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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP1: “ACABOU A RESERVA” Ana Paula Lazarin Bernardes Gabriela Pereira Valadares Giovanna Casagrande Moreli Jéssica Thaynna Resende Figueiredo João Otávio Leal Farina Laís Corrêa Marques Luiz Fernando Yabumoto Maria José Alves Macedo Matheus Teixeira Silva Mayra Fernandes Martins Rones Dias da Costa Filho MINEIROS/GO 2021 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade II, do 8º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação da Professor Dr. Felipe. MINEIROS/GO 2021 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4 2. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 5 2.1 Explicar como distúrbios metabólicos podem levar a alterações cutâneas; .................... 5 2.2 Relacionar as manifestações clínicas da evolução das hepatopatias com as manifestações cutâneas; ..................................................................................................................................... 6 2.3 Classificar e descrever a fisiopatologia das icterícias; descrever o metabolismo bilirrubinas. ................................................................................................................................. 7 2.4 Relacionar os achados clínicos do caso apresentado com a fisiopatologia da hepatopatia alcoólica (ginecomastia, edema, telangectasias, equimoses, alterações abdominais (ascite, circulação colateral), eritema palmar); ....................................................................................... 9 2.5 Explicar fatores de piora da função hepática em pacientes cirróticos (hepatocarcinoma); 10 2.6 Descrever a etiologia, classificação fisiopatológica, epidemiologia, manifestações clínicas, e tratamento clínico das cirroses; ............................................................................... 11 2.7 Discutir insuficiência hepática aguda; ........................................................................... 12 2.8 Discutir sobre transplante hepático; .............................................................................. 13 2.9 Discutir o alcoolismo com problema de saúde pública; ................................................ 14 2.10 Discutir a relação médico-paciente envolvendo equipe multiprofissional (psicologia, serviço social) no tratamento do alcoolismo; ........................................................................... 15 2.11 Descrever o impacto da hepatopatia alcoólica na vida do cidadão, da família, da sociedade e no serviço público de saúde (SUS). ...................................................................... 15 3. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 16 4. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 17 4 1. INTRODUÇÃO Na situação problema 1 da unidade XXIII, temos o caso do sr. Walter, 55 anos, que nos direciona para um caso de lesão hepática decorrente do uso de álcool. Portanto, a situação problema nos direciona o estudo para uma hepatopatia alcoolica e seus diversos aspectos envolvidos. Dessa forma, iniciaremos a discussão abordando as manifestações cutâneas relacionadas a distúrbios metabólicos de forma geral e posteriormente especificando nas associadas a hapatopatias. Walter, ao longo do caso clínico foi apresentada manifestações clínicas típicas de uma hepatopatia alcoólica, evoluindo com um quadro grave e diversas complicações. Sendo assim, tais alterações também serão abordadas ao longo deste relatório. Primeiramente voltando a fisiopatologia das manifestações clínicas apresentadas pelo paciente e em sequência, abordando as complicações da piora da função hepática, abrangendo a cirrose hepática, insuficiência hepática aguda e transplante. Uma vez que o alcoolismo é um problema de saúde publica que requer grande atenção e visibilidade, serão abordados por fim, os diversos aspectos biopsicossociais relacionados ao alcoolismo. 5 2. DISCUSSÃO 2.1 Explicar como distúrbios metabólicos podem levar a alterações cutâneas; DERMATOSES METABÓLICAS: Dermatoses metabólicas resultam de distúrbio local ou geral do metabolismo, com acúmulo, na pele de substâncias variadas (lipídeos, proteínas, uratos, cálcio ou porfirinas); as manifestações cutâneas fazem parte do quadro geral do transtorno metabólico. PELAGRA: Doença causada pela deficiência do ácido nicotínico (niacina, vitamina B3) ou seu precursor (triptofano), caracteriza-se por diarreia crónica, demência e dermatite. Nos países subdesenvolvidos, surge por deficiência nutricional. Nos países desenvolvidos, aparece em consequência de alcoolismo, condições socioeconómicas de privação, anorexia nervosa, má- absorção intestinal (gastrectomia parcial, gastroenterostomia, doença de Crohn), colite grave por citomegalovírus, doença de Hartnup ou uso de medicamentos, como isoniazida, 6- mercaptopurinae 5-fluorouraciI. As manifestações cutâneas ocorrem sobretudo nas regiões expostas à luz solar, mas áreas irritadas do tegumento também podem ser acometidas. Inicialmente, o aspecto é de queimadura solar: mais tarde, a pele torna-se áspera, seca. descamativa e hiperpigmentada. Há tendência à distribuição simétrica e à demarcação nítidadas lesões. É característica a localização no pescoço (colar de Cajal). Microscopicamente, as alterações são inespecíficas. Há congestão dos capilares papilares, edema das papilas e infiltrado de mononucleares na derme: os ceratinócitos são vacuolados nas partes superiores da epiderme. As regiões mais atingidas podem ter hiperceratose, paraceratose focal, acantose moderada e hiperpigmentação. As lesões antigas podem mostrar aspecto psoriasiforme. As vezes, o aspecto histológico lembra eritema necrolítico migratório ou acrodermatite enteropática. Nos casos graves, há ainda intumescimento, hialinização e transformação mucóide do colágeno. MUCINOSES: Correspondem a um grupo de doenças em que há acúmulo de glicosaminoglicanos ácidos (mucinas), em especial ácido hialurônico e, em menor intensidade, sulfato de condroitin e heparina. As lesões podem ser difusas ou focais. Mucinose é encontrada como fenómeno secundário cm várias dermatoses, como lúpus eritematoso. Esclerodermia, dermatomiosite, doença de Degos, granuloma anular e doença do enxerto contra o hospedeiro. MIXEDEMA: Mixedema generalizado, manifestação de hipotircoidismo, consiste no acúmulo de substância mucóide nos tecidos, simulando edema. A pele torna-se difusamente espessada e 6 seca, pálida e cérea, devido à combinação de edema, anemia e carotenemia; esta última, por defeito na conversão de p-caroteno em vitamina A no fígado, ocorre em especial nas palmas, plantas e áreas naso labiais. Nariz alargado e grosso e lábios intumescidos configuram fácies característica, com aspecto inexpressivo. Os cabelos são secos, grossos e frágeis e as unhas, finas e quebradiças. As glândulas écrinas e sebáceas apresentam redução da secreção, resultando em xerose, ieliose ou eczema csteatósico. Envolvimento da orofaringe e laringe leva a voz rouca. Há risco aumentado de hiperlipidemia, podendo resultar em xantoma eruptivo ou tuberoso. 2.2 Relacionar as manifestações clínicas da evolução das hepatopatias com as manifestações cutâneas; ALTERAÇÕES VASCULARES: O eritemapalmar (EP) é caracterizado por área simétrica, assintomática, eritematosa, que acomete principalmente as eminências tenares e hipotenares da superfície palmar. Eventualmente, as falanges e o dorso da região proximal da lâmina ungueal estão envolvidos. Pode estar presente em condições fisiológicas ou patológicas. PRURIDO: A prevalência do prurido na doença hepática varia de 5% em pacientes com hepatite C crônica a 70% -100% naqueles que apresentam CBP. Muitos indivíduos com doença hepática e prurido não relatam o sintoma ao médico, pois não o correlacionam com a doença hepática. O prurido está presente em aproximadamente 20-25% dos pacientes ictéricos, sendo raro naqueles em que não há colestase. Prurido por colestase intra-hepática ocorre em pacientes com CBP, prurido gravídico, colangite esclerosante primária, hepatite sifilítica ou viral e na forma induzida por drogas. Pode ser a apresentação inicial da doença hepática em aproximadamente 50% dos pacientes com diagnóstico de CBP. Embora o prurido colestático seja generalizado, tende a ser mais pronunciado nas regiões palmoplantares. Ao exame físico, estes pacientes podem apresentar escoriações além de máculas hipercrômicas pósinflamatórias, que tipicamente poupam o dorso médio - configuração semelhante à "borboleta". A fisiopatogenia do prurido colestático ainda não está completamente esclarecida. Parte da dificuldade em caracterizar a patogênese é decorrente da falta de correlação entre a gravidade da colestase e a presença ou intensidade do prurido. A maioria dos mecanismos propostos envolve a produção ou a falha de depuração de substâncias pruritogênicas pelo fígado. UNGUEAIS: 7 Múltiplas alterações ungueais podem ser identificadas em pacientes cirróticos. A maioria não é específica e pode ser encontrada em indivíduos hígidos e em pacientes com outras doenças sem comprometimento hepático. As manifestações ungueais mais comuns em pacientes cirróticos são: hipocratismo digital, unhas de Terry, lúnula eritematosa, coiloníquia e linhas de Müerhcke . O hipocratismo digital caracteriza-se pelo ângulo de Lovibond - formado pela dobra ungueal proximal e a lâmina ungueal - acima de 180 graus. Pode ser primário, fazendo parte da paquidermoperiostose, ou secundário a uma variedade de doenças sistêmicas. A forma secundária, quando unilateral, tem sido correlacionada a doenças neurológicas e vasculares; quando bilateral, pode ser decorrente de processos neoplásicos pulmonares ou não, doenças cardíacas, infecciosas, e do trato gastrintestinal. Lúnula eritematosa pode estar presente em pacientes cirróticos, assim como naqueles com insuficiência cardíaca congestiva e intoxicação por monóxido de carbono. A causa desta alteração ungueal é desconhecida, mas especula-se que possa ser decorrente de um aumento do fluxo sanguíneo arteriolar ou por venodilatação. A coiloníquia ocasionalmente pode ser encontrada em hepatopatas. É achado ungueal mais frequente na hemocromatose e tem como provável causa o distúrbio no metabolismo do ferro. Outra alteração não específica que pode ocorrer na doença hepática crônica são as linhas de Müerhcke. São caracterizadas por bandas transversas duplas esbranquiçadas, associadas à hipoalbuminemia (albumina <2,2) refletindo anormalidade vascular no leito ungueal. OUTRAS ALTERAÇÕES CUTÂNEAS: A doença hepática crônica pode estar associada a outras manifestações cutâneas. Estes pacientes podem apresentar contratura de Dupuytren, aumento da glândula parótida e atrofia cutânea com ou sem estrias. Ocorre também obesidade central, perda muscular proximal e fácies semelhante à lua, o que pode simular síndrome de Cushing. Xantomas podem ser encontrados em indivíduos com hepatopatia, principalmente naqueles com CBP. Estes incluem o xantelasma das pálpebras, os xantomas planos das palmas e/ou plantas e os xantomas tuberosos sobre as superfícies extensoras. 2.3 Classificar e descrever a fisiopatologia das icterícias; descrever o metabolismo bilirrubinas. A icterícia é definida como coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas consequentes à deposição, nesses locais, de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis elevados no plasma (hiperbilirrubinemia). A icterícia é clinicamente 8 detectada quando a concentração sérica de bilirrubina ultrapassa 2-3mg/100ml (valor normal: 0,3-1,0mg/100ml). A detecção de icterícia tem importante valor semiológico e deve ser sempre valorizada. A icterícia reflete perturbações na produção e/ou em passos do metabolismo/excreção da bilirrubina e pode ser manifestação clínica de numerosas doenças hepáticas e não hepáticas. A icterícia pode ser a primeira ou mesmo a única manifestação de uma doença hepática. Inicialmente, devemos lembrar que as moléculas de hemoglobina são formadas por um grupo denominado heme, que é degradado inicialmente em biliverdina pela heme oxigenase, a qual é transformada em bilirrubina insolúvel pela ação da bilirrubina redutase, e por isso, se liga à albumina para circular pelo sangue, sendo essa combinação a chamada bilirrubina indireta (ou não conjugada). No fígado, essa bilirrubina indireta é captada pelos hepatócitos, via difusão facilitada, e lá, por meio da enzima glucuronil-transferase, é transformada em bilirrubina direta, sendo excretada para a via biliar por meio de transporte celular dependente de ATP. No intestino, quando a bilirrubina é excretada junto à bile, as bactérias da flora intestinal a transformam em urobilinogênio, o qual pode seguir dois caminhos. Um deles consiste no segmento pelas fezes, culminando na formação de estercobilina, a qual dará a coloração marrom às fezes. Caso o urobilinogênio seja reabsorvida, será futuramente excretado pelos rins na forma de urobilina, a qual confere a coloração amarelada à urina. Quanto à etiologia da icterícia, temos diversas causas, as quais cursam com o respectivo aumento de bilirrubina direta ou indireta, a depender do seu mecanismo. • O aumento da produção de bilirrubina cursa com o aumento da sua forma não conjugada, sendo produto da degradação do grupo heme, faz sentido que quadros assim ocorram quando da ocorrência de hemólise ou de eritropoiese ineficaz. • A redução da captação também pode cursar com o aumento da bilirrubina indireta, uma vez que, se o fígado capta pouca bilirrubina não conjugada, essa ficará acumulada no sangue, levando a síndromes de hiperbilirrubinemia. Casos assim podem ocorrer quando da ocorrência de jejum prolongado, pelo uso de medicações, infecções e por causas intrínsecas aos hepatócitos. • Outro mecanismo para o aumento da bilirrubina indireta consiste na diminuição da conjugação, uma vez que a não ocorrência desse processo cursa com o acúmulo da substância em sua forma não conjugada. Nesses casos, a etiologia se encontra na maquinaria celular dos hepatócitos, como ocorre nas síndromes de Gilbert e de Crigler-Najjar, bem como na deficiência adquirida. 9 • Se houver alteração quanto à excreção, temos o aumento da bilirrubina direta, que pode ser decorrente de problemas celulares, na questão do transporte da substância via ATP, como ocorre nas síndromes de Dubin Johnson e de Rotor, ou por quadros de colestase, como a gestacional, medicamentosa ou a denominada colestase intra- hepática recorrente benigna. • A icterícia de origem obstrutiva consiste na dificuldade quanto à excreção de origem mecânico-obstrutiva, já que nesse caso o trajeto da bile se encontra interrompido, sendo que isso pode ocorrer tanto por tumores e estenose das vias biliares quanto pela presença de cálculos e por corpos estranhos. 2.4 Relacionar os achados clínicos do caso apresentado com a fisiopatologia da hepatopatia alcoólica (ginecomastia, edema, telangectasias, equimoses, alterações abdominais (ascite, circulação colateral), eritema palmar); A hepatite alcoólicaestá associada a uma gama variada de manifestações clínicas. Febre, nevos aracneiformes, icterícia e dor abdominal que simula abdome agudo representam um extremo do espectro, embora muitos pacientes sejam totalmente assintomáticos. Podem ocorrer hipertensão portal, ascite ou sangramento de varizes, mesmo que não haja cirrose. O reconhecimento das manifestações clínicas da hepatite alcoólica é essencial para que possa ser iniciada uma estratégia diagnóstica e terapêutica eficaz apropriada. É importante reconhecer que os pacientes com cirrose alcoólica frequentemente têm manifestações clínicas idênticas às de outras causas de cirrose. O hiperestrogenismo é o responsável pelas alterações vasculares cutâneas da cirrose, representadas pelo eritema palmar e pelas telangiectasias do tipo “aranha vascular”. Sabe-se que altos níveis de estrogênio causam proliferação e dilatação de vasos cutâneos, especialmente na porção superior do corpo. As telangiectasias do tipo “aranha vascular” são caracterizadas por uma dilatação arteriolar central ligando-se a capilares dilatados com disposição radial. O eritema palmar é decorrente da vasodilatação cutânea restrita à região palmar, principalmente nas regiões tenar e hipotênar. Já o hipoandrogenismo é responsável pela queda da libido, impotência masculina, atrofia testicular, redução importante da massa muscular (evidenciada pela atrofia dos músculos interósseos das mãos) e rarefação de pelos (cuja distribuição passa a respeitar o padrão feminino). A ginecomastia é decorrente do hipoandrogenismo associado ao hiperestrogenismo. Na hipertensão portal da cirrose hepática a obstrução ao fluxo portal é resultante de dois componentes: (1) resistência estrutural secundária à fibrose e à formação de nódulos 10 regenerativos; (2) elevação primária do tônus vascular intra-hepático pela contração das células hepáticas estreladas, miofibroblastos e células de músculo liso vascular. A hipertensão portal da cirrose provoca o extravasamento de líquido intravascular para a cavidade peritoneal, através dos sinusoides hepáticos. Essa pequena queda da volemia estimula os barorreceptores a ativar o sistema renina-angiotensina-aldosterona, o sistema nervoso simpático e a liberação de ADH. A ativação desses sistemas, por sua vez, promove a retenção de líquido pelos rins, na tentativa de restaurar a volemia. Porém todo o líquido retido volta a extravasar para a cavidade peritoneal e forma a ascite. 2.5 Explicar fatores de piora da função hepática em pacientes cirróticos (hepatocarcinoma); A Cirrose hepática se constitui como no mais importante fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular. Vale ressaltar que os sintomas do hepatocarcinoma não são específicos e quando encontrados geralmente indicam estágio avançado da doença. Pode manifestar-se através de dor abdominal (entre 40% e 60%), indicando peritonite bacteriana espontânea, tumoração palpável no abdome à direita (23%), distensão abdominal (45%), falta de apetite (45%), icterícia (16%), ascite (26%), emagrecimento (29%), mal-estar geral (60%), sinais de encefalopatia hepática, desde sonolência até o coma e hemorragia digestiva (7%). Em seu estado inicial há alta possibilidade de cura através do procedimento cirúrgico para a ressecção total do tumor. O transplante hepático também pode ser utilizado em alguns pacientes com o objetivo de cura. Nos casos em que há a impossibilidade de remoção cirúrgica ou comorbidades limitantes, o tratamento pode ser realizado através de procedimentos como embolização da artéria hepática, quimioterapia sistêmica ou regional e crioterapia, ou radioablação. Outra opção terapêutica seria o transplante hepático de doadores cadáveres ou intervivos, principalmente para pacientes com pequenos tumores sem presença de invasão vascular e inexistência de neoplasia extra-hepática. A cirurgia curativa confere o melhor prognóstico entre as opções terapêuticas, com uma taxa de cura que varia entre 40% e 50%, mas apenas uma baixa porcentagem, em torno de 15% dos pacientes, apresenta condições clínicas para tal. O estado clínico do doente e a quantidade do parênquima hepático restante (que deve ser em torno de 10% do peso corporal) são fatores imprescindíveis para a eficácia e segurança na ressecção hepática, mesmo com tumores com diâmetro acima de 10 centímetros e com casos de recorrência da doença. 11 2.6 Descrever a etiologia, classificação fisiopatológica, epidemiologia, manifestações clínicas, e tratamento clínico das cirroses; ETIOLOGIA: As principais etiologias em ordem de prevalência são: alcoolismo, hepatites virais (B e C), esteatose hepática, hepatite autoimune, lesão hepática induzida por drogas ou toxinas, síndrome de Budd-Chiari, doença de Wilson, hemocromatose, deficiência de alfa-1- antitripsina, insuficiência cardíaca direita crônica, cirrose biliar primária e secundária, colangite esclerosante primária, atresia de vias biliares e criptogênica. EPIDEMIOLOGIA: Estima-se que a cirrose seja correspondente a 1,1% das mortes no mundo, no Brasil, a taxa de mortalidade específica por cirrose hepática é de 4,6 por 100.000 habitantes. Estima-se que cerca de 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Pode ocorrer de forma assintomática. De um modo geral, os sintomas são relacionados a causa de base, associados a hipertensão portal, insuficiência hepática, portanto, temos, anorexia, perda de peso, fraqueza, icterícia, ascite, circulação colateral, edema de membros inferiores, diminuição da pressão arterial, teleangiectasias, ginecomastia e atrofia testicular nos homens, além de, eritema palmar, baqueteamento digital, osteartropatia hipertrófica, distrofia ungueal, flapping, etc. TRATAMENTO CLÍNICO: O tratamento visa tratar ou suspender a causa de base, sendo assim, é importante rastrear o surgimento de varizes e de carcionoma hepatocelular. Temos o uso de colchicina para reduzir a fibrose hepática ou propiltiouracil. Além disso os B-bloqueadores (profilaxia primária) atuam reduzindo a pressão portal, reduzindo os riscos de varizes, hemorragia varicosa e ascite. O B-bloqueadores mais utilizados são: propranolol, 20mg, via oral, 2x ao dia ou nadolol 20mg, via oral, 1x ao dia. A dose do propranolol deve ser ajustada a cada três dias até que se obtenha redução de 25% da frequência cardíaca basal (até 55bpm). Para evitar a PBE, pode-se lançar mão do uso de antibióticoterapia empírica com cefotaxima 2g de 12 em 12 horas, via intravesona ou ceftriaxona 1 a 2g de 24 em 24 horas via intravenosa. O suo de diuréticos como: furosemida ou espironolactona nos casos de edema sendo usados respectivamente 40 a 160mg dia de furosemida e 100mg dia de espironolactona. COMPLICAÇÕES: 12 Destacamos: hipetensão portal, insuficiência hepática, encefalopatia hepática, peritonite bacteriana espontânea, hemorragia digestiva alta, síndrome hepatorrenal, carcionoma hepatocelular. 2.7 Discutir insuficiência hepática aguda; A Insuficiência Hepática Aguda é definida pela evidência de coagulopatia e de encefalopatia hepática num doente sem cirrose prévia e ocorre quando a morte celular (necroapoptose) excede a capacidade de regeneração hepática. A hepatite vírica é a causa mais comum de Insuficiência Hepática Aguda em todo o mundo. Os doentes com Insuficiência Hepática Aguda podem apresentar múltiplas complicações, nomeadamente: encefalopatia hepática, edema cerebral, sépsis, alterações hemodinâmicas, insuficiência renal, coagulopatia, insuficiência respiratória, alterações metabólicas e má-nutrição. Encefalopatia hepática é a maior complicação da Insuficiência Hepática Aguda, provavelmente devido a uma produção aumentada de amónia. A ocorrência de edema cerebral e hipertensão intra-craniana está relacionada com a gravidade da encefalopatia hepática, sendo que o edemacerebral é raramente observado nos doentes com encefalopatia hepática grau I ou II. Devido à importância das complicações, estes doentes devem ser mantidos numa unidade de cuidados intensivos, em centros com um plano de transplante hepático ativo. É fundamental identificar rapidamente os doentes com maior probabilidade de beneficiarem de um transplante hepático de urgência, uma vez que só 15 a 20% dos doentes com IHA sobrevivem espontaneamente. Muitos modelos de prognóstico têm sido desenvolvidos para ajudar a selecionar adequadamente os doentes para a realização de transplante. Contudo, todos estes modelos têm limitações. As variáveis mais importantes para prever o prognóstico parecem ser: o grau de encefalopatia, a idade do doente, o tempo de prótrombina e a causa da Insuficiência Hepática Aguda. Antes do uso do transplante hepático ortotópico, as taxas de mortalidade da Insuficiência Hepática Aguda variavam entre 80 e 85%. Nos últimos 30 anos, com os avanços nas áreas da transplantação e dos cuidados intensivos, as taxas de sobrevida no final do primeiro ano pós- transplante subiram para 60 a 80%. Vários tipos de transplante podem ser Realizados: de dador morto, de dador vivo, com compatibilidade ABO variável, e transplantes Hepáticos auxiliares. A gravidade da falência multiorgânica na altura do transplante constitui o melhor indicador da sobrevida pós-transplante. 13 Os sistemas de suporte hepático bioartificial e artificial podem beneficiar os doentes com Insuficiência Hepática Aguda ao serem usados como uma ponte para o transplante Hepático ou para a recuperação hepática. Contudo, ainda não foram demonstradas eficácia ou aumento da sobrevida, e o seu uso permanece experimental. 2.8 Discutir sobre transplante hepático; Qualquer pessoa com insuficiência hepática ou câncer primário de fígado pode ser candidato ao transplante hepático, depois de esgotadas todas as demais alternativas de tratamento clínico e cirúrgico. O transplante de fígado é claramente justificado em doenças hepáticas que apresentam grave comprometimento à saúde do paciente e redução da qualidade e expectativa de vida cuja progressão da doença hepática se não transplantados, resulte em mortalidade que exceda aquela decorrente do próprio transplante.Ssendo as indicações mais frequentes de transplante a cirrose Biliar Primária; Colangite Esclerosante primária; Cirrose Hepática; Síndrome de Budd-Chiari; Alcoolismo; Insuficiência Hepática Fulminante; Tumor de Fígado. Para indicar o transplante de fígado são seguidas normas do Ministério da Saúde descritos na Portaria 2600 de 21 de outubro de 2009. Entretanto, pessoas que sofrem de doenças sistêmicas que possam colocar a sua vida em risco, como: infecção extra-hepática não controlada, doença cardiovascular ou pulmonar ou neurológica avançada pré-existente, metástases de tumores malignos, colangiocarcinoma de grandes dutos, doença alcoólica com menos de seis meses de abstinência e polineuropatia amiloidótica familiar avançada grau IV não podem realizar o transplante de fígado, conforme a Portaria Nº 541, de 14 de março de 2002. Quando o transplante é indicado, o médico responsável da equipe de transplantes na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) deve ser fazer a inscrição no sistema de fila única em um sistema que forma o cadastro técnico referente a cada tipo de órgão, parte ou tecido a ser transplantado. O MELD (Model for End Stage Liver Disease) estima a gravidade do quadro e as chances de sobrevida em 90 dias de candidatos ao transplante a partir de quatro variáveis laboratoriais: o RNI (derivado do tempo de protrombina), o nível de bilirrubinas, a função renal estimada pelo nível de creatinina e o sódio. O resultado vai de 6 a 40, sendo que quanto maior o escore, maior a gravidade e pior o prognóstico. O ordenamento dos candidatos em lista obedece o valor do MELD, em valor decrescente. Assim, aquelas pessoas com maior urgência para o procedimento, que não podem aguardar muito, são transplantadas primeiro. Os critérios de distribuição de órgãos estão sempre sendo estudados 14 com o objetivo de aperfeiçoar e oferecer melhores cuidados aos pacientes que aguardam em fila de espera, assim estes critérios descritos podem sofrem algumas alterações. 2.9 Discutir o alcoolismo com problema de saúde pública; O uso abusivo do etanol afeta de modo significativo o aparelho digestivo, mas a importância do alcoolismo ultrapassa os limites dos órgãos desse sistema e deve ser entendido como doença complexa em que praticamente todos os órgãos podem ser afetados. São comuns e graves as doenças provocadas pelo álcool: (a) no sistema nervoso (síndrome de Wernicke- Korsakoff, demência alcoólica, polineuropatia, síndrome de abstinência); (b) nos músculos esqueléticos (miopatias agudas e crônicas); (c) no sistema cardiovascular (miocardiopatia congestiva, hipertensão arterial e arritmias); (d) no sistema endócrino (aranhas vasculares, eritema palmar e perda de pêlos, doenças relacionadas à hepatopatia crônica e ao hiperestrogenismo; e atrofia testicular, perda de libido e distúrbios menstruais, relacionados à ação direta do etanol); (e) no sistema hemolinfopoiético (macrocitose, anemia hemolítica e plaquetopenia, além de alterações das células ligadas ‡ resposta imunit ria); (f) no feto, o uso abusivo do etanol pode produzir a síndrome alcoólica fetal, caracterizada por retardo de crescimento, alterações faciais e distúrbios neurológicos. Além disso, os alcoolistas tem predisposição aumentada para diversos tipos de tumor maligno, como câncer de boca, faringe, esôfago, pâncreas, colón e carcinoma hepatocelular. De todas as complicações relacionadas ao consumo de álcool, a mais prevalente e de maior mortalidade é a hepatopatia alcoólica. Fator etiológico principal ou muito importante de cirrose hepática em grande parte do mundo. • Em todo o mundo, 3 milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool, representando 5,3% de todas as mortes. O uso nocivo de álcool é um fator causal para mais de 200 doenças e lesões. • O consumo de álcool causa morte e incapacidade relativamente cedo na vida. Na faixa etária de 20 a 39 anos, aproximadamente 13,5% do total de mortes é atribuíveis ao álcool. Existe uma relação causal entre o uso nocivo do álcool e uma série de transtornos mentais e comportamentais, além de doenças não transmissíveis e lesões, tais como tuberculose e HIV/aids. • Além das consequências para a saúde, o uso nocivo do álcool provoca perdas sociais e econômicas significativas para os indivíduos e para a sociedade em geral. Seu uso nocivo tem um grande peso na carga de doenças, além de um ônus social e econômico para as sociedades. 15 Por isso, a OMS tem o objetivo de reduzir a carga causada pelo uso nocivo do álcool na saúde e, assim, salvar vidas, prevenir lesões e doenças e melhorar o bem-estar dos indivíduos, das comunidades e da sociedade em geral. A Organização enfatiza o desenvolvimento, a implementação e a avaliação de intervenções custo-efetivas para o uso nocivo do álcool, bem como a criação, compilação e divulgação de informações científicas sobre o uso e a dependência do álcool e suas consequências sanitárias e sociais. 2.10 Discutir a relação médico-paciente envolvendo equipe multiprofissional (psicologia, serviço social) no tratamento do alcoolismo; A abordagem de equipe multidisciplinar se faz necessária, uma vez que o alcoolismo é uma doença crônica, com inúmeras consequências e, logo, necessita de intervenções. Partindo dessa questão, o alcoolismo e suas consequências devem ser mostrados para o doente, com o intuito do mesmo querer ajuda da equipe multidisciplinar. Sendo assim, é necessário a ação da equipe multidisciplinar, visando promover autoestima na medida em que o doente sofre as alterações corporais relacionadosà hepatopatia alcoólica e estabelecimento de laços com doente, sejam familiares ou não, visando com que esse não tenha recaídas e que ele vai conseguir suportar todo o processo de desintoxicação. Portanto, não é recomendado a utilização de medicamentos por conta própria, pois oferece riscos quando não é considerado a sua interação com o álcool, bem como recaídas, efeitos colaterais e o uso dos mesmos em tentativas de suicídio. Logo, o atendimento em uma clínica de reabilitação com equipe multidisciplinar garante que haja um diagnóstico exato, tratando com remédios específicos e com abordagens que possuem eficácia comprovada. 2.11 Descrever o impacto da hepatopatia alcoólica na vida do cidadão, da família, da sociedade e no serviço público de saúde (SUS). O álcool é a substância psicoativa mais consumida no mundo, sendo o maior fator de risco evitável no mundo de inúmeras doenças, principalmente pancreatite e doença hepática. Estima-se que cerca de 200 patologias são relacionadas como causa direta do consumo de álcool. A hepatopatia alcoólica compreende um espectro clínico de três tipos de lesões: esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose + suas complicações, uma vez que as duas primeiras são situações reversíveis, com cessação de etilismo, enquanto a última é irreversível, necessitando, assim, de transplante hepático. Sendo assim, o alcoolismo é uma doença crônica que acomete inúmeros sistemas, principalmente, cardiovascular, digestório e SNC, além de 16 predispor ao risco de outras neoplasias, como CA de cólon assim como desenvolvimento de transtornos fóbicos e depressão. O alcoolismo também leva a problemas sociais graves que está diretamente relacionado com a violência no trânsito, violência doméstica, abandono escolar e de emprego e, consequentemente, causando perdas financeiras e familiares. No âmbito familiar, o alcoolismo é responsável por conflitos entre casais, gerando assim, agressões verbais e físicas. Ademais, prejudica o indivíduo na vida escolar e profissional, fazendo com que ele perca o interesse e abandone as atividades, o que contribui para perda de autoestima e confiança. Logo, um portador de hepatopatia alcoólica, torna-se dependente de terceiros, na satisfação de suas necessidades humanas fundamentais, exigindo, portanto, um maior suporte quanto aos seus cuidados. 3. CONCLUSÃO A partir dessa situação problema foi possível compreender que o uso de álcool é um problema de saúde pública e quando seu uso é de forma abusiva como o do caso clínico pode cursar com diversas situações clínicas como as descritas ao longo do relatório. Dentre elas devemos ressaltar a hepatopatia alcoólica, que pode ser dividida em três estágios, sendo o último e extremamente grave, a cirrose hepática. Foi possível compreender a gravidade desses casos, como a lesão é instalada e evolui e como podemos maneja-los. 17 4. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Câncer de Fígado. Rio de Janeiro, RJ: Ministério da Saúde, INCA; 2017 [acesso em 26 Setembro 2021]. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=330; BRASIL. Portaria nº 602, de 26 de junho de 2012. Aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas do cancêr de fígado no adulto. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 11 março 2013. CASTRO-E-SILVA JR, Orlando de et al. Transplante de fígado: indicação e sobrevida. Acta Cirúrgica Brasileira [online]. 2002, v. 17, suppl 3 [Acessado 23 Setembro 2021] , pp. 83-91. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-86502002000900018>. Epub 22 Abr 2003. ISSN 1678-2674. https://doi.org/10.1590/S0102-86502002000900018. JAMESON, J. L. et al. Medicina interna de Harrison. 20. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2020. KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017. Manual de cuidados intensivos em hepatologia/editores Paulo Lisboa Bittencourt, Claudio Celestino Zollinger, Edmundo Pessoa de Almeida Lopes. – 2. Ed, -- Barueri, SP: Manoele, 2017 BORON, W.F.; BOULPAEP, E.L. Fisiologia Médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015 TOWNSEND CM et al. Sabiston Textbook of Surgery. 20th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016
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