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UM ENSAIO SOBRE O CULTO AO CORPO NA CONTEMPORANEIDADE

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UM ENSAIO SOBRE O CULTO AO CORPO NA CONTEMPORANEIDADE
Laura Missau Schmidt
Letícia Alves Oliveira
RESUMO: Com este ensaio pretende-se refletir sobre a importância que a corporeidade tem na atualidade. Contemporaneamente, as questões da imagem corporal, ou não, do indivíduo em todas as esferas (cultural, social, política e econômica) da sua interação social, seja nas relações pessoais ou no trabalho. O corpo pode se tornar inclusive fator de grande discriminação e exclusão social, caso o indivíduo esteja fora dos padrões e limites estabelecidos e impostos pela sociedade. Visto pelos meios de comunicação como algo que pode ser facilmente manipulado e também modificado, o corpo vem se tornando objeto de desejo e de grandes investimentos, como um produto. Em cada época se estabelece um modelo de corpo "máquina-perfeita" para o ser humano, levando-se em consideração os valores, as crenças, os mitos, a exigências e os interesses sociais e culturais de cada povo. Discorreremos sobre as ações corpóreas na sociedade contemporânea e seus efeitos num contexto cultural sobre a população, pois, vemos que desperta vários questionamentos para a antropologia e a sociologia.
Palavras Chaves: Corpo. Contemporaneidade. Indivíduo; Cultura
1. INTRODUÇÃO
Na sociedade contemporânea, o indivíduo está sujeito a inúmeras transformações sociais, culturais e corpóreas. A partir disso, podemos dizer que o indivíduo vive, hoje, uma busca incessante em adaptar-se às transformações exigidas pelo ambiente em que está historicamente inserido, porém, por não estar consciente disso, comumente não toma os cuidados necessários para desenvolver uma relação salutar entre os movimentos corporais e seus desdobramentos inerentes nas tarefas e atividades cotidianas. Colocar o corpo em cena não é algo novo, esta temática é frequente em várias publicações, em diferentes áreas do conhecimento, nos últimos anos. 
Histórica e culturalmente marcado por diversos preconceitos, o corpo sempre despertou a curiosidade e admiração humana. Foi tema de múltiplas representações pictóricas e esculturais, desde a Antiguidade Clássica e Romana, assim como na Idade Média. Mais recentemente, a corporeidade enquanto fenómeno social e cultural é objeto de estudo em diversas áreas. Nunca, como atualmente, o aspeto exterior foi tão valorizado.
 Muito se tem dito sobre as possibilidades de expressão do corpo em nossa sociedade contemporânea. Contudo, a noção de corpo suscita, de imediato, um questionamento central: que corpo e que concepção de corpo estamos buscando ao longo de nossa história, tendo em vista que a espécie humana, de alguma forma, muito antes da polis grega, já teria construído algum tipo de conhecimento sobre o corpo. Podemos dizer que o marco referencial da discussão em busca da corporeidade tem sido aquilo que se passou a denominar de conhecimento moderno, ou seja, aquele conhecimento que emergiu a partir da crise do feudalismo com a chamada Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, retomando, por assim dizer, o logos grego por meio de releituras de obras como as de Platão e Aristóteles, o que proporcionou a emergência de uma epistême renascentista que iria fundar novas bases para o conhecimento moderno e, por conseguinte, uma grande transformação nos diferentes aspectos do fazer humano.[footnoteRef:1] [1: A Revolução Científica teve início com Nicolau Copérnico e, posteriormente, com Galileu Galilei ao fazer oposição à concepção geocêntrica de Ptolomeu e da Bíblia; Copérnico apresentou sua concepção heliocêntrica em 1543. Após suas descobertas a terra deixa de ser o centro do universo, tornando-se mais um entre tantos planetas que formavam o Universo (CAPRA, 1982).] 
 Assim, este ensaio vai primeiramente mostrar uma breve explanação sobre a concepção de corpo, isto é, que tipo de corpo foi sendo construído ao longo de nossa história, e como esta noção de corpo, baseada no racionalismo contemporâneo, influenciou a nossa sociedade. E, por fim, no segundo momento, buscamos refletir sobre os significados que emergem da noção de corpo e as questões advindas da imagem corporal e da busca incessante pelo corpo perfeito.
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
 Atualmente o corpo está em evidência. A pós-modernidade sugere tipos de corpos que sejam aceitos pela sociedade e não se admite nenhuma imperfeição, não pode ser gordo, feio, velho, ou seja, há um padrão imposto e pré-estabelecido. A problemática em questão é que a maioria das pessoas não se ajusta ao modelo globalizado que está em moda e que é fortemente divulgado pela mídia. Para compreender o corpo humano da contemporaneidade foi necessário estudar as concepções de corpo ao longo da história, desde a Pré-História até a Modernidade. Pesquisar a evolução do conceito de corpo sob a ótica histórica e filosófica revelou de modo concreto as marcas em seu modo de ser/estar em diferentes momentos que a sociedade viveu e vive.
Nos primórdios dos tempos o homem foi uno em sua existência concreta, porque a sua experiência no mundo era enfrentamento vivo. O primitivo estava unido consigo mesmo, com seu povo, com a terra, com a natureza, com o cosmo. O sensível e o inteligível estavam conectados numa concepção de humano uno e inteiro. O primitivo não distinguia o pensamento do corpo, da natureza ou da terra (GUSDORF,1980; GONÇALVES, 1994).
No entanto em que pese na Antiguidade, tem-se a mais antiga e difusa concepção de corpo. Platão em "Fédon, 82 d" afirma: "que o corpo constituía para a alma uma espécie de prisão" (PLATÃO, 1979, p. 88). Este filósofo dividiu a realidade humana em duas partes, sendo estas o mundo inteligível (alma superior) e o mundo sensível (corpo inferior). O corpo matéria perturba a alma racional na busca do conhecimento verdadeiro, pois, o corpo por meio dos sentidos reproduz apenas a cópia das ideias. Assim, o corpo útil, cumpre função de instrumento, porque ele serve para a alma habitá-lo. Aristóteles também revelou a noção de corpo com características instrumentais, mas entendeu que no corpo existe o "princípio do movimento" (PEREIRA, 2006).
Observam-se na contemporaneidade as concepções de corpo conectadas à identidade do sujeito. A concepção de corpo não está ligada a uma consciência, ou a um arcabouço de grandes ideários como já foi outrora (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). O corpo corre o risco de se conectar às noções de instrumentalidade a serviço da tecnologia e da ciência, do trabalho, da ordem e do progresso, da saúde, da estética, da moda, entre outros. Vejamos a seguir as várias manifestações em que o corpo se revela.
Os humanos se distinguem entre si devido a sua construção social e cultural. Todo homem é portador de especificidades/identidades e está identificação ocorre via corporeidade. Filetti e Silva (2008) afirmam que o corpo é a representação universal de homem social e constitui-se juntamente com os contextos históricos, políticos e culturais. Então, o 'corpo é produto e produtor de cultura'. Diferente do corpo que é moldado pela cultura dominante, ou instrumento da mesma, tem-se o pressuposto de que os humanos, com seus corpos, podem fazer parte e transformar a realidade. Corpos vivos, corpos práxicos, em tempo e espaço diferenciados, podem experimentar/aceitar possibilidades diferentes, superar preconceitos, gordura, velhice e feiura.
Mas, o que vem a ser corpo? Para Neto (1996, p. 9): "O corpo é a base da percepção e organização da vida humana nos sentidos biológico, antropológico, psicológico e social". Desse modo, todo nosso agir, falar, sentir, andar e pensar representam modos de vida diferentes, de um determinado grupo social.
Hoje, vemos com freqüência que o indivíduo se torna um verdadeiro mutante na busca de um corpo ideal. Comumente, não é capaz de identificar onde realmente pretende chegar tamanho é grau de inconsciência, seguindo cegamente, os padrões estéticos da boa forma que sociedade determina. Goldenberg e Ramos nos falam que:
(...) Uma perspectiva sem negligenciar os condicionamentos sociais, ajuda refletir sobre o atual culto ao corpona cultura brasileira, uma vez que os significados atribuídos pelos indivíduos à aparência e a forma física, no processo de revelação de suas identidades parecem inflacionados especialmente entre as camadas mais sofisticadas dos grandes centros urbanos. (GOLDENBERG; RAMOS, 2002, p. 20).
Nunca se falou tanto do corpo como hoje, novas academias de ginástica, alongamento, musculação abrem todos os dias, com frequência são publicados novos livros voltados ao autoconhecimento do corpo, fazem descobertas sobre novos preconceitos quanto à sexualidade, outras práticas alternativas de saúde; em síntese, vivemos nos últimos anos perante a incontestável nova descoberta do prazer, voltamos a dedicar atenção ao nosso próprio corpo.
    É dentro desse contexto que o corpo passa a ser cultuado. Um culto que exige, em sua maioria, sacrifícios. O corpo passou a ser palco privilegiado da ascensão, da aceitação social. Entretanto, o problema que se impõe é que por trás desta busca incessante pelo belo, pelo estar bem consigo mesmo, há, de acordo com Neto (1996, p. 10), um "narcisismo e um individualismo exacerbados que levam as pessoas a acreditar no elixir da vida, em poções mágicas, na juventude eterna". 
3. CONCLUSÃO
 No horizonte histórico conseguimos perceber o culto exacerbado do corpo e a perseguição de modelos estéticos estabelecidos socialmente. Falamos também de um ideal vinculado pela sociedade que vende a saúde e a beleza como conjunto de curvas perfeitas, pela sedosa, cabelos lisos e, sobretudo, a magreza. O corpo como mensageiro da saúde e da beleza torna-se um imperativo tão poderoso que conduz à ideia de obrigação. Ser feliz e pleno na atualidade corresponde a conquista de medidas perfeitas o corpo ganhou uma posição de valor supremo, seu bem-estar parece ser um grande objetivo de qualquer busca existencial na atualidade.
As representações sociais do corpo e de sua boa forma aparecem como elementos que reforçam a autoestima e dependem em grande parte da força de vontade pois, quem quer pode ter um corpo magro, belo e saudável. A aparência de um corpo bem definido e torneado indicaria saúde, revelando o poder que a exaltação e exibição do corpo assumiram no mundo contemporâneo. A mídia de um modo geral tornou-se, assim, uma importante forma de divulgação e capitalização do que estamos chamando de culto ao corpo.
Portanto, o corpo nosso de cada dia parece ainda estar circunscrito à ideologia da perfeição e ao imperativo da saúde e da beleza, reduzindo-se a espectador e a consumidor voraz dos produtos da cultura de massa.
REFERÊNCIAS
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1982.
FILETTI, E.; SILVA, R.. Corpo e Linguagem: perspectivas discursivas e interdisciplinares. Revista Solta a Voz, Goiânia, v. 19, n. 2, p.175-97, 2008. 
GOLDENBERG, Mirian e SILVA RAMOS, Marcelo. A civilização das formas: O corpo como valor IN GOLDENBERG, Mirian (ET AL) Nu e vertido: Dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro, 2002.
GUSDORF, G. Mito e metafísica. São Paulo: Convívio, 1980.
GUIRALDELLI JUNIOR, P. O corpo: filosofia e educação. São Paulo, SP: Ática, 2007.
NETO, Samuel de Souza. Corpo, cultura e sociedade. In: NETO, Samuel de Souza. Corpo para malhar ou corpo para comunicar? São Paulo: Cidade Nova, 1996, p. 09-37.       
PEREIRA, A. M. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. 2006, 382f. Tese (Doutoramento em Ciências da Motricidade Humana) - Universidade da Beira Interior, Covilhã-Portugal. 
PLATÃO. Vida e obra. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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