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PROBLEMA 4 DOENÇAS AUTOIMUNES TOLERÂNCIA - A tolerância é o mecanismo em que o sistema imune não responde a determinados antígenos que já foi exposto anteriormente, ou seja, é um estado de não responsividade para antígenos exógenos ou endógenos. Possuímos duas formas de tolerância: Tolerância central: órgãos geradores de linfócitos (medula óssea e timo); depende da presença de antígenos a da afinidade da ligação ao receptor; faz a deleção de células que são autorreativas ou transformam linfócitos auto reativos em linfócitos T reguladores Tolerância periférica: órgãos linfoides periféricos; é induzida por linfócitos maduros e vai causar 03 quadros: anergia; deleção ou supressão. - Antígenos que induzem a tolerância, ao serem apresentados com adjuvantes, induzem respostas imunológicas. Adjuvantes: substâncias capazes de aumentar a resposta imune especifica e auxiliar o antígeno a desencadear uma reposta imune precoce, elevada e duradouro. Tolerógenos: Antígenos que induzem a tolerância Imunógenos: Antígenos que geram resposta imune - A auto tolerância é a não responsividade aos auto antígenos, assim, quando temos uma falha na auto tolerância, geramos autoimunidade. O sistema imunológico possui capacidade de reconhecer e responder a antígenos estranhos, mas não aos antígenos do próprio corpo –> discriminação própria e não própria. AUTOIMUNIDADE - As doenças autoimunes são comumente agrupadas como doenças inflamatórias mediadas pela imunidade, isso porque a inflamação é presente nessas doenças. - Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da autoimunidade são: Suscetibilidade genética: genes específicos podem prejudicar os mecanismos de autotolerância Gatilhos ambientais: por exemplo infecções e lesões nos tecidos, isso porque a necrose dos tecidos promove o influxo de linfócitos autorreativos e a ativação dessa células. Essas lesões podem ainda modificar a forma de apresentação dos autoantígenos no sistema imune. CARACTERÍSTICAS GERAIS - As doenças autoimunes podem ser de 2 tipos: Sistêmicas: a formação de complexos imunológicos circulantes produz tipicamente doenças sistêmicas, como o lúpus eritematoso sistêmico. Órgãos especificas: respostas de auto anticorpos ou células T contra autoantígenos com distribuição tecidual restrita levam a doenças específicas dos órgãos, como miastenia grave, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla. - Vários mecanismos efetores são responsáveis pela lesão do tecido em diferentes doenças auto imunes, incluindo complexos imunológicos, auto anticorpos circulantes e linfócitos T autorreativos. - Essas doenças autoimunes tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação: Os autoantígenos que disparam essas reações são persistentes e, uma vez que a resposta imunológica se inicia, muitos mecanismos amplificadores que são ativados perpetuam essa resposta -> retroalimentação positiva. Propagação do epítopo: uma resposta iniciada contra um autoantígeno que lesiona tecidos pode resultar na liberação e alteração de outros antígenos teciduais, na ativação de linfócitos específicos para esses outros antígenos e na exacerbação da doença. - As principais causas para a ocorrência das doenças auto imunes são: Falhas na tolerância central ou periférica: a falha dos mecanismos de auto tolerância em células T e B levam a um desequilibro entre ativação e controle de linfócitos. A tolerância a auto antígenos é, normalmente, mantida por meio de processos de seleção que previnem a maturação de alguns linfócitos específicos para auto antígenos e de mecanismos que inativam ou deletam linfócitos auto reativos que amadurecem. A perda da auto tolerância pode ocorrer se linfócitos auto reativos não forem deletados ou inativados. Deficiência de linfócitos T reguladores Predisposição genética Falhas na apoptose de linfócitos T auto reativos maduros Função inadequada de receptores inibitórios da ativação Lesões/ traumas em tecidos imunoprivilegiados: esses tecidos possuem alta expressão de TGF- Beta, ou seja, exclui linfócitos naives e diminui a resposta auto imune, tem a presença de muito FAS- L, proteínas transmembranar que induz a apoptose pela via extrínseca, e possui maior adesão entre as células o que impede a passagem de linfócitos. A liberação de antígenos sequestrados que estão em tecidos imunoprivilegiados, como proteína básica da mielina, por trauma ou infecção, induz a auto imunidade Presença de infecções e ativação de APCs -> reação cruzada: antígenos de patógenos que são muito semelhantes a antígenos humanos geram uma resposta imune, pois ativam as APCs, e geram o que chamamos de reação cruzada. Inflamação ou resposta imunológica inata inicial: a resposta inata é um forte estímulo para ativação de linfócitos e geração de resposta adaptativa. Infecções ou danos à célula podem suscitar reações imunológicas inatas locais com inflamação. Essas, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento de doença. MECANISMOS DE INDUÇÃO DA AUTOIMUNIDADE Amplificação da resposta: uma única célula auto reativa “foge” da tolerância e desencadeia respostas auto imune com ativação, proliferação clonal e lesão do tecido próprio, selecionando as demais células reativas e ampliando a resposta imunológica. Ambiente de citocinas inflamatórias causado por algum patógeno aumenta moléculas coestimulatórias das APC’s, que passam a ativar células autorreativas, pois também apresentam moléculas próprias. Mutações ou não funcionalidade do gene AIRE que gera falha na seleção negativa do timo. Esse gene é um regulador da resposta imune, expressa uma proteína que age nas células do timo e promove a expressão de genes expressos apenas nos órgãos periféricos. BASES GENÉTICAS DA AUTOIMUNIDADE - Grande parte das doenças auto imunes é consequência de características poligênicas complexas, nas quais indivíduos afetados herdam polimorfismo genéticos múltiplos que irão contribuir para a suscetibilidade das doenças. Os genes vão agir junto com os fatores ambientais para causar a doença Indivíduos saudáveis também possuem esses polimorfismos, porém, em menor quantidade Os genes que possuem associações mais fortes com a autoimunidade são os genes MHC O lócus de HLA (Antígeno Leucocitário Humano) também se mostrado contribuinte com a metade ou mais da suscetibilidade genética para doenças auto imunes. Associação de alelos de MHC com autoimunidade - Uma associação doença-HLA pode ser identificada pela tipagem sorológica de um lócus de HLA, mas a associação real pode ocorrer com outros alelos que estão ligados ao alelo genotipado e que foram herdados juntos. Esta compreensão enfatizou o conceito de haplótipos de HLA estendidos, que se refere a conjuntos de genes ligados (tanto genes HLA clássicos quanto genes adjacentes não HLA) que tendem a ser herdados juntos, como uma única unidade. - Em muitas doenças autoimunes, os polimorfismos de nucleotídeos associados à doença codificam aminoácidos nas fendas de ligação de peptídios das moléculas MHC. Os resíduos polimórficos das moléculas MHC localizam-se dentro e ao redor das fendas, e a estrutura das fendas é o determinante chave de ambas as funções das moléculas MHC, que são a apresentação de antígeno e o reconhecimento pelas células T. Sequências HLA associadas a doenças são encontradas em indivíduos saudáveis. Polimorfismos em genes não HLA - É provável que combinações de múltiplos polimorfismos genéticos herdados, em interação com fatores ambientais, induzam as anormalidades imunológicas que levam à autoimunidade. Muitos dos polimorfismos associados a várias doenças autoimunesestão em genes que influenciam o desenvolvimento e a regulação das respostas imunológicas. Polimorfismos diferentes tanto podem proteger contra o desenvolvimento de uma doença quanto aumentar a incidência da mesma. - Frequentemente, os polimorfismos associados a doenças localizam-se em regiões não codificáveis dos genes. Anormalidades de gene único herdadas que causam autoimunidade Genes que codificam proteínas do complemento: deficiências genéticas de diversas proteínas do complemento, incluindo C1q, C2 e C4, estão associadas a doenças autoimunes similares ao lúpus. O mecanismo proposto nesta associação é que a ativação do complemento promove a remoção dos complexos imunológicos circulantes e corpos celulares apoptóticos. Na ausência de proteínas do complemento, esses complexos se acumulam no sangue e são depositados nos tecidos, sendo que também há uma persistência dos antígenos das células mortas. FcߌRIIB: Um polimorfismo que troca uma isoleucina por uma treonina no domínio transmembranar deste receptor Fc inibitório prejudica a sinalização inibitória, estando associado ao LES em humanos. O mecanismo provável da doença é uma falha no controle da retroalimentação negativa mediada por anticorpo das células B. PAPEL DAS INFECÇÕES E LESÃO TECIDUAL - Respostas imunológicas desenvolvidas quando houver a exposição a microrganismo, como vírus e bactérias, podem desregular as respostas imunológicas dos indivíduos. Existem 02 formas que interferem no processo de auto imunidade: 1. Mimetismo molecular: Vírus e bactérias podem apresentar a ligação cruzada com antígenos do hospedeiro de uma forma que essas respostas a antígenos microbianas podem ser direcionadas a tecidos do hospedeiro. Nesse caso, ocorre o que chamamos de mimetização de autoantigenicidade, e as respostas imunológicas são desencadeadas de uma forma errada no organismo. As infecções microbianas, com necrose e inflamação tecidual resultante, podem estimular moléculas coestimulatórias nas APCs dos tecidos, favorecendo, assim, uma ruptura na anergia das células T e sua ativação subsequente. Se todo mundo que carrega um alelo HLA particular associado à doença forem monitorados, a maioria nunca desenvolverá a doença. Portanto, a expressão de um gene HLA particular não é, por si só, a causa de qualquer doença autoimune, mas pode ser um dos diversos fatores que contribuem para a autoimunidade. 2. Infecção de tecidos particulares: podem induzir respostas imunológicas inatas locais que recrutam leucócitos para esses tecidos, resultando na ativação de APCs teciduais. As APCs começam a expressar coestimuladores e secretar citocinas atiradoras de células T, resultando no colapso da tolerância da célula T. Assim, a infecção resulta na ativação de célula T que não são especificas para o patógeno infecioso, resposta essa denominada de bystander activation, que acarreta em um colapso da auto tolerância. - A apresentação de antígenos do tecido pode ser alterado por uma variedade de fatores ambientais, como a radiação UV. Essa radiação provoca a morte celular e pode levar à exposição dos antígenos nucleares, que provocam respostas imunológicas patológicas imunitárias no Lúpus -> esse mecanismo é a explicação proposta para a associação de lúpus com exposição à luz solar. O tabagismo é um fator de risco para a artrite reumatoide, talvez porque leva à modificação química de antígenos próprios. - Existem outros fatores n auto imunidade, que vão além da suscetibilidade genética e infecções. Alterações anatômicas: Causadas por inflamação, possivelmente secundárias a infecções, lesões isquêmicas ou trauma, podem levar à exposição de auto antígenos que normalmente são ocultados do sistema imunológicos. Por exemplo, antígenos de proteínas oculares e de esperma, conhecidos como antígenos isolados anatomicamente, saem do seu local de origem após uma lesão e podem desencadear a resposta autoimune específica, pois o organismo reconhece como algo estranho. Questões hormonais: Há uma prevalência muito maior em mulheres do que em homens. Por exemplo, busca-se prevenir o Lúpus nas mulheres com a introdução de andrógenos. DOENÇAS MAIS COMUNS RINITE - É consequência das reações de hipersensibilidade imediata aos alérgenos comuns, como polén de plantas ou ácaros de poeira. Faz parte da tríade atópica: dermatite atópica, rinite alérgica e asma. DERMATITE ATÓPICA - É uma doença crônica inflamatória da pele caracterizadas por erupções pruriginosas. É dirigida por respostas Th2 a antígenos ambientais em indivíduos que são geneticamente suscetíveis. Há evidências de que a dermatite atópica se desenvolva quando existem defeitos oriundos na função de barreira da epiderme, levando ao aumento na entrada de antígeno na pele e a respostas imunes acentuadas mediadas por células TH2 a antígenos inócuos. - Foi tradicionalmente atribuída à exposição a substâncias alergênicas, mas agora é observado que deriva de defeitos na função da barreira dos queratinócitos, com forte base genética. DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA - Decorrente da exposição tópica a um alérgeno e é desencadeada por exposição ao contato ambiental com agentes sensibilizantes, como a hera venenosa, que reage quimicamente com auto proteínas. As auto proteínas modificadas por esses agentes são processadas pelas células de Langerhans, que migram para os linfonodos de drenagem e apresentam o antígeno para as células T virgens - > Esse evento de sensibilização conduz à aquisição de uma memória imunológica. Após a reexposição do antígeno, os linfócitos T CD4+ de memória ativados migram para os locais afetados na pele e liberam citocinas que recrutam células inflamatórias adicionais, que também vão mediar o dano epidérmico, como em qualquer reação de hipersensibilidade do tipo tardio. LÚPUS - É uma doença na qual fatores genéticos e ambientais contribuem para a quebra de tolerância de linfócitos B e T autorreativos. Entre os fatores genéticos, a herança de determinados alelos HLA é um fator importante. Sob o aspecto imunológico, a doença está associada a uma grande variedade de auto anticorpos, classicamente incluindo anticorpos antinucleares (AANs). O fator ambiental é a radiação UV • Radiação UV: agrava as lesões. Um mecanismo postulado desse efeito é que a radiação UV provoca a apoptose de células hospedeiras, levando a uma carga aumentada de fragmentos nucleares e respostas inflamatórias para os produtos de células mortas. ARTRITE REUMATOIDE - É doença inflamatória crônica sistêmica, que afeta muitos tecidos, atacando principalmente as articulações para produzir sinovite não supurativa proliferativa, que, frequentemente, progride para destruir a cartilagem articular e o osso, resultando em artrite incapacitante. SÍNDROME DE SJOGREN - É uma doença inflamatória que afeta basicamente as glândulas salivares e lacrimais, causando secura da boca e olho. Acredita-se que a doença seja causada por uma reação autoimune das células T contra um ou mais autoantígenos desconhecidos expressos nessas glândulas, ou reações imunológicas contra os antígenos de um vírus que infecta os tecidos. MIASTENIA - Causada por auto anticorpos que bloqueiam a função dos receptores pós-sinápticos de acetilcolina nas placas motoras, o que resulta na degradação e depleção dos receptores. Cerca de 60% dos casos estão associados a uma peculiar hiperplasia reativa das células B intratímicas (frequentemente referidas como hiperplasia tímica) e outros 20% estão associados a timoma, um tumor de células epiteliais tímicas. Essas lesões tímicas podem perturbar a tolerância a autoantígenos, consequentemente predispondo o cenário para a geração de células Te B autorreativas. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE - Apesar da imunidade adaptativa ter função de defesa do hospedeiro, algumas vezes as respostas imunes também são a causa de lesões teciduais e doenças. Sendo que esses distúrbios são chamados de doenças de hipersensibilidade. Normalmente, as respostas imunes erradicam os patógenos infecciosos sem provocar graves lesões aos tecidos do hospedeiro. No entanto, essas respostas são algumas vezes controladas de maneira inadequada, erroneamente direcionadas aos tecidos do hospedeiro, ou são desencadeadas por organismos comensais ou antígenos ambientais inofensivos, assim, a resposta imune se torna a causa da doença. CAUSAS DA HIPERSENSIBILIDADE - As respostas imunes que causam a hipersensibilidade podem ser específicas para antígenos de diferentes fontes: Autoimunidade: - É a reação contra antígenos próprios; a doenças são chamadas de autoimunes e são crônicas e debilitantes. Estima-se que elas afetam 2 a 5% da população nos países desenvolvidos e a incidência (casos novos) é crescente; além disso, essas doenças são mais comuns em mulheres (não se sabe o porquê). Reações contra microrganismos - Esse tipo de resposta imune pode causar doença se as reações forem excessivas ou se os microrganismos forem anormalmente persistentes. A resposta das células T contra os micróbios persistentes pode originar uma inflamação grave, algumas vezes formando granulomas (p.ex. na tuberculose e em outras infecções crônicas). Em caso de produção de anticorpos, estes podem se ligar aos antígenos produzindo imunocomplexos que se depositam nos tecidos e desencadeiam inflamação. Raramente os anticorpos ou as células T contra um microrganismos apresentarão reação cruzada contra o tecido do hospedeiro, entretanto, muitas vezes a resposta requer a morte das células infectadas e podem causar lesão no hospedeiro -> seria a ação normal dos linfócitos citotóxicos que matam a célula infectada pra matar o vírus, assim, essa reação normal e danosa não é considerada hipersensibilidade. Reações contra antígenos ambientais não microbianos: - Quase 20% da população é, de forma anormal, responsiva a uma ou mais da substâncias ambientais comuns. Essas pessoas produzem IgE que causam doenças alérgicas, sendo que alguns, tornam-se sensibilizados a esses antígenos ambientais e substâncias químicas que, quando em contato coma pele, desenvolvem reações das células T que levam à inflamação mediada por citocinas, resultando em sensibilidade de contato. MECANISMOS E CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES - As doenças de hipersensibilidade são classificadas de acordo com o tipo de resposta imune e o mecanismo efetor que é responsável pela lesão celular e tecidual. Existem 4 tipos de hipersensibilidade (HS): IMEDIATA (TIPO I) - Causada por anticorpos IgE específicos para antígenos ambientais e é o tipo mais prevalente. As doenças de HS imediata são agrupadas como alergia ou atopia e são causadas por: Ativação de células Th2 produtoras de IL-4, IL- 5 e IL-13 Produção de anticorpos IgE que ativam mastócitos e eosinófilos e induzem inflamação. MEDIADA POR ANTICORPOS (TIPO II) - A lesão tecidual pode ser causada pelos anticorpos IgG e IgM específicos para antígenos da superfície celular (ligados à célula) ou da matriz extracelular, isso porque eles ativam o sistema complemento, recrutando células inflamatórias. MEDIDADA POR IMUNOCOMPLEXOS (TIPO III) - Esses imunocomplexos, formados pelos antígenos junto aos anticorpos IgM e IgG específicos para antígenos solúveis no sangue, se depositam nas paredes dos vasos sanguíneos em vários tecidos, causando inflamação, trombose e lesão tecidual. MEDIADA POR CÉLULAS T (TIPO IV) - A lesão tecidual é causada pelos linfócitos T que induzem inflamação ou matam diretamente as células-alvo, sendo que, em muitas doenças, o principal mecanismos envolve a ativação de células T auxiliares CD4+ (Th1 e Th17), as quais secretam citocinas que promovem inflamação e ativam leucócitos. ALERGIAS - A HS imediata (tipo I) é uma resposta imunológica a antígenos ambientais não microbianos que envolve células TCD4+ produtoras de IL-4, IL-5 e IL-13, IgE, mastócitos e eosinófilos. Os dois últimos são ativados para liberar mediadores que provocam aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação, contração do músculo liso bronquial e visceral. Essas reações são chamadas de alergia ou atopia e começam minutos após o contato antigênico, por isso é considerada imediata, e causa consequência como a hipersensibilidade. - A produção de IgE a partir de respostas de células TCD4+ produtoras de IL-4 é uma marca das doenças alérgicas. Existe uma sequência de eventos nas reações de hipersensibilidade imediata: 1) Exposição ao antígeno 2) Ativação dos linfócitos: células Th2, T foliculares auxiliares (TFH) produtoras de IL-4 e células B. 3) Produção de IgE Em todos os 3 casos, os mecanismos de lesão do tecido são os mesmos da eliminação de agentes infeciosos. Assim, nas doenças de hipersensibilidade, as respostas também são mediadas por todas essas células imunes, o problema é que essa resposta não é controlada ou é dirigida aos tecidos normais. Isso ocorre porque os estímulos (p.ex. autoantígenos e microrganismos comensais) são quase impossíveis de eliminar e o sistema imune possui diversos mecanismos de amplificação (retroalimentação positiva) de suas respostas. Assim, essas doenças tendem a ser crônicas e progressivas. 4) Ligação do IgE aos receptores Fc de mastócitos (sensibilização) 5) Ativação de mastócitos através da reexposição ao antígeno. 6) Liberação de mediadores a partir dos mastócitos e subsequente reação patológica. - Nas pessoas normais, geralmente ocorre a produção de IgM e IgG, e apenas uma pequena quantidade de IgE. Porém, quando o indivíduo é atópico, em resposta a alérgenos, ocorre produção elevada de IgE. Essa alta proporção depende da propensão que o indivíduo possui em gerar células T auxiliares produtoras de IL-4 e IL-13, que são responsáveis por estimular a mudança da classe dos anticorpos para IgE. NATUREZA DOS ALÉRGENOS - Normalmente proteínas ou produtos químicos ligados às proteínas é que vão provocar as reações de HS, como as proteínas no pólen, ácaros, pelos de animais, alimentos e produtos químicos como a penicilina. - Os alérgenos são caracterizados por não estimularem as respostas associadas a secreção de Th1 e Th17. Assim, quando ocorre ativação repetida sem a presença dessas secreções, as células TCD4+ são dirigidas em direção a via Th2. DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS - Como eu já expliquei ali em cima, as doenças mediadas por anticorpos podem ser geradas de 2 formas: por anticorpos que se ligam aos antígenos em células e tecidos extracelulares (HS tipo II) ou pelos imunocomplexos (HS tipo III) presentes na circulação com consequente deposição nos vasos. DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS CONTRA CÉLULAS FIXAS E ANTÍGENOS TECIDUAIS - Esses anticorpos causam doenças que afetam especificamente as células ou tecidos onde os antígenos estão presentes, assim, essas doenças são frequentemente órgão-específicas e não sistêmicas. A doença será causada por 3 mecanismos principais: 1. Opsonização e fagocitose: os anticorpos se ligam ao antígeno na superfície celular e podem opsonizar diretamente as células ou ativar o sistema complemento, para que ele faça a opsonização. As células opsonizadas são fagocitadas e destruídas pelos fagócitos, os quais expressam receptores para a porção Fc dos anticorpos IgG e receptores para proteínas do complemento. Esse mecanismo de destruição celular é usado por doenças como a anemia hemolítica autoimune e trombocitopenia autoimune. Nelas, os anticorpos específicos para hemácias ou plaquetas, respectivamente, opsonizam e removem essas células da circulação. 2. Inflamação: os anticorpos depositados nos tecidos recrutam neutrófilos e macrófagos, os quais expressam receptores para Fc dos anticorpos. Assim, esses 2 leucócitos se ligam aos anticorpos e são ativados pela sinalização dos receptores Fc. Os produtos desses leucócitos, como as enzimas lisossomais e as espécies reativas de O2 são liberados e produzem a lesão tecidual. 3. Funções celulares anormais: os anticorpos que se ligam a receptores celulares normais podem interferir nas funções desses receptores e causar doença sem inflamação ou dano tecidual. Por exemplo, anticorpos específicos contra o receptor nicotínico de acetilcolina na célula muscular causam a miastenia grave, que possui manifestações como a fraqueza muscular e a paralisia. - Vale ressaltar que além de autoanticorpos produzidos como parte de uma reação autoimune, também existem anticorpos específicos para microrganismos que podem causar essas doenças, através da reação cruzada desses microrganismos com as células normais. DOENÇAS CAUSADAS POR IMUNOCOMPLEXOS - Nesse caso, as doenças refletem o local da deposição desses imunocomplexos, assim, elas tendem a ser sistêmicas e afetam múltiplos órgãos e tecidos, embora alguns sejam particularmente suscetíveis, como os rins e as articulações. Esses imunocomplexos que causam doença podem ser compostos por anticorpos ligados a autoantígenos ou a antígenos estranhos. Doença do soro - A doença do soro é uma doença que exemplifica o mecanismo mediado por imunocomplexos. O passo a passo do que acontece é: 1. Soro com alta dose de antígeno proteico estranho é injetado num animal, levando à produção de anticorpos específicos contra o antígeno. 2. Os anticorpos se ligam e formam complexos com o antígeno circulante -> imunocomplexos 3. Mais e mais imunocomplexos são formados, alguns deles depositam-se em leitos vasculares. As manifestações clínicas mais comuns são: Vasculite: deposição nas pequenas artérias Nefrite: deposição nos glomérulos renais Artrite: deposição na sinóvia das articulações 4. Esses imunocomplexos depositados ativam o sistema complemento, o qual induz uma inflamação rica em neutrófilos. 5. À medida que o antígeno é eliminado e os complexos desfeitos, a inflamação reduz e a concentração de anticorpos livres aumenta. Doença do soro aguda: sintomas clínicos são geralmente de curta duração, e as lesões se curam a menos que o antígeno seja injetado novamente. Doença do soro crônica: é mais prolongada; produzida por meio de múltiplas injeções de antígeno, o que leva à formação de complexos menores que normalmente se depositam nos rins, nas artérias e nos pulmões. Patogênese - A quantidade de imunocomplexos depositados nos tecidos é determinada por 2 critérios: 1) Natureza dos complexos: 2) Características dos vasos sanguíneos: - Vale ressaltar que os imunocomplexos são criados sempre em respostas imunes normais, porém eles se depositam em vasos quando são criados em excesso ou não são eliminados com eficácia. Pequenos complexos não são normalmente fagocitados e tendem a se depositar nos vasos em maior proporção do que os grandes complexos. - Os complexos com antígenos catiônicos se depositam nos vasos pois são atraídos pelas cargas negativas das membranas dos vasos e dos glomérulos renais, produzindo lesão tecidual grave e crônica. Assim que os imunocomplexos do plasma passam pela membrana basal, eles se depositam e geram inflamação, através do recrutamento de neutrófilos pela via clássica do sistema complemento, ou pelo recrutamento de leucócitos e mastócitos. Ocorre então a liberação de citocinas e mediadores vasoativos, fazendo com que o sangue aumente na região e gere mais deposição de imunocomplexos. DOENÇAS CAUSADAS POR LINFÓCITOS T - Os linfócitos T provocam lesão tecidual pela produção de citocinas que induzem inflamação ou pela destruição direta das células-alvo. As reações inflamatórias são mediadas principalmente pelas subpopulações Th1 (secreta Interferon-gama) e Th17 (secreta IL-17) dos linfócitos TCD4+. - Em algumas doenças mediadas por células T, o principal mecanismo de lesão tecidual é o killing de células pelos linfócitos TCD8+ ativados. DOENÇAS CAUSADAS PELA INFLAMAÇÃO MEDIADA POR CITOCINAS - As células Th1 e Th17 vão liberar citocinas que recrutam e ativam leucócitos: O Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune na qual imunocomplexos depositam-se nos rins, nos vasos sanguíneos e na pele. A IL-17 promove o recrutamento de neutrófilos; O IFN-γ é importante para a ativação clássica dos macrófagos; O fator de necrose tumoral (TNF) e as quimiocinas, produzidos pelos linfócitos T, células dendríticas e macrófagos, fazem recrutamento e ativação de muitos tipos de leucócitos. - A lesão tecidual resulta de produtos dos neutrófilos e macrófagos recrutados e ativados, tais como enzimas lisossomais e as espécies reativas de oxigênio. As células endoteliais vasculares nas lesões podem expressar níveis aumentados de proteínas de superfície reguladas por citocinas, tais como as moléculas do MHC de classe II. - A inflamação associada esse tipo de doença normalmente é crônica (p.ex. hipersensibilidade do tipo tardio, DTH). Essas reações inflamatórias crônicas frequentemente produzem fibrose como resultado da secreção de citocinas e de fatores de crescimento. - As reações de células T específicas para microrganismos também podem levar à inflamação e à lesão tecidual. Exemplo: a Mycobacterium tuberculosis, induz fortes respostas de células T e de macrófagos que resultam em inflamação granulomatosa e fibrose, que podem causar destruição extensa do tecido e prejuízo funcional, no caso, dos pulmões. Hipersensibilidade do Tipo Tardio (DTH) - É uma reação inflamatória prejudicial mediada por citocinas resultante da ativação de células T CD4+. Ela é chamada de tardia porque é uma reação que se desenvolve entre 24 a 48 horas após o contato com os antígenos, diferente das reações de hipersensibilidade imediata (alérgicas), que se iniciam em minutos. Nesse processo entra algumas fases: 1) Sensibilização: no modelo clássico de DTH, uma cobaia é imunizada pela administração de um antígeno proteico junto ao adjuvante. 2) Elicitação: 2 semanas depois o animal é administrado com o mesmo antígeno pela via subcutânea e a reação é analisada. - Após sensibilizados, a exposição subsequente a esse antígeno provoca a reação que dura de 24-48 horas. Nas primeiras 4 horas os neutrófilos se acumulam nas vênulas pós-capilares do local da injeção. 12 horas depois, o local da injeção passa a recrutar e acumular linfócitos T e monócitos em torno das vênulas -> as células endoteliais tornam-se inchadas. 18 horas após, é detectado um inchaço e um endurecimento (atinge ápice entre 24-48 horas) ainda maior do tecido, pois ocorre escape de fibrinogênio do sangue, onde será convertido em fibrina. Esse inchaço provém então de fibrina + células T + monócitos + edema. - As reações crônicas de DTH podem se desenvolver se uma resposta Th1 a uma infecção ativar os macrófagos que não consigam destruir os microrganismos fagocitados, formando, assim, granulomas (nódulos de tecido inflamatório). A DTH crônica é causada por sinais prolongados de citocinas, ocasionando na lesão tecidual, seguida por fibrose. DOENÇAS CAUSADAS POR LINFÓCITOS T CITOTÓXICOS - A principal função dos CTLs é eliminar os microrganismos intracelulares, principalmente vírus, matando as células infectadas. Assim, as respostas de CTLS à infecção viral podem levarà lesão tecidual em decorrência da morte de células infectadas, mesmo se o vírus por si só não induzir efeitos citopáticos. Vírus citopáticos são aqueles que lesionam diretamente as células infectadas. A artrite reumatoide, a esclerose múltipla e a DM1 são exemplos de doenças autoimunes órgão- específicas causadas pela ativação de células T autorreativas por autoantígenos, levando à liberação de citocinas e inflamação. - Como os CTLs não ser capazes de distinguir entre os vírus citopáticos ou não, eles matam células infectadas por vírus, independentemente se a infecção é em si prejudicial para o hospedeiro. Os CTLs também participam de respostas autoimunes, como no diabetes tipo 1, onde as células β produtoras de insulina nas ilhotas pancreáticas são destruídas. HANSENÍASE - Considerada uma doença dermato-neurológica complexa com múltiplas formas clínicas. Essa doença crônica é dependente da interação entre os bacilos do patógenos com as respostas imunes dos indivíduos. É uma doença granulomatosa crônica, é transmitida a partir das vias aéreas superiores quando há o contato com pessoas que não possuem o tratamento correto dos bacilos. As regiões que a patologia afeta é a pele e os nervos periféricos. - É ocasionada a partir de 02 mecanismos: Infecção causada pelo Mycobacterium leprae: é um bacilo Gram+ que possui tropismo por macrófagos da pele e células de Schwann. Neuropatia periférica, acompanhada de eventos imunológicos que pode afetar mesmo após a cura da doença. - Em consequência da infecção e destruição das células de Schwann dos nervos periféricos podem surgir incapacidades e deformidades; os doentes normalmente apresentam sinais representados por lesões de pele que podem surgir em qualquer parte do corpo, com alterações de sensibilidade e de sudorese no local da lesão. - Fatores genéticos, ambientais, exposição á microbactéria, estados nutricionais e vacinação contra BCG também influenciam na presença da doença. Pode ocorrer dois tipos de patologia: Tuberculínica: é a mais branda Virchowiana: é a mais brusca - Segundo Ridley e Jopling, há uma divisão entre o polo resistente (tuberculínica) e o polo suscetibilidade (virchowiana/ lepromatoso), e existem 05 subtipos de classificação: Tuberculóide (TT): os pacientes que desenvolvem essa forma geralmente apresentam poucas lesões de pele em forma de placas ou manchas com limites precisos. Borderline Tuberculóide (BT) Borderline Borderline (BB) Borderline Virchowiana (BV) Virchowiano (VV) - No Brasil, existem 02 subtipos: Paucibacilares: é quando ocorre com uma até cinco lesões na pele Multibacilares: lesionam mais de 5 vezes a pele - Essas divisões foram feitas justamente para impedir um subtratamento e uma maior profilaxia com esses patógenos. IMUNIDADE INATA - Na Hanseníase, é inespecífica e atua imediatamente após o contato com o patógeno; esse mecanismo é responsável pela resistência de alguns indivíduos ao desenvolvimento da doença. Macrófagos Fase aferente da resposta: atua na imunidade contra o M. leprae, processando e apresentando antígenos bacilares e produzindo citocinas. Fase eferente da resposta: promove a destruição bacilar em resposta à ativação mediada por linfócitos TCD4+ O M. leprae é rapidamente fagocitado por macrófagos, receptor de manose, além de receptores do sistema complemento O bacilo consegue impedir a fusão entre fagossomos e lisossomos, provocando sua sobrevivência no interior das células Neutrófilos São ótimos em fagocitar o M. leprae in vitro > Porém, in vivo, sua interação com o bacilo é pouco compreendida Lesões crônicas da hanseníase são desprovidas de neutrófilos, independente se na forma virchowiana ou tuberculoide. Receptores de reconhecimento padrão Os receptores TLR1, TLR2 e TRL6 reconhecem componentes micobacterianos, incluindo M. leprae Mais expressos em lesões de pacientes com hanseníase turbeculoide do que a forma virchowiana da doença Um estudo sobre o perfil genético nas diferentes formas da hanseníase revelou que os receptores LILR (Leukocyte Ig-like receptors) estavam mais expressos nas lesões de pacientes com hanseníase virchowiana. o Esses receptores parecem estar envolvidos na supressão de mecanismo da imunidade inata, uma vez que atuam elevando a produção de IL-10 no lugar da IL-12, além de bloquear a atividade microbicida desencadeada pela ativação dos TLRs. O antígeno ativa a participação das células leucocitárias através das sinalizações de receptores do tipo Toll-Like, nos quais TLR 2 e 4 são os mais importantes na ativação dos macrófagos para o englobamento de micobactérias. TLR2 são ativados pelo lipopolissacarídeo de M. leprae, além da diferenciação de macrófagos e células dendríticas. IMUNIDADE ADAPTATIVA - É mediada por linfócitos T e é fundamental para conter a multiplicação do M. Leprae. Experimentos com camundongos demonstrou a susceptibilidade ao bacilo de camundongos deficientes de linfócitos T. - A resposta imune humoral é pouco eficiente na eliminação do bacilo, enquanto a resposta imune celular habilita o hospedeiro a controlar a proliferação do M. leprae. A expressão de IL-12 é mais abundante nas lesões tuberculoides, promovendo a expansão de linfócitos com perfil Th1 de resposta em comparação com a forma virchowiana. Portadores de hanseníase do tipo TT apresentam bastante resposta imune celular contra as micobactérias, o qual delimita e ocasiona poucas lesões na pele e troncos nervosos. Portadores de hanseníase do tipo VV apresentam quase nenhuma resposta imunológica celular (anergia) contra a micobactéria, ocorrendo a proliferação do agente M. leprae e consequentemente múltiplas lesões e infiltrações extensas pela pele, nervos, por isso tem maior agressividade. - As citocinas do perfil Th1 são mais abundantes em lesões de pacientes tuberculoides, e o perfil Th2 mais abundantes nas lesões virchowianas. A produção de IFN-γ e IL-2 por linfócitos frente a estímulos policlonais assim como a linfo proliferação frente a antígenos do M. leprae estão diminuídas em pacientes virchowianos, mas retornam aos padrões normais após a cura. Linfócitos T Linfócitos T CD4+ são mais abundantes nas lesões tuberculoides e a distribuição é mais ordenada, com eles no centro das lesões. Linfócitos TCD8+ predominam nas lesões virchowianas, possuem função supressora nas margens. Pacientes com hanseníase tuberculoide apresentam um aumento no número de linfócitos T de memória, comprometidos com a produção de IFN-gama e redução na produção de IL-4. Linfócitos B Produz anticorpos específicos contra antígenos bacilares tem sido observado tanto em lesões tuberculoides quanto virchowianas, embora sejam consideravelmente mais abundantes nas virchowianas. Quimiocinas Ocorre um aumento nos níveis séricos dessas quimiocinas, como a CCL3 que vão recrutar e ativar macrófagos e linfócitos T e B, atuando na formação de granulomas. A quimiocina CCL-2 estimula a secreção de IL4, apresentando níveis séricos elevados na hanseníase virchowiana. O M.leprae é capaz de induzir a síntese de CCL2 em monócitos de pessoas saudáveis, manipulando o sistema imune a favor de sua proliferação.
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