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Aborto 1. Conceito: aborto é a interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto da concepção. 2. Espécies de aborto: a. natural: é a interrupção espontânea da gravidez. Exemplo: O organismo da mulher, por questões patológicas, elimina o feto. Não há crime. b. acidental: é a interrupção da gravidez provocada por traumatismos, tais como choques e quedas. Não caracteriza crime, por ausência de dolo. c. criminoso: é a interrupção dolosa da gravidez. Encontra previsão nos arts. 124 a 127 do Código Penal. d. legal ou permitido: é a interrupção da gravidez de forma voluntária e aceita por lei. O art. 128 do Código Penal admite o aborto em duas hipóteses: quando não há outro meio para salvar a vida da gestante (aborto necessário ou terapêutico) e quando a gravidez resulta de estupro (aborto sentimental ou humanitário). Não há crime por expressa previsão legal. e. eugênico ou eugenésico: é a interrupção da gravidez para evitar o nascimento da criança com graves deformidades genéticas. Discute-se se configura ou não crime de aborto. f. econômico ou social: mata-se o feto para não agravar a situação de miserabilidade enfrentada pela mãe ou por sua família. Trata-se de modalidade criminosa, pois não foi acolhida pelo direito penal brasileiro. Aborto criminoso 1. Estrutura: Art. 124: autoaborto (1º parte) e consentimento para o aborto (2º parte) Art. 125: aborto provocado sem o consentiento da gestante Art. 125: aborto provocaado por terceiro, com o consentimento da gestante Art. 126, p. único: consentimento inválido para o aborto - aplicação da pena cominada ao 125. Art. 127: causa de aumento de pena (prejuízo à gestante) um terço - lesão corporal grave; em dobro - morte. 2. Objetividade jurídica: protege-se a vida humana. 3. Objeto material: é o feto, em todas as modalidades de aborto criminoso. O Código Penal não estabelece qualquer distinção entre óvulo fecundado, embrião ou feto. Deve haver prova da gravidez, decorrente de normal desenvolvimento fisiológico, pois o aborto depende da morte do feto.82 Destarte, se a mulher não estava grávida, ou se o feto já havia morrido por outro motivo qualquer, estará configurado crime impossível. 4. Sujeito ativo: é a gestante, nas modalidades tipificadas pelo art. 124 do Código Penal (crimes próprios), e qualquer pessoa, nos demais casos (crimes comuns). Os crimes previstos no art. 124 do Código Penal são ainda de mão própria, pois somente a gestante pode provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque. Não admitem coautoria, mas apenas participação. 5. Sujeito passivo: é o feto, sempre. E, no aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (CP, art. 125), há duas vítimas: o feto e a gestante. 6. Meios de execução: o crime de aborto é de forma livre. Admite qualquer meio de execução, comissivo (exemplo: ingerir medicamentos abortivos) ou omissivo (exemplo: deixar dolosamente de ingerir medicamentos necessários para preservação da gravidez), físico (exemplo: golpes no útero) ou psíquico (exemplo: provocar depressão que leva ao aborto). Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. 1. Núcleos do tipo: a. Provocar aborto em si mesma - 1.ª parte: Trata-se do autoaborto, em que a gestante efetua contra si própria o procedimento abortivo por qualquer modo capaz de levar à morte do feto. b. Consentir para que terceiro lhe provoque o aborto - 2.ª parte: Cuida-se do consentimento para o aborto. A grávida não pratica em si mesma o aborto, mas autoriza um terceiro qualquer, que não precisa ser médico, a fazê-lo. Não admite coautoria, mas somente a participação. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. 1. Caracterização do crime: o antigo namorado que a engravidou, terceiro que coloca medicamento abortivo em sua comida etc.; ou a vítima prestou consentimento, mas sua anuência não surte efeitos válidos, por se enquadrar em alguma das situações indicadas pelo art. 126, parágrafo único, do Código Penal: gestante não maior de 14 anos ou alienada ou débil mental (dissenso presumido) ou consentimento obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (dissenso real). Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. A gestante que presta o consentimento incide na pena da parte final do art. 124 do Código Penal (consentimento para o aborto), ao passo que o terceiro que provoca o aborto com o seu consentimento é enquadrado no art. 126 do Código Penal (aborto consentido ou consensual). Decidiu-se tratar a mulher de forma mais branda em decorrência dos abalos físicos e mentais que ela enfrenta com o aborto, nada obstante criminoso. O consentimento da gestante deve subsistir até a consumação do aborto. Se durante o procedimento abortivo ela se arrepender e solicitar ao terceiro a interrupção das manobras letais, mas não for obedecida, para ela o fato será atípico, e o terceiro responderá pelo crime delineado pelo art. 125 do Código Penal. Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. São aumentos de pena aplicados sempre ao terceiro, nunca à gestante, sem ou com seu consentimento. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 1. Hipóteses legais: a. Aborto necessário/terapêutico: O aborto necessário ou terapêutico depende de dois requisitos (a) a vida da gestante corra perigo em razão da gravidez; e (b) não exista outro meio de salvar sua vida. Destarte, há crime de aborto quando interrompida a gravidez para preservar a saúde da gestante. b. Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: é também chamado de aborto sentimental, humanitário, ético ou piedoso. Depende de três requisitos: (a) ser praticado por médico; (b) consentimento válido da gestante ou de seu responsável legal, se for incapaz; e c) gravidez resultante de estupro. Aborto eugênico ou eugenésico: o direito brasileiro não contempla regra permissiva do aborto nas hipóteses em que os exames médicos prénatais indicam que a criança nascerá com graves deformidades físicas ou psíquicas.
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