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PPrroovvaass ddee FFuunnççããoo RReennaall Martha Mariana de Almeida Santos O rim é o órgão que elimina seletivamente substâncias tóxicas sólidas em dissolução na água. Sua função normal depende de concentração destas substâncias em uma quantidade de água disponível para eliminação. Três são os processos fundamentalmente envolvidos na formação de urina que se superpõem: a) Filtração Glomerular: volume que sai dos vasos capilares para o glomérulo. b) Reabsorção Tubular: volume que sai dos túbulos para os vasos capilares. c) Secreção Tubular: volume que sai dos capilares não glomerulares para os túbulos. Assim, as Síndromes Nefrológicas incluem estes achados: a) Alterações no volume urinário: olgúria, anúria, poliúria b) Anormalidades no sedimento urinário: eritrócitos, leucócitos, cristais, cilindros c) Excreção anormal de proteínas séricas: proteinúria d) Redução na Taxa de Filtração Glomerular: azotemia e) Presença de hipertensão e aumento do volume líquido corporal: edema f) Anormalidades eletrolíticas g) Dor e febre. PPrroovvaass ddee AAvvaalliiaaççããoo ddaa FFiillttrraaççããoo GGlloommeerruullaarr:: O volume da filtração glomerular pode ser avaliado pelas provas de depuração (clearance). Depuração é o número de mililitros de sangue nos quais existe a quantidade desta substância que é extraída a cada minuto por excreção renal. Em outras palavras é o volume mínimo de sangue necessário para proporcionar a quantidade da substância excretada pela urina em um minuto. A depuração é calculada pela fórmula geral UV/P, onde U é a concentração da substância na urina (mL/dL), V é o volume urinário por minuto (mL) e P é a concentração da substância no plasma (mL/dL). A velocidade de depuração é proporcional ao tamanho do rim e à área de superfície corporal do indivíduo. Assim, este valor deve ser corrigido de acordo com as variações da superfície corporal. Assim, acrescenta-se o fator 1,73 / A, onde 1,73 é a superfície corporal média do adulto e A é a superfície corporal do paciente em estudo, que pode ser calculada por meio de um normograma a partir do peso e da altura do paciente. Uma redução da Taxa de Filtração Glomerular (TFG) leva a retenção de produtos de excreção nitrogenados, como a uréia e a creatinina, uma condição conhecida por Azotemia. Azotemia pode resultar da redução da perfusão renal, doença renal intrínseca, ou processos pós-renais (obstrução ureteral, por exemplo). DDeeppuurraaççããoo ddee UUrrééiiaa:: A depuração da uréia já foi utilizada na avaliação da taxa de filtração glomerular. Foi com essa substância que van Skyle criou e divulgou o termo clearance. Entretanto, a depuração de creatinina deve ser preferida, já que o valor de depuração de uréia representa apenas uma fração da TFG e à medida que progride a insuficiência renal, vai ocorrendo redução da população de néfrons funcionantes e cada vez mais a uréia passa a ser excretada em função da diurese osmótica, que acelera o trânsito intraluminar tubular, reduzindo o tempo de contato de liquido tubular com as células, e conseqüentemente, sua difusão. O resultado final poderá ser uma depuração de uréia bastante maior em relação ao de inulina ou creatinina. DDeeppuurraaççããoo ddaa IInnuulliinnaa:: A inulina é uma substância não absorvida nem excretada pelos túbulos, o que significa que sua depuração depende exclusivamente da filtração glomerular. Sua depuração representa a medida mais exata desta variável. No entanto, a depuração da inulina não é medida rotineiramente, apenas no âmbito da pesquisa, sendo substituída pela depuração da creatinina, que é bastante semelhante, apesar de ter problemas. DDeeppuurraaççããoo ddaa CCrreeaattiinniinnaa:: Creatinina é um soluto pequeno, filtrado livremente, com concentração sérica que varia pouco no dia a dia, já que é derivada do metabolismo muscular da creatina. FM-UnB: Monitoria de Clínica Médica – 2/2003 A depuração de creatinina no indivíduo normal é um pouco maior que a de inulina, indicando que alguma creatinina é secretada pelos túbulos. Com insuficiência renal, a diferença se exagera de 10 a 30% em relação à depuração de inulina. As maiores diferenças ocorrem nas grandes reduções da filtração glomerular. Entretanto, essa diferença não afeta o valor da depuração de creatinina como método prático e fácil de avaliar clinicamente a velocidade de filtração glomerular. Assim, por exemplo, se a filtração glomerular for de 20 mL/min, havendo erro de 30%, obter-se-á um valor de 26 mL/min, o que não afeta significativamente a interpretação do resultado, pois tanto 20 quanto 26 mL/min evidenciam grave comprometimento da filtração glomerular. A depuração é calculada conhecendo-se a excreção urinária de creatitina em 24 horas, sendo o tempo de colheita rigorosamente determinado. Como a creatitina plasmática é muito estável, não apresentando variações significativas de um dia para o outro, mesmo em presença de moléstia renal, basta uma amostra de sangue colhida em qualquer momento durante o perído decoleção urinária. Há especialistas que preferem avaliar a depuração da creatitinia durante períodos curtos de três a quatro hora,s rigorosamente cronometrados, sob vigilância cuidadosa, o que tem a finalidade de afastasr erros freqüentes de colheita. Valores normais: - Homem: 97 a 139 mL/min - Mulher: 84 a 125 mL/min Se a realização do clearance de creatinina por causa da necessidade de coleção de urina de 24 h for difícil, pode-se estimar a TFG a partir da fórmula de Cockcrof-Gault: Clearance de Creatinina (140 – idade) x massa magra corporal (kg) = (mL/min) Creatinina sérica (mg/dL) x 72 Esta fórmula deve ser multiplicada por 0,85% nas mulheres, já que uma menor fração da massa magra corporal é constituída por músculo. A perda gradual de músculo da doença crônica, uso crônico de glicocorticóides, ou desnutrição pode mascarar grandes alterações na TFG com alterações mínimas na creatinina sérica. Nestas situações, determinações mais acuradas da TFG podem ser feitas utilizando-se o clearance da inulina, ou radioisótopos como o 125-I-iotalamato ou 125-I-EDTA. PPrroovvaass ddee AAvvaalliiaaççããoo ddaa FFuunnççããoo TTuubbuullaarr:: PPrroovvaa ddaa FFeennoollssuullffoonnffttaalleeíínnaa ((PPSSPP)):: As células tubulares têm a capacidade de secretar uma série de aniontes e catiointes orgânicos. O transporte de tais substâncias restringe-se ao túbulo proximal. Entre os diversos aniontes secretados encontram-se o para-amino-hipurato e a fenolsulfonftaleína. Esta última, conhecida pela sigla PSP, é atóxica, facilmente dosável e a prova de sua excreção é muito simples. Supôs-se originalmente que a PSP medisse a capacidade excretora tubular, mas com a dose utilizada (6 mg) não se atinge a capacidade tubular máxima de seu transporte; assim, a prova PSP, em sua forma clássica, representa medida aproximada do fluxo renal efetivo. Técnica: ingestão de dois copos de água + injeção de 6 mg de PSP após 30 min. Colheita urinária espontânea aos 15, 30, 60, 120 min. A excreção média é respectivamente de 35, 17, 12, 6% da dose administrada, perfazendo o total de 70%. A excreção de 15 min é a mais significativa e indicativa de alteração do fluxo renal efetivo, pois em duas horas mesmo um rim lesado é capaz de atingir um nível de excreção compatível com a normalidade. A excreção de PSP se altera precocemente no curso da insuficiência renal, sendo, portanto, de utilidade diagnóstica nos casos em que a filtração glomerular ainda não sofreu redução significativa. PPrroovvaa ddee CCoonncceennttrraaççããoo:: Outra avaliação funcional da função tubular consiste na investigação da capacidade de produzir urina hipertônica. Técnica de Volhard: restrição aquosa completa durante 38 horas em vigência de dieta padrão, rica em resíduos protéicos, com sal e da medida densidade e osmolaridade urinárias, que devem alcançar 1,030 mg/m FM-UnB: Monitoria de Clínica Médica – 2/2003 ou 1.200 mOsm/kg, respectivamente, em pelo menos umadas amostras. O volume urinário deve ser de 300 a 600 mg durante as 24 horas de colheita, e a perda de peso corporal inferior a 500 g. A densidade urinária não deve ser determinada em urina recém-emitida, mas em urina cuja temperatura já tenha se equilibrado com a do ambiente. A densidade deve ser corrigida pela temperatura (+ 0,001 para cada 3ºC acima da temperatura de aferição do densímetro) e em vigência de glicosúria (+ 0,001 para cada 2,7 g/L de glicose) e proteinúria (+ 0,001 para cada 5 g/L de proteína). Na insuficiência renal crônica, a perda da capacidade de concentração se instala progressivamente, passando o rim primeiramente poir uma fase de insuficiência compensada, caracterizada por poliúria, hipostenúria e isostenúria, isto é, pela eliminação de urina abundante e com densidade baixa e uniforme. À medida em que diminui o número de néfrons funcionantes, restringe-se progressivamente tal poliúria, compensadora, observando-se em determinada ocasião uma pseudonormalúria (volume urinário normal, mas com baixa densidade) e, finalmente, oligúria, instalando-se assim a insuficiência renal descompensada. A prova da concentração é uma das melhores provas indicativas de comprometimento inicial do funcionamento do rim, pois se altera precocemente na evolução das nefropatias, mesmo quando a uréia é inteiramente normal. Prova de diluição: Contrariamente à capacidade de concentração, a de diluição se mantém normal até fases avançadas da insuficiência renal, sendo portanto dispensável para a caracterização da mesma. Além disso, administração de sobrecarga hídrica pode, em fases avançadas de insuficiência renal, resultar em intoxicação aquosa. RReeffeerrêênncciiaass BBiibblliiooggrrááffiiccaass:: 1. BRAUNWALD, E.; FAUCI, A.S.; KASPER, D.L.; HAUSER, S.L.; LONGO, D.L.; JAMESON, J.L (ed): Harrison`s Principles of Internal Medicine, 15th edição. New York, Ed. McGraw-Hill; 2001. 2. MILLER, O.; GONÇALVES, R.R.: Laboratório para o clínico, 8ª edição. São Paulo, Editora Ateneu; 1995. 3. HARDMAN, J.G.; LIMBIRD, L.E. (ed): Goodman`s and Gilman`s The Pharmacological basis of Therapeutics, 9th edition. New York , Ed. McGraw-Hill; 1996. 4. LÓPEZ, M.; LAURENTYS-MEDEIROS, J.: Semiologia Médica, 4ª edição. Rio de Janeiro, Editora Revinter; 1999. 5. COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S.L.: Patologia Estrutural e Funcional, 5ª edição. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan; 1996. FM-UnB: Monitoria de Clínica Médica – 2/2003