joice Hasselmann), com 1.078.666 votos. A
deputada estadual mais votada de todos os tempos (vencendo inclusive os
deputados federais mais votados) é a advogada “pró-vida” (que é de família
espírita e diz frequentar a igreja católica e os cultos evangélicos), Janaína
Paschoal, com 2.060.786 votos. No conjunto, o voto evangélico foi decisivo na
eleição presidencial de 2018.
O sociólogo Max Weber é famoso por evidenciar que a ética protestante se
encaixa melhor com o espírito do capitalismo. Pesquisa recente da
Fundação Perseu Abramo sobre o imaginário social dos moradores da
periferia de São Paulo retratou como o avanço do consumo, do
neopentecostalismo e do empreendedorismo popular estão correlacionados
com uma intensa presença dos valores liberais do “faça você mesmo”, do
individualismo, da competitividade e da eficiência. Ou seja, boa parte da
população pobre das periferias não compartilha o ideal estatista receitado
por grande parte da esquerda brasileira.
Em outubro de 2018, a Frente Parlamentar Evangélica (FPE) lançou o
manifesto “O Brasil para os Brasileiros”, com uma detalhada agenda
econômica e uma clara pauta conservadora de costumes, além de ter
oficializado apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL). Em novembro, a
FPE influenciou na composição ministerial do novo governo com uma pauta
de combate ao chamado “marxismo cultural”.
Desta forma, devido ao ativismo evangélico, à passividade católica e à
maior interação entre igreja evangélica e política, a correlação de forças
entre os grupos religiosos está mudando e a transição religiosa tem se
acelerado no Brasil.
Infelizmente, o IBGE não fez nenhuma pesquisa levando em consideração a
variável religião na atual década. Entretanto, pesquisas nacionais
(Datafolha) e internacionais (PEW, Gallup, Latinobarômetro, etc.), mesmo
não sendo totalmente comparáveis com os dados históricos do IBGE, indicam
que a transição está se acelerando.
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584138-stf-tenta-intimar-filho-de-bolsonaro-ha-23-dias
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584304-o-voto-evangelico-garantiu-a-eleicao-de-jair-bolsonaro
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/569799-lideres-das-tres-principais-igrejas-neopentecostais-travam-armagedom-midiatico-entrevista-especial-com-alexandre-dresch-bandeira
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/566275-valores-liberais-tem-intensa-presenca-nas-periferias-de-sp-aponta-pesquisa
Em artigo acadêmico anterior (ALVES et. al, 2017) chegamos a prever que as
filiações católicas ficariam abaixo de 50% até 2030 e seriam ultrapassados
pelos evangélicos até 2040. Contudo, pelos motivos apresentados acima,
estas tendências devem ser antecipadas em alguns anos.
No gráfico, apresento uma atualizaçãoda projeção com base em um declínio
das filiações católicas em torno de 1,2% ao ano e um crescimento de 0,8% ao
ano das filiações evangélicas. Estes dados são compatíveis com os
resultados das eleições gerais de 2018 que mostraram uma maior presença
evangélica em todo o país.
Nas novas projeções, a presença católica na população chegaria a 49,9% em
2022 e a 38,6% em 2032, enquanto a presença evangélica seria de 31,8% e
39,8% nas mesmas datas (conforme mostra o gráfico). Ou seja, no ritmo atual
da transição religiosa, não é improvável que os católicos fiquem com
menos de 50% das filiações nacionais em 2022 (nos 200 anos da
Independência do Brasil) e que sejam ultrapassados pelos evangélicos até
2032.
Os mapas apresentados a seguir, publicados no site Nexo, mostram como se
deu a expansão evangélica nos municípios brasileiros entre 1991 e 2000. A
expansão mais significativa (em volume de pessoas) ocorreu a partir das
regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória. Daí, o avanço
para o interior atinge inclusive o Paraná e Minas Gerais. Mas os
evangélicos crescem também em todo o litoral desde Florianópolis até
Natal. No Rio Grande do Sul a presença é grande desde a chegada dos
migrantes evangélicos tradicionais (Luteranos, Calvinistas, etc.). O
crescimento também ocorre na região Centro-Oeste e, principalmente, na
região Norte (mas nesta região o crescimento é percentual, pois o volume
populacional é pequeno). A distribuição espacial da transição religiosa no
Brasil pode ser vista no artigo acadêmico citado anteriormente (ALVES et. al,
2017).
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/582494-a-transicao-demografica-nos-200-anos-da-independencia-do-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/573214-luteranos-e-catolicos-assinam-declaracao-conjunta-pelos-500-anos-da-reforma-pedimos-perdao-pelas-formas-como-os-cristaos-se-ofenderam-mutuamente
Indubitavelmente, a mudança de hegemonia entre os dois grandes grupos
religiosos do Brasil está em curso. Parece que a mudança na correlação de
forças é irreversível. A dúvida é sobre a data exata em que ocorrerá a
ultrapassagem e até onde irá a queda das filiações católicas.
Referência:
ALVES, JED, CAVENAGHI, S, BARROS, LFW, CARVALHO, A.A. Distribuição
espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia
da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242
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http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180/130985
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583258-francisco-pede-aos-catolicos-e-evangelicos-que-superem-a-desconfianca-mutua
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/566480-a-ascensao-da-cultura-pentecostal-nas-periferias-brasileiras-e-a-influencia-dos-evangelicos-na-politica
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/564374-em-dialogo-com-pentecostais-e-evangelicos-a-unidade-se-faz-caminhando
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/585055-catolicismo-pos-secular-a-igreja-e-os-catolicos-na-era-da-autonomia-interpretativa
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/573444-o-aumento-da-pluralidade-religiosa-no-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/566858-igrejas-vazias-sinal-que-a-hierarquia-nao-quer-ver-artigo-de-alberto-melloni
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/513484-transito-religioso-e-o-permanente-peregrinar-entrevista-especial-com-jose-ivo-follmann
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/574515-a-transicao-religiosa-nas-grandes-regioes-do-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/571646-distribuicao-espacial-da-transicao-religiosa-no-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/571499-a-transicao-religiosa-entre-os-povos-indigenas-no-brasil
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/568821-a-transicao-religiosa-na-cidade-de-sao-paulo-1991-2030
http://www.ihu.unisinos.br/186-noticias/noticias-2017/568210-a-transicao-religiosa-na-america-latina-e-no-brasil
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