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resumo DIP

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INTRODUÇÃO
Cidadãos do mundo. Os seres humanos não vivem mais apenas com seus pais, cônjuges, famílias ou vizinhos. Sequer vivem apenas em sua cidade, estado ou mesmo país.
O mundo globalizado permite uma infindável conexão de pessoas e culturas que, inegavelmente, saem dos restritos limites de um território, viajam pelos cabos de fibra ótica, por aeronaves ou mesmo por um pequeno produto importado vendido na esquina de casa – o mundo está pequeno, ao alcance das mãos.
Nesse contexto, o Direito Internacional Privado é a disciplina jurídica que trata das relações privadas com conexão internacional, tendo como objeto justamente as normas que permitem escolher o direito aplicável a estas lides. Estudar este ramo do direito, seu conteúdo e seus conceitos é de suma importância para que se estabeleça uma harmônica convivência no mundo globalizado.
1. NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se as relações humanas atravessam as fronteiras de um país, diferentemente não poderia ocorrer com as relações jurídicas, dado que o Direito é fruto da sociedade humana. Cabe ao direito, portanto, adequar-se a esta realidade.
 “Há várias concepções sobre o objeto do Direito Internacional Privado. A mais ampla é a francesa que entende abranger a disciplina quatro matérias distintas: a nacionalidade; a condição jurídica do estrangeiro; o conflito das leis e o conflito de jurisdições...”. (DOLINGER , 2003, p. 01)
A internacionalização da vida e das atividades humanas gera fenômenos jurídicos que devem ser resolvidos pelo Estado. O Direito Internacional Privado, como disciplina que estuda a escolha da norma a ser aplicada a uma relação jurídica com conexão internacional, tem, como objeto de seu estudo, pela doutrina mais ampla, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito das leis no espaço e o conflito de jurisdições.
Acontece que parte da doutrina questiona que se incluam como objeto desta disciplina, notadamente, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. Ora, a nacionalidade é um elemento de conexão internacional e, como tal, indubitavelmente deve integrar o objeto de estudo desta disciplina, haja vista sua importância na escolha da lei aplicável ao caso concreto, objetivo principal do Direito Internacional Privado. A condição jurídica do estrangeiro, por sua vez, é crucial na determinação das capacidades dos estrangeiros no país, pois podem vedar e restringir seus direitos, sendo inaplicáveis, portanto, quanto a estes direitos vedados, as normas de direito internacional quanto à escolha do direito, se nacional ou estrangeiro.
 O conflito de jurisdições, outrossim, tem suma importância no estudo da matéria, pois uma decisão de um órgão incompetente pode ser nula ou anulável, pois foge à delimitação legal da jurisdição.
Em relação ao conflito de leis, não há questionamentos doutrinários. Este é o objetivo principal do direito internacional do trabalho, sendo, portanto, indispensável o estudo da norma aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
“As relações jurídicas de direito privado, na maioria dos casos, estão vinculadas estritamente ao território do Estado no qual os tribunais julgam uma eventual lide corrente entre duas partes. Mas, no mundo inteiro, cada vez mais são frequentes as relações jurídicas com conexão internacional”. (...)
“Cada Estado poderia, teoricamente, aplicar o direito interno, indistintamente, a todas as questões jurídicas com conexão nacional e internacional. Na realidade, porém, não é isso o que ocorre, pois todos os ordenamentos jurídicos nacionais estabelecem regras peculiares, concernentes às relações jurídicas de direito privado com conexão internacional”. (RECHSTEINER, 2008, p. 01 e 03)
A grande maioria das lides que, por ventura, chegam à apreciação do poder judiciário, são resolvidas pelo juízo competente segundo as normas gerais de competência, comumente estudadas no processo civil. No entanto, o mundo globalizado tem trazido à justiça relações jurídicas com conexão internacional, ou seja, aquelas que, por algum motivo, como a nacionalidade ou o local de celebração, possuem um elemento internacional.
Entende-se, assim, que apesar de poderem, hipoteticamente, aplicar o seu direito para todos os casos, sejam eles dotados de elementos internacionais ou não, os Estados optaram por estabelecer regras específicas para regular os casos em que haja conexão internacional. Estas regras visam estabelecer o direito aplicável, nacional ou o estrangeiro, e não adentram no mérito da lide, pois, como dito, limitam-se a indicar o direito aplicável dentre aqueles que têm conexão com a lide.
Por esta característica, de escolher o direito, não adentrando no mérito, pode-se dizer que as normas de direito internacional privado constituem um sobredireito.
Há casos em que o elemento internacional intrínseco à lide é de tamanha grandeza que a aderência aos direitos estrangeiros ao quais se vincula é notadamente maior que a existente em relação ao direito pátrio. Nestes casos, observados os dispositivos legais pertinentes, será aplicada a lei estrangeira mais cabível ao caso concreto sub judice.
As normas do direito internacional privado apenas indicam o direito a ser aplicado, por isso são denominadas indicativas ou indiretas.
Por outro lado, quando apresentadas em juízo, as lides com conexão internacional não suscitam conflito de leis. Isto porque, em juízo pátrio, se aplicam de imediato as leis internas. As possíveis leis alienígenas que versem sobre a questão somente se aplicam se o legislativo nacional assim determinar. Ou seja, o Estado estrangeiro, bem como suas disposições legais, não tem poder algum de interferir diretamente num caso apresentado em juízo sem que estas disposições sejam previamente integradas, pelo legislativo nacional, ao ordenamento pátrio.
O conflito existe, em verdade, quando se parte para uma visão supranacional, onde os ordenamentos jurídicos, de diferentes países, conexos a lide, dispõem, segundo suas legislações, sobre o direito sub judice.
“Diante de uma situação jurídica conexa com duas ou mais legislações, que contêm normas diversas, conflitantes, estabelece-se a dúvida sobre qual das legislações deva ser aplicada. Não cabe solucionar o conflito das normas materiais internas; a missão do internacionalista se restringe a indicar qual sistema jurídico deve ser aplicado dentre as várias legislações conectadas com a hipótese jurídica”. (DOLINGER , 2003, p. 05)
Existindo uma lide na qual haja um elemento internacional que determine mais de um sistema normativo para a sua resolução, ao Direito Internacional Privado incumbe utilizar suas normas e princípios no sentido de escolher qual a norma aplicável. Isso sem, no entanto, adentrar diretamente no mérito da lide em si, dirigindo-se apenas ao conflito de leis.
O Conflito, na acepção comum da palavra, não existe. Pois quando um ordenamento estabelece determinadas regras e outro sistema, por sua vez, estabelece as suas próprias, visam regular situações internas, não objetivando, de plano, que houvesse ocasião em que estes ordenamentos se colidissem. O que ocorre é, em verdade, a concorrência ou o concurso de leis, pois estas não são conflitantes, as normas de direito internacional privado indicarão a lei que, em verdade, deve incidir.
“Como existe um vínculo estreito entre as normas do direito internacional privado que resolvem conflitos de leis no espaço (isto é, que designam o direito aplicável às relações jurídicas com conexão internacional) e as processuais correspectivas, estas, na realidade, também pertencem à disciplina do direito internacional privado. As normas resolutivas abrangem as processuais, fazendo assim parte do direito internacional privado lato sensu; as resolutivas, por sua vez, são qualificadas como strictu sensu.” (RECHSTEINER, 2008, p. 05)
Neste ponto, cabe a ressalva de que a denominação Direito Internacional Privado, apesar das diversas críticas sofridas, é o termo universalmente utilizado para designar o tema.
“Há um generalizado deleite entre os estudiososdo Direito Internacional Privado em demonstrar que a denominação da disciplina é incorreta e ao mesmo tempo manter-se fiel a ela”. (DOLINGER , 2003, p. 06)
As primeiras críticas à denominação desta disciplina são relativas ao caráter nacional da sua legislação. A grande maioria de suas normas é interna, ou seja, não há nada, ou muito pouco, de internacional na legislação que determina o direito a ser aplicado. Outrossim, a denominação internacional denota relação inter Estados, o que não ocorre senão, no direito internacional público. Outra crítica versa sobre o termo privado, haja vista que não se trata apenas de direito privado, conquanto que há questões de direito público no estudo da disciplina.
Finalmente, apesar das incisivas e insistentes críticas, a terminologia Direito Internacional Privado vem sendo mantida e, didaticamente, com bons resultados.
2. O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E OUTROS RAMOS DO DIREITO
Além das afinidades, o alcance desta disciplina se materializa na aplicação de seus princípios e regras às demais disciplinas jurídicas, na influência de suas regras sobre a aplicação das normas de todos os campos do direito.
No tocante a relação entre direito internacional privado e o direito comercial, há grande relacionamento, haja vista que as regras de nacionalidade de pessoa jurídica estrangeira e validade de títulos extrajudiciais firmados no exterior, dentre outros, se inserem na área daquela disciplina.
“A relação entre o Direito Internacional Privado e o Direito Internacional Público tem sido objeto de muita reflexão e de considerável divergência”. (DOLINGER , 2003, p. 11)
A divergência principal de que versa a doutrina acerca da relação entre o direito internacional privado e o direito internacional público está na alegação de dependência daquele em relação a este, ou ainda que aquele deste se origina. No entanto, aquém desta discussão, devemos manter o entendimento principal que ambas as disciplinas guardam grande afinidade, haja vista que são voltadas para questões que afetam múltiplos relacionamentos internacionais, esta dedicada a questões políticas, militares e econômicas dos Estados em suas manifestações soberanas e aquela concentrada nos interesses particulares, dos quais os Estados participam cada vez mais intensamente.
Apesar da discussão doutrinária quanto ao conteúdo do objeto do direito internacional privado, se em seu âmbito inserem-se questões de direito público, na ordem prática, um juiz não poderá escolher o direito aplicável à lide de direito público, pois não servem e não são aplicáveis à estrutura do direito público. Tratando-se de direito privado, tal escolha é plenamente cabível, tanto que é o objeto principal do estudo da referida disciplina. Logo, pode-se dizer que o direito internacional privado refere-se somente às relações jurídicas com conexão internacional de direito privado, ou seja, não se aplica este ditério a lides que não tenham origem no direito privado.
Por outro modo, a impossibilidade de influência do direito internacional privado nos litígios com conexão internacional oriundos de direito público não elimina a inferência das normas de direito internacional público no direito internacional privado.
Existem, em outros ramos do direito, questões que possuem conexão internacional e que, por isso, havendo conflito de leis no espaço, carecem de resolução com uma visão supranacional.
Neste sentido, existem normas de outros ramos do direito que escolhem o direito aplicável. No entanto, as normas e princípios gerais do direito internacional privado são inadequadas para resolver esse tipo de conflito, simplesmente pela natureza da lide da qual se originam, respeitando-se as peculiaridades próprias de cada ramo científico, senão vejamos:
“Em virtude de a estrutura própria do direito internacional privado atingir um alto grau de abstração, deve-se diferenciar entre as várias disciplinas e ramos de direito, destinados a resolver conflitos de leis no espaço, respeitando-se a autonomia científica de cada um”. (RECHSTEINER, 2008, p. 09)
3. A APLICAÇÃO DA NORMA DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Na prática, em países como os Estados Unidos, onde cada estado-membro pode legislar sobre praticamente todos os ramos do direito, é possível a existência de conflito de leis, mesmo se tratando de um mesmo país.
Embora haja semelhanças no método de aplicação do direito, entre o direito internacional privado e os direitos privados interlocais e interpessoais, como já foi dito, o direito internacional privado direciona-se às relações jurídicas com conexão internacional, não se aplicando aos conflitos pátrios ou que envolvam as denominadas prerrogativas de função.
“O Direito Internacional Privado é a projeção do direito interno sobre o plano internacional.”. (DOLINGER , 2003, p. 10)
Como sobredireito que é o direito internacional privado, observando as normas concorrentes de um plano superior, está acima destas normas, escolhendo qual delas incidirá no caso concreto. Logo, a norma interna do direito internacional privado se põe acima das normas, nacional e internacional, concorrentes, e, assim, escolhendo qual delas deverá ser aplicada.
No direito internacional privado, as normas que propriamente resolvem a questão objeto da matéria, o direito a ser aplicado ao caso concreto, estão de tal forma aderidas às normas processuais que lhes correspondem que estas, de igual modo, passam a ser objeto de estudo da disciplina. Ora, se tão íntima a ligação existente entre as normas resolutivas e processuais do direito internacional privado, nada mais cabível que seu estudo comum e em conjunto, no mesmo ramo do direito.
Importante ressaltar que a norma do direito internacional privado, como dito, escolhe o direito a ser aplicado, segundo, em cada país, as leis específicas que determinam o elemento de conexão, a relação que se considerar mais estreita com uma determinada ordem jurídica.
Partindo dessa premissa, em regra, não se observa o conteúdo da norma escolhida, ou seja, apenas se escolhe a lei aplicável, não importando, de início, seu teor. No entanto, quando a aplicação do direito estrangeiro, in casu, violar a ordem pública, interna ou internacional, este não será aplicado pelo juiz.
“Em busca de soluções alternativas, a doutrina começou a rediscutir a questão sobre em que medida o direito internacional privado deveria levar em conta aspectos da justiça material.” (RECHSTEINER, 2008, p. 13)
Retirando o modo absoluto como o caráter indicativo das normas do direito internacional privado são aplicadas, existem, no direito internacional privado, situações em que se adentra na materialidade da norma aplicável. Assim, é possível o favorecimento da parte economicamente mais fraca, por exemplo, aplicando-se a lex fori, proibindo às partes convencionar o direito aplicável.
Esta tendência de observar a materialidade das normas indicadas, sobretudo levando-se em conta os direitos humanos, é perfeitamente plausível e correta, pois a proteção da pessoa
humana e de seus direitos fundamentais tem caráter universal, e não deverá esbarrar nas Constituições nacionais dos diferentes países.
Muito embora, em países como o Brasil, que tem como elemento de conexão principal o domicílio, a utilidade prática da utilização dos direitos humanos no direito internacional privado é deveras reduzida, haja vista que o elemento de conexão da nacionalidade, adotado na Alemanha, reflete com maior fidelidade as tradições sociais e jurídicas de determinada pessoa.
Não existe, no Direito Internacional Privado, um direito melhor.
A avaliação qualitativa de um direito é muito relativa, assim, não se poderia obter a certeza de direito, ou seja, não haveria segurança de que as decisões seriam mantidas, haja vista a possibilidade de, em um caso concreto, por alguma peculiaridade, mesmo existindo decisões em casos análogos, existir um melhor direito, diferente do aplicado aos demais.
A certeza do direito permite a previsibilidade da aplicação do direito em uma relação jurídica com conexão internacional. Assim, figura-secomo mais eficaz a aplicação formal do direito, que não adentra no direito material, ou mérito da lei indicada, sem, contudo, como citado anteriormente, o negligenciar totalmente.
Considerando que as sentenças proferidas por juízes de países diferentes podem divergir, de modo geral, principalmente e sempre que a ordem pública não é violada no caso concreto, os Estados reconhecem sentenças estrangeiras, e as fazem aplicáveis em seu ordenamento.
Logo, partindo da premissa de que a contraditoriedade de sentenças para as mesmas partes, em países diferentes, ou se um status jurídico reconhecido pela justiça de um país não fosse reconhecido em outro, feriria a autoridade da justiça, é indubitavelmente cogente o entendimento de que deve haver uma harmonia entre as decisões judiciais dos ordenamentos jurídicos internacionais conexos num caso concreto.
Mesmo com a supracitada concepção de que o direito internacional privado refere-se, tão-somente, a relações jurídicas de direito privado com conexão internacional, não se adaptando à resolução de conflitos de leis interespaciais de direito público, este, de forma inclusive imperativa e, as vezes, absoluta, interfere diretamente na indicação da lei aplicável objeto do estudo desta disciplina.
Ocorre que no direito público existem normas de conteúdo imperativo e cogente, que exigem aplicação imediata, independente do direito aplicável a uma relação jurídica com conexão internacional.
Embora, em um caso sub judice, haja uma lei estrangeira a ser usada, pode suceder que por alguma peculiaridade prevista em norma de direito público, seja imediata e absolutamente determinada à aplicação da lei doméstica. Assim, havendo norma de direito público de aplicação imediata, não há que se falar em opção, deve-se seguir a expressa determinação legal.
No estudo das normas internas de determinada sociedade, que se projetam em âmbito internacional visando escolher a lei a ser aplicada a um caso concreto, estamos diante do encontro de duas sociedades, que determinam dois ordenamentos jurídicos. Partindo desta premissa, numa visão supranacional, composta por elementos destas sociedades nacionais, internas, visualizamos uma sociedade internacional.
O enfoque de resolução do conflito de leis, objeto do direito internacional privado, apresenta dois ângulos de visão. Sob o primeiro, unilateral, indaga-se qual a extensão territorial de uma lei interna, até onde a lei interna poderá ser aplicada, assim, resolve o conflito de leis objetivamente, delineando o raio de ação de cada lei com base nos seus objetivos. O enfoque multilateral, por sua vez, visa resolver o conflito de leis por uma abordagem relacional, aplicando a lei segundo as relações jurídicas que se apresentem, logo, a cada relação jurídica em abstrato caberá determinada ordem jurídica.
Mesmo as normas públicas de um ordenamento jurídico estrangeiro, não havendo óbice legal interno nem afronta a ordem pública, pode interferir na escolha da norma aplicável, pelo direito internacional privado, a uma relação jurídica com conexão internacional. Ou seja, o caráter público de lei estrangeira não representa obstáculos à sua aplicação.
4. OBJETO DE ESTUDO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Muito se discute sobre o objeto do Direito Internacional Privado. A primeira consideração se refere aos elementos de conexão. Estes são a característica que qualifica certa relação jurídica como internacional, ou seja, ligam uma lide ao direito de dois ou mais países.
“O regime jurídico da nacionalidade tangencia várias disciplinas do direito, notadamente o direito constitucional, o direito internacional público e o direito internacional privado.” (RECHSTEINER, 2008, p. 25)
Enquanto elemento de conexão, a nacionalidade vem perdendo seu prestígio, sendo paulatinamente substituída pelos modernos elementos de conexão domicílio e residência habitual. No entanto, tal substituição não se deu por completo, sendo ainda observado o elemento de conexão nacionalidade em alguns ordenamentos.
Como elemento de conexão, a nacionalidade é objeto de estudo do direito internacional privado. Logo, para efeito desta disciplina, regime jurídico da nacionalidade somente será observado quando relacionar-se com a determinação do direito aplicável a uma relação jurídica com conexão internacional, fugindo do estudo desta disciplina, portanto, as demais questões referentes à nacionalidade.
“As regras jurídicas sobre a condição jurídica do estrangeiro (la condition de l’étranger) definem a sua situação jurídica em relação ao nacional.” (RECHSTEINER, 2008, p. 30)
De natureza pública e evidentemente substantivas, pois diretamente aplicáveis à pessoas de nacionalidade estrangeira, as normas sobre a condição jurídica do estrangeiro, majoritariamente encontradas na Constituição Federal, no Estatuto do Estrangeiro e em tratados, convenções e acordos internacionais, definem, em regra, restrições e limitações à pessoa do estrangeiro no estado pátrio. Essas determinações derivam da necessidade de resguardar a soberania, a integridade pública e a segurança nacional, tudo por interesse público, conquanto que se restringem aos estrangeiros o acesso a certas propriedades e o exercício de determinados cargos públicos. São, portanto normas de direito público e não se destinam a escolher o direito a ser aplicado a uma relação jurídica com uma conexão internacional. Por isso, o estudo das supracitadas regras foge ao objeto do direito internacional privado, mas será abordado, nesta disciplina, para fins meramente didáticos.
“Além dos conflitos interespaciais, abrangendo os internacionais e os internos, existem outros conflitos, em que não figura qualquer aspecto espacial, mas em que entram em linha de conta mais de uma legislação, aplicáveis não por consideração de localização, mas por motivos de natureza subjetiva, decorrentes de determinadas qualificações pessoais”. (DOLINGER , 2003, p. 23)
Há países em que a etnia ou a religião, por exemplo, determinam qual a legislação aplicável. Assim, tem-se um conflito de leis originado de uma pessoalidade. No entanto, trata-se de um conflito de leis e, como o conflito de leis é a matéria-prima do direito internacional privado, estes conflitos de leis derivados de qualificações pessoais também integram o objeto de estudo do direito internacional privado.
“A doutrina mais moderna inclui as normas de direito processual civil internacional, em virtude do vínculo estreito existente, no objeto do direito internacional privado”. (RECHSTEINER, 2008, p. 38)
O direito processual civil internacional está intimamente ligado ao direito internacional privado, por isso, constitui objeto de seu estudo. Notadamente, para a determinação da lei aplicável a uma lide que apresente elemento internacional, necessário que o órgão que tome esta decisão seja competente internacionalmente.
“O conceito de direito transnacional é empregado para caracterizar qualquer matéria jurídica que transcenda aos limites de um Estado”. (RECHSTEINER, 2008, p. 43)
Destarte, o direito transnacional engloba vários direitos internacionais, pois que caracteriza quaisquer matérias jurídicas que ultrapassem os limites de um estado. No entanto, este termo até hoje não obteve aceitação geral na doutrina.
 “Na doutrina, particular e tradicionalmente, as relações entre os direitos internacional público e privado são examinadas sob diferentes aspectos”. (RECHSTEINER, 2008, p. 43)
Cabe salientar que se trata de disciplinas autônomas. Embora, em outros tempos, tenha havido entendimentos de que o direito internacional privado originava-se do direito internacional público, hodiernamente, aquele direito é indiscutivelmente autônomo, e plenamente diferente deste.
O direito internacional privado, como dito, designa o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com relação internacional. O direito internacional público, por sua vez, preocupa-se com as relações existentes entre os sujeitos de direito, entidades internacionais.
A relação entre os dois ramos do direito encontra-se evidenciada, comodito anteriormente, na inferência das normas do direito internacional público na própria decisão do juiz ao aplicar as normas de direito internacional privado. Isso por que, notadamente, as normas do direito internacional público obrigam todo o estado.
O direito internacional privado, de uma ótica supranacional, resolve conflitos de leis no espaço. No entanto, como bem ressalvado, sua aplicação está restrita ao conflito de leis de direito privado. Quando, por ventura, apresentarem-se conflitos de leis de direito público, não incidirão as normas de direito internacional privado, haja vista, principalmente, o caráter substantivo ou material das normas de direito público, aplicadas diretamente.
“A finalidade do direito intertemporal ou transitório é definir a partir de que data entra em vigor uma nova lei, e como irá relacionar-se com fatos encerrados e relações jurídicas contínuas, iniciadas antes de sua entrada em vigor” (RECHSTEINER, 2008, p. 48)
Os direitos intertemporal e internacional privado assemelham-se, conquanto escolhem qual a norma aplicável. Sendo que aquele disciplina conflitos de lei no tempo, enquanto este disciplina o conflito de leis no espaço.
A função principal do direito comparado é promover a harmonização dos ordenamentos jurídicos, permitindo alternativas para o legislador, propiciando uma evolução jurídica uniforme. Ao mesmo tempo, visa que os países acabem por adotar regimentos análogos, aproximando-se da padronização de ordenamentos jurídicos.
A harmonia proposta pelo direito internacional privado, por sua vez, visa à pacífica coexistência dos diversos ordenamentos jurídicos existentes.
Em sua inter-relação, o direito comparado proporciona ao direito internacional privado os subsídios necessários à analise do ordenamento jurídico alienígena, permitindo melhor entendimento destas normas, para que nelas se identifiquem os requisitos que, no direito pátrio, permitem sua aplicação.
CONCLUSÃO
O Direito Internacional Privado é importante disciplina jurídica no trato das hodiernas relações jurídicas, cada vez mais ligadas entre diferentes pontos do globo.
Conquanto não resolva diretamente a lide, ele estabelece as regras gerais que definem qual direito será aplicado ao caso, ou seja, a norma de qual Estado.
Persistem muitos debates sobre seu objeto de estudo e sua relação (ou mesmo dependência) com outros ramos do direito. Mas deve prevalecer que guarda sua autonomia própria e que seu conteúdo, ainda que tangencie objetos de outros ramos, pode e deve conter tudo quanto necessário a sua finalidade de constituir norma de sobredireito em relações jurídicas dotadas de elemento de conexão internacional.
 A NACIONALIDADE E O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Primeiramente vê-se necessário advertir que a matéria de nacionalidade e seu estudo se dão tanto no Direito Internacional Privado, quanto no público.
Portela (2011, p. 259) define a nacionalidade como “vínculo jurídico-político que une uma pessoa física a um Estado, do qual decorre uma série de direitos e obrigações recíprocas”.
Já Dolinger (2013, p. 155) apud Miranda sustenta que “a nacionalidade é um direito substancial, integrado ao direito público”, questiona inserção de sua discussão no âmbito do Direito Privado, salvo como matéria introdutória. Contudo, após citar Pontes de Miranda, Dolinger (2013, p. 156) é categórico ao reconhecer em sua obra que a nacionalidade é uma matéria preliminar do Direito Internacional Privado, justificando-se pelas leis da nacionalidade e no status pessoal que as regem.
É de extrema importância traçar uma discussão sobre o a aferição de nacionalidade, pois esta que distinguem estrangeiros de nacionais, cujos direitos não são os mesmos. Ressalta Dolinger (2013) que nos países que adotam o critério de nacionalidade para reger o estatuto pessoal, a determinação da nacionalidade se torna o pressuposto de maior importância para o Direito Internacional Privado, e a proteção diplomática daqueles que estão no exterior e dependem igualmente desta dita determinação.
 “A nacionalidade é geralmente definida como vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, ou, em outras palavras, o elo entre a pessoa física e um determinado Estado” (DOLINGER, 2013, p. 157).
Assim pode-se a partir desta outra definição dada pelo doutrinado Dolinger conseguimos comportar duas dimensões, uma delas vertical que traça uma ligação entre o indivíduo com o Estado a que pertence, definindo as obrigações e os direitos do indivíduo com o Estado. Já a outra dimensão, a horizontal, que faz do nacional membro de uma comunidade, da população que constitui o Estado, dimensão esta muitas vezes denominada como sociológica.
Não se pode confundir nacionalidade com cidadania, estas duas são distintas, uma vez que a primeira é um vínculo jurídico que une, liga, vincula o indivíduo ao Estado e a segunda representa conceito adicional, de caráter político que faculta à pessoa certos direitos políticos, a título de exemplo votar e ser eleito. Ocorre que a cidadania pressupõe nacionalidade.
Em suma, a nacionalidade traduz critérios internacionais, ao passo que a cidadania está ligada a aspectos nacionais.
A nossa Carta Magna de 1988 cuidou de distinguir nacionalidade e a cidadania, o título relativo aos direito fundamentais, figura um capítulo dedicado à “nacionalidade” e outro aos “direitos políticos”, demonstrando esta diferenciação e sede legislativa.
Em seu art. 12, a CR/88 enuncia quem são os brasileiros, como se adquire e como se perde a nacionalidade, já em seu art. 22, inciso XIII, estabelece a Constituição à competência da União para legislar sobre nacionalidade, cidadania e naturalização, em que a naturalização é redundante, uma vez que esta está incluída na nacionalidade. Ainda, ao longo do texto constitucional fica claro a diferença entre nacionalidade e cidadania, uma vez que muitos direitos estão ligados a esta ultima, a título de exemplo podemos citar a ação civil pública, que somente pode ser proposta pelo cidadão, e não pelo nacional.
2.1 Aquisição
Sobre a nacionalidade, pode-se ainda destacar dos ensinamentos e Dolinger (2013) em sua obra sobre Direito Internacional Privado, que há momentos distintos para que se possa adquirir determinada nacionalidade, no que se refere ao tempo pode-se distinguir a forma originária e a forma deriva de aquisição da nacionalidade:
A nacionalidade originária se materializa por meio de dois critérios que indicam no momento do nascimento: o ius soli – aquisição de nacionalidade do país em que se nasce – e o ius sanguinis – aquisição de nacionalidade dos pais à época do nascimento – e que às vezes se combinam em critério ecléticos, ocorrendo também à hipótese do ius sanguinis combinando com o elemento funcional, quando se trata de filho de pessoas a serviços do país no exterior, do ius sanguinis combinado com registro civil e o ius sanguinis combinado com residência no país e opção pela nacionalidade do país.
A nacionalidade derivado ou secundária ocorre por via de naturalização – voluntária ou imposta – e por meio de casamento; o ius sanguinis combinado com o ius laboris tem especial destaque na aquisição derivada de nacionalidade (DOLINGER, 2013, p. 141).
Estas duas formas de aquisição da nacionalidade, muito bem explicadas por Dolinger, dispensam demais explicações.
2.2 Princípios Internacionais sobre a nacionalidade
A Convenção de Haia de 1990 estabelece em seu primeiro art. O princípio de competência para estabelecer a nacionalidade, dispondo que cabe a cada Estado “determinar por sua legislação quais são os seus nacionais”. Legislação esta que será aceita por todos os outros Estados, desde que esteja de acordo com as convenções internacionais, o costume internacional e os princípios de direito geralmente reconhecidos em matéria de nacionalidade.
Esta mesma convenção determina, ainda, que todas as questões que se referem à nacionalidade de determinado Estado será resolvida pelas leis deste Estado.
Por fim, em seu art. 3º, a Convenção de Haia trata acerca da dupla nacionalidade, considerandoque aquele que possua duas nacionalidade deva ser considerados por cada um dos Estados como seu nacional.
Em momento algum esta Convenção estabelece ou considera critérios afetivos como requisitos da nacionalidade, nada havendo no Direito Internacional que exija uma ligação sentimental entre o Estado naturalizador e o indivíduo que se naturaliza, para que esta naturalização tenha eficácia reconhecida.
 CONCLUSÃO: Concluímos, a partir deste estudo, que a nacionalidade é um tema que pode ser estudo tanto na esfera privado quando pública do Direito Internacional Privado, haja vista seu caráter determinante nestas duas esferas. Ainda, a nacionalidade muito se difere da cidadania, sendo que a primeira trata-se de um vínculo político-jurídico. A nacionalidade nada tem haver com questões sentimentais existentes entre o indivíduo naturalizado e o Estado naturalizador.
E de fato há ligações entre a cidadania e a nacionalidade, uma vez que ser cidadão implica ser nacional.
O tema é bem amplo, e que abarca diversas questões, no entanto buscamos nesse artigo tratar de pontos específicos para que focássemos em questões que nos parece de extrema pertinência para trabalho e discussão. Não pretendíamos em sede de artigo esgotar essa discussão, que ao nosso sentir é inesgotável.
Em suma podemos concluir que o Estado e a sua legislação possuem de fato importância extrema na hora de delimitar seus nacionais, uma vez que, conforme a Convenção de Haia, será esta aludida legislação que delimitará os mencionados nacionais de cada Estado.
CONDIÇAO JURIDICA DO ESTRANGEIRO
O tratamento dado pelos povos aos estrangeiros residentes em seu território figura dentre os mais importantes aspectos acerca do grau de civilização e de sentimento humanitário existente dentro de uma sociedade.
O Velho Mundo, ou seja, a Europa, não apresentava grande desenvolvimento neste aspecto, uma vez que mantinha regras discriminatórias contra os estrangeiros, e, somente, de forma paulatina, começaram a introduzir mudanças comportamentais, a fim de aceitar a participação dos alienígenas no desenvolvimento econômico das sociedades onde viviam.
No Novo Continente, entretanto, a situação era diversa, pois as nações americanas desenvolveram uma nova mentalidade. Como eles criaram sociedades mais recentes que as européias resultantes de populações mistas, o princípio da igualdade perante a lei imperou política e economicamente entre eles.
Finalmente, as legislações americanas foram responsáveis por influenciar os povos europeus a aceitarem a presença dos estrangeiros em seus territórios.
1.A ENTRADA DO ESTRANGEIRO
De acordo com Oscar Tenório apud Dolinger (2005), necessária foi a conciliação entre os interesses estatais e os da comunidade internacional, quanto à questão migratória.
Embora seja uma matéria de competência interna de cada Estado soberano, a imigração tem a sua importância universal, pois não há como proibir de forma absoluta, em Estados Democráticos, que os seus nacionais mudem de domicilio, assim como não há como proibir inteiramente a entrada de estrangeiros em um território, sem violar sobremaneira a solidariedade internacional entre as nações.
Ian Brownlie apud Dolinger (2005) afirma que um Estado pode decidir pela não admissão de estrangeiros em seu território, bem como também impor condições para a sua entrada. Nesta esteira, Hans Kelsen citado por Dolinger (2005) assegura que nenhum Estado tem a obrigação de admitir estrangeiros em seus limites.
Seguindo este pensamento, a Suprema Corte Americana decidiu que é um principio aceito no direito internacional que cada nação soberana tenha o poder de proibir a entrada de estrangeiros em seus domínios, ou de decidir a sua admissão nos casos que lhe pareçam adequados, sendo isso inerente a sua soberania e também essencial a sua autopreservação.
Todavia, modernamente, tem-se firmado o entendimento de que a recusa em se admitir a admissão de membros da família de uma pessoa já residente no país viola a Convenção Européia dos Direitos Humanos a qual protege o indivíduo a ter o direito a uma vida particular e a sua vida em família.
No âmbito internacional, a Convenção de Havana sobre a Condição dos Estrangeiros, de 1928, dispõe, no artigo 1º, que os Estados têm o direito de estabelecer, através de suas leis, as condições de entrada e de residência dos estrangeiros em seus territórios, tendo sido esta Convenção sancionada pelo Brasil inclusive. Importante destacar que, em sede constitucional brasileira, a lei sempre pôde fixar limites à imigração de forma discricionária.
A Constituição Federal de 1988 dispõe, no artigo 5º, inciso XV, que "é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens".
Neste sentido, a Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe, no artigo 13, alínea 2, que "toda pessoa tem o direito de sair de qualquer país, inclusive de seu próprio, e de regressar a seu país". Ademais, o artigo 14 atesta que "toda pessoa em caso de perseguição tem o direito de buscar asilo e de desfrutá-lo em outro país". Já a Convenção sobre Asilo Diplomático, de 1954, dispõe que "todo Estado tem o direito de conceder asilo, mas não se acha obrigado a concedê-lo, nem a declarar por que o nega".
O diploma que atualmente rege os institutos da admissão e da entrada do estrangeiro no Brasil, assim como os vários tipos de visto, a condição de asilado, o registro do estrangeiro, deportação, expulsão, extradição, naturalização, direitos e deveres do estrangeiro, a criação do Conselho Nacional de Imigração, dentre outros aspectos é a Lei nº 6.815 de 19 de agosto de 1980.
O aspecto filosófico da atual legislação brasileira sobre a entrada e a permanência do estrangeiro no Brasil inspira-se no atendimento à segurança nacional, à organização institucional, nos interesses políticos, sócio-economicos e culturais do Brasil, inclusive na defesa do trabalhador nacional.
Os tipos de visto de entrada os quais podem ser concedidos ao estrangeiro são: visto de trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial e diplomático.
Importante destacar que a lei proíbe a concessão de visto ao estrangeiro menor de dezoito anos desacompanhado de responsável legal ou sem sua autorização expressa, assim como ao que seja considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais. Proíbe-se também relativamente à pessoa anteriormente expulsa do país, bem como àquela que tiver sido condenada ou processada em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira, ou que não satisfaça as condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde. De igual forma, proíbe a legalização do clandestino e do irregular bem como a transformação dos vistos de trânsito, turista, cortesia e temporário em permanente, excetuados, neste tipo, os casos do cientista, professor, técnico ou profissional e a de ministro de confissão religiosa.
A Lei nº 6.815/80 foi modificada em seu artigo 26 pela Lei nº 6.964/81, dispondo que o visto concedido pela autoridade consular brasileira configura mera expectativa de direito, podendo a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro ser obstado, se ocorrer qualquer dos casos enumerados no artigo 7º, ou, ainda, se transcorrer a inconveniência de sua presença no Brasil. Assim, o artigo 7º versa várias hipóteses em que se há de negar o visto ao estrangeiro, entre as quais a da pessoa considerada nociva à ordem pública, à anteriormente expulsa do país e à condenada ou processada em outro país por crime doloso.
Fundamental observação é a de que o impedimento à entrada do estrangeiro que não atende às condições fixadas na legislação brasileira não representa uma penalidade, seja quando se configure alguma das hipóteses do artigo 7º, seja no caso de inconveniência da presença do alienígena no território nacional. Ou seja, a proibição a sua entrada ou a sua estada no país é questão concernente à proteção da segurança interna, da ordem pública, em decorrência da manifestaçãodo poder soberano, sem qualquer característica de pena.
Haroldo Valladão citado por Dolinger (2005) afirma que a expulsão não é uma pena aplicável por um juiz ou tribunal, mas que esta constitui uma medida da política administrativa do país, fundamentada no direito de defesa do Estado, sendo, então, irrenunciável.
Neste sentido, a expulsão do estrangeiro é uma regra que atende ao interesse imediato do Estado, antes mesmo da sociedade, constituindo-se como uma medida administrativa ou como um meio inerente ao poder de polícia, deixada a sua aplicação à discricionariedade do Poder Executivo, sem interferência do Poder Judiciário, salvo casos excepcionais.
Portanto, assim como há razões inerentes à soberania do Estado em relação ao direito de expulsar o estrangeiro, há também quanto ao impedimento de sua entrada no país. A faculdade de impedir a entrada de quem quer que seja e estender esta proibição a quem entender inclusive a todo o grupo familiar é uma medida discricionária no âmbito da conveniência do Estado.
Enfim, quanto ao visto de entrada para o estrangeiro, o governo brasileiro segue a política da reciprocidade, de forma que as autorizações de vistos de entrada de estrangeiros no Brasil, assim como as isenções e as dispensas somente poderão ser concedidas se existir reciprocidade de tratamento para os brasileiros, reciprocidade esta a ser estabelecida através de acordo internacional.
2.OS DIREITOS DO ESTRANGEIRO, UMA VEZ ADMITIDO
Hans Kelsen apud Dolinger (2005) assevera que, embora o Estado não tenha obrigação em admitir estrangeiros em seu território, mas, uma vez estes sejam admitidos, devem-lhes ser concedidos um mínimo de direitos. Isto quer dizer que deve existir certa posição de isonomia com os nacionais, pelo menos quanto à segurança pessoal e a de suas propriedades, o que não significa afirmar que os estrangeiros terão direitos iguais. Todavia, Kelsen continua que a situação jurídica dos estrangeiros não pode ficar abaixo de um determinado patamar mínimo de civilização.
Neste aspecto, a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama em seu artigo 2º que todos os direitos por ela enunciados correspondem a toda pessoa sem distinção de origem nacional.
No Brasil, a Carta Magna assegura no artigo 5º que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".
Quanto aos direitos políticos, a Convenção de Havana sobre a Condição dos Estrangeiros de 1928 estipula, em seu artigo 7º, que "o estrangeiro não se deve ingerir nas atividades políticas privativas dos cidadãos do país no qual se encontre; se tal fizer, ficará sujeito às sanções previstas na legislação local".
No mesmo sentido, o Código Bustamante, em seu artigo 2º, alínea 2 exclui a igualdade entre estrangeiros e nacionais quanto ao desempenho das funções públicas e de outros direitos políticos.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe no artigo 21 que toda pessoa tem direito de participar do governo de seu país, e tem direito de acesso às funções públicas de seu país, isto é, do país de sua nacionalidade, e, não, do país onde a pessoa é alienígena.
Nesta conjuntura, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, no artigo 38, dispõe assim: "todo estrangeiro tem o dever de se abster de tomar parte nas atividades políticas que, de acordo com a Lei, sejam privativas dos cidadãos do Estado em que se encontrar".
Então, observa-se que os diplomas internacionais coincidem na distinção entre o nacional e o estrangeiro quanto ao exercício da atividade política. No entanto, a Constituição Federal de 1988 assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país direitos que versam sobre liberdades políticas, tais como a liberdade de manifestação de pensamento (inciso IV, artigo 5º), a liberdade de comunicação (inciso IX, artigo 5º), o direito de reunião pacífica (inciso XVI, artigo 5º) e o direito à liberdade de associação (inciso XVII, artigo 5º).
Destarte, estes direitos aplicam-se igualmente aos nacionais e aos estrangeiros residentes no país, de forma que o estrangeiro tem liberdade para se comunicar, reunir-se, associar-se para fins lícitos e para manifestar seu pensamento, porém tudo teórica e intelectualmente. Portanto, diversa é a atividade de natureza política, a qual enseja a ingerência nos negócios públicos do Brasil, sendo-lhe esta atividade vedada por lei.
Aos imigrantes, concede-lhes o direito à igualdade nos campos econômico e social, mas não no político. No Brasil, excetuados os portugueses, os estrangeiros não votam nas eleições brasileiras, pois a Lei Maior vedou-lhes expressamente este exercício no artigo 14, §2º, in verbis: "não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros". Por fim, há outras restrições no Texto Supremo quanto à atuação do estrangeiro no governo, ao restringir a ocupação de certos cargos a brasileiros natos, além da limitação a apenas brasileiros (natos e naturalizados) em relação à propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Além disso, para os naturalizados, só há esta possibilidade após decorridos dez anos de naturalização, e, também, só aos brasileiros poderá caber a responsabilidade pela administração e pela orientação intelectual destas empresas.
3.A SAÍDA COMPULSÓRIA
Neste ponto, faz-se necessária a distinção entre os conceitos de extradição, expulsão e deportação, todos ligados à remoção forçada da pessoa física do território de um país.
Extradição é o processo através do qual um Estado atende ao pedido de outro, remetendo-lhe pessoa processada no país solicitante por crime punido na legislação de ambos os países. Porém, em regra, não se extradita nacional do país solicitado.
Expulsão é o processo por meio do qual um país expele de seu território um estrangeiro residente, em razão de crime ali praticado ou de comportamento nocivo aos interesses nacionais, ficando-lhe vedado o retorno ao país de onde fora expulso.
Deportação é o processo de devolução de estrangeiro que chega ou que permanece irregularmente, retornando ao país de sua nacionalidade ou de sua procedência.
Importante destacar que, na expulsão, a remoção se dá por prática ocorrida após a chegada e a fixação do estrangeiro no território do país, enquanto que, na deportação, esta saída compulsória origina-se exclusivamente de sua entrada ou estada irregular no país. No Brasil, o deportado poderá retornar ao país, desde que atenda às exigências da lei para a entrada e para a estada no território brasileiro.
A expulsão do estrangeiro nocivo insere-se no poder discricionário do Estado, representando uma manifestação da sua soberania, decorrência lógica de seu poder de admitir ou de recusar a entrada do estrangeiro.
Assim, enquanto o nacional tem o direito inalienável de permanecer em seu solo pátrio, uma vez que apenas os regimes de força ousam banir seus nacionais, o estrangeiro não tem esta garantia. Isso ocorre, porque o Estado, mesmo depois de tê-lo admitido em seu território em caráter permanente, guarda o direito de expulsá-lo, se for considerado perigoso para a boa ordem e para a tranqüilidade pública do país. Ademais, todo Estado possui o direito soberano de expulsar os estrangeiros que desafiem sua ordem política e que se dediquem a atividades sediciosas.
Dolinger (2005) salienta que existem estudiosos do instituto da expulsão os quais recomendam que o Estado não abuse deste direito, devendo nortear-se pelo princípio da humanidade, observando igualmente que a proibição do genocídio inclui a expulsão em massa de um grupo humano.
Então, pode-se afirmar que o estrangeiro não tem entrada no território por direito próprio, mas por concessão do governo e sob condição de não se tornar prejudicial ao bem do Estado. Em conseqüência, desde que falte aos seus deveres e que infrinja as leis, poderá ser expulso, o governo a que ele pertence não tem direito de opor-se. Isso se fundamenta na natureza do atode expulsão, visto que não é uma pena, e, sim, uma medida administrativa exercida em proteção do Estado, como manifestação de sua soberania. Outrossim, este ato administrativo não é um ato arbitrário, trata-se de ato discricionário.
A expulsão de estrangeiro cabe exclusivamente ao Presidente da República, mas, para processar e julgar os crimes de ingresso ou de permanência irregular de estrangeiro, isto é, casos de deportação, a Carta da República estabelece a competência para os juízes federais. Já para ordenar a prisão do deportando, a competência é do Ministro da Justiça.
Afinal, de acordo com Dolinger (2005), há a possibilidade de indenizar por expulsão, quando os Estados, por suas políticas internas, forçam seus cidadãos a se tornarem refugiados, porque, nestes casos, praticam um ato considerado ilegal internacionalmente. Isso cria a obrigação de compensarem o mal cometido, de maneira que estes Estados devem ser obrigados a indenizar seus nacionais forçados a deixar a pátria, da mesma forma como são obrigados, pelo direito internacional, a compensar os estrangeiros expulsos.
RESUMO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Direito Internacional privado – parte geral: representado por normas que definem qual o direito a ser aplicado a uma relação jurídica com conexão internacional, indicando o direito aplicável . Como fundamentos podem ser destacados: conflito de leis; intercâmbio universal ou comércio internacional; extraterritorialidade das leis. É importante observar que sob ótica das ordens jurídicas elas podem ser de dois modos: uma só ordem (quando para solução de um problema independe de outro ordenamento jurídico senão o próprio do país); duas ou mais ordens jurídicas (quando para solução de um problema é preciso se levar em conta o ordenamento jurídico de um outro país).
- Conceito: em linhas gerais, como exposto anteriormente, o direito internacional privado seria um conjunto de princípios e regras sobre qual legislação aplicável à solução de relações jurídicas privadas quando envolvidos nas relações mais de um país, ou seja, a nível internacional.
- Objeto: o direito internacional privado resolve conflitos de leis no espaço referentes ao direito privado; indica qual direito, dentre aqueles que tenham conexão com a lide sub judice, deverá ser aplicado. O objeto da disciplina é internacional, sempre se refere às relações jurídicas com conexão que transcende as fronteiras nacionais. Desta forma, alguns pontos são analisados pelo direito internacional privado, que são a questão da uniformização das leis, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito de leis como já citado e o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos pelos países.
- Objetivo: o direito internacional privado visa à realização da justiça material meramente de forma indireta, e isso, mediante elementos de conexão alternativos favorecendo a validade jurídica de um negócio jurídico. Outro objetivo do direito internacional privado importante de ser lembrado é a harmonização das decisões judiciais proferidas pela justiça doméstica com o direito dos países com os quais a relação jurídica tem conexão internacional .
- Normas jusprivatistas internacionais: a norma do direito internacional privado delimita a eficácia das normas de ordem interna e indica a lei estrangeira que deve reger uma determinação relação jurídica internacional. Pode se dizer que trata de questões “contaminadas” por, pelo menos, um elemento estrangeiro (casamento, nacionalidade, local da morte, local dos bens etc). Esse elemento estrangeiro é fundamental; é ele que diferencia o direito internacional privado do direito privado comum. As normas podem se classificar quanto a fonte, quanto a natureza e quanto a estrutura.
a) Quanto a fonte: pode ser legislativa, doutrinária e jurisprudencial, pode ainda ser interna ou internacional (tratados e convenções).
b) Quanto a natureza: geralmente é conflitual, indireta ou seja, não solucionam a questão em si mais indicam qual direito deve ser aplicado. Art. 263 do Código de Bustamente; artigo 7º da LICC é direta quando dotam regras materiais uniformes, que dão solução a questão. Há ainda as normas qualificadoras, que não são conflituais, nem substanciais, mas conceituais.
c) Quanto a estrutura: são unilaterais, bilaterais ou justapostas. Unilaterais ou incompletas são aquelas que se preocupam apenas com a aplicação da regra do direito internacional privado aos nacionais, ou seja, a regra de direito interno, independentemente do direito estrangeiro. O caput diz a lei do domicílio da pessoa natural, ou seja, se aplica tanto a brasileiros como a estrangeiros. Essas normas se direcionam ou aos seus nacionais ou exclui os nacionais e afeta só os estrangeiros. As bilaterais ou completas, são as que se destinam a todos os nacionais, tem um aspecto universal, multilateral, ocupando-se de todo o mundo.
- Elementos de conexão: o problema fundamental do direito internacional privado é a determinação e utilização das regras solucionadoras de conflitos interespaciais, isto é, a utilização dos elementos de conexão. As regras jurídicas em geral possuem a estrutura de uma hipótese e um dispositivo que regulamenta esse fato. Por exemplo, fato: a pessoa quando alcança 18 anos. Fato – alcançar 18 anos.
Conseqüência - tornar-se capaz. Os elementos de conexão, como a própria expressão dispõe, nada mais são do que vínculos que relacionam um fato qualquer a um sistema jurídico. Segundo Dolinger, sua enumeração leva em conta o “sujeito” (sua capacidade) determinando o local onde está situado ali também será a sede da relação jurídica, o “objeto” (imóvel ou móvel) e o “ato jurídico” (considerando a localização do ato).
Existem várias regras de conexão, e apenas para citar como exemplos: lex patriae (lei da nacionalidade da pessoa física), lex domicilli (lei do domicílio), lex loci actus (lei do local do ato jurídico), entre outras. No sistema brasileiro de direito internacional privado os principais elementos de conexão que podem ser analisados, apenas a título de exemplificação: art. 7º, caput, da Lei de Introdução do Código Civil que trata do domicílio; art. 7º, §1º da mesma Lei que trata das formalidades do casamento, etc.
Qualificação: “Qualificar é classificar, é definir, para alguns. Se tivermos uma questão de direito internacional privado, é preciso determinar a forma pela qual ela se enquadra no sistema jurídico de determinado país. [...] se resume em identificar como a questão que se põe ao julgador, ao doutrinador, é conceituada no sistema jurídico alienígena” . Existem diferentes métodos de se classificar a qualificação, por exemplo:
1 – Lex fori: a maioria dos internacionalistas indicam que para melhor solução deve-se aplicar a lei do fori. Aqui no Brasil quase sempre se opta pela Lex fori, com duas exceções a do artigo 8º e 9º da LICC.
2 – Lex Cusae: a lei do ordenamento jurídico que potencialmente seria aplicado a causa.
3 – Conceitos autônomos e universais: para saber como se classifica um determinado fato, eu vou investigar todos os sistemas jurídicos e vou ver qual é a maioria seguida em relação aquele fato, daí sigo aquele ordenamento.
- Aplicação do direito estrangeiro: não se faz por ato arbitrário do juiz, mas em decorrência de mandamento legal da legislação interna. Reputa-se a norma estrangeira com força coativa igual à brasileira. As partes, em princípio, não podem renunciar ao seu império. Sua obrigatoriedade é de tal natureza que o julgador tem o dever de aplicá-la mesmo quando não invocada pelas partes. Embora se diga, em meio a divergências doutrinárias, que o direito estrangeiro competente se integra na ordem brasileira, não decorre da afirmativa a conclusão de que se aplica o princípio jura novit curia. O juiz pode dispensar a prova do direito estrangeiro, se o conhecer, embora daí possa decorrer o inconveniente de, no julgamento coletivo, haver necessidade de se provar sua existência. Os tratados e convenções internacionais celebrados pelo Brasil se equiparam ao direito federal, dispensada aparte do ônus da prova do texto e da vigência. Aquele que alegar direito estrangeiro deverá provar-lhe o teor e a vigência, salvo se o juiz dispensar a prova. O meio mais próprio de prova é o da certidão passada pela autoridade consular estrangeira, contendo o texto legal e sua vigência, ou uma certidão de autoridade estrangeira autenticada pelo cônsul.
Para certos autores, no caso de dificuldades decorrentes da ausência de relações diplomáticas, é lícito recorrer a pareceres de doutos e à doutrina. O ônus da prova do direito estrangeiro cabe a quem o alega. Se nenhuma das partes postular a aplicação de norma que possa resultar em solução segundo o direito alienígena, ao autor compete o ônus da prova. Algumas regras para a aplicação do direito estrangeiro são a recepção formal (posso fazer uma recepção meramente formal), a recepção material e a aplicação sem incorporação (aplicação da norma jurídica não possui qualquer incorporação ou integração com regime jurídico do foro). Assim como existem regras para aplicação em tela, também existem limites, que devem ser observados como o princípio de ordem pública (princípios estruturantes do direito privado; estão na Constituição Federal, logo, todos eles são princípios de ordem pública. Então, direito estrangeiro que fere a ordem pública pode até ser válido, mas é ineficaz no Brasil - LICC art. 17. Por exemplo: Divórcio islâmico - Dá-se pela repudia. O STF não homologa esse tipo de sentença, pois fere a ordem pública; Casamento poligâmico - Vale o primeiro casamento, e os demais são ineficazes para o ordenamento jurídico brasileiro, etc.). Outra limitação diz respeito à fraude à Lei: por exemplo, troca de domicílio (para fugir da aplicação da lei tributária), alteração de nacionalidade. A fraude à lei implica em ineficácia do ato. Observar os recursos cabíveis por força do art. 105, III, “a” e “c” da Constituição Federal.
2. Direito Internacional Privado – Parte Especial – Nacionalidade e Naturalização: nacionalidade é um vinculo jurídico político estabelecido entre um Estado e uma pessoa. Existe uma diferença entre nacionalidade e cidadania, na cidadania existe um plus que são os direitos políticos, tais como os de votar. A cidadania pressupõe sempre a aquisição de nacionalidade. Cidadão é aquele que exerce seus direitos políticos. Artigo 12 da CF trata da aquisição e perda da nacionalidade. É pressuposto para o exercício da cidadania, que a pessoa seja brasileira, mais não necessariamente nato. São brasileiros natos aqueles nascidos no Brasil. Se uma embaixadora estiver aqui no Brasil fazendo algum serviço e estiver grávida e o filho nascer aqui, esse filho não vai ser brasileiro. Se porventura a Diretora presidente da Embraer for para uma feira na Alemanha e estiver grávida, esse filho não vai ser brasileiro, porque ela não está exercendo função de Estado. Aqueles que exercem função do Estado se tiverem seus filhos fora do Brasil serão brasileiros. Aquisição de nacionalidade no Brasil: Ius solis, Ius sanguines. Regra geral só se tem uma e apenas nacionalidade. Aquisição de nacionalidade – originário e secundaria – art. 12 da CF II. Naturalização: a naturalização é um meio derivado de aquisição de nacionalidade e consiste na equiparação do estrangeiro, no que se refere aos direitos e deveres. Naturalização para portugueses ou originários de países de língua portuguesa, os requisitos são residência por um ano e idoneidade moral.
A regra geral de concessão de naturalização originária é o ius sanguines. As condições essenciais para que um estrangeiro se naturalize brasileiro são:
1.º prova de que possui capacidade civil, segundo a lei brasileira;
2.º residência continua no território nacional, pelo prazo mínimo de cinco anos;
3.º saber ler e escrever a língua portuguesa;
4.º exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família;
5.º bom procedimento;
6.º ausência de pronuncia ou condenação no Brasil; prova de sanidade física.
A naturalização é requerida ao Presidente da Republica, com declaração, por extenso, do nome do naturalizando, sua nacionalidade, naturalidade, filiação, estado civil, data do nascimento, profissão, lugares onde residiu antes, devendo ser por ele assinada. São exigidos como complemento à petição: carteira de identidade para estrangeiro, atestado policial de residência contínua no Brasil, atestado policial de bons antecedentes e folha corrida, passados pelos serviços competentes dos lugares do Brasil onde o naturalizante tiver residido, carteira profissional, diplomas, atestados de associações, sindicatos ou empresas empregadoras; atestado de sanidade física e mental, certidões ou atestados que provem as condições já citadas anteriormente como essenciais à naturalização. O requerimento e os documentos que o completam são apresentados ao orago competente do Ministério da Justiça, no Distrito Federal, ou à Prefeitura Municipal da localidade em que residir o requerente. Após o exame da documentação, realizam-se sindicâncias sobre a vida pregressa do naturalizando, devendo o processo ultimar-se em cento e vinte dias, contados a partir do protocolo do requerimento. 
- Condição jurídica do estrangeiro: o Estado que acolhe estrangeiros em seu território deve reconhecer-lhes certos direitos e deve exigir deles certas obrigações. Exemplo de direito do Estado: o de vigilância e policia sobre o estrangeiro, embora se deva conduzir tal pratica com a brandura possível. O Estado deve regular a condição do estrangeiro, protegendo suas pessoas e seus bens, e reconhecer a todos o menino de direitos admitidos pelo direito internacional. Os direitos que devem ser reconhecidos aos estrangeiros são:
1) o direito à liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa humana, liberdade de consciência, de culto, inviolabilidade de domicilio, direito de propriedade;
2) direitos civis e de família. Os direitos e liberdades supracitados não são absolutos, pois não impedem que os estrangeiros sejam presos ou punidos com a pena ultima. É também licito e recomendável que se recuse ao estrangeiro a faculdade de exercer, país de residência, os direitos políticos que tenham no país de origem. É importante comentar, sobretudo que traz a Lei de Introdução ao CC os limites à aplicação do direito estrangeiro, enunciando que as leis, os atos e as sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Esses limites são chamados de salvaguarda imunológica. A ordem pública é o princípio mais usado para limitar a aplicação da lei estrangeira. Ordem pública é a soma dos valores morais e políticos de um povo. Vê-se que se trata de um conceito fluido, variável no tempo e no espaço. Um exemplo de aplicação da ordem pública como fator de limitação à aplicação da legislação estrangeira: uma sentença argelina condenou uma mulher ao divórcio e à perda da guarda do filho por não querer acompanhar o marido para fora do país, o que foi tido, na França, como ofensivo à ordem pública; uma lei tunisina não admite fixação de filiação não decorrente de casamento (filho natural não pode nem mesmo pedir alimentos); mas o mais marcante exemplo temos nos casamentos polígamos dos árabes. Acima de tudo, é muito importante lembrar que de acordo com a CF, no art. 95, o estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis.

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