Buscar

LUXEMBURG-Rosa-Greve-de-Massas-Partido-e-Sindicatos-pdf_fa2e618f1d6fb77a89277a54650b7fdd

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Textos — Nosso Tempo 
1 — Greve de Massas, Partido e Sindicatos — Rosa Luxemburgo 
2 — A Questão dos Sindicatos — Lenine 
3 — A Guerra Civil em França — Marx 
4 — O Imperialismo, Estádio Supremo do Capitalismo — Lenine 
5 — Sobre Literatura e Arte — Lenine, Mão Tse-Tung 
6 — A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky — Lenine 
7 — Crítica do Programa de Gotha — Marx 
8 — A Luta de Classes em França — Marx 
9 — K. Marx, F. Engels, as três fontes — Lenine 
10 — O 18 do Brumário de Louis Bonaparte — Marx 
11 — A Internacional, a Comuna, Questões da problemática marxista 
— Marx-Engels 
12 — Um Passo em frente, dois Passos atrás — Lenine 
13 — O Anti-Kautsky (Terrorismo e Comunismo) — Trotsky 
14 — A Catástrofe Iminente e os Meios de a Conjurar — Lenine 
15 — Como iludir o povo — Lenine 
16 — As Lições de Outubro — Trotsky 
17 — O Manifesto do Partido Comunista — Marx-Engels 
18 — O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo — Lenine 
 
 
 
 
C E N T E L H A 
 
 Apartado 241 — Coimbra 
ROSA LUXEMBURGO 
GREVE DE MASSAS 
PARTIDO E SINDICATOS 
(1906) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COIMBRA 1974
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução de RUI SANTOS 
 
 
 
NOTA INTRODUTÓRIA 
ROSA LUXEMBURGO nasceu em Zamosc, Polônia russa, 
a 5 de Março de 1871. Iniciou a sua vida política filiando-se no 
«Partido Revolucionário Socialista Operário». 
Após o seu doutoramento em economia política na Univer-
sidade de Zurique instala-se na Alemanha, ocupando em breve 
papel preponderante na social-democracia. Dedica-se funda-
mentalmente à luta contra o revisionismo. 
Por altura da revolução de 1905, refugia-se na Polônia 
onde é presa e libertada sob caução; em 1906 publica Greve 
de Massas, Partido e Sindicatos, onde tomo como ponto de 
referência a revolução russa do ano anterior. Regressando à 
Alemanha, lecciona economia política na Escola do Partido 
Social-Democrata resultando daí a sua obra mais importante: 
Acumulação do Capital. 
Em 1916, em colaboração com Liebknecht e Mehring, 
funda a Liga Spartakus. Em Fevereiro do mesmo ano é presa, 
sendo libertada em Novembro de 1918, altura em que se 
desencadeia a revolução na Alemanha. Na prisão escreve a 
brochura junius, as Cartas de Spartakus; elabora a Introdução à 
Economia Política. 
Participa na criação do Partido Comunista Alemão em 
Dezembro de 1918. 
Vítima da contra-revolução, ROSA LUXEMBURGO é 
presa em 15 de Janeiro de 1919, juntamente com Liebknecht, 
sendo ambos assassinados pelas forças governamentais. 
7
 
 
 
I. 
Quase todos os documentos e declarações do socialismo 
internacional que abordam o problema da greve geral 
datam da época anterior à revolução russa, onde foi experi-
mentado pela primeira vez na história, em larga escala, 
este método de luta. 
Assim se explica porque envelheceram estes documentos 
na sua maioria. Inspiram-se numa concepção idêntica à de 
Engels que, em 1873, criticando Bakounine e a sua mania 
de forjar artificialmente a revolução espanhola, escrevia: 
«A greve geral é, no programa de Bakounine, o fermento 
que desencadeia a revolução social. Uma bela manhã operários 
de todas as empresas de um país ou de todo o mundo 
abandonam o trabalho, obrigando assim, mais ou menos 
em quatro semanas, as classes poderosas ou a capitular, ou a 
atacar os operários, tendo estes o direito de defender-se, e 
ao mesmo tempo de abater inteiramente a velha sociedade. 
Esta sugestão está longe de ser uma novidade: os socialistas 
franceses e seguidamente os socialistas belgas, a partir 
de 1837, usaram amiúde este cavalo de batalha que, origina-
riamente, é de raça inglesa. No curso do desenvolvimento 
rápido e vigoroso do cartismo no seio dos operários ingleses 
e após a crise de 1837, apregoava-se desde 1839 o «mês 
santo», a suspensão do trabalho a nível nacional, e esta 
idéia encontrou tal-eco que os operários do norte de Ingla-
terra tentaram pô-la em prática em Julho de 1842. O Con- 
9 
 
gresso dos Aliancistas de Genebra, a I de Setembro de 1873, 
colocou igualmente na ordem do dia a greve geral. Simples-
mente, todos admitiam que, para fazê-la, era preciso que a 
classe operária estivesse completamente organizada e tivesse 
fundos de reserva. É justamente aqui que o problema se 
agudiza. Os governos por um lado, em especial se são 
encorajados pela abstenção política, jamais deixarão chegar 
a tal ponto a organização e os fundos dos operários; por 
outro lado, os acontecimentos políticos e a intervenção 
das classes dominantes conduzirão ao enfraquecimento dos 
trabalhadores muito antes do proletariado atingir essa 
organização ideal e esses gigantescos fundos de reserva. 
Por outro lado, se os possuíssem, não teriam necessidade 
de recorrer à greve geral para atingir os seus fins» (l). 
Nesta argumentação se baseou, nos anos seguintes, 
a atitude da social-democracia internacional relativamente 
à greve de massas. É dirigida contra a teoria anarquista da 
greve geral que opõe a greve geral, factor que desencadeia 
a revolução social, à luta política quotidiana da classe operária. 
Assenta neste simples dilema: ou o operariado no seu 
conjunto não possui ainda organização nem fundos consi-
deráveis— e assim não pode realizar a greve geral — ou 
está devidamente organizado — e então não há necessidade 
de greve. Esta argumentação é, na verdade, tão simples e 
inatacável à primeira vista, que durante um quarto de 
século prestou imensos serviços ao movimento operário 
moderno, quer combatendo em nome da lógica as quimeras 
anarquistas, quer ajudando a levar a idéia de luta política 
às camadas mais profundas da classe operária. Os enormes 
progressos do movimento operário em todos os países 
(1) Frédéric Engels, Die Bakunisten an der Arbeit. 
modernos no curso dos últimos 23 anos, justificam da maneira 
mais gritante a táctica de luta política preconizada por 
Marx e Engels, em oposição ao bakounismo: o actual poder 
da social-democracia, a sua situação na vanguarda de todo 
o movimento operário internacional é, na sua maior parte, 
o produto directo da aplicação conseqüente e rigorosa desta 
táctica. 
Hoje a revolução russa submeteu essa argumentação a 
uma revisão fundamental; permitiu, pela primeira vez na 
história da luta de classes, a grandiosa realização da greve 
de massas, e mesmo — explicá-lo-emos com mais detalhe — 
da greve geral, inaugurando assim uma nova época na evolução 
do movimento operário. 
Não deve concluir-se que Marx e Engels sustentaram 
erradamente a táctica da luta política ou que a sua crítica 
ao anarquismo é falsa. Pelo contrário, são os mesmos argu-
mentos, os mesmos métodos em que se inspira a táctica de 
Marx e Engels que fundamentam ainda hoje a prática da social-
democracia alemã, que na revolução russa produziram novos 
elementos e novas condições para a luta de classes. 
A revolução russa, a mesma revolução que constitui 
a primeira experiência histórica da greve geral, não somente 
não reabilita o anarquismo como conduz à liquidação histórica 
do anarquismo. Poder-se-ia pensar que o reinado exclusivo 
do parlamentarismo, por um tão longo período, talvez expli-
casse a existência vegetativa, a que o surto poderoso da 
social-democracia alemã condenou essa tendência. Podia 
pensar-se, por certo, que o movimento todo orientado para 
a «ofensiva» e a «acção directa», que a «tendência revolu-
cionária», no sentido mais brutal do levantamento de forqui-
Ihas, estava simplesmente adormecida pelo rame-rame da 
rotina parlamentar, prestes a acordar após o retorno a um 
 
10 11 
período de luta aberta, numa revolução de rua, e a mani-
festar então a sua força interna. 
A Rússia, sobretudo, parecia particularmente feita para 
servir de campo de experiência às explorações anarquistas. 
Um país onde o proletariado não tinha qualquer direito 
político e possuía uma organização extremamente deficiente, 
uma mistura incoerente de populações com interesses muito 
diversos, entrecruzando-se e contrariando-se;o baixo nível 
cultural em que vegetava a grande massa da população, a 
extrema brutalidade usada pelo regime vigente, tudo isto 
concorria para dar ao anarquismo um poder rápido, 
conquanto efêmero. No fim de contas, não era historica-
mente a Rússia o berço do anarquismo? Contudo o berço 
de Bakounine devia transformar-se no túmulo da sua doutrina. 
Na Rússia não somente os anarquistas não estiveram à cabeça do 
movimento de greve de massas, não somente a direcção 
política da acção revolucionária, como a greve de massas, 
estão inteiramente nas mãos das organizações social-demo-
cratas — denunciadas encarniçadamente pelos anarquistas 
como um «partido burguês» — ou nas mãos de organizações 
mais ou menos influenciadas pela social-democracia ou 
próximas dela como o partido terrorista dos «Socialistas 
Revolucionários»; o anarquismo é absolutamente inexistente 
na revolução russa, como tendência política séria. Somente 
em Bialystok, pequena cidade da Lituânia em que a situação é 
particularmente difícil, onde os operários têm as mais 
diversas nacionalidades, onde a pequena indústria está 
completamente dispersa, em que o nível do proletariado é 
baixíssimo, se nota entre os 6 ou 7 diferentes grupos revolu-
cionários um punhado de «anarquistas», ou ditos como tal, 
que alimentam, com todas as suas forças, a confusão e a 
desorientação na classe operária. Pode também observar-se 
12 
em Moscovo, e talvez em mais duas ou três cidades, um 
punhado de gente desta. Mas à parte esses poucos «revolu-
cionários», qual é o papel realmente desempenhado pelo 
anarquismo na revolução russa? Transformou-se no cate-
cismo de vulgares ladrões e larápios; sob a razão social do 
«anarco-comunismo», foi cometida uma grande parte desses 
inumeráveis roubos e saques a particulares que grassam nos 
períodos de depressão, de refluxo momentâneo. O anar-
quismo, na revolução russa, não é a teoria do proletariado 
militante, mas a escola ideológica do Lumpenproletariat 
contra-revolucionário, rosnando como um bando de tuba-
rões no casco do navio de guerra da revolução. E desta 
maneira acaba a carreira histórica do anarquismo. 
Por outro lado, a greve de massas foi posta em prática 
na Rússia, não na perspectiva de uma passagem brusca à 
revolução, como um golpe teatral que permitisse economizar 
a luta política da classe operária, e em particular o parla-
mentarismo, mas como um meio de criar ao proletariado, 
em primeiro lugar, as condições para a luta política quoti-
diana e, em particular, para o parlamentarismo. Na Rússia a 
população trabalhadora e, à cabeça desta, o proletariado 
conduzem a luta revolucionária, servindo-se da greve de 
massas como a arma mais eficaz na conquista dos mesmos 
direitos e condições políticas de que, primeiramente, Marx e 
Engels, demonstraram a necessidade e importância na luta 
pela emancipação da classe operária, em que saíram vito-
riosos no seio da Internacional, opondo-se ao anarquismo. 
Assim, a dialéctica da história, pedra basilar em que assenta 
toda a doutrina do socialismo marxista, teve como resultado 
que o anarquismo, ao qual estava indissoluvelmente ligada a 
idéia da greve de massas, entrou em contradição com a própria 
greve de massas; em compensação, a greve de massas, recen- 
13 
temente combatida como contrária à acção política do prole-
tariado, aparece hoje como a arma mais poderosa da luta 
política na conquista dos direitos políticos. Se é verdade que a 
revolução russa obriga a rever profundamente o antigo ponto de 
vista marxista relativo à greve de massas, contudo, somente o 
marxismo, com seus métodos e perspectivas, obtém neste 
campo a vitória sob uma nova forma. «A amada de Mouro só 
pode morrer às mãos do Mouro». 
2. 
Quanto à greve de massas, os acontecimentos na Rússia 
obrigam-nos, em primeiro lugar, a uma revisão da concepção 
geral do problema. Até agora, os partidários de «tentar a 
greve de massas» na Alemanha, os Bernstein, Eisner, etc., 
assim como os inimigos ferozes de tal tentativa representados 
no sindicato, por exemplo, por Boemelburg, concordam no 
fundo com a concepção anarquista. Os pólos opostos não só 
não se excluem aparentemente, como ainda se completam, e 
condicionam mutuamente. Com efeito, pela concepção 
anarquista das coisas, a especulação sobre a «grande 
transformação», sobre a revolução social, não é mais do que 
um aspecto exterior e não essencial; o essencial é o modo 
abstracto anti-histórico de considerar a greve de massas, 
assim como todas as condições da luta proletária. O 
anarquista antevê somente duas condições materiais 
preliminares nas suas especulações «revolucionárias»: em 
primeiro lugar, «o espaço etéreo», e em seguida a boa 
vontade e a coragem de salvar a humanidade do vale de 
lágrimas capitalista em que hoje geme. Neste «espaço etéreo» 
nasceu, há mais de 60 anos, este arrazoado de que a greve de 
massas era o caminho mais curto, mais seguro e mais fácil 
para dar o salto perigoso até um além social melhor. 
Neste mesmo «espaço abstracto» nasceu recentemente 
a idéia, saída da especulação teórica, de que a luta sindical 
é a única e real «acção directa de massas» e, por conseguinte, 
a única luta revolucionária — refrão último dos «sindica- 
 
14 15 
listas» franceses e italianos, como se sabe. A infelicidade 
para o anarquista surgiu, quando os métodos improvisados de 
luta no «espaço etéreo» se revelaram sempre como 
puras utopias, além de que na maior parte do tempo, 
recusando-se a contar com a triste e desprezada realidade, 
deixavam insensível mente de ser teorias revolucionárias, 
para se tornarem auxiliares práticos da reacção. 
 Ora, no mesmo terreno da consideração abstracta e sem 
preocupação histórica, colocam-se hoje, de um lado, os que 
pròximamente gostariam de ver desencadear na Alemanha, 
num dia assinalado no calendário, por um decreto da direcção 
do Partido, a greve de massas, do outro lado, os que, como os 
delegados do Congresso Sindical de Hamburgo, querem liquidar 
definitivamente o problema da greve de massas, interceptando a 
sua «propaganda». Uma e outra das tendências partem da idéia 
comum, e absolutamente anárquica, de que a greve de massas 
é uma arma puramente teórica, que facilmente, de acordo 
com o que se julgue útil, poderia ser facilmente 
«decidida» ou, inversamente, «proibida», qual navalha quê 
se pode ter fechada no bolso para qualquer eventualidade ou, 
pelo contrário, aberta e pronta a servir, quando se decidir. 
Sem dúvida, os adversários da greve de massas reivindicam 
muito justamente o mérito de ter comandado o terreno 
histórico e as condições materiais da situação actual na 
Alemanha, em oposição aos «românticos da revolução» que 
viajam no espaço imaterial e se recusam termi-nantemente a 
lançar um olhar à dura realidade, suas possibilidades e 
impossibilidades. 
«Pactos e números, números e factos», exclamam como 
M. Gradgrind em «Os Tempos Difíceis» de Dickens. Os 
adversários sindicalistas interpretam «terreno histórico» 
e «condições materiais» como dois elementos diferentes: por 
16 
um lado, a fraqueza do proletariado, por outro, a força do 
militarismo prussiano. 
A insuficiência das organizações operárias e a situação 
monetária, o poder das baionetas prussianas, são os «factos e 
números» em que os dirigentes sindicais fundamentam a 
sua concepção prática do problema. Por certo, as caixas 
sindicais como as baionetas prussianas são incontestáveis factos 
materiais e profundamente históricos, mas a concepção política 
baseada nestes factos não é o materialismo histórico no sentido 
de Marx, mas um materialismo policial no sentido de 
Puttkammer (2). Os próprios representantes do Estado contam 
tanto, e mesmo exclusivamente, com o poder efectivo do 
proletariado organizado em cada momento, como com o poder 
material das baionetas; do quadro comparativo destes dois 
números eles não cessam de tirar esta tranqüilizante conclusão: 
o movimento operário é produzido por mentores e agitadores;ergo temos nas prisões e nas baionetas um meio razoável de nos 
tornarmos senhores deste «fenômeno passageiro e 
desagradável». 
A classe operária consciente compreende há muito o 
ridículo desta teoria policial, segundo a qual todo o movi-
mento operário moderno seria o resultado artificial e arbi-
trário de um punhado de «agitadores e mentores» sem 
escrúpulos. Vemos manifestar-se um conceito semelhante 
quando dois ou três bravos camaradas formam colunas 
voluntárias de vigilantes nocturnos para pôr a classe operária 
alemã em segurança contra as ratoeiras de meia dúzia de 
«românticos da revolução» e contra a sua «propaganda a 
favor da greve de massas»; ou ainda, quando do lado adverso 
se assiste ao lançamento de uma campanha indignada e lacri- 
(2) Puttkammer, 1828-1900, ministro do interior entre 1881 e 1888. 
17 
mejante pelos que, desiludidos com a tentativa de uma 
explosão grevista na Alemanha, se sentem frustrados por 
não sei que conluios «secretos» da direcção do Partido 
com a Comissão Geral dos Sindicatos. Se a explosão das 
greves dependesse da «propaganda» incendiaria dos «românticos 
da revolução» ou das decisões secretas ou públicas dos Comitês 
directivos, não teríamos tido até aqui qualquer importante 
greve de massas na Rússia. Não há nenhum país — já 
assinalei o facto na Gazeta Operária de Saxe em Março de 1905 
— onde se pensasse tão pouco em «difundir» ou mesmo 
«discutir» a greve como na Rússia. E os poucos exemplos de 
resoluções e acordos da direcção do partido socialista russo 
que decretavam uma completa greve geral — como a última 
tentativa em Agosto de 1905 após a dissolução da Douma — 
fracassaram quase por completo. A revolução russa ensina-nos 
assim uma coisa: é que a greve de massas nem é «fabricada» 
artificialmente nem «decidida» ou «difundida» no éter 
imaterial e abstracto, é tão somente um fenômeno 
histórico resultante, num certo momento, de uma situação 
social a partir de uma necessidade histórica. 
Portanto, não é por especulações abstractas sobre a 
possibilidade ou impossibilidade, sobre a utilidade ou perigo 
dá greve, mas é pelo estudo dos factores e da situação social que 
provocam a greve na actual fase da luta de classes, que o 
problema se resolve; o problema não se compreenderá nem 
poderá ser discutido numa perspectiva subjectiva da greve 
geral considerando o que é desejável ou não, mas a partir 
de um exame objectivo das origens da greve de massas, 
inquirindo-se se é ou não historicamente necessária. 
No espaço imaterial da análise lógica abstracta pode 
provar-se com o mesmo rigor, tanto a impossibilidade abso- 
luta, a derrota certa da greve de massas, como a sua possi-
bilidade absoluta e a vitória assegurada. Também ò valor 
da demonstração é o mesmo nos dois casos, quer dizer, 
nulo. É por isso que temer a propaganda em favor das 
greves de massas e pretender excomungar formalmente os 
culpados deste crime, é ser vítima de um absurdo mal-
entendido. É tão difícil «propagar» a greve de massas como 
meio abstracto de luta, como «propagar» a revolução. A 
«revolução» e a «greve de massas» são conceitos que não 
representam mais do que a forma exterior da luta de classes e 
só têm sentido e conteúdo, quando referidas a situações 
políticas bem determinadas. 
Empreender uma propaganda adequada à greve como 
forma de acção proletária, querer difundir essa «ideia» 
para com ela ganhar pouco a pouco a classe operária, seria uma 
ocupação tão ociosa, tão vã e insípida como encetar uma 
campanha de propaganda em prol da idéia de revolução ou do 
combate nas barricadas. Se a greve se transformou agora num 
vivo centro de interesse para a classe operária alemã e 
internacional é porque ela representa uma nova forma de 
luta, e, como tal, o sintoma correcto de transformações 
interiores profundas nas relações entre as classes e nas 
condições da luta de classes. Se os operários alemães — não 
obstante a cerrada resistência dos seus dirigentes sindicais — 
manifestam um interesse tão ardente por este novo problema, 
isso testemunha o seu profundo instinto revolucionário e sua 
viva inteligência. Mas a esse interesse, a essa nobre sede 
intelectual, ao entusiasmo dos operários pela acção 
revolucionária, não se responde dissertando através duma 
ginástica cerebral abstracta, sobre a possibilidade ou 
impossibilidade da greve; a isso se responde, explicando o 
desenrolar da revolução russa, sua importância internacional, 
 
18 19 
o agravamento dos conflitos de classe na Europa Ocidental, as 
novas perspectivas da luta de classes na Alemanha, o papel e 
deveres das massas nas lutas futuras. .Somente, de acordo com 
esta óptica a discussão sobre a greve de massas servirá para 
alargar o horizonte intelectual do proletariado, contribuirá 
para espevitar a sua consciência de classe, aprofundar as suas 
idéias e fortalecer a sua energia para a acção. Por outro lado, 
sob esta perspectiva, surge o ridículo do processo criminal 
intentado pelos inimigos do «romantismo revolucionário» 
que acusam os defensores desta tendência por não terem 
obedecido literalmente à resolução de Iéna. Os partidários 
de uma política «razoável e prática» aceitam rigorosamente tal 
resolução visto que ela liga a greve de massas aos destinos 
do sufrágio universal. Julgam poder extrair daí duas 
conclusões: l.° — que a greve tem um carácter puramente 
defensivo; 2.° — que ela própria está subordinada ao 
parlamentarismo. Mas o verdadeiro conteúdo da resolução de 
lena reside na análise segundo a qual, no estado actual da 
Alemanha, uma luta empreendida pela reacção, pelo poder, 
contra o sufrágio universal para as eleições do Reichstag, 
poderia ser o factor que assinalaria um período de lutas 
políticas tempestuosas. Seria então que pela primeira vez na 
Alemanha, a greve de massas poderia ser desencadeada. 
Somente, querer restringir e mutilar artificialmente, por 
um texto dum Congresso, a importância social e o campo 
histórico da greve de massas, como problema e como fenô-
meno da luta de classes, é dar provas de um espírito tão 
limitado como na resolução do Congresso de Colônia o qual 
proibiu a discussão da greve de massas. Na decisão de Iéna, 
a social-democracia deu oficialmente notícia da profunda 
transformação efectuada pela revolução russa nas condições 
internacionais da luta de classes. Aí reside a importância da 
resolução de Iéna. Quanto à aplicação prática da greve de 
massas na Alemanha a história o decidirá como fez na Rússia; 
para a história, a social-democracia e suas resoluções são um 
factor importante, decerto, mas um factor entre muitos. 
 
20 21 
3. 
A greve de massas, como tema actual de discussão na 
Alemanha, é um fenômeno particular muito claro e muito 
simples de conceber, as suas limitações são precisas: trata-se 
unicamente da greve política de massas. Entende-se como 
tal uma arrancada maciça e única do proletariado industrial 
empreendida por ocasião dum acto político da maior impor-
tância com base num acordo recíproco estabelecido a esse 
propósito entre as direcções do Partido e dos Sindicatos, e 
que, conduzida na mais perfeita ordem e com espírito de 
disciplina, termine com uma ordem ainda mais perfeita, sob 
a palavra de ordem dada no momento oportuno pelos 
dirigentes, não esquecendo que a administração dos subsídios, 
as despesas, os sacrifícios, numa palavra, todo o balanço 
material, é determinado a priori com precisão. 
Ora, comparando este esquema teórico com á greve de 
massas tal como se processa há cinco anos na Rússia, é-se 
levado.a constatar que o conceito à volta do qual giram todas 
as discussões alemãs, não corresponde à realidade de nenhuma 
das numerosas greves de massas que se realizam e que, por 
outro lado, as greves de massas se apresentam na Rússia sob 
formas tão variadas que é absolutamente impossível falar de 
«a» greve de massas, de uma greve esquemática abstracta. 
Não só cada elemento da greve de massas, mas também a 
sua particular característica, segundo ascidades e as regiões, e 
principalmente o seu próprio carácter geral, se modifi- 
caram com freqüência no decorrer da revolução. As greves 
conheceram na Rússia uma certa evolução histórica e pros-
seguem-na ainda. Assim, quem queira falar de greve de 
massas na Rússia deve, antes de tudo, ter a sua história 
diante dos olhos. Inicia-se, justamente, o período actual, 
por assim dizer oficial, da revolução russa com a sublevação 
do proletariado de S. Petersburgo em 22 de janeiro de 1905, 
esse desfile de 200000 empregados diante do palácio do 
czar que terminou com um terrível massacre. À sangrenta 
fusilaria de S. Petersburgo foi, como se sabe, o marco que 
desencadeou a primeira e gigantesca série de greves de 
massas; em poucos dias estenderam-se a toda a Rússia e 
fizeram ecoar a chamada à revolução por todos os cantos 
do Império, ganhando todas as camadas do proletariado. 
Mas a sublevação de S. Petersburgo, em 22 de Janeiro, não foi 
mais que o ponto culminante de uma greve de massas que 
pusera em movimento todo o proletariado da capital czarista, 
em Janeiro de 1905. Por seu lado, a greve de Janeiro em S. 
Petersburgo foi a conseqüência imediata da gigantesca greve 
geral que estalara pouco antes, em Dezembro de 1904, no 
Cáucaso, em Bakou, e manteve suspensa toda a Rússia. Ora, 
os acontecimentos de Bakou eram tão somente o último e 
poderoso eco das grandes greves que, em 1903 e 1904, quais 
tremores de terra periódicos, abalaram todo o sul da 
Rússia e cujo prólogo foi a greve de Batoum, no Cáucaso, em 
Março de 1902. No fundo, esta série de greves, na cadeia 
contínua das actuais erupções revolucionárias, somente dista 
da greve geral dos operários têxteis de S. Petersburgo, 
em 1896 e 1897, cinco ou seis anos. Pode pensar-se que alguns 
anos de aparente acalmia e de severa reacção separam o movi-
mento de então, da revolução de hoje; mas se conhecermos 
um pouco da evolução política interna do proletariado 
 
22 23 
russo, até ao estádio actual da sua consciência de classe e da 
sua energia revolucionária, não deixaremos de relacionar a 
história do presente período de lutas de massas com as 
greves gerais de S. Petersburgo. Estas são importantes no 
problema da greve de massas, visto que já contêm em germe 
todos os princípios elementares das greves posteriores. Em 
primeiro lugar, a greve geral de 1896 em S. Petersburgo 
surge como uma luta parcial reivindicativa, de objectivos 
puramente econômicos. Foi provocada pelas intoleráveis 
condições de trabalho dos fiadores e tecelões de S. Peters-
burgo: dia de trabalho de 13, 14 e 15 h.; salários à peça 
miseráveis; ao que se acrescenta toda uma série de vexames 
patronais. Contudo, os operários têxteis suportaram por 
muito tempo esta situação até ao momento em que um 
incidente de insignificância aparente ultrapassou a medida. 
Com efeito, em Maio de 1896, realizou-se a coroação do 
actual czar, Nicolau II, diferida por dois anos com receio 
dos revolucionários; nesta ocasião, os donos das empresas 
manifestaram o seu zelo patriótico, impondo aos operários 
três dias de férias forçadas, recusando-se, além disso, a pagar-
Ihes salário nesses dias. Os operários têxteis, exasperados 
agitaram-se. Numa reunião que teve lugar no jardim de 
Ekaterinev, na qual participaram cerca de 300 operários 
entre os mais preparados politicamente, foram decididas e 
formuladas as seguintes reivindicações: l.° — os di as da 
coroação deviam ser pagos; 2.° — horário reduzido p ara 10 h; 
3.° — aumento de salários. Passava-se isto em 24 de Maio. 
Uma semana depois estavam fechadas as fiações e 40 000 operá-
rios em greve. Hoje, este acontecimento, comparado às 
vastas greves da revolução, pode parecer insignificante. Mas 
no clima de estagnação política da Rússia nesta época, uma 
greve geral era uma coisa invulgar; era uma perfeita revo- 
lução em miniatura. Naturalmente, seguiu-se a mais brutal 
repressão: cerca de um milhar de operários foram presos 
e recambiados para o seu país de origem, a greve geral 
foi esmagada. Vemos já delinearem-se todas as características 
de uma futura greve de massas: em primeiro lugar, o facto 
que desencadeou o movimento foi fortuito, e mesmo aces-
sório, a explosão foi espontânea. Mas no modo como o 
movimento foi desencadeado manifestaram-se os frutos da 
propaganda conduzida em vários anos pela social-democracia; 
no decorrer da greve geral os propagandistas da social-demo-
cracia permaneceram à cabeça do movimento, dirigiram-no 
e fizeram dele trampolim para uma viva agitação revolu-
cionária. Por outro lado, se as greves pareciam limitar-se 
exteriormente a uma reivindicação puramente econômica 
visando os salários, a atitude do governo, bem como a agitação 
socialista, transformaram-se num acontecimento político de 
primeira ordem. Por fim, a greve foi esmagada, os operários 
sofreram uma «derrota». Contudo, a partir de Janeiro do ano 
seguinte (1897), os operários têxteis de S. Petersburgo 
iniciaram uma greve geral, obtendo desta vez um enorme 
sucesso: a instauração do dia de trabalho de 11 h. e meia, 
em toda a Rússia. Resultado mais importante ainda: após a 
primeira greve geral de 1896 que foi feita sem qualquer 
organização operária e sem caixa de greve, iniciou-se pouco 
a pouco na Rússia propriamente dita uma intensa luta sin-
dical que em breve se estendeu de S. Petersburgo ao resto 
de país, abrindo novas perspectivas à propaganda e à orga-
nização da social-democracia. Assim um trabalho invisível 
e subterrâneo preparava, sob o aparente silêncio sepulcral 
dos anos que se seguiriam, a revolução proletária. 
A greve do Cáucaso em Março de 1902 explodiu dum, 
modo tão fortuito como a de 1896 e parecia, ela também, 
 
24 25 
ser o resultado de factores puramente econômicos, resu-
mindo-se a reivindicações parciais. Ela está ligada à terrível 
crise industrial e comercial que precedeu na Rússia a guerra 
russo-japonesa e contribuiu fortemente para a criação, tal 
como esta guerra, de uma consciência revolucionária. A crise 
provocou um grande surto de desemprego, alimentando o 
descontentamento da massa proletária. Também o governo 
resolveu, para apaziguar a classe operária, enviar a «mão 
de obra inútil» para o seu país de origem. Tal medida, 
que devia abranger cerca de 400 operários do petróleo, 
provocou precisamente em Batoum um protesto maciço. 
Realizaram-se manifestações, prisões, uma repressão sangrenta 
e, finalmente, um processo político no decurso do qual a 
luta, por reivindicações parciais e puramente econô-
micas, tomou foros de acontecimento político e revolucio-
nário. A greve de Batoum, que não saiu coroada de sucesso 
e que conduziu a uma derrota, teve como resultado uma 
série de manifestações revolucionárias em Njini-Novgorod, 
em Saratov e noutras cidades; esteve assim na origem da 
vaga revolucionária geral. A partir de Novembro de 1902 
nota-se a primeira e verdadeira repercussão sob a forma de 
uma greve geral em Rostov-do-Don. Este movimento foi 
desencadeado por um conflito que surgiu nas oficinas do 
caminho de ferro em Vladicaucaso a propósito dos salários. 
Porque a administração queria reduzir os salários, é 
publicado um manifesto pela Direcção do Partido Social-
Democrata, apelando para a greve e formulando as 
seguintes reivindicações: 9 h. de trabalho, aumento de 
salários, supressão dos castigos, expulsão dos engenheiros 
impopulares, etc. Todas as oficinas do caminho de ferro 
entraram em greve. Todos os outros ramos de actividade 
se juntaram ao movimento, e Rostov conhece em breve 
uma situação sem precedentes: 
26 
suspensão total do trabalho na indústria, todos os dias se 
realizavam «meetings» extraordinários ao ar livre com 
15 a 20000 operários, estando os manifestantes cercados 
várias vezes por um cordão de Cossacos: os oradores sociais-
democratas, usaram da palavra publicamente e pela primeira 
vez; discursos inflamados sobre o socialismo e liberdade 
política eram apresentados e acolhidos com entusiasmo 
extraordinário; eram difundidas tarjetasrevolucionárias às 
dezenas de milhares. Em plena Rússia congelada no seu 
absolutismo, o proletariado de Rostov, pela primeira vez, 
no fogo da acção, conquista o direito de reunião. Claro 
que a sangrenta repressão não se fez esperar. Em poucos 
dias, as reivindicações salariais nas oficinas do caminho de 
ferro de Vladicáucaso tomaram as proporções de uma greve 
política geral e de uma batalha revolucionária de rua. Imedia-
tamente, se seguiu uma segunda greve, desta vez na estação 
de Tichoretzkaia, na mesma linha de caminho de ferro. 
Ainda aí teve lugar uma repressão feroz, seguida de um 
processo, e Tichoretzkaia entra, por sua vez, na cadeia 
ininterrupta dos episódios revolucionários. A primavera 
de 1903 trouxe uma compensação para as greves de Rostov 
e de Tichoretzkaia: em Maio, junho, Julho todo o sul da 
Rússia se inflama. Há literalmente greve geral em Bakou, 
Tiflis, Batoum, Elisabethgrad, Odessa, Kiev, Nicolaiev, Ekate-
rinoslav. Mas, também aí, a greve não foi desencadeada a 
partir de um núcleo, segundo um plano preconcebido: desen-
cadeou-se em diversos pontos por motivos diversos e sob 
formas diferentes para depois confluir. Bakou abre o desfile: 
várias reivindicações parciais de salários em diversas fábricas 
e diversos ramos acabam por conduzir a uma greve geral. 
Em Tiflis, 2000 empregados do comércio, cujo horário 
de trabalho ia das 6 h. da manhã às 11 h. da noite, iniciam 
27 
a greve; a 4 de Julho, às 8 h. da tarde, abandonam todas as 
lojas e desfilam em cortejo ao longo da cidade, obrigando 
os lojistas a fechar. A vitória é completa: os empregados 
do comércio alcançam o dia de trabalho de 8 h. e meia; 
em breve o movimento se estende às fábricas, às oficinas, aos 
escritórios. Não há jornais, os eléctricos só circulam sob a 
protecção das tropas. Em Elisabethgrad, a 10 de Julho, 
desencadeia-se a greve em todas as fábricas, tendo por 
objectivo reivindicações puramente econômicas. Estas foram 
aceites na sua maior parte e a greve cessa no dia 14 de Julho. 
Mas duas semanas mais tarde rebenta novamente; desta 
vez são os padeiros quem lança a palavra de ordem, seguidos 
pelos pedreiros, marceneiros, tintureiros, moleiros e, final-
mente, por todos os operários fabris. Em Odessa, o movi-
mento principia por uma reivindicação salarial, na qual parti-
cipa a associação operária «legal» fundada por agentes 
governamentais com base no programa elaborado pelo célebre 
agente Zoubatov. Eis ainda aí uma das mais belas astúcias da 
dialéctica histórica. As lutas econômicas do período prece-
dente — entre outras a grande greve geral de S. Petersburgo 
(em 1896) — levaram a social-democracia russa a exagerar o 
que se chama «o economismo», preparando assim o terreno, 
na classe operária para as manobras demagógicas de Zoubatov. 
Mas, um pouco mais tarde, a grande corrente revolucionária 
fez virar o barquito dos cem pavilhões e forçou-o a vogar 
à cabeça da frota proletária revolucionária. Foram as asso-
ciações de Zoubatov que na primavera de 1904 deram a 
palavra de ordem para a grande greve geral de Odessa, 
como para a greve geral de S. Petersburgo em Janeiro de 1905. 
Os trabalhadores de Odessa, até então embalados na ilusão da 
bonomia do governo e da sua simpatia por uma luta pura-
mente econômica, imediatamente quiseram tirar a prova: 
28 
pressionaram a «Associação Operária» de Zoubatov a procla-
mar uma greve com objectivos reivindicativos modestos. 
O patrão expulsou-os simplesmente, e quando reclamaram ao 
chefe da Associação o prometido apoio governamental, este 
esquivou-se, facto que levou ao rubro o catalisador revolu-
cionário. Em breve os sociais-democratas tomaram as rédeas 
do movimento grevista que atingira outras fábricas. No dia l 
de Julho, greve de 2500 operários dos caminhos de ferro; 
a 4 do mesmo mês entram em greve os operários do porto, 
reclamando um aumento de salários de 80 kopeks a 2 rublos 
e redução de mela hora no horário de trabalho. Em 6 de 
Julho os marinheiros juntam-se ao movimento. A 13, levan-
tamento do pessoal dos eléctricos. Realiza-se uma reunião 
de grevistas — 7a 8000 pessoas; forma-se o cortejo, indo 
de fábrica em fábrica, engrossa como uma avalanche até 
levar 40 a 50000 pessoas, dirigindo-se ao porto para 
organizar um levantamento geral. Rapidamente, em toda 
a cidade, reina a greve geral. Em Kiev, sublevação em 21 de 
Julho nas oficinas do caminho de ferro. Também aqui as 
condições de trabalho e as reivindicações salariais são o 
motivo da explosão da greve. No dia seguinte, os fundidores 
seguem o exemplo. Em 23 de Julho, ocorre um incidente 
que anuncia a greve geral. De noite, dois delegados dos 
ferroviários são presos; os grevistas reclamam a sua liber-
tação imediata; ante a recusa que lhes é oposta, decidem 
impedir os comboios de sair da cidade. Na gare, os grevistas 
com as mulheres e filhos deitam-se nos carris, verdadeira 
maré de cabeças humanas. Ameaçam atirar sobre eles. 
Os operários descobrem o peito e gritam: «Atirem!» 
Disparam sobre a multidão, 30 a 40 pessoas são mortas, entre 
as quais mulheres e crianças. Após este acontecimento, 
Kiev inteira está em greve. Os cadáveres das vítimas são 
29 
trazidos em braços acompanhados por um imponente cortejo. 
Reuniões, discursos, prisões, combates isolados na rua 
— Kiev está em plena revolução. O movimento acaba 
depressa; mas os tipógrafos alcançaram a redução de l hora no 
dia de trabalho e um aumento de l rublo; estabelece-se o dia 
de 8 h. de trabalho numa fábrica de porcelana; as oficinas 
dos caminhos de ferro fecham por decisão ministerial; 
outras profissões continuam em greve parcial pelas suas 
reivindicações. Por contágio, a greve geral chega a Nicolaiev, 
sob a imediata influência das notícias vindas de Odessa, 
Bakou, Batoum e Tiflis, não obstante a resistência do comitê 
social-democrata, que queria retardar o começo do movi-
mento até ao momento em que as tropas saíssem para 
manobras; os grevistas iam de oficina em oficina; a resis-
tência do exército não fez mais que lançar azeite no fogo. 
Cedo se viu formarem-se enormes cortejos que impeliam, ao 
som de cânticos revolucionários, todos os operários, empre-
gados, pessoal dos eléctricos, homens e mulheres. O levan-
tamento era total. Em Ekaterinov, a 3 de Agosto, os padeiros 
entram em greve, a 8 param os eléctricos, não há jornais. 
Assim se realizou a grandiosa greve geral do sul da Rússia no 
Verão de 1903. Mil conflitos econômicos parciais, mil inci-
dentes «fortuitos» convergiam, confluindo num poderoso 
oceano; em poucas semanas, todo o sul do Império czarista 
foi transformado numa estranha República operária revo-
lucionária. 
«Abraços fraternais, gritos de entusiasmo e contenta-
mento, cânticos de liberdade, risos felizes, alegria e delírio; 
um perfeito concerto despontava desta multidão de milhares 
de pessoas indo e vindo através da cidade, de manhã à noite. 
Reinava uma atmosfera de euforia; quase se podia crer que 
uma nova e melhor vida principiara na terra. Espectáculo 
profundamente comovedor, idílico e enternecedor ao mesmo 
tempo». Assim escrevia então o correspondente do Osvo-
bojdenié, órgão liberal de M. Pierre de Struve. 
No início de 1904 rebentou a guerra, o que provocou uma 
interrupção no movimento grevista por algum tempo. De 
início vemos espalhar-se pelo país uma turbulenta vaga de 
manifestações «patrióticas» organizadas pela polícia. O chau-
vinismo oficial czarista começou por abater a sociedade 
burguesa «liberal». Mas cedo a social-democracia retomou a 
posse do campo de batalha; às manifestações policiais da 
canalha patriótica se opõem as manifestações operárias 
revolucionárias. Por fim, as vergonhosas derrotas do exér-
cito czarista arrancam do seu sono a própria sociedade 
liberal. Inaugura-se a era dos congressos, dos banquetes, 
dos discursos, das felicitações, dos manifestos liberais e demo-
cráticos. Momentaneamente diminuído, pela vergonhosa 
derrota, o absolutismo desorientado deixa agir esses senhores 
que já vêem abrir-se antesi o paraíso liberal. O liberalismo 
está na vanguarda da cena política durante 6 meses, o prole-
tariado reentra na sombra. Somente após uma longa depres-
são o absolutismo se organiza, a camarilha reúne as suas 
forças; bastou espicaçar os Cossacos para lançar em deban-
dada os liberais, a partir de Dezembro. E os discursos, os 
congressos, são apodados de «insolente pretensão» e proi-
bidos por um traço de tinta; subitamente, o liberalismo 
acha-se no fim do seu latim. Mas no momento em que o 
liberalismo está completamente desorientado, entra o prole-
tariado em acção. Em Dezembro de 1904 rebenta a célebre 
e gigantesca greve geral de Bakou contra o desemprego; 
o operariado ocupa de novo o campo de batalha. A palavra 
proibida é reduzida a silêncio, a acção recomeça. Em Bakou, 
durante várias semanas, em plena greve geral, a social- 
 
30 31 
-democracia domina inteiramente a situação; os inesperados 
acontecimentos de Dezembro no Cáucaso teriam provocado 
uma grande emoção se não tivessem sido rapidamente 
invadidos pela vaga crescente da revolução, na origem da 
qual estes se encontram. As notícias fantasistas e confusas 
sobre a greve geral de Bakou não tinham alcançado ainda 
todas as extremidades do Império, quando, em janeiro, 
de 1905, explodiu a greve geral de S. Petersburgo. Também 
aí, o motivo que originou o movimento foi, como se sabe, 
mínimo. Dois operários dos estaleiros de Poutilov tinham 
sido despedidos por pertencerem à Associação «legal» de 
Zoubatov. Tal medida de rigor provocou uma greve de 
solidariedade de todos os operários dos estaleiros em 
número de 12000, no dia 16 de Janeiro. A greve deu aos 
sociais-democratas a possibilidade de empreender uma 
activa propaganda a favor da extensão das reivindicações: 
reclamavam o dia de trabalho de 8 h., o direito de reunião, a 
liberdade de expressão e de imprensa, etc. A agitação 
que animava as oficinas de Poutilov rapidamente alcançou 
outras fábricas, e, dias depois, 140000 operários entravam 
em greve. Após deliberações tomadas em comum e discus-
sões tempestuosas, foi elaborada a carta proletária das 
liberdades cívicas, mencionando como primeira reivindicação 
o dia de trabalho de 8 h.; levando esta carta, desfilaram frente 
ao palácio do czar, em 22 de janeiro, 200000 operários 
chefiados pelo padre Gapone. Numa semana o conflito 
provocado pela expulsão de dois operários dos estaleiros 
de S. Petersburgo, transforma-se no prólogo da mais poderosa 
revolução dos tempos modernos. Os acontecimentos poste-
riores são conhecidos: em Janeiro e Fevereiro a sangrenta 
repressão de S. Petersburgo ocasionava gigantescas greves 
de massas e greves gerais em todos os centros industriais 
e cidades da Rússia, Polônia, Lituânia, províncias bálticas, 
Cáucaso, Sibéria, de Norte a Sul, de Este a Oeste. Mas se 
examinarmos as coisas com mais atenção, as greves tomam 
aspectos diferentes das do período anterior; agora, por 
todo o lado, são as organizações sociais-democratas que 
chamam à greve, por todo o lado a solidariedade revolu-
cionária para com o proletariado de S. Petersburgo foi 
expressamente designada como motivo e fim da greve 
geral, por toda a parte, desde o início, houve manifestações, 
discursos, confrontos com a polícia. Todavia, também aqui 
se não pode falar, nem de plano pré-estabelecido, nem de 
acção organizada, porque o apelo dos partidos dificilmente 
acompanhava a sublevação espontânea das massas; os diri-
gentes mal tinham tempo para formular palavras de ordem 
enquanto as massas lutavam. Outra diferença: as greves 
de massas e gerais anteriores tinham a sua origem na conver-
gência de reivindicações salariais parciais; estas, na atmosfera 
geral da situação revolucionária e sob o impulso da propa-
ganda social-democrata, depressa se transformaram em 
manifestações políticas; o elemento econômico e a difusão 
sindical era o seu ponto de partida, a preparação da acção 
de classe e a direcção política eram o resultado final. Aqui 
o movimento é inverso. As greves gerais de Janeiro-Fevereiro, 
eclodiram, primeiro sob a forma de uma acção revolucionária 
preparada pela social-democracia, mas esta acção disse-
minou-se em breve numa infinidade de greves locais, parce-
lares, econômicas, em diversas regiões, cidades, profissões, 
fábricas. Desde a Primavera de 1905 até pleno Verão assistiu-
se, neste gigantesco Império, ao nascimento de uma 
poderosa luta política de todo o proletariado contra o 
capital; a agitação alcança, no topo, as profissões liberais 
e a pequena burguesia, empregados comerciais, dos bancos, 
 
32 
33 
engenheiros, comediantes, artistas, e penetra na base, 
conquistando os criados, os agentes subalternos da polícia, e 
até as camadas do «sub-proletariado», estendendo-se 
simultaneamente, aos campos, batendo mesmo à porta das 
casernas. Eis o painel imenso e variado da batalha geral 
do trabalho contra o capital; vemos reflectir-se nele toda a 
complexidade do organismo social, da consciência política 
de cada categoria e de cada região; vemos desenvolver-se 
toda uma gama de conflitos desde luta sindical, conduzida em 
boa e devida forma pelo bem treinado exército de elite 
do proletariado industrial, até à explosão de uma revolta 
anarquista de um punhado dê operários agrícolas e ao 
levantamento confuso de uma guarnição militar, até à revolta 
discreta e distinta, de punhos de renda e colarinhos altos 
numa mesa de jogo e, aos protestos a um tempo tímidos e 
audaciosos de polícias descontentes, secretamente reunidos 
num posto enfumarado, obscuro e sujo. 
Os partidários das «batalhas ordenadas e disciplinadas» 
concebidas segundo um plano e um esquema, os que em 
particular querem sempre saber com antecedência como 
«será preciso fazer», consideram que foi um «grave erro» 
retalhar a grande acção da greve política geral de Janeiro 
de 1905 numa infinidade de lutas econômicas, visto que isso 
conduziu, a seus olhos, a uma paralisação da acção e à sua 
transformação num fogo fátuo. O próprio partido social-
democrata russo que sem dúvida participou na revolução, 
mas não foi o seu autor, e que deve aprender as leis ao 
longo do seu desenvolvimento, se encontrou desorientado 
por algum tempo com o refluxo aparentemente estéril da 
primeira maré de greves-gerais. Contudo, a história, que 
cometera este «grande erro», concluía assim um gigantesco 
trabalho revolucionário tão inevitável quanto incalculável 
nas suas conseqüência, sem se preocupar com as lições dos 
que a si próprios se instituíram como mestres 
A brusca sublevação geral do proletariado em Janeiro, 
desencadeada pelos acontecimentos de S. Petersburgo era, 
na sua acção exterior, um acto político revolucionário, uma 
declaração de guerra ao absolutismo. Mas esta primeira 
luta geral e directa de classes provocou uma reacção tanto 
mais poderosa que a anterior, quanto acordava pela primeira 
vez, como um choque eléctrico, o sentimento e a cons-
ciência de classe em milhões e milhões de homens. Este 
despertar da consciência de classe imediatamente se mani-
festa do seguinte modo: uma multidão de milhões de prole-
tários descobre de súbito, com um sentimento de acuidade 
insuportável, o carácter intolerável da sua existência social 
e econômica, do qual era escravo há decênios, sob o jugo 
do capitalismo. De repente, desencadeia-se uma sublevação 
geral e espontânea para sacudir esse jugo, para quebrar as 
algemas. Sob mil aspectos, os sofrimentos do proletariado 
moderno reavivam a recordação destas feridas sempre 
sangrentas. Aqui luta-se pelas 8 h. de trabalho, ali, contra 
o trabalho incerto; aqui, sobre as charruas manuais, trans-
portam-se os senhores brutais, após terem sido metidos 
num saco; algures, combate-se o infame sistema de multas; 
por toda a parte luta-se por melhor salário; aqui e ali, pela 
supressão do trabalho ao domicílio. As profissões anacrô-
nicas e degradantes das grandes cidades, as pequenas cidades 
adormecidasnum sono idílico, até então, a aldeia com o seu 
sistema de propriedade de escravatura hereditária, — tudo 
isto é bruscamente despertado pelo raio tempestuoso de 
Janeiro, tomando consciência dos seus direitos e procurando 
recuperar febrilmente o tempo perdido. Aqui a luta econô-
mica foi na realidade não um fraccionamento, não um esbo- 
 
34 35 
roamento da acção, mas uma mudança de frente; a primeira 
batalha contra o absolutismo transforma-se em breve e 
naturalmente num ajuste geral de contas com o capitalismo, e 
este, em conformidade com a sua natureza, assume a forma de 
conflitos parciais em favor dos salários. É falso dizer-se que 
a acção política de classe em janeiro foi destruída, porque a 
greve geral se repartiu em greves econômicas. É exacta-
mente o contrário: uma vez esgotado o conteúdo possível 
da acção política, feito o balanço da situação e da fase em 
que a revolução se encontrava, esta fragmentou-se, ou antes, 
transformou-se em acção econômica. De facto, que mais 
podia obter a greve geral de janeiro? É preciso ser-se 
inconsciente para esperar, de uma só vez, o esmagamento 
do absolutismo com uma só greve geral «prolongada», 
segundo o modelo anarquista. É pelo proletariado que o 
absolutismo na Rússia tem de ser derrubado. Mas para 
tanto, o proletariado tem necessidade de um alto grau de 
educação política, de consciência de classe e organização. 
Não pode aprender todas estas coisas em brochuras ou em 
folhas volantes; tal educação ele a adquirirá na escola política 
viva, na luta e pela luta, no decorrer da revolução em marcha. 
Aliás, o absolutismo não pode ser derrubado, seja quando 
for, com a exclusiva ajuda de uma dose suficiente de 
«esforços» e «perseverança». A queda do absolutismo 
não é mais que um sinal exterior da evolução interior das 
classes na sociedade russa. Dantes, para que o absolutismo 
fosse derrubado, era preciso que a estrutura interna da 
futura Rússia burguesa fosse estabelecida, que a sua estru-
tura de moderno Estado de classes fosse constituída. Isso 
implica a divisão e a diversificação das camadas sociais e dos 
interesses, a constituição, não somente do partido revolu-
cionário operário, mas ainda dos diversos partidos: liberal, 
36 
radical, pequeno-burguês, conservador e reaccionário; isso 
implica o despertar para o conhecimento, para a consciência 
de classe não só das camadas populares, mas ainda das camadas 
burguesas; estas últimas não podem constituir-se nem ama-
durecer senão na luta, no curso da revolução em marcha, na 
escola viva dos acontecimentos, no seu confronto com o 
proletariado e entre si num confronto contínuo e recíproco. 
Esta divisão e esta maturação das classes na sociedade 
burguesa, assim como a sua acção na luta contra o absolu-
tismo, são, ao mesmo tempo, travadas e dificultadas por um 
lado, estimuladas e aceleradas por outro, pelo papel domi-
nante e particular do proletariado e pela sua acção de classe. 
As diversas correntes subterrâneas do processo revolucio-
nário entrecruzam-se, criam mutuamente obstáculos, avivam 
contradições internas da revolução o que tem por resultado, 
no entanto, a precipitação e intensificação da poderosa 
explosão. Assim, este problema, tão simples na aparência, 
tão pouco complexo, puramente mecânico: a queda do 
absolutismo, exige um completo processo social; é neces-
sário que o terreno social seja arado de alto a baixo, que o 
que está por baixo venha à superfície, o que está por cima 
seja profundamente enterrado, que «ordem» aparente se 
transforme em caos e que a partir da aparente anarquia seja 
criada uma nova ordem. Ora, neste processo de transfor-
mação das estruturas sociais da antiga Rússia não foi unica-
mente o «trovão» de janeiro que desempenhou um papel 
insubstituível, mas principalmente as grandes tempestades 
da Primavera e do Verão. A batalha geral e encarniçada 
dos assalariados contra o capital contribuiu, ao mesmo 
tempo, para a diferenciação das várias camadas populares e 
das camadas burguesas, para a formação de uma consciência 
de classe no proletariado revolucionário e também na 
37 
burguesia liberal e conservadora. Se, nas cidades, as reivin-
dicações salariais contribuíram para a criação do grande 
partido monárquico dos industriais de Moscovo, a grande 
revolta campesina na Livónia levou à rápida liquidação do 
famoso liberalismo aristocrático e agrário dos Zemtvos. 
Simultaneamente, o período das batalhas econômicas na 
Primavera e Verão de 1905, permitiu ao proletariado das 
cidades tirar lições do prólogo de Janeiro e tomar consciência 
das tarefas futuras da revolução, graças à intensa propaganda 
conduzida pela social-democracia e graças à sua direcção 
política. A este primeiro resultado acrescenta-se um outro 
de carácter social durável: a elevação geral do nível de vida 
do proletariado no plano econômico, social e intelectual. 
As greves da Primavera de 1905 tiveram, quase todas, um 
fim vitorioso. Citemos, somente a título de exemplo, esco-
lhidos numa colecção de factos importantes, de que não se 
pode medir ainda a amplitude, um certo número de dados 
de algumas greves importantes que se desenrolaram em 
Varsóvia, sob a direcção da social-democracia polaca, e lituana. 
Nas maiores empresas metalúrgicas de Varsóvia — Sociedade 
Anônima Lilpop, Rau e Lowenstein, Rudzki & C.ª, Bormann 
Schwede & C.ª, Handtke, Gerlach e Pulst, Geisler Irmãos, 
Eberhard, Wolksi & C.ª, Sociedade anônima Conrad e 
Jarmuskiescicz, Weber e Daehm, Gwizdzinski & C.ª, 
K. Brun & Filhos, Fraget, Norblin, Werner, Buch, Kenneberg 
Irmãos, Labor, fábrica de lâmpadas Dittmar, Serkowski, 
Weszynski, ao todo 22 empresas, — os operários obtiveram, 
após uma greve de 4 a 5 semanas (iniciada em 25 e 26 de 
Janeiro), o dia de trabalho de 9 h. assim como um aumento 
nos salários de 15 a 25%; obtiveram também diversos melho-
ramentos de menor importância. Nos maiores estaleiros 
da Indústria de madeira em Vazsóvia, nomeadamente 
Karmanski, Damiecki, Gromel, Szerbinski, 
Trenerovski, Horn, Bevensee, Twarkovski, Daab e Martens, 
10 empresas ao todo, os grevistas obtiveram no dia 23 de 
Fevereiro o dia de trabalho de 9 h.; entretanto, não se 
contentaram com isso e mantiveram a exigência do dia de 8 
horas, que conseguiram obter uma semana mais tarde, ao 
mesmo tempo que um aumento de salários. Toda a indústria 
da construção se pôs em greve a 27 de Fevereiro, 
reclamando, segundo a palavra de ordem dada pela social-
democracia, o dia de trabalho de 8 h.; em II de Março 
obtinham o dia de trabalho de 9 h., um aumento de 
salário, pagamento regular do salário por semana, etc. Os 
pintores de construções, os carpinteiros, os seleiros e os 
ferreiros, conquistaram juntos o horário de trabalho de 8 
h. sem redução de salários. Os empregados dos telefones 
fizeram greve durante 10 dias, obtendo assim o dia de 
trabalho de 8 h. e um aumento de salário de 10 a 15%. 
A grande fábrica de tecelagem de linho de Hiele e 
Dietrich (10 000 operários) conquista, após 9 semanas de 
greve, a redução de 1 h. no dia de trabalho e um aumento de 
salário de 5 a 10%. Constatam-se resultados análogos com 
infinitas variantes em todas as outras indústrias de 
Varsóvia, Lodz, Sosnovice. 
Na Rússia, propriamente dita, foi obtido o dia de 
trabalho de 8 h.: 
— em Dezembro de 1904, por várias categorias dos 
operários da nafta em Bakou; 
— em Maio de 1905, pelos operários das refinarias de 
açúcar do distrito de Kiev; 
— em Janeiro, no conjunto das tipografias da cidade de 
Samara (ao mesmo tempo que um aumento de salários à peça 
e a abolição das multas); 
 
38 39 
— em Fevereiro, na fábrica de aparelhos de medicina 
do exército, numa fábrica de móveis e na fábrica de S. Peters- 
burgo. — Ainda mais: criou-se um sistema de trabalho por 
equipes de 8 h. nas minas de Vladivistok; 
— em Março, na oficina mecânica da tipografia dos 
papeis de Estado, pertencente ao Estado;— em Abril, pelos ferreiros de Bodroujsk; 
— em Maio, foi adoptado igualmente o horário de 8 h. 
e meia na enorme empresa de tecelagem de lã em Morosov 
(ao mesmo tempo, abolia-se o trabalho nocturno, e os 
salários aumentavam 8%); 
— em Junho, adoptava-se o dia de trabalho de 8 h. 
em vários lagares de azeite em S. Petersburgo e Mos- 
covo; 
— em Julho, o horário de trabalho de 8 h. e meia, para 
os mecânicos do porto de S. Petersburgo; 
— em Novembro, todas as tipografias particulares da 
cidade de Orei, adoptam o dia de trabalho de 8 h., assim 
como alcançam um aumento de 20% no salário/hora e 
de 100% nos salários por empreitada; instituía-se igualmente 
um comitê directivo composto por igual número de patrões 
e operários; 
— em Fevereiro, o dia de trabalho de 9 h. em todas 
as oficinas dos caminhos de ferro; em muitos arsenais nacio-
nais de guerra e estaleiros navais; na maior parte das fábricas 
de Berdjankz; em todas as tipografias de Poltava e Minsk; 
o dia de trabalho de 9 h. e meia nas bacias marítimas, no 
estaleiro e na fundição mecânica de Nicolaiev; em Junho, 
após uma greve geral dos empregados de café em Varsóvia, 
foi introduzido na maior parte dos restaurantes e cafés, 
simultaneamente, um aumento de salário de 20 a 40% 
e férias de quinze dias por ano. 
O dia de trabalho de 10 h. é adoptado em quase todas 
as fábricas de Lodz, Sosnovice, Riga, Kovno, Reval, Dorpat, 
Minsk, Kharkov; é adoptado pelos padeiros de Odessa; 
pelas oficinas artesanais de Kichinev, em várias fábricas de 
chapéus em S. Petersburgo; pelas fábricas de fósforos de 
Kovno (e um aumento de salário de 10%); em todos os 
estaleiros navais do Estado e por todos os operários do 
porto. 
Os aumentos de salários são geralmente menos substan-
ciais que a redução do tempo de trabalho, mas nem por isso 
menos importantes; assim, em Varsóvia, no decorrer do mês 
de Março de 1905, as oficinas municipais estabelecem um 
aumento de 15%; em Ivanovo-Voznessensk, centro de 
indústrias têxteis, os aumentos de salário oscilam entre 7 
e 15%; em Kovno, 75% da população operária total bene-
ficia de um aumento. Instaurou-se um salário mínimo fixo 
num certo número de padarias em Odessa, nos estaleiros 
marítimos da Neva em S. Petersburgo, etc. Na verdade, estas 
vantagens foram mais de uma vez retiradas, ora num sítio, 
ora noutro. Mas tal acontecimento deu origem a novas 
batalhas, a «desforços» mais encarniçados ainda; foi assim 
que o período de greves da Primavera de 1905 criou por 
si uma série infinda de conflitos econômicos cada vez mais 
vastos e mais encadeados, que ainda duram. Nos períodos de 
acalmia exterior da revolução, em que os comunicados não 
contêm qualquer notícia sensacional da frente russa, em que o 
leitor da Europa Ocidental guarda o seu jornal, constatando 
com decepção que não há «nada de novo» na Rússia, a revo-
lução prossegue sem tréguas, dia após dia, hora após hora, 
seu imenso trabalho subterrâneo, minando as profundezas de 
todo o império. A imensa luta econômica faz passar rapida-
mente, por métodos acelerados, do estádio de acumulação 
 
40 41 
primitiva da economia patriarcal fundada na pilhagem, a um 
estádio de civilização mais moderno. Actualmente, a Rússia 
está à frente, no que se refere à duração real do trabalho, 
não somente da legislação russa que prevê um dia de trabalho 
de 11 h. e meia, mas também das condições efectivas de 
trabalho na Alemanha. Na maior parte dos ramos da grande 
indústria russa, adopta-se o dia a de trabalho de 8 h., o que 
constitui, aos olhos da social-democracia alemã, um objectivo 
inatingível. Ainda mais, este «constitucionalismo indus-
trial» tão desejado na Alemanha, objecto de todos os votos, 
em nome do qual os adeptos duma táctica oportunista 
queriam manter as águas paradas do parlamentarismo 
— única via possível de salvação — ao abrigo de todo o 
sopro de ar um pouco vivificante, apareceu na Rússia, em 
plena tempestade revolucionária, ao mesmo tempo que o 
«constitucionalismo» político. Na realidade, o que se 
produziu não foi unicamente um aumento geral do nível 
de vida da classe operária, nem do seu nível de civilização. 
O nível de vida, sob a perspectiva de bem-estar material 
durável, não tem lugar na revolução. Esta está cheia de 
contradições e contrastes, ora consegue vitórias econômicas, 
ora sofre as vinganças mais brutais do capitalismo; hoje ó 
dia de trabalho de 8 h., amanhã os lock-out em massa e a 
fome para centenas de milhares de pessoas. O resultado mais 
precioso, porque permanente neste brusco fluxo e refluxo 
da revolução é de ordem espiritual: o crescimento intermi-
tente do proletariado no plano intelectual e cultural é uma 
garantia absoluta do seu irresistível progresso futuro, tanto 
na luta econômica, como na luta política. 
Mas não é tudo: as próprias relações entre operários 
e patrões sofrem transformações; após a greve geral de 
Janeiro e as greves seguintes de 1905, o princípio do capita- 
lista senhor em sua casa é praticamente suprimido. 
Vimos constituir-se espontaneamente Comitês operários, 
únicas instâncias que negociam com o patrão, nas 
maiores fábricas de todos os centros industriais mais 
importantes. E, por fim, ainda mais: as greves aparentemente 
caóticas e a acção revolucionária «organizada» que 
sucederam à greve geral de Janeiro transformam-se no 
ponto de partida para um precioso trabalho de organização. 
A história ri-se dos burocratas apaixonados por esquemas 
«pré-fabricados» guardiões ciumentos da felicidade dos 
sindicatos. As sólidas, organizações concebidas como 
fortalezas inexpugnáveis e cuja existência tem de ser 
assegurada, antes de eventualmente se pensar na realização 
de uma hipotética greve de massas na Alemanha — são, 
pelo contrário, fruto da própria greve de massas. E enquanto 
os ciumentos guardiões dos sindicatos alemães temem, 
antes de tudo, ver quebrar em mil bocados essas 
organizações, qual porcelana, no meio do turbilhão 
revolucionário, a revolução russa apresenta-nos um 
quadro completamente diferente: o que emerge dos 
turbilhões e da tempestade, das chamas e do braseiro da 
greve de massas, qual Afrodite surgindo da espuma dos 
mares, são... sindicatos novos e jovens, vigorosos e ardentes. 
Citemos mais uma vez apenas um pequeno exemplo, mas 
típico para todo o Império. No decurso da 2.ª Conferência 
dos Sindicatos Russos, realizada em fins de Janeiro de 1906 
em S. Petersburgo, o delegado dos sindicatos de S. Peters-
burgo apresentou um documento sobre o desenvolvimento 
dos organismos sindicais na capital dos czares, em que dizia: 
«O dia 22 de janeiro de 1905, que destruiu a associação 
de Gapone, marcou uma etapa. A massa dos trabalhadores 
aprendeu a apreciar, pela força dos acontecimentos a impor-
tância da organização e compreenderam que podiam criar 
 
42 43 
sozinhos as suas organizações. É em ligação directa com o 
movimento de Janeiro que nasce em S. Petersburgo o primeiro 
sindicato: o dos tipógrafos. A comissão eleita para o estudo 
das tarifas elaborou os estatutos e o dia 19 de junho foi o 
primeiro da existência desse Sindicato. Os sindicatos dos 
contabilistas e guarda-livros nascem mais ou menos na 
mesma altura. Ao lado destas organizações, cuja existência 
era praticamente pública (e legal), surgem, em Janeiro e 
Outubro de 1905 sindicatos legais e semi-legais. Citemos, 
entre os primeiros, o dos ajudantes de farmácia, e o dos 
empregados comerciais. Entre os sindicatos legais deve 
mencionar-se a União dos Relojoeiros, cuja primeira sessão 
secreta teve lugar em 24 de Abril. Todas as tentativas para 
convocar uma Assembléia Geral pública fracassaram ante 
a obstinada resistência da polícia e dos patrões represen-
tados pela Câmara do Comércio. Esta derrota não impediu 
a existência, dos sindicatos que realizam assembléias secretas 
dos seus aderentes em 9 de Junho e 14 de Agosto, sem 
contar as sessões do departamento dos sindicatos. O Sindi-
cato dos alfaiates foi fundado na Primavera de 1905, no 
decorrer deuma reunião secreta realizada em plena floresta 
à qual assistiram 70 alfaiates. A seguir à discussão do problema 
da fundação, foi eleita uma comissão encarregada de elaborar 
os estatutos. Todas as tentativas da Comissão para assegurar 
ao Sindicato uma existência legal resultaram num fracasso. 
A sua acção limitou-se à propaganda e ao recrutamento nas 
diferentes oficinas. Sorte semelhante estava reservada ao 
Sindicato dos sapateiros. Numa noite de Julho foi convocada 
uma reunião secreta num bosque dos arredores. Reuniram-se 
mais de mil sapateiros; foi apresentado um relatório versando 
a importância dos sindicatos, sua história na Europa Ocidental, 
e a sua missão na Rússia. Decidiu-se a fundação de um 
sindicato, a eleição de uma comissão constituída por 12 
membros encarregada de redigir os estatutos e de convocar 
uma assembléia Geral de Sapateiros. Os estatutos foram 
redigidos, mas não se pôde até agora imprimi-los nem 
convocar a Assembléia Geral». 
Tais foram os difíceis começos dos sindicatos. Surgiram 
seguidamente as jornadas de Outubro, a segunda greve geral, 
o édito de 30 de Outubro e o curto «período constitucional». 
Os trabalhadores lançaram-se com entusiasmo nas ondas da 
liberdade política, para utilizá-la no trabalho de organização. 
A par das actividades políticas quotidianas — reuniões, discus-
sões, criação de grupos — empreende-se o trabalho de orga-
nização sindical. Em Outubro e Novembro quarenta novos 
sindicatos foram criados em S. Petersburgo. Criou-se imedia-
tamente um «gabinete central», quer dizer, uma união 
sindical; surgem vários jornais sindicais, e a partir de 
Novembro um órgão central: O Sindicato. A descrição do 
que se passou em S. Petersburgo aplica-se a Moscovo e 
Odessa, a Kiev e Nicolaiev, a Saratov e Voronej, a Samara 
e Nijni-Novgorod, a todas as grandes cidades da Rússia 
e mais ainda à Polônia. Os sindicatos destas cidades procuram 
encetar contactos entre si; realizam-se conferências. O fim do 
«período constitucional» e o regresso à reacção em Dezembro 
de 1905, põe fim provisoriamente à enorme actividade 
pública dos sindicatos, sem contudo levar ao seu desapare-
cimento. Mantêm-se clandestinos como organizações e pros-
seguem ao mesmo tempo oficialmente as reivindicações 
salariais. É uma mistura original da actividade sindical 
ao mesmo tempo legal e ilegal, correspondendo às contra-
dições da situação revolucionária. Mas no seio da própria 
luta prossegue-se o trabalho com seriedade, mesmo com 
um pouco de pedantismo. Os sindicatos da social-democracia 
 
44 45 
polaca e lituana, por exemplo, que no último Congresso 
do Partido (Julho de 1906) estavam representados por cinco 
delegados e compreendiam 10000 membros cotizados, são 
providos de estatutos regulares, de cartões impressos para 
os aderentes, de selos móveis, etc. E os mesmos padeiros 
e sapateiros, metalúrgicos e tipógrafos de^Varsóvia e Lodz, 
que em Junho de 1905 estavam nas barricadas e, em Dezembro 
esperavam a palavra de ordem vinda de S. Petersburgo para 
descer à rua, têm tempo para reflectir calmamente entre 
duas greves, entre a prisão e o lock-out, em pleno estado 
de sítio, e para discutir profunda e atentamente os estatutos 
sindicais. Mais, os que se batiam ontem e se baterão 
amanhã nas barricadas, várias vezes nas reuniões censuraram 
severamente os seus dirigentes e os ameaçaram de aban-
donar o partido, porque não puderam imprimir rapidamente 
os cartões sindicais — nas tipografias clandestinas e sob a 
ameaça constante das perseguições policiais. Este entusiasmo 
e esta seriedade ainda hoje se mantêm. Ao longo das 
primeiras duas semanas de Julho de 1906 fundaram-se —- por 
exemplo — quinze novos sindicatos em Ekaterinoslav; 6 em 
Krostoma, outros em Kiev, Poltava, Smolensk, Tcherkassy, 
Proskourov —, e até nas mais pequenas localidades dos 
distritos provinciais. Na sessão realizada a 3 de Junho 
último (1906) pela União dos Sindicatos de Moscovo, dos 
acordo com as conclusões dos artigos apresentados pelo 
delegado de cada sindicato, decidiu-se que estes deveriam 
velar pela disciplina dos seus associados, e tinham de impedí-
los de tomar parte nos combates de rua, porque a greve de 
massas é considerada inoportuna. Em face das eventuais 
provocações do governo têm de velar para que as massas 
não desçam à rua. Por fim, a União decidiu que, quando 
um sindicato decreta a greve, os outros devem abster-se 
de fazer reivindicações salariais. Daqui em diante a 
maior parte das lutas econômicas são dirigidas pelos 
sindicatos (8). 
É assim que a grande luta econômica, cujo ponto de 
partida fora a greve geral de Janeiro e que continua, até 
agora, constitui o intróito da revolução de onde se vê, 
ora brotarem explosões isoladas, ora rebentarem imensas 
(8) Só nas duas primeiras semanas de Junho de 1906, os sindicatos 
empreenderam as seguintes lutas reivindicativas: 
— os tipógrafos de S. Petersburgo, Moscovo, Odessa, Minsk, 
Vilna, Saratov, Moghilev, Tambov, pelo dia de trabalho de 8 h. e pelo 
descanso semanal; 
— greve geral dos marinheiros em Odessa, Nicolaiev, Kertch, 
Crimeia, Cáucaso, da frota do Volga, em Cronstadt Varsóvia e Plock, 
pelo reconhecimento do sindicato e pela libertação dos delegados presos; 
— dos operários dos portos em Saratov, Nicolaiev, Tsaritsima, 
Archangelsk, Ninji-Novgorod e Ribinsk; 
— a greve dos padeiros em Kiev, Arkangelsk, Bialystok, Vilna, 
Odessa, Kharkov, Brest-Litovsk, Radom, e Tiflis; 
— dos operários agrícolas dos distritos de Verkhné-Dnieprovs, 
Borinsovsk, Simferopol, dos governos de Todolsk, Toula, Koursk, dos 
distritos de Kozlov, Lipovitz, na Finlândia, nos governos de Kiev, do 
distrito de Elisabethrad; 
— em várias cidades a greve estendeu-se num certo período a 
todas as profissões ao mesmo tempo; por exemplo, em Saratov, Arkan-
gelsk, Kertch e Krementchoug; 
— em Backhmout, greve geral dos mineiros em toda a bacia; 
noutras cidades o movimento reivindicativo atingiu sucessivamente, 
nessas duas semanas, todas as profissões, por exemplo em S. Petersburgo, 
Varsóvia, Moscovo, em toda a província de Ivanovo-Volsnesensk. 
A greve em toda a parte tinha como objectivos: a redução do 
tempo de trabalho, o repouso semanal, reivindicações relativas aos 
salários. A maior parte das greves conduziram à vitória, as relações 
locais fazem ressaltar que elas atingiram parcialmente categorias de 
operários que pela primeira vez participaram numa luta reivindicativa. 
 
46 47 
batalhas de todo o proletariado — sob a influência conjugada 
e alternada da propaganda política e dos acontecimentos 
exteriores. Citemos algumas destas sucessivas explosões: em 
Varsóvia, no dia l.° de Maio, por ocasião da festa dos traba-
lhadores, rebenta uma greve geral, total, até então sem 
precedentes, acompanhada de uma manifestação de massas 
perfeitamente pacífica, que termina com uma confrontação 
sangrenta da multidão desarmada contra as tropas; em 
Lodz, em Junho, dispersão de um ajuntamento pelo exército, 
motivando uma manifestação de 100000 operários por 
ocasião do funeral de algumas vítimas da soldadesca, um novo 
recontro com o exército e, finalmente, uma greve geral 
— conduzindo esta, em 23, 24 e 25 de Maio, a um combate 
de barricadas, o primeiro no Império dos Czares; em 
Junho rebenta, no porto de Odessa, a primeira grande 
revolta dos marinheiros da frota do Mar Negro devido a 
um pequeno incidente a bordo do couraçado Potemkine 
o que provocou, como contragolpe, uma enorme greve de 
massas em Odessa e Nicolaeiv. Esta revolta teve ainda 
outras repercussões: uma greve e revoltas dos marinheiros em 
Cronstadt, Libau e Vladivostok. 
Em Outubro, tem lugar em S. Petersburgo a experiência 
revolucionária da instauração do dia de trabalho de 8 h.. 
O Conselho dos Delegados Operários decide criar por 
métodos revolucionários o dia de trabalho de 8 h.. É assim 
que numa data determinada todos os operários de S. Peters-
burgo declararam aos seus patrões que se recusavam a traba-
lhar mais de 8 h.por dia e abandonariam os seus locais de 
trabalho à hora assim fixada. Esta idéia deu ocasião para uma 
intensa campanha de propaganda, sendo acolhida e executada 
entusiàsticamente pelo proletariado que não olhou aos 
maiores sacrifícios. É assim que os operários têxteis, até 
então pagos por unidade e cujo dia de trabalho era de 11 h., 
representando, portanto, uma enorme perda de salários o 
dia de trabalho de 8 h., o aceitam sem hesitação. Numa 
semana, o dia de trabalho de 8 h. foi adoptada por todas as 
fábricas e oficinas de S. Petersburgo, ocasionando uma 
alegria sem limites no proletariado. Em breve, contudo, 
o patronato de início desmantelado se prepara para a resposta: 
por toda a parte, a ameaça de fechar as fábricas. Um certo 
número de operários aceita negociar, obtendo, aqui o 
horário de 10 h., o horário de 9 h. além. Mas, a elite do 
proletariado de S. Petersburgo, os operários das grandes 
fábricas metalúrgicas nacionais permanecem inabaláveis: 
segue-se o lock-out, 45 a 50 000 operários são despedidos 
por um mês. Daí que o movimento a favor do dia de trabalho 
de 8 h. prossiga na greve geral de Dezembro, desencadeada, 
em grande parte, pelo lock-out. Entretanto, tem lugar em 
Outubro, em resposta ao projecto de Douma de Boulygine, 
a segunda poderosíssima greve geral desencadeada pela 
palavra de ordem vinda dos ferroviários, estendendo-se a 
todo o Império. Esta segunda grande acção revolucionária 
do proletariado reveste-se dum carácter sensivelmente 
diferente da primeira greve de Janeiro. A consciência polí-
tica desempenha aqui um papel muito importante. Na ver- 
dade, o motivo que desencadeou a greve de massas foi aqui 
ainda acessório e aparentemente fortuito: trata-se do con- 
flito entre os ferroviários e a administração, a propósito 
da Caixa de Aposentação. Mas o levantamento geral do 
proletariado industrial que se seguiu assenta num pensa-
mento político claro. O prólogo da greve de Janeiro fora 
uma súplica dirigida ao czar para obter a liberdade política; 
a palavra de ordem da greve de Outubro, era: «Acabemos 
com a comédia constitucional do Czarismo!» E graças ao 
 
48 
49 
sucesso imediato da greve geral que se traduziu no mani-
festo czarista de 30 de Outubro, o movimento não refluiu 
sobre si mesmo como em janeiro, regressando ao início da luta 
econômica; mas transvasa para o exterior, exercendo com 
ardor a liberdade política recentemente conquistada. Mani-
festações, reuniões, uma nova imprensa, discussões públicas, 
massacres sangrentos, pondo fim aos regozijos, seguidos de 
novas greves e de novas manifestações, tal é o movimentado 
quadro das jornadas de Novembro e Dezembro. Em 
Novembro, por apelo da social-democracia, é organizada a 
primeira greve demonstrativa de protesto contra a repressão 
sangrenta em S. Petersburgo e à proclamação do estado de sítio 
na Livónia e Polônia. O sonho da Constituição é seguido de 
um despertar brutal. A surda agitação acaba por desen-
cadear a terceira greve geral de massas em Dezembro, a qual 
se estende a todo o Império. Agora o desenrolar e o fim 
são completamente diferentes dos casos precedentes. A acção 
política não cede lugar à acção econômica como em janeiro, 
mas também não alcança uma rápida vitória como em Outu-
bro. A camarilha czarista não renova as suas tentativas para 
instaurar uma verdadeira liberdade política, e a acção revo-
lucionária choca assim, pela primeira vez em toda a sua 
extensão, com esse muro inquebrantável: a força material 
do absolutismo. Pela evolução lógica interna dos aconteci-
mentos em curso, a greve de massas transforma-se em 
revolta aberta, em luta armada, em combates de rua e 
barricadas, em Moscovo. As jornadas de Dezembro em 
Moscovo são o auge da acção política e do movimento de 
greves de massa, fechando assim o primeiro ano laborioso 
da revolução. Os acontecimentos de Moscovo são uma 
imagem reduzida da evolução lógica e do futuro do movi-
mento revolucionário no seu conjunto: a transformação 
inevitável numa revolta geral aberta; no entanto, esta só pode 
produzir-se após uma experiência adquirida numa série de 
revoltas parciais e preparatórias, conduzindo provisoriamente 
a «derrotas» exteriores e parciais, podendo cada uma aparecer 
como «prematura». 
1906 é o ano das eleições e do episódio da Douma. 
O proletariado, movido por um poderoso instinto revolu-
cionário que lhe permite ver claramente a situação, boicota 
a farsa constitucional czarista. Por alguns meses, o libera-
lismo ocupa de novo o primeiro lugar da cena política. Parece 
o renovar da situação de 1904: a acção cede lugar à palavra 
e o proletariado reentra na sombra por algum tempo, 
consagrando-se à luta sindical e ao trabalho de organização 
ainda com mais ardor. Cessam as greves de massas, enquanto 
dia após dia os liberais fazem brilhar o fogo de artifício da 
sua eloqüência. Por fim, a cortina de ferro cai brusca-
mente. Os actores são dispersos, do furor da eloquência 
liberal não resta mais que fumo e poeira. A tentativa da 
social-democracia para organizar uma quarta manifestação 
de greve de massas em favor da Douma e do restabelecimento 
da liberdade de expressão cai por terra. A greve política de 
massas esgotou o seu papel, enquanto tal, e a passagem da 
greve ao levantamento geral do povo e aos combates de rua 
não é possível. O episódio liberal acabou, o episódio prole-
tário de rua não é possível. O episódio liberal acabou, 
o episódio proletário não começou ainda. A cena fica 
provisoriamente vazia. 
 
50 51 
4. 
Nas páginas anteriores tentamos esboçar, em traços 
sumários, a história da greve de massa na Rússia. Um 
simples e rápido olhar por esta história dá-nos uma imagem 
que não se compara em nada ao que habitualmente na Alemanha 
se diz sobre a greve de massa no decurso das discussões. 
Em vez do esquema rígido e vazio que nos apresenta uma 
«acção» linear, executada com prudência e segundo um 
plano aprovado pelas instâncias supremas dos sindicatos, 
vemos um fragmento da vida real feito de carne e sangue, 
que se não pode arrancar ao meio revolucionário, ligado 
por mil laços a toda a organização revolucionária. A greve 
de massas tal como nos é apresentada pela revolução russa, 
é um fenômeno tão móvel que reflecte em si todas as fases 
da luta política e econômica, todos os estádios é todos os 
momentos da revolução. O seu campo de aplicação, a sua 
força de acção, os factores do seu desencadear, trans-
formam-se continuamente. De súbito, abrem-se novas 
perspectivas à revolução no momento em que esta parecia 
atravessar um impasse. Ela recusa-se a actuar no momento 
em que se pensa poder contar seguramente com ela. Ora 
a vaga de movimento invade todo o Império, ora brota do 
solo como uma fonte viva, ora se perde na terra. Greves 
econômicas e políticas, greves de massa, e greves parciais, gre-
ves demonstrativas ou de combate, greves gerais abrangendo 
sectores particulares ou cidades inteiras, lutas reivindicativas 
pacíficas ou batalhas de rua, combates de barricadas — todas 
estas formas de luta se cruzam ou se tocam, se interpenetram 
ou desaguam umas nas outras: é um mar de fenômenos eterna-
mente novos e flutuantes. E a lei do movimento destes 
fenômenos surge claramente: não reside na própria greve de 
massas, nas suas particularidades técnicas, mas na relação 
entre as forças políticas e sociais da revolução. A greve 
de massas é tão somente a forma adquirida pela luta revolu-
cionária e qualquer deslocamento na relação das forças em 
acção, no desenvolvimento do Partido e na divisão das 
classes, na posição da contra-revolução, influem imediata-
mente sobre a acção da greve por inúmeros meios invisíveis 
e incontroláveis. Entretanto, a própria acção da greve de 
massas não pára um só instante. Adquire somente outras 
formas, modifica a sua extensão, os seus efeitos. Ela é a 
pulsação viva da revolução e ao mesmo tempo o seu motor 
mais poderoso. Em resumo: a greve de massa, de

Outros materiais