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REBECA KRUSE 8° MA Doença reumática EPIDEMIOLOGIA: Principal causa de cirurgia cardíaca em crianças Doença que tem prevenção Alto impacto no sistema de saúde Mais de 1/3 das cirurgias cardíacas em adultos Causa mais frequente de AVC embólico em adultos < 40 anos Apenas 5% apresenta fase aguda sintomática → tanta sequela da doença Apenas 5% dos indivíduos com DR aguda necessitam de internação A maior parte das sequelas cardíacas reumáticas graves são diagnosticadas na fase final da doença (sinais e sintomas de IC decorrente da valvulopatia) Longo período assintomático FISIOPATOLOGIA: Indivíduos predispostos → estreptococo beta- hemolítico grupo A → resposta imune do hospedeiro → faringoamidalite/ resposta th1 (cardite assintomática – ausência de diagnóstico – ausência de profilaxia – novos surtos assintomáticos – sequelas cardíacas sem história da doença aguda) / resposta th2 (artrite e coreia – sintomáticas – diagnóstico de doença reumática – profilaxia – menos sequelas) *Pode se ter as duas formas de respostas, mas predomina uma delas *Surtos → pequenas lesões no músculo cardíaco → espessamento → verrugas → calcificações → dano estrutural severo É uma doença autoimune desencadeada pelo contato de indivíduos predispostos (3% da população) ao estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Existem antígenos de histocompatibilidade que são característicos de pessoas que tem doença reumática. Os anticorpos gerados pelo contato com o antígeno acabam tendo o coração como alvo, o antígeno mais potente do Estreptococo beta-hemolítico do grupo A capaz de gerar uma reação imune é a proteína M da parede celular do Estreptococo (antifagocitose e imunotoxicidade) É contra esta proteína que a maioria das reações imunes são desencadeadas, existe a resposta Th1/celular e Th2/humoral DIAGNÓSTICO: CRITÉRIOS DE JONES: pouca sensibilidade, úteis para fase aguda Critérios maiores: cardite, artrite, coreia, eritema marginatum, nódulos subcutâneos Critérios menores: artralgia, febre, aumento do PR (BAV 1° grau), alterações laboratoriais – aumento de provas de atividade reumática, história de surto de FR prévio *Evidências de estreptococcia anterior – aumento de ASLO, escarlatina recente (não é obrigatório) – quando presente fortalece o diagnóstico, quando ausente não exclui! Fase aguda sintomática: 2 a 4 sem após estreptococcia Critérios de Jones: 2 maiores ou 1 maior e 2 menores Evidência estreptococcia anterior ou não Exames específicos ou patognomônicos: não existe (diagnóstico é clínico) Nódulos de Archoff são patognomônicos da FR, porém é preciso de histopatológico (biópsia) A biopsia miocárdica NÃO é indicada para todo paciente com suspeita de doença reumática aguda, só se vai ter esse achado nos casos em que for indicada a cirurgia (se for tirada a válvula nativa para colocar outra no lugar, esta é levada para biopsia, onde pode se confirmar os nódulos) CRITÉRIOS DA OMS (2004) PARA PRIMEIRO SURTO, RECORRÊNCIA E DA CARDIOPATIA REUMÁTICA CRÔNICA: REBECA KRUSE 8° MA CARDITE: Acometimento do coração como um todo (pancardite) Pancardite: 3 folhetos do coração (pericárdio, miocárdio e endocárdio) são acometidos Pericardite, miocardite e endocardite Pericárdico é o mais acometido: tem mais sintomas Início: 2 a 4 semanas após o contato com Estreptococos. Duração: 4 até 12 semanas em quadros mais graves PERICARDITE REUMÁTICA: Dor torácica: dor diminui/desaparece coma a mudança de decúbito – prece maometana (sentado e curva o tronco para frente) – descola o coração do pericárdio posterior aliviando a dor × Principal sintoma × Cuidado com atrito pericárdico: pode simular um sopro e a ausculta pode mudar × *Sopro: toda a sístole escuta o sopro Não tem derrame pericárdico geralmente (se houver será pequeno e não irá gerar repercussões → tamponamento cardíaco) Entre os surtos o coração inflama ↔ cicatriza → altera a estrutura do coração → fibrosa → pode ter calcificação → não é suficiente para gerar pericardite constrictiva Histopatológico: “pericardite em pão com manteiga” ou “pericardite fibrosa” (áreas amareladas: deposição de fibrina) MIOCARDITE REUMÁTICA: Taquicardia: principal manifestação – pela inflamação do coração deteriora a força de contração Não altera os marcadores de necrose miocárdica (lesões virais os marcadores estão presentes) – pois não há morte das células miocárdicas Sinais de IC, congestão pulmonar e sistêmica: dispneia, acúmulo de líquido no interstício pulmonar e espaço pleural, edema de MMII, ascite Nódulos de Archoff: patognomônicos – achado histopatológico (granulomas frouxos com necrose fibrinóide do núcleo; grande infiltrado de linfócitos e células epitelióides ao redor do granuloma) FORMAS CLÍNICAS DA CARDITE: → Aguda clássica → Assintomática crônica do adulto → Forma de rápida evolução da criança AGUDA CLÁSSICA: Taquicardia: pelo acometimento miocárdico Aparecimento de sopros novos (regurgitação mitral e aórtica), como o sopro de Carey Coombs (protomesodiastólico mitral), que é característico de valvulite (inflamação do tecido valvar) Aumento da área cardíaca no raio X de tórax: por conta da inflamação → sinais de IC → dilatação → dispneia de esforço/repouso ECG: BAV 1º grau (é um dos critérios menores de Jones, além de ser sinal de inflamação miocárdica) ECO: Dilatação das câmaras cardíacas Função (sistólica) miocárdica no limite inferior ou até mesmo reduzida (é possível estimar a força de contração do miocárdio no ecocardiograma) Derrame pericárdico, geralmente pequeno Espessamento pericárdico (decorrente da inflamação) Verrucosidades reumáticas em borda livre das valvas. O achado destas verrugas no ecocardiograma é muito característico da forma aguda clássica Provas de atividade inflamatória: alfa 1 glicoproteína ácida, fração alfa 2 da eletroforese de proteínas, PCR e VSH elevadas ASSINTOMÁTICA CRÔNICA DO ADULTO: Dispneia a esforços: decorrente de lesões crônicas valvares, por conta de processos sucessivos de inflamação e cicatrização (ocorrem por conta das sequelas) Ausência de sinais clínicos ou laboratoriais de atividade inflamatória: provas de atividade inflamatória em geral são normais Interna para compensar: não precisa de corticoide FORMA DE RÁPIDA EVOLUÇÃO DA CRIANÇA: Sintomas de IC decorrentes de sequelas valvares (esta criança teve surtos muito agressivos da doença) REBECA KRUSE 8° MA Ausência de atividade inflamatória Não tem sintomas inflamatórios e as provas laboratoriais de inflamação são ausentes Indicação: cirurgia TRATAMENTO CARDITE: Corticoide: 60-80 mg durante 6 semanas (adulto). Depois de completadas as 6 semanas de tratamento vai se fazer a redução de 10-20% da dose por semana (desmame lento), até a retirada total Repouso Restrição hidrossalina: restringir sal e água – pois aumenta o volume circulante → mais trabalho para o coração → insuficiência (por conta da miocardite) Medicamentos para IC: Digitálicos: drogas inotrópicas positivas que aumentam a força de contração (na IC se tem um inotropismo negativo, ou seja, diminuição da força de contração) – não melhora a mortalidade Diuréticos: para evitar congestão pulmonar e sistêmica IECA: evitam o remodelamento ventricular (este remodelamento devido aos diversos surtos de inflamação e cicatrização, vai levar a IC crônica no futuro) Não está indicado caverdilol (beta-bloqueador de quarta geração) - droga inotrópica negativa (o que se acha: pct inflamado já tem redução da função e iria piorar) Cardite refratária a corticoterapia oral: pulsoterapia com corticoide EV (metilprednisolona 1g para adultos). Alta dose de corticoide venoso quando não responder ao corticoide oral. Tempo:3-4 dias Acompanhamento da terapia: Do ponto de vista clínico, o melhor parâmetro para avaliar a resposta ao tratamento é a frequência cardíaca: pois o principal sintoma de uma crise aguda é a taquicardia. Provas de atividade inflamatória: devem estar reduzindo a alfa 1 glicoproteína ácida e a fração alfa 2 da eletroforese de proteínas (VSH não se utiliza pois pode ficar meses elevado, PCR normaliza antes do pct melhorar) ARTRITE: Característica: poliartrite migratória de grandes articulações (tornozelo, joelho, punho, cotovelo). Ex.: artrite no joelho esquerdo → melhora → surge no tornozelo direito → melhora → surge em outra articulação Mais frequente atual: poliartrite aditiva e assimétrica - antes mesmo de melhorar em uma articulação a artrite já acomete outra. Atualmente existe uma dissociação entre dor, limitação de movimentos e inflamação. Ex.: paciente refere que sente tanta dor na articulação do tornozelo que não consegue nem andar, o que se esperaria era encontrar muito edema, rubor, calor; e vai ser encontrado pouco ou nenhum sinal de inflamação. Inicio: 2 a 4 semanas após a estreptococcia Duração: 4 a 6 semanas Artrite da doença reumática do adulto: artrite que se estende por mais de 6 semanas até 6 meses Tratamento: Anti-inflamatório (AINE) – naproxeno 500mg de 2-3x/dia (ou qualquer outro) ou AAS 4 a 6g/dia (dose alta) *AAS: intolerância gástrica COREIA: INICIO: 4 a 8 semanas após a estreptococcia Mais frequente no sexo feminino na fase pré-púbere, na frequência de 3:1 TRÍADE: Movimentos involuntários: amplos e involuntárias Hipotonia: no início se manifesta através da dificuldade de pegar objetos ou dificuldade de preensão; posteriormente pode ter dificuldade de falar/deglutir – língua fasciculando/espasmos (língua em saco de vermes) – hipotonia da língua Labilidade emocional: o indivíduo começa a ter noção de que não consegue controlar os movimentos do próprio corpo, o que gera um quadro de ansiedade e angústia. O estresse piora os movimentos involuntários e os movimentos aumentam o estresse. Além disso, há o acometimento do núcleo caudado em decorrência do estrepto REBECA KRUSE 8° MA Pode deixar sequelas neurológicas, as mais relatadas são: distúrbio obsessivo compulsivo, tiques e síndrome de Tourette (TIC) Coreia Gravidarum ou Coreia Gravídica: existem relatos de que mulheres que tiveram coreia quando criança, ao fazer uso de contraceptivo oral ou engravidar possam desencadear novamente os sintomas neurológicos TRATAMENTO: a nível de neurotransmissor ocorre uma liberação dopaminérgica com uma inibição GABAérgica Haloperidol 1 a 3 mg VO/dia (antagonista dopaminérgico) Valproato de sódio (agonista GABAérgico) MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS: ERITEMA MARGINATUM: As lesões possuem alo eritematoso com centro claro Não são lesões pruriginosas nem descamativas Aparecem no tronco e na raiz dos braços São evanescentes, ou seja, aparecem e vão embora em questões de minutos ou horas Estas lesões passam despercebidas → pouco úteis para o diagnóstico NÓDULOS SUBCUTÂNEOS: Desencadeados pela resposta Th1 (então provavelmente tem cardite) Em geral são móveis e indolores; locais: nuca, coluna Se aderem a superfícies extensores dos tendões e/ou outros lugares PROFILAXIA PRIMÁRIA: BENZILPENICILINA G BENZATINA 600.000 UI até 25kg e 1.200.000 UI > 25kg em dose única intramuscular. Uma alternativa ao tratamento IM (por ser doloroso) é a Amoxicilina 500mg 3x/dia durante 10 dias, não é tão eficaz quanto a benzilpenicilina. EA: desconforto gástrico A profilaxia primaria deve ser realizada em todo paciente com suspeita de amidalite estreptocócica não necessitando de confirmação diagnóstica (risco x ↑benefício) Os regimes terapêuticos por VO devem ser reservados aos pacientes com alergia a penicilina, alérgicos a penicilina: clindamicina / azitromicina / claritromicina. Apesar de existirem alternativas, o que se tenta hoje é fazer uma dessensibilização do indivíduo para que se possa fazer uso da penicilina. PROFILAXIA SECUNDÁRIA: BENZILPENICILINA G BENZATINA IM, 600.000 UI até 25kg e 1.200.000 UI > 25kg a cada 15 dias nos dois primeiros anos do surto, e a cada 21 dias nos anos subsequentes. A profilaxia secundaria deve ser realizada em todos aqueles pacientes com diagnostico de doença reumática. Alérgicos: sulfadiazina 50mg 2x/dia ou eritromicina 250mg 2x/dia Duração da profilaxia secundária, existe muita divergência entre as fontes, a sociedade brasileira de cardiologia recomenda: Sem cardite: até 18 anos de idade ou por 5 anos após o último surto. Cardite sem sequelas valvares ou com sequelas leves: até 25 anos de idade ou por 10 anos após o último surto. Cardite com sequelas graves: até 40 anos de idade ou por toda a vida.
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