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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E DA SAÚDE CURSO DE PEDAGOGIA GERALDA LUCIANA DOS SANTOS FLÁVIA MARIA VIEIRA DA SILVA DIRLÉIA FERNANDES DA MATA SILVA FLÁVIA LAMOUNIER GONTIJO LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS BELO HORIZONTE - MG JUNHO – 2018 GERALDA LUCIANA DOS SANTOS FLÁVIA MARIA VIEIRA DA SILVA DIRLÉIA FERNANDES DA MATA SILVA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso à Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde da Universidade FUMEC como requisito parcial para obtenção do título de Licenciadas em Pedagogia, sob a orientação da Professora Mestre Flávia Lamounier Gontijo. BELO HORIZONTE - MG JUNHO - 2018 LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS RESUMO A questão central deste trabalho é entender como as práticas pedagógicas e a participação da família favorecem a criança a adquirir gosto e prazer em ler, por meio da literatura. Como objetivos pretende-se levantar práticas pedagógicas na rotina do professor da Educação Infantil que estimulam na criança o gosto pela leitura, identificar as contribuições dos contos de fadas na formação da criança leitora e analisar a importância da família na formação do hábito de leitura. O referencial teórico que embasa este estudo são Abramovich (1991), Souza (2011); Andrade (2014); Reyes (2010) e Brandão (2011)) e Brandão (2011) bem como o levantamento de bibliografias apoiadas em artigos. Por meio do desenvolvimento do presente estudo, foi possível identificar que é na primeira infância que acontecem grandes descobertas, e os aprendizados adquiridos através de uma educação de qualidade marcam as crianças por toda vida. A literatura é importante no desenvolvimento humano, e em especial na vida das crianças, tendo em vista as possibilidades de elas viverem momentos repletos de magia onde conhecem diversos personagens em diferentes cenários e enredos. A literatura infantil oferece às crianças conhecimentos sobre seres reais e imaginários, sobre o mundo e a realidade, além de exercitar a imaginação e a liberdade de criação. Como conclusão, entende-se, que a participação da família no estimulo à leitura, em parceria com a escola, otimiza contextos de formação de crianças leitoras envoltas em ambientes prazerosos. Palavras–chave: Formação leitora. Criança. Educação infantil. Parceria escola e família. 1 INTRODUÇÃO No final de 2017 foi homologada a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento do Ministério da educação (MEC) que estabelece o que os alunos da educação básica têm direito de aprender, com o objetivo de estabelecer um eixo para a construção dos currículos nas redes pública e privada. Na educação infantil, mais especificamente, o currículo é organizado com base em cinco campos de experiências1 e acredita-se que a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças têm como eixo as interações e as brincadeiras. Nesse contexto de aprendizagem, devem ser consideradas a relação entre os saberes e conhecimentos construídos pela humanidade e as experiências das crianças, configuradas em cinco campos: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Oralidade e escrita e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Cada campo guarda a sua importância e singularidade, porém, interessa para este estudo o campo da “oralidade e escrita” por abordar o tema de interesse: a literatura infantil. Nesta etapa da educação infantil as crianças vão se apropriando da linguagem oral e escrita na medida em que participam de situações envolvendo leituras realizadas pelos adultos a sua volta. Dessa maneira, vão se apropriando das características de diferentes gêneros textuais, como também, a respeito de sua utilização em situações reais de uso. Nesse âmbito, a literatura infantil torna-se forte instrumento na prática educativa, uma vez que introduz a criança na escrita, provoca o gosto pela leitura, estimula a imaginação e amplia o conhecimento de mundo. Ainda segundo BNCC (2017): (...) a leitura de histórias, contos, fábulas, poemas e cordéis, entre outros, realizada pelo professor, o mediador entre os textos e as crianças, propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem 1 Os campos de experiência: O eu, o outro, o nós ; Corpo, gestos e movimentos; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Traços, sons, cores e imagens; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. (BNCC, 2017, p. 38) Abramovich (1991) também reconhece o valor da literatura infantil na medida em que ela abre um mundo de possibilidades para a criança. Porém, para que as crianças possam se beneficiar dessas práticas, elas deverão ser incentivadas a formar hábitos de leitura. Através da apreciação de um conto de fada, a criança em um processo de identificação de sentimentos, esperanças e ansiedades, sente-se compreendida e amada. Para Bettelheim (1980, p.15 apud SOUSA 2011), a criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a forma com que ela pode lidar com essas questões e seguir a salvo para a maturidade. O conto de fadas, por sua vez, [...] toma estas ansiedades existenciais e dilemas com muita seriedade e dirige-se diretamente a eles: a necessidade de ser amado e o medo de uma pessoa de não ter valor; o amor pela vida e da morte. Ademais, o conto de fadas oferece soluções sob formas que a criança pode aprender no seu nível de compreensão. (BETTELHEIN 1980, pp.18-19 apud SOUSA 2011) Diante deste contexto, aumenta a responsabilidade das famílias e da escola na formação da criança leitora incentivando-a a entrar em contato com os livros desde cedo, levá-las à biblioteca, feiras de livros e ler para as crianças desde os primeiros contatos com a educação infantil, cujo imaginário está repleto de informações a serem adquiridas. Cabe ainda aos pais, proporcionar momentos de faz de conta com repertório de histórias e de vários gêneros literários, povoando e cultivando o hábito da leitura nas crianças. Assim, ao desenvolverem essa prática saudável, de forma prazerosa com atividades educativas que perpassam as ações impulsivas das crianças, elas serão levadas a despertar para o prazer da leitura e a escrita, à interpretação e expressões lúdicas, liberando também de forma espontânea a personalidade delas com elementos de caráter afetivo, cognitivos e socioculturais. Dentre tantos benefícios, Abramovich (1991) reconhece, inclusive, que a literatura suscita emoções nas crianças enquanto elas escutam os adultos lendo para elas: É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento. (ABRAMOVICH, 1991, p.17) Por isso, a literatura Infanto-juvenil deve ser apreciada pelo leitor, no caso a criança, de forma a saciar -lhe o apetite pelo belo e pelos anseios da imaginação infantil. A metodologia utilizada neste trabalho foi bibliográfica que, segundo Gil (1999) é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. No primeiro momento buscou-se adquirir embasamentoteórico para correlacioná-lo aos dados que obtidos na pesquisa a partir de opiniões diversas sobre o assunto, a fim de estabelecer um modelo teórico inicial como referência. Outrossim, auxiliar na elaboração das ideias geral da pesquisa, apresentando contribuições para que novos olhares sejam voltados para a formação de crianças leitoras através da literatura infantil. No desenvolvimento deste trabalho, antes das considerações finais, encontram-se três seções após a introdução. A primeira desenvolve a ideia da importância de se trazer a literatura para crianças de todas as idades, nos espaços da educação infantil, indicando práticas favoráveis à construção de vínculo prazeroso entre as crianças e a literatura. A próxima apresenta a caracterização de Conto de Fadas e sua influência na formação de leitores. Em seguida, propõe-se uma reflexão sobre a importância da participação da família na formação leitora das crianças e das práticas educativas ocorridas na instituição de educação infantil. Ao final são tecidas as conclusões com o intuito de responder, mesmo que provisoriamente, as questões levantadas no início deste estudo. 2 LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Precisa-se pensar em literatura já na educação infantil, onde a construção da leitura e da escrita e a discussão das práticas docentes nesse fazer pedagógico, levam o professor a valorizar o ensino da linguagem oral e escrita, descrita nas Diretrizes Curriculares. Reconhecer a importância da literatura infantil é incentivar a formação de leitura na idade em que os hábitos se formam, isto é, na infância. A criança, primeiramente, escuta a história lida pelo adulto, depois percebe o livro como um objeto que ela pode tocar, ver e tentar compreender as imagens, ampliando gradativamente sua compreensão até se tornar um leitor autônomo. Então, ela se une aos personagens da história e consegue viver os enredos, e sentir-se no ambiente em que os eventos narrados acontecem ao mesmo tempo em que percebe que as histórias infantis acontecem no mundo do faz de conta e começa a manifestar seu senso crítico. O gosto pela leitura é despertado pelo próprio entusiasmo do professor que incentiva o aluno ao se aproximar dos livros. Ou seja, para formar leitores, é preciso que o mediador desse processo se interesse por livros de tipos variados e que compartilhe suas descobertas e aprendizagens. Para facilitar a formação de leitores, é necessário que o professor se apresente como leitor, atualizado e participante. É fundamental que as crianças vejam seu professor envolvido com a leitura e com o que se conquista através dela. Cabe ao professor o papel de acompanhar as atividades, bem como promover oportunidades em que a criança possa se desenvolver. É através da organização do espaço, da disponibilização de objetos para a criança e de materiais que possam enriquecer o espaço da sala de aula que se poderá torná-lo um ambiente lúdico e de aprendizagem por meio também de brincadeiras. O primeiro passo para o incentivo à leitura é a família compreender que as crianças precisam de um exemplo e que esse é o papel dos pais fornecê-lo. Deixar claramente que o filho veja que eles estão lendo e que realizam essa atividade com frequência. É papel da família incentivar as crianças a descobrirem quais são os assuntos de interesse delas para chamar sua atenção aos temas que mais lhe atraem, e transformar os momentos de leitura em uma atividade prazerosa. E ainda, ler histórias para as crianças, dramatizando cenas, simulando vozes e deixar que elas comentem e façam sugestões, além de fazer perguntas sobre o que entenderam da história, questionando o que elas mais gostaram. Assim, as crianças aprendem a associarem esse hábito com carinho e diversão. Outro ponto importante é organizar um cantinho de leitura com gravuras, objetos e pequenos textos e estimular as crianças a frequentá-lo e a manusearem o material. Segundo Reyes (2010), ao oferecer leitura para crianças da educação Infantil, pode- se contribuir com a construção de um mundo mais justo, no qual as crianças terão a oportunidade de acesso ao conhecimento e a expressividade desde o começo da vida. Para a autora, no âmbito específico da linguagem já se demonstrou que a criança depende quase completamente da influência de seu meio e que os modelos apresentados pelos adultos próximos são decisivos [...]. (REYES, 2010, p. 20) Conforme citado no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI (v. 3, 1998), realizar práticas de leitura para crianças traz consigo um grande valor, pois a criança que ainda não sabe ler tradicionalmente pode fazê-la através da escuta da leitura do professor, por mais que não decifre todas e cada uma das palavras. Sendo assim ao ouvir um texto é possível considerar essa ação como uma forma de leitura. Filho (2009) acredita que atividades como a roda de leitura e a contação de histórias proporcionam discussões que fortalecem o vínculo entre o leitor e a criança. Brandão e Rosa (2011) citam, como exemplo atividades de contação de histórias, conversa sobre o texto antes e depois de realizadas suas leituras, pois experiências como essas, além de motivarem os alunos à leitura, criam expectativas, inserindo-os na prática social da escrita, o que estimula o desenvolvimento de estratégias cognitivas para a leitura. Sendo assim: [...] utilizando diferentes estratégias, tais como antecipação de sentidos, formulação e checagem de hipóteses sobre o que estaria escrito no texto, construção de inferências, entre outras, os leitores criam sentidos em interação com os textos. (BRANDÃO e ROSA, 2011, p.22, apud SOLÉ,1998) O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (v.3, 1998), traz sobre a leitura a seguinte indicação: A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. (RCNEI, p.143, v.3, 1998) Conforme expresso no RCNEI (v.3, 1998), torna-se de grande importância o acesso à leitura por meio do professor, pois ao disponibilizar diferentes tipos de materiais escritos, permite às crianças a terem contato com práticas culturais mediadas pela escrita. Sendo assim, ao proporcionar essas práticas de leitura, coloca-se a criança no papel de “leitora” de diferentes gêneros e em diferentes portadores como: livros, jornais e revistas. Nesse sentido, a leitura não é simplesmente decifrar palavras, mas um processo em que o leitor passa a realizar um trabalho de construção do significado do texto, amparando-se em estratégias diferentes, levando em conta seu conhecimento prévio sobre o assunto, sobre o autor e todo seu conhecimento sobre a linguagem escrita e seu gênero textual. A leitura de histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários, [...] superando-se assim, o mito de que ler é somente extrair informação da escrita. (RCNEI, v.3, 1998, p.145) Equivalente a este pensamento, Soligo (1999) acredita que a leitura também é um processo em que o leitor busca realizar um trabalho de construção do significado do texto, de acordo com o que se está buscando nele, do conhecimento já existente do assunto, do autor e do que já sabe sobre a língua. De acordo com Filho (2009), realizar leituras de literatura infantil em sala de aula é proporcionar condições para que se formem leitores de arte, leitores de mundo e leitores plurais. Indo além de uma atividade proposta do conteúdo curricular, apresentar e discutir leituras é poder formar leitores, ampliando -lhes a capacidade de ver o mundo e de dialogar com a sociedade. Segundo Filho (2009) a literatura de seroferecida para as crianças na forma de arte e prazer: Arte porque é o resultado de um fazer estético do (s) Autor (es) e prazer porque o contato com a arte pode ser encarado desde a mais tenra idade como uma experiência prazerosa, capaz de nos envolver e trazer novas dimensões ao cotidiano. (FILHO, 2009, p. 63.) Para Brandão e Rosa (2011), o contato diário das crianças com a leitura de livros de literatura favorece um desenvolvimento maior da competência para realizarem futuras produções de textos e à compreensão dos textos que virão a ler. Possibilitar ainda o aprendizado sobre a direção da escrita, a existência de outros sinais gráficos diferentes das letras, como os sinais de pontuação, estimulando as crianças a localizarem letras e palavras que já conheçam e identificar rimas e a existência de outras palavras dentro de palavras. 3 OS CONTOS DE FADAS E A FORMAÇÃO DO LEITOR A literatura infantil surge a partir do séc. XVII junto à sistematização da educação e da construção de uma nova ideia sobre criança (AZEVEDO, 2001). Nesse contexto, falar em contos de fadas remete à infância aos contos de encantamento, às fábulas, aos contos populares. Para Andrade (2014, p. 51) os contos de fadas são aquelas historinhas que nossos pais, avós, e professores nos contavam em nossa infância. Aquelas histórias que sempre começavam com era uma vez e acabavam com e foram felizes para sempre. Trata-se de histórias inventadas, repletas de fantasias e elementos maravilhosos que lidam com uma temática social, ou seja, sempre há um herói que passa por provações e triunfa ao final da história. O termo conto vem do latim (computus) e remete a duas ideias diferentes: por um lado, a ficcionalidade, isto é, trata-se de uma história que não tem necessariamente que se comprometer com a realidade e que pode se valer do maravilhoso, da imaginação, para entreter e possibilitar a verbalização das dificuldades humanas. A palavra fada vem do latim fatum, que significa destino, fatalidade, fado. As fadas são entidades fantásticas e representadas por mulheres de beleza incomum, imortais e dotadas de poderes sobrenaturais, que tinham a capacidade de interferir na vida dos mortais. Assim, pode-se concluir que os contos de fadas são histórias que narram um acontecimento com destino marcante e que podem contar ou não com a presença de fadas (ANDRADE, 2014). Segundo Souza (2011), outra característica importante dos contos de fadas é a definição do caráter dos personagens. Eles são sempre bons ou maus, não existe meio termo. Ao mesmo tempo em que isso pode parecer prejudicial, se se pensar que na vida real nenhum indivíduo é capaz de ser totalmente bom ou totalmente mal, essa polarização de caráter contribui para que a criança identifique com facilidade essas diferenças onde existe a luta do bem (representado pelo herói) contra o mal (representado pelos inimigos do herói) e, acima de tudo, perceba que é necessário fazer escolhas sobre o seu modo de ser. Os contos se caracterizam por serem uma narrativa, cujos personagens heróis e ou heroínas enfrentam grandes desafios para, no final, triunfarem sobre o mal. Permeados por magias e encantamentos, animais falantes, fadas madrinhas, reis e rainhas, ogros, lobos e bruxas personificam o bem e o mal. No conto de fadas tapetes voam, galinhas põem ovos de ouro, pés de feijão crescem até o céu, enfim, traz-se à tona o inverossímil, e é essa magia que instiga a mente humana (BETTELHEIM, 1980; HISADA, 2003; RADINO, 2003 apud SCHNEIDER, 2009). De acordo com Schneider (2009), o surgimento dos contos de fadas perdeu-se no tempo. A literatura registra que são histórias transmitidas oralmente de geração a geração e que, mesmo com toda a tecnologia existente, mantêm seu espaço de destaque narrativo junto à infância. Já não se reservam apenas à função de distração ou de acalanto ao sono das crianças, mas seu poder se expressa na magia e na fantasia que despertam no infante. Os contos se configuravam em artifícios fascinantes à fantasia infantil, narrados pelas amas, governantas e/ou pelas cuidadoras das crianças, que se incumbiam de contar e perpetuar histórias de origem popular, construídas com base na cultura do povo. Até o século XVII, os contos não eram destinados às crianças, mas a qualquer pessoa, de qualquer idade, e estavam relacionados a uma tradição narrativa baseada especialmente na fala das mulheres camponesas, que reproduziam histórias folclóricas e expressavam sua inconformidade com os valores feudais. (ANDRADE, 2014). Há, segundo Peixoto e Viana (2002, apud Souza 2011) especulações de que os contos de fadas tenham surgido antes ainda da Idade Média. A versão chegou até à sociedade, aquelas com as quais convive em sua infância e continua contando aos seus filhos, entretanto, foram produzidas nesse período histórico e isto é bastante visível nos temas, palavras, situações presentes nos contos de fadas. Neles estão presentes reis, rainhas, florestas e todo um conjunto de características próprias do mundo feudal com sua importância social delimitada. Os temas e as situações dos contos de fadas também retratam as condições de vida do mundo feudal. Isto é expresso claramente em O pequeno polegar e em Joaozinho e Maria que contam a aventura de crianças que eram abandonadas na floresta pelos seus pais, devido a sua situação de miséria, o que era comum nas famílias dos servos submetidos à exploração do senhor feudal. (PEIXOTO E VIANA, 2002, apud SOUZA 2011, P.99). Os contos de tradição oral que circulavam entre as pessoas do povo da Idade Média e eram como forma de entretenimento dos adultos foram compilados e, posteriormente, adaptados para o público infantil. Os primeiros contos de fadas apareceram, provavelmente, na Itália em formas manuscritas em meados do século XVI (RADINO 2003, apud SOUZA, 2011). Os contos de fadas, à medida que foram se aproximando da infância, foram se transformando até chegar às versões atuais. Perpassaram séculos e se mantiveram como instrumento importantes de ensinamentos e de deleite para adultos e crianças (SOUZA 2011). Bettelhein (1980, apud Souza, 2011), salientam que a criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a forma com que ela pode lidar com essas questões e seguir a salvo para a maturidade. O conto de fadas por sua vez, [...] toma essas ansiedades existenciais e dilemas com muita seriedade e dirige-se diretamente a eles: a necessidade de ser amado e o medo de uma pessoa de não ter valor; o amor pela vida e da morte. Ademais, o conto de fadas oferece soluções sob formas que a criança pode aprender no seu nível de compreensão. (BETTELHEIN 1980, p. 18-19 apud SOUSA 2011, P.104) Ainda de acordo com Souza (2011), de um modo geral, as histórias constituem um significado especial ao universo infantil, pois, através de sua narrativa, fornecem elementos favoráveis para que os pequenos se organizem internamente. A sua própria estrutura começo, meio e fim sugere ao leitor caminhos para compreender seus sentimentos e resolver seus conflitos. Essa é uma boa explicação para o fato de as crianças se interessarem tanto pelas histórias. Através da apreciação de um conto de fada, a criança, em um processo de identificação de sentimentos, esperanças e ansiedades, sente-se compreendida e amada. É por isso que, muitas vezes, ao ouvir ou ler determinada história, os pequenos expressam certa quietude. Esse comportamento geralmente decorre da relação entre os conteúdos presentes na história e seus próprios conteúdos psíquicos. A escola representa um lugar privilegiado para a promoção do contato da criança com a literatura, tendo em vista que muitas crianças, ao ingressarem na escola tiveram pouco ou nenhum contato com livros literários fora do ambiente escolar. A criançaconhece o conto de fadas desde bem pequena, mesmo que seja por meio de filmes e desenhos animados da televisão, ou então por meio das histórias orais contadas pelos pais, irmãos ou outras pessoas próximas. Assim, é preciso que a escola incorpore a literatura nas suas práticas cotidianas e que o professor utilize bons livros em suas aulas, já que muitas crianças não têm contato com livros e com a literatura fora desse ambiente. (SOUZA, 2011). 4 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DA FORMAÇÃO LEITORA NA CRIANÇA A leitura é reconhecida por diversos autores como atividade indispensável ao estudo e entendimento de diferentes áreas do conhecimento. Silva (1981, p. 42) diz que a leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento, mais essencial ainda à própria vida do ser humano. A aquisição da leitura e o prazer em realizá-la requerem algumas condições, entre elas o ambiente familiar que exerce importante influência na formação das crianças como leitoras. Antes de discutir essa relação, é importante entender o que é leitura. Em relação ao significado da leitura, Infante (2000, p. 57) diz que é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade. A construção do habito da leitura é um processo continuo de transformação na vida do ser humano. Quando se inicia no ambiente familiar, geralmente os filhos tendem sempre a se espelhar nos pais. A criança, quando no ambiente familiar percebe nos pais leitores assíduos, recebe estímulos naturalmente e isso poderá também fazer despertar nela o interesse e o prazer pela leitura. As crianças que têm contato com as histórias desenvolvem mais a imaginação, criatividade e a capacidade de discernimento e críticas, na medida em que se tornam ouvintes e leitores críticos. Nesse processo de conhecimento, quanto mais cedo a criança receber estímulos na mais tenra idade e quando seus hábitos estão sendo formados, suas habilidades serão previamente exercitadas e ao longo da vida serão aperfeiçoadas, beneficiando-a com desenvoltura e autonomia para atuar como cidadã crítica. Vieira (2004) salienta que O leitor formado na família tem um perfil um pouco diferenciado daquele outro que teve o contato com a leitura apenas ao chegar à escola. O leitor que se inicia no âmbito familiar demonstra mais facilidade em lidar com os signos, compreende melhor o mundo no qual está inserido, além de desenvolver um senso crítico mais cedo, o que é realmente importa na sociedade (VIEIRA, 2004, p. 6) Segundo Prado (1981, p.13), a família influencia positivamente quando transmite afetividade, apoio e solidariedade e negativamente quando impõe normas através de leis, dos usos e dos costumes. Nesse sentido, os pais contribuirão no enriquecimento literário dos filhos ao apresentar-lhes livros com conteúdos, figuras e formatos diferenciados e apropriados à capacidade de entendimento cognitivo da criança. A família deve ter em casa livros à disposição das crianças, em locais de fácil acesso para que seja aguçado na criança o desejo de manusear, brincar tocar o objeto em questão. Parreiras (2009) diz que A aproximação da criança com os livros deve acontecer como a aproximação com os brinquedos: ver, tocar mãos e pés, levar à boca... primeiramente, uma relação lúdica, de brincadeira mesmo. A criança precisa sentir e gostar do livro. Depois, a relação se estreita pela experiência que o ser humano vai adquirir com ele. (PARREIRAS, 2009, p. 28). Os pais também devem priorizar momentos em família para leitura em conjunto dos filhos, para fortalecer o vínculo à leitura, esclarecer possíveis dúvida desafiá-los a adquirir um conhecimento além do conteúdo lido. É muito importante conversar com a criança sobre a história e perguntar sobre o que ela entendeu da leitura. Quando uma criança lê, ela adquire a capacidade de ver o mundo de forma diferente. Na idade pré-escolar e nos primeiros anos de escola, contar e ler história em voz alta e falar sobre livros de gravuras são importantíssimos para o desenvolvimento do vocabulário dela, além de ser importante ainda para a motivação da leitura. (BAMBERGER, 2002, p,24). A leitura, quando não é estimulada no ambiente familiar, acaba sendo vista, muitas vezes, como algo que não é de interesse do indivíduo, já que acontece apenas de forma obrigatória. Ao contrário dessa ideia, a leitura deve ser um ato prazeroso e contínuo na vida das crianças. Esses alunos, segundo Paulo Freire (1998), precisam ser conscientizados da sua condição de vida e de trabalho na sociedade em que estão inseridos, pois esse ato é um dos meios pelos quais lhes serão possibilitados a participação na luta pela melhoria de vida. É importante que os pais levem as crianças às bibliotecas, feiras de livros, bancas de jornal, espaços onde elas possam ter contato com os livros, espaços culturais, etc., pois fará parte do seu crescimento intelectual e social. Atualmente, existem diversos métodos de incentivo ao conhecimento, e a exemplo disto são as bibliotecas itinerantes, online e programas de conscientização sobre a importância da leitura na vida das pessoas. Segundo Bartollo (2001), para favorecer os processos de aprendizagens para além dos conteúdos escolares, é fundamental a parceria entre família e escola. Essa parceria deve atuar com o intuito de promover melhores resultados no aproveitamento tanto intelectual quanto social da criança, favorecendo uma formação de indivíduos mais preparados e conscientes. Como diz, Paro (2000), a escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Portanto, é importante que a família valorize o contato com escola, informando-se dos desafios enfrentados pelos filhos, como também sobre o desenvolvimento deles, habilidades e preferências. Essa participação deve ser verdadeira, consciente e frequente e a escola deve criar situações e condições para que a família se sinta à vontade para participar de processos que envolvam a vida escolar de seus filhos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAS A questão central deste trabalho foi entender como as práticas pedagógicas e a participação da família favorecem a criança a adquirir gosto e prazer em ler, por meio da literatura. Como objetivos, pretendeu-se identificar as contribuições dos contos de fadas na formação da criança leitora, analisar a importância da família na formação do hábito de leitura e levantar práticas pedagógicas na rotina do professor da Educação Infantil que estimulam na criança o gosto pela leitura A partir desse estudo, foi possível compreender a importância dos contos de fadas na formação de leitores desde a educação infantil, reconhecendo que o desenvolvimento e a formação da criança leitora acontece desde muito cedo na infância. Nesse contexto, o objetivo de entender as contribuições do conto de fadas nessa formação resultou no entendimento de que os contos de fadas permitem as crianças a formar-se e informar-se sobre ambientes que as cercam, sobre pessoas e modos de viver em contextos reais e imaginários. Na intenção de levantar práticas docentes que estimulem o gosto pela leitura foram identificadas algumas ações importantes que professores devem adotar no cotidiano das crianças, na escola. Na Educação Infantil a apresentação da leitura deve vir acompanhada de entusiasmo pelo professor, e este deve atuar como mediador, para que a leitura se desenvolva com vigor entre os pequenos. Para aproximar a criança da leitura, faz-se necessário que o educador atribua à literatura uma finalidade prazerosa, e não apenas cumprir obrigações na escola, pois só assim será possível formar leitores para a vida toda. Outro objetivo desta pesquisafoi entender o papel da família na formação leitora das crianças e, pelo apontado na seção que se dedicou a esse propósito, conclui-se que a atuação da família é fundamental na vida da criança. A participação dos pais juntamente à escola, entendida como parceria, é primordial por promover a relação prazerosa entre a criança e a leitura. Os pais, que acompanham a vida escolar dos filhos, buscando informações sobre o seu desenvolvimento e colaborando com a promoção de boas situações de aprendizagens, estarão participando ativamente no processo de formação da criança, mais especificamente sobre a sua formação leitora, objeto deste estudo Para pensar no exposto anteriormente, foi preciso conhecer um pouco mais sobre a literatura infantil, seus aspectos mais importantes, relacionando-os com a prática em sala de aula. O indivíduo que tem contato com a literatura tem mais chances de enriquecimento pessoal e de compreensão de mundo. A literatura infantil e a contação de histórias na Educação Infantil devem ser práticas rotineiras, pois a valorização dessas atividades favorece o desenvolvimento integral da criança, além de estimulá-la a conhecer e apaixonar-se pelo mundo da leitura, de forma a promover sujeitos críticos e bons leitores. O hábito de leitura, portanto, deve ser estimulado desde a infância, na escola e na família, principalmente para que a criança entenda que ler pode ser muito prazeroso, além de favorecer o aprimoramento das habilidades de raciocínio, vocabulário e interpretação, desenvolvimento da criatividade e imaginação. Assim, as crianças devem ser incentivadas mesmo antes de serem alfabetizadas, para que possam, não somente adquirirem o gosto pela leitura, mas que ampliem o conhecimento de si mesmas, do mundo e de pessoas sejam elas reais e/ou imaginárias. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1991. p. 17. ANDRADE, Gênese (org.). Literatura infanto-juvenil. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. p.51-52. AZEVEDO, Ricardo. Aspectos da literatura infantil no Brasil, hoje. 2001. BAMBERG, Richard. Como incentivar o habito de leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2002. BARTHOLO, M. H. Relatos do Fazer Pedagógico. Rio de Janeiro: NOOS ,2001. 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