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ESTUDO DIRIGIDO DIETO 2 01. Quais as indicações de nutrição parenteral? Ela deve ser indicada quando o trato gastrintestinal do paciente não estiver funcionando durante sete a dez dias, para complementar as necessidades nutricionais fornecidas pela via enteral, ou quando essa for contra-indicada, em condições pré-operatórias, quando ocorre perda de peso superior a 10% do usual, e pós-traumáticas, em complicações cirúrgicas pós-operatórias e em insuficiências orgânicas, como hepática e renal. 02. Descreva as duas formas de acesso e a diferença entre eles. Acesso periférico: indicado para períodos curtos, de sete a dez dias, administrado por meio de uma veia menor, normalmente não atinge as necessidades nutricionais do paciente. Acesso central: utilizada em períodos superiores a sete a dez dias, administrado por meio de uma veia de grande diâmetro, geralmente subclávia ou jugular interna, que chega diretamente ao coração. 03. Cite as principais complicações relacionadas à nutrição parenteral. Complicações relacionadas ao cateter, como embolia pulmonar, trombose venosa, oclusão do cateter, flebite e infecção; Complicações metabólicas, como hiper e hipoglicemia, hiponatremia, hiper e hipovolemia, hiper e hipocalemia, fígado gorduroso, colestase e atrofia do trato gastrintestinal. 04. Qual a função do nutricionista na utilização da Nutrição Parenteral? Avaliar os indicadores nutricionais subjetivos e objetivos; Identificar o risco ou a deficiência nutricional e acompanhar a evolução de cada paciente até a alta nutricional; Verificar qualitativa e quantitativamente as necessidades de nutrientes, determinadas a partir da avaliação do estado nutricional do paciente; Garantir o registro de informações relacionadas à evolução nutricional do paciente; Participar e promover atividades de treinamento operacional e de educação continuada, assegurando a atualização dos seus colaboradores. 05. Paciente sexo feminino, 68 anos, pós operatório de cirurgia abdominal. Apresenta fístula de alto débito na mesma região, a dieta oral foi suspensa e foi feita a prescrição de Nutrição Parenteral Total. Peso: 65 kg. Diagnóstico nutricional de Baixo peso. a) Calcule VET e distribuição dos macronutrientes. Fórmula de bolso = 35 x 65 = 2275 kcal CHO (55% de 2275 kcal) = 1 251,25 kcal / 3,4 = 368,01g PTN (15% de 2275 kcal) = 341,25 kcal / 3,6 = 94,79g LIP (30% de 2275 kcal) = 682,5 kcal b) Calcule o volume de solução para cada macro (Soluções disponíveis: GLICOSE – 15, 25 e 35%, AMINOÁCIDO – 10 e 15%, LIPIDEOS – 10 e 20%). Glicose (35%) = 35g ---- 100 ml 368,01g ---- x X = 1051,45 ml Aminoácido (10%) = 10g ---- 100 ml 94,79 g ---- x X = 947,9 ml Lipídio (20%) = 1 ml ---- 2 kcal X ---- 682,5 kcal X = 341,25 ml c) Calcule a necessidade hídrica e adeque o volume de solução. Necessidade hídrica = 35 ml x 65kg = 2275 ml Volume da solução = 1051,45 ml + 947,9 ml + 341,25 ml = 2340,6 ml d) Calcule e adeque a concentração de Glicose e Aminoácido. Concentração final de Glicose: 2340,6 ml ----- 368,01g 100 ml ----- x X = 15,72% Concentração final de Aminoácido: 2340,6 ml ----- 94,79g 100 ml ----- x X = 4,04% e) Calcule a osmolaridade. 15,72 x 50 = 786 mmOsm/L 4,04 x 100 = 404 mmOsm/L Osmolaridade da solução = 786 + 404 = 1190 mmOsm/L Essa solução só seria adequada em uma nutrição parental por acesso central. TEXTO COMPLEMENTAR NUTRIÇÃO PARENTERAL (NP) Em geral, a NP é indicada a pacientes impossibilitados de utilizar o trato gastrintestinal durante sete a 10 dias, que apresentem perda de peso superior a 10% do usual, incapazes de tolerar a NE ou quando contra-indicado o seu uso e que não apresentem doença terminal. O uso de NP está relacionado com maior número de complicações, inclusive na via de acesso e ao custo elevado. As formulações parenterais não são tão completas quanto as enterais, porém a meta nutricional é atingida com maior facilidade por via parenteral. A administração de NP é contra-indicada em pacientes hemodinamicamente instáveis (choque séptico, cardiogênico, hipovolemia), edema agudo de pulmão, anúricos sem diálise e na presença de distúrbios eletrolíticos e metabólicos graves. Infecção no local do cateter é uma complicação comum que pode levar a sepse, associada a aumento da morbidade, mortalidade e maiores custos. O tratamento da sepse envolve remoção do cateter e antibioticoterapia apropriada. Protocolos de inserção e cuidados com cateteres devem ser implantados para prevenir complicações. A NP deve iniciar com 100 a 150 g de glicose, e baixas concentrações de cloreto de sódio (NaCl), sendo realizada a monitorização estrita de eletrólitos (diariamente nos primeiros 2 a 3 dias) e controle glicêmico (a cada 6 horas até normalizar valores de glicose). A infusão de glicose estimula a secreção de insulina adicional e tem um efeito antilipolítico. A hiperglicemia limita a quantidade ofertada de glicose e o grau da hiperglicemia induzida pela NPT é diretamente proporcional à dose de glicose infundida e ao grau de lesão. Muitos pacientes necessitam utilizar insulina regular junto à administração de NPT, como componente da fórmula ou com administração subcutânea suplementar. Uma maneira de prevenir a hiperalimentação é pela análise do quociente respiratório (QR). Valores maiores que 1 geralmente indicam hiperalimentação. Valores entre 0,8 e 1 indicam produção elevada de gás carbônico. Os lipídios são administrados na forma de emulsão. Inicialmente as emulsões lipídicas eram unicamente à base de soja, contendo somente ácidos graxos de cadeia longa (AGCL). Estudos demonstraram que as emulsões lipídicas à base de soja, ricas em ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) n-6 afetavam negativamente os sistemas imunes, relacionando o excesso de n-6 e a baixa quantidade de n-3 em maior risco de peroxidação, com alteração na função de neutrófi los, linfócitos, monócitos e macrófagos. A descoberta destas alterações estimulou o desenvolvimento de novas composições comerciais, com diferentes tipos de ácidos graxos. Os triglicerídeos de cadeia média (TCM) apresentam hidrólise mais fácil e rápida que os triglicerídeos de cadeia longa (TCL), sendo produzidas emulsões comerciais com mistura TCL/TCM (soja e coco, respectivamente) na relação 50:50. Contudo, esta mistura também afeta a função dos neutrófi los. Recentemente foram desenvolvidas emulsões à base de óleo de oliva e soja, com baixa concentração de poliinsaturados (PUFA) e ricos em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), que apresentam menos efeitos inibitórios do sistema imune, com boa tolerância e preservação da função hepática. Emulsões contendo óleo de peixe aumentam a incorporação de n-3 nas membranas celulares, e não prejudicam a coagulação e a função plaquetária. Estas emulsões parecem preservar a função imune e prevenir alguns aspectos da resposta infl amatória, com redução do tempo de internação no hospital e na UTI. Os aminoácidos são incluídos na NPT como fonte de nitrogênio para a síntese protéica. A dose de proteína deve ser ajustada com monitorização periódica, mas não deve ser excessiva pelo risco de azotemia. A administração de aminoácidos essenciais (AAE) para pacientes com insuficiência renal e aminoácidos de cadeia ramificada (AACR) em pacientes com insuficiência hepática não tem demonstrado efeito positivo quando comparados ao uso de solução-padrão. A vitamina K não faz parte das multivitaminas presentes na solução de NP, devido a alterações que podem causar em pacientes recebendo anticoagulantes. Portanto, pacientes em usode NPT que não fazem terapia anticoagulante devem receber vitamina K suplementar. As necessidades de sódio e potássio são muito variáveis, sendo adicionados à NP de acordo com as necessidades individuais. O conteúdo de cloreto e acetato deve ser ajustado para manter o balanço ácido-base, geralmente com quantidades iguais, mas podem exigir ajustes individuais. As quantidades de magnésio, cálcio e fósforo devem ser baseados nas necessidades, sendo suplementados quando necessário. Ferro não é adicionado à solução de NPT, devendo ser administrado por via venosa. CONTROLE GLICÊMICO A hiperglicemia é uma reação natural do organismo ao estresse metabólico, devido às alterações hormonais. Além disso, os cuidados ao paciente crítico aumentam a resposta hiperglicêmica, com o uso de corticosteróides, agentes adrenérgicos e suporte nutricional rico em glicose. Apesar de ser uma resposta normal do organismo, a redução dos níveis de glicemia melhora a evolução e diminuem o risco de complicações, especialmente infecciosas. Van den Bergue e col. em estudo prospectivo aleatório em UTI cirúrgica avaliou o controle glicêmico estrito através de protocolo de infusão contínua de insulina para manter níveis de glicose abaixo de 110 mg/dL, e observaram redução da morbidade e mortalidade, associados a redução da bacteremia, necessidade de diálise, transfusão, ventilação mecânica prolongada e polineuropatia. Em recente estudo prospectivo aleatório, Van den Berg e col. analisaram o uso de protocolo de terapia insulínica intensiva em UTI médica. O resultado demonstrou redução da morbidade, mas não da mortalidade. O risco de morte e doença foi reduzido em pacientes tratados por mais de três dias, contudo, estes pacientes não podem ser identificados no momento da admissão. A redução da morbidade resultou de prevenção de doença renal, desmame mais rápido da VM e menor tempo de UTI e internação. A terapia insulínica tem demonstrado ser promissora para uso de rotina em UTI. Mais estudos são necessários para definir faixas ideais de glicemia em diferentes situações clínicas.