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TÉCNICA CIRÚRGICA TIPOS DE FIOS E SUTURAS Os fios de sutura são classificados considerando sua degradação pelo orga- nismo (absorvíveis ou inabsorvíveis), sua ori- gem (orgânicos, sintéticos, mistos ou minerais) e à quantidade de seus filamentos (multifila- mentados ou monofilamentados). Conforme sua duração, podem ser absorvíveis de curta permanência, como o fio de catgute, ou absorvível de longa permanência, como o fio de poligalactina. No outro extremo, existem os fios inabsorvíveis, que não são completamente degradados pelo orga- nismo, como os fios de aço, de algodão, de nylon ou de polipropileno. • Fios Absorvíveis: o Origem animal: Catgut simples e cromado o Origem sintética: Vycril, Dexon, Mo- nocryl, Vycril Rapid e PDS II • Fios Não absorvíveis: o Origem animal: seda o Origem vegetal: Linho e Algodão o Origem sintética: Mononylon (poli- amida), Prolene (polipropileno), Mersilene, Polycot, Aciflex Quanto à origem, os fios podem ser orgânicos, sintéticos, mistos ou minerais. Como exemplos, o fio de algodão é um fio orgânico, o fio de aço é um fio mineral, o fio de nylon é um fio sintético. Fios orgânicos geram maior reação de corpo estranho, porém são fios geral- mente de menor custo. Fios minerais são os que produzem menor reação, permane- cendo com suas propriedades e exercendo sua função durante tempo indefinido. Entre- tanto, são de difícil manuseio e sua presença e inextensibilidade podem causar lesões. Os fios sintéticos possuem características inter- mediárias entre os dois grupos. A configuração dos fios pode ser mo- nofilamentar ou multifilamentar. Estes últimos podem ser, ainda, torcidos, trançados ou trançados revestidos. Fios monofilamentares possuem menor capilaridade e deslizam com menos fricção. Contudo, possuem tendência à memória. O revestimento de fios multifila- mentares, por exemplo com substâncias an- tibióticas, tenta atenuar suas deficiências. O calibre dos fios varia de nº 0 até nº 12.0. Quanto menor o número de zeros, maior é o calibre do fio, portanto, um fio 2.0 (dois zeros) é mais calibroso que o fio 4.0 (quatro zeros). Isso é importante por que cada calibre do fio exerce uma tensão na sutura, sendo necessária a escolha do cali- bre adequado. Além disso, cada calibre tem sua aplicação: oftalmologia e microcirurgia (7.0 – 12.0); face e vasos (6.0); face, pes- coço e vasos (5.0); mucosa, tendão e pele- abdome e tronco (4.0); pele- extremidades e intestino (3.0); pele- extremidades-, fáscia e vísceras (2.0); parede abdominal, fáscia e ortopedia (0-3). • Fio 6-0: Mais fino. Utilizado em face e áreas com importância estética. • Fio 5-0: Utilizado em suturas da mão e dedos. • Fio 4-0: Utilizados para reparo de extre- midades proximais e tronco. • Fio 3-0: Fio de grande calibre, utilizado para planta do pé e escalpo. • Fio 2-0: Couro cabeludo. A sutura pode ser contínua ou descontínua. Na sutura descontínua os fios são fixados separadamente, podendo variar a tensão de acordo com a necessidade em cada ponto. É considerada mais segura, já que o rompimento de um ponto não inviabiliza a sutura toda. É menos isquemiante, confere maior permeabilidade à ferida e consegue força tensil maior e de modo mais rápido. Como desvantagens, possui uma elabora- ção mais lenta e trabalhosa. Na sutura con- tínua, o fio é passado do início ao fim sem interrupções. É uma sutura de execução mais rápida que a descontínua. É mais hemostá- tica, tendo a mesma tensão em todo per- curso da sutura. Como desvantagens, pode ser estenosante e impermeável e o rompi- mento de um ponto pode comprometer toda a sutura. Além disso, a sutura contínua tem uma tendência a reduzir a microcirculação das bordas da ferida, prolongando a fase destrutiva da cicatrização e aumentando formação de edema. É um dos mais utilizados, sendo considerado ponto universal. É ótimo para sutura de pele. No ponto simples, a derme deve ser transposta pela agulha em sua totalidade. A agulha penetra a pele a 90º e, na outra derme em sua totalidade, sai através da pele. A distância entre a entrada da agulha e a incisão em uma borda e a saída na ou- tra deve ser a mesma. Na sutura de Donatti, procede-se a primeira parte como no ponto simples. Porém, deve ocorrer o retorno da agulha para a borda inicial, em plano intradérmico e à frente do passo inicial. Donatti (“longe-longe”, “perto-perto”): o início da sutura não difere do ponto simples; após isso, antes do nó, o fio retorna à borda ini- cial em plano superficial e à frente do ante- rior. A sutura em U horizontal, ou ponto de Gillies, a agulha penetra a pele de forma intradér- mica na fase inicial, em uma das bordas. Na borda contralateral a passagem do fio é to- talmente intradérmica, de forma horizontal, em U. O fio não é exteriorizado nesta borda. Após a confecção do U horizontal intradér- mico, a agulha retorna verticalmente e ao lado de sua entrada, também intradérmica. Sutura de Gillies: primeira borda é transpas- sada de forma vertical e a oposta de forma horizontal. O fio só é aparente em uma das bordas (para realização do nó. A sutura em X, com componente de força de tensão e hemostasia, o fio é passado em um lado da incisão e, após, a um nível abaixo nas duas bordas, iniciando pela borda con- trária à inicial. Ao final, para finalizar a su- tura, o fio é passado em mesmo nível ao ini- cial, em borda oposta. É o tipo de sutura de mais rápida e fácil execução e pode ser aplicada em qual- quer tecido com bor- das não muito espes- sas. É muito usada em suturas de vasos, por que faz boa hemosta- sia e pode ser usada também em peritônio, músculos aponeurose e tela subcutânea. É uma variação do chuleio simples. Aqui o fio passa externamente por dentro da alça anterior, fazendo uma âncora, antes de ser tracionado. É mais hemostática que a ante- rior e por isso mais isquemiante. Atualmente é pouco utilizada. É um tipo de sutura que tem um ótimo resul- tado estético. Nessa técnica a agulha passa horizontalmente através da derme superficial, paralelo à superfície da pele, aproxi- mando as bordas. Por isso não deixa impressões de sutura no tecido externo. Deve ser usado em feridas com pouca tensão. CONCEITUAR SUTURAS Sutura pode ser definida como o ato de aproximar estruturas (tecidos histológi- cos), mediante a utilização de instrumental cirúrgico. Todas as suturas promovem em maior ou menor grau três efeitos básicos nos tecidos vivos onde são aplicadas. Há o efeito de síntese (aproximação), em que a tensão da sutura terá o efeito de propiciar a cicatrização primária da ferida. Secundariamente, ocorrerá o recobri- mento das estruturas em planos anatômicos imediatamente abaixo dessa, estejam eles adequadamente tratados ou não. E associ- ado aos anteriores, há o efeito hemostático da sutura, decorrente da tensão dos pontos, da aproximação dos tecidos e do recobri- mento dos planos. A interação apropriada desses efeitos, resultando em tratamento adequado das feridas, dependerá do ma- terial a ser utilizado e de correta técnica ci- rúrgica a ser empregada. INDICAÇÕES PARA SUTURA Os 4 objetivos básicos de uma sutura são: evitar infecção da ferida; promover a hemostasia; diminuir o tempo de cicatriza- ção; e favorecer um resultado estético. As suturas devem ser realizadas em feridas lim- pas, feridas com contaminação recente e fe- ridas sem infecção. CASOS ONDE A SUTURA NÃO É ACONSELHADA • Feridas/lesões infectadas; • Mordidas de animais; • Perfurações profundas; • Debris que não podem ser completa- mente removidos; • Suturas que demandam muita tensão do tecido; • Feridas com sangramento ativo não con- trolado; • Feridas superficiais (escoriações e ero- sões). MATERIAIS UTILIZADOS NA SUTURA AMBULATORIAL Agulhas: A agulha tem por função promover a passagem do fio pelo tecido com o menor traumapossível. Dividem-se em fundo (região em contato com o fio), corpo e ponta. Podem ser montadas originalmente no fio (atraumáticas) ou de múltipla utiliza- ção e montagem em fios (traumáticas). Esta diferenciação guarda relação com o maior calibre do fundo da agulha em relação ao fio. Quanto ao seu formato, podem ser retas ou circulares. As redondas têm curvatura re- lacionada à fração de um círculo (1/4, 3/8, ½, 5/8). Diferentes curvaturas facilitam deter- minado movimento durante sua utilização. Sua ponta pode ser triangular (cortante), re- donda ou espatulada. Seu corpo varia en- tre retangular, redondo e espatulado, fa- zendo uma transição entra a ponta e a in- serção do fio. Agulhas cortantes facilitam a técnica cirúrgica em tecidos resistentes, como a derme, por exemplo. Porém, tecidos nobres como fígado ou córnea podem exigir menos trauma local, indicação de utilização de agulhas rombas e espatuladas. Pinças de dissecção: São instrumentos de apreensão dos tecidos, favorecendo sua manipulação. Podem ser atraumáticas (ana- tômica) ou traumáticas com “dente de rato”, que são usadas na confecção de pontos na pele. Porta agulhas: São usados para a condução da agulha curva. Fios cirúrgicos: Podem ser de origem sintética ou orgânica e monofilamentares (levam à menor reação inflamatória) ou mul- tifilamentares. Se fossemos pensar em fio ideal, ele deveria ter as seguintes caracte- rísticas: ter a resistência tênsil igual a dos te- cidos, ser fino, regular, flexível, ter pouca re- ação tecidual e baixo custo. • Material para lavar a ferida (soro fisiolí- gico, cuba estéril, seringa de 20ml ou 30ml); • Material para antissepsia (cuba, antis- séptico, pinça e gazes); • Material para anestesia (lidocaína a 1% ou bupivucaína, agulha 25 a 30G, se- ringa de 5 e 10 ml); SUTURA CONTÍNUA E DESCONTÍNUA E OS PONTOS QUE AS COMPÕE • Ponto contínuo simples: Confecção de pontos simples, seriados e sem interrup- ção. O nó é realizado no início e no final da sutura. • Ponto contínuo ancorado: Realizado da mesma forma que a sutura simples contí- nua, porém com o cruzamento do fio en- tre os nós. • Ponto em U horizontal (barra grega ou colchoeiro): Sutura realizada em U, hori- zontalmente, transfixando a pele em suas bordas. • Sutura em bolsa: A sutura em bolsa é apli- cada com o intuito de inversão das bor- das e de seu conteúdo. • Ponto em U horizontal interno (intradér- mico): A sutura intradérmica é realizada por passagem do fio de forma horizontal, em plano mais superficial possível. • Sutura intradérmica: fio é passado hori- zontalmente em cada uma das bordas, sem cruzar, de forma mais superficial pos- sível. A entrada da agulha deve ser rea- lizada em mesmo nível da saída na borda oposta. • Ponto simples comum e invertido: a derme deve ser transposta pela agulha em sua totalidade. A agulha penetra a pele a 90º e, na outra derme em sua totalidade, sai através da pele. A distância entre a entrada da agulha e a incisão em uma borda e a saída na outra deve ser a mesma. • Sutura simples: a distância entre a borda e a entrada ou saída do fio deve ser a mesma. Deve incluir a epiderme e derme de forma homogênea entre os lados. • Ponto em U vertical (Donatti): Na sutura de Donatti, procede-se a primeira parte como no ponto simples. Porém, deve ocorrer o retorno da agulha para a borda inicial, em plano intradérmico e à frente do passo inicial. • Sutura Donatti (“longe-longe”, “perto- perto”): o início da sutura não difere do ponto simples; após isso, antes do nó, o fio retorna à borda inicial em plano su- perficial e à frente do anterior. • Ponto em U horizontal: ou ponto de Gil- lies, a agulha penetra a pele de forma intradérmica na fase inicial, em uma das bordas. Na borda contralateral a passa- gem do fio é totalmente intradérmica, de forma horizontal, em U. O fio não é exte- riorizado nesta borda. Após a confec- ção do U horizontal intradérmico, a agu- lha retorna verticalmente e ao lado de sua entrada, também intradérmica. • Sutura de Gillies: primeira borda é trans- passada de forma vertical e a oposta de forma horizontal. O fio só é aparente em uma das bordas (para realização do nó); • Ponto em X: com componente de força de tensão e hemostasia, o fio é passado em um lado da incisão e, após, a um nível abaixo nas duas bordas, iniciando pela borda contrária à inicial. Ao final, para finalizar a sutura, o fio é passado em mesmo nível ao inicial, em borda oposta. TIPOS DE FIOS UTILIZADOS NAS TÉCNICAS CIRÚRGICAS AMBULATORIAIS (MATERIAL, NUMERAÇÃO, APLICAÇÕES, ETC) • Fio 6-0: Mais fino. Utilizado em face e áreas com importância estética. • Fio 5-0: Utilizado em suturas da mão e dedos. • Fio 4-0: Utilizados para reparo de extre- midades proximais e tronco. • Fio 3-0: Fio de grande calibre, utilizado para planta do pé e escalpo. • Fio 2-0: Couro cabeludo. TIPOS DE SUTURA E QUAL FIO ESCOLHER LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO OS GRAUS DE COMPROMETIMENTO DO TECIDO Pontos separados simples ou de Don- natti (delicados), sem tensão, com fios não- absorvíveis ou absorvíveis em moderado ou longo espaço de tempo, com diâmetros 4-0 ou 5-0. Quando o efeito estético se impõe, deve-se preferir a sutura contínua intradér- mica longitudinal (principalmente, nas pe- quenas feridas em locais expostos), com a utilização de fios não-absorvíveis ou absor- víveis em longo espaço de tempo, com diâ- metros 5-0 ou 6-0. Em crianças e em muco- sas, pode ser utilizado o categute simples ou cromado (em alguns casos, mesmo o de ab- sorção rápida), para evitar que se necessite realizar a retirada dos pontos (diâmetros 3- 0 e 4-0). Em feridas extensas na planta dos pés, podem se empregar um ou dois pontos, apenas para orientar a linha de cicatriza- ção, com o uso de fios não-absorvíveis ou absorvíveis em moderado a longo espaço de tempo (diâmetros 0 ou 2-0; esses fios de- verão ser posteriormente retirados). Muitos cirurgiões optam pelo seu não fechamento, desde que as bordas da pele estejam bem coaptadas, haja vista a rela- tiva frequência de reações tipo corpo es- tranho. Naqueles pacientes obesos, com grande camada subcutânea, normalmente o fechamento é necessário. Utilizam-se pontos simples separados com fios absorvíveis, pre- ferencialmente em médio espaço de tempo (diâmetros 3-0 ou 4-0). Uma sutura correta da aponeurose é fundamental no fechamento das incisões ab- dominais, principalmente para evitar hérnias. Devem ser utilizados fios não-absorvíveis ou absorvíveis em longo espaço de tempo (di- âmetros 1 ou 2). No passado, acreditava-se que o uso da sutura contínua facilitava as eventrações. Mais recentemente, inúmeras pesqui- sas prospectivas randomizadas demonstra- ram que a cuidadosa sutura contínua inter- rompida ou aquela com pontos separados se equivalem. Em geral, se utilizam pontos simples ou em “U” com fios absorvíveis em curto ou mo- derado espaço de tempo, apenas no sen- tido de aproximação das bordas, sem ten- são (diâmetros 2-0 ou 3-0). Por ser um tecido ricamente vasculari- zado, e de rápida e fácil cicatrização, pode ser suturado com chuleios simples, em- pregando fios absorvíveis em curto ou mo- derado espaço de tempo (diâmetros 0 ou 2-0). De modo geral, as suturas vasculares em adultos são realizadas com chuleios sim- ples, sempre com fios não-absorvíveis (diâ- metros 5-0 ou 6-0). Quando a sutura é realizada em plano único extramucoso, tanto pode ser com pontos separados simples com fio não- absorvível ou absorvível em médio ou longo espaço de tempo, como também com chu- leios simples, com os mesmos tipos de fios. Quando realizada em dois planos, o pri- meiro (incluindo a mucosa) deve ser reali- zado em chuleio simples com fios absorvíveis (diâmetros 3-0, desde categute cromado até aqueles absorvidos em médio ou longo espaço de tempo) e o segundo (seromuscu- lar) com fios não absorvíveis ou absorvíveisem médio ou longo espaço de tempo (diâ- metros 3-0 ou 4-0). ~ EUDIANE ZANCHET ~ REFERÊNCIAS LAGOEIRO, B. 11 tipos de sutura que todo médico deve conhecer. Disponível em: <https://pebmed.com.br/especial-de-carna- val-11-tipos-de-sutura-que-todo-medico- deve-conhecer/>. Acesso em: 2 ago. 2021. Suturas: tipos, princípios básicos, objetivos, técnicas, fios! - Sanar Medicina. Disponível em: <https://www.sanarmed.com/suturas-prin- cipios-basicos>. Acesso em: 2 ago. 2021. RICARDO, A.; ORGANIZADOR, I. TÉCNICA CI- RURGICA EDUCS. [s.l.] , [s.d.]. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/midia/arqui- vos/ebook-tecnica-cirurgica_2.pdf>.
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