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SUMÁRIO 1. Introdução 2. Metabolismo de macronutrientes 2.1. Carboidratos 2.2. Proteínas 2.3. Lipídeos 3. Referências bibliográficas 1. INTRODUÇÃO Esta apostila tem objetivo de complementar a vídeo aula sobre metabolismo de Macronutrientes e micronutrientes desta pós-graduação, onde estão descritas as principais informações dos referidos metabolismos. Desejo a todos um aproveitamento da aula e da apostila. 2. METABOLISMO DE MACRONUTRIENTES 2.1. Carboidratos Os carboidratos (CHO) ou hidratos de carbono são compostos por carbono (C), hidrogênio (H2) e oxigênio (O2), na proporção de C : O : H2. Dentre as funções dos carboidratos, destaca-se o fornecimento energético, estruturação e proteção da parede celular, participação nos tecidos conjuntivos, lubrificação de articulações esqueléticas e estruturação de nucleotídeos e ácidos nucléicos [1]. Em virtude da facilidade de obtenção dos carboidratos pela dieta, sua ingestão poderá perfazer aproximadamente 50% ou mais do valor energético total (VET). Cada uma grama de CHO corresponde a 4 calorias. São considerados uma ótima fonte de energia e podem ser encontrados em uma ampla variedade de alimentos. [2]. Quanto a classificação, os CHOs são categorizados em monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Na tabela 1 encontram-se as categorias dos CHOs e seus representantes. Tabela 1 – Categorias e representantes dos CHOs. Categorias Representantes Monossacarídeos Glicose Galactose Frutose Dissacarídeos Sacarose Lactose Maltose Oligossacarídeos Inulina Fruto-oligossacarídeos Galacto-oligossacarídeos Rafinose Polissacarídeos Amido Glicogênio Celulose Os monossacarídeos podem apresentar entre 3 a 7 átomos de carbono, sendo eles trioses, tetroses, pentoses, hexoses ou heptoses. Destes, os monossacarídeos de maior destaque são as representantes das hexoses, tais como glicose, galactose e frutose. Essas moléculas encontram-se basicamente como componentes de dissacarídeos e polissacarídeos [1,2]. A glicose é o maior e o principal monossacarídeo, sendo encontrado nos alimentos (em associação – por exemplo: dissacarídeos), produzido pelo corpo (processo digestório de CHO complexos) e sintetizada a partir de aminoácidos (AA), glicerol, piruvato ou lactato. Um fato importante é a necessidade específica e regular de glicose para as atividades desempenhadas pelo cérebro. Para tal, o organismo humano apresenta mecanismos fisiológicos que atuam na manutenção dos níveis adequados de suprimento de glicose, o que permite a manutenção deste fornecimento regular de glicose [2]. A frutose ou levulose é o mais doce dos monossacarídeos, encontra-se nas frutas, mel e xarope de milho. Dentre suas fontes, o xarope de milho apresenta alto teor de frutose e é fabricado de forma enzimática alterando a glucose do amido de milho para frutose. Assim, a indústria alimentícia utilizado o xarope por ser mais doce e mais barato que outros açúcares [2]. O elevado consumo de frutose tornou-se alvo de estudo de diversos pesquisadores, pois este consumo foi associado a obesidade, diabetes mellitus (DM), síndrome metabólica e resistência periférica a insulina (RPI) [3]. Também se sabe que este elevado consumo poderá contribuir para diminuição dos níveis de High Density Lipoproteins (HDL) colesterol, aumento do risco desenvolvimento de doenças coronarianas, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e esteatose hepática não alcoólica [4]. Em ensaio clínico randomizado realizado por Matikainen e colaboradores, foi testado o consumo de bebidas adoçadas com a hipótese de verificar se o alto consumo de frutose relaciona-se com desenvolvimento de RPI e com a diminuição da resposta de incretina. O consumo de frutose estabelecido foi de 75 gramas/dia durante 12 semanas, em 66 homens obesos, enquanto mantinham seu estilo de vida prévio. A intervenção de frutose não piorou as respostas de glicose e insulina durante o teste de tolerância oral à glicose, e as respostas de peptídeo glucagon (GLP-1) e peptídeo insulinotrópico (GIP) durante o mesmo teste permaneceram inalteradas. Logo, os autores concluíram que o consumo de 75 gramas/dia de frutose não alterou as respostas de glicose, insulina, GLP-1 ou GIP durante as respostas de teste de tolerância [5]. Ainda sobre o metabolismo da frutose, é descrito na literatura científica um distúrbio denominado de intolerância hereditária à frutose, onde ocorre a ausência da enzima fosfofrutoaldolase, que atua na metabolização e em sua ausência a frutose 1-fosfato acumula-se no organismo, ocasionando menor formação glicogênio e ineficácia na conversão em glicose [1]. A galactose e a frutose são metabolizadas no fígado através da atuação nas vias metabólicas para a glicose. Porém, a galactose é produzida a partir da lactose pela hidrólise na digestão. Outro distúrbio metabólico refere-se a galactose, intitulado de galactosemia é caracterizado pela incapacidade de metabolizar a galactose, gerando um acúmulo sérico deste carboidrato. Este distúrbio ocorre pela ausência da enzima galactose 1-fosfauridiltransferase, que é uma das enzimas necessárias para a metabolização da galactose [1,2]. Os dissacarídeos são a combinação entre dois monossacarídeos com a reação de condensação existirá a liberação de uma molécula de água. Esta junção é entre o aldeído ou cetona e uma hidroxila. Na figura 1, encontram-se os três principais dissacarídeos e suas combinações estruturais [1]. Figura 1 – Componentes estruturais dos principais dissacarídeos. A sacarose encontra-se naturalmente presente em diversos alimentos e na forma de aditivo nos alimentos ultraprocessados. Cabe destacar que a sacarose apresenta menor teor de doçura que o açúcar invertido (glicose + frutose), provavelmente por isso a indústria alimentícia opte pelo uso do açúcar invertido [2]. A lactose é constituída pela união entre a galactose e a glicose, sendo produzida nas glândulas mamárias de todos os mamíferos. Para sua absorção intestinal, a lactose requer hidrólise através da enzima lactase [2]. No entanto, a expressão da lactase obtém seu pico ao nascimento do bebê, pois essa capacidade de digestão durante a amamentação torna-se essencial para a saúde da criança. Após os primeiros meses de vida, a atividade da lactase começa a diminuir e ocorre um declínio após o desmame [6]. E a maltose é formada pela hidrólise do amido no processo digestório, sendo raramente encontrada de forma natural nos alimentos. Porém, a maltose comumente é consumida como aditivo em diversos alimentos industrializados [2]. Sacarose Glicose Frutose Lactose Glicose Galactose Maltose Glicose Glicose Os oligossacarídeos são os carboidratos resultantes da união entre duas a dez moléculas de monossacarídeos, ademais encontram-se naturalmente em muitos alimentos e em tecidos vegetais, além de serem sintetizados no metabolismo. Suas propriedades biológicas e físico-químicas relacionam-se as fibras dietéticas, que intensificam o crescimento da flora/microbiota intestinal, melhoram os sintomas de constipação e auxiliam na diminuição dos lipídios sanguíneos [1,2]. As fontes de oligossacarídeos são inulina, fruto-oligossacarídeos (FOS), galacto-oligossacarídeos e rafinose. A inulina atua na redução dos níveis de lipídios séricos e é encontrada nos seguintes alimentos: alcachofra, chicória, cebola e aspargos [1]. Os FOS e os galacto-oligossacarídeos desempenham atividade prebiótica, isto é, são substratos que estimulam o crescimento e/ou ativam o metabolismo de bactérias benéficas no intestino [7]. A união entre galactose, frutose e glicose origina a rafinose, sendo encontrada nos seguintes alimentos:feijão, repolho, brócolis e couve de Bruxelas [1]. Por fim, os polissacarídeos são os carboidratos com mais de dez unidades de monossacarídeos, sendo considerados CHOs grandes. São insolúveis em água, logo não alteram o equilíbrio osmótico celular e podem apresentar estruturas de ramificação (ramificados). Esta categoria de CHOs desempenha duas funções biológicas importantes, a de reserva energética e de estruturação celular. Além disso, suas principais modalidades bioquímicas que desempenham a função de reserva energética são amido e glicogênio. Já a celulose atua na estruturação celular [1]. O amido está presente na forma de grânulos nas plantas, nas comestíveis existe a produção de dois tipos de amido, sendo eles a amilopectina e a amilose. As fontes dietéticas de amido seriam a mandioca, batata doce, batata, cará, frutos e sementes [1]. Amilose poderá conter entre 15 a 20% de moléculas de amido em sua composição, apresenta estrutura enrolada não ramificada (linear) e uma parte solúvel do amido [2]. A amilopectina apresenta entre 80 a 85% de moléculas de amido, com cadeia altamente ramificada, de alto peso molecular e abundante em diversos alimentos, tais como tubérculos amiláceos e grãos. Os amidos advindos do arroz, batata, milho e tapioca são polímeros de glicose e suas propriedades organolépticas (cor, sabor, textura) são definidas pelas combinações de amilose e amilopectina, além do grau absortivo ou de atuação enzimática para tal processo [2]. O glicogênio é o polissacarídeo de reserva energética animal, sua utilização é direcionada à manutenção das concentrações séricas de glicose entre as refeições. Esta reserva tem disponibilidade rápida e encontra-se nas células do fígado e dos músculos. No entanto, o armazenamento de glicogênio hepático é responsável pelo auxílio no controle hormonal da glicemia [2]. Já os polissacarídeos relacionados a estruturação celular, também conhecidos por fibras alimentares (FA), desempenham diversas funções orgânicas. A celulose é um polímero de cadeia longa composto por somente uma glicose, encontrada nas paredes celulares das plantas em combinação com a lignina, hemicelulose e pectina. A celulose é considerada o componente de mais abundante. A partir desta combinação são formadas as fibras alimentares ou dietéticas, que são indigeríveis pelo ser humano [1,2]. Conforme a Tabela 2, encontram-se as funções de cada componente celular das fibras alimentares. Tabela 2 – Funções dos componentes celulares das fibras alimentares. Componentes celulares Funções Celulose Sustentação das paredes celulares Lignina Rigidez, impermeabilidade e resistência aos ataques microbiológicos e mecânicos Hemicelulose Elasticidade Pectina Retenção hídrica e gelatinização Goma Formação de gel, diminuição do esvaziamento gástrico, digestão mais lenta e aumento do tempo de trânsito intestinal As FAs são caracterizadas por componentes vegetais intactos e indigeríveis ao trato gastrointestinal humano. Dentre as fibras, destaca-se a categoria das fibras funcionais que são os CHO não digeríveis extraídos ou produzidos a partir de vegetais. Seus representantes são quitina, frutanos, betaglucanas, polidextrose, polióis e psyllium [1,2]. A quitina atua na redução da concentração de colesterol sérico, contém glicopiranose e encontra-se em suplementos de caranguejo ou em cascas de lagosta. Assim como a betaglucana que também contém glicopiranose e apresenta ação semelhante a quitina. Suas fontes são a aveia e o farelo de cevada [2]. Os frutanos são advindos de polímeros de frutose, frequentemente ligados a uma molécula de glicose. São subdivididos em frutooligossacarídeos (FOS), inulina, frutanos tipo inulina e oligofrutose [2]. Uma importante função deste grupo de fibras refere-se à ação prebiótica que auxilia na estimulação do crescimento e/ou atividade de bactérias probióticas presentes no cólon, tornando-se benéfica para o hospedeiro [8]. Deste modo, os prebióticos atuam em conjunto com os probióticos objetivando a estimulação do crescimento de bactérias intestinais. Essencialmente os prebióticos são os substratos energéticos para este crescimento equilibrado, por isso diversos alimentos utilizam a incorporação de frutanos para obtenção deste potencial orgânico. Os componentes prebióticos mais utilizados são inulina, frutanos tipo inulina e FOS. Porém, estes componentes podem ser encontrados em diversos alimentos, de forma natural e íntegra, tais como no trigo, cevada, centeio, cebola, alho, aspargo, banana, chicória, tomate e girassol [8]. E também podem ser obtidos em suplementos nutricionais industriais ou modulados em farmácias de manipulação, além de fórmulas de nutrição enteral [9]. A polidextrose e outros polióis são polímeros de álcoois açúcares, formulados industrialmente e comumente utilizados como substitutos do açúcar nos alimentos. Também apresentam o caráter de indigeríveis pelo trato intestinal e auxiliam no aumento do volume fecal, através do potencial de fermentação no intestino delgado [2]. Na Tabela 3 encontram-se descritos os principais alimentos fontes de fibras. Tabela 3 – Fontes alimentares das fibras. Fibras Fontes alimentares Celulose Trigo integral Farelo de trigo Cenoura Vegetais Hemicelulose Farelo Grãos integrais Lignina Frutas Sementes Vegetais maduros Goma Aveia Legumes Goma guar Cevada Pectina Maçã Morango Frutas cítricas Cenoura Quitina Suplemento de caranguejo Casca de lagosta Frutano e inulina Chicória Cebola Betaglucana Aveia Farelo de cevada Polissacarídeos de algas Isolado de algas Algas marinhas Psyllium Sementes de psyllium Por fim, foram apresentadas as diversas funções das fibras alimentares no organismo humano. Essas funções subdividem-se conforme a solubilidade das fibras, por exemplo as fibras insolúveis auxiliam no aumento da capacidade de retenção de água e aumento do volume do bolo fecal, ocasionando em aumento do número de evacuações diárias e alteração do trânsito intestinal. Já a desaceleração do tempo de trânsito intestinal, ligação a outros nutrientes (colesterol e minerais) e diminuição da absorção são características funcionais das fibras solúveis [2, 8, 9]. 2.2. Proteínas As proteínas são macromoléculas presentes em todas as células dos organismos vivos e diferem-se dos carboidratos e lipídios por conterem nitrogênio em sua composição. Ainda, as concentrações de proteínas no fígado e no músculo correspondem a 20% do peso úmido corporal [10]. As proteínas são compostas pelos seguintes grupos: amina, hidrocarboneto, cadeia lateral ou R e carboxila gerando um AA. Assim, a combinação, posição e ligações entre os elementos dos AA dão origem a proteínas diferentes. A estrutura das proteínas é um componente importante para sua função [1]. Quanto a origem das proteínas, podem ser adquiridas por via exógena ou via endógena. Sendo a via exógena através da ingestão alimentar, e endógena é advinda da degradação das proteínas celulares do organismo [10]. Em relação a classificação proteica, destacam-se os AA essenciais e não essenciais conforme a Tabela 4. A síntese proteica necessita da presença de todos os AA necessários durante o processo, além disso muitos AA podem ser sintetizados a partir dos esqueletos de carbonos provenientes de vias metabólicas, através do processo denominado transaminação [2]. Neste sentido, a transaminação desempenha um importante papel metabólico, pois colabora com a produção AA não essenciais a partir de intermediários metabólicos [2,10]. Tabela 4 – Classificação estrutural dos aminoácidos. Essenciais Não E ssenciais Fenilalanina Glicina Triptofano Alanina Valina Prolina Leucina Tirosina Isoleucina Serina Metionina Cisteína Treonina Ácido aspártico Lisina GlutamatoHistidina Asparagina - Glutamina - Arginina As funções primárias das proteínas no organismo são classificadas em: proteínas enzimáticas, transportadoras, contráteis, estruturais, defesa, reguladoras e nutritivas/reserva [10]. Os respectivos exemplos encontram-se na Figura 2. Figura 2 – Classificação das proteínas de acordo com funções orgânicas. Nutritivas/Reserva Gliadina Ovoalbumina Caseína Reguladoras Insulina Hormônio do crescimento Corticotrofina Defesa Anticorpos Toxina botulínica Toxina Diftérica Estruturais Queratina Colágeno Elastina Proteoglicanas Contráteis Actina Miosina Transportadoras Hemoglobina Albumina Lipoproteínas Enzimáticas Ribonucleases Tripsina Lipase Amilase As principais funções das proteínas reconhecidas cientificamente são: crescimento e reparação tecidual, transporte e armazenamento de substâncias, catalizadoras de reações, regulação metabólica e proteção, contração muscular, precursor de diversos componentes biológicos (catecolaminas, creatina, carnitina) e produção de energia [2]. Em relação as necessidades proteicas, sabe-se da importância da quantidade, tipo e distribuição diária da carga proteica. As evidências científicas sugerem que a ingestão proteica de alta qualidade, isto é, de 1,2 a 1,6 g/kg/dia é um alvo ideal de consumo para adultos saudáveis. Conforme a resistência anabólica, estilo de vida sedentário e as patologias desenvolvidas ao envelhecer, os idosos necessitariam de ≥ 1,2 (com variação entre 1,0 – 1,3) g/kg/dia para auxiliar na prevenção de sarcopenia e desnutrição [11]. Quanto a qualidade das proteínas, as proteínas de alto valor biológico são provenientes de fontes animais, tais como leite, ovos, carnes, aves e peixes; fornecem uma boa concentração de AA essenciais, em comparação as proteínas vegetais. Os alimentos proteicos de origem vegetal fornecem alguns AA essenciais, por isso são considerados fontes proteicas de baixo valor biológico e/ou incompletas [10]. A inclusão de uma fonte proteica no café da manhã tornou-se uma abordagem nutricional simples e eficaz para aumentar o consumo total nos idosos e auxiliar na saciedade de adultos. Assim como, a inclusão de 30 g de proteínas em cada refeição mostrou-se auxiliar no controle do apetite, saciedade e controle/redução do peso corporal [11]. Cabe destacar que ingestão proteica deverá ser restrita em pacientes com doença renal crônica (DRC), de acordo com as recomendações do KDOQI, variando entre 0,3 a 0,8 g/kg/dia de proteína total conforme o estágio da DRC. Neste paciente torna-se de extrema importância a avaliação da taxa de filtração glomerular, parâmetros urinários de 24 horas, proteínas totais séricas, ureia sérica, creatinina sérica e demais parâmetros para adequada avaliação clínica do indivíduo [12]. 2.3. Lipídios Os lipídios são definidos pelo conjunto de substancias químicas que têm solubilidade em solventes orgânicos e baixa solubilidade em água. Encontram-se distribuídos em todos os tecidos, principalmente nas membranas células e nas células de gorduras (adipócitos). Os lipídios ao sofrerem hidrólise fornecem ácidos graxos (AG) e outros compostos [2]. De acordo com a I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as interações metabólicas relacionadas aos lipídios e suas recomendações foram norteadas para a aplicação na população brasileira [13]. Na tabela 5 estão apresentadas as funções da VLDL, LDL e HDL. Tabela 5 – As funções e possíveis relações com a saúde das moléculas de VLDL, LDL e HDL colesterol. Tipo Função Relação com estado de saúde VLDL Transportar os triglicerídeos para o tecido adiposo para serem armazenados. Encontram-se aumentados em quadros de hipertrigliceridemia. LDL LDL é derivada da lipólise da VLDL. Acúmulo de LDL resulta em hipercolesterolemia, maior preditor de risco para aterosclerose e doença cardíaca coronariana. HDL Transporta o colesterol dos tecidos periféricos para o fígado, leva colesterol para glândulas produtoras de hormônios esteroides. Níveis diminuídos de HDL são fatores de risco para desenvolvimento de aterosclerose. As recomendações do consumo de ácidos graxos saturados (AGS) são de até 7% do VET, e são indicadas tanto pela ação dos AGS no aumento de Low Density Lipoproteins (LDL) colesterol, quanto no aumento do risco de doença cardiovascular (DCV), evidenciado pelos diversos estudos epidemiológicos apresentados na referida diretriz. Entre os vários componentes dietéticos, são os AG trans que mais aumentam LDL, seguido dos AG saturados, que também aumentam HDL e não alteram a relação colesterol total (CT)/HDL, se comparados ao consumo de CHO [2,13]. O consumo de 1% do VET de AGS esta ́ associado com aumento de 1,3 a 1,7 mg/dL no LDL e 0,4 a 0,5 mg/dL de HDL. A substituição por ácidos graxos poli-insaturados (AGP) e ́ considerada a melhor escolha, pois pode ocasionar diminuição do LDL, aumento da razão HDL/LDL, diminuição da razão CT/HDL, redução de risco de DCV [13-15]. A referida diretriz saliente que não é recomendado o consumo de coco e óleo de coco para tratamento de hipercolesterolemia, sendo necessários estudos adicionais para orientar seu uso nas demais alterações metabólicas. Quanto ao consumo de óleo de palma ou de alimentos contendo grande quantidade deste óleo, não e ́ recomendado para indivíduos com dislipidemia ou na prevenção da dislipidemia e das doenças cardiovasculares. Estudos em humanos e animais, que comparam o efeito metabólico de diferentes dietas, entre elas dieta com alto teor de óleo de palma, observaram aumento significativo de LDL e do colesterol total [13]. Embora seja conhecido que o consumo de gorduras saturadas aumenta os níveis de CT, o consumo regular de manteiga de cacau e chocolate rico em cacau não se relaciona a esse aumento. As quantidades de ácido graxo esteárico são responsáveis pelo efeito neutro sobre o metabolismo do colesterol. Deve-se ter cuidado, no entanto, com chocolate confeccionado com leite, pois poderá conter grande quantidade de ácidos graxos mirístico e láurico, conhecidamente hipercolesterolêmicos [13]. Quando comparada a dieta hipolipídica ou a dietas pobres em gorduras, mas ricas em CHO, a dieta rica em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) proporciona efeitos mais favoráveis sobre os níveis de triglicérides e HDL, para o mesmo grau de redução da colesterolemia. Sabe-se de uma relação entre tipo de gordura consumida e características qualitativas do LDL. Ademais, as dietas contendo MUFA em substituição ao AGP tornam a LDL menos suscetível a ̀ oxidação [13]. Já quanto aos efeitos no perfil glicídico, estudos mecanísticos em humanos demonstraram que intervenções de curto prazo, com substituição de PUFA por AGP, ou o simples aumento do consumo de AGP, poderá acarretar em melhoras na resistência a insulina, resposta da célula beta na produção de insulina, aumento da resposta de produção de incretinas (aumento de GLP-1) e redução do clearance de insulina [13]. E sobre a pressão arterial (PA), estudos mostraram que modificações nas proporções das gorduras, com redução de AGS e aumento de MUFA, podem colaborar para uma redução da pressão arterial. No entanto, esse efeito benéfico poderá ser anulado, se a gordura total consumida for excessiva [13]. A disfunção do endotélio esta ́ intimamente associada a ̀ inflamação da parede vascular. Assim como ocorre para os efeitos da suplementação com AG ômega-3 marinho sobre a resposta inflamatória, os efeitos sobre a função endotelial in vivo, em humanos, são controversos. Uma análise recente de 33 ensaios de intervenção sugere que os AG ômega-3 de origem marinha podem melhorar a função endotelial em sujeitos dislipidêmicos com sobrepeso e em diabéticos,embora os resultados sejam conflitantes em pacientes com DCV e inconsistentes em indivíduos saudáveis [13,14]. Os possíveis mecanismos de ação do o ̂mega-3 seriam os seus efeitos hipotrigliceridêmicos (4 g/dia de o ̂mega-3 - óleo de peixe - provocam uma redução de 25 a 30% na concentração de triglicerídeos séricos e aumento de 1 a 3% no HDL), além de efeitos benéficos sobre a PA (≥ 3 g/dia), efeito antitrombótico (diminuição das plaquetas de agregação e melhora função endotelial, pela redução da expressão de moléculas de adesão) e efeito estabilizador do miocárdio, reduzindo a mortalidade e eventos arrítmicos pós infarto [16]. Na meta-análise de Mozaffarian & Richa, o consumo de peixe ou de óleo de peixe, em uma ingestão modesta de 250- 500mg/dia de ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), em quantidade encontrada em 25g de salmão ou 50g de atum, foi capaz de reduzir em 25% ou mais o risco relativo de mortalidade por DCV [17]. Em sua revisão, McKenney & Sica constataram que a magnitude da redução de triglicerídeos (TG) e ́ dependente do nível basal deste lipídio no plasma. Assim, o tratamento com EPA e DHA promoveu redução de 27% em pacientes que apresentavam TG inicial por volta de 250mg/dL e redução de 45% naqueles com níveis basais de 900mg/dL [18]. Os indivíduos hipertrigliceridêmicos devem consumir de 2g a 4g por dia de EPA e DHA (AG dos quais o o ̂mega-3 é precursor). Quanto aos AG ômega-6, principais ácidos graxos encontrados nos óleos de soja, canola, milho, girassol, existem evidências que, embora não conclusivas, permitem sugerir a substituição de AGS e trans por AGP com o objetivo de diminuir o risco de DM tipo 2 [13]. Além disso, ha ́ evidências de um maior efeito protetor dos AG ômega- 6 em relação aos ômega-3 sobre o risco de DM. Em teoria, o aumento da ingestão de ômega-6 poderia elevar a geração de mediadores inflamatórios implicados com diversas processos patológicos, incluindo aterosclerose e seus fatores de risco tradicionais, como HAS, DM e obesidade. No entanto, a real relevância clínica deste possível efeito ainda não esta ́ bem determinada. A relação ômega-6/ômega-3, originalmente em torno de 1:1 a 2:1, encontra- se entre 15:1 a 40:1 na dieta ocidental [13]. Quanto o consumo de AG trans está relacionado com alteração no perfil lipídico (aumento de colesterol total e LDL, diminuição de TG e aumento de partículas de LDL e diminuição de HDL), aumento da sensibilidade insulínica, especialmente em indivíduos com predisposição a resistência insulínica, aumento da inflamação, e assim, aumento de risco para DCV. O consumo de AG trans proveniente de produtos industrializados deverá ser o mínimo possível, não ultrapassando 1% do VET [13]. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – Hall JE. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2011. 2 – Mahan LK, Escott-Stump S, Raymond JL. Krause – Alimentos, Nutric ̧ão e Dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2013. 3 – Malik VS, Hu FB. Fructose and cardiometabolic health: What the evidence from sugar-sweetened beverages tells us. J Am Coll Cardiol. 2015;66(14):1615-1624. 4 – Simopoulos AP. 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