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PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Luciane Weber Baia Hees 1ª Edição, 2021 Administração da Entidade Mantenedora (IAE) Diretor-presidente: Maurício Lima Diretor administrativo: Edson Medeiros Diretor-secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães Diretor depto. de educação: Ivan Góes Divisão Sul-Americana da IASD Presidente: Stanley Arco Secretário: Edward Heidinger Tesoureiro: Marlon Lopes Centro Universitário Adventista de São Paulo Reitor: Martin Kuhn Vice-reitores executivos / diretores de campus: Afonso Cardoso Ligório, Antônio Marcos Alves, Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de pós-graduação (lato sensu): Antônio Marcos Alves Pró-reitor de desenvolvimento espiritual: Henrique Gonçalves Diretores administrativos: Claudio Valdir Knoener, Flavio Knoner, Murilo Marques Bezerra Diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia : Reinaldo Wenceslau Siqueira Diretor-geral de educação básica: Douglas Jefferson Menslin Secretário-geral e procurador institucional : Marcelo Franca Alves Diretora de recursos humanos : Karla Cristina de Freitas Souza Diretor de produções artísticas: Tuiu Costa Advogado-geral : Misael Lima Barreto Junior Chefe de gabinete: Anna Cristina Pascual Ramos Editora Universitária Adventista Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Alysson Huf Supervisor administrativo: Werter Gouveia 1ª Edição, 2021 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Luciane Weber Baia Hees Doutora em Psicologia da Educação e Pós-Doutora em Educação e Psicologia pela Universidade de Aveiro Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Pedagogia em espaços sociais múltiplos 1ª edição – 2021 e-book (pdf) OP 00123_107 Coordenação editorial: Kerilyn Oliveira Preparação: Willian Bernardes Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Felipe Rocha Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Marcia Coutinho de Robertis Azevedo Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piraci- caba, SP, com ênfase no ensino da Contabilidade Conselho editorial e artístico: Martin Kuhn, Telson Vargas, Rodrigo Follis, Adolfo Suárez, Afonso Cardoso, Allan Novaes, Antônio Marcos Alves, Diogo Cavalcanti, Douglas Menslin, Eber Liesse, Edilson Valiante, Fabiano Leichsenring, Fabio Alfieri, Gilberto Damasceno, Gildene Silva, Henrique Gonçalves, José Prudêncio Júnior, Luis Strumiello, Reinaldo Siqueira Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS ................................ 9 Introdução ........................................................................................10 Espaços sociais múltiplos ...............................................................12 Modalidades de educação formal, informal e não formal .............................................................16 Os quatro pilares da educação ................................................29 O papel do pedagogo em espaços não formais .....................36 Considerações finais.........................................................................55 Referências .......................................................................................59 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ............................... 65 Introdução ........................................................................................66 Diferentes espaços de atuação do pedagogo ..................................68 Pedagogo empresarial .....................................................................70 VO CÊ ES TÁ A QU I Pedagogo hospitalar ........................................................................78 ONGs, museus, brinquedotecas e outros espaços de atuação do pedagogo ..................................................96 As atividades educativas nos museus ....................................96 A atuação do pedagogo nas brinquedotecas .......................101 As organizações não governamentais e outros espaços .....................................................................107 Considerações finais........................................................................109 Referências ......................................................................................113 VO CÊ ES TÁ A QU I Planejamento e avaliação da práxis social educativa em espaços não formais de educação, tais como: ongs, classes hospitalares, brinquedotecas, museus, entre outros;, articulados com as questões da cidadania e a pluralidade cultural. EMENTA OB JE TI VO S ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES - analisar a complexidade da função do pedagogo no ambiente hospitalar, visando uma ação humanitária junto a pacientes e familiares; - organizar conceitos de pedagogia aplicada em um ambiente organizacional, e a utilização de técnicas para melhorias nos processos de aprendizagem nos espaços empresariais; - investigar as diferentes estratégias de atuação do pedagogo de acordo com o espaço de atuação que estiver inserido. UNIDADE 2 66 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS INTRODUÇÃO Bem-vindo(a)! Quando pensamos em práticas pedagógicas, logo pensamos numa sala de aula com carteiras, quadros brancos, mesa para o professor, alguns murais, cadernos, entre outras coisas. Entretanto, essas ações podem ocorrer em diversos espaços sociais. Tradicionalmente, no decorrer da história, a escola concentrou todas as funções relacionadas com a atuação do professor, exercendo significativo papel social e ocupando o lugar de uma importante instituição. E, claro, a escola é uma instituição fundamental e tem uma função social indispensável no desenvolvimento e formação do indivíduo. E é necessário que o professor desenvolva competências e habilidades específicas que permeiam a formação didática e os saberes docentes para atuar nesses espaços escolares. Contudo, a globalização e diversos acontecimentos históricos sociais e políticos alcançaram a educação. E essas mudanças caminharam no sentido de valorizar a cultura e conhecimentos que são transmitidos fora do ambiente escolar. Por necessidade social ou por novas formas de se entender os processos educativos, a educação não formal e em espaços sociais múltiplos ampliou seus espaços e conquistou novos ambientes, exigindo a formação de profissionais que sejam comprometidos com essas mudanças e transformações. 67 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Sendo assim, vamos estudar sobre quem é esse profissional que desempenha funções pedagógicas em ambientes não escolares. Estamos falando do pedagogo hospitalar, do pedagogo empresarial e do pedagogo que atua em ONGs, brinquedotecas,museus e outros espaços. Ao final desta unidade, esperamos que você tenha aprendido sobre: • os requisitos necessários para formação do pedagogo empresarial, pedagogo hospitalar e aqueles que atuam em ambientes como ONGs, museus, brinquedotecas etc.; • a prática desses pedagogos nesses diversos espaços não escolares; • os desdobramentos que levaram à necessidade da amplificação da pedagogia; • e a importância desses profissionais nesses campos de trabalho. Bom estudo! 68 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO Olá! Seja bem-vindo(a)! Vamos conhecer um pouco mais sobre a atuação do pedagogo em espaços não escolares? Ao longo da história, a formação de profissionais da área de educação referente ao pedagogo no Brasil passou por algumas alterações, sempre intencionadas para atender interesses socioculturais de cada época. Tendo o foco na formação der profissionais para atuar nas diferentes modalidades de educação, quer sejam formais ou não formais. Veja o que Libâneo (2013) explica sobre essa formação mais ampla, e sobre os campos de atuação e demandas que emergem dos novos contextos de práticas pedagógicas para o pedagogo: O curso de Pedagogia deve formar o pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional qualificado para atuar em vários campos educativos para atender demandas sócio-educativas de tipo formal e não formal e informal, decorrentes de novas realidades – novas tecnologias, novos atores sociais, ampliação das formas de lazer, mudanças nos ritmos de vida, presença dos meios de comunicação e informação, mudanças profissionais, desenvolvimento sustentado, preservação ambiental – não apenas na gestão, supervisão e coordenação pedagógica 69 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES das escolas, como também na pesquisa, na administração dos sistemas de ensino, planejamento educacional, na definição de políticas educacionais, nos movimentos sociais [...] na produção de vídeos, filmes, brinquedos, nas editoras, na requalificação profissional etc. (LIBÂNEO, 2013, p. 38-39). Ainda segundo o autor, esse profissional deve desenvolver múltiplas linguagens, ou seja, o pedagogo deve ter condições de inserir diferentes instrumentos, técnicas e estratégias no ensino, aproximando os processos educacionais da realidade do educando e da pedagogia em diferentes espaços sociais (LIBÂNEO, 2013). E por que isso é necessário? Simples… a educação que precisamos hoje não é mais a mesma, por isso necessitamos recriar os conceitos, quebrar paradigmas e ampliar os espaços de aprendizagem, O pedagogo precisa desenvolver múltiplas linguagens para atuar em diferentes espaços sociais. Fonte: Unsplash 70 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS pois somente assim iremos conseguir atender e alcançar as diferentes necessidades sociais. Vamos avançar? Agora, você vai conhecer um pouco quem é o pedagogo empresarial, o pedagogo hospitalar e qual o papel do pedagogo em ambientes como brinquedotecas, museus e demais espaços. PEDAGOGO EMPRESARIAL Preparado? Vamos iniciar nossa jornada? Já entendemos que o pedagogo atua conduzindo o comportamento das pessoas, visando uma mudança para alcançar objetivos estabelecidos. A pedagogia, considerada como ciência que estuda os fundamentos, concepções e a aplicação de princípios e ações para formação e desenvolvimento do ser humano, estabelece um caminho bem definido para alcançar objetivos finais previamente estabelecidos por meio de ações pedagógicas. E é por isso que o pedagogo se torna tão essencial para a boa dinâmica de uma empresa. Após conceituar pedagogia e empresa, destaca-se que ambas as instituições são organizadas pela associação de 71 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES pessoas que pretendem alcançar objetivos definidos. Assim, tanto as escolas como as empresas atuam promovendo ações que permitem alcançar esses objetivos que dependem de mudanças nos comportamentos dos indivíduos. Vamos, agora, relembrar brevemente o que é aprendizagem. Considerada um processo de mudança de comportamento, a aprendizagem é provocada a partir de diferentes experiências individuais. Essas experiências influenciam fatores neurológicos, emocionais e ambientais que resultam no ato de aprender. Podemos dizer então, de maneira básica e simplificada, que a mudança de comportamento é o resultado da interação entre o ambiente e as experiências que são promovidas nesses espaços e as estruturas mentais do indivíduo. Holtz (2007, p. 6) reforça essa relação que acabamos de estudar, afirmando que a pedagogia e a empresa têm uma O pedagogo empresarial contribui com o desenvolvi- mento dos funcionários no ambiente organizacional. Fonte: Unsplash 72 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS união perfeita e que seus objetivos em relação às pessoas são os mesmos. Uma empresa é sempre uma “associação de pessoas, para explorar uma atividade com objetivo definido” Holtz (2007, p. 6), liderada por um empresário que busca atingir ideias e objetivos também definidos. Holtz (2007) também caracteriza a pedagogia como uma “ciência que estuda e aplica doutrinas e princípios visando um programa de ação e relação à formação, aperfeiçoamento e estímulo de todas as faculdades da personalidade das pessoas, de acordo com ideias e objetivos definidos”, estudando os meios mais eficazes para realizá-los de acordo com uma determinada concepção de vida. Então, concluímos que nos ambientes empresariais também existem espaços para ação pedagógica, certo? Quando se trata de ações educativas, o pedagogo deve resolver algumas questões educacionais não somente na escola, mas em qualquer ambiente. Holtz (2007, p. 9) explica essas ações relacionadas com os ambientes empresariais: 1. Otimização da produtividade das pessoas humanas por meio do conhecimento e da identificação de soluções práticas que incentivem o aumento e facilitem essa otimização – esse é o objetivo de toda empresa, e deve ser planejado a partir 73 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES da realidade e da necessidade dos funcionários e do contexto específico de cada empresa. 2. Conhecer e trabalhar na direção dos objetivos particulares e sociais da empresa onde trabalha – nesse sentido, não somente nas empresas, mas em qualquer local de trabalho, é importante ter clareza dos objetivos e atuar no sentido de favorecer a realização deles. O pedagogo empresarial precisa conhecer, compreender e fazer com os objetivos empresariais sejam norteadores de suas ações e projetos. 3. Organizar e conduzir com atividades práticas todos os indivíduos que trabalham na empresa (dirigentes e funcionários) no sentido de alcançar os objetivos humanos, bem como os estabelecidos pela empresa. As atividades, treinamentos, oficinas e projetos desenvolvidos nos ambientes empresariais devem ter uma natureza prática para motivar, incentivar e envolver os participantes. 4. Oferecer as condições e elaborar as atividades práticas no sentido de atender as necessidades da empresa e dos funcionários (treinamentos, eventos, 74 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS reuniões, festas, feiras, exposições, excursões etc.) de forma que promova o desenvolvimento integral dos indivíduos, influenciando-os positivamente por meio do processo educativo, visando a otimização da produtividade pessoal. 5. Favorecer o desenvolvimento da produtividade empresarial por meio do aconselhamento, de preferência por escrito, sobre as condutas mais eficazes dos líderes para com os funcionários e desses para com os seus chefes. 6. Valorizar, conduzir e zelar pelo bom relacionamento humano na empresa por intermédio de ações pedagógicas que garantam a manutenção do ambiente positivo, agradável e estimulador de produtividade. O clima organizacional é fundamental para que os funcionários se sintam envolvidos e motivados, issocertamente irá refletir na produtividade da empresa. Na empresa, o pedagogo empresarial, por meio dessas ações, pode proporcionar o desenvolvimento da produtividade pessoal dos funcionários nas mais diversas atividades. 75 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Mas como teve início a atuação do pedagogo nos ambientes empresariais? O pedagogo começou a atuar na empresa ainda na década de 60, isso ocorreu devido a necessidade do desenvolvimento econômico impulsionado pela industrialização. Como tudo ocorreu de forma muito rápida, não existia mão de obra qualificada suficiente para atender toda demanda. Esse fato colocou o pedagogo em evidência, sendo o profissional mais indicado para desenvolver projetos de qualificação e reeducação (RIBEIRO, 2008). Entretanto, no final da década de 80, o governo cancelou um apoio financeiro que era oferecido às empresas para treinamento dos funcionários. Com essa mudança no cenário, as empresas restringiram o número de pedagogos que atuavam oferecendo esses treinamentos. Com isso, o foco de atuação dos pedagogos empresariais moldou-se para o perfil atual, passando a ser os gestores do conhecimento. Antes, o objetivo era a mecanização e capacitação do funcionário. Atualmente, o papel do pedagogo empresarial é desenvolver meios para que o funcionamento de uma equipe seja realizado com competência e eficácia. O profissional chamado de pedagogo empresarial tem sua prática estruturada a partir dos conhecimentos, competências e habilidades diagnosticadas como necessárias para aumentar e otimizar a produção da empresa. 76 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS SAIBA MAIS Quer saber mais sobre o surgimento da pedagogia empresarial? Qual a relevância desse profissional, a origem e como foi introduzida no mercado de trabalho essa função? São algumas considerações que você poderá ouvir no podcast indicado no link a seguir. Disponível em: <https:// open.spotify.com/show/3D2L29uUd5BjsuT9j0Eu1q>. Acesso em: 17 jul. 2021. Para alcançar esses objetivos, o pedagogo empresarial precisa conhecer a missão e a visão da empresa e o ambiente organizacional, observar as pessoas e suas relações. A partir dessas percepções, ele deve elaborar um planejamento estratégico para alcançar as metas da empresa por meio das pessoas que ali trabalham. Ou seja, identificar as necessidades pessoais dos funcionários, analisar como essas necessidades influenciam o desempenho pessoal e profissional e elaborar um plano de ação para sanar essas lacunas no sentido de otimizar a produção da empresa. Ao observar a realidade da empresa para identificar as necessidades que emergem do próprio contexto para planejar suas práticas, é importante que o pedagogo empresarial análise quais as melhores estratégias para cada contexto e situação para não onerar ao investir os custos nos treinamentos e 77 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES atividades propostas. Trabalhar com o capital humano e com atividades que promovam a interação entre os funcionários desenvolvendo espírito de equipe e autoconhecimento agrega e contribui significativamente na construção de um ambiente organizacional saudável que reflete na produtividade e nos resultados da empresa. Um aspecto importante que precisamos lembrar é sobre o elo que o pedagogo empresarial faz entre o empregador e seus funcionários. Zelar e manter essa aproximação mediante uma comunicação clara e transparente fazem significativa diferença no clima organizacional, refletindo nos resultados da empresa. Além de aproximar os “chefes” e os subordinados, o pedagogo favorece a redução dos índices de demissões, assim como a motivação e valorização de cada funcionário da empresa. Já se tem consolidada compreensão da relevância da contribuição efetiva do pedagogo empresarial no sucesso organizacional e produtividade da empresa. Pois além de oferecer desenvolvimento em diversos aspectos aos funcionários, atua respeitando suas necessidades e interesses. Ressalta-se, entretanto, que o pedagogo empresarial não deve ser confundido com psicólogo, ele atua como educador e incentiva o desenvolvimento integral dos sujeitos que fazem parte do contexto organizacional. 78 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Bom! Estudamos um pouquinho sobre a atuação do pedagogo nas empresas, sua função e como ele deve organizar seu trabalho. E quais seriam os outros espaços de atuação do pedagogo? Você já ouviu falar em pedagogia hospitalar? PEDAGOGO HOSPITALAR Já estudamos que a escola deixou de ser o único campo de atuação do pedagogo e que existem outras possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Uma das áreas que compõem esses espaços é a pedagogia hospitalar, considerada como “uma nova ramificação da pedagogia que visa discutir a educação no espaço hospitalar, valorizando e garantindo o direito da criança enferma” (SILVA; ANDRADE, 2013, p. 57). Um pedagogo atuando dentro do hospital? Sim, isso mesmo! O chamamos de pedagogo hospitalar. E qual o objetivo dessa função? Como ocorre a inserção desse profissional no hospital? O que ele faz? Quais são as suas atribuições? Vamos ver tudo isso e um pouco mais. O principal objetivo do pedagogo atuar dentro de ambientes hospitalares é ensinar os conteúdos escolares às crianças e adolescentes que se encontram impossibilitados 79 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES de frequentar a escola por estarem hospitalizados por longos períodos, dando, assim, continuidade ao processo educacional sem maiores interrupções ou prejuízos (BRASIL, 2001). A pedagogia hospitalar é parte integrante da educação especial, que se preocupa com o atendimento de pessoas com alguma necessidade especial, mesmo aquelas com necessidades temporárias, como é o caso de internações e tratamentos clínicos. Então, podemos afirmar que a função da pedagogia hospitalar é solucionar necessidades pedagógicas das crianças internadas, porém, esse atendimento vai muito além disso, pois, por meio de projetos e práticas lúdicas e humanizadas, os pedagogos hospitalares prestam significativo suporte psicológico para as crianças. O trabalho dentro do ambiente hospitalar deve ser realizado de uma forma lúdica, amenizando temporariamente as enfermidades, dores e limitações que mantêm as crianças internadas. Os projetos devem incentivar a participação e o envolvimento da criança, de acordo com a idade e respeitando as limitações físicas, cognitivas e psicológicas que o quadro clínico impor. E como isso começou? Não existem registros suficientes para afirmarmos com certeza a origem e o início da pedagogia hospitalar no Brasil. Contudo, existem duas correntes: alguns afirmam que a pedagogia hospitalar surgiu no Brasil na Santa 80 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Casa de Misericórdia em São Paulo, onde em 1931 iniciou um atendimento pedagógico educacional para deficientes físicos; outra corrente defende que o início do atendimento educacional em hospitais tenha começado no Hospital Municipal de Jesus no Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1950, onde a professora Lecy Rittmeyer começou a dar aulas para as crianças que estavam hospitalizadas. Em 1958, a professora Ester Lemes Zaborowiski foi contratada pelo mesmo hospital e assim foram registradas as primeiras práticas pedagógicas por meio de atendimento leito a leito. Em 1960, temos o registro de um segundo hospital, também no estado do Rio de Janeiro, que passou a oferecer o mesmo serviço de atendimento pedagógico para as crianças hospitalizadas, foi o Hospital Barata Ribeiro. Essas iniciativas pedagógicas foram ações isoladas da direção desses hospitais e não contavam com apoio do estado (SANTOS; SOUZA, 2009). Entretanto, em Paris, Sellier começou em 1935 uma escola para crianças inadaptadas. Outros países da Europa e os Estados Unidos seguiram esse caminho para atender as demandas educacionais de crianças tuberculosas (VASCONCELOS, s/d). Sabemos que a educaçãoé um direito garantido pela Constituição Federal a todo e qualquer cidadão. Todavia, 81 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES crianças que se encontram hospitalizadas por muito tempo correm o risco de perder suas atividades escolares, mas não podem ser privadas de tal direito. A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). Outro dispositivo legal que podemos citar como garantia de atendimento especial para criança hospitalizada é o Decreto – Lei n. 1.044, em 21 de outubro de 1969, que dispõe sobre o tratamento diferenciado na educação em alguns casos. CONSIDERANDO que a Constituição assegura a todos o direito à educação; CONSIDERANDO que condições de saúde nem sempre permitem frequência do educando à escola, na proporção mínima exigida em lei, embora se encontrando o aluno em condições de aprendizagem; CONSIDERANDO que a legislação admite, de um lado, o regime excepcional de classes especiais, de outro, o da equivalência de cursos e estudos, bem como o da educação peculiar dos excepcionais; DECRETAM: 82 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Art 1º São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agudizados, caracterizados por: a) incapacidade física relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes; b) ocorrência isolada ou esporádica; c) duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a continuidade do processo pedagógico de aprendizado, atendendo a que tais características se verificam, entre outros, em casos de síndromes hemorrágicos (tais como a hemofilia), asma, cartide, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, nefropatias agudas ou subagudas, afecções reumáticas, etc. Art 2º Atribuir a esses estudantes, como compensação da ausência às aulas, exercício domiciliares com acompanhamento da escola, sempre que compatíveis com o seu estado de saúde e as possibilidades do estabelecimento. No entanto, apesar de dar alguma garantia, não cita o atendimento pedagógico hospitalar, mas já permite a discussão e argumentação desse direito. Ainda assim, o estatuto da criança e do adolescente hospitalizado, por meio da Resolução n. 41 de outubro de 1995, no item 9, garante o “direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de 83 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. Esse estatuto garante esse atendimento a todos os estudantes pelo tempo que estiverem afastados ou impedidos de frequentar uma escola, seja por dificuldades físicas ou mentais. Não podemos deixar de citar que a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (LDB) estabelece que toda criança disponha de todas as oportunidades possíveis para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam suspensos. Isso reforça que o atendimento pedagógico em hospitais deve ser oferecido para todas as crianças. Em 2002, o ministério da educação, por meio da secretaria de educação especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para o atendimento nas classes hospitalares. A criança hospitalizada tem o direito de aprender. Fonte: Unsplash 84 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Esse documento descreve diversos aspectos que devem ser observados para um bom desempenho no ambiente educacional hospitalar, entre eles estão descritas as necessidades de utilizar recursos audiovisuais, como computador, televisão, máquina fotográfica, filmadora etc. Segundo Reiner-Rosenberg (2003, p. 21), ter uma escola dentro de um hospital permite que a criança doente conserve seus laços com a vida que tinha antes de ser internada. O ambiente hospitalar é um lugar neutro, e após a internação a criança irá retomar sua vida normal de criança. A classe escolar agrupa crianças de diferentes idades e o professor desenvolve com elas uma pedagogia que leva em conta o tempo e a capacidade psíquica dos doentes e seus diferentes níveis de escolaridade. E como funcionam essas classes hospitalares? Existe liberdade para ajustar e planejar o funcionamento das classes hospitalares, mas de modo geral é realizado um cadastro inicial com os dados pessoais da criança hospitalizada, no qual se identifica a escola de origem. Depois do contato com a escola e de recolher informações acadêmicas necessárias, o estudante dá continuidade aos seus estudos em uma classe onde o pedagogo hospitalar recebe os alunos, são as classes hospitalares. Nessas classes, após as atividades, são preenchidas 85 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES fichas com os conteúdos e um relatório descritivo do desempenho e dificuldades específicas apresentados. Quando a criança recebe alta, os documentos são encaminhados para escola, e o aluno pode dar continuidade aos seus estudos sem severos prejuízos acadêmicos. O pedagogo hospitalar deve construir a ponte entre a educação e a saúde. E essa construção será efetiva se as relações entre a equipe médica e profissionais da educação forem bem estruturadas. Quer cuidando dos aspectos relacionados com as necessidades físicas para recuperar a saúde, quer cuidando dos aspectos pedagógicos, os interesses e objetivos finais de ambos os profissionais são a recuperação, a qualidade de vida e o desenvolvimento da criança. Não podemos deixar de citar que, em muitos casos, a figura do pedagogo no ambiente hospitalar é considerada pela equipe de saúde como alguém que As fichas com os relatórios das atividades realizadas nas classes hospitalares são enviadas para a escola regular. Fonte: Unsplash 86 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS está ali somente para garantir o conhecimento escolar aos pacientes internados por longos períodos, ou, no máximo, para favorecer as políticas de humanização. Entretanto, estudamos que o pedagogo hospitalar atua em muitas frentes, não somente nas classes hospitalares, ou em projetos de humanização, mas também junto ao departamento de recursos humanos, oferecendo cursos e treinamentos para todas as equipes que atuam no hospital. Além de atuar na gestão em saúde, junto aos familiares dos pacientes para amenizar os impactos causados pelo estado de saúde dos pacientes, atua também na readaptação escolar quando recebem alta hospitalar. Para atender essa demanda, é importante que o pedagogo tenha um equipe que o assessore em todas essas áreas. Além disso, as orientações, tanto dos médicos, como dos demais departamentos, são fundamentais para atuação do pedagogo. Também cabe citar a importância do trabalho do pedagogo hospitalar com parcerias e projetos junto com o psicólogo e o assistente social, pois o suporte emocional da criança é fundamental nos procedimentos de recuperação da saúde, assim como nos processos de ensino-aprendizagem. Dessa forma, fica fácil de perceber a importância do trabalho em equipe e cooperação entre todos os sujeitos da equipe multidisciplinar. 87 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Quando a criança estiver apta para retornar à escola, o corpo docente precisa avaliar os documentos e relatórios enviados pelo pedagogo hospitalar, fazendo assim as devidas adaptações nos conteúdos. É importante destacar que se houver um trabalho cooperativo entre o pedagogo hospitalar, a equipe médica e a escola, o retorno do aluno será muito mais fácil. A equipe médica domina os conhecimentossobre a doença, as necessidades e limitações físicas, psicológicas e cognitivas do paciente impostas pela condição clínica; a escola conhece o currículo e os conteúdos que o aluno precisa aprender; e o pedagogo hospitalar faz o elo entre esses conhecimentos e assegura uma readaptação segura. Todas as atividades devem ser elaboradas de forma lúdica e, principalmente, devem ser adaptadas às limitações impostas pela doença e pelo estado físico da criança. Às vezes, o atendimento é realizado no próprio leito, isso ocorre quando a criança não tem condições de sair da cama, ou quando o hospital não dispõe de ambiente específico para o atendimento. Algumas características diferem uma classe hospitalar de um sala de aula regular, observe a figura 2 que demonstra as diferenças entre as classes regulares e as hospitalares. 88 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Figura 2 – Classes regulares X Classes hospitalares DIFERENÇAS ENTRE AS CLASSES REGULARES E AS CLASSES HOSPITALARES Alunos na mesma série Alunos em séries diferentes Alunos moram no mesmo município ou em local próximo Alunos moram em município e/ou estados diferentes Convívio diário entre os alunos Grande parte dos alunos se conhecem no momento da aula Configuração normal da sala de aula Sala de aula com configuração diferenciada Normalmente, 30 alunos por classe Número de alunos varia de acordo com a demanda do hospital Alunos com frequência regular e matrículas anuais Não existe constância e frequência padrão e regular dos alunos Professores dão as aulas na sala de aula Professores dão as aulas em salas especiais ou se dirigem aos leitos quando os alunos estão impossibilitados de se dirigem a sala de aula ou o hospital não dispõe desse espaço Conteúdos são organizados em sequência didática Os conteúdos precisam ser iniciados em encerrados no mesmo período Exercícios físicos e demais atividades podem ser realizados sem restrições As atividades devem ser planejadas de acordo com as restrições e limitações dos alunos Atividades extraclasse podem ser cobradas regularmente Pode-se deixar sugestões de atividades extras, mas não exigir que sejam realizadas Fonte: adaptada de Noffs e Rachman (2007, p. 166) Além das classes hospitalares, existem outras frentes de atuação do pedagogo no ambiente hospitalar: na promoção de projetos e atividades que favoreçam a humanização e 89 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES amenizem o impacto do ambiente frio e desconfortável do hospital e na readaptação escolar. Lembre-se que quando uma criança é submetida a um longo tratamento, ou precisa passar por extensos períodos de internação, além de perder suas atividades escolares, ela tem a sua rotina de convívio social alterada. De acordo com Fontes (2008, p. 73), a hospitalização acaba distanciando a criança de suas atividades do cotidiano, o que pode contribuir para o seu maior adoecimento. A criança é um ser humano em processo de desenvolvimento, e esse distanciamento pode prejudicar a criança na constituição de sua subjetividade. O próprio fato de estar doente pode debilitar e causar sofrimento, impedindo que a criança se movimente e desempenhe tarefas diárias, afetando sua autoestima e fazendo com que a criança se entregue aos sintomas de sua enfermidade, se sentindo impotente. Todos esses fatores podem dificultar sua recuperação. O ambiente do hospital remete à dor, ao sofrimento e ao afastamento das pessoas que a criança ama e convive. Apesar disso, a criança, mesmo submetida a tratamentos e sofrimentos, não deixa de ser criança, e consequentemente tem o desejo de brincar, de sorrir e de conviver com outras pessoas. Nesse cenário, o pedagogo hospitalar atua oferecendo a transformação 90 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS do ambiente do hospital em um lugar mais leve e lúdico para amenizar a dor e o isolamento social. Existem muitos projetos de humanização em hospitais que você já deve ter ouvido falar. Um deles bem conhecido são os “doutores da alegria”, que promovem brincadeiras e atividades divertidas para que as crianças possam sorrir e esquecer um pouquinho seu sofrimento. Outros projetos com animais, pintura e músicas resgatam a capacidade da criança de brincar e se sentir um pouco mais feliz. Inclusive, existem muitos estudos que comprovam o impacto positivo desses projetos na recuperação de crianças e adolescentes. SAIBA MAIS Quer conhecer um pouco mais sobre os doutores da Ale- gria? Essa organização da sociedade civil sem fins lucra- tivos levou a arte do palhaço para dentro dos hospitais. Conheça um pouco mais sobre os projetos, impactos so- ciais e muitas histórias na página oficial dessa organiza- ção. Disponível em: <https://doutoresdaalegria.org.br>. Acesso em: 17 jul. 2021. O pedagogo hospitalar precisa estar preparado para enfrentar o sofrimento, a morte, a relação com família que 91 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES normalmente acompanha a criança e se sente insegura e angustiada, a ausência de estrutura física para oferecer um atendimento adequado às crianças hospitalizadas e a falta de uma equipe qualificada. Sobre esse perfil do professor para atuar no hospital, o documento “Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: Estratégias e Orientações”, criado pelo Ministério da educação (MEC), aponta algumas orientações: O professor que irá atuar em classe hospitalar ou no atendimento pedagógico domiciliar deverá estar capacitado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes vivências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais dos educandos impedidos de frequentar a escola, definindo e implantando estratégias de flexibilização e adaptação curriculares. Deverá, ainda, propor os O pedagogo hospitalar deve estar preparado para se relacionar com a família que se sente insegura. Fonte: Shutterstock 92 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS procedimentos didático-pedagógicos e as práticas alternativas necessárias ao processo ensino-aprendizagem dos alunos, bem como ter disponibilidade para o trabalho em equipe e o assessoramento às escolas quanto à inclusão dos educandos que estiverem afastados do sistema educacional, seja no seu retorno, seja para o seu ingresso (BRASIL, 2002, p. 22). Esse mesmo documento define o Atendimento Pedagógico Domiciliar como “atendimento educacional que ocorre em ambiente domiciliar” (2002, p. 13). Isso ocorre quando as crianças não necessitam mais da internação em um hospital. Esse atendimento acontece na residência do enfermo, com o auxílio de aparelhos médicos e, em algumas vezes, do enfermeiro. Em alguns casos, é necessário adaptar a residência com rampas, cama especial, entre outras necessidades. Se for necessário um professor para atendimento pedagógico domiciliar, cabe a responsabilidade das secretarias estaduais e municipais de educação com os hospitais. Ou seja, cabe à secretaria de educação atender às solicitações médicas de enviar professores aos hospitais ou aos domicílios dos alunos. Vamos terminar esse tópico trazendo para você uma carta muito especial, conhecida como “A Carta da Criança Hospitalizada”, que foi elaborada em 1988 por várias associações europeias, em Leiden e Portugal, e depois foi 93 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES representada pelo Instituto de Apoio à Criança. O Instituto de Apoio à Criança (IAC), criado em 1983, destacou-se com a divulgação dessa carta que sintetiza os direitos das crianças durante a hospitalização, objetivando um atendimento humanizado. 1. A admissão de uma criança no hospital só deve ter lugar quando os cuidados necessários à sua doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia. 2. Uma criança hospitalizada tem direito a ter os pais ou seus substitutos, junto dela, dia e noite, qualquer que seja a sua idade ou o seu estado. 3. Os pais devem ser encorajadosa ficar junto do seu filho, devendo ser-lhes facultadas facilidades materiais sem que isso implique qualquer encargo financeiro ou perda de salário. Os pais devem ser informados sobre as regras e as rotinas próprias do serviço para que participem ativamente na assistência à criança. 4. As crianças e os pais têm direito a receber informação sobre a doença e os respectivos 94 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS tratamentos, adequada à idade e à sua compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizem respeito. 5. Deve evitar-se todo o exame ou tratamento que não seja indispensável. As agressões físicas ou emocionais e a dor devem ser reduzidas ao mínimo. 6. As crianças não devem ser admitidas em serviços de adultos. Devem ficar reunidas em grupos etários para beneficiarem de jogos, recreios e atividades educativas adaptadas à idade, com toda a segurança. As pessoas que as visitam devem ser aceites sem limite de idade. 7. O hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas necessidades físicas, afetivas e educativas, quer no aspeto do equipamento, quer no do pessoal e da segurança. 8. A equipa de saúde deve ter a formação adequada para responder às necessidades psicológicas e emocionais das crianças e da família. 95 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES 9. A equipe de saúde deve estar organizada de modo a assegurar a continuidade dos cuidados que são prestados a cada criança. 10. A intimidade de cada criança deve ser respeitada. A criança deve ser tratada com cuidado e compreensão em todas as circunstâncias (IAC, 1988). AGORA É COM VOCÊ A atuação do pedagogo hospitalar realmente é um papel importante dentro dos hospitais, pois garantir que as crianças e adolescentes possam dar continuidade aos seus estudos quando estão passando por longos períodos de internação é garantir que um direito seja cumprido. Mas como ocorre a inserção profissional do pedagogo nos ambientes hospitalares? Leia o artigo “A pedagogia hospitalar como campo de atuação: procedimentos de inserção profissional no Brasil” e descubra quais os critérios e procedimentos para que isso ocorra. Disponível em: <https://www.even3.com.br/anais/ciiee2020/276066-a-pedagogia- hospitalar-como-campo-de-atuacao--procedimentos-de-insercao-profissional-no- brasil/> . Acesso em: 17 jul. 2021. Cabe ao pedagogo hospitalar conhecer as necessidades específicas de uma criança hospitalizada para oferecer suporte pedagógico e afetivo capaz de amenizar os impactos de 96 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS internações por longos períodos, nas quais as crianças perdem o vínculo com sua rotina social e enfrentam um ambiente desconhecido e desafiador. ONGS, MUSEUS, BRINQUEDOTECAS E OUTROS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO Como você já sabe, as práticas pedagógicas estão inseridas em espaços sociais múltiplos, isso inclui tanto a educação formal, quanto a educação não formal. Já estudamos sobre a atuação do pedagogo em empresas e dentro dos hospitais. Será que existem outros ambientes nos quais esse profissional pode atuar? Nesse tópico, vamos explicitar as características de outros contextos e faremos menção à atuação do pedagogo em museus, nas brinquedotecas e em organizações não governamentais (ONGs). AS ATIVIDADES EDUCATIVAS NOS MUSEUS Os museus não são apenas um ambiente para guardarmos coisas antigas e importantes para a memória e cultura de um 97 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES povo, “os museus possuem o caráter educacional vinculado à sua própria origem, uma vez que, desde o início, se configuravam como espaços de pesquisa e ensino” (FALCÃO, 2009, p. 14). Podemos afirmar, então, que o museu é um espaço de aprendizagem fora do ambiente escolar? Certamente. Portanto, vamos dialogar um pouquinho sobre como esses processos acontecem. O pedagogo organiza as atividades educativas nos museus promovendo aprendizagens significativas. Discutir questões relacionadas com o museu e sua natureza educativa não é um assunto recente. Você já leu um documento do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), sobre os princípios e parâmetros para a criação da Política Nacional de Educação Museal? Nesse documento, disponível no site do PNEM (Política Nacional de Educação Museal), são apresentados cinco EDUCAÇÃO MUSEAL Segundo o site Museu da vida, “educação museal” é um pro- cesso educativo focado no in- divíduo e na sua interação com a sociedade, que valoriza suas formas de fazer e viver a cultura, a política, a história. Fonte: <http://www.museuda- vida.fiocruz.br/index.php/ noticias/1463-educacao-mu- seal-e-a-importancia-da-aces- sibilidade-atitudinal-uma-con- versa-com-hilda-da-silva-go- mes>. Acesso em: 17 jul. 2021. 98 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS princípios para a implementação de uma Política Nacional de Educação Museal. Os princípios desse documento reconhecem o museu como espaço de educação e defendem a necessidade de políticas educacionais específicas. PRINCÍPIO 1: Estabelecer a educação museal como função dos museus reconhecida nas leis e explicitada nos documentos norteadores, juntamente com a preservação, conservação, comunicação e pesquisa. PRINCÍPIO 2: A educação museal compreende um processo de múltiplas dimensões de ordem teórica, prática e de planejamento, em permanente diálogo com o museu e a sociedade. PRINCÍPIO 3: Garantir que cada instituição possua setor de educação museal, composto por uma equipe qualificada e multidisciplinar, com a mesma equivalência apontada no organograma para os demais setores técnicos do museu, prevendo dotação orçamentária e participação nas esferas decisórias do museu. PRINCÍPIO 4: Cada museu deverá construir e atualizar sistematicamente a sua Política Educacional, em consonância ao Plano Museológico, levando em consideração as características institucionais e dos seus diferentes públicos, explicitando os conceitos e referenciais teóricos e metodológicos que embasam o desenvolvimento das ações educativas. PRINCÍPIO 5: Assegurar, a partir do conceito de Patrimônio Integral, que os museus sejam espaços de 99 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES educação, de promoção da cidadania e colaborem para o desenvolvimento regional e local, de forma integrada com os diversos setores dos museus (PNEM, s/d). Então, será que ampliar o campo de atuação do pedagogo também para os museus é pertinente? Tendo em vista a preocupação com os processos de ensino e aprendizagem, a partir dessa natureza educacional dos museus, podemos afirmar que a figura do pedagogo nos museus é realmente acertada. Mas como ocorre a ação educativa nesses espaços? O estudante pode ampliar seu conhecimento por meio dos acervos disponibilizados nos museus, porém, além disso, se houver orientação e interação maior com as histórias retratadas nesses espaços, o espírito crítico e reflexivo do visitante, sobre os mais diversos temas sociais, podem promover aprendizagens significativas. Segundo Marandino (2008, p. 21), uma visita a um museu pode ser mais do que somente um divertimento, pois estimula o aprendizado e a observação, promove o exercício da cidadania de forma distintiva por intermédio de atividades educativas que estimulam a participação de pessoas dos mais diversos grupos e níveis socioeconômicos. Com esse entendimento, podemos destacar a organização das atividades pedagógicas como atribuições do pedagogo nesse espaço não formal, cabendo a ele criar roteiros 100 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS educativos, promover atividades lúdicas e interativas para os visitantes e estimular a pesquisa. Ressaltamos, também, que o pedagogo, aliado aos historiadores, pode ajudar organizando os espaços de exposição, as propostas e projetos, visando o melhor aproveitamento das informações por parte dos visitantes. Se olharmos para o papel da escola, identificamos em suafunção social a necessidade de promover a integração entre os conteúdos curriculares, a história e a cultura para oferecer uma aprendizagem contextualizada e historicamente situada. Entretanto, não é isso que observamos na prática. Normalmente, encontramos um ensino descontextualizado da própria história. A preocupação com a formação de professores conscientes dessa responsabilidade irá favorecer a compreensão do papel e atuação do pedagogo em museus e espaços onde a cultura encontra-se fortemente representada por meio da história. Assim, nas ações educativas dos museus é essencial favorecer o acesso aos seus objetos, dando-lhes sentido e promovendo leituras sobre eles. Por meio dos objetos o visitante pode se sensibilizar e se apropriar dos conhecimentos expostos, assim como compreender os aspectos sociais, históricos, técnicos, artísticos e científicos envolvidos (MARANDINO, 2008, p. 20). “O museu para ser educativo precisa ser espaço de cultura e não museu educativo. É na sua precípua ação cultural que 101 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES se apresenta a sua possibilidade de ser educativo” (KRAMER; CARVALHO, 2012, p. 27). Observe que o museu é um ambiente onde podemos interagir com muito conhecimento. Essas informações descrevem a nossa história, representando, então, uma dimensão educativa riquíssima e um espaço de atuação do pedagogo. A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NAS BRINQUEDOTECAS Vamos começar conceituando e definindo o que são brinquedotecas. Segundo Noffs (2001, p. 160), se trata de um espaço onde a criança constrói suas próprias aprendizagens por meio de atividades lúdicas, sendo um ambiente estimulante que desenvolve suas capacidades estéticas e criativas, favorecendo a curiosidade do aluno e, além de tudo, é acolhedor e natural. Brinquedotecas: espaço onde a criança constrói suas aprendizagens por meio do lúdico. Fonte: Shutterstock (https://www.shutters- tock.com/image-photo/teacher-student-in- ternational-preschool-play-toy-1043300716) 102 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS No Brasil, Nylce Helena da Silva Cunha criou em 1984 a Associação Brasileira de Brinquedoteca (ABBri) filiada à Associação Internacional de Brinquedotecas (ITLA) que tem o objetivo de promover estudos sobre o brincar. Essa associação realiza cursos de formação para brinquedistas, que são pessoas que atuam criando, organizando e planejando as práticas oferecidas numa brinquedoteca. Normalmente, nesses cursos, encontramos muitos pedagogos buscando e estudando a partir de fontes científicas informações sobre o processo de desenvolvimento infantil aplicando as atividades lúdicas. Existem diferentes tipos de brinquedotecas, mas todas visam estimular a criança a brincar, oferecendo diversos brinquedos em um espaço livre, onde ela possa interagir e criar diversas situações que irão influenciar no desenvolvimento social e cognitivo. Observe a figura 3 a seguir: Figura 3 – Tipos de brinquedotecas Brinquedoteca escolar • Realização de trabalhos pedagógicos ou centros de educação continuada. Brinquedoteca em instituição de atendimento especial • Atender a crianças com necessidades especiais em suas diversas modalidades. Brinquedoteca comunitária • Prestar serviços à comunidade onde está inserida. Brinquedoteca em universidades e faculdades • Formação de professores e Recursos Humanos; espaço de aprendizagens por meio de pesquisas e prestação de serviços à comunidade. 103 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Brinquedoteca junto às bibliotecas • Deixar a criança utilizar o espaço com liberdade para ler e brincar. Brinquedoteca circulante • Instaladas em ônibus, caminhonetes itinerantes para crianças da periferia e outros espaços. Brinquedoteca em instituições de saúde • Amenizar as situações traumáticas das crianças hospitalizadas ou em tratamento médico. Brinquedoteca em espaços de entretenimento • Atender o publico infantil que frequenta espaços como shopping, parques, casas de diversões, entre outros. Fonte: adaptado de Hypolitto (2001, p. 176) Mas será que o brincar é tão fundamental para o desenvolvimento humano para justificar um pedagogo coordenando e planejando essas ações? Vygotsky (1998) em seus estudos explicou e provou que brincar é uma atividade humana criadora, que oferece condições para construção de relações cognitivas com pessoas, símbolos e coisas, destacando o papel da imaginação, da criatividade e da realidade nesse processo. As brincadeiras permitem que as crianças, desde bem pequenas, aprendam a solucionar problemas, enfrentar medos e interagir com outras crianças. Essas interações com os brinquedos, com as situações criadas e com outras crianças influenciam significativamente para construção de novos conhecimentos. O brincar, segundo Santos (2002, p. 12), é “uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão”. A utilização do lúdico 104 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS facilita o desenvolvimento pessoal, social e cultural da criança, além de facilitar a aprendizagem. As atividades lúdicas irão preparar a criança para os momentos de socializar, se comunicar e se expressar, e auxiliarão a construir seus conhecimentos. Destaca-se que a legislação brasileira reconhece o direito da criança de brincar. Isso pode ser observado na Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988, quando estabelece que: Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Brincar: construção de relações cognitivas com pessoas, símbolos e coisas. Fonte: Shutterstock (https://www.shutters- tock.com/image-photo/sydney-australia- -20190719-local-library-little-1586219440) 105 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 16, inciso IV, estabelece que um dos direitos da criança e do adolescente é “brincar, praticar esportes e divertir-se” (BRASIL, 1990). Agora, convencidos da importância do brincar e do papel das brinquedotecas, vamos entender o papel do pedagogo nesses espaços considerados criadores e recriadores de relações cognitivas. É fundamental que o pedagogo compreenda a importância do brincar no desenvolvimento humano. Que seja claro para ele as contribuições e o papel dessas experiências. Diante disso, apontamos a necessidade de discutir esses aspectos nos cursos de formação. Estar ciente desses aspectos é o primeiro passo para atuar nesses espaços lúdicos. Mas quais seriam realmente as atribuições do pedagogo nas brinquedotecas? Se o brincar pode ser livre ou dirigido, entendemos que ele vai orientar as brincadeiras nesse segundo caso. Todavia, o papel do pedagogo nas brinquedotecas vai muito além de organizar brincadeiras, ele deve diagnosticar e avaliar o que foi aprendido pela criança. Vamos organizar esse processo em três momentos: 106 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS 1. Primeiro o pedagogo deve identificar e organizar as brincadeiras e atividades lúdicas de acordo com as necessidades e idade da criança. 2. Num segundo momento, ele vai acompanhar e mediar a execução das atividades, identificando o que foi e o que não foi assimilado pela criança. 3. Por fim, ele deverá avaliar os resultados e recriar novas situações. Ou seja, exercendo o papel de organizador, mediador, observador e avaliador, tudo isso num espaço de liberdade, onde a criança pode brincar livremente ou ser induzida de forma discreta e motivadora. Finalmente, já entendemos a atuação do pedagogo emdiversos espaços sociais O pedagogo deve organizar, mediar, observar e avaliar as atividades lúdicas na brinquedoteca. 107 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES múltiplos, mas ainda existem alguns campos onde o egresso do curso de pedagogia pode atuar. Vamos prosseguir nossos estudos? AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E OUTROS ESPAÇOS Parte do que chamamos de terceiro setor, as organizações não governamentais (ONGs) são entidades privadas da sociedade civil sem fins lucrativos. Vamos entender isso direitinho conceituando o que chamamos de terceiro setor. E as ONGs? O que são essas organizações? São grupos que se organizam e fazem diversas parcerias para desenvolverem as ações por meio de projetos sociais em lugares onde o governo não consegue atender adequadamente todas as demandas TERCEIRO SETOR Segundo o site Significados, “terceiro setor” é uma palavra de origem americana Third Sec- tor, é formado por associações e entidades sem fins lucrativos. A sociedade civil é dividida em três setores, o primeiro setor é for- mado pelo governo, o segundo setor é formado pelas empresas privadas e o terceiro setor são as associações sem fins lucrativos e contribui para chegar a locais onde o Estado não alcança e realiza ações solidárias. Essa expressão pode transmitir a ideia de que o primeiro setor e o segundo setor sejam mais importantes, mas não é essa a intenção. A ideia foi herdada dos Estados Unidos para organizar a seguinte divisão: o primeiro setor é constituído pelo Estado, o segundo setor formado pelos entes privados com fins lucrati- vos e o terceiro setor é formado pelas organizações privadas sem fins lucrativos. Fonte: <https:// w w w.signi f icados.com.br/ terceiro-setor>. Acesso em: 29 abr. 2020. 108 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS básicas da comunidade (GOHN, 2010). Normalmente, as ONGs são compostas por diversos voluntários, pessoas conscientes do seu papel cidadão que buscam ajudar de forma mais efetiva para melhorar as condições da sociedade em diversos aspectos. A Lei N. 9.790, de 23 de março de 1999, dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, e fala sobre a promoção da educação por meio dessas organizações: Art 3° - A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: I – promoção da assistência social; II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – promoção gratuita da educação, observando- se de forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei. Nesse contexto, descrito no art. 3° inciso III, identificamos o campo de atuação para o pedagogo em ONGs. Cabe a ele a elaboração e desenvolvimento de projetos educacionais, 109 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES a organização das ações da instituição, além de prestar atendimento pedagógico em ONGs que oferecem escolas ou reforço escolar e atuar também como educador social. Os pedagogos que atuam em espaços educativos não formais, além das habilidades e competências exigidas em ambientes escolares, precisam perceber as expectativas e interesses do educando para promover e favorecer diferentes oportunidades de vivências coletivas. Além disso, os conhecimentos prévios das crianças, não só nos ambientes não formais, mas também nos formais, devem ser considerados para elaboração dos planos e projetos educativos. Os contextos sociais e culturais de origem dos educandos são fundamentais para que os processos de aprendizagens sejam significativos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o nosso estudo, aprendemos que a pedagogia é um campo amplo de atuação que ultrapassa os limites da escola. O pedagogo pode ser encontrado em qualquer espaço onde as ações pedagógicas sejam necessárias para promover o aprendizado. Um desses espaços é a empresa, onde o pedagogo, por meio de técnicas e estratégias, aprimora os processos de 110 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS aprendizagem dos funcionários, o que vai refletir na conquista das metas empresariais de forma mais eficaz. Entendemos que o pedagogo empresarial, por meio de um plano de ação elaborado, promove ações que podem incluir treinamentos, dinâmicas, cursos, palestras, jogos e outras atividades. Ele também é o corresponsável pela responsabilidade social da empresa. Ele oferece uma educação qualificada, favorecendo e facilitando os processos de aprendizagem, e uma formação continuada de acordo com as necessidades dos funcionários, o que contribui para que os sujeitos se relacionem de forma a construir e trabalhar em equipe, mantendo um clima organizacional adequado. Nos hospitais, sua atuação garante a continuidade escolar para crianças e adolescentes que precisam de longos períodos de internação, permitindo o acesso aos estudos por meio das classes hospitalares. Ele tua amenizando o ambiente não acolhedor dos hospitais, envolvendo a ludicidade para diminuir o sofrimento das crianças hospitalizadas e promovendo a humanização nesse ambiente que é carente de estímulos perceptivos. Nos museus, o pedagogo atua organizando as atividades educativas de forma que promovam aprendizagens significativas por meio do acervo disponibilizado. Promover a organização, a mediação e a avaliação da interação da criança com as atividades 111 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES lúdicas propostas na brinquedoteca é atribuição do pedagogo nesse espaço não formal de educação, o que promoverá construções significativas no desenvolvimento infantil. E, por fim, estudamos o papel do pedagogo nas ONGs e em outros espaços sociais múltiplos, onde ele atua favorecendo a aprendizagem por meio de um processo dinâmico, cultural e contextualizado. RESUMO Nesta unidade, aprendemos que: • o pedagogo atua em muitos espaços além da escola. Onde houver intenção de ensino e aprendizagem, as ações pedagógicas podem ser aplicadas; • o pedagogo empresarial atua nos ambientes organizacionais, identificando as necessidades a partir da realidade da própria empresa para elaborar e implementar um plano de ação que promova por meio dos indivíduos o alcance das metas empresariais com mais eficiência e eficácia, num ambiente organizacional saudável. Os conceitos, o papel e as atribuições do pedagogo dentro do ambiente empresarial 112 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS promovem aprendizagem e um clima organizacional que incentive a produção e o desenvolvimento pessoal; • no hospital, o pedagogo atua nas classes hospitalares, e ameniza o impacto do ambiente hospitalar na recuperação de crianças que ficam hospitalizadas por longos períodos. Seu papel é fundamental na humanização e nos processos de readaptação escolar; • em museus, brinquedotecas e nas organizações não governamentais, o pedagogo pode atuar na promoção e organização de aprendizagem e aquisição de conhecimentos; • nos museus, destaca-se como atribuições do pedagogo a organização das atividades pedagógicas nas quais ele cria os roteiros educativos, promove atividades lúdicas e interativas. Nesses ambientes, cabe ao pedagogo junto com historiadores organizar os espaços de exposição, favorecendo, assim, os projetos educativos; • nas brinquedotecas, a atuação do pedagogo pode ser organizada em três momentos: identificar e organizar as brincadeiras e atividades lúdicas de acordo com as necessidades e idade da criança; 113 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES depois, acompanhar as atividades; por fim, avaliar os resultados para recriar novas situações; • nas ONGs, o pedagogo, além deorganizar as atividades de intervenção escolar, pode atuar desenvolvendo projetos que promovam aprendizagens de acordo com as necessidades locais. Espero que você tenha compreendido o papel do pedagogo nesses espaços sociais múltiplos e que eles possam contribuir para sua formação pedagógica. REFERÊNCIAS ABBri. Associação Brasileira de Brinquedoteca. Disponível em: <https://www.brinquedoteca.org.br>. Acesso em: 29 abr. 2021. BRASIL. 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