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Cirrose hepática A cirrose é uma doença crônica caracterizada pela substituição do tecido hepático normal por fibrose difusa, que desorganiza a estrutura e a função do fígado. Existem três tipos de cirrose ou cicatrização do fígado: Cirrose alcoólica, em que o tecido cicatricial circunda tipicamente as áreas portais. É causada mais frequentemente por alcoolismo crônico e constitui o tipo mais comum de cirrose Cirrose pós-necrótica, em que são observadas faixas largas de tecido cicatricial. Trata-se de um resultado tardio de um surto prévio de hepatite viral aguda Cirrose biliar, em que a cicatrização ocorre no fígado, ao redor dos ductos biliares. Esse tipo de cirrose geralmente resulta de obstrução biliar crônica e infecção (colangite); é muito menos comum. A parte do fígado principalmente acometida na cirrose consiste nos espaços portal e periporta, em que os canalículos biliares de cada lóbulo comunicam-se para formar os ductos biliares hepáticos. Essas áreas transformam-se em locais de inflamação, e os ductos biliares ficam ocluídos por bile espessada e pus. O fígado procura formar novos canais biliares; em consequência, observa-se um crescimento excessivo de tecido, constituído, em grande parte, por ductos biliares recém-formados e desconectados, circundados por tecido cicatricial. Fisiopatologia Vários fatores têm sido implicados na etiologia da cirrose. A déficit nutricional com redução do aporte de proteína contribui para a destruição hepática na cirrose, mas o consumo excessivo de bebidas alcoólicas constitui o principal fator etiológico na esteatose hepática e suas consequências. No entanto, a cirrose também pode ocorrer em indivíduos que não consomem bebidas alcoólicas e naqueles que consomem uma dieta normal e apresentam alto consumo de bebidas alcoólicas. Alguns indivíduos parecem ser mais suscetíveis que outros a essa doença, independentemente de apresentarem ou não alcoolismo ou desnutrição. Outros fatores podem desempenhar uma função, incluindo exposição a determinadas substâncias químicas (tetracloreto de carbono, naftaleno clorado, arsênico ou fósforo) ou esquistossomose infecciosa. Os homens são duas vezes mais acometidos que as mulheres, embora, por motivos desconhecidos, as mulheres correm maior risco de desenvolver doença hepática induzida por bebidas alcoólicas. A maioria dos clientes tem entre 40 e 60 anos de idade. Nos EUA, mais de 27.000 pessoas morrem anualmente de doenças hepáticas crônicas e cirrose (Mehta & Rothstein, 2009). A cirrose alcoólica caracteriza-se por episódios de necrose acometendo as células hepáticas, que, algumas vezes, ocorrem repetidamente durante toda a evolução da doença. As células hepáticas destruídas são gradualmente substituídas por tecido cicatricial. Por fim, a quantidade de tecido cicatricial excede a do tecido hepático funcionante. Ilhas de tecido normal residual e tecido hepático em regeneração podem projetar-se das áreas contraídas, conferindo ao fígado cirrótico a sua aparência característica de cravo. A doença geralmente apresenta um início insidioso e uma evolução prolongada, estendendo-se, em certas ocasiões, por um período de 30 anos ou mais. Os prognósticos para as diferentes formas de cirrose causadas por várias doenças hepáticas foram investigados em vários estudos. Dentre os numerosos indicadores prognósticos, a classificação de ChildPugh parece ser mais valiosa na previsão do resultado de clientes com doença hepática (Tabela 49.5). Essa classificação também é utilizada na escolha das abordagens de manejo. Manifestações clínicas Os sinais e sintomas de cirrose aumentam quanto à sua gravidade à medida que a doença evolui, e a gravidade é utilizada para classificar o distúrbio em cirrose compensada ou descompensada (Boxe 49.11). A cirrose compensada, com seus sintomas menos graves e frequentemente vagos, pode ser descoberta em consequência de um exame físico de rotina. As características essenciais da cirrose descompensada resultam da incapacidade do fígado de sintetizar proteínas, fatores da coagulação e outras substâncias e das manifestações da hipertensão portal. Cirrose compensada → Febre baixa intermitente → Aranhas vasculares → Eritema palmar → Epistaxe inexplicada → Edema maleolar → Indigestão matinal vaga → Dispepsia flatulenta lenta → Dor abdominal → Fígado aumentado e firme → Esplenomegalia Cirrose descompensada → Ascite → Icterícia → Fraqueza → Debilidade muscular → Perda de peso → Febre baixa e contínua → Baqueteamento digital → Púrpura devido à contagem diminuída das plaquetas → Equimoses espontâneas → Epistaxe → Hipotensão → Pelos corporais escassos → Unhas quebradiças → Atrofia gonadal Hipertrofia do fígado No início da evolução da cirrose, o fígado tende a aumentar (hepatomegalia), e as células estão carregadas de gordura. O fígado apresenta consistência firme e margem aguda, que é perceptível à palpação. Pode haver dor abdominal, devido ao aumento recente e rápido do fígado, produzindo tensão sobre o revestimento fibroso do fígado (cápsula de Glisson). Posteriormente, na evolução da doença, o fígado diminui de tamanho, à medida que o tecido cicatricial contrai o tecido hepático. A margem hepática, quando palpável, é nodular. Obstrução portal e ascite A obstrução portal e a ascite – que constituem manifestações tardias da cirrose – são causadas, em parte, pela insuficiência crônica da função hepática e, em parte, pela obstrução da circulação portal. Quase todo o sangue proveniente dos órgãos digestivos é coletado nas veias porta e transportado até o fígado. Como o fígado cirrótico não possibilita a passagem livre de sangue, este se acumula no baço e no trato GI, e esses órgãos transformam-se no local de congestão passiva crônica – isto é, ficam estagnados com sangue e, portanto, não podem funcionar apropriadamente. Em consequência, ocorrem indigestão e alteração da função intestinal. O líquido rico em proteína pode acumular-se na cavidade peritoneal, produzindo ascite. Isso pode ser detectado por meio de percussão para deslocamento da macicez ou onda de líquido (ver Figura 49.5). Infecção e peritonite Pode ocorrer desenvolvimento de peritonite bacteriana em clientes com cirrose e ascite, na ausência de uma fonte Intra-abdominal de infecção ou abscesso. Essa condição é designada como peritonite bacteriana espontânea (PBE). Acredita-se que a bacteremia em consequência da translocação da flora intestinal constitua a via mais provável de infecção. Os sinais clínicos podem estar ausentes, exigindo a realização de paracentese para o diagnóstico. A antibioticoterapia mostra-se efetiva no tratamento e na prevenção dos episódios recorrentes de PBE. A complicação mais grave da PBE consiste na síndrome hepatorrenal, uma forma de insuficiência renal que não responde à administração de líquido ou de agentes diuréticos. Esse tipo de insuficiência renal caracteriza-se pela ausência de alterações patológicas no rim; não há sinais de desidratação ou obstrução da via urinária, nem qualquer outro distúrbio renal. Varizes gastrintestinais A obstrução do fluxo sanguíneo através do fígado causada por alterações fibróticas também resulta na formação de vasos sanguíneos colaterais no sistema digestório e desvio do sangue dos vasos porta para os vasos sanguíneos com pressões mais baixas. Em consequência, o cliente com cirrose frequentemente apresenta vasos sanguíneos abdominais proeminentes e distendidos, que são visíveis à inspeção abdominal (cabeça de medusa), bem como vasos distendidos por todo o sistema digestório. O esôfago, o estômago e a parte inferior do reto constituem locais comuns de vasos sanguíneos colaterais. Esses vasos sanguíneos distendidos formam varizes ou hemorroidas, dependendo de sua localização (ver Figura 49.7). Como esses vasos não se destinam a transportar a pressão elevada e o volume de sangue impostos pela cirrose, podem sofrer ruptura e sangrar. Por conseguinte, a avaliaçãodeve incluir a observação de sangue oculto e franco proveniente do trato GI. Edema Outro sintoma tardio de cirrose é o edema, que é atribuído à insuficiência hepática crônica. A concentração plasmática reduzida de albumina predispõe o cliente à formação de edema. Embora seja generalizado, o edema frequentemente acomete os membros inferiores, os membros superiores e a área pré-sacral. O edema facial não é típico. Ocorre produção excessiva de aldosterona, causando retenção de sódio e de água e excreção de potássio. Déficit de vitaminas e anemia Devido à formação, uso e armazenamento inadequados de determinadas vitaminas (notavelmente as vitaminas A, C e K), os sinais de déficit são comuns, particularmente fenômenos hemorrágicos associados à déficit de vitamina K. A gastrite crônica e o comprometimento da função GI, juntamente com um aporte nutricional inadequado e comprometimento da função hepática, são responsáveis pela anemia que frequentemente está associada à cirrose. A anemia, o estado nutricional deficiente e o estado de saúde precário do cliente resultam em fadiga intensa, que interfere na capacidade de realizar as atividades de vida diária rotineiras. Deterioração mental Outras manifestações clínicas incluem deterioração da função mental e cognitiva, com encefalopatia hepática e coma hepático iminentes, conforme descrito anteriormente. Indica-se uma avaliação neurológica, incluindo avaliação do comportamento geral do cliente, capacidades cognitivas, orientação no tempo e no espaço e padrões de fala. Avaliação e achados diagnósticos A extensão da doença hepática e o tipo de tratamento são determinados após uma revisão dos achados laboratoriais. As funções do fígado são complexas, e muitos exames complementares fornecem informações sobre a função hepática (ver Tabela 49.1). O cliente precisa ser informado sobre o motivo pelo qual esses exames são realizados e como cooperar. Na disfunção hepática parenquimatosa grave, o nível sérico de albumina tende a diminuir, enquanto o nível sérico de globulina aumenta. Os testes enzimáticos indicam lesão hepatocelular: os níveis séricos de fosfatase alcalina, AST, ALT e GGT aumentam, enquanto o nível sérico de colinesterase pode diminuir. As determinações da bilirrubina são realizadas para medir a excreção ou a retenção de bile; podem ocorrer níveis aumentados de bilirrubina na cirrose e em outros distúrbios hepáticos. O tempo de protrombina está prolongado. A ultrassonografia é utilizada para medir a diferença de densidade das células parenquimatosas e do tecido cicatricial. A TC, a RM e a cintigrafia hepática com radioisótopo fornecem informações sobre o tamanho do fígado e o fluxo sanguíneo e obstrução hepáticos. O diagnóstico é confirmado por biopsia hepática. A análise da gasometria arterial pode revelar um desequilíbrio de ventilação- perfusão e hipoxia. Manejo clínico O manejo do cliente com cirrose baseia-se geralmente nos sintomas apresentados. Por exemplo, são prescritos anti-ácidos ou antagonistas H2 para diminuir o desconforto gástrico e minimizar a possibilidade de sangramento GI. As vitaminas e os suplementos nutricionais promovem a cicatrização das células hepáticas lesionadas e melhoram o estado nutricional geral do cliente. Diuréticos poupadores de potássio, como a espironolactona ou o triantereno, podem estar indicados para diminuir a ascite, quando presente; esses diuréticos são preferidos, visto que minimizam as alterações hidreletrolíticas comumente observadas com o uso de outros agentes. É essencial recomendar uma dieta adequada e evitar o consumo de bebidas alcoólicas. Embora a fibrose do fígado cirrótico não possa ser revertida, a sua progressão pode ser interrompida ou diminuída com essas medidas. Muitos medicamentos demonstraram exercer atividade antifibrótica no tratamento da cirrose. Alguns desses medicamentos incluem colchicina, inibidores do sistema de angiotensina, estatinas, diuréticos como a espironolactona, agentes imunossupressores e glitazonas, como a pioglitazona ou a rosiglitazona. Esses medicamentos apresentam um perfil de segurança razoável, mas a sua segurança e efetividade a longo prazo em clientes com cirrose ainda não foram demonstradas (Leung, 2011). Muitos clientes que apresentam doença hepática terminal (DHT) com cirrose usam a erva cardomariano (Silybum marianum) para tratar a icterícia e outros sintomas. Esse fitoterápico tem sido empregado durante séculos, em virtude de suas propriedades de cicatrização e regeneração na doença hepática. A silimarina ou cardomariano ou cardo leitoso contém propriedades anti- inflamatórias e antioxidantes que podem ter efeitos benéficos, particularmente na hepatite (Rakel, 2012). O composto natural, SAMe (Sadenosilmetionina), pode melhorar os resultados na doença hepática ao melhorar a função hepática, possivelmente por meio de um aumento da função antioxidante. A cirrose biliar primária tem sido tratada com ácido ursodesoxicólico para melhorar a função hepática. Manejo de enfermagem O manejo de enfermagem para o cliente com cirrose hepática é descrito detalhadamente no Boxe 49.12. As intervenções de enfermagem são direcionadas para promover o repouso do cliente, melhorar o estado nutricional, realizar o cuidado da pele, reduzir o risco de lesão e monitorar e tratar as complicações potenciais. Promoção do repouso O cliente com cirrose necessita de repouso e de outras medidas de suporte para possibilitar o restabelecimento da capacidade funcional do fígado. Se o cliente estiver hospitalizado, o peso e o equilíbrio hídrico são medidos e registrados diariamente. A enfermeira acomoda a posição do cliente no leito para uma eficiência respiratória máxima, o que é particularmente importante se ascite for acentuada, visto que ela interfere na excursão torácica adequada. A oxigenoterapia pode ser necessária na insuficiência hepática para oxigenar as células lesionadas e evitar qualquer destruição celular adicional. O repouso diminui as demandas sobre o fígado e aumenta o suprimento sanguíneo hepático. Como o cliente é suscetível aos perigos da imobilidade, são iniciados esforços para evitar os distúrbios respiratórios, circulatórios e vasculares. Essas medidas podem ajudar a evitar determinados problemas, tais como pneumonia, tromboflebite e úlceras de decúbito. Quando o estado nutricional melhora e a força aumenta, a enfermeira incentiva o cliente a aumentar gradualmente a atividade. São planejadas atividades e realização de exercício leve, bem como o repouso. Melhora do estado nutricional O cliente com cirrose, mas sem ascite, edema ou sinais de coma hepático iminente, deve receber uma dieta hiperproteica nutritiva, quando tolerada, suplementada com vitaminas do complexo B, bem como vitaminas A, C e K. A enfermeira incentiva o cliente a se alimentar. Na presença de ascite, refeições pequenas e frequentes podem ser mais bem toleradas que três grandes refeições, devido à pressão abdominal exercida pela ascite. O desequilíbrio da flora intestinal não é raro. As pesquisas sugerem que a ingestão de uma xícara de iogurte probiótico, 3 vezes/dia, reduz o desequilíbrio da flora intestinal ao diminuir as contagens de Escherichia coli (Liu, Zhang, Zhang et al., 2010). Os clientes com fezes gordurosas (esteatorreia) devem receber formas hidrossolúveis das vitaminas lipossolúveis A, D e E. O ácido fólico e o ferro são prescritos para evitar a anemia. Se o cliente apresentar sinais de coma iminente ou em progressão, apesar das intervenções clínicas, a quantidade de proteína na dieta pode ser temporariamente diminuída. A proteína é restrita se houver desenvolvimento de encefalopatia, que não pode ser tratada efetivamente com lactulose ou outras estratégias de tratamento clínico. A incorporação de proteína vegetal para suprir as necessidades proteicas pode diminuir o risco de encefalopatia. A restrição de sódio também está indicada para evitar a ascite. Os clientes com anorexiaprolongada ou intensa e aqueles que apresentam vômitos ou que se alimentam inadequadamente por qualquer motivo podem receber nutrientes por via enteral ou parenteral. Cuidado da pele É importante realizar um cuidado meticuloso da pele, em razão do edema subcutâneo, imobilidade do cliente, presença de icterícia e maior suscetibilidade à ruptura e infecção da pele. São necessárias mudanças frequentes de decúbito para evitar as úlceras de pressão. Deve-se evitar o uso de sabonetes irritantes e esparadrapo para que não ocorra traumatismo da pele. A aplicação de loção hidratante pode suavizar a pele irritada; a enfermeira toma medidas para minimizar a arranhadura pelo cliente. Redução do risco de lesão A enfermeira protege o cliente com cirrose de quedas e outras lesões. As grades laterais devem estar elevadas e acolchoadas caso o cliente fique agitado ou inquieto. Para diminuir a agitação, a enfermeira orienta o cliente quanto ao tempo e o lugar, e explica todos os procedimentos. Ela instrui o cliente a pedir ajuda para levantar-se do leito e avalia cuidadosamente qualquer lesão, devido à possibilidade de sangramento interno. Como existe o risco de sangramento em consequência da coagulação anormal, o cliente deve usar um barbeador elétrico, em vez de uma lâmina de barbear. O uso de uma escova de dentes com cerdas macias ajuda a reduzir o sangramento das gengivas, e a pressão aplicada a todos os locais de punção venosa ajuda a diminuir o sangramento. Monitoramento e manejo de complicações Uma importante função da enfermeira consiste em monitorar o cliente com cirrose quanto à ocorrência de complicações. Sangramento e hemorragia O cliente corre risco aumentado de sangramento e hemorragia, devido à produção diminuída de protrombina e à diminuição da capacidade do fígado doente de sintetizar as substâncias necessárias para a coagulação sanguínea (ver seção sobre Varizes esofágicas). Encefalopatia hepática A encefalopatia hepática e o coma, que constituem complicações da cirrose, podem manifestar-se na forma de deterioração do estado mental e demência, ou na forma de sinais físicos, tais como movimentos voluntários e involuntários anormais. A encefalopatia hepática foi discutida de modo detalhado anteriormente neste capítulo. O monitoramento é essencial para identificar a ocorrência de deterioração precoce do estado mental. A enfermeira monitora rigorosamente o estado mental do cliente e relata quaisquer alterações observadas, de modo que o tratamento da encefalopatia possa ser iniciado imediatamente. É essencial proceder a uma avaliação neurológica extensa em condições basais e contínua para identificar a progressão pelos quatro estágios da encefalopatia. Cada estágio no processo de evolução exige intervenções de enfermagem mais intensivas com a finalidade de proporcionar segurança ao cliente e evitar e identificar precocemente as complicações que comportam risco de vida, como insuficiência respiratória e edema cerebral, que exigem intervenções em uma UTI. Como os distúrbios eletrolíticos podem contribuir para a encefalopatia, os níveis séricos de eletrólitos são cuidadosamente monitorados e corrigidos, quando anormais. O oxigênio é administrado caso ocorra dessaturação de oxigênio. A enfermeira monitora o aparecimento de febre ou dor abdominal, que podem sinalizar o início de peritonite bacteriana ou outra infecção (ver discussão anterior sobre a encefalopatia hepática). Excesso de volume de líquido Os clientes com doença hepática crônica avançada desenvolvem anormalidades cardiovasculares. Estas ocorrem devido ao débito cardíaco aumentado e à diminuição da resistência vascular periférica, possivelmente em consequência da liberação de vasodilatadores. Observa-se o desenvolvimento de um estado circulatório hiperdinâmico em clientes com cirrose, e o volume plasmático aumenta. Esse aumento no volume plasmático circulante é provavelmente multifatorial; no entanto, alguns estudos implicaram a produção excessiva de óxido nitroso, conforme observado na sepse, como fator etiológico (Gordon, 2012). Quanto maior o grau de descompensação hepática, mais grave o estado hiperdinâmico. A avaliação rigorosa dos estados cardiovascular e respiratório é de suma importância para o cuidado de clientes com esse distúrbio. O comprometimento pulmonar sempre constitui uma complicação potencial da DHT, devido ao excesso de volume plasmático; em consequência, a enfermeira desempenha uma importante função na prevenção das complicações pulmonares. A administração de agentes diuréticos, a implementação da restrição de líquidos e a correção do posicionamento do cliente podem otimizar a função pulmonar. É possível observar a ocorrência de retenção de líquido no desenvolvimento da ascite, edema dos membros inferiores e dispneia. O monitoramento do equilíbrio hídrico, das alterações diárias do peso corporal, das alterações na circunferência abdominal e da formação de edema constitui parte da avaliação de enfermagem no hospital ou no ambiente domiciliar. Os clientes também são monitorados quanto à ocorrência de nictúria e, posteriormente, de oligúria, visto que esses estados indicam uma gravidade crescente da disfunção hepática (Gordon, 2012). Promoção dos cuidados familiares e comunitários Orientações ao cliente sobre autocuidados Durante a internação hospitalar, a enfermeira e outros profissionais de saúde preparam o cliente com cirrose para a alta, focalizando as orientações sobre a dieta. A exclusão de bebidas alcoólicas da dieta é de máxima importância. O cliente pode necessitar de encaminhamento aos Alcoólicos Anônimos, atendimento psiquiátrico ou aconselhamento, ou pode beneficiar-se do apoio de um conselheiro espiritual. O cliente também deve evitar o consumo de mariscos crus. A restrição de sódio deve continuar por um período considerável de tempo, se não permanentemente. O cliente necessitará de orientações por escrito, reforço e apoio da equipe, bem como da família. O tratamento bem-sucedido depende de convencer o cliente da necessidade de aderir totalmente ao plano terapêutico. Esse plano inclui repouso, mudanças no estilo de vida, aporte nutricional adequado e eliminação de bebidas alcoólicas. A enfermeira também instrui o cliente e a sua família sobre os sintomas de encefalopatia iminente, possíveis tendências hemorrágicas e suscetibilidade à infecção. A recuperação não é rápida nem fácil; existem contratempos frequentes, e pode haver uma ausência aparente de melhora. Muitos clientes têm dificuldade em abster-se do consumo de bebidas alcoólicas por ser um meio de conseguir conforto ou fuga. A enfermeira desempenha uma função significativa ao oferecer apoio e incentivo ao cliente e ao proporcionar um feedback positivo quando o cliente tem algum sucesso. Cuidados contínuos O encaminhamento para cuidado domiciliar pode ajudar o cliente a lidar com a transição do hospital para a casa. O consumo de bebidas alcoólicas pode ter sido uma importante parte da vida domiciliar e social normal no passado. A enfermeira de cuidado domiciliar avalia o progresso do cliente em casa e a maneira pela qual ele e a sua família estão enfrentando a necessidade de eliminação de bebidas alcoólicas e as restrições nutricionais. A enfermeira também reforça as orientações prévias e responde às questões que podem não ter ocorrido anteriormente ao cliente ou à sua família até o cliente voltar para casa e tentar estabelecer novos padrões de alimentação, consumo de líquidos e estilo de vida.
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