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1 Geografia Tipos de mão de obra, desemprego e mercado formal Teoria Trabalho e seus conceitos A palavra trabalho tem sua origem no latim tripálio, que significa, literalmente, "três paus", tri (três) e palus (pau). Era um instrumento romano de tortura, o qual supliciava os escravos. Sem dúvidas, a questão do trabalho atual vai muito além de uma discussão geográfica, sendo uma realidade que todos enfrentam ou terão de enfrentar um dia. É muito difícil, porém, que exista um país onde o número de vagas de emprego atenda à toda população. Além disso, as relações de trabalho se alteraram muito ao longo do tempo, sobretudo a partir do advento da Revolução Industrial. Para entender as relações de trabalho hoje, é importante retomarmos alguns conceitos: ● Trabalho artesanal: feito pelos artesãos, refere-se ao período pré-industrial, no qual o trabalhador desenvolvia suas próprias técnicas de produção e dominava todas as etapas do processo produtivo. ● Mão de obra especializada: quando o trabalhador passa a ser um especialista na execução de uma tarefa. Porém, ele conhece apenas uma parte do processo produtivo. ● Mão de obra alienada: termo muito usado no Fordismo para se referir à fase na qual o trabalhador perde domínio sobre todas as etapas do processo produtivo, a partir da assalariação. Marca a passagem do trabalho artesanal para a manufatura. Chama-se alienada, pois o trabalhador não consegue visualizar o seu trabalho como parte do produto. No Fordismo, a mão de obra era muito fragmentada, de modo que cada trabalhador tinha apenas uma função bem definida. ● Mão de obra qualificada/não qualificada: a qualificação profissional se relaciona com o nível de estudo e técnica embutidos no trabalho. Há maior concorrência para os empregos que não demandam qualificação profissional, devido à dificuldade de acesso à educação de qualidade no Brasil. Setores da economia e o trabalho Pode-se dividir o trabalho, ainda, de acordo com os setores econômicos: ● Setor primário: o setor primário da economia corresponde à extração de matéria-prima, seja por atividades puramente extrativistas, como a mineração, ou também a agricultura e pecuária, que envolvem uma produção. ● Setor secundário: é o setor responsável por transformar a matéria-prima em produto. Corresponde à etapa industrial. 2 Geografia ● Setor terciário: corresponde à venda do produto; é o setor de comércio e serviços que atualmente se concentra no meio urbano. Foi a partir das trocas comerciais que surgiram também as cidades. Atualmente é o setor que mais emprega. O que se pode notar é que as transformações tecnológicas não alteram somente as indústrias e os meios de produção, mas também o próprio espaço geográfico e as relações humanas, sejam em âmbito estrutural, econômico, social ou cultural. No Fordismo, modelo produtivo da Segunda Revolução Industrial, não se tinha muitas das formas de trabalho que existem atualmente. A mudança do trabalho, do Fordismo para o Toyotismo FORDISMO TOYOTISMO Não demandava qualificação profissional para contratação Passou a exigir uma mão de obra mais qualificada Trabalho fragmentado, onde cada trabalhador tinha uma única função específica Trabalhador responsável por diversas tarefas O operário modelo era aquele que obedecia às diretrizes dos superiores, se preocupando apenas com as tarefas imediatas O melhor operário é aquele que identifica problemas e propõe soluções, se preocupando também com a aplicação do produto após vendido. Contratava em massa Frequentemente há redução de postos de trabalho, uma vez que o trabalhador é substituído por máquinas Regime de trabalho rígido Regime de trabalho flexível, contando com subcontratação e trabalho à distância Estrutura de trabalho clássica do Fordismo. Fonte: https://escolaeducacao.com.br/henry-ford/Fordismo-3/ 3 Geografia Alteração na organização produtiva. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/596867756839232324/?lp=true A flexibilização nas formas de contratação Sabe-se que, com o desenvolvimento tecnológico, há novas formas de desenvolver produtos personalizados, de acordo com o gosto de cada cliente. A segurança da informação, ou segurança dos dados virtuais, se tornou uma questão urgente. Muitos dados com informações pessoais dos clientes circulam na rede e podem ser usados para prever nossas vontades, de modo que as empresas trabalham no desenvolvimento de mecanismos de venda até então não conhecidos. Além disso, com a globalização econômica, as empresas têm mais liberdade para atuar de acordo com a demanda do mercado, criando novos setores de atuação. Nesse sentido, vamos ver outras e novas formas de contratação atuais. ● Terceirização trabalhista: terceirizar é passar a terceiros uma parte do trabalho necessário a um empreendimento. Por exemplo, numa escola, é comum que os trabalhadores da segurança e da limpeza sejam partes de uma empresa de fora, que presta esse serviço de maneira terceirizada. Dessa forma, empresas se organizam para captar essa mão de obra, no geral não qualificada, e distribuir os terceirizados nos diversos setores que demandam por isso. Além do mais, são empresas que tomam conta de um setor essencial, mas que encara muita precariedade no Brasil. Dessa forma, com a alta procura, baixa qualificação e remuneração, a rotatividade tende a ser maior nessas empresas, e as condições de trabalho, instáveis. ● Trabalhador 0h (zero hora): o trabalho 0h é uma forma de contratação que distribui tarefas de acordo com a demanda. Em algumas semanas, o trabalhador receberá da empresa uma quantidade de tarefas e ganhará o equivalente às horas trabalhadas. Em outras semanas, não haverá demanda nem salário. https://br.pinterest.com/pin/596867756839232324/?lp=true 4 Geografia ● Home office: os trabalhadores são contratados, mas trabalham de suas casas, o que economiza para o dono da empresa todo um gasto de infraestrutura, e pode dar maior autonomia ao trabalhador. ● Subcontratações ou “trabalhador parceiro”: são empregos por aplicativo, que difundem, por meio de um discurso eufêmico de empreendedorismo e autonomia, o cenário do desemprego e da precarização trabalhistas, com baixíssimos ganhos e ausência de direitos trabalhistas e sociais. É a chamada uberização das relações de trabalho. Sabemos que o Uber tem sido uma empresa que dá autonomia para o trabalhador escolher sua carga horária e sua jornada de trabalho, sendo ele responsável também pela obtenção e manutenção do seu instrumento de trabalho, o carro. Além disso, esse fato cria um distanciamento entre empresa e trabalhador, de modo que questões como segurança do trabalho se tornam precárias. Também não há direitos trabalhistas básicos, como férias e contribuição previdenciária. Com o crescente número de desalentados – pessoas que desistem de procurar emprego – no Brasil, devido à recessão econômica, ou estagnação do crescimento, que enfrentamos desde 2013, muitas pessoas precisam recorrer a esses empregos para obter renda. O que foi criado para fazer parte de uma renda extra, uma complementação, acaba se tornando o trabalho oficial. Além disso, estamos falando de um serviço que surge suprindo partes vitais do funcionamento urbano, como a questão da mobilidade e transporte. Fonte: https://www.cartacapital.com.br/economia/proletariado-digital-apps-promovem-trabalhos-precarios-a-brasileiros/ Os tipos de desemprego A automatização de processos produtivos é uma grande causa para o desemprego crescente, somando-se à dificuldade de acesso à educação de qualidade no Brasil. A geração de empregos fica a cargo também do Governo Federal, que deve sempre estimular a criação de indústrias que contratem mão de obra, além de dar incentivo a microempresas, que atualmente empregam mais da metadedos trabalhadores do setor privado. Sobre a situação do desemprego nos países, existem duas classificações diferentes: ● Desemprego conjuntural: aquele que ocorre devido às crises econômicas e são recuperados com o crescimento econômico, ou seja, de acordo com a conjuntura. ● Desemprego estrutural: aquele gerado pela introdução de novas tecnologias, lógicas e processos produtivos. Ele passa a fazer parte da estrutura organizacional da sociedade produtiva e não é recuperado. https://www.cartacapital.com.br/economia/proletariado-digital-apps-promovem-trabalhos-precarios-a-brasileiros/ 5 Geografia Exercícios 1. (Fatec 2019) Leia os textos. - Francisco tem pouca esperança no futuro. Depois de cinco anos em busca de trabalho e após três entrevistas de emprego, todas infrutíferas, decidiu parar de procurar. Passou assim a fazer parte de um contingente cada vez maior de brasileiros: os desalentados. - Um indicador fundamental para observar o nível da confiança do trabalhador no mercado de trabalho é a taxa de desalento. - O Brasil iniciou o terceiro trimestre com queda na taxa de desemprego pela quarta vez seguida, mas registrou número recorde de desalentados diante das incertezas atuais em tomo da economia, segundo dados divulgados no dia 30 de agosto de 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego atingiu 12,3% no terceiro trimestre de 2018, depois de ter ficado em 12,4% no trimestre anterior, na quarta queda seguida, de acordo com o IBGE. "O desemprego vem caindo no Brasil por conta do desalento, principalmente neste ano de 2018", afirmou o coordenador do IBGE, Cimar Azeredo. O IBGE estimou em 4,8 milhões o número de pessoas desalentadas no trimestre maio - julho. Acesso em: 03.10.2018. Adaptado. De acordo com os textos, o cidadão desalentado é aquele que a) conquista um emprego formal, mas sofre com a desigualdade de gênero, em que mulheres ganham menos e ocupam a maioria dos empregos vulneráveis. b) precisa de trabalho e trabalharia se houvesse possibilidade, entretanto, desiste de procurar emprego porque sabe que não encontrará um posto de trabalho. c) troca voluntariamente o trabalho formal pelo trabalho terceirizado, abandona a carteira de trabalho e opta pela previdência social estatal. d) consegue emprego formal com rendimento equivalente a dois terços do salário-mínimo vigente. e) possui um emprego com carteira assinada, mas está desprotegido das leis trabalhistas. 2. (Enem) O governo de Singapura, que vem enfrentando reclamações de residentes que precisam competir com estrangeiros por emprego, endureceu as regras para que empresas contratem funcionários de outros países para posições de nível médio. A partir de janeiro de 2012, um estrangeiro precisa ganhar 3 000 dólares cingapurianos (2 493 dólares americanos) ou mais por mês antes de se qualificar para um visto de trabalho que lhe permitirá trabalhar em Singapura. Singapura endurece regras para contratação de estrangeiros. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 17 ago. 2011 (adaptado). As medidas adotadas pelo governo de Singapura objetivam favorecer a a) inserção da mão de obra local no mercado de trabalho. b) participação de população imigrante no setor terciário. c) ação das empresas estatais na economia nacional. d) expansão dos trabalhadores estrangeiros no setor primário. e) captação de recursos financeiros internacionais. 6 Geografia 3. A divisão da população economicamente ativa por setores de atividades, ainda que imprecisa, é um dos indicadores das relações de produção e de trabalho em cada país. O processo retratado no gráfico e uma explicação adequada para sua ocorrência, no momento histórico considerado, estão contidos na seguinte alternativa: a) Terciarização da economia - reorganização do modelo industrial no mundo. b) Precarização do emprego - aumento da estratégia de subcontratação de empresas. c) Diminuição da riqueza - carência de profissionais para setores essenciais da economia. d) Especialização da mão-de-obra - elevação do nível médio de qualificação dos trabalhadores. 4. A desregulamentação, que aumenta no mercado de trabalho brasileiro, faz crescer um fenômeno econômico que vem sendo bastante estudado pela Geografia Humana e Econômica. Com esse fenômeno, proliferam as pequenas empresas sem funcionários com vínculo empregatício que prestam serviços. De 2002 a 2008, esse fenômeno cresceu aproximadamente 22% nas regiões metropolitanas do país. A que fenômeno estamos nos referindo? a) Desqualificação Profissional b) Crescimento do Setor Binário c) Expansão da Terceirização d) Desregulamentação Terciária da População Inativa e) Globalização do Setor Secundário 7 Geografia 5. O capitalismo financeirizado e globalizado, particularmente nas últimas quatro décadas, vem apresentando um movimento tendencial em que informalidade e precarização tornaram-se mecanismos recorrentes. E a terceirização irrestrita do trabalho vem se consolidando como uma ferramenta que elimina a distinção entre atividades-meio e atividades-fim. (Adaptado de Ricardo Antunes, A sociedade da terceirização total. Revista da ABET, v. 14, n. 1, jan./jun. 2015, p. 9.) a) Terceirização e precarização são fenômenos interligados, porém distintos. O que é terceirização e o que é precarização do trabalho? b) Na atividade industrial ou setor secundário, o que são atividades-meio e atividades-fim? 8 Geografia Gabarito 1. B Com a crise econômica dos últimos anos, aconteceu um aumento da taxa de desemprego, que ultrapassou a marca de 12% em relação à PEA (população economicamente ativa). Além dos desempregados, também existem os desalentados, pessoas que precisam de trabalho, mas desistiram de procurar, devido ao longo tempo de procura, falta de perspectiva de encontrar, desestruturação familiar e falta até de recursos financeiros para se deslocar (transporte coletivo) em busca de emprego. 2. A A forte economia de Singapura faz com que o país seja um polo de atração migracionista, pois os migrantes de outros países procuram o país em busca de melhores condições de vida e de empregos. Para evitar a concorrência dos imigrantes com a população local, o governo resolveu adotar medidas para incentivar a contratação de mão de obra local. 3. A No gráfico, é possível observar o crescimento do setor terciário, processo denominado terceirização da economia. Na França, tal momento decorre da reorganização da produção em escala mundial, em que as indústrias migraram para países em desenvolvimento em busca de mão de obra barata. 4. C O processo em que se observa funcionários sem vínculo empregatício e que prestam serviços é denominado de terceirização. 5. a) A terceirização ocorre quando uma empresa principal contrata outra empresa para realizar determinado trabalho. Assim, um terceiro entra nessa relação, e os trabalhadores não possuem vínculo empregatício com a empresa principal. O objetivo seria reduzir custos com trabalhadores, aumentar a lucratividade e a competitividade. No Brasil, trabalhadores terceirizados ganham menos, apresentam maior instabilidade no emprego, tem jornadas de trabalho mais longas e ficam mais expostos a acidentes de trabalho. Com o avanço do processo de terceirização, observa-se uma precarização do trabalho no país. Porém, essa precarização é um fenômeno mais amplo e se relaciona também com o crescimento do trabalho informal e do trabalho degradante. b) Atividades-fim são o resultado direto dos trabalhadores de uma indústria; por exemplo, uma empresa automobilística tem como produto o carro. As atividades-meio são as que não se referem a atividade principal da empresa, por exemplo, o pessoal que cuida da segurança, limpeza e iluminação da indústria.
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