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5. A luta pela jornada normal de trabalho.
Leis compulsórias para o prolongamento da jornada de
trabalho, da metade do século XIV ao fim do século XVII
“Que é uma jornada de trabalho?” De quanto é o tempo durante
o qual o capital pode consumir a força de trabalho, cujo valor diário
ele paga? Por quanto tempo pode ser prolongada a jornada de trabalho
além do tempo de trabalho necessário à reprodução dessa mesma força
de trabalho? A essas perguntas, viu-se que o capital responde: a jornada
de trabalho compreende diariamente as 24 horas completas, depois de
descontar as poucas horas de descanso, sem as quais a força de trabalho
fica totalmente impossibilitada de realizar novamente sua tarefa. En-
tende-se por si, desde logo, que o trabalhador, durante toda a sua
existência, nada mais é que força de trabalho e que, por isso, todo seu
tempo disponível é por natureza e por direito tempo de trabalho, por-
tanto, pertencente à autovalorização do capital. Tempo para educação
humana, para o desenvolvimento intelectual, para o preenchimento de
funções sociais, para o convívio social, para o jogo livre das forças
vitais físicas e espirituais, mesmo o tempo livre de domingo — e mesmo
no país do sábado santificado443 — pura futilidade! Mas em seu impulso
OS ECONOMISTAS
378
em 6 horas! E o trabalho dura freqüentemente 14 a 15 horas. Em muitas dessas vidrarias
vigora, como nas fiações de Moscou, o sistema de revezamento de 6 horas. “Durante o
tempo de trabalho da semana, o período ininterrupto mais longo de descanso é de 6 horas,
e dele tem de ser deduzido o tempo para ir à fábrica, voltar, lavar-se, vestir-se, alimentar-se,
e tudo isso custa tempo. Assim só fica para descanso um período extremamente curto. Não
sobra tempo para brincar e ar puro, a não ser à custa do sono, tão indispensável às crianças
que executam um trabalho tão fatigante numa atmosfera tão quente. (...) Mesmo o breve
sono é interrompido, pois o menino tem de despertar a si mesmo, à noite, ou é despertado
por ruídos externos de dia.” O senhor White apresenta casos, de um jovem que trabalhou
36 horas consecutivas; outros, de meninos de 12 anos que se esfalfam até as 2 horas da
noite dormindo na fábrica até as 5 horas da manhã (3 horas!) para começar de novo o
trabalho! “A massa de trabalho”, dizem os redatores do relatório geral, Tremenheere e
Tufnell, “que os meninos, as meninas e mulheres realizam, no curso de seu período de
trabalho (spell of labour) diário, noturno ou diurno, é fabulosa.” (Op. cit., p. XLIII e XLIV.)
Enquanto isso cambaleia, talvez tarde da noite, o capital do vidro “cheio de abstinência” e
de vinho do Porto, do clube para casa, cantarolando imbecilmente: Britons never, never,
shall be slaves!**
* Cristal. (N. dos T.)
** Ingleses nunca, nunca serão escravos! (N. dos T.)
443 Na Inglaterra, por exemplo, ainda se condena às vezes, no campo, um trabalhador à prisão
por profanação do sábado, por trabalhar no jardinzinho em frente à sua casa. O mesmo
trabalhador é punido por quebra de contrato, se falta ao trabalho aos domingos, seja mesmo
por beatice religiosa, nas usinas metalúrgicas, de papel ou vidro. O parlamento ortodoxo
não tem ouvidos para a profanação dos sábados, quando ela se dá no “processo de valorização”
do capital. Num memorial (agosto de 1863) em que os diaristas londrinos das peixarias e
casas de aves reivindicam a supressão do trabalho aos domingos, consta que seu trabalho
nos primeiros 6 dias da semana dura, em média, 15 horas diárias, e no domingo, 8 a 10
horas. Por esse memorial ficamos sabendo, ao mesmo tempo, que a refinada gourmandise*
dos beatos aristocráticos de Exeter Hall** incentiva esse “trabalho aos domingos”. Esses
“santos” tão cuidadosos in cute curanda*** demonstram seu cristianismo pelo modo resignado
com que suportam a estafa, as privações e a fome de terceiros. Obsequium ventria istis
(dos trabalhadores) perniciosius est.****

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