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A TERCEIRIZAÇÃO COMO FERRAMENTA DE FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHADOR Outsourcing as a tool to flexibilize the worker’s fundamental rights Revista dos Tribunais | vol. 994/2018 | p. 275 - 307 | Ago / 2018 DTR\2018\18330 Alexssandra Amorim de Oliveira Advogada. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Estado de Minas Gerais. alexssandraamorim@hotmail.com Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas Doutora e Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Coordenadora do Curso de Direito da Uniesp – Professora de Direito da PUC Minas, UNIESP, Polícia Militar de Minas Gerais. Professora Tutora do Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Servidora Pública Federal do TRT MG. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Gama Filho. Especialista em Educação à distância pela PUC Minas. Especialista em Direito Público – Ciências Criminais pelo Complexo Educacional Damásio de Jesus. Bacharel em Administração de Empresas e Direito pela Universidade FUMEC. claudiamaraviegas@yahoo.com.br Área do Direito: Trabalho Resumo: O presente trabalho tem como escopo fazer uma abordagem sobre a terceirização e a efetivação dos direitos trabalhistas fundamentais previstos na Constituição Federal. Para tanto, por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, serão analisados os princípios básicos do Direito do Trabalho, perpassando pelos direitos fundamentais do trabalhador, para, posteriormente, tratar do instituto da terceirização, nas suas modalidades de contratação de empregados, de forma lícita e ilícita. Verificar-se-á, por fim, a possibilidade de aplicação da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, nas relações de trabalho, como forma de proteção ao trabalhador. Quer se demonstrar, portanto, que a terceirização ampla de serviços afronta os direitos fundamentais do trabalhador, previstos na Constituição Federal, sendo a incidência da eficácia dos direitos fundamentais um eficiente mecanismo de proteção do trabalhador contra a terceirização ilícita. Palavras-chave: Terceirização – Terceirização ilícita – Direitos fundamentais – Eficácia – Súmula 331 do TST Abstract: The present work has as scope to make an approach on outsourcing and the realization of human labor rights provided for in the Federal Constitution. For both, through bibliographic research and case law, will be analyzed the basic principles of labor law, covering the fundamental rights of the worker, and then deal with the institute of outsourcing, in its arrangements for recruitment of employees, both licit and illicit ways. It will verify, finally, the applicability of the theory of effectiveness across the fundamental rights, in labor relations, as a form of protection to the worker. The goal is to demonstrate, therefore, that the large outsourcing of services affront the fundamental rights of the worker provided for in the Federal Constitution and the incidence of the effectiveness of fundamental rights as an efficient mechanism of worker protection against unlawful outsourcing. Keywords: Outsourcing – Licit outsourcing – Fundamental rights – Effectiveness – TST’s precedent 331 Sumário: 1.Introdução - 2 Direitos trabalhistas fundamentais - 3 Terceirização - 4 A Súmula 331 do TST - 5 A terceirização e os direitos trabalhistas fundamentais - 6 A eficácia dos direitos fundamentais como instrumento de proteção do trabalhador contra a famigerada terceirização - 7 Conclusão - Referências A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 1 1.Introdução O objetivo central do trabalho em voga é verificar se a terceirização ilícita é utilizada pelas empresas como um instrumento de flexibilização dos direitos trabalhistas do empregado, tendo em vista que tal relação laboral não garante os direitos e garantias fundamentais do trabalhador. A terceirização é um instituto que permite ao empregador possuir uma prestação de serviço em sua atividade-meio, sem gerar vínculo jurídico com o empregado. Sendo certo que tal instituto está presente em nossa sociedade, não há como negar os benefícios econômicos que tal fenômeno traz ao empregador e ao mercado. Todavia, não se pode igualmente deixar de lado a degradação da dignidade, a integridade física e mental que a terceirização traz ao empregado. Isso porque muitas empresas efetuam a contratação de mão de obra através da terceirização, de forma ilegal, buscando uma diminuição de gastos com o empregado e consequente aumento de lucro pela produção de baixo valor. A dificuldade surge exatamente em proteger o empregado, de modo a garantir a eficácia de seus direitos fundamentais, principalmente quando as empresas utilizam da terceirização ilícita. Percebe-se então que a discussão que se traz à análise possui grande importância, haja vista a discussão implicar garantias constitucionais, bem como ser o assunto de grande relevância no contexto jurídico e social, tanto para os empregados terceirizados, que ficam desprotegidos com o instituto da terceirização, quanto para as empresas que contratam tal mão de obra de forma desregrada, estando à mercê de uma demanda trabalhista. Para melhor debater o estudo, faz-se necessário organizá-lo. Inicialmente, serão apresentados os direitos trabalhistas fundamentais do trabalhador, com suas características e previsão constitucional, incluindo uma breve abordagem histórica. Posteriormente, o instituto da terceirização, bem como as diferenças entre terceirização lícita e terceirização ilícita serão discorridos, incluindo uma análise da Súmula 331 do TST, que atualmente é o instrumento que trata tal instituto. Em sequência, será realizada uma análise da terceirização à luz dos direitos trabalhistas, incluindo as alterações trazidas pela Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436). Por fim, a eficácia dos direitos fundamentais será analisada como uma forma de proteger o trabalhador do instituto da terceirização. O presente trabalho advém de uma metodologia qualitativa e fática para demonstrar o estudo levantado. Dessa forma, serão estudadas as doutrinas e leis trabalhistas acerca do tema. Igualmente, será aplicado o método analítico, com procedimento de análise do material de pesquisa, para reflexões críticas dos resultados obtidos, além de métodos dedutivos. Assim, diante do apresentado, dá-se início ao estudo. 2 Direitos trabalhistas fundamentais Os direitos trabalhistas fundamentais possuem garantia Constitucional, conforme se vê pelos intitulados direitos sociais. As garantias e os direitos fundamentais, bem como sua aplicação nas relações de trabalho, é um dos pontos que se faz necessária uma explanação. 2.1 Abordagem histórica dos Direitos Fundamentais do Trabalho Para compreensão dos direitos fundamentais do trabalho faz-se necessária uma breve abordagem história, que começa com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 2 da Revolução Francesa, como grande marco histórico para seu reconhecimento. Tal declaração foi aprovada pela Assembleia Nacional Francesa em 1789, conforme menciona Paulo Bonavides: A vinculação essencial dos direitos fundamentais à liberdade e à dignidade humana, enquanto valores históricos e filosóficos nos conduzirão sem óbices ao significado de universalidade inerente a esses direitos como ideal da pessoa humana. A universalidade se manifestou pela primeira vez, qual descoberta do racionalismo francês da Revolução, por ensejo da célebre Declaração dos Direitos do Homem de 1789 (BONAVIDES, 2008, p. 562). Posteriormente, houve as promulgações das Constituições Francesas e dos Estados Unidos da América, reconhecendo direitos como o de liberdade de ir e vir, liberdade de reunião, entre outros. Houve ainda a promulgação da nova Constituição da França, que determinou claramente os direitos fundamentais dos indivíduos, como o direito à vida, à igualdade, à intimidade, entre outros (BONAVIDES, 2008). AsRevoluções Burguesas na Inglaterra, América e França surgiram com o Estado Liberal, que passou a resguardar direitos políticos e individuais à classe economicamente hegemônica. A ideia de liberdade construída perante o Estado, que tinha os ideais da liberdade burguesa contra os do absolutismo, denominou os direitos da primeira dimensão (BONAVIDES, 2008). A expulsão do homem do campo devido à mecanização do setor têxtil além dos avanços tecnológicos foi o grande marco da Revolução Industrial, que resultou em uma mão de obra disponível e de menor valor, pondo a hegemonia do Estado Liberal em risco, devido ao grande estado de miséria que se espalhou, pelo que vários textos constitucionais se preocuparam com a questão social (BONAVIDES, 2008). O resguardo do Estado de Direito com o domínio dos direitos sociais, culturais e econômicos solidificou a segunda dimensão dos direitos fundamentais, que se consagraram com constituições e pactos internacionais no pós-Segunda Guerra Mundial (BONAVIDES, 2008). Com a consolidação do Estado Democrático de Direito, a solidariedade de uma coletividade indeterminada apontou alguns direitos difusos, como o direito ao meio ambiente e direito do consumidor, formando, assim, a terceira geração dos direitos fundamentais. A quarta geração dos direitos fundamentais teve a universalização da democratização, da informação e do pluralismo como uma dimensão máxima, e a quinta geração dos direitos fundamentais relacionou os direitos de paz com um direito fundamental. Após o fim da Guerra Fria, a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais e o seu Segmento foi adotada. Tal documento foi uma reafirmação para promoção e aplicação dos princípios fundamentais de direito no trabalho, referente à liberdade de associação e organização sindical, à eliminação de todas as forças de trabalho forçado ou obrigatório, bem como da discriminação em matéria de emprego e ocupação e, ainda, à abolição do trabalho infantil. Os direitos fundamentais, assim, são dotados de funções, como a de defesa ou liberdade, que proíbe a interferência do Estado na esfera jurídica dos particulares; a função de prestação social, em que o Estado promove o bem-estar social mediante a instituição e efetivação de políticas públicas; a função de prestação perante terceiros, em que o Estado protege os cidadãos de práticas ofensivas aos direitos fundamentais praticados nas relações entre os particulares; e na função de não discriminação, que abrange todos os direitos, garantindo o tratamento isonômico aos indivíduos da sociedade. Sob a ótica dos Direitos Sociais, a Constituição Federal de 1988 tratou dos direitos dos A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 3 trabalhadores em seu artigo 7º. Dessa forma, os Direitos Fundamentais dos Trabalhadores restaram devidamente expressos. 2.2.Características dos Direitos Fundamentais do Trabalho Os direitos fundamentais possuem algumas características, entre elas, podemos citar algumas como principais, quais sejam: historicidade; concorrência; efetividade; complementariedade; imprescritibilidade; inalienabilidade; inviolabilidade; irrenunciabilidade; e universalidade. A historicidade consiste na evolução dos direitos, que ocorreram em meio a diversos acontecimentos históricos, como as diversas revoluções ocorridas que resultaram na criação dos direitos fundamentais. A concorrência nos traduz que mais de um dos direitos fundamentais podem ser exercidos acumuladamente. A efetividade determina que o Poder Público deve garantir os direitos fundamentais de forma efetiva, usando, inclusive, meios coercitivos se assim forem necessários. A complementariedade significa que os direitos fundamentais devem ser observados conjuntamente com as demais normas, princípios e objetivos do constituinte, visando sua absoluta realização. Já a imprescritibilidade determina a permanência desses direitos, bem como a permissão do seu exercício a qualquer tempo, sem que exista qualquer limite temporal à sua exigibilidade. A inalienabilidade caracteriza a impossibilidade de negociação desses direitos, por serem indisponíveis, intransferíveis e inegociáveis, tendo em vista seu conteúdo econômico patrimonial. A inviolabilidade consiste na impossibilidade de outra autoridade ou lei infraconstitucional violar os direitos do outro, sob pena de responsabilidade civil, penal e administrativa. A irrenunciabilidade garante a impossibilidade de renúncia dos direitos fundamentais, ainda que não seja exercido pelo cidadão. Por fim, tem-se a universalidade, que significa que os direitos fundamentais alcançam a todos os seres humanos, sem nenhuma distinção quanto a cor, raça, crença, convicção política ou nacionalidade. Os direitos fundamentais do trabalhador estão presentes na Constituição Federal (LGL\1988\3) e, dessa forma, as características mencionadas consistem nas características dos direitos fundamentais do trabalho. 2.3.Direitos fundamentais do trabalhador na Constituição Federal O artigo 5º da Constituição Federal (LGL\1988\3) prevê os direitos e garantias fundamentais, entre eles, o direito social, que no artigo 7º do mesmo dispositivo dispõe aceca dos direitos dos trabalhadores. Os diretos fundamentais possuem grande relevância, tendo em vista que detêm posição de destaque nas relações de produção, além de valor social e econômico. Pode-se dizer que os direitos fundamentais trabalhistas surgiram em decorrência da hipossuficiência do trabalhador em relação ao empregador. Assim, o direito ao emprego, além de estar vinculado ao princípio protetor, proporciona correção jurídica à desigualdade econômica existente entre empregador e trabalhador, além do princípio da liberdade quanto às imposições de limites que uma relação de emprego pode instituir ao tempo e à vida do empregado. No inciso I do artigo 7º da Constituição Federal (LGL\1988\3) resta estabelecido que o empregado possua proteção na relação de emprego: A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 4 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos (BRASIL, 1988). A garantia dos direitos fundamentais integra cláusulas abertas e interpretam lacunas infraconstitucionais, sempre em favor do princípio da máxima efetividade da Constituição. Entre os direitos fundamentais dos trabalhadores previstos na Constituição Federal (LGL\1988\3), pode-se citar, além do direito ao emprego, o direito à saúde e à segurança, previsto em seu artigo 7º, XXII; o direito ao repouso e ao lazer, previsto em seu artigo 7º, incisos IV e XV; o direito à liberdade sindical, previsto em seu artigo 8º; o direito de greve, previsto no artigo 9º; e o direito de participação nos colegiados dos órgãos públicos, previsto no artigo 10 (BRASIL, 1988). Dessa forma, as relações entre particulares possuem respaldo da Constituição para aplicação dos direitos fundamentais, buscando a proteção e a melhoria da condição social do trabalhador. 3 Terceirização Algumas considerações primordiais são necessárias para delimitação do objeto do presente trabalho acerca do instituto da terceirização. Nesse sentido, para melhor entendimento, é necessário definir a terceirização. Após tal definição, será feita uma abordagem quanto à caracterização da terceirização e seus efeitos jurídicos, bem como uma diferenciação entre terceirização lícita e terceirização ilícita, e as consequências da terceirização ilícita. 3.1 Definição de terceirização A terceirização consiste em uma forma de o empregador possuir, sem vínculo jurídico direto, uma prestação de serviços em sua atividade-meio, conforme delimitado pela Súmula 331 do TST. Para Maurício Godinho, a terceirização é o: Fenômeno pela qual se dissocia a relação econômicade trabalho da relação justrabalhista que lhe seria correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços justrabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente (DELGADO, 2015, p. 473). O instituto da terceirização se dá mediante relação trilateral, envolvendo o empregado, a prestadora de serviços e a tomadora de serviços, na qual o empregado é contratado pela empresa prestadora de serviços, mantendo junto a ela todo e qualquer vínculo empregatício, e a empresa tomadora de serviço contrata a prestação de serviços daquele funcionário, para realização de atividades limitadas, não ligadas à atividade-fim da empresa. Dessa forma, a empresa tomadora de serviços tem vínculo apenas com a empresa prestadora de serviços, sem qualquer vínculo empregatício direto com o funcionário da empresa prestadora de serviços, mesmo que o serviço seja prestado em sua empresa. Nesse contexto, importante destacar o que menciona Maurício Godinho Delgado: A terceirização provoca uma relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no mercado capitalista: o obreiro, o prestador de serviços, que realiza suas atividades materiais e intelectuais junto à empresa tomadora de serviço; a empresa terceirizante, que contrata este obreiro, firmando com ele os vínculos jurídicos A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 5 trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora dos serviços, que recebe prestação de labor, mas não assume a posição clássica de empregadora desse trabalhador envolvido. O modelo trilateral de relação socioeconômica e jurídica que surge com o processo terceirizante é francamente distinto do clássico modelo empregatício, que se funda em relação de caráter essencialmente bilateral. Essa dissociação entre relação econômica de trabalho (firmada com a empresa tomadora) e relação jurídica empregatícia (firmada com empresa terceirizante) traz graves desajustes em contraponto aos clássicos objetivos tutelares e redistribuitivos que sempre caracterizam o Direito do Trabalho ao longo da sua história (DELGADO, 2015, p. 473). A terceirização, então, é uma forma de prestação de serviços, que tem como objetivo a redução de gastos do empregador, de modo a melhorar a qualidade dos serviços de atividade-meio da empresa e concentrar os funcionários da empresa em sua atividade-fim. 3.2 Terceirização lícita e terceirização ilícita A terceirização se distingue em lícita e ilícita, sendo ambas uma forma excepcional de contratação de trabalho, tendo em vista que o Brasil adota uma fórmula empregatícia clássica. Está prevista em quatro situações, especificadas na Súmula 331 do TST, sendo a primeira delas o caso de contratação de trabalho temporário, autorizadas pela Lei 6.019/74 (LGL\1974\8), que determina em seu artigo 2º o conceito de trabalhador temporário, qual seja: Art. 2º Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviços (BRASIL, 1974). Em seguida, tem-se a contratação de serviços de vigilância de qualquer estabelecimento, contratado junto a empresa especializada. Importante mencionar que, nesse caso, a Súmula 331 do TST amplia o conceito da Lei 7.102/83 (LGL\1983\13), que limita a terceirização dos serviços de vigilância apenas no segmento financeiro. Posteriormente, tem-se a hipótese de atividades de conservação e limpeza. Por fim, têm-se os serviços ligados à atividade meio do tomador, ou seja, atividades secundárias, que não envolvam a essência da empresa tomadora. Nesse sentido, classifica Maurício Godinho Delgado: Em síntese, considerada a autorização restritiva que a ordem jurídica, inclusive constitucional, confere à terceirização – mantendo-a como prática excetiva –, as atividades-meio têm de ser conceituadas também restritivamente. Consistem, dessa maneira, nas atividades meramente instrumentais, acessórias, circunstanciais ou periféricas à estrutura, à dinâmica e aos objetivos da entidade tomadora de serviços (DELGADO, 2015, p. 290). A terceirização ilícita também está prevista na Súmula 331 do TST em algumas situações, sendo a primeiras elas, o caso de contratação de trabalhadores por empresa interposta, não autorizado em lei, de forma a existir vínculo direto com o tomador de serviços. A segunda forma de terceirização ilícita se dá nos casos em que existe pessoalidade e subordinação direta nas atividades prestadas tanto no segmento de vigilância como no de conservação e limpeza, ou nos serviços ligados à atividade-meio da empresa, visto que tais características configuram a condição de empregado na relação de emprego. No mais, a terceirização ilícita ocorre em todas as outras relações não autorizadas pela lei como lícitas, visto que o direito brasileiro não autoriza contratos trabalhistas com todos os requisitos para uma relação de emprego, sem que o tomador responda pela A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 6 relação empregatícia estabelecida. 3.3 A caracterização e seus efeitos jurídicos A terceirização se caracteriza pela contratação de um serviço especializado, no qual um empregado, vinculado a uma empresa prestadora de serviço, irá prestar atividades determinadas a uma empresa tomadora de serviço, sem gerar vínculo jurídico com ela. No cenário jurídico, a terceirização destaca dois pontos, sendo o primeiro a relação firmada entre a empresa tomadora de serviço e a empresa prestadora de serviço, e o segundo, referente à isonomia salarial entre os trabalhadores terceirizados e contratados. Para a terceirização lícita, inexistirá vínculo jurídico entre a empresa tomadora de serviço e o empregado, haja vista que será válida a relação trilateral, inexistindo alteração dos vínculos jurídicos fixados entre as partes. Já na terceirização ilícita, haverá caracterização de vínculo jurídico do empregado com a empresa tomadora de serviço, visto que o originário vínculo jurídico com a prestadora de serviço se desfaz e cria-se um vínculo direto com o tomador do serviço. Tem-se ainda a isonomia salarial, que, na terceirização lícita, existe a previsão legal para pagamento de salário isonômico ao empregado terceirizado em relação ao empregado de mesma categoria, nos casos de trabalho temporário, previstos no artigo 12, a, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8): Art. 12 – Ficam assegurados ao trabalhador temporário os seguintes direitos: a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional (BRASIL, 1974). Dessa forma, parte da jurisprudência entende que todas as parcelas salariais pagas aos empregados da empresa tomadora de serviços também serão pagas aos trabalhadores terceirizados, contudo, existe divergência jurisprudencial que entende não haver comunicação nos casos em que não forem correspondentes a trabalho temporário. Já nos casos de terceirização ilícita, havendo vínculo direto de emprego, consequentemente haverá a isonomia salarial do empregado da empresa tomadora de serviço com o empregado terceirizado. Importante mencionar que, em se tratando de ente da Administração Pública, direta ou indireta, não haverá que se falar em vínculo com o tomador de serviços, vez que, para tal, se faz necessária a presença de concurso público, conforme determina o artigo 37, inciso II e parágrafo 2º, da Constituição Federal (LGL\1988\3), que prevê: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pelaEmenda Constitucional n. 19, de 1998 (LGL\1998\67)) [...] II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998 (LGL\1998\67)) (BRASIL, 1988). [...] § 2º A não-observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 7 punição da autoridade responsável, nos termos da lei. Assim, caso ocorra conduta culposa da Administração Pública, especialmente no que tange à fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais, haverá responsabilidade subsidiária desta. Por fim, insta salientar a possibilidade de a empresa tomadora de serviço responder de forma subsidiária em casos de inadimplemento das obrigações trabalhistas e, desde que a empresa tomadora de serviço tenha participado da relação processual e esteja também no título executivo extrajudicial. 3.4 Vínculo jurídico e responsabilidade trabalhista na terceirização ilícita A terceirização ilícita consiste em trabalho realizado de forma ilegal, de modo a diminuir os direitos do empregado, vez que se encontra em dissonância com a previsão legal. Havendo terceirização ilícita, os empregados terceirizados terão o vínculo jurídico junto à prestadora de serviço desfeito, haja vista o vínculo direto formado com a empresa tomadora de serviço e a inexistência da relação trilateral entre empregado, a tomadora de serviço e prestadora de serviço. Para configuração de tal vínculo jurídico direto, faz-se necessária a contratação não autorizada em lei por empresa interposta, a pessoalidade e subordinação nas atividades prestadas no segmento de vigilância e de conservação e limpeza ou nos serviços ligados a atividade-meio da empresa e, por fim, nos demais casos não autorizados em lei. Sobre o tema, leciona Maurício Godinho: Reconhecido o vínculo empregatício com o empregador dissimulado, incidem sobre o contrato de trabalho todas as normas pertinentes à efetiva categoria obreira, corrigindo-se a eventual defasagem de parcelas ocorrida em face ao artifício terceirizante (DELGADO, 2015. p. 491). Importante mencionar que, visando preservar os direitos do trabalhador, o artigo 9º da CLT (LGL\1943\5) determina que seja nula a relação de emprego que cause danos ao empregado, sendo a terceirização ilícita uma dessas hipóteses: Art. 9º – Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação (BRASIL, 1943). Assim, caracterizada a terceirização ilícita, a empresa tomadora de serviço responderá de forma solidária junto a empresa prestadora de serviço, sendo a determinação do vínculo empregatício dada pela Justiça do Trabalho. 4 A Súmula 331 do TST Para se tratar da terceirização, faz-se necessária uma análise da Súmula 331 do TST, conforme faremos a seguir, comentando cada um de seus incisos. Contrato de prestação de serviços. Legalidade (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) – Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011. I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n. 6.019, de 03.01.1974 (LGL\1974\8)) (BRASIL, 2011). O inciso I da súmula trata a hipótese de terceirização legal e ilegal, sendo a primeira a contratação de trabalhadores por empresa interposta, autorizada em lei, como é o caso do trabalhador temporário. Assim, nos termos da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8), o trabalhador temporário tem o contrato limitado a 180 dias, prorrogáveis por mais 90 dias, se comprovada a manutenção das condições que o ensejaram, podendo o referido A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 8 contrato versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim, inexistindo vínculo de emprego, independentemente do ramo da empresa tomadora de serviços. Importante mencionar que, nesse contrato, a empresa tomadora de serviço responderá subsidiariamente em relação as obrigações trabalhistas do empregado. Igualmente, importante salientar também que, nesses casos, não se aplica o contrato de experiência. No caso da terceirização ilegal ou ilícita, haverá contratação nos termos mencionados, sem que se trate de um contrato de trabalho temporário, o que gerará vínculo direto de emprego entre o empregado e a empresa tomadora de serviço, bem como ensejará a responsabilidade solidária desta. II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988 (LGL\1988\3)) (BRASIL, 2011). O inciso II trata a hipótese de contratação prevista no inciso I, mas nos casos em que se tenha a Administração Pública como tomadora de serviço, na qual, ainda que a contratação seja ilícita, ou seja, mediante empresa interposta, não haverá vínculo direto, visto que, para tal, se faz necessário a existência de concurso público, conforme mencionado anteriormente. III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n. 7.102, de 20.06.1983 (LGL\1983\13)) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta (BRASIL, 2011). O inciso III trata a hipótese de contratação de serviço de vigilância, conservação e limpeza, e aqueles ligados a atividade-meio da empresa, sendo estes lícitos inexistentes à pessoalidade e à subordinação direta. Para o caso da terceirização ilícita prevista neste artigo, faz-se necessário a existência de pessoa certa e específica, que não pode ser substituída, ou seja, pessoalidade. Bem como se faz necessário a existência de comando e imposição de ordens da empresa tomadora de serviço em relação ao obreiro, ou seja, a subordinação. Quanto à hipótese da atividade-meio, a prestação de serviço não poderá ocorrer na atividade principal da empresa (atividade-fim), mas somente nas atividades secundárias da empresa (atividade-meio). IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial (BRASIL, 2011). O inciso IV trata sobre a responsabilidade subsidiária da empresa tomadora de serviços, quanto ao inadimplemento das obrigações trabalhistas do empregado, devendo, para tanto, existir participação da empresa tomadora de serviço na relação processual, bem como no título executivo judicial. V – Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n. 8.666, de 21.06.1993 (LGL\1993\78), especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada (BRASIL, 2011). O inciso V trata novamente sobre a responsabilidade subsidiária dos entes integrantes da Administração Pública, inserindo aqui a hipótese de tal responsabilidade quando o A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 9 ente agir de forma culposa ao não averiguar o cumprimento das obrigações contratuais e legais da empresa prestadora de serviço junto ao empregado, conforme previsto na Lei de Licitação.VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral (BRASIL, 2011). Por fim, tem-se o inciso VI, dispondo que a responsabilidade subsidiária do tomador de serviço abrangerá todas as verbas determinadas pela Justiça do Trabalho durante todo o período da prestação laboral. Como se vê, a Súmula 331 do TST especifica em quais atividades pode ocorrer a terceirização, bem como as penalidades para os casos de terceirização ilícita, tratando ainda a responsabilidade dos entes da Administração Pública para os casos de terceirização ilícita, ou ausência de cumprimento do seu dever de averiguação quanto às obrigações trabalhistas dos empregados. 5 A terceirização e os direitos trabalhistas fundamentais A terceirização, por ser uma forma incomum de contratação de mão de obra, pode afrontar e deixar de aplicar alguns direitos trabalhistas fundamentais. Dessa forma, serão tratados no presente capítulo os princípios do Direito do Trabalho, fazendo uma análise quanto a sua aplicação na terceirização. Ademais, serão tratadas as lesões acarretadas ao trabalhador pelo instituto da terceirização, além de seu uso ilícito como uma ferramenta de flexibilização dos Direitos Trabalhistas. Por fim, serão feitas algumas das principais alterais que a “Lei da Terceirização” trouxe. 5.1 Princípios do direito do trabalho e a terceirização O direto do trabalho possui alguns direitos basilares, que auxiliam na criação, interpretação e aplicação de suas normas, dos quais se discorre brevemente, pontuando acerca da terceirização. O primeiro princípio a ser tratado é o princípio da proteção, o qual visa resguardar o empregado nas relações de emprego, haja vista sua hipossuficiência. Na terceirização, vê-se que, de certa forma, o empregado tem tal princípio aplicado, tendo em vista a possibilidade de vínculo direto do empregado com a empresa tomadora de serviço, bem como a responsabilidade solidária ou subsidiária desta, no caso de terceirização ilícita. Todavia, resta claro que tal princípio não está totalmente aplicado na terceirização, vez que o empregado não possui uma completa proteção, e sim um aproveitamento por parte das empresas da hipossuficiência do empregado. O segundo princípio é o da norma mais favorável, determinando a aplicação e interpretação da norma mais favorável ao empregado, sempre que houver mais de uma norma a ser aplicada. Todavia, a terceirização, por ser um instituto com poucos instrumentos que a regule, não há que se falar em mais de uma norma a ser aplicada, sendo a norma aplicada pouco favorável ao empregado. Em seguida, tem-se o princípio da condição mais benéfica, que preserva e mantém a cláusula contratual mais vantajosa ao empregado. Na terceirização não há muitas considerações a se fazer acerca de tal princípio. Posteriormente, tem-se o princípio do in dúbio pro operario, que prevê uma interpretação mais favorável ao empregado sempre que for permitido. Contudo, na terceirização inexiste a possibilidade de se aplicar uma norma mais favorável ao empregado pela sua própria natureza, visto que não há muitas normas a serem aplicadas. Tem-se ainda o princípio da primazia da realidade sobre a forma, que possibilita que a A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 10 realidade contratada supere qualquer documentação escrita. No caso da terceirização, a aplicação de tal princípio descaracterizaria a relação trilateral, visto que, na prática, o funcionário é empregado do tomador do serviço, pelo que se entende que haveria vínculo jurídico de emprego, sendo o tomador a empresa responsável pelo empregado. O princípio da continuidade da relação de emprego exprime a ideia de que o direito do trabalho se interessa pela permanência do vínculo entre a empresa e a integração do empregado. Contudo, na terceirização, o empregado possui contrato com uma empresa (prestadora de serviço), mas, na prática, está integrado a outra empresa (tomadora de serviço), não havendo, assim, a aplicação de tal princípio, tendo em vista que o funcionário não tem qualquer garantia de permanência ou integração na estrutura dinâmica empresarial da empresa para a qual presta serviço. O princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas determina uma impossibilidade de o empregado dispor de seus direitos, de forma a assegurar as vantagens e proteções previstas na ordem jurídica do contrato. Entretanto, a terceirização, por si só, faz com que o empregado disponha de alguns de seus direitos, considerando que não possui os mesmos benefícios da ordem jurídica do contrato dos empregados da empresa tomadora de serviço. O princípio da inalterabilidade contratual lesiva visa proteger o empregado de alterações contratuais lesivas, não as permitindo. Na terceirização, tal princípio se aplica, visto que existe a possibilidade de o empregado ter vínculo direto com a empresa tomadora de serviço e consequente responsabilidade solidária ou subsidiária desta, não havendo então inalterabilidade. Por fim, tem-se o princípio da imperatividade das normas trabalhistas, que restringe a autonomia das partes em um contrato trabalhista, de modo a prevalecer sempre as normas contidas nos diplomas legais. Por certo, pode-se afirmar que a terceirização não aplica tal princípio, vez que, por ser a terceirização um modelo trilateral de relação jurídica, não há a prevalência das normas dos diplomas legais aplicáveis a uma relação normal de trabalho. 5.2 As lesões aos trabalhadores terceirizados Os trabalhadores terceirizados sofrem algumas lesões, visto que, conforme mencionado, não dispõem de todos os princípios do direito do trabalho. Além da inaplicabilidade de alguns princípios, resta claro que os trabalhadores terceirizados, seja na terceirização lícita, seja na terceirização ilícita, não têm os mesmos direitos do trabalhador que possui vínculo jurídico direto com a empresa. Isso porque, a terceirização, possibilita às empresas tomadoras de serviço uma espécie de contratação de mão de obra de menor valor, sem gerar vínculo empregatício que acarrete em gastos com o empregado. Dessa forma, considerando os empregados da empresa tomadora de serviço e o empregado terceirizado, este último deixa de auferir vantagens e benefícios que o empregado da empresa tomadora de serviços possui. Ocorre uma distinção entre os trabalhadores terceirizados e os contratados pela empresa tomadora de serviço, como a desigualdade de salários e diferenças nas condições de trabalho. Importante mencionar, ainda, que o empregado terceirizado, por não possuir vínculo jurídico direto com a empresa tomadora de serviço, não possui plano de carreira ou qualquer perspectiva de crescimento, visto que é contratado por uma empresa que possui apenas vínculo contratual e presta serviço de forma efetiva para uma empresa que não possui vínculo jurídico. Existe, ainda, a saúde e a segurança do trabalhador, que deixa de ser amparada na terceirização, visto que as empresas não investem em segurança e medidas preventivas A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 11 para esses empregados prestadores de serviço, acarretando diversos acidentes de trabalho. Importante mencionar, ainda, que os acidentes são ocasionados também pelos locais precários e arriscados em que muitas vezes executam suas tarefas, haja vista que as empresas tomadoras de serviço transferem a empresa prestadora de serviços a responsabilidade do contrato de trabalho, sem que consiga arcar com tais responsabilidades. Outra problemática se dá pelo fato de não haver maior sindicalização dos funcionários terceirizados, conforme retrata o Dossiê “Terceirização e Desenvolvimento uma Conta que não Fecha” desenvolvido pela Central Única dos Trabalhadores – CUTBrasil: [...] a terceirização reforça a pulverização e a fragmentação. Trabalhadores, antes representados por sindicatos com histórico de organizaçãoe conquistas, passam a ter como interlocutoras entidades ainda frágeis do ponto de vista da capacidade de organização e reivindicação (CUT, 2014). Assim, aumentando a possibilidade de abuso dos empregados, tendo em vista que a diminuição de representação sindical, dificulta-se a organização política dos trabalhadores terceirizados, bem como prejudica a manutenção e conquista de direitos. Pelo exposto, resta-nos claro que a terceirização precariza as relações de trabalho, sendo o trabalhador o principal prejudicado, que tem seus direitos trabalhistas e previdenciários reduzidos. 5.3 A terceirização como forma de flexibilizar os direitos trabalhistas Os direitos trabalhistas estão previstos na Constituição Federal (LGL\1988\3), de modo a proteger o empregado nas relações de trabalho, haja vista sua hipossuficiência. A flexibilização das leis trabalhistas consiste em forma de diminuir seu rigor normativo, e tal diminuição vem sendo buscada pelas empresas, tendo em vista o aumento da produtividade e qualidade, com a diminuição dos custos dos produtos. Nessa seara, a utilização de mão de obra barata pelas empresas acaba por desonerar o empregador de seus encargos trabalhistas, vez que oculta algumas relações de emprego. Todavia, para o empregado, restou apenas o ônus do instituto da terceirização, vez que muitos de seus direitos trabalhistas não foram resguardados, como o direito à saúde e à segurança, previstos no artigo 7º, inciso XXII, da Constituição Federal (LGL\1988\3), visto que a terceirização submete os empregados a exercerem suas funções em condições precárias, sem prevenção de acidentes e sem obterem os mesmos direitos que os empregados da empresa. Nesse sentido, cumpre destacar que os acidentes de trabalho, em sua maioria, envolvem trabalhadores terceirizados, tendo em vista a ausência de proteção do empregado, conforme afirma o Dossiê da CUT: São inúmeros os acidentes e mortes entre os trabalhadores terceirizados computados todos os anos. A conclusão é óbvia para trabalhadores, especialistas e profissionais do trabalho: os trabalhadores terceirizados estão mais sujeitos a acidentes e mortes no local de trabalho do que os trabalhadores contratados diretamente. As empresas não investem em medidas preventivas, mesmo que as atividades apresentem situações de maior vulnerabilidade aos trabalhadores (CUT, 2014). Ainda segundo dados do Dossiê da CUT: De 2005 para 2012, o número de trabalhadores terceirizados cresceu 2,3 vezes na Petrobras e o número de acidentes de trabalho explodiu: cresceu 12,9 vezes. Nesse período, 14 trabalhadores da Petrobras morreram durante suas atividades laborais. Entre os trabalhadores terceirizados, foram 85. A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 12 • Na Klabin, onde 37,5% dos trabalhadores são terceirizados, a taxa de acidentes é de 3,32 entre os trabalhadores terceiros e 2,79 entre os diretos (CUT, 2014). Igualmente, pode-se citar o direito à liberdade sindical prevista no artigo 8º da Constituição Federal (LGL\1988\3), o qual restou prejudicada com a terceirização, tendo em vista que os empregados terceirizados não possuem uma organização sindical representativa de sua categoria profissional, conforme prevê o artigo 8º, inciso II, da Constituição Federal (LGL\1988\3). No mais, a terceirização impõe pagamentos de salários diferentes para empregados que emprenham a mesma função, estando ambos subordinados ao mesmo estabelecimento. Insta salientar que a terceirização ilícita é reconhecida pelos tribunais, conforme se vê a seguir: Responsabilidade solidária. Terceirização ilícita de mão de obra. É indiscutível que a terceirização é utilizada pelas empresas como forma de minimizar custos de produção. Todavia, ao optarem por tal procedimento estão sujeitas aos riscos intrínsecos dessa delegação, os quais abrangem não só a qualidade dos serviços terceirizados, mas também eventuais danos causados aos empregados das prestadoras de serviços decorrentes do descumprimento, por parte das terceirizadas, das obrigações próprias do contrato de trabalho. Considerando, ademais, a terceirização da atividade-fim, devem as empresas responder de forma solidária pelo adimplemento das obrigações contratuais. TRT-4 – Recurso Ordinário: RO 00011833020125040234 RS 0001183-30.2012.5.04.0234, 4ª Vara do Trabalho de Gravataí, rel. Maria Cristina Schaan Ferreira, j. 23.07.2014 (grifos nossos) (BRASIL, 2014a). E ainda: A) Agravo de instrumento. Recurso de revista. Empresa de fabricação e montagem de veículos. Trabalhadora terceirizada (operadora de logística) laborando no núcleo da dinâmica produtiva da tomadora de serviços. Terceirização ilícita de atividade-fim. Presença também da subordinação jurídica, em suas dimensões objetiva e estrutural. Formação de vínculo empregatício direto com o tomador de serviços. Demonstrado no agravo de instrumento que o recurso de revista preenchia os requisitos do art. 896 da CLT (LGL\1943\5), quanto à existência de relação empregatícia, dá-se provimento ao agravo de instrumento, para melhor análise da arguição de contrariedade à Súmula 331, I/TST, suscitada no recurso de revista. Agravo de instrumento provido. B) Recurso de revista. Empresa de fabricação e montagem de veículos. Trabalhadora terceirizada (operadora de logística) laborando no núcleo da dinâmica produtiva da tomadora de serviços. Terceirização ilícita de atividade-fim. Presença também da subordinação jurídica, em suas dimensões objetiva e estrutural. Formação de vínculo empregatício direto com o tomador de serviços. O Direito do Trabalho, classicamente e em sua matriz constitucional de 1988, é ramo jurídico de inclusão social e econômica, concretizador de direitos sociais e individuais fundamentais do ser humano (art. 7º , CF (LGL\1988\3)). Volta-se a construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I, CF (LGL\1988\3)), erradicando a pobreza e a marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, IV, CF (LGL\1988\3)). Instrumento maior de valorização do trabalho e especialmente do emprego (art. 1º, IV, art. 170, caput e VIII, CF (LGL\1988\3)) e veículo mais pronunciado de garantia de segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade e justiça às pessoas na sociedade econômica (Preâmbulo da Constituição), o Direito do Trabalho não absorve fórmulas diversas de precarização do labor, como a parassubordinação e a informalidade. Registre-se que a subordinação enfatizada pela CLT (LGL\1943\5) (arts. 2º e 3º) não se circunscreve à dimensão tradicional, com profundas, intensas e irreprimíveis ordens do tomador ao obreiro. Pode a subordinação ser do tipo objetivo, em face da realização, pelo trabalhador, dos fins sociais da empresa. Ou pode ser simplesmente do tipo estrutural, harmonizando-se o obreiro à organização, dinâmica e cultura do empreendimento que lhe capta os serviços. Presente qualquer das dimensões da subordinação (tradicional, objetiva ou estrutural), A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 13 considera-se configurado esse elemento fático-jurídico da relação de emprego. De outro lado, em harmonia com esses princípios e regras constitucionais mencionados, a fórmula da terceirização é restringida pelo Direito, ao invés de alargada e generalizada, em face de seus efeitos mercantilizadores e precarizadores do ser humano que vive do trabalho, não podendo, dessa maneira, ser realizada na atividade-fim da empresa tomadora (Súmula 331, III, do TST). No caso concreto, ficou bastante clara a terceirização de atividade-fim da empresa fabricante de automóveis, mediante a inserção da trabalhadora terceirizada no núcleo da dinâmica produtiva; ficou também clara a presença da subordinação em suas dimensões objetiva e também estrutural. Em vista dessas circunstâncias, merece reparo a decisão recorrida. Recurso de revista conhecido e provido. Recurso de Revista: RR 434620125050132, 3ª T., rel. Mauricio Goudinho Delgado, j. 13.05.2015(grifos nossos) (BRASIL, 2015). No primeiro caso, restou claro o reconhecimento da terceirização ilícita pelo tribunal, bem como que o douto magistrado assevera a utilização da terceirização por empresas para auferir mais lucro. No segundo caso, há vasta explanação pelo magistrado, quanto às garantias do trabalhador concretizadas na Constituição Federal (LGL\1988\3). Quanto às terceirizações lícitas, importante mencionar que os tribunais vão contra as garantias previstas na Constituição Federal (LGL\1988\3), conforme se vê: Terceirização lícita – Nos termos do item III da Súmula 331 do C. TST, não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n. 7.102, de 20.06.1983 (LGL\1983\13)) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. O repasse das atividades para o reclamante, que era o superior dos demais empregados da primeira ré, não se traduz em subordinação direta, estando correta a sentença que manteve a segunda ré responsável subsidiária. TRT-1 – Recurso Ordinário: RO 00001412620135010029 RJ, 10ª T., j. 25.01.2016, rel. Célio Juaçaba Cavalcante (grifos nossos) (BRASIL, 2016). E ainda: Recurso de revista. Terceirização lícita. Enquadramento sindical. Isonomia salarial com os empregados do tomador dos serviços. O Regional entendeu que as vantagens previstas nas normas coletivas da tomadora dos serviços se estenderiam ao reclamante, não pelo enquadramento sindical, mas em razão do princípio da isonomia, pelo que não há violação do art. 570 da CLT (LGL\1943\5). Concluiu, por outro lado, que não havia, na tomadora de serviços, empregados porteiros próprios a servirem de paradigma. Para se decidir de maneira diversa, seria necessário o reexame de fatos e provas, o que é vedado pela Súmula n. 126 do TST. Recuso de revista de que não se conhece. Horas extras. Turnos ininterruptos de revezamento. Configuração. Conforme consignado pelo TRT, a jornada cumprida pelo reclamante ocupava integralmente o dia, com a prejudicial alternância de horários, a cada dois dias trabalhados, à exceção de apenas 3 semanas, em que o trabalho se deu no turno fixo da noite. Nesse contexto, deve se concluir que o reclamante de fato laborava em turnos ininterruptos de revezamento, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 360 da SBDI-1 do TST, segundo a qual “Faz jus à jornada especial prevista no art. 7º, XIV, da CF/1988 (LGL\1988\3) o trabalhador que exerce suas atividades em sistema de alternância de turnos, ainda que em dois turnos de trabalho, que compreendam, no todo ou em parte, o horário diurno e o noturno, pois submetido à alternância de horário prejudicial à saúde, sendo irrelevante que a atividade da empresa se desenvolva de forma ininterrupta.” Recurso de revista de que não se conhece. TST – Recurso de revista: RR 7072420125150092 (BRASIL, 2014b). A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 14 Órgão Julgador: 6ª Turma, DEJT 12.12.2014, j. 10.12.2014, Relator Kátia Magalhães Arruda. Disponível em: [https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/157492760/recurso-de-revista-rr-7072420125150092?ref=juris-tabs]. Acesso em: 10.05.2017. No primeiro caso, ainda que não se traduza a subordinação direta, o próprio tribunal admitiu que existe repasse superior de atividades aos empregados terceirizados em relação aos empregados da empresa tomadora de serviço, caracterizando uma desigualdade de direitos de um trabalhador, ofendendo o disposto no inciso XXXIV do artigo 7º da Constituição Federal (LGL\1988\3). No segundo caso, restou claro que, com o instituo da terceirização, o empregado terceirizado não dispõe de vantagem coletiva decorrente de negociação sindical, tendo em vista a ausência de sindicalização dos empregados terceirizados, o que vai contra o artigo 8º da Constituição Federal (LGL\1988\3), que prevê garantia quanto à livre associação sindical. Assim, foi necessário que o tribunal utilizasse o princípio da isonomia para conceder o benefício de empregados sindicalizados daquela atividade em que prestam serviço aos empregados terceirizados, tendo em vista que os empregados terceirizados não têm representação sindical, o que, consequentemente, acarreta na perda de uma vantagem. Dessa forma, com a flexibilização dos direitos trabalhistas, tem-se que a relação de trabalho não proporcionou igualdade entre as partes, ou mesmo resguardou o empregado – parte hipossuficiente da relação. 5.4 As alterações trazidas pela Lei 13.429/2017 A Câmara dos Deputados aprovou a Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436), que se originou do antigo Projeto de Lei 4.302/1998. A referida Lei, denominada popularmente Lei da Terceirização, apresentou grandes alterações nas “regras” da terceirização. Uma das principais alterações apresentadas pela lei, em relação à atual Súmula 331 do TST, consiste na possibilidade de as empresas também contratarem mão de obra terceirizada para a execução de atividades-fim da empresa, prevista no artigo 9º, § 3º, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8), incluído pela Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436). Art. 9º – O contrato celebrado pela empresa de trabalho temporário e a tomadora de serviços será por escrito, ficará à disposição da autoridade fiscalizadora no estabelecimento da tomadora de serviços e conterá: [...] § 3º O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços” (NR). Dessa forma, a terceirização poderia ocorrer na atividade principal da empresa (atividade-fim), e não somente nas atividades secundárias da empresa, que não envolvam a essência da empresa tomadora (atividade-meio), ou seja, esta poderá ser terceirizada. Quanto a essa alteração, alguns críticos questionaram o principal objetivo da terceirização, que seria uma forma da empresa concentrar seus funcionários em sua atividade-fim. A lei também trouxe outras alterações, como na responsabilidade das empresas, que, embora continue subsidiária, a empresa prestadora de serviço somente responderá quando a empresa tomadora de serviço não puder arcar com valores pleiteados pelo empregado, conforme previsto no artigo 10, § 7º, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8), incluído pela Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436). Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 15 de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. [...] § 7º – A contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer o trabalho temporário, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991 (LGL\1991\40)” (NR) (BRASIL, 2017). Quanto à possibilidade de vínculo empregatício, a Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436), inseriu o 4º-A, § 2º, na Lei 6.019/74 (LGL\1974\8), determinando que este inexistirá, invalidando a existência de subordinação, com exceção dos casos de trabalhador temporário. Art. 4º-A. Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. [...] § 2º Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante (BRASIL, 2017). Por fim, pode-se mencionar a alteração trazida pela nova lei quanto à possibilidade de ampliar o prazo do contrato do trabalhador temporário, nos termos do artigo 10, §§ 1º e 2º da Lei, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8). Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. § 1º O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador,não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não. § 2º O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias, consecutivos ou não, além do prazo estabelecido no § 1º deste artigo, quando comprovada a manutenção das condições que o ensejaram (BRASIL, 2017). Importante mencionar que a Lei traz algumas hipóteses ainda não regulamentadas, como a possibilidade de subcontratação de outras empresas para realização dos serviços pelos quais a empresa prestadora de serviço foi contratada, previsto no artigo 4º-A, § 1º, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8); a exigência de capital social mínimo, de acordo com o número de empregados da empresa, prevista no artigo 4º-B, inciso III, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8); a responsabilidade da empresa tomadora de serviços quanto às condições de segurança, higiene e salubridade do empregado terceirizado, conforme determinação do artigo 5º-A, § 3º, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8); e, por fim, tem-se a possibilidade de a empresa tomadora de serviço estender o fornecimento de refeição, transporte e serviço médico aos empregados terceirizados, caso os forneça a seus empregados, previsão do artigo 5º-A, § 4º, da Lei 6.019/74 (LGL\1974\8). Art. 4º-A. Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. § 1º A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços (BRASIL, 2017). Art. 4º-B. São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros: A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 16 III – capital social compatível com o número de empregados, observando-se os seguintes parâmetros: a) empresas com até dez empregados – capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais); b) empresas com mais de dez e até vinte empregados – capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais); c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados – capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais); d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados – capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e e) empresas com mais de cem empregados – capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) (BRASIL, 2017). Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos. [...] § 3º É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato. § 4º A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado (BRASIL, 2017). Assim, pode-se concluir que as alterações trazidas pela Lei são mais benéficas às empresas, ao proporcionar segurança na terceirização e economia atividade da empresa, tendo em vista possibilidade de contratação de mão de obra de menor valor para todas as atividades desenvolvidas pela empresa. Contudo, para os empregados, trouxe a perda de alguns direitos trabalhistas, além da possibilidade de substituição dos funcionários por empregados terceirizados. 6 A eficácia dos direitos fundamentais como instrumento de proteção do trabalhador contra a famigerada terceirização Bonavides defende que os direitos fundamentais “são os do homem que as Constituições positivaram” (BONAVIDES, 2000, p. 514-518), recebendo nível mais elevado de garantias ou segurança, pois, cada Estado tem seus direitos fundamentais específicos. Acrescenta que os direitos fundamentais “estão vinculados aos valores de liberdade e dignidade humana, levando-nos, assim, ao significado de universalidade inerente a esses direitos como ideal da pessoa humana” (BONAVIDES, 2000, p. 514-518). Canotilho, por sua vez, destaca que a positivação dos direitos fundamentais, considerados “naturais e inalienáveis” (CANOTILHO, 1998, p. 369) do indivíduo pela Constituição como normas fundamentais constitucionais, é que vincula o direito. “Sem o reconhecimento constitucional, estes direitos seriam meramente aspirações ou ideais, seriam apenas direitos do homem na qualidade de normas de ação moralmente justificadas” (CANOTILHO, 1998, p. 369). É exatamente nesse contexto que se pretende inserir o empregado, parte hipossuficiente da relação de trabalho. Pois bem. A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 17 Não há dúvidas de que o trabalhador é detentor de garantias e direitos fundamentais, duramente conquistados ao longo da trajetória humana. Dessa forma, por se entender que a terceirização ampla e irrestrita afronta os direitos fundamentais do trabalhador, propõe-se, nesse estudo, a aplicação da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, nas relações de trabalho, como instrumento de freio à precarização dos direitos do trabalhador. Os direitos fundamentais são constituídos por regras e princípios, positivados constitucionalmente, que visam garantir a existência digna (ainda que minimamente) da pessoa, tendo sua eficácia assegurada pelos tribunais internos. A eficácia desses direitos pode decorrer de normas que possuem efeitos imediatos, bem como de normas que não possuem tal condição, necessitando de uma atuação por parte do legislador para que ela seja concretizada. Dessa forma, a eficácia dos direitos fundamentais se divide em vertical e horizontal, de modo que a eficácia vertical diz respeito à diferença entre o Poder Público e a relação entre os particulares quanto à eficácia dos direitos fundamentais. A eficácia horizontal, por sua vez, prevê a eficácia dos direitos fundamentais na relação entre particulares, de forma a vincular o sujeito privado aos direitos fundamentais. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais, também denominada de eficácia privada ou externa, ou Drittwirkung, defende, portanto, a força vinculante e a eficácia imediata dos direitos fundamentais nas relações entre os indivíduos, sobretudo no tocante às relações privadas, em que há nítido desequilíbrio de forças entre os sujeitos envolvidos, fazendo com que os direitos fundamentais restaurem ao sujeito ofendido a integridade de sua dignidade como pessoa humana (VIEGAS; RABELO, 2017). Cesar Rabelo e Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas explanam sobre a eficácia mediata e imediata da eficácia horizontal dos direitos fundamentais: Parte da doutrina defende que a aplicabilidade das normas vinculadoras de direitos fundamentais nas relações entre particulares é mediata, isto é, os direitos fundamentais seriam direitos relativos à defesa do particular contra o poder do Estado, implicando que as relações extra-estatais estariam fora da zona de incidência dos direitos fundamentais, entregues aos diversos subsistemas jurídicos autonomia plena. Esses investigadores jurídicos entendem que as regras constitucionais vinculadas aos direitos fundamentais não podem ser opostas aos particulares diretamente, pois os valores objetivos traçados no seio constitucional devem ser materializados através da produção de normas jurídicas de baixa densidade (normas infraconstitucionais), ou seja, a regulamentação das regras constitucionais seria o caminho apropriado para proteção dos direitos fundamentais nas relações entre particulares. Em contraponto à tese da eficácia mediata dos direitos fundamentais, estão os aqueles doutrinadores que defendem que os direitos fundamentais produzem eficácia imediata e irrestrita, o que provocaria a eficácia nas relações privadas, ou seja, a aplicabilidade do artigo 5º, § 1º da CF (LGL\1988\3) não se restringiria somente ao Poder Público, mas também, as relações jurídicas estabelecidas entre particulares. Istoporque o texto Constitucional prescreve que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata e não delimita nem restringi sua atuação, isto é, não há bloqueio constitucional na aplicabilidade dos direitos fundamentais em qualquer relação, seja ela: pública; mista; ou privada (VIEGAS; RABELO, 2017). Partindo de tais ensinamentos, pode-se afirmar que o grau de desigualdade entre trabalhador e empregador autoriza a incidência imediata dos direitos fundamentais nas relações de trabalho como meio de proteção do trabalhador. Partindo do fundamento de que quanto mais o direito a ser tutelado for essencial à vida da pessoa humana (carga valorativa alta) maior deverá ser a subsunção das normas de direitos fundamentais nas relações entre particulares. Viegas (2017) justifica a aplicação da eficácia horizontal dos A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 18 direitos fundamentais como forma de garantir o direito fundamental ao trabalho digno em meio ambiental laboral saudável. Os autores finalizam aduzindo: As normas jurídicas vinculadoras de direitos fundamentais, transportadores de imensa carga valorativa, devem ser interpretadas de forma literal e irrestrita, sendo certo que não caberá ao legislador ordinário, bem como ao cientista do direito restringir sua a atuação, eficácia e aplicabilidade. O Constituinte de 1988 prescreveu, taxativamente, que os direitos fundamentais possuem aplicabilidade imediata, pois é impensável a colocação de regras prescritas por subsistemas antes da aplicabilidade do sistema constitucional. Portanto, a eficácia horizontal do direito fundamental do consumidor, também possui aplicabilidade imediata nas relações intersubjetivas privadas, haja vista que o mandamento constitucional não ofertou qualquer restrição em relação a sua eficácia (VIEGAS; RABELO, 2017). Diante do explanado, no caso das relações trabalhistas, a eficácia dos direitos fundamentais deve ser garantida pela aplicação imediata e direta, ou seja, são normas aptas a produzir efeitos imediatos para garantia e proteção prevista aos trabalhadores. Analisando a terceirização à luz dos direitos fundamentais, verifica-se que ela traz consigo a ilegalidade, a desigualdade e o retrocesso social na relação trabalhista. O Ministério Público do Trabalho destaca que os trabalhadores terceirizados são submetidos a piores condições de saúde e segurança no trabalho, especialmente porque há um menor nível de investimento em medidas de prevenção de acidentes para essa categoria (ANPT, 2017). Helder Amorim, diretor de assuntos legislativos da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), defende que o Ministério Público do Trabalho (MPT) concorda que a terceirização também na atividade finalística das empresas, é inconstitucional, por ferir diretamente os direitos fundamentais dos trabalhadores e esvazia a função social da propriedade (ANPT, 2017). O procurador ressaltou que. “A lógica da terceirização é perversa. É a lógica de remeter ao mercado de serviços etapas do processo de produção e depois contratar essa mesma atividade pelo menor preço” (ANPT, 2017). Assim, a terceirização remete o trabalho ao mercado para adquiri-lo pelo menor preço, ou seja, persegue-se o baixo custo econômico, embora com altíssimo custo social. O referido procurador do MPT constata: A terceirização na década de 90 foi a grande revolução patronal voltada a desmantelar o sistema de proteção social do trabalhador, porque ela reduz a remuneração e aumenta a jornada de trabalho, entre tantos outros prejuízos, prejudicando severamente aquele sistema de proteção constitucional dos direitos do trabalhador (ANPT, 2017). Outros dois aspectos importantes foram observados pelo diretor da ANPT, o primeiro é que a terceirização “esfacela” os sindicatos, servindo como ferramenta para fragmentar a força de equalização e, portanto, dividir a ordem de organização coletiva do trabalho. O segundo se relaciona com o meio ambiente de trabalho, direito fundamental do trabalhador extremamente mitigado no ambiente da terceirização (ANPT, 2017). Helder Amorim conclui: O MPT afirma que o esvaziamento dos direitos fundamentais do trabalho implica sim em inconstitucionalidade. A terceirização, mesmo na atividade meio, já é prejudicial. Toda empresa tem uma função social e a terceirização esvazia essa função. Esse projeto, o PLC 30/15, não interessa à sociedade brasileira porque ele não melhora a vida do A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 19 trabalhador que hoje é terceirizado na atividade-meio. Nós, membros do Ministério Público do Trabalho, seguiremos defendendo que terceirizar a atividade-fim é inconstitucional (ANPT, 2017). Cláudio Brandão, a seu turno, leciona sobre a mudança do paradigma, apresentando a vertente do direito à proteção do trabalho como integrante dos direitos humanos: A aprovação, em 1981, da Convenção n. 155 da OIT provocou substancial mudança no tratamento da proteção à saúde nos tratados até então firmados. Rompeu definitivamente com o paradigma individualista do direito e passou a compreendê-lo como elemento integrante do conceito de meio ambiente, mais especificamente do meio ambiente do trabalho, como um reflexo de sua atuação a partir da década de 1980, cada vez mais preocupada com esse tema, sobretudo em virtude dos grandes acidentes ocorridos nessa época, que ocasionaram danos ambientais de proporções inimagináveis. Outro inovador conceito, também oriundo das reflexões em torno da necessidade de garantia da dignidade como fundamento dos direitos humanos, foi o da sua indivisibilidade, que impôs um tratamento atribuído aos direitos sociais no mesmo patamar daquele referente aos direitos civis e políticos, cuja doutrina já se consolidara no sentido de sua importância para a garantia da dignidade humana (BRANDÃO, 2017, p. 91). Resta claro, então, que a terceirização de atividade-fim reduz o trabalho humano a mera mercadoria, deteriora o sentido da terceirização de ser apenas intermediação de mão de obra de atividade-meio, trazendo precarização, efeitos prejudiciais ao meio ambiente do trabalho, fragmentação da relação de emprego, aumento da rotatividade mão de obra, a substituição do concurso público, enfim, desrespeito aos direitos básicos do trabalhador. Nesse cenário, mostra-se urgente a aplicação da eficácia dos direitos fundamentais como forma de proteção do trabalhador contra os efeitos da terceirização ampla e irrestrita. Importante mencionar que o retrocesso social decorrente da não aplicação dos direitos fundamentais, que se dá tendo em vista a redução dos direitos fundamentais dos trabalhadores, bem como a forma desigual de tratamento dos trabalhadores e consequente ausência de condição humana digna. Nesse sentido, aduz o dossiê da CTU: Cada vez mais a terceirização e a precarização são compreendidas como sinônimos no mundo das relações do trabalho no Brasil. Não é novidade escutar de diversos especialistas e profissionais da área do trabalho, além dos próprios trabalhadores, que a terceirização tem como principal objetivo baratear os custos das empresas, acarretando em piores condições e direitos do trabalho (CUT, 2014). Insta salientar que a Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436) trouxe algumas alterações quanto à terceirização, sendo a principal delas a possibilidade de se terceirizar a atividade-fim da empresa. Tal permissão acaba por desproteger o empregado na relação de trabalho, desrespeitando algumas das garantias constitucionais previstas nos incisos do artigo 7º da Constituição Federal (LGL\1988\3), além da dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho, estando em destaque, entre os direitos sociais violados, àqueles ligados à remuneração – considerando a possibilidade de empregados prestarem serviço em que, na contratação direta com a empresa teria salário e benefícios maiores do que a contratação da mão de obra mediante terceirização – eos direitos de sindicalização – tendo em vista a fragilidade dos sindicatos e redução de suas bases. Importante destacar ainda que a diminuição dos direitos trabalhistas, resultantes da terceirização, acaba por ocasionar maiores fraudes nas relações trabalhistas. Resta claro, portanto, que a terceirização é incompatível com nosso ordenamento jurídico, no que diz respeitos aos direitos trabalhistas. Isso porque ela confere menos direitos aos trabalhadores do que os direitos previstos na nossa Lei Maior, o que a torna inconstitucional. A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 20 Nessa seara, pode-se dizer que igualmente, a Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436) é inconstitucional, por ser contrária à ordem jurídica, ocasionando o enfraquecimento do direito do trabalho e sua garantia constitucional. Desse modo, a eficácia dos direitos fundamentais no instituto da terceirização resultará em uma proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores que foram conquistados no decorrer de anos, bem como a valorização da mão de obra do empregado, melhoria da condição social do empregado e ainda igualdade entre os trabalhadores, especialmente no que tange à permissão da terceirização da atividade-fim da empresa. Pode-se dizer, assim, que a eficácia dos direitos fundamentais na terceirização será assegurada mediante a atuação do Poder Judiciário Trabalhista, que, ao exercer o valor constitucional com a devida ponderação, garantirá uma relação trabalhista justa e benéfica ao empregado, protegida das empresas que visam apenas a lucro e benefício próprio, sem respeitar a parte hipossuficiente do contrato de trabalho. 7 Conclusão A Constituição Federal (LGL\1988\3) garante aos empregados alguns direitos fundamentais, como o direito ao repouso e ao lazer, o direito à liberdade sindical, o direito de greve, o direito de participação nos colegiados dos órgãos públicos, além dos direitos previstos nos incisos de seu artigo 7º. Tais garantias decorrem da hipossuficiência do trabalhador na relação de trabalho. Todavia, com o passar dos anos, muitos desses direitos acabaram sendo inaplicados, tendo em vista as alterações ocorridas. A eficácia dos direitos fundamentais resulta de uma aplicação da nossa Lei Maior, de modo a garantir uma vida digna a todos, podendo ocorrer de forma vertical ou horizontal. Os direitos trabalhistas previstos na Constituição Federal (LGL\1988\3) possuem aplicação imediata e eficácia horizontal. Isso porque, além de possuir força vinculante, em alguns casos, a eficácia das garantias constitucionais deverá ocorrer nas relações entre particulares, ainda que não ocorra intervenção do Poder Público. A terceirização, instituto que cria uma relação trilateral entre o empregador e a empresa, consiste em uma das evoluções trabalhistas que resultam em inaplicabilidade e ineficácia de alguns dos direitos fundamentais do empregado. Igualmente, percebe-se a inaplicabilidade de alguns princípios basilares do direito do trabalho, especialmente o princípio da primazia da realidade sobre a forma, o princípio da continuidade da relação de emprego, o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas e o princípio da imperatividade das normas trabalhistas. Como tratado, a terceirização proporciona ao empregador uma contratação de mão de obra de menor valor, sem gerar qualquer vínculo direto com o empregado, desonerando, assim, a empresa. Entre as lesões trazidas pelo instituto, pode-se destacar a inexistência de igualdade quanto aos mesmos direitos entre os empregados terceirizados e os decorrentes de contratação direta, bem como a saúde e a segurança do empregado terceirizado, que não restou amparada pela terceirização. Até o presente ano, havia apenas a Súmula 331 do TST tratando o instituto da terceirização. Entretanto, recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei 13.429/2017 (LGL\2017\2436), que regula a terceirização e, em contrapartida, permite a terceirização de atividade-fim. Todavia, a terceirização da atividade-fim é uns dos fatores mais preocupantes dentro do contexto tratado, pois gera prejuízos ao trabalhador terceirizado, como a falta de proteção, a ausência de uma remuneração digna em relação aos empregados da empresa, bem como a ausência dos direitos de sindicalização dos terceirizados, além de permitir ao empregador a contratação de mão de obra de menor valor, sem qualquer A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 21 vínculo entre as partes, resultando ainda no cerceamento de outros direitos do trabalhador. O uso irrestrito e amplo da terceirização, sem observar os direitos fundamentais, leva-nos ao retrocesso social, dada a fragmentação da relação de emprego e desigualdade proporcionada, pelo que se vê a gravidade do tema tratado. O reconhecimento constitucional dos direitos trabalhistas fundamentais se faz imprescindível, haja vista a necessidade de se inserir o empregado nesse contexto para fazer valer as normas constitucionais, de modo a diminuir as desigualdades entre trabalhador e empregador. Assim, a eficácia dos direitos fundamentais deve ser garantida de forma direta e imediata. Contudo, o instituto da terceirização não demonstra a eficácia dos direitos trabalhistas fundamentais, tendo em vista a ilegalidade e a desigualdade em sua relação trabalhista. Pelo exposto, percebe-se que a eficácia horizontal dos direitos fundamentais dos trabalhadores detém poder suficiente para proteger o empregado em face dessa nova Lei de Terceirização, tendo em vista sua capacidade de produzir efeitos imediatos para garantia e proteção prevista aos trabalhadores. Diante disso, é preciso que o ordenamento jurídico garanta a eficácia dos direitos fundamentais previstos em nossa Lei Maior, reconhecendo a inconstitucionalidade da recente Lei da Terceirização, especialmente no que tange à possibilidade de terceirizar a atividade-meio. Enfim, somente através da afirmação e reconstrução do direito do trabalho, enfatizando a eficácia das garantias constitucionais, bem como dos princípios trabalhistas, é que se poderá solidificar mecanismos para a correção do tratamento inconstitucional e injusto dado aos empregados terceirizados. Referências ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do trabalho. 5. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004. ANPT – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DO TRABALHO. A lógica da terceirização fere diretamente os direitos fundamentais dos trabalhadores. Disponível em: [www.prt3.mpt.mp.br/procuradorias/prt-belohorizonte/416-a-logica-da-terceirizacao-fere-diretamente-os-direitos-fundamentais-dos-trabalhadores]. Acesso em: 15.05.2017. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. BRANDÃO, Cláudio. Meio ambiente do trabalho saudável: direito fundamental do trabalhador. Disponível em: [http://portal2.trtrio.gov.br:7777/pls/portal/docs/page/grpportaltrt/paginaprincipal/jurisprudencia_nova/revistas%20trt-rj/049/11_revtrt49_web_claudio.pdf]. Acesso em: 14.05.2017. CARRION, Valentim. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 34. ed. Atualizada por Eduardo Carrion. Legislação Complementar e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2009. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Método, 2015. A terceirização como ferramenta de flexibilização dos direitos fundamentais do trabalhador Página 22 CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES, CUT. Terceirização e desenvolvimento. Uma conta que não fecha. Disponível em: [www.cut.org.br/system/uploads/action_file_version/cccfec72980c4bf923f83f7e27a31db1/file/af-dossie-terceirizacao-e-desenvolvimento-grafica.pdf]. Acesso em: 12.04.2017. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015. JUSBRASIL. A terceirização,
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