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Victoria K. L. Cardoso Coma e rebaixamento da consciência Introdução Coma: ausência de respostas do paciente, sem que ele possa ser despertado, por conta de desordens que acometem o sistema de ativação reticular no tronco cerebral ou por desordens que afetam ambos os hemisférios cerebrais. ● Causas: estruturais ou não estruturais - ex: distúrbios tóxicos ou metabólicos - a lesão pode ser focal ou difusa. ○ Início súbito: ■ Fator de risco para doenças cardiovasculares. ■ HAS. ■ DM. ■ Tabagismo. ■ Dislipidemia. ○ Com febre: ■ Causa infecciosa. ■ Pode ser hemorrágico e infeccioso, geralmente menos súbito. ○ Gradativo: ■ Pode ser mais ainda metabólito. Obs: qualquer condição que aumente a pressão intracraniana pode reduzir a pressão de perfusão cerebral, resultando em isquemia cerebral secundária. Então, como a isquemia cerebral secundária pode afetar o SAR ou ambos os hemisférios cerebrais, há alteração da consciência Consciência prejudicada: é causada por distúrbios semelhantes, porém menos graves - não são consideradas coma. Etiologias Principalmente: doenças estruturais, que tipicamente causam lesões focais, ou doenças não estruturais, que com mais frequência causam lesões difusas. ● Distúrbios estruturais: são lesões que comprimem, deslocam ou destroem o SRAA - lesão supratentorial unilateral, lesão supratentorial bilateral e infratorial. ○ Abscesso encefálico. ○ Tumor cerebral. ○ Traumatismo craniano (concussão, lacerações e contusões cerebrais, hematoma epidural ou subdural) ○ Hidrocefalia (aguda). ○ Hemorragia intraparenquimatosa. ○ Hemorragia subaracnoidea. Victoria K. L. Cardoso ○ Infarto ou hemorragia do córtex ou da parte superior do tronco encefálico. ● Distúrbios não estruturais: ○ Crises epilépticas (estado epiléptico não convulsivo) ou estado pós-crise, causada por um foco epileptogênico. ● Distúrbios metabólicos hipóxicos ou isquêmicos e endócrinos: ○ Cetoacidose diabética. ○ Encefalopatia hepática. ○ Hipercalcemia. ○ Hipercapnia. ○ Hiperglicemia. ○ Hipernatremia. ○ Hipocalcemia (raramente). ○ Hipoglicemia. ○ Hiponatremia. ○ Hipóxia/isquemia. ○ Hipotireoidismo. ○ Insuficiência respiratória ou insuficiência cardíaca. ○ Uremia. ○ Encefalopatia de Wernicke. ● Infecções: ○ Encefalite. ○ Malária. ○ Meningite. ○ Sepse. Pesquisa: anamnese detalhada + exame físico cuidadoso (incluindo exame neurológico básico) + exames complementares. Obs: a idade avançada aumenta o risco de comprometimento da consciência Obs: as causas mais frequentes são reversíveis, mas podem se tornar irreversíveis, caso não sejam reconhecidas e tratadas de forma ágil e correta. Avaliação neurológica e clínica Exame neurológico: 1. Verificar a consciência do paciente. ● Resposta verbal: ○ Sem resposta = 1. ○ Sons incompreensíveis = 2. ○ Palavras inapropriadas = 3. ○ Confusão = 4. ○ Orientado = 5. 2. Verificar o padrão respiratório. ● Disfunção autonômica: Victoria K. L. Cardoso ○ Padrões respiratórios anormais (respiração de Cheyne-Stokes ou Biot), às vezes com hipertensão e bradicardia (reflexo de Cushing). ○ Pode ocorrer parada cardiorespiratória. 3. Realizar exame dos olhos - pupila e motricidade ocular. ● Abertura ocular: ○ Sem resposta = 1. ○ Com estímulo doloroso = 2. ○ Com estímulo verbal = 3. ○ Espontâneo = 4. ● Anormalidades oculares. ○ As pupilas podem estar dilatadas, puntiformes ou desiguais. ○ Uma ou ambas as pupilas podem estar fixas na posição média. 4. Verificar resposta motora e de reflexos. ● Resposta motora: ○ Sem resposta = 1. ○ Resposta extensora = 2. ○ Resposta flexora (decorticação) = 3. ○ Retirada com estímulo doloroso = 4. ○ Localiza o estímulo doloroso = 5. ○ Obedece comandos = 6. ● Disfunção motora: ○ Flacidez. ○ Hemiparesia. ○ Postura decorticada (flexão do cotovelo e adução do ombro, com extensão do membro inferior). ○ Postura descerebrada (extensão dos membros e rotação interna do ombro). Outros sintomas: caso haja comprometimento de tronco encefálico, podem ocorrer náuseas, vômito, meningismo, cefaleia occipital, ataxia e aumento de sonolência. Escala de coma de Glasgow: ● Classificação: ○ Grave: < 8. ○ Moderado: entre 9-12. ○ Leve; > 12. Victoria K. L. Cardoso Avaliação laboratorial É importante verificar alguns sinais com mais rapidez, para excluir causas mais graves e, caso essas causas sejam as respostas, iniciar o tratamento mais rapidamente. De imediato: ● Oximetria de pulso. ● Teste de ponta do dedo para glicose - glicemia capilar (dextro). ● Monitoramento cardíaco. Exames de sangue: ● Painel metabólico mais completo, com pelo menos eletrólitos séricos, creatinina e concentrações de cálcio. ● Hemograma completo, com contagem diferencial de leucócitos e plaquetas, testes hepáticos e concentração de amônia. ● Gasometria arterial. ● Medir o nível de álcool no sangue (em indício de abuso). ● Sangue e urina, para coloração de Gram, cultura e triagem toxicológica. Tratamento 1. Se não houver causa imediata para reversão do coma, como hipoglicemia, deve-se estabilizar o paciente, primeiro com intubação orotraqueal. ● As vias respiratórias, respiração e circulação devem ser garantidas imediatamente. ● Sequência rápida de intubação: ○ Preparação. ○ Pré-oxigenação. ○ Posicionamento com coxins. ○ Indução. ○ Passagem e posicionamento do tubo. ● Pós-intubação: ○ Escolha das drogas: hipnóticos, analgésicos e relaxantes musculares. Victoria K. L. Cardoso 2. No caso de hipotensão, deve-se fazer correção imediata. ● Se houver hipertensão, deve-se reduzir a pressão arterial cuidadosamente, pois reduzir a pressão arterial abaixo do nível usual do paciente pode causar isquemia cerebral. 3. Oxigenoterapia e acesso venoso com soro fisiológico. 4. Medidas de suporte, incluindo, quando necessário, o controle da pressão intracraniana. 5. Realizar uma tomografia o mais precocemente possível, para orientar o tratamento. 6. Pacientes com consciência prejudicada, que não respondem aos tratamentos iniciais e sem causa aparente, devem ser internados na UTI, para melhor monitorar o estado respiratório e neurológico. Obs: alguns pacientes em coma estão desnutridos e suscetíveis à encefalopatia de Wernicke, por deficiência de tiamina (ex de pacientes: pós cirurgia bariátrica, portadores de doenças gástricas, pacientes com vômitos incoercíveis e pessoas com transtornos alimentares). Assim, deve-se administrar, como rotina, tiamina 100 mg IV ou IM. ● Encefalopatia de Wernicke: distúrbio cerebral que provoca confusão, problemas nos olhos e perda de equilíbrio, por deficiência de tiamina. Obs: caso o nível de glicose esteja baixo, deve-se administrar 50 mL de glicose a 50% IV, mas APENAS DEPOIS DA ADMINISTRAÇÃO DE TIAMINA. Após estabilização do paciente e avaliação neurológica básica, deve-se investigar a possibilidade de lesão difusa ou multifocal do SNC e a presença de encefalopatia focais.
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