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Livro - Organização Sindical

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Organização Sindical
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
De há muito já se dizia que não há sindicalismo verdadeiro sem o autogoverno democrático das associações civis representativas de movimentos sociais organizados. Daí a importância de fazermos um breve passeio sobre os sistemas sindicais em alguns países democráticos.
O sistema sindical francês está edificado sobre três grandes princípios: o da liberdade, o da pluralidade e o da autonomia. Os sindicatos franceses encontram-se reunidos em quatro grandes entidades de cúpula: a Confederação Geral do Trabalho (CGT), a Confederação Geral do Trabalho-Força Operária (CGT-FO), a Confederação Francesa dos Trabalhadores Cristãos (CFTC) e a Confederação Geral dos Quadros (CGQ).
A Inglaterra, desde 1906, assegurou, por lei, a liberdade sindical plena, sendo nesse mesmo ano fundado o Partido Trabalhista (Labour Party). O Congresso dos Sindicatos é o órgão de cúpula da organização sindical inglesa.
Na Alemanha Ocidental, a liberdade sindical foi reconquistada após a II Guerra Mundial, sendo a principal organização sindicalista a Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), sediada em Düsseldorf.
No Brasil, como já vimos no capítulo precedente, a Constituição Federal de 1988, de índole democrática, consagrou a autonomia sindical, a liberdade de filiação, mas manteve, contraditoriamente, o sistema da unicidade sindical ou sindicato único, que consiste na permissão, por meio de norma jurídica estatal, de existência, na mesma base territorial, de apenas um sindicato representativo da mesma categoria profissional ou econômica (art. 8º, II), e a contribuição sindical obrigatória (“imposto sindical”)130, independentemente da contribuição confederativa instituída pela assembleia geral da categoria (art. 8º, IV, in fine).
2. CONCEITO DE SINDICATO
Vários autores formulam conceitos distintos para sindicato. Para uns, é toda instituição ou associação, via de regra de caráter profissional, cujo objeto repousa na defesa dos interesses comuns de uma classe ou de um grupo de pessoas. Outros advogam que o sindicato é uma associação profissional, reconhecida pelo Estado e investida nas prerrogativas e obrigações legais, como representante legal de uma categoria.
Amauri Mascaro Nascimento131 advoga que sindicato “é uma organização social constituída para, segundo um princípio da autonomia privada coletiva, defender os interesses trabalhistas e econômicos nas relações coletivas entre os grupos sociais”.
Nas palavras de Laski132, constitui-se o sindicato num “elemento necessário ao processo, em desenvolvimento, da vida democrática”.
Para nós, o sindicato constitui espécie do gênero associação, cuja missão precípua é a defesa dos interesses profissionais e econômicos dos que a integram.
Numa síntese, os sociólogos americanos Mac Iver; Page, Charles fornecem a seguinte noção:
O sindicato constitui um fenômeno próprio de uma sociedade industrializada, em que o trabalhador não é senão um empregado que se aluga e que tem poucos ou nenhum vínculo que o ligue à fábrica ou à oficina, a não ser o nexo-salário semanal. Os sindicatos primitivos constituíram pequenas organizações de trabalhadores que procuravam encontrar algum meio de mitigar sua fraqueza individual ante o patrão, tendo de arrostar a hostilidade dos governos assim como a falta de prestígio social, que acompanhavam seu humilde status e que bloqueavam seus esforços para modificar a ordem estabelecida. Os economistas da época – princípios do século passado – sustentavam que estes esforços eram vãos em face da inexorável lei do mercado. O volume e o número dos sindicatos cresceram enormemente nos últimos tempos, de tal modo que na maioria dos países industrializados desempenham hoje um papel fundamental, através de suas federações e uniões nacionais, de determinação das escalas de salário, horas e condições de trabalho etc., exercendo, ao mesmo tempo, considerável influência política. A principal fonte de sua força é a greve133.
3. BREVE HISTÓRICO DO SINDICALISMO NO BRASIL
Denominadas Ligas Operárias e sob forte influência dos trabalhadores estrangeiros que para cá migraram, surgiram no Brasil, no final do séc. XIX e início do séc. XX, os primeiros passos do sindicalismo nacional.
Os primeiros a serem reconhecidos legalmente foram os sindicatos rurais (1903). Depois, os sindicatos urbanos (1907). A partir de 1930, o modelo sindical brasileiro sofreu a influência do corporativismo italiano (fascismo), resultando em acentuada interferência estatal na sua organização e funcionamento.
A Revolução de 1930 deu contornos mais precisos a respeito da nossa organização sindical, sendo que o Decreto 19.770, de 19.03.1931, estabeleceu distinção mais nítida entre sindicatos de empregados e de empregadores. A partir daí, foi exigido o reconhecimento dos sindicatos pelo Ministério do Trabalho, então criado.
A Constituição de 1934 garantiu a pluralidade e a autonomia sindicais. Por falta de regulamentação infraconstitucional, tais preceitos caíram no esquecimento.
A Carta de 1937 consagrou o sindicato único, cuja criação, organização e funcionamento eram regulados pelo Decreto 1.402, de 05.07.1939. Permitiu-se a intervenção estatal na vida sindical. A investidura sindical passou a ser conferida à associação mais representativa, a critério do Ministério do Trabalho. A greve era considerada infração penal. Esse sistema, de índole fascista, foi posteriormente adotado pela CLT.
A CF/43 reconhece o direito de greve, que foi regulamentado muito tempo depois (Lei 4.330, de 01.06.1964).
A Constituição de 1967/69 praticamente nada inovou em relação ao regime anterior.
4. A CONSTITUIÇÃO DE 1988
A organização sindical brasileira sofreu, embora com indisfarçável caráter conservador, sensíveis alterações com o novo modelo instituído pela Constituição Federal de 05.10.1988.
O regime, de forte interferência estatal, cedeu lugar ao sistema da autonomia das entidades sindicais, sem que fosse, contudo, adotada a liberdade sindical plena, conforme disposto no art. 8º e seus incisos da CF/88:
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
II – é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;
IV – a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;
V – ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII – o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII – é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer134.
5. NATUREZA JURÍDICA DO SINDICATO
A natureza jurídica dos sindicatos varia de acordo com o ordenamento jurídico de cada Estado.
5.1. Pessoa jurídica de direito público
Em países totalitários não há liberdade sindical. Os sindicatos não têm qualquer autonomia perante o Estado. São, ao revés, órgãos do próprio Estado, do qual dependem diretamente. São exemplos de sindicatos de naturezapublicística os sindicatos nos países que integravam o antigo bloco socialista e os que existiam na Itália fascista.
5.2. Pessoa jurídica de direito privado
Quando o sindicato tem plena autonomia perante o Estado, sua disciplina jurídica resulta do seu poder normativo ou de normas que o situam como associação nos moldes de direito comum, aflora aí a sua natureza de pessoa jurídica de direito privado, embora com algumas peculiaridades, é claro, para que possa cumprir sua função precípua em defesa de interesses de grupos. São exemplos os sindicatos de natureza privatística, os da Itália contemporânea, Estados Unidos, França etc.
5.3. Pessoa jurídica de direito social
Autores há, entre nós, Cesarino Júnior, que referem o sindicato como pessoa jurídica de direito social, isto é, uma instituição coletiva de proteção aos fracos.
5.4. Modelo brasileiro
O sindicato, hoje, no Brasil, adverte acertadamente Amauri Mascaro Nascimento:
é pessoa jurídica de direito privado que exerce a função de defender os interesses coletivos dos membros da categoria que representa, bem como os interesses individuais dos membros da respectiva categoria, não mais desempenhando, como antes de 1988, funções delegadas do Poder Público. É criado pelos próprios interessados através de registro no órgão competente. Assim, o princípio seguido é o da autonomia organizativa sindical, assegurado em nível constitucional, não limitável nem mesmo através de lei ordinária [...] passando-se a observar o princípio da autonomia administrativa, em razão do qual foi afastada a possibilidade de tutela dos sindicatos pelo Ministério do Trabalho, como o que, nas relações com o Estado, a organização sindical tem uma liberdade que, durante maior parte da sua história, não conheceu. Porém, a mesma democratização não se observa na relação dos sindicatos entre si, com a manutenção, pela maioria deles desejada, da unicidade sindical, aparentemente contraditória com a autonomia organizativa135.
A nosso sentir, sindicato, no Brasil, possui natureza de pessoa jurídica de direito privado sob a forma de associação civil, que representa categoria (econômica ou profissional), tendo por objetivo atuar, judicial e extrajudicialmente, em defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da correspondente categoria com permissão constitucional e legal para promover a negociação coletiva e celebrar acordos coletivos e convenções coletivas de trabalho.
6. CRITÉRIOS DE REPRESENTAÇÃO SINDICAL
Tendo em vista que a árvore sindical brasileira é bifurcada em dois ramos – um, integrado pelos trabalhadores e outro, pelos empregadores –, é possível encontrar alguns critérios que procuram explicar a base sociológica sobre a qual o sindicato se assenta. Tudo dependerá, como veremos adiante, do modelo sindical a ser adotado pelo respectivo Estado.
Assim, pode haver sindicato por profissão, que reúne todos os que militam numa determinada atividade profissional, independentemente da empresa ou do setor de atividade em que trabalhem. Exemplo: todos os engenheiros que se reúnem num sindicato, os motoristas, os médicos, os advogados etc.
Um outro critério é o do sindicato por empresa, que seria aquele representativo de todos os trabalhadores que laboram numa empresa, independentemente da profissão que nela exerçam. Estados Unidos, Itália contemporânea e Chile adotam esse modelo.
É possível, ainda, a existência do sindicato por categoria profissional ou econômica, entendendo-se por categoria, segundo o referido Amauri Mascaro Nascimento,
o conjunto de pessoas de qualquer profissão e de qualquer empresa que exerçam o seu trabalho num setor da economia, determinado pela atividade preponderante da empresa em questão. Assim, exemplificando, todos os empregados das empresas hoteleiras, independentemente da sua profissão, reúnem-se numa categoria que é representada por um sindicato. Não se trata de um sindicato por empresa, nem sindicato por profissão. Ultrapassa o limite de uma empresa. Esta apenas serve de indicativo da atividade preponderante para que aqueles que nela se encontram se vinculem para fins sindicais136.
O Brasil adota, como regra, o sindicalismo por categorias econômicas e profissionais, admitindo, excepcionalmente, o sindicato por profissão, também chamada de sindicato representativo de categoria profissional diferenciada (CLT, art. 511, § 3º).
Em 2005, o TST editou a Súmula 374, segundo a qual, “Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria”.
De lege lata, não há falar em sindicato por empresa no nosso país, na medida em que o enquadramento sindical elaborado pelo Estado foi mantido, embora passível de sofrer modificações em virtude do princípio da liberdade de constituição de sindicatos previsto no art. 8º da Carta Suprema.
O sindicato por profissão é tradicional e, em face da sua disposição horizontal, permite homogeneidade de interesses coletivos a serem defendidos.
A organização sindical por categorias econômicas e profissionais vem recebendo críticas da doutrina por representar um modelo corporativista, inibidor, portanto, da espontânea criação de sindicatos. Tem de positivo a possibilidade de um agrupamento forte e com maiores poderes de reivindicação.
O sindicato por empresa constitui forma descentralizada que visa ao atendimento das peculiaridades que caracterizam as relações de trabalho mantidas com cada empregador, suas reais possibilidades econômicas e sua produtividade para fins de aumentos salariais. Aqui, o sindicato fica mais próximo da realidade da empresa, contribuindo, assim, para a otimização das negociações coletivas.
Há outros critérios, a saber:
a) base territorial, segundo a qual a área geográfica de circunscrição do sindicato é limitada geograficamente (no Brasil, deve necessariamente ser de, no mínimo, a correspondente a um município, nos termos do art. 8º, II, da Constituição Federal);
b) associações sindicais de grau superior, como as confederações (3º grau) e as federações (2º grau). Aqui, portanto, o sindicato seria entidade de primeiro grau.
Na alta cúpula das relações coletivas de trabalho existem as denominadas centrais sindicais. A Lei 11.648/2008 reconheceu formalmente a existência das centrais sindicais, dispondo, no seu art. 1º, que elas são entidades de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, cabendo-lhes coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas e participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores. O parágrafo único do preceptivo em causa considera central sindical “a entidade associativa de direito privado composta por organizações sindicais de trabalhadores”. Não existe central sindical de representação geral dos empregadores ou empresários.
Há países em que existe apenas uma central sindical.
No Brasil, existem a CGT – Central Geral dos Trabalhadores, a CUT – Central Única dos Trabalhadores, a FS – Força Sindical, a USI – União Sindical Independente e a CGT (segunda) desdobramento da primeira.
Há, ainda, outras formas de organização, como os sindicatos verticais (por ramo ou setor da produção, sem discriminações quanto aos diferentes profissionais neles existentes ou ofício que exercem) e os horizontais (organizados com base numa profissão ou ofício, sem discriminação quanto aos ramos de atividades a que pertençam, em que os trabalhadores de uma empresa pertenceriam a vários sindicatos, tantos quantos forem os tipos de profissões nela encontrados, como, por exemplo, sindicato dos desenhistas, ferramenteiros, motoristas, telefonistas etc. Também há os sindicatos abertos (não há restrição para ingresso) e fechados; puros e mistos (compostos de trabalhadores e empregadores); simples (integrados por trabalhadoresindividualmente considerados) e complexos (formados da união de sindicatos primários); de direito e de fato; amarelos (sindicatos espúrios, criados ou financiados por empresários para enfraquecer a ação dos verdadeiros sindicatos – nos EUA também são chamados de sindicatos brancos).
7. A QUESTÃO DO REGISTRO SINDICAL
O art. 8º, inc. I, da Constituição Federal preceitua que
a lei não poderá exigir autorização do Estado para fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical.
Até 1994, reinava o entendimento de que, em face da literalidade do texto constitucional, o Ministério do Trabalho exercia unicamente uma função cadastral dos novos sindicatos, isto é, não apreciava aspectos meritórios relativos à validade ou não da criação das entidades sindicais.
Com o advento da Instrução Normativa 03, de 10.08.1994, do Ministério do Trabalho, criando o Cadastro Nacional das Entidades Sindicais, organizado pela Secretaria das Relações de Trabalho daquele órgão estatal, o entendimento anterior foi modificado. Assim, compete ao Ministro do Trabalho decidir sobre registro de sindicatos, federações e confederações para os efeitos de eventuais impugnações que poderão ser apresentadas por outras entidades sindicais que se sentirem prejudicadas com a criação do novo sindicato.
Cumpre dizer que o STF, no julgamento da ADIn 813-5/DF, deixou assentado:
Sem o registro no órgão estatal competente – que ainda continua a ser o Ministério do Trabalho, circunstância esta que confere maior efetividade ao princípio da unicidade sindical, posto que permite a um órgão estatal tecnicamente aparelhado a possibilidade de realizar fiscalização mais intensa sobre a integridade deste postulado fundamental da organização sindical – torna-se inviável a aquisição, pelo interessado, da personalidade jurídica de natureza sindical. Sem a integral realização desse procedimento... a entidade sindical, ainda que registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, não terá caráter sindical, desvestindo-se de qualquer validade, para esse específico efeito de direito, a concretização do registro meramente civil.
De outra parte, a jurisprudência do STF, interpretando a norma inscrita no art. 8º, I, da Carta Política, firmou orientação no sentido de que não ofende o texto da Constituição a exigência de registro sindical no Ministério do Trabalho, órgão este que, sem prejuízo de regime diverso passível de instituição pelo legislador comum, ainda continua a ser o órgão estatal incumbido de atribuição normativa para proceder à efetivação do ato registral (precedente: RTJ 147/868, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). O registro sindical, segundo o STF, “qualifica-se como ato administrativo essencialmente vinculado, devendo ser praticado pelo Ministro do Trabalho, mediante resolução fundamentada, sempre que, respeitado o postulado da unicidade sindical e observada a exigência de regularidade, autenticidade e representação, a entidade sindical interessada preencher, integralmente, os requisitos fixados pelo ordenamento positivo e por este considerados como necessários à formação dos organismos sindicais”137.
Em 2003, o STF editou a Súmula 677, dispondo que: “Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade”.
Durante algum tempo, o registro sindical foi regulado pela Instrução Normativa MTb/GM 1, de 17.07.1997 (DOU 29.08.1997). Atualmente, a Solicitação de Registro Sindical (para as entidades de primeiro grau – sindicatos) é regida pela Portaria MTE 326/2013 de 1º de março de 2013. Para as entidades de grau superior (Federações e Confederações) estas continuam a ser regidas pela Portaria MTE 186/2008.
É importante ressaltar que registro sindical no Ministério do Trabalho constitui ato vinculado, subordinado apenas à verificação de pressupostos legais, e não de autorização ou de reconhecimento discricionários, segundo orientação do Supremo Tribunal Federal138.
8. ADMINISTRAÇÃO DO SINDICATO
No ordenamento jurídico brasileiro, o sindicato é administrado nos termos dos seus estatutos, os quais, no entanto, devem observar as regras estabelecidas na legislação pertinente.
Assim, de acordo com o art. 522 da CLT, a administração do sindicato será exercida por uma diretoria constituída no máximo de sete e no mínimo de três membros e de um Conselho Fiscal composto de três membros, eleitos esses órgãos pela assembleia geral.
A diretoria elegerá, dentre os seus membros, o presidente do sindicato, sendo certo que a competência do conselho fiscal é limitada à fiscalização da gestão financeira do sindicato.
Além disso, prevê o art. 523 da CLT que a diretoria poderá designar, dentre os associados radicados no território da correspondente delegacia, delegados sindicais destinados à direção das delegacias ou seções instituídas na forma estabelecida no § 2º do art. 517 do mesmo diploma normativo.
Constituem órgãos da estrutura interna dos sindicatos:
a) Assembleia geral, seu órgão soberano, que é constituída dos associados do sindicato, com direito a voto nas suas deliberações de sua competência;
b) Conselho Fiscal, integrado por três membros eleitos pela assembleia geral, a quem compete a fiscalização da gestão financeira;
c) Diretoria, que é órgão executivo na estrutura sindical eleito pela assembleia geral, é constituída de no mínimo três e no máximo sete membros, dentre os quais um será eleito, pelos demais diretores, presidente do sindicato.
Os membros da diretoria e do conselho fiscal são destinatários da garantia provisória no emprego, a partir do registro da candidatura, e, se eleitos, ainda que suplentes, até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta grave nos termos da lei (CF, art. 8º, VIII, c/c CLT, art. 493).
É importante ressaltar que de acordo com a Súmula 369 do TST:
I – É assegurada a estabilidade provisória ao empregado dirigente sindical, ainda que a comunicação do registro da candidatura ou da eleição e da posse seja realizada fora do prazo previsto no art. 543, § 5º, da CLT, desde que a ciência ao empregador, por qualquer meio, ocorra na vigência do contrato de trabalho (redação do item I alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012).
II – O art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Fica limitada, assim, a estabilidade a que alude o art. 543, § 3º, da CLT a sete dirigentes sindicais e igual número de suplentes139.
III – O empregado de categoria diferenciada eleito dirigente sindical só goza de estabilidade se exercer na empresa atividade pertinente à categoria profissional do sindicato para o qual foi eleito dirigente140.
IV – Havendo extinção da atividade empresarial no âmbito da base territorial do sindicato, não há razão para subsistir a estabilidade.
V – O registro da candidatura do empregado a cargo de dirigente sindical durante o período de aviso prévio, ainda que indenizado, não lhe assegura a estabilidade, visto que inaplicável a regra do § 3º do art. 543 da CLT.
9. RECURSOS FINANCEIROS
São basicamente quatro as fontes dos recursos financeiros das entidades sindicais:
9.1. Contribuição confederativa
Criada pela Constituição Federal (art. 8º, IV), é destinada ao custeio do sistema confederativo sindical brasileiro, sendo fixada pela assembleia geral. Há cizânia sobre a aplicabilidade deste dispositivo constitucional. Para uns, teria eficácia plena. Outros sustentam sua eficácia limitada, dependendo, pois, de regulamentação via lei ordinária.
A nosso ver, a contribuição confederativa, por não ter natureza tributária, não depende de lei para a sua instituição, uma vez que o inc. IV do art. 8º da CF confere à assembleia geral da categoria a competência para a sua instituição, independentemente de lei ordinária. Por não ter natureza tributária, somente é devida pelos trabalhadores ou empregadores filiados à entidade sindical correspondente.
O STF firmou posição no sentido da eficácia plenae aplicabilidade imediata do inc. IV do art. 8º da CF:
Sindicato: contribuição confederativa instituída pela assembleia geral: eficácia plena e aplicabilidade imediata da regra constitucional que a previu (CF, art. 8º, IV). Coerente com a sua jurisprudência no sentido do caráter não tributário da contribuição confederativa, o STF tem afirmado a eficácia plena e imediata da norma constitucional que a previu (CF, art. 8º, IV): se se limita o recurso extraordinário – porque parte da natureza tributária da mesma contribuição – a afirmar a necessidade de lei que a regulamente, impossível o seu provimento (STF-RE 161.547 – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – j. 24.03.1998 – 1ª T. – DJ de 08.05.1998).
Coerentemente, o STF editou, em 2003, a Súmula 666, dispondo que “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”.
9.2. Contribuição sindical
A contribuição sindical compulsória estava prevista nos arts. 578 a 610 da CLT. Como espécie de receita sindical, a contribuição sindical, nos termos do art. 579 da CLT, era “devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão”.
Esta contribuição, que também era chamada de “imposto sindical”, possuía natureza tributária e foi recepcionada pelo art. 8º, IV, in fine, e art. 149 da CF.
A natureza tributária da contribuição sindical foi reconhecida pelo STF:
A contribuição confederativa, instituída pela assembleia geral – CF, art. 8º, IV – distingue-se da contribuição sindical, instituída por lei, com caráter tributário – CF, art. 149 – assim compulsória. A primeira é compulsória apenas para os filiados do sindicato (RE 198.092 – Rel. Min. Carlos Velloso – j. 27.08.1996 – 2ª T. – DJ de 11.10.1996)141.
Quanto à cobrança da contribuição sindical dos servidores públicos, o STF adotou a seguinte posição:
Sindicato de servidores públicos: direito à contribuição sindical compulsória (CLT, art. 578 seguintes), recebida pela Constituição (art. 8º, IV, in fine), condicionado, porém, à satisfação do requisito da unicidade. A Constituição de 1988, à vista do art. 8º, IV, in fine, recebeu o instituto da contribuição sindical compulsória, exigível, nos termos do art. 578 e seguintes, CLT, de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato (cf. ADI 1.076-MC, Pertence, 15.06.1994). Facultada a formação de sindicatos de servidores públicos (CF, art. 37, VI), não cabe excluí-los do regime da contribuição legal compulsória exigível dos membros da categoria (ADI 962 – 11.11.1993 – Min. Ilmar Galvão) (STF-RMS 21.758 – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – j. 20.09.1994 – 1ª T. – DJ de 04.11.1994).
A Lei 13.467/2017, no entanto, alterou radicalmente a natureza jurídica da contribuição sindical, na medida em que esta deixou de ser compulsória e passou a ser facultativa para os integrantes de categorias profissionais ou econômicas, assim como para os integrantes das categorias profissionais diferenciadas.
Com efeito, o novel art. 545 da CLT dispõe literalmente que os “empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por este notificados”.
Não há mais a ressalva da contribuição sindical, que não exigia a referida autorização do empregado para o empregador descontá-la na folha de salários. Noutros termos, qualquer desconto salarial destinado ao sindicato da categoria profissional dependerá de prévia autorização, por escrito, do empregado.
Além disso, a Lei 13.467/2017 alterou os arts. 578, 579 e 582 da CLT, que passaram a ter as seguintes redações:
Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas.
Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação.
Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos. (grifos nossos)
É importante ressaltar que em 29.06.2018, nos autos da ADI 5.794 (Processos Apensados: ADI 5.912, ADI 5.923, ADI 5.859, ADI 5.865, ADI 5.813, ADI 5.885, ADI 5.887, ADI 5.913, ADI 5.810, ADC 55, ADI 5.811, ADI 5888, ADI 5.892, ADI 5.806, ADI 5.815, ADI 5.850, ADI 5.900, ADI 5.950 e ADI 5.945), o Pleno do STF, por maioria e nos termos do voto do Ministro Luiz Fux, que redigirá o acórdão, julgou improcedentes os pedidos formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade e procedente o pedido formulado na ação declaratória de constitucionalidade142.
Dessa forma, o STF considerou válidos os citados dispositivos da CLT, com as redações da Lei 13.467/2017, que afastaram o caráter compulsório da contribuição sindical.
O recolhimento da contribuição sindical referente aos empregados e trabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadores autônomos e profissionais liberais realizar-se-á no mês de fevereiro, observada a exigência de autorização prévia e expressa prevista no novel art. 579 da CLT.
Os empregadores que optarem pelo recolhimento da contribuição sindical deverão fazê-lo no mês de janeiro de cada ano, ou, para os que venham a se estabelecer após o referido mês, na ocasião em que requererem às repartições o registro ou a licença para o exercício da respectiva atividade (CLT, art. 587).
Os empregados que não estiverem trabalhando no mês destinado ao desconto da contribuição sindical e que venham a autorizar prévia e expressamente o recolhimento serão descontados no primeiro mês subsequente ao do reinício do trabalho (CLT, art. 602).
É importante lembrar que, a despeito da discussão sobre a sua natureza de tributo143, as contribuições sindicais continuam sendo recolhidas à Caixa Econômica Federal ou aos demais bancos integrantes do Sistema de Arrecadação dos Tributos Federais, de acordo com instruções expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, que repassarão à Caixa Econômica Federal as importâncias arrecadas (CLT, art. 586).
Com efeito, dispõe o art. 589 da CLT, mantido incólume pela Lei 13.467/2017, que:
Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho:
I – para os empregadores:
a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;
b) 15% (quinze por cento) para a federação;
c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e
d) 20% (vinte por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário”;
II – para os trabalhadores:
a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;
b) 10% (dez por cento) para a central sindical;
c) 15% (quinze por cento) para a federação;
d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e
e) 10% (dez por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário”;
III – (revogado);
IV – (revogado).
§ 1º O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação dos créditos previstos neste artigo.
§ 2º A central sindical a que se refere a alínea b do inciso II do caput deste artigo deverá atender aos requisitos de representatividade previstos na legislação específicasobre a matéria.
Na hipótese de inexistência de confederação, prevê o art. 590 da CLT que o percentual previsto no art. 589 da CLT “caberá à federação representativa do grupo”, sendo certo que nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 590 da CLT, não havendo sindicato, nem entidade sindical de grau superior ou central sindical, a contribuição sindical será creditada, integralmente, à “Conta Especial Emprego e Salário” e não havendo indicação de central sindical, na forma do § 1º do art. 589 da CLT, os percentuais que lhe caberiam serão destinados à “Conta Especial Emprego e Salário”.
Inexistindo sindicato, os percentuais previstos na alínea c do inciso I e na alínea d do inciso II do caput do art. 589 da CLT serão creditados à federação correspondente à mesma categoria econômica ou profissional. Igualmente, se não existir sindicato, os percentuais previstos nas alíneas a e b do inciso I e nas alíneas a e c do inciso II do caput do art. 589 da CLT caberão à confederação.
Os arts. 592 a 594 da CLT dispõem sobre a destinação dos recursos arrecadados a título de contribuição sindical. Além das despesas vinculadas à sua arrecadação, recolhimento e controle, a contribuição sindical será aplicada pelos sindicatos, na conformidade dos respectivos estatutos, com os seguintes objetivos, dentre outros: assistência técnica e jurídica; assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica; realização de estudos econômicos e financeiros; agências de colocação; cooperativas; bibliotecas; creches; congressos e conferências; feiras e exposições; prevenção de acidentes do trabalho; finalidades desportivas.
A crítica que fazemos às alterações introduzidas pela Lei 13.467/2017 repousam na ausência de regras de transição e de debates democráticos para a extinção gradativa da contribuição sindical. Certamente, os sindicatos das categorias profissionais serão os mais prejudicados com a queda vertiginosa de arrecadação, o que implicará a redução da defesa dos direitos dos trabalhadores, porquanto dispõe o inciso III do art. 8º da CF que os sindicatos são instituições de defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria, sendo que a contribuição sindical constitui elemento econômico imprescindível para o desempenho de tal missão constitucional.
Já as entidades sindicais patronais não sofrerão impactos tão gigantescos em sua gestão financeira, na medida em que recebem outras “contribuições” muito mais vultosas oriundas do Sistema “S” (SESC, SENAI, SENAR etc.), sendo certo, ainda, que, costumeiramente, os empregadores não se opõem ao recolhimento da contribuição sindical patronal.
O mais estranho é que paralelamente à “extinção” da contribuição sindical para os sindicatos dos trabalhadores, sob o engenhoso argumento de introduzir mais liberdade e modernidade nas relações de trabalho, deveria o Congresso Nacional ter ratificado a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (mediante simples Decreto Legislativo), que consagra a mais ampla liberdade sindical, tal como ocorre com os países mais desenvolvidos.
De toda a sorte, o STF (ADC 55), em 29.06.2018, declarou a constitucionalidade dos dispositivos pertinentes da CLT alterados ou incluídos pela Lei 13.467/2017 que tornaram facultativa a contribuição sindical.
Lembramos, ainda, que foi aprovado o Enunciado 38 na 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, in verbis:
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. I – É lícita a autorização coletiva prévia e expressa para o desconto das contribuições sindical e Assistencial, Mediante Assembleia Geral, nos termos do estatuto, se obtida mediante convocação de toda a categoria representada especificamente para esse fim, independentemente de associação e sindicalização. II – A decisão da assembleia geral será obrigatória para toda a categoria, no caso das convenções coletivas, ou para todos os empregados das empresas signatárias do acordo coletivo de trabalho. III – O poder de controle do empregador sobre o desconto da contribuição sindical é incompatível com o caput do art. 8º da CF e com o art. 1º da Convenção 98 da OIT, por violar os princípios da liberdade e da autonomia sindical e da coibição aos atos antissindicais.
Para encerrar este tópico, é relevante destacar que o Presidente da República Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 873, de 01.03.2019, que alterou artigos da CLT referentes às contribuições facultativas ou às mensalidades devidas ao sindicato, previstas no estatuto da entidade ou em norma coletiva, independentemente de sua nomenclatura, disciplinando como elas seriam recolhidas, cobradas e pagas.
Sem embargo da manifesta inconstitucionalidade da referida Medida Provisória, seja pela ausência de urgência e relevância para a sua edição, seja pela clara interferência do Estado na organização sindical (CF, art. 8º, I), não houve a sua conversão em lei, razão pela qual perdeu eficácia desde a sua edição conforme Ato Declaratório do Presidente da Mesa do Congresso Nacional n. 43/2019.
9.3. Mensalidade sindical
A mensalidade sindical ou contribuição do associado é uma espécie de receita sindical prevista no respectivo estatuto social do sindicato ou na Assembleia Geral, sendo constituída de pagamentos realizados exclusivamente pelos associados/filiados, isto é, pelos sócios inscritos na entidade sindical.
Com efeito, dispõe a alínea b do art. 548 da CLT que “constituem o patrimônio das associações sindicais (...) b) as contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas Assembleias Gerais”.
A distinção entre mensalidade sindical e contribuição sindical não se faz mais pela facultatividade daquela e compulsoriedade desta, pois a Lei 13.467/2017, também tornou a contribuição sindical facultativa, como vimos na epígrafe anterior.
Parece-nos que a mensalidade sindical e a contribuição sindical não se confundem porque:
a) a mensalidade sindical é paga apenas pelos filiados ao sindicato, enquanto a contribuição sindical é paga por todos os integrantes da categoria, inclusive os filiados;
b) na mensalidade sindical, os percentuais e a aplicação dos recursos arrecadados dependem apenas da previsão no Estatuto, enquanto na contribuição sindical, os percentuais e a aplicação estão previstos em lei, não podendo o Estatuto contrariá-la.
Ambas, porém, dependem de autorização expressa do empregado (e do empregador) para que o sindicato da categoria profissional (ou econômica) possa cobrá-las, como se infere dos arts. 545, 578, 579 e 582 da CLT, todos com redação dada pela Lei 13.467/2017.
9.4. Taxa assistencial (ou desconto assistencial, ou taxa de fortalecimento sindical)
Esta espécie de receita sindical é autorizada pelas Assembleias Gerais e é fixada em acordos coletivos, convenções coletivas ou sentença normativa, como forma de custeio das despesas realizadas durante a negociação coletiva.
No que diz respeito à incidência da contribuição confederativa e da taxa assistencial para trabalhadores não filiados ao sindicato, a SDC do TST editou o Precedente Normativo 119, in verbis:
Contribuição sindical de trabalhadores não filiados a sindicato (positivo): A CF/88, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.
No mesmo sentido, a SDC do TST editou a OJ 17, in verbis:
Contribuições para entidades sindicais. Inconstitucionalidade de sua extensão a não associados. As cláusulas coletivas que estabeleçam contribuição em favor de entidade sindical, a qualquer título, obrigando trabalhadores não sindicalizados, são ofensivas ao direito de livre associação e sindicalização, constitucionalmenteassegurado, e, portanto, nulas, sendo passíveis de devolução, por via própria, os respectivos valores eventualmente descontados.
Para finalizar este tópico, é importante registrar a distinção feita pelo STF entre contribuições assistencial, confederativa e sindical, nos seguintes termos:
A contribuição assistencial visa a custear as atividades assistenciais dos sindicatos, principalmente no curso de negociações coletivas. A contribuição confederativa destina-se ao financiamento do sistema confederativo de representação sindical patronal ou obreira. Destas, somente a segunda encontra previsão na CF (art. 8º, IV), que confere à assembleia geral a atribuição para criá-la. Este dispositivo constitucional garantiu a sobrevivência da contribuição sindical, prevista na CLT. Questão pacificada nesta Corte, no sentido de que somente a contribuição sindical prevista na CLT, por ter caráter parafiscal, é exigível de toda a categoria independente de filiação (STF-RE 224.885-AgR – Rel. Min. Ellen Gracie – j. 08.06.2004 – 2ª T. – DJ de 06.08.2004).

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