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Gabriela Gomes 1 Displasia do desenvolvimento do quadril • A articulação do quadril se encontra instável em decorrência da displasia acetabular e de uma frouxidão da cápsula • Abrange diferentes apresentações: ➢ Displasia acetabular ➢ Instabilidade capsuloligamentar ➢ Subluxação e luxação do quadril • Duas formas: ➢ Típica ➢ Atípica EMBRIOLOGIA E ANATOMIA • A articulação do quadril se forma a partir de células mesenquimatosas primitivas • Na sétima semana de gestação, aparece uma fenda entre as células pré-cartilaginosas que divide a cabeça femoral do acetábulo • Desenvolvimento acetabular continua por toda a gestação • A cabeça do fêmur estimula o correto desenvolvimento acetabular, assim como seu desenvolvimento em profundidade, que, por sua vez, estimula o formato esférico da cabeça femoral • Três diferentes cartilagens influenciarão no desenvolvimento da região proximal do fêmur: ➢ Placa epifisária da cabeça femoral ➢ Placa do istmo do colo femoral ➢ Placa do trocânter maior • Lesão em uma destas cartilagens pode provocar alterações anatômicas na região • Nos quadris incongruentes, geralmente se observa atraso na ossificação EPIDEMIOLOGIA • Atinge aproximadamente 1/1.000 nascidos vivos • Fatores de risco: ➢ Raça branca (25-50/1.000 nascidos vivos) ➢ Histórico familiar (12-33% dos pacientes) ➢ Frouxidão ligamentar ➢ Fatores mecânicos: primigesta; oligoidrâmnio; apresentação pélvica ➢ Sexo feminino (80% dos pacientes) ➢ Fenômeno da “aglomeração” ➢ Enfaixamento DIAGNÓSTICO • O diagnóstico precoce, realizado nas primeiras semanas de vida, resulta em melhores resultados no tratamento • O exame clínico de triagem realizado pela pediatria ou neonatologia são de grande importância. Eles devem realizar manobras capazes de avaliar a estabilidade da articulação • As manobras devem ser realizadas com a criança ainda no berçário e nas consultas subsequentes, principalmente na presença de fatores de risco MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Determinadas pela evolução da doença • Mudam de acordo com ada faixa etária • Recém-nascido até as primeiras semanas de vida: ➢ Para identificar um quadril instável, realizar as manobras de Ortolani e de Barlow Manobra de Ortolani • Testar a redutibilidade do quadril • Avaliar cada quadril separadamente 1- Paciente despido e em decúbito dorsal na mesa de exame 2- Membros inferiores posicionados em flexão de 90° do quadril e os joelhos fletidos 3- Posicionar o polegar na região inguinal próximo ao trocânter menor e o terceiro dedo na região lateral junto ao trocânter maior 4- Em um movimento suave e combinado, promover a tração, abdução e suave compressão de posterior para anterior, enquanto com a outra mão se faz a estabilização da pelve 5- Positivo: quadris luxados e redutíveis onde há um “ressalto”, por vezes audíveis com um som de “clunk” Manobra de Barlow • Provoca uma luxação, demonstrando a instabilidade do quadril 1- Paciente e examinador na mesma posição da manobra de Ortolani 2- Primeiro tempo: o quadril a 90° e o joelho totalmente fletido, partindo da posição de adução e realizando o movimento de abdução pressionando o trocânter maior em direção ao acetábulo para provocar a redução do quadril 3- Adução do membro, uma força de lateralização pressionando a região do trocânter menor e uma suave força de compressão de anterior para posterior, promovendo uma pistonagem ou um ressalto, denotando teste positivo Gabriela Gomes 2 • Após o 3° mês de vida: ➢ Sinais clínicos manifestados por causa da assimetria dos membros tornam-se mais evidentes: ▪ Encurtamento aparente do membro acometido ▪ Assimetria de pregas ▪ Assimetria da altura dos joelhos com o paciente em decúbito dorsal e membros fletidos ▪ Pode haver ascensão do trocânter maior e limitação da abdução do quadril ➢ Nos casos de luxação bilateral: ▪ Sinais clínicos decorrentes da assimetria dos membros podem estar ausentes, porém a ascensão trocantérica e a limitação da abdução estarão presentes • Após o início da marcha: ➢ Marcha claudicante ➢ Sinal de Trendelenburg positivo no lado afetado ➢ Naqueles que possuem comprometimento bilateral: ▪ Postura com aumento da lordose lombar ▪ Marcha “bamboleante” EXAME RADIOGRÁFICO • Radiografia de bacia: ➢ Incidências: ▪ Anteroposterior com os membros inferiores alinhados e paralelos em discreta rotação interna ▪ Incidência de Lauenstein (posição de rã) com os membros simétricos ➢ Parâmetros utilizados na avaliação radiográfica: ▪ Linha de Hilgenreiner: - Linha horizontal que cruza através das cartilagens trirradiadas - Referência horizontal para avaliação da altura das epífises femorais proximais ▪ Linha de Perkins: - Linha vertical, perpendicular à linha de Hilgenreiner - Localização: junto ao rebordo lateral do acetábulo - Referência vertical para avaliação da posição lateral das epífises femorais proximais ▪ Quadrantes de Ombredanne: - Cruzamento das linhas de Hilgenreiner e Perkin, nos quadris normais - A metáfise proximal femoral localiza-se no quadrante inferomedial ▪ Índice acetabular: - Ângulo formado pela linha de Hilgenreiner e outra linha que tangencia a borda lateral do teto ósseo do acetábulo - Quadris normais: < 30° ▪ Arco de Shenton-Menard: - Arco formado por uma linha traçada através do bordo medial da metáfise proximal do fêmur que deve mostrar uma continuidade com outra linha traçada e na borda superior do forame obturado ▪ Tríade de Putti: - Localização anormal do fêmur proximal com interrupção da linha de Shenton - Retardo ou ausência de ossificação da epífise proximal do fêmur - Aumento do índice acetubalar EXAME ULTRASSONOGRÁFICO • Ultrassonografia do quadril • Indicada nos pacientes com risco alto de DDQ, com exame físico inconclusivo e no acompanhamento dos pacientes em tratamento • Avalia a qualidade de redução e a progressão da cobertura acetabular • Dois métodos: ➢ Estático, que avalia a morfologia acetabular, proposto por Graf ➢ Dinâmico, proposto por Harcke • Método Estático: ➢ Permite a avaliação morfológica do quadril e o classifica quanto a sua maturidade, subluxação ou luxação ➢ Referências: ▪ Linha de base ▪ Linha do teto cartilaginoso ▪ Linha do teto ósseo ▪ Ângulo alfa ▪ Ângulo beta • Os quadris são classificados de acordo com as medidas dos ângulos alfa e beta TRATAMENTO • Deve ser o mais precoce possível • O tratamento é dividido conforme a faixa etária do paciente • Recém-nascidos até 6 meses de vida: Gabriela Gomes 3 ➢ Objetivo: manter a cabeça femoral centrada no acetábulo, propiciando um remodelamento com estímulo do desenvolvimento do quadril ➢ Órtese mais comum: suspensório de Pavlik ▪ Proporciona a manutenção da redução do quadril de forma dinâmica mediante o posicionamento em flexão e abdução dos membros ▪ A tira anterior promove a flexão do quadril (limita a extensão), e a tira posterior promove a abdução (limita a adução) ▪ Quadris devem ser posicionados com uma flexão em torno de 100-110° e em abdução ▪ Não se deve promover uma abdução forçada ▪ Nos quadris instáveis devemos estar muito atentos até que ocorra a estabilização, geralmente até a terceira semana de tratamento ▪ Utilizado em tempo integral e ser retirado apenas para higiene e troca de roupas ▪ Reajustando periodicamente acompanhando o crescimento da criança ▪ Não é indicado nos pacientes com doenças neuromusculares, artrogripose, luxações teratológicas com quadris irredutíveis ▪ Complicações do uso do suspensório de Pavlik: - Lesão do nervo femoral - Necrose avascular da cabeça femoral - Luxação inferior - Lesões cutâneas - Piora do comprometimentoacetabular e da cabeça femoral • Órtese de Fredjka: ➢ Menos usada atualmente • Dos 6 aos 18 meses: ➢ Pode-se realizar uma tração cutânea dos membros inferiores ao “zênite” antes da tentativa de redução ➢ Redução incruenta deve ser tentada com o paciente anestesiado ➢ Avalia-se a tensão dos músculos adutores de forma percutânea ou com uma pequena via junto à prega medial ➢ Caso não seja possível, é indicada a redução cruenta • Após 18 meses: ➢ Redução aberta com osteotomia pélvica para suprir a deficiência de cobertura acetabular ➢ Osteotomia de Salter COMPLICAÇÕES • Estão relacionadas ao tipo de tratamento empregado e a fase em que este foi instituído • Perda da redução do quadril • Displasia residual • Necrose avascular da epífise femoral • Desenvolvimento de deformidades com coxa vara ou valga • Encurtamento ou alongamento do membro • Rigidez ou diminuição da mobilidade articular • Lesões vasculares ou nervosas