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TEOLOGIA MORAL E ÉTICA

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TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Vanessa Roberta Massambani Ruthes
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
 Prof.ª Tathyane Lucas Simão
 Prof. Ivan Tesck
Revisão de Conteúdo: Neivor Schuck
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2017
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
 231.044
 R974t Ruthes, Vanessa Roberta Massambani
 Teologia moral e ética / Vanessa Roberta Massambani 
Ruthes. Indaial: UNIASSELVI, 2017.
 138 p. : il.
 
 ISBN 978-85-69910-77-0
 1.Teologia.
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Vanessa Roberta Massambani Ruthes
Doutoranda em Teologia pela Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Possui 
Mestrado em Teologia pela mesma Instituição. 
Possui Especialização em Bioética pela PUCPR; 
Especialização em Espiritualidade pela Faculdade 
Vicentina e Especialização Princípios Educacionais 
pela PUCPR. Possui Aperfeiçoamento em Ética de la 
investigación con seres humanos pela UNESCO; e 
Aperfeiçoamento em Ensino de Filosofia pela UFPR. 
Licenciada em Filosofia e Pedagogia. Atua como 
professora e gestora tanto na Iniciativa Privada, 
quanto no Setor Público. É consultora e palestrante. 
Possui livros publicados na área de Teologia 
e Filosofia, como também vários artigos 
em periódicos científicos e em jornais de 
circulação.
Sumário
APRESENTAÇÃO .......................................................................... 01
CAPÍTULO 1
Introdução à Ética Cristã .......................................................... 09
CAPÍTULO 2
História da Moral Cristã ............................................................ 53
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
A Moral Revelada e a Moral Renovada .................................... 79
A Lei Moral ................................................................................. 105
APRESENTAÇÃO
O presente livro “Teologia Moral e Ética”, tem por objetivo apresentar a 
temática de Teologia Moral e Ética de forma clara, objetiva e didática, buscando 
proporcionar uma reflexão mais ampla sobre os temas abordados. Nesta 
perspectiva, a partir de grupos temáticos, diferentes assuntos foram abordados. 
No primeiro capítulo, intitulado a “Introdução à Ética Cristã”, é realizada a 
diferenciação conceitual entre ética e moral. A partir desta, analisa-se a relação 
existente entre as dimensões do agir moral, correlacionando as dimensões deste 
agir moral com os fundamentos bíblicos.
No segundo capítulo a “História da Moral Cristã”, analisamos de que forma 
a construção teórica da moral cristã foi sendo realizada. Para tanto, buscamos 
comparar as teorias morais com as diferentes mentalidades dos tempos históricos, 
e por fim procuramos compreender o desenvolvimento das diferentes percepções 
da moral cristã na história.
No terceiro capítulo “A Moral Revelada e a Moral Renovada”, diferenciamos 
estes duas concepções de moral, demonstrando seus fundamentos e a forma 
como foram engendradas. Também analisamos a estrutura do decálogo e como 
este é influenciado pela moral revelada. Por fim buscamos identificar os principais 
desafios da moral renovada na reflexão ética atual. 
No quarto capítulo “A Lei Moral”, analisamos a forma como a lei natural é 
utilizada para pressupor conceitos e doutrinas da moral cristã. Procuramos 
compreender como esta lei influencia até os dias atuais a constituição da moral 
cristã, e por fim apresentamos quais são as bases conceituais que fundamentam 
a lei natural. 
Como você pode perceber, caro(a) pós-graduando(a), as análises propostas 
por esta obra pretendem auxilia-lo a ampliar seu conhecimento e reflexão sobre a 
Moral e a Ética a partir de uma perspectiva teológica. Boa leitura!
CAPÍTULO 1
Introdução à Ética Cristã
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Conhecer a diferença entre os conceitos de ética e moral.
� Identificar as diferentes dimensões do agir moral.
� Conhecer os fundamentos bíblicos da ética cristã.
� Analisar a relação existente entre as dimensões do agir moral.
� Correlacionar as dimensões do agir moral com os fundamentos bíblicos.
10
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
11
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Contextualização
Estudar a teologia moral e a ética é um esforço que precisamos empreender 
para entendermos as atitudes e disposições morais no nosso cotidiano. Uma ação 
moral implica consequências e, por conseguinte, responsabilidades. 
Desta maneira, para estudar a ética e a moral cristã precisamos começar 
por nos dedicar ao conhecimento das Escrituras e dos textos produzidos a partir 
delas. Deixamos claro aqui que moral e religião não são sinônimos. Embora a 
religião contenha uma conduta moral, elas se distinguem por vários motivos. O 
principal é que não precisamos de religião para estruturar uma moral, mas não 
existe nenhuma religião sem código moral ou ético. 
Vamos caminhar juntos nesta discussão muito importante para nossas vidas 
e nossa construção do conhecimento humano. Vamos descobrir um pouco mais 
sobre ética e moral cristã durante este curso. 
Conceito de Ética e Moral
A ética e a moral podem ser entendidas como muito próximas. Faremos uma 
distinção neste texto que é eminentemente didático e serve para fins acadêmicos 
e de organização de material.
No dia a dia utilizamos a palavra ética para indicar aquilo que consideraríamos 
correto. Por exemplo, quando designamos uma pessoa como ética, estamos 
concordando com suas atitudes e seus valores. Entretanto, a ética enquanto 
conceito é muito mais ampla. 
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, 
mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. 
Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, 
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os 
costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de 
ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados 
corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, 
e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento. 
Enquanto uma reflexão científica, que tipo de ciência seria a ética? 
12
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
As questões da ética nos aparecem a cada dia. [...] logo 
poderíamos nos perguntar se, num país capitalista, o princípio do 
lucro poderia ou deveria situar-se acima ou abaixo das leis da ética. 
E em épocas mais difíceis, muitas vezes nos perguntamos se uma 
lei injusta de um Estado autoritário precisa ou não ser obedecida. E 
quando nós temos um “problema de consciência”, quando estamos 
com um “sentimento de culpa”, coisa que ocorre a todos, não se torna 
importante saber se este sentimento corresponde de fato a uma culpa 
real? Cabe à reflexão ética perguntar se o homem pode realmente 
ser culpado, ou se o que existe é apenas um sentimento de um mal-
estar sem fundamento. E as artes também levantam problemas para 
a ética. Por exemplo: o poder de sedução, de encantamento, da 
música, pode (ou deve) ser usado para condicionar o comportamento 
das pessoas? E o mandamento evangélico do amor aos inimigos é 
válido como uma obrigação ética para todos? E quando, lendo um 
romance de Dostoievski, encontramos um personagem como Ivan, 
de Os Irmãos Karamazov, afirmando que “se Deus nãoexiste tudo 
é permitido”, devemos então concluir que isso é uma proposta de 
Tratando de normas de comportamentos, deveria chamar-se uma 
ciência normativa. Tratando de costumes, pareceria uma ciência 
descritiva. Ou seria uma ciência de tipo mais especulativo, que 
tratasse, por exemplo, da questão fundamental da liberdade? 
Fonte: Valls (2005, p. 7).
A moral definiremos como um conjunto de regras que nos foram transmitidas 
e que sob nenhuma hipótese mudam com um debate ou a vontade de um 
indivíduo. O exemplo típico disto é o mandamento “Não matarás”, ele em nenhum 
momento mudou em toda a história da teologia moral. Mesmo que sempre 
apareçam pessoas que o transgridam de modo a produzir grande sofrimento ao 
tirar a vida das outras pessoas.
 
A ética, por sua vez, pode ser debatida e discutida, entendida como o hábito 
de um povo, ou de um grupo de pessoas, ela sempre pode ser deliberada e 
renovada na medida da qualidade dos debates decorrentes. Embora pareça muito 
diferente da moral, no cotidiano é muito difícil distinguir a prática moral da ética. 
Por isso sugerimos que a moral seja pensada como algo a ser cumprido sem 
necessária discussão, e a ética como algo a ser refletido.
13
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
abolição da ética? Os problemas que acabamos de mencionar 
implicam todos alguma relação com outras disciplinas teóricas e 
práticas, mas são todos problemas específicos da ética.
Fonte: Valls (2005, p. 9).
Podemos dizer de outro modo o que entendemos acerca de moral e ética: a 
moral é um modo de conduta, um mandamento, uma forma de se comportar. É 
dela que seguimos certa quantidade de valores e regras que nos foram passadas 
de outras gerações que nos precederam. No que tange aos costumes, Valls 
(1994) defende que estes surgem a partir das práticas e relações existentes nas 
diferentes sociedades e tempos históricos. O processo de teorização da moral, 
fundamentada na reflexão ética, é posterior. 
Quanto às grandes teorizações, há documentos 
importantíssimos pelo menos desde os gregos antigos, há uns 
dois mil e quinhentos anos. Mas é importante então lembrar que 
as grandes teorias éticas gregas também traziam a marca do tipo 
de organização social daquela sociedade. Tais reflexões não 
deixavam de brotar de uma certa experiência de um povo, e, num 
certo sentido, até de uma classe social. Tais enraizamentos sociais 
não desvalorizam as reflexões mais aprofundadas, mas sem dúvida 
ajudam a compreender a distância entre as doutrinas éticas escritas 
pelos filósofos, de um lado, e os costumes reais do povo e das 
diferentes classes, por outro lado, tanto no Egito quanto na Grécia, 
na Índia, em Roma ou na Judeia. Em certos casos, só chegaremos 
a descobrir qual a ética vigente numa ou noutra sociedade através 
de documentos não escritos ou mesmo não filosóficos (pinturas, 
esculturas, tragédias e comédias, formulações jurídicas, como as do 
Direito Romano, a políticas, como as leis de Esparta ou Atenas, livros 
de medicina, relatórios históricos de expedições guerreiras e até os 
livros penitenciais dos bispos medievais).
Fonte: Valls (2005, p. 11-12).
14
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Aquilo que chamamos de moral é um conjunto de regras cuja mutabilidade 
é muito difícil, sempre permanece e se perpetua por muito tempo. Mas podemos 
entender um conjunto de regras morais de diferentes modos a partir de um 
processo de concordância axiológica. Assim, se defendermos uma determinada 
moral, somos capazes de nos portar de tal modo. Se queremos mudar regras 
morais é porque ou pertencemos a outro grupo moral, ou estamos inseridos em 
um processo de crise de valores que nos faz questionar as normas às quais 
estamos submetidos. 
Desta maneira, percebemos a complementariedade existente entre a ética e a 
moral, pois a discussão e o debate sobre os valores, condutas e comportamentos 
só são viáveis a partir de um referencial, de um conjunto de normas com as quais 
se concorde ou discorde. 
Axiológica: está relacionado com a axiologia, que indica o valor 
que algo possui ou tem.
Há diferentes formas de abordagem utilizadas pela moral e pela 
ética. Podemos falar de uma moral ou ética legalista, personalista, 
cientificista ou, ainda, uma moralizante. A primeira diz respeito ao 
cumprimento estrito da lei e nada mais, em outras palavras: siga os 
mandamentos e pronto. A segunda é a personalista, tudo gira em 
torno da pessoa humana e nada escapa a esta dinâmica. Já a terceira, 
chamada de cientificista, é aquela que se fundamenta em princípios da ciência, 
querendo mensurar a lei moral e conferir a ela credibilidade da ciência. A quarta, 
que denominamos de moralizante, quer proporcionar um exemplo a ser seguido, 
um testemunho. 
De acordo com Moser (1996), há uma estreita ligação entre moral e ética. 
Segundo o pensador brasileiro, a moral e a ética possuem duas fontes: uma 
que é inteiramente religiosa e a outra que é filosófica. Ambas têm o papel de 
proporcionar a construção dos hábitos e da configuração de um sentido. 
Segundo Moser (1996), a moral e a ética precisam uma da outra para 
poderem melhorar mutuamente. Além disso, para o pensador, precisamos de 
moral para orientar nossa conduta segundo os ancestrais, e de ética para debater 
os problemas atuais e mais emergentes. 
Uma moral ou 
ética legalista, 
personalista, 
cientificista ou, 
ainda, uma 
moralizante.
15
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Não seria exagerado dizer que o esforço de teorização no 
campo da ética se debate com o problema da variação dos costumes. 
E os grandes pensadores éticos sempre buscaram formulações que 
explicassem, a partir de alguns princípios mais universais, tanto a 
igualdade do gênero humano no que há de mais fundamental, 
quanto as próprias variações. Uma boa teoria ética deveria atender 
à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz 
de explicar as variações de comportamento, características das 
diferentes formações culturais e históricas. Dois nomes merecem ser 
logo citados, como estrelas de primeira grandeza desse firmamento: 
o grego antigo Sócrates (470-399 a.C.) e o alemão prussiano Kant 
(1724-1804).
Fonte: Valls (2005, p. 16).
Como uma avaliação acerca dos costumes, para reprová-los ou 
aceitá-los, a moral corresponde a algo de constitutivo da sociedade. 
Efetivamente, não se pode imaginar a vida social sem a presença 
de regras de conduta a que se devam cingir seus protagonistas. 
Contudo, o processo segundo o qual essa esfera da cultura ganha 
autonomia e vem a ser considerada sem referenciais religiosos, ou 
de outra índole, é de muito difícil reconstituição.
Mas ambas, ética e moral, precisam de outros indivíduos para 
poderem constituir um sentido e uma determinada condição de 
organização social e de hábitos. Ressaltamos que existem dois 
grandes momentos de configuração da moral no Ocidente. O primeiro 
é proveniente da cultura judaico-cristã, com o estabelecimento do 
decálogo e sua posterior reinterpretação feita por meio do anúncio 
do Evangelho de Jesus Cristo. O segundo momento é caracterizado 
pelas questões lógicas e a presença de uma relação racional com a 
elaboração ética das filosofias gregas e do pensamento dele resultante. 
Mas ambas, ética e 
moral, precisam de 
outros indivíduos 
para poderem 
constituir um sentido 
e uma determinada 
condição de 
organização social e 
de hábitos.
16
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Presumivelmente, os códigos de que se tem notícia ou foram 
preservados correspondem a fenômeno tardio. Antes de atingir esses 
estágios avançados de sistematização, deve ter-se efetivado esforço 
inimaginável na linha da fixação de normas que contribuíssem para 
a coesão e a sobrevivência dos agrupamentos humanos. Além de 
tardios, os códigos são precedidos de larga tradição oral. Assim, a 
partir mesmo do texto fundamental para a cultura ocidental que é o 
Deuteronômio de Moisés, sabe-se que só assumiu a forma que nos 
foitransmitida no século V antes de Cristo, muitas centúrias após a 
morte daquele a quem é atribuída sua autoria. No mesmo ciclo, são 
conhecidas outras codificações, consagradoras de tradições culturais 
diversas. Afora tais dificuldades, a moralidade revestiu-se de feição 
perfeitamente diferenciada entre o Ocidente e o Oriente, registrando 
as teorizações sobre a moral nos países do Oriente grandes avanços 
em relação ao Ocidente, facultando elucidação mais precisa de 
diversos problemas teóricos. 
Esse tipo de moralidade aparece associado à religião e, do ponto 
de vista em que nos colocamos, o momento inicial mais destacado é 
representado pelo texto bíblico denominado Deuteronômio (palavra 
que provém da tradução grega da Bíblia e significa “a segunda lei”). 
O Deuteronômio, por sua vez, é parte do Pentateuco (coleção dos 
cinco livros de Moisés). Na Bíblia, Moisés apresenta o Decálogo ou 
Dez Mandamentos da Lei de Deus, que na cultura ocidental viria a 
constituir-se no ponto de partida para a elaboração da moralidade, 
uma das dimensões essenciais do homem, ao lado da religiosidade, 
da política, do direito etc. 
Na tradição cristã, o texto fundamental em que se retoma 
a pregação de Moisés é o Sermão da Montanha, no primeiro dos 
evangelhos que abrem o Novo Testamento: Evangelho segundo São 
Mateus. Os evangelhos correspondem a uma espécie de compilação 
do que se contava acerca de Cristo. A primeira seria devida ao 
Apóstolo Mateus, em Jerusalém, que a teria escrito em arameu 
(língua do povo que vivia em Aram, denominação da Síria antiga), 
não se tendo conservado o seu texto. A versão que figura na Bíblia 
é a tradução grega, efetivada por volta do ano 70 de nossa era. A 
Bíblia contém outras três compilações de tais eventos, denominadas 
Evangelhos segundo São Marcos, São Lucas e São João [...].
17
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
O segundo momento do processo de constituição da moral 
ocidental é representado pela meditação grega. Enquanto na tradição 
judaica, incorporada ao Velho Testamento, a moral é ensinada como 
sendo constituída de preceitos sugeridos diretamente pela divindade, 
o pensamento grego está voltado para a delimitação das esferas 
da vida humana. Nessa busca é que iria esbarrar com o problema. 
Os gregos chamariam ética à elaboração teórica que se dirige à 
conceituação da moralidade. Na Grécia, a reflexão autônoma acerca 
do comportamento moral do homem tem uma história muito rica, 
se bem que os estudiosos do tema destaquem as contribuições de 
Sócrates (470/399 a.C.) e Platão (438/348 a.C.). Contudo, Aristóteles 
(384/322 a.C.) é o autêntico fundador da disciplina filosófica a que 
se deu o nome de ética, tendo ademais formulado os principais de 
seus problemas teóricos. A busca do conceito de ética, na meditação 
grega, obedece a dois esquemas fundamentais: sua dissociação do 
conceito de política; e identificação da ética seja com a sabedoria, 
com a virtude ou com o prazer. 
Fonte: Paim, Prota e Rodriguez (s.d., p. 3).
É na cultura humana que se organiza a moral e seus aspectos de 
entendimento dos nossos costumes. É na sistematização cultural que se 
desenvolve o problema da moral como costume, como hábito de um determinado 
grupo de pessoas. Neste aspecto, a moral não é igual a cultura, é exercida dentro 
de uma determinada cultura. 
Segundo a perspectiva da tradição judaico-cristã que fundamenta a teologia, 
somos seres feitos à imagem e semelhança de Deus e por isso somos descritos 
no livro da criação como seres capazes de entender o que o Criador quer de nós. 
Somos feitos à imagem e semelhança de Deus e por isso temos obrigações 
morais com relação ao nosso criador. Quando o homem e Deus se unem em uma 
aliança do povo eleito e começam uma relação de cunho moral e de fé é que 
podemos notar a diversidade das atitudes possíveis em nossa existência.
Em muitos momentos o ser humano procurou se afastar da vontade do 
Criador e tentou se colocar como um ser autônomo e independente. Contudo, em 
todos estes momentos acabou por retornar aos dilemas morais de sempre. 
18
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Em sua infinita bondade, Deus não nos abandonou, ele continuou a seguir os 
nossos passos e confirmar a sua vontade de nos levar para junto dele. Por mais 
paradoxal que possa parecer, toda vez que nos afastamos dele, Ele nos procurou 
e apresentou sua proposta de salvação. 
Nas discussões acerca da moral e da ética cristã estes dilemas sempre estão 
presentes, sendo pauta de estudos da Teologia Moral, que é uma forma de leitura 
do comportamento humano a partir da ótica da religiosidade.
Atividade de Estudos:
1) Como vimos, a Ética e a Moral são disciplinas cujas reflexões têm 
como ponto de partida e objeto de estudo o agir humano. Nós 
vivemos hoje em uma sociedade na qual as relações são cada dia 
mais complexas e o agir humano, por consequência, também o é. 
Assim, leia o fragmento do artigo: Teologia moral, bioética e cultura 
da morte, de José Antônio Tafaretti, e a partir dele identifique um 
dilema moral que vivenciamos na sociedade atual.
 “Vivemos num contexto social cujos paradigmas estão se 
transfor mando rapidamente”. Schockenhoff (2010, p. 369) afirma 
que atualmente “temos um universo policêntrico que é definido 
pela falta de um princípio estrutural dominante e por uma 
pluralidade de perspectivas que gozam de igual posição”. Essa 
cultura policêntrica, que caracteriza o comporta mento de pessoas 
e instituições, tem gerado situações sociais, culturais e religiosas 
que manifestam um estado de crise. Essa é uma crise econô-
mica global que tem, evidentemente, suas incidências sobre a 
vida moral de pessoas ou de grupos. A crise atual é estrutural 
e formal (OLIVEIRA, 1993). Estrutural porque afeta a vida das 
instituições (família, escola, igreja, polícia etc.) e formal porque 
tem colocado em xeque-mate o papel dos agentes morais como 
indivíduos dotados de comportamento ético. Não se trata de uma 
crise passageira, mas de um processo permanente, deixando 
atônitos todos os envolvidos. É necessário estarmos atentos e 
nos prepararmos para enfrentá-la.
 Estamos todos indignados! O caráter cético ou niilista da 
sociedade de massa não é difícil de ser compreendido. O mundo 
dos shopping centers, das vitrines coloridas, a sensação de vazio 
19
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
ao fazermos uma compra têm produzido uma cultura do nada. 
Um nada que se expressa na indiferença e apatia de muitos 
brasileiros (TRASFERETTI, 2007). Crescemos tecno logicamente, 
é verdade, mas estamos cada vez mais empobrecidos como 
pessoas humanas. Mediocridade e banalidades reinam em 
nossas rela ções. O sorriso fácil estampado no rosto de milhões 
de brasileiros beira a mentira ontológica que se consome entre 
um hambúrguer e outro. Como recuperar a saúde pessoal? 
Como curar a alma do sofrimento e da frag mentação banal? Os 
males dos homens contemporâneos estão em livros, revistas, 
periódicos, jornais e televisão.
 Para Bauman (1997), é possível observar que o mal-estar na 
atual civilização está associado a um estilo de vida que conduz 
as pessoas à ausência de si mesmas. De acordo com Vidal 
(2003), a Teologia Moral é uma ciência prática que procura 
ajudar as pessoas no discernimento no momento das escolhas 
morais. Fazemos escolhas morais todos os dias de muitos 
modos, mas como fazer boas escolhas morais vivendo num 
país eminentemente corrupto? Do ponto de vista moral, estamos 
viven do momentos complexos no Brasil e no mundo. A violência 
não tem fim! É comum encontrarmos pessoas que não sabem 
discernir entre o ato moral “correto” e o “incorreto”. Justiça e 
injustiça são valores que se perderam no tempo, criando confusão 
na sociedade. Muitos vivem como folhas balança das pelo vento, 
não têm raízes. Pessoas assim são levadas pelo consumismo 
e se perdem neste emaranhado de nomes e cores disformes, 
pior ainda: na sociedade pós-moderna o poder social sobre as 
pessoas aumentou.Somos vítimas de um mundo dominado pelo 
marketing. O mercado com o seu de sejo insaciável de lucro e 
molda o comportamento de todos”
Fonte: Trasferetti (2013, p. 149-150).
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20
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Os Sujeitos do agir Moral
O agir moral, por si, não pode ser compreendido senão em relação ao 
sujeito que promove a ação. Segundo Pighin (2005), no passado era realizada 
uma dissociação tendo em vista uma preocupação em definir o que era ou não 
lícito ser realizado a partir de comportamentos isolados. Entretanto, como vimos 
na seção anterior, a moral é um conjunto de costumes estabelecidos e como tal 
fundamenta o agir humano, e este só pode ser entendido, pela reflexão ética, em 
suas ocasiões particulares.
“A partir de uma perspectiva teológica, existem basicamente dois 
sujeitos do agir moral: o ser humano e a sociedade” (PIGHIN, 2005, 
p. 133). Criado por Deus à sua imagem e semelhança e chamado 
à corresponsabilidade junto à criação, o ser humano é dotado de 
características que o diferenciam dos demais seres criados e que 
propiciam a esse a ação moral.
 
A primeira característica é a autoconsciência, a capacidade de 
compreender sua própria identidade, tendo em vista a percepção dos 
seus processos psíquicos de autocompreensão.
A segunda característica é a racionalidade, a capacidade de pensar de 
forma abstrata a realidade que o cerca. Esta abstração permite a ele a elaboração 
de conceitos e sentidos que irão fundamentar a forma como este irá expressar 
seus juízos de valor. Estes juízos são a base de toda a ação moral e de sua 
posterior reflexão.
A terceira característica é a capacidade de autodeterminação a partir da 
forma como ele conceitua e atribui sentido à realidade, o ser humano tem a 
possibilidade de estabelecer escolhas e decidir entre várias alternativas possíveis.
 
Contudo, não podemos cair no reducionismo de afirmar que o ser humano, 
enquanto sujeito moral, é definido somente a partir destas três características. Elas 
são as fundamentais, mas questões relacionadas à afetividade, à sexualidade, às 
relações de poder, dentre tantas outras, também são importantes no processo de 
ação moral. 
Outro ponto fundamental para definirmos o sujeito do agir moral é a questão 
da heteronomia e da autonomia.
“A partir de uma 
perspectiva 
teológica, existem 
basicamente dois 
sujeitos do agir 
moral: o ser humano 
e a sociedade” 
(PIGHIN, 2005, p. 
133).
21
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
O moralista Bruno Fábio Pighin nos alerta que a compreensão 
da sociedade como sujeito do agir moral é recente. E esta deve-se 
às seguintes circunstâncias: “O sujeito do agir moral, para muitos 
séculos de história do cristianismo, foi considerado apenas a pessoa 
individual enquanto responsável pelos seus atos. Isso aconteceu 
em razão de uma visão individualista. No século XX, em particular, 
amadureceu, ao invés, uma visão mais atenta à sociedade, 
graças também às contribuições de diversas disciplinas, como a 
sociologia, a estatística, as ciências políticas e econômicas. Todavia, 
alguns movimentos ideológicos, como o comunismo marxista e a 
contestação global que explodiu em 1968, contribuíram cada qual ao 
seu modo para chamar a atenção sobre a sociedade como artífice de 
moralidade”. (PIGHIN, 2005, p. 140).
Por heteronomia compreendemos a dependência da vontade 
em relação à faculdade do desejo. Por autonomia entendemos a 
independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto 
de desejo.
Assim, a pessoa heterônoma é aquela que tem uma postura passiva 
frente à moral. Ela se permite influenciar e dominar por seus impulsos internos, 
circunstâncias, pela sorte, pelo medo, pela vontade alheia, sem exercer, por 
meio de sua consciência, suas escolhas de forma livre. Já a pessoa autônoma é 
aquela que tem uma postura ativa, que se fundamenta em uma forma equilibrada 
de controle das pulsões internas e no posicionamento, a partir dos seus valores, 
frente à realidade que o cerca, de forma responsável, livre e independente. 
No que diz respeito à concepção de sociedade como um sujeito do agir 
moral, é importante salientarmos que tal visão não tem como objetivo diminuir 
a centralidade da pessoa no desenvolvimento da ação moral. Mas reconhecer a 
existência de “sujeitos morais que transcendem a identidade individual e que se 
qualificam como sociais, econômicos, políticos, educacionais”, e que a partir de 
uma determinada ideologia têm atividades e finalidades imbuídas de senso moral 
(PIGHIN, 2005, p. 140). 
22
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Assim, quando nos referimos à sociedade, estamos designando agregações 
de pessoas que têm a possibilidade “de colocar em ato decisões e operações 
que tendem a alcançar objetivos” em torno de valores e finalidades em comum 
(PIGHIN, 2005, p. 141). Alguns exemplos que podemos dar são: associações 
de moradores, empresas, partidos políticos, organizações não governamentais, 
comunidades religiosas, entre outras.
Como vimos, os dois sujeitos da ação moral, o ser humano e a 
sociedade (agregação de pessoas), possuem características de ação 
diferenciadas, mas, ao mesmo tempo, níveis de responsabilidade 
semelhantes perante suas práticas.
Em especial, quando nos referimos à atuação moral de diferentes 
organismos da sociedade, encontramos uma grande e vasta seara 
de exemplos de como, de forma autônoma e a partir de valores 
específicos, pode-se dedicar à promoção ou defesa de uma causa.
Dentre estes grupos está a Organização não governamental 
Anistia Internacional, que desde 1961 realiza campanhas e ações 
para o reconhecimento, a promoção e a defesa, em nível nacional e 
internacional, dos direitos humanos.
Assim, buscando ampliar sua compreensão sobre o papel da 
sociedade no processo do agir moral, acesse o site: <https://anistia.
org.br> e procure nos documentos publicados o Informe Anual 
intitulado: O estado dos direitos humanos no mundo. Leia a seção 
que aborda os direitos humanos no Brasil. 
Se você quiser conhecer outras organizações civis que 
desenvolvem um agir moral sistematizado, damos como sugestão os 
seguintes sites:
• Cruz Vermelha Internacional: <https://www.icrc.org/pt>.
• Médicos sem fronteiras: <http://www.msf.org.br/>.
• Cáritas Internacional: <http://www.caritas.org/>.
https://anistia.org.br
https://anistia.org.br
https://www.icrc.org/pt
http://www.msf.org.br/
http://www.caritas.org/
23
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Na perceptiva teológica, o agir moral tem sua origem na narração da criação 
do ser humano à imagem e semelhança de Deus. Esta se fundamenta em seis 
características básicas:
1. A racionalidade, isto é, a capacidade e a obrigação que 
o humano tem de conhecer e de compreender o mundo 
criado.
2. A liberdade, que implica a capacidade e o dever de decidir 
e a responsabilidade que a pessoa tem pelas decisões 
tomadas (Gn 2).
3. Uma posição de comando, porém de modo algum absoluto, 
e sim sob o domínio de Deus.
4. A capacidade de agir em conformidade com Aquele do qual 
a pessoa humana é imagem, ou seja, de imitar Deus.
5. A dignidade de ser uma pessoa, um ser ‘relacional’, capaz 
de ter relações pessoais com Deus e com os outros seres 
humanos (Gn 2).
6. A busca da santidade da vida humana (PONTIFÍCIA 
COMISSÃO BÍBLICA, 2008, p. 8).
Observamos que estas características da existência humana configuram o 
seu modo moral de ver e se relacionar com este mundo à sua volta. Contudo, 
cada uma destas características citadas traz uma série de implicações morais. 
Dentre estas, podemos citar: 
1) O conhecimento e o discernimentofazem parte do dom 
de Deus. O ser humano é capaz e, como criatura, está obrigado a 
indagar o projeto de Deus e a procurar discernir a vontade divina 
para poder agir com justiça. 
2) Por causa da liberdade que lhe é dada, o ser humano é chamado 
ao discernimento moral, à escolha, à decisão. Em Gn 3,22, depois do 
pecado de Adão e a sua sanção, Deus diz: “Eis que o homem se tornou 
como um de nós, capaz de conhecer o bem e o mal”. O texto é difícil 
de explicar. Por um lado, tudo indica que a afirmação tem um sentido 
irônico, porque mediante as próprias forças, apesar da proibição, o 
homem procurou apoderar-se do fruto e não esperou que Deus lhe 
desse no tempo oportuno. De outro lado, o significado da árvore do 
conhecimento total – assim se deve entender a expressão bíblica 
‘conhecer o bem e o mal’ – não se limita a uma perspectiva moral, mas 
significa também o conhecimento dos resultados bons e maus, isto é, 
do futuro e do destino: isso compreende o domínio do tempo, que é 
competência exclusiva de Deus. Quanto à liberdade moral dada ao 
ser humano, ela não se reduz a uma simples autorregulamentação e 
autodeterminação, uma vez que o ponto de referência não é o eu nem 
o tu, mas o próprio Deus. 
24
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
3) A posição de comando confiada ao ser humano implica 
responsabilidade, empenho de gestão e administração. Também ao 
homem compete a tarefa de formar de modo “criativo” o mundo feito 
por Deus. Ele deve aceitar essa responsabilidade, também porque 
a criação não deve ser conservada num estado determinado, mas 
está desenvolvendo-se, e o homem, como ser que une em si mesmo 
natureza e cultura, encontra-se junto a toda a criação. 
4) Essa responsabilidade deve ser exercitada de um modo sábio 
e benévolo, imitando o domínio do próprio Deus sobre a sua criação. 
Os homens podem conquistar a natureza e explorar as amplidões do 
espaço. Os extraordinários progressos científicos e tecnológicos do 
nosso tempo podem ser considerados como realizações da tarefa 
dada pelo Criador à humanidade, a qual, entretanto, deve respeitar 
os limites fixados pelo Criador. Caso contrário, a Terra torna-se 
lugar de exploração indevida, que pode destruir o delicado equilíbrio 
e a harmonia da natureza. Seria certamente ingênuo pensar que 
possamos encontrar a solução da atual crise ecológica no Salmo 
8; ele, porém, entendido no contexto de toda a teologia da criação 
em Israel, questiona praxes hodiernas e exige um novo sentido de 
responsabilidade pela Terra. Deus, a humanidade e o mundo criado 
estão conexos entre si e por isso também teologia, antropologia e 
ecologia. Sem o reconhecimento do direito de Deus em relação a nós 
e em relação ao mundo, o domínio degenera facilmente em dominação 
desenfreada e em exploração que conduzem ao desastre ecológico. 
5) A dignidade que as pessoas possuem como seres relacionais 
convida-as e as obriga a procurarem e viverem um relacionamento com 
Deus a quem devem tudo; fundamental para o relacionamento com 
Deus é a gratidão (cf. o parágrafo seguinte, n. 12, baseado nos salmos). 
Isso também implica entre as pessoas uma dinâmica das relações de 
responsabilidade comum, de respeito ao outro e uma contínua busca de 
equilíbrio, não somente entre os sexos, mas também entre a pessoa e a 
comunidade (entre valores individuais e sociais). 
6) A santidade da vida humana requer um respeito e tutela 
totalmente abrangentes, e veta o derramamento do sangue humano, 
“porque à imagem de Deus ele fez o ser humano” (Gn 9,6). 
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 11).
25
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Liberdade e a Responsabilidade no 
Agir Moral
A questão da liberdade é um tema central para a reflexão ética, tendo em 
vista que ela é que pressupõe a possibilidade da ação moral. O ser humano só 
pode ser considerado como um sujeito do agir moral se suas atitudes partirem de 
uma escolha livre.
Neste ponto poderíamos questionar: o que é a liberdade? Contudo, tal questão 
não possui uma resposta única e nem simples. A liberdade é um conceito complexo 
que diversos pensadores, de diferentes tempos históricos, buscaram compreender. 
A partir de suas reflexões, podemos esquematicamente afirmar que existem 
basicamente três formas de entender a liberdade em relação ao agir moral:
1) Como autocausalidade, ou autodeterminação, afirmam a possibilidade da 
existência da liberdade por meio da escolha realizada de forma autônoma.
2) Há aqueles que defendem o determinismo, não acreditam na 
possibilidade de um agir moral livre, tendo em vista os condicionamentos 
presentes na realidade.
3) Por fim, alguns afirmam que a vivência da liberdade só é possível por meio 
de um processo de complementariedade entre as duas visões anteriores. 
Os condicionamentos, ou seja, aquilo que impõe limites à 
liberdade, podem ser classificados de duas formas, como estruturais 
e acidentais. Os condicionamentos estruturais são aqueles 
relacionados à estrutura biológica da pessoa (incluindo processos 
bioquímicos e psíquicos) e às suas relações socioculturais. Os 
condicionamentos acidentais, por sua vez, podem ser de caráter 
transitório ou permanente, e estão associados a situações 
particulares de cada pessoa, como doenças e acesso à informação.
Fonte: Pighin (2005, p. 147).
26
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
A concepção de liberdade entendida como autocausalidade ou 
autodeterminação é “incompatível com qualquer determinação externa ao sujeito” 
(VAZQUEZ, 2005, p. 120). Fundamenta-se na noção de que a vontade humana 
tem a plena possibilidade de determinar a si mesma, sem ser influenciada por 
condicionantes externos. O sujeito dá a si mesmo os significados e os motivos nos 
quais seu agir moral se fundamenta. Isto não significa a negação dos condicionantes 
externos, mas a afirmação da autonomia da vontade frente a estes. 
Contemporaneamente, ao defender esta visão de liberdade, Jean Paul Sartre 
enfatiza as escolhas que o ser humano faz perante a realidade devem estar 
pautadas na vontade humana. Lutar ou resignar, continuar ou parar são atitudes 
movidas interiormente e não determinadas por circunstâncias apresentadas pelo 
mundo que nos cerca. Por este motivo é que Sartre afirma que “o homem está 
condenado a ser livre”, pois “uma vez que foi lançado no mundo é responsável por 
tudo o que faz” (SARTRE, 1973, p. 12). Leia o texto no qual Sartre fundamenta 
esta compreensão da liberdade:
 “Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria 
permitido”. Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato, tudo 
é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está 
desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada 
a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. Com 
efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser 
explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva; 
ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é 
liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já 
prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. 
Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no 
reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma 
desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar 
dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, 
porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma 
vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. O 
existencialismo não acredita no poder da paixão. Ele jamais admitirá 
que uma bela paixão é uma corrente devastadora que conduz o 
homem, fatalmente, a determinados atos, e que, consequentemente, 
é uma desculpa. Ele considera que o homem é responsável por 
sua paixão. O existencialista não pensará nunca, também, que o 
27
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o oriente 
no mundo, pois considera que é o próprio homem quem decifra osinal como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio 
e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante”.
Aqueles que defendem o determinismo entendem que tudo na 
realidade concreta está submetido a uma ordem natural que dá a si 
mesma suas leis, regras e normas. Assim, sendo o ser humano parte 
da natureza, ele estaria submetido a estas. Neste ponto, poderíamos 
afirmar que para o determinismo não há a possibilidade de liberdade 
na ação, tendo em vista que os condicionamentos externos são um 
impeditivo para o exercício dela. 
Mas é necessário compreender que para estes pensadores esta 
ordem natural não é apenas externa, mas também interna. A pessoa, como parte 
integrante da realidade concreta do mundo, também está submetida a esta ordem 
e ela é que interiormente rege as ações humanas. A liberdade, nesta perspectiva, 
não é entendida como uma livre escolha da pessoa, mas é a necessidade de agir 
em concordância com sua natureza e o ordenamento que possui. 
Por fim, há ainda os que defendem a vivência da liberdade como um processo 
de complementariedade entre as duas visões anteriormente apresentadas. Para 
ser livre não é uma concepção abstrata, que se pressupõe apenas no trabalho 
da consciência que busca doar sentido à realidade e a partir deste sentido 
realizar suas escolhas. Mas, também a liberdade não está relacionada apenas à 
factibilidade do mundo que nos impõe condicionamentos. 
Merleau-Ponty nos alerta que essa dualidade entre a concepção abstrata e 
a factível da liberdade produz uma cisão na própria compreensão do ser humano. 
Para ele, a liberdade reside exatamente a partir da complementação entre 
consciência e natureza, entre mundo interior e exterior: “A verdade não habita 
apenas no homem interior, ou antes, não existe homem interior, o homem está no 
mundo que ele se conhece” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 6). 
A liberdade, nesta 
perspectiva, não 
é entendida como 
uma livre escolha 
da pessoa, mas é a 
necessidade de agir 
em concordância 
com sua natureza e 
o ordenamento que 
possui.
28
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Atividade de Estudos:
1) Como vimos, a liberdade é a condição essencial para o agir 
moral. Mas, por si, a liberdade é uma realidade complexa. 
O texto a seguir, do pensador Merleau-Ponty, reflete sobre a 
complexidade da liberdade frente à moral e ao proceder humano. 
Assim, após a leitura e reflexão do texto, explique o paradoxo 
existente entre a liberdade e os determinismos da vida humana.
 “O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer 
do mundo e nascer no mundo. O mundo está já constituído, 
mas também não está nunca completamente constituído. Sob 
o primeiro aspecto, somos solicitados, sob o segundo somos 
abertos a uma infinidade de possíveis. Mas esta análise ainda 
é abstrata, pois existimos sob os dois aspectos ao mesmo 
tempo. Portanto, nunca há determinismo e nunca há escolha 
absoluta, nunca sou coisa e nunca sou consciência nua. Em 
particular, mesmo nossas iniciativas, mesmo as situações que 
escolhemos, uma vez assumidas, nos conduzem como que por 
benevolência. A generalidade do “papel” e da situação vem em 
auxílio da decisão e, nesta troca entre a situação e aquele que 
a assume, é impossível delimitar a “parte da situação” e a “parte 
da liberdade”. Torturam um homem para fazê-lo falar. Se ele se 
recusa a dar os nomes e os endereços que querem arrancar-
lhe, não é por uma decisão solitária e sem apoios; ele ainda se 
sente com seus camaradas e, engajado ainda na luta comum, 
está como que incapaz de falar; ou então, há meses ou anos, 
ele afrontou esta provação em pensamento e apostou toda a 
sua vida nela; ou enfim, ultrapassando-a, ele quer provar aquilo 
que sempre pensou e disse da liberdade. Esses motivos não 
anulam a liberdade, mas pelo menos fazem com que ela não 
esteja sem escoras no ser. Finalmente, não é uma consciência 
nua que resiste à dor, mas o prisioneiro com seus camaradas ou 
com aqueles que ele ama e sob cujo olhar ele vive. [...]. E sem 
dúvida é o indivíduo, em sua prisão, quem revivifica a cada dia 
esses fantasmas, eles lhe restituem a força que ele lhes deu, 
mas, reciprocamente, se ele se envolveu nesta ação, se ele ligou 
a estes camaradas ou aderiu a esta moral, é porque a situação 
histórica, os camaradas, o mundo ao seu redor, parecem esperar 
dele aquela conduta. Assim, poderíamos continuar sem fim a 
29
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
análise. Escolhemos nosso mundo e o mundo nos escolhe. A 
escolha que fazemos de nossa vida sempre tem lugar sobre a 
base de um certo dado. Minha liberdade pode desviar minha vida 
de sua direção espontânea, mas por uma série de deslizamentos, 
primeiramente esposando-a, e não por alguma criação absoluta. 
Todas as explicações de minha conduta por meu passado, meu 
temperamento, meu ambiente são, portanto, verdadeiras, sob 
a condição de que os consideremos não como contribuições 
separáveis, mas como momentos de meu ser total do qual é-me 
permitido explicar o sentido em diferentes direções, sem que 
alguma vez se possa dizer se sou eu quem lhes dá seu sentido 
ou se o recebo deles. Sou uma estrutura psicológica e histórica. 
Com a existência recebi uma maneira de existir, um estilo. 
Todos os meus pensamentos e minhas ações estão em relação 
com esta estrutura, e mesmo o pensamento de um filósofo não 
é senão uma maneira de explicitar seu poder sobre o mundo, 
aquilo que ele é. E, todavia, sou livre, não a despeito ou aquém 
dessas motivações, mas por seu meio, pois esta vida significante, 
esta certa significação da natureza e da história que sou eu, não 
limita meu acesso ao mundo, ao contrário, ela é meu meio de 
comunicar-me com ele. É sendo sem restrições nem reservas 
aquilo que sou presentemente que tenho oportunidade de 
progredir, é vivendo meu tempo que posso compreender os outros 
tempos, é me entranhando no presente e no mundo, assumindo 
resolutamente aquilo que sou por acaso, querendo aquilo que 
quero, fazendo aquilo que faço que posso ir além. Só posso deixar 
a liberdade escapar se procuro ultrapassar minha situação natural 
e social recusando-me a em primeiro lugar assumi-la, em vez de, 
através dela, encontrar o mundo natural e humano”. 
Fonte: Merleau-Ponty (1999, p. 608-611).
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30
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
No que diz respeito à noção cristã de liberdade, é preciso esclarecer que ela 
não se fundamenta em nenhuma das visões aqui apresentadas. Ela é entendida a 
partir de um ponto de vista soteriológico, ou seja, por meio da salvação oferecida por 
Deus aos seres humanos na pessoa de Cristo. É Nele que a pessoa encontra seus 
sentidos e valores e é chamada a viver de forma responsável em busca da santidade.
Quem desenvolveu uma vasta apreciação sobre o tema da liberdade foi São 
Paulo, em suas epístolas. Para ele, a existência cristã nada mais é que uma vida 
de profunda experiência da liberdade. O cristão liberto por Jesus, não apenas das 
amarras do pecado e da morte, mas também da escravidão da lei, é chamado a 
viver uma vida em Cristo, que tem como pilares a busca da santidade e o serviço 
à justiça (Rm 6, 18-23). 
Neste sentido, a liberdade não pode ser confundida com autodeterminação 
a partir da qual o homem estabelece o que é lícito ou não fazer. A liberdade não 
pode se tornar, segundo São Paulo, argumento para viver segundo a carne e 
segundo os vícios (Rm 6, 15).
“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é 
permitido, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma. Os 
alimentos são para o ventre e o ventrepara os alimentos, e Deus 
destruirá aqueles e este. Mas o corpo não é para a fornicação e, sim, 
para o Senhor, e o Senhor é para o corpo” (1 Cor. 6, 12-13).
Esta noção, própria da teologia paulina, influenciou demasiadamente Santo 
Agostinho. Este, a partir das noções de liberdade e livre-arbítrio, salienta que o ser 
humano tem a possibilidade de realizar suas escolhas. Estas o levarão a realizar 
atitudes boas (segundo a vontade de Deus) ou más (que divergem da vontade 
de Deus). Contudo, a pessoa somente será livre à medida que suas escolhas 
forem afastando ela do mal, proveniente do pecado, e se aproximando de Deus 
por meio da vivência da graça (TOMASEVICIUS, 2006, p. 1084).
31
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
O livre-arbítrio deve ser entendido como a possibilidade 
que o ser humano tem de livre escolha (entre o bem e o mal). Já 
a liberdade é aquela condição de escolha na qual o ser humano 
vivencia a presença e o dom da graça de Deus. A graça deve ser 
entendida como fruto da misericórdia de Deus e que possibilita a 
força necessária para a vivência do bem.
Razão prática, como a capacidade humana de pensar e 
raciocinar tendo em vista que está voltada para o agir.
Assim, na concepção cristã a liberdade não é vista como um fim em si 
mesma e nem tendo um valor absoluto, mas sua vivência tem um duplo objetivo: a 
promoção da caridade (1 Cor. 9, 19) e da justiça (Rm 6, 18) a partir dos princípios 
do Evangelho. 
Consciência Moral
Nas diferentes circunstâncias que a vida apresenta somos impelidos a 
fazer escolhas. Estas devem estar fundamentadas em um agir autônomo, livre e 
responsável. Para que isto seja possível, fazemos uso da consciência moral. 
Mas como podemos definir a consciência moral? Para respondermos tal 
questão, é necessário compreender a estrutura racional do agir humano.
Habermas (1989) afirma que o homem pode fazer três usos 
diferentes da razão prática: o uso pragmático, o uso ético e o uso 
moral (HABERMAS, 1989, p. 5), todavia o que determina a ação, 
em cada um dos três casos, é a motivação mais fundamental ou o 
interesse que impulsiona. 
Uso pragmático, o 
uso ético e o uso 
moral.
32
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
O primeiro tipo de uso define o agir orientado através de fins, do resultado que 
se deseja obter. Esse tem como princípio a eficácia e procura sanar a necessidade 
de um indivíduo, ou um grupo pequeno inserido em uma coletividade. 
O uso ético da razão prática é aquele que busca o que é considerado bom 
para toda uma sociedade, as ações visam ao bem-estar de todos. Contudo, tal 
uso não estabelece uma ruptura com a visão individualista e egocêntrica, pois 
“a vida boa para mim toca também às formas de vida que nos são comuns” 
(HABERMAS, 1989, p. 9). Assim, a vida boa é definida pelo grupo social ao qual 
o indivíduo pertence, trata-se de um ideal coletivo ancorado na tradição, ao qual é 
necessário integrar-se. 
O terceiro tipo de uso é o moral, que está em contraposição aos dois 
anteriores, pois é movido pela pergunta: será que determinada realidade 
é moralmente certa? Rompe-se com as tradições e com os valores e surge a 
pergunta se determinada ação é justa. É um tipo de atitude que busca horizontes 
de expectativas diferentes, pois analisa a situação posta procurando discernir o 
que é justo e benéfico. 
Assim, podemos afirmar que a consciência moral é a estrutura a partir da 
qual as relações humanas se estabelecem. Ela está relacionada:
• A um processo avaliativo das atitudes humanas;
• À tomada de decisão frente às situações que a vida nos apresenta, e;
• À responsabilidade sobre as consequências de nossas ações.
Entretanto, esta estrutura própria da consciência moral não é algo inato, mas 
vai sendo desenvolvido pelo ser humano. Segundo Pighin (2005), este processo 
de elaboração ocorre a partir de três dinamismos psicossociais. 
O primeiro deles é a identificação, por meio da qual a pessoa se reconhece 
como um ser capaz de fazer avaliações, julgamentos e escolhas frente às 
diferentes conjunturas que a vida apresenta. 
Por meio deste dinamismo é que o sujeito pode estabelecer um processo de 
rejeição das avaliações e ações que não estejam relacionadas a si mesmo, a suas 
escolhas autônomas, mas que tenham sido tomadas ou impostas por outrem.
Estas duas dinâmicas proporcionam a idealização, ou seja, a capacidade de 
distinguir entre o seu estado de vida atual e o que é chamado a realizar por meio 
de suas escolhas pessoais.
33
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Um dos pensadores que ao estudar o processo de desenvolvimento cognitivo 
da criança nos ajuda a compreender também o de consciência moral é Piaget 
(1896-1980). Segundo ele, a criança possui quatro fases de desenvolvimento: 
o sensório-motor (de 0 a 2 anos de idade), o pré-operatório (de 2 a 7 anos de 
idade), de operações concretas (de 7 a 12 anos) e o de operações formais (a 
partir dos 12 anos). Em cada um destes estágios encontramos a presença dos 
três dinamismos sociais. 
Assim, a partir da proposta de Piaget (2012), podemos afirmar que a con-
sciência moral é desenvolvida por meio de quatro fases:
1) Anomia: neste período as escolhas morais estão diretamente ligadas ao 
comportamento pulsional do que lhe dá prazer ou causa desconforto.
2) Heteronomia: fase em que acontece o acolhimento paulatino das normas 
morais, sem ainda um processo de questionamento do mesmo. A pessoa 
sabe que a transgressão da norma moral irá acarretar uma punição e 
que a conformidade de sua vida com a mesma pode lhe proporcionar 
benefícios.
3) Socionomia: o comportamento da pessoa se caracteriza a partir 
da pertença dela a um determinado grupo social, representado 
principalmente pela família. O estabelecimento de normas específicas 
auxilia na percepção de que a moral não está relacionada apenas às 
ações individuais, mas também coletivas. 
4) Autonomia: é o período em que as convicções morais que foram sendo 
desenvolvidas são assumidas pelo indivíduo, tornando-se próprias. Suas 
ações e escolhas estarão fundamentadas em suas próprias convicções e 
vividas de maneira coerente. 
É importante salientar que este esquema proposto por Piaget 
(2012) se refere a um processo ideal de formação da consciência 
moral. Muitas vezes, as pessoas, mesmo adultas, ainda permanecem 
em estado de heteronomia moral, ou seja, suas ações e escolhas 
expressam apenas a mera obediência às normas morais.
34
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Um exemplo clássico de dilema moral foi o famoso caso dos 
sobreviventes de um acidente aéreo em 1972 nos Andes. Estes, 
para sobreviverem às condições inóspitas da região onde estavam, 
tiveram que optar por comer a carne humana de seus amigos 
mortos que estavam enterrados na neve. Com a transgressão moral 
da antropofagia, eles conseguiram que um número de pessoas 
sobrevivesse até encontrar ajuda 69 dias após o acidente.
Caso você queira conhecer detalhes do exemplo dado, 
acesse o site: <http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/
aviao-caiu-nos-andes-sobreviventes-precisaram-comer-os-mortos-
em-1972-11124788>.
Os dilemas morais não proporcionam a relativização da moral, mas 
demonstram a cada um de nós a importância do processo de discernimento frente 
às circunstâncias. Aristóteles afirmava que para isto era necessário ao homem o 
desenvolvimento da virtude. 
A virtude era definida em termos de uma escolha prudente em uma situação 
concreta – na qual sempre permanecia o meio entre dois extremos, o equilíbrio 
entre os contrários (TARNAS, 2000, p. 83). A esta sabedoria prática Aristóteles 
dava o nome de phrônesis. 
É importante salientar que a partir da vivência autônoma da consciência 
moral, a pessoa tem a possibilidade de identificar os conflitos existentes entre 
as circunstâncias que se apresentam e as normas morais. É a partir do exercício 
autônomo que a pessoa identifica aquilo que denominamos dilemas morais.
Estes podem ser entendidos, segundo Moser (1996),como situações 
particulares que, em busca de evitar um mal ou solucionar um impasse, acabamos 
flexibilizando ou transgredindo uma norma moral. 
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/aviao-caiu-nos-andes-sobreviventes-precisaram-comer-os-mortos-em-1972-11124788
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/aviao-caiu-nos-andes-sobreviventes-precisaram-comer-os-mortos-em-1972-11124788
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/aviao-caiu-nos-andes-sobreviventes-precisaram-comer-os-mortos-em-1972-11124788
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Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Phrônesis: “disposição prática acompanhada de uma razão 
veraz, em torno do que é bem e mal para o homem” (ARISTÓTELES, 
1992, VI, 1140 b). A phrônesis ajudaria o ser humano para que ele 
direcione seu agir para os verdadeiros fins, no sentido de apontar os 
meios mais saudáveis para alcançá-los.
Assim, por meio da phrônesis, ou seja, de uma capacidade de integrar 
o conhecimento com a vivência cotidiana, a pessoa se torna capaz de refletir 
sobre o dia a dia, e encontrar o justo meio nas ações. Sendo este o processo 
de reflexão da consciência moral: de compreender seus valores e começar a 
detectar o que seria justo.
Atividade de Estudos: 
1) A partir do que refletimos sobre a formação da consciência 
moral e ainda sobre sua importância frente aos dilemas morais, 
leia o fragmento do texto: O retorno do estágio 6, de Lawrence 
Kohlberg, e identifique o motivo pelo qual o autor apresenta o 
diálogo como fundamental para a resolução dos dilemas morais.
O dilema apresenta uma situação na qual há três pessoas 
em um bote e com quase nenhuma chance de sobrevivência 
a não ser que uma dessas pessoas saia dele. As três pessoas 
são o capitão, que é quem sabe navegar, um homem forte 
e jovem e um velho fraco com o ombro quebrado e que não 
pode remar eficientemente. Nenhum deles quer saltar do bote 
espontaneamente. Parece haver três escolhas neste dilema. A 
primeira é uma solução utilitária extrema, baseada na chance 
de salvar mais vidas. Essa solução exige que o capitão mande 
o velho saltar do bote. A segunda solução, que pode ser 
considerada mais justa, seria tirar a sorte para ver quem deve 
pular. A terceira solução é aquela na qual ninguém pula do bote, 
caso em que há uma grande probabilidade de todos virem a 
morrer. Em resposta a esse dilema, o juiz D. diz: Penso que eles 
realmente deveriam ter tirado a sorte. Esse método, pelo menos, 
seria consistente com minha convicção de igualdade entre os 
36
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
seres humanos. Nenhuma vida é melhor que a outra e não há 
razão no mundo para dois tirarem a vida de outro. E o motivo é 
exatamente o mesmo a que venho me referindo, isto é, o respeito 
pela dignidade da vida humana. [...]
O juiz D. resolve o dilema do bote salva-vidas com o 
princípio de respeito pelas pessoas manifestado na opção de 
tirar a sorte. No entanto, ele não interpreta esse princípio como 
a obrigatoriedade de obter a concordância por meio do diálogo. 
[...]. Ao contrário, a concepção de Joana de respeito pelas 
pessoas a leva a procurar o acordo por meio do diálogo a ponto 
de manter o diálogo, na situação do bote salva-vidas, embora, 
nessas condições, fique muito ameaçada a probabilidade de 
sobrevivência de todos. [...] – como ela afirma – acho que nessa 
situação é difícil acreditar que ninguém tomaria a decisão de 
pular do barco, mas se não o fizerem, todos irão morrer. Quero 
dizer que os três estão na situação juntos, devendo haver uma 
decisão cooperativa ou nada.
Enquanto afirmamos que a disposição de entrar em diálogo 
é uma parte necessária do ponto de vista moral, também 
questionamos se o compromisso de Joana com a busca de 
acordo por meio do diálogo até que todos morram seria a solução 
moralmente mais correta ao dilema. [...] Frankena relaciona 
claramente a necessidade de diálogo com o ponto de vista 
moral. Entretanto, também está consciente do fato de que o 
diálogo pode ser interrompido. Neste caso, Frankena afirma que 
o pensador moral maduro não exige um consenso real, mas um 
consenso ideal. Como ele diz: ‘Aqui entra a autonomia do agente 
moral – ele deve adotar o ponto de vista moral exigindo um 
consenso eventual com outros que fazem o mesmo, porém ele 
próprio deve julgar (mesma que se engane)’.
Fonte: Kohlberg (2002, p. 108-112).
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Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Os Fundamentos Bíblicos da Moral 
Cristã
Ao abordarmos a questão da moral nas Sagradas Escrituras, é importante 
salientar alguns aspectos basilares.
A moral deve ser entendida não apenas como um conjunto de normas 
e regras, mas a partir do princípio da revelação de Deus ao ser humano, pois, 
biblicamente, os dois princípios fundantes do discurso sobre a moral são: a criação 
e a aliança. A primeira como aquela que propicia o dom da vida, e a segunda que 
oferece uma relação íntima do ser humano com Deus.
“O Deus da Bíblia não revela antes de tudo um código, mas “a si 
mesmo” no seu mistério e “o mistério da sua vontade” (PONTIFÍCIA 
COMISSÃO BÍBLICA, 2008, p. 4). 
No coração da Primeira Aliança, o “caminho” designa ao mesmo 
tempo um percurso de êxodo (o evento libertador primordial) e um 
conteúdo didático, a Torá. No coração da Nova Aliança, Jesus diz 
de si mesmo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). 
Condensa, portanto, na sua pessoa e na sua missão, toda a dinâmica 
libertadora de Deus e também, em certo sentido, toda a moral, 
concebida teologicamente como dom de Deus, isto é, caminho para 
chegar à vida eterna, à intimidade total com Ele.
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 5).
Nesta perspectiva é que podemos falar de uma moral revelada, pois a lei 
moral presente nas Escrituras é parte deste processo de revelação e se constitui 
um caminho por meio do qual a criatura se aproxima do Criador. 
Nesta perspectiva, ao pensarmos o conteúdo moral apresentado na Sagrada 
Escritura, temos que ter o cuidado necessário para não o segmentar. Os dois 
testamentos narram a história da revelação. 
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 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
A partir destes pressupostos, vamos nos aproximar das 
Escrituras buscando compreender a moral como um caminho para o 
relacionamento com Deus. Pois, “relação entre dom divino e resposta 
humana, entre ação antecedente de Deus e tarefa do homem, é 
determinante para a Bíblia e para a moral nela revelada” (PONTIFÍCIA 
COMISSÃO BÍBLICA, 2008, p. 7).
Assim, ao falarmos da moral no Antigo Testamento, temos que ter 
em mente, em linhas gerais, que o homem justo é aquele que tem e cultiva uma 
relação de Aliança e que caminha junto a Deus. O homem injusto e pecador, por 
sua vez, é considerado como aquele que rompe esta Aliança buscando, a partir 
da livre escolha, fundamentar suas ações.
Isto é verificável a partir da descrição dos diferentes personagens 
veterotestamentários. Adão e Eva, por exemplo, ao desobedecerem a Deus e 
romperem a aliança que havia sido firmada, desviam seu caminho do caminho 
divino (Gn. 3, 8). Abraão é considerado como um homem justo, tendo em vista 
que abandona sua terra e assume o caminho que Deus lhe mostra rumo à terra 
prometida (Gn. 12,1).
Contudo, nos diferentes conjuntos de escritos do Antigo Testamento, 
encontramos diferentes formas de abordagem do tema da moral: fundamentada 
na lei, nos livros proféticos e nos livros sapienciais. 
No que diz respeito à primeira abordagem, a da lei, presente nos escritos do 
Pentateuco e dos Livros Históricos, podemos salientar as seguintes características: 
o contexto é o da Aliança de Deus com seu povo. O conteúdo moral possui 
formulaçõesum pouco diferentes nos diversos livros, tendo principalmente como 
influência o estilo de vida dos diferentes povos. Geralmente, este conteúdo é 
expresso em caráter de proibição, e estas não se limitam a prescrições exteriores, 
mas principalmente estão relacionadas à dimensão interior do homem.
Para Pighin (2005, p. 93), estas características dão à conduta moral 
pressuposta na lei alguns significados essenciais: 
• A moral é entendida como dom de Deus para alcançar a salvação;
• A vida moral é uma resposta do humano à ação salvífica de Deus;
• Entendida como empenho social, a moral é que norteia a vida do povo 
de Israel frente à vivência da aliança;
• A moral é compreendida como uma escolha de liberdade para o homem 
e para a comunidade;
• A moral é realizada como obediência a Deus e não como uma imposição 
exterior abstrata;
Vamos nos 
aproximar das 
Escrituras buscando 
compreender a 
moral como um 
caminho para o 
relacionamento com 
Deus.
39
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
• A moral tem um valor histórico, aberto à possibilidade de modificação, 
mas sempre no respeito à fidelidade a Deus na história.
Atividade de Estudos:
1) Observando as características da moral fundamentadas na lei, 
compreendemos que esta não se baseia em simples cumprimento 
de preceitos, mas, de forma mais ampla, a lei é entendida como 
um caminho que conduz a Deus. Assim, leia o fragmento do 
documento Bíblia e Moral, da Pontifícia Comissão Bíblica, e 
aponte como o texto destaca a importância da Aliança para a vida 
do povo.
De que maneira expressou Israel, na sua literatura sagrada, 
essa aliança única entre o povo e Deus, esse Deus que desde o 
início o acompanha, o liberta, se dá a ele e o recolhe?
Das alianças humanas à aliança teológica
Num dado momento, difícil de determinar com exatidão, um 
conceito interpretativo maior (abrangente) impôs-se aos teólogos 
de Israel: a noção de aliança.
O tema tornou-se tão importante que determinou, desde o 
início, ao menos retrospectivamente, a concepção das relações 
entre Deus e o seu povo privilegiado. De fato, no relato bíblico, o 
evento histórico fundamental e fundador é quase imediatamente 
seguido por uma conclusão de aliança: “no terceiro mês depois 
da saída do Egito” (Ex 19,1), respectivamente símbolo de um 
tempo divino e símbolo de um início. Isso quer dizer: o evento 
fundamental e fundador inclui, no seu alcance meta-histórico, a 
estipulação da aliança no Sinai a tal ponto que, da perspectiva de 
uma teologia bíblica diacrônica, o evento primordial será descrito 
nos termos de êxodo-e-aliança.
Além disso, esse conceito interpretativo, que vem aplicado 
aos eventos da saída do Egito, estende-se retrospectivamente ao 
passado em forma de etiologia. De fato, encontra-se no Gênesis. 
A ideia da aliança é utilizada para descrever o relacionamento 
entre o SENHOR Deus e Abraão, o antepassado (Gn 15; 17). 
40
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Antes, num passado ainda mais longínquo e misterioso, entre o 
SENHOR Deus e os seres vivos que sobreviveram ao dilúvio no 
“tempo” de Noé, o patriarca (Gn 9, 8-17).
No antigo Próximo e Médio Oriente as alianças entre 
contraentes humanos existiam em forma de tratados, 
convenções, contratos, matrimônios, e até em pactos de 
amizade. E deuses protetores funcionavam como testemunhas 
e fiadores no processo da estipulação dessas alianças humanas. 
Também a Bíblia recorda alianças desse gênero.
Porém, até prova em contrário – e nenhum documento 
arqueológico até agora encontrado torna inválida essa 
constatação – a transposição teológica da ideia da aliança é uma 
originalidade bíblica: só aí se encontra o conceito de uma aliança 
propriamente dita entre um contraente divino e um ou mais 
contraentes humanos.
A aliança entre contraentes desiguais
 
É certo que Israel, nas origens, não podia sequer sonhar 
em exprimir a sua relação privilegiada com Deus, o Totalmente 
Outro, o Transcendente, o Onipotente, segundo um esquema de 
igualdade, horizontal:
 Deus ↔ Israel
No momento em que se introduziu a ideia teológica da 
aliança, espontaneamente se pôde pensar só nas alianças entre 
contraentes desiguais, bem conhecidas na praxe diplomática 
e jurídica do antigo Próximo Oriente extrabíblico: os famosos 
tratados de vassalagem
É difícil excluir completamente o influxo da ideologia política 
da vassalagem como ponto concreto de referência para a 
compreensão da aliança teológica. A intuição de um contraente 
divino que toma e preserva a iniciativa de um termo ao outro do 
processo da aliança constitui a perspectiva de fundo de quase 
todos os textos maiores da aliança no Antigo Testamento.
 Deus
 ↕
 Israel
41
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
‘Nesse tipo de relacionamento entre os contraentes, o 
soberano empenha-se para com o vassalo e empenha o vassalo 
para consigo. Noutras palavras, ele obriga-se para com o 
vassalo do mesmo modo como obriga o vassalo de sua parte. 
No processo das estipulações da aliança, Ele é o único que se 
exprime: o vassalo, nessa etapa, permanece calado.
Esse duplo movimento exprime-se, em campo teológico, 
através de dois termos principais: a Graça (o SENHOR empenha-se 
a si mesmo) e a Lei (o SENHOR empenha o povo que se torna sua 
“propriedade”: Ex 19,5-6). Nessa moldura teológica, a graça pode ser 
definida como o dom (incondicionado, em certos textos) que Deus 
faz de si mesmo. E a Lei, como o dom que Deus faz à coletividade, 
de um meio, uma via, um “caminho” ético-cultual que permite ao ser 
humano entrar e permanecer “em situação de aliança.
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 7).
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Nesta perspectiva da Aliança se insere a questão dos dez mandamentos. 
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, em seu parágrafo 2067, “os dez 
mandamentos enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. Os 
três primeiros referem-se mais ao amor de Deus: os outros sete, ao amor do 
próximo”. Contudo, apesar desta diferenciação, não podemos tomar o decálogo 
como proposições separadas umas das outras. Há uma unidade indissociável 
na qual cada um dos mandamentos se completa e se esclarece mutuamente 
(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1999, p. 2069).
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 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
O Decálogo compreende-se, antes de mais nada, no contexto do 
Êxodo que é o grande acontecimento libertador de Deus, no centro 
da Antiga Aliança. Quer sejam formulados como preceitos negativos 
ou interdições, quer como mandamentos positivos (por exemplo: 
“Honra teu pai e tua mãe”), as “dez palavras” indicam as condições 
duma vida liberta da escravidão do pecado.
Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, p. 2057).
A abordagem moral realizada nos livros proféticos, por sua vez, não 
traz elementos novos à compreensão àquela feita por meio da lei. Mas, 
como portadores da mensagem de Deus, os profetas acabam por incidir na 
conduta moral do povo. Isto ocorre em situações de correção de conduta. 
Entre os temas tratados encontramos a defesa do culto a Deus não apenas 
como uma obrigação moral, mas uma celebração da própria vida da pessoa. 
A necessidade da vivência dos deveres sociais, como o apoio aos mais fracos 
e vulneráveis. Mas, principalmente, a recusa de uma obediência formalista e 
exterior aos preceitos da lei, ressaltando principalmente a necessidade de uma 
interiorização destes preceitos, impedindouma vivência meramente imperativa e 
promovendo uma vivência responsável.
A abordagem moral 
realizada nos livros 
proféticos.
O justo comportamento moral é um tema fundamental em todos 
os profetas, mas não o tratam jamais por si mesmo nem de modo 
sistemático. Eles ocupam-se da ética sempre em relação com o fato 
de que Deus conduz Israel através da história. [...] Sobre a base da 
presença de Deus na história de Israel, os profetas confrontaram 
o povo com o seu efetivo modo de viver, que estava em plena 
contradição com a “Lei” de Deus. Essa regra divina para a conduta 
de Israel continha toda sorte de normas e costumes, provenientes 
da jurisdição tribal e local, das tradições familiares, do ensinamento 
sacerdotal e da instrução sapiencial. A pregação moral dos profetas 
põe o acento sobre o conceito social de ‘justiça’. Os profetas 
confrontaram a sociedade israelita com esse modelo humano e 
divino em todos os aspectos.
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 36-37).
43
Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
Por fim, a abordagem moral realizada nos Livros Sapienciais difere 
das anteriores, pois seu conteúdo pode ser considerado como amplo, 
abordando diversos aspectos da vida e a necessidade do cultivo da 
modéstia e da sabedoria. Por este motivo, encontramos em poucas 
passagens uma reflexão fundamentada no interdito, sua estrutura argumentativa 
proporciona o oferecimento de conselhos, e o estabelecimento de máximas que 
promovem a deliberação sobre os aspectos da existência.
Em especial, nos Salmos percebemos uma abordagem da condição humana 
como uma criatura que busca a Deus ou por Ele é buscado, denotando a 
fragilidade da existência e a necessidade humana do Criador. 
A abordagem moral 
realizada nos Livros 
Sapienciais.
O Criador assinalou uma posição especial ao ser humano. Não 
obstante a fragilidade e a caducidade humanas, o salmista afirma 
com assombro: “Contudo, tu o fizeste só um pouco menor que um 
deus, de glória e de honra o coroaste. Tu o colocaste à frente das 
obras de tuas mãos, tudo puseste sob os seus pés (Sl 8, 6-7). “Glória” 
e “honra” são atributos do rei: mediante eles vem atribuída ao ser 
humano uma posição régia na criação de Deus. Esse “status” torna o 
ser humano próximo de Deus, o qual é sobremaneira caracterizado 
por “glória” e “honra” (cf. Sl 29,1: Sl 104, 1), e o coloca, ao homem, 
acima do restante da criação. Chama-o a governar sobre o mundo 
criado, mas com responsabilidade e de modo sábio e benévolo, 
características do reino do próprio Criador.
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 9).
Outra característica importante é que a estrutura narrativa não fundamenta 
sua argumentação primeiramente na Palavra de Deus, mas nas circunstâncias 
próprias da vida, do bom senso e buscando gerar uma avaliação sobre a 
viabilidade das ações. Isto tem como objetivo a busca de uma vida equilibrada, a 
partir do relacionamento com Deus que proporciona a realização do ser humano. 
44
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
Escopo dos livros sapienciais é ensinar o justo comportamento 
às pessoas. Por isso, constituem uma manifestação importante 
da ética bíblica. Alguns são mais determinados pela experiência 
humana (por exemplo, o livro dos Provérbios) e pela reflexão sobre 
a condição humana, constituindo um nexo precioso com a sabedoria 
de outros povos, enquanto outros se encontram num relacionamento 
mais estreito com a Aliança e com a Torá. Ao primeiro grupo pertence 
o livro de Coélet; ao segundo, o livro do Sirácida. Destes dois livros 
nos ocupamos a título de exemplo.
Fonte: Pontifícia Comissão Bíblica (2008, p. 39).
No Novo Testamento, as questões relativas à moral continuam a ser 
entendidas a partir do relacionamento do humano com o divino. Contudo, a partir 
da pessoa de Jesus, de sua vida e pregação, os ensinamentos morais passam 
por um processo de reinterpretação.
Antes de abordarmos especificamente este assunto, é importante pontuar 
que o Jesus histórico conformava sua vida e existência às normativas próprias 
da sociedade judaica. Era assíduo frequentador da sinagoga, realizava 
várias peregrinações a Jerusalém, salientava a importância da vivência dos 
mandamentos como caminho para se encontrar a vida eterna. 
Entretanto, em várias passagens dos Evangelhos sinóticos encontramos Jesus 
com um comportamento moral que não apenas contrariava a Lei, mas apresentava 
uma nova perspectiva para a vivência dessa. Um dos pontos mais polêmicos eram 
atividades de Jesus no dia de sábado, considerado pelos judeus como dia sagrado 
e no qual nenhuma atividade deveria ser realizada. Mas em diversas passagens 
encontramos os doentes sendo curados e a palavra anunciada.
Os Evangelhos sinóticos são os de Mateus, Marcos e Lucas, 
que possuem em comum uma certa cronologia da vida, pregação, 
morte e ressureição de Jesus.
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Introdução à Ética Cristã Capítulo 1 
“Ele estava ensinando numa das sinagogas, no sábado. E 
havia ali uma mulher que tinha um espírito de fraqueza havia 18 
anos; ela estava encurvada e não conseguia de modo algum se 
endireitar. Quando a viu, Jesus lhe dirigiu a palavra, dizendo: “Mulher, 
você está livre da sua fraqueza”. E ele pôs as mãos sobre ela, e ela 
se endireitou instantaneamente e começou a glorificar a Deus. Em 
vista disso, porém, o presidente da sinagoga, indignado porque 
Jesus havia feito a cura no sábado, disse à multidão: “Há seis dias 
em que se deve trabalhar; portanto, venham nesses dias e sejam 
curados, e não no dia de sábado”. O Senhor, porém, respondeu-lhe: 
“Hipócritas! Cada um de vocês, no sábado, não desata o seu touro 
ou o seu jumento da baia e o leva para beber água? Não deveria 
esta mulher, que é filha de Abraão e a quem Satanás manteve presa 
por 18 anos, ser libertada dessa prisão no dia de sábado?” Quando 
ele disse isso, todos os seus opositores ficaram envergonhados” (Lc. 
13, 10-17).
“E dizia-lhes: o sábado foi feito para o homem, e não o homem 
para o sábado; e para dizer tudo, o Filho do homem é senhor também 
do sábado” (Mc. 2, 27-28).
Nesta perspectiva Jesus apresenta uma nova perspectiva moral, que não 
se fundamenta na negação da antiga Lei, ou na formação de um novo estatuto 
normativo, mas, sim, dar-lhes seu pleno cumprimento (Mt. 5, 17). Em especial, 
no Evangelho de Mateus encontramos várias ocasiões nas quais Jesus se 
posicionava frente à lei de Moisés buscando dar-lhe uma nova interpretação. 
Dentre estas, em especial, vamos abordar a que Jesus trata do tema do divórcio.
É importante salientarmos que na lei mosaica o divórcio é permitido (Dt. 24, 
1). Quando interpelado pelos fariseus sobre se tal atitude é lícita, Jesus se opõe 
firmemente a tal prática, afirmando que ela foi permitida por Moisés por causa da 
dureza do coração humano. E evocando a narração da criação, ele salienta que 
esta prática nem sempre foi assim.
46
 TEOLOGIA MORAL E ÉTICA
“Após esses discursos, Jesus deixou a Galileia e veio para a 
Judeia, além do Jordão. Uma grande multidão o seguiu e ele curou 
seus doentes. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É 
permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? 
Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o 
homem e a mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se 
unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não 
são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que 
Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar 
um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-
lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia 
tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora, 
eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no 
caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E 
aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério” 
(Mt. 19, 1-9).
Nesta perspectiva, percebemos que a proposta moral contida

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