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Pesquisa sobre o art 385 CPP

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Pesquisa acerca do art. 385 do Código de Processo Penal
Feita por: Bárbara Maestro Costa 
Data: 02/02/2021
Art. 385: Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Considerando o art. 385 do Código de Processo Penal, o magistrado poderá condenar o acusado mesmo que o promotor de justiça tenha se manifestado pela absolvição, conforme explica EUGÊNIO PACELLI:
E mais: ainda que o Ministério Público, em alegações finais, requeira a absolvição do acusado (art. 385, CPP), o juiz pode proferir sentença condenatória. Eis aqui regra expressa quanto à não exclusividade da imposição de resposta penal em mãos do autor da ação, no horizonte de um direito penal de ultima ratio, destinado à proteção de direitos fundamentais[footnoteRef:1]. [1: PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 12.] 
Observa-se, de início, que aqui impera a máxima do dá-me o fato que lhe dou o direito, como expressão da função jurisdicional penal, a impor a correta aplicação da lei, independentemente da atuação das partes[footnoteRef:2]. [2: PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 511.] 
“Por isso, ainda que o Ministério Público requeira a absolvição do acusado em alegações finais, o juiz poderá proferir sentença condenatória, bem como reconhecer agravantes ou atenuantes (art. 387, I), embora nenhuma tenha sido alegada (art. 385)[footnoteRef:3]. [3: PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 511.] 
Entretanto, o referido art. 385 trata-se de uma clara ofensa à Constituição Federal, uma vez que engloba o processo penal brasileiro no modelo inquisitivo, conforme leciona AURY LOPES JR.:
O pedido de absolvição equivale ao não-exercício da pretensão acusatória, isto é, o acusador está abrindo mão de proceder contra alguém. Como consequência, não pode o juiz condenar, sob pena de exercer o poder punitivo sem a necessária invocação, no mais claro retrocesso ao modelo inquisitivo[footnoteRef:4]. [4: LOPES JR., Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. Volume 1. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 103.] 
Assim, não há o que se falar em condenação após o Ministério Público ter se expressado claramente pela absolvição:
O art. 385 do CPP não foi recepcionado pela Constituição da República. Não está mais autorizado o juiz a decidir, em desfavor do acusado, havendo pedido do Ministério Público em sentido contrário. O titular exclusivo da ação penal é o Ministério Público e não o juiz. A busca da verdade, pelo juiz, compromete sua imparcialidade na medida em que deseja decidir de forma mais severa para o acusado em desconformidade com o órgão acusador, que é quem exerce a pretensão acusatória[footnoteRef:5]. [5: RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 25ª ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 67.] 
A ação deflagra a jurisdição e instaura o processo. O processo tem um objeto que é a pretensão acusatória. Se a pretensão deixa de ser exercida pelo MP, não pode o juiz, no sistema acusatório, fazê-lo. Nesse caso, sustentada a desclassificação ou a absolvição pelo MP, deverá o juiz atender. O exercício da pretensão acusatória é a energia que anima todo o processo. Retirada a pretensão, deve o acusado ser absolvido, ou, conforme o caso, a infração penal ser desclassificada[footnoteRef:6]. [6: RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 25ª ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 67 e 68.] 
Sabe-se que o Ministério Público é o responsável pelo exercício da pretensão acusatória. É o referido órgão que deverá oferecer a denúncia e requerer pela condenação, se for o caso. Não cabe ao juiz optar pela acusação sem que o Ministério Público a tenha provocado. Nesse sentido, aponta AURY LOPES JR.:
O Ministério Público é o titular da pretensão acusatória, e, sem o seu pleno exercício, não se abre a possibilidade de o Estado exercer o poder de punir, visto que se trata de um poder condicionado. O poder punitivo estatal está condicionado à invocação feita pelo MP mediante o exercício da pretensão acusatória. Logo, o pedido de absolvição equivale ao não exercício da pretensão acusatória, isto é, o acusador está abrindo mão de proceder contra alguém. 
Como consequência, não pode o juiz condenar, sob pena de exercer o poder punitivo sem a necessária invocação, no mais claro retrocesso ao modelo inquisitivo[footnoteRef:7]. [7: LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 990 e 991.] 
Portanto, viola o sistema acusatório constitucional e também o art. 3º-A do CPP a regra prevista no art. 385 do CPP, que prevê a possibilidade de o juiz condenar ainda que o Ministério Público peça a absolvição. Também representa uma clara violação do Princípio da Necessidade do Processo Penal, fazendo com que a punição não esteja legitimada pela prévia e integral acusação, ou, melhor ainda, pleno exercício da pretensão acusatória[footnoteRef:8]. [8: LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 991.] 
O que se conclui é que, ainda que haja a previsão, no art. 385 do CPP, de que o juiz poderá condenar o acusado ainda que o Ministério Público entenda pela absolvição, tal norma não deve ser aplicada, em vista que violaria o sistema acusatório, a Constituição Federal e outros princípios processuais penais.

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