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@danie�eferreira._ Bases Neurais do Comportamento Respondendo a Estímulos Foi usado em aula, como exemplo, um vídeo de um Kakapo macho tentando copular com um pesquisador que estava observando-o e o estímulo para esse comportamento da ave foi o fato do homem estar vestido de verde (cor das penas das fêmeas dessa ave). O outro exemplo dado foi de uma espécie de besouro australiano que quase foi extinta pois os machos confundiam garrafas de cerveja com fêmeas da espécie e tentavam copular com elas, deixando as fêmeas de lado. Esse comportamento era motivado pelo fato de as garrafas terem características parecidas com as da fêmeas (grandes, cor laranja-âmbar e com brotoejas). Em suma, em ambos os exemplos, um gatilho simples desencadeou o comportamento de cópula. Porém, não podemos considerar esses comportamentos como mal-adaptativos pois, na natureza, não era para nenhuma dessas espécies encontrar outro animal com características semelhantes às das fêmeas, então eles se adaptaram para aproveitar qualquer oportunidade de cópula. Precisar de muitos sinais para chegar à cópula acaba restringindo a cópula, o que não é viável para espécies que não possuem abundância de indivíduos. Instinto ou Mecanismo Inato Instinto (ou Comportamento Inato): é um comportamento que é funcional desde a primeira vez que é executado, mesmo sem nenhuma experiência prévia. No caso das aves, os pais necessitam de um estímulo dos �lhotes que indique que aquele é o seu �lhote, para que então eles o alimentem. Porém, se os sinais forem complexos demais, pode atrasar o tempo de alimentação, diminuindo o tempo disponível para os pais procurarem comida, o que não é viável. Fizeram um estudo com uma determinada ave e perceberam que na maioria das vezes o �lhote bica a cabeça dos pais e aí, se o adulto reconhece o estímulo, ele regurgita o alimento para que o �lhote possa comer. Nesse mesmo estudo, também notaram que o tamanho da cabeça e o contraste da cor do bico com a mancha vermelha são os estímulos para que o �lhote reconheça os pais. Tinbergen, no início do comportamento animal, criou uma ideia teórica (que posteriormente foi testada): esses comportamentos instintivos tinham um sinal liberador (no caso das aves, na mãe) usado pelo �lhote para engatilhar a sequência de comportamentos de respostas a esse estímulo. Ele propôs que havia uma rede neural especí�ca para detectar um sinal simples e que, quando ativada, levaria a um padrão �xo de ação. Esse sistema foi chamado de “mecanismo liberador inato”. Mecanismo liberador inato: seria um mecanismo neurossensorial especial que libera uma reação a um estímulo e/ou sinal (o animal não precisaria aprender esse comportamento). Por outro lado, os pais também precisam saber reconhecer os seus �lhotes, pois existem aves que são parasitas de ninho (bota ovo no ninho de outras aves). Em algumas linhagens de aves, há um padrão de coloração do bico dos �lhotes e esse padrão é identi�cado como espécie-especí�co pelos pais. Como as mariposas fogem de morcegos? As mariposas conseguem escutar o ultrassom dos morcegos (o que é muito difícil) e com essa audição elas fogem dos morcegos. As áreas receptoras são vários sacos de ar com células neurais entre eles. Dependendo da vibração que ocorre nos sacos neurais, as células neurais são estimuladas e encaminham a informação. Funcionamento básico do neurônio: os estímulos bioelétricos podem ser incitatórios ou inibitórios. A mariposa escuta de um lado e quem responde é a asa do lado oposto, fazendo com que ela mude a direção do voo, ou seja, a mariposa não pensa “vou fugir do morcego”, há apenas uma resposta muscular. O sistema nervoso central consegue interferir nesse comportamento apenas para fazer com que ela não mude o plano de voo (quando por exemplo há um estímulo visual que mostra que não é um morcego se aproximando). Então, no caso das mariposas, esse é um mecanismo inato. Quanto menor o processamento pelo cérebro, mais rápida é a resposta. O bater das asas interfere na audição: quando a asa está abaixada, o ouvido �ca tampado e quando a asa está levantada o ouvido �ca exposto. Então, a atividade da célula neural receptora é maior quando a asa está levantada e isso acaba dando à mariposa uma ideia de localização/proximidade e velocidade do morcego. Como a velocidade das asas da mariposa é �xa, se a atividade das células neurais está aumentando, signi�ca que o morcego está se aproximando. Comando e Controle Neural Como exemplo, foi mostrado um vídeo de uma fêmea de Louva-Deus se alimentando de machos da própria espécie. Ela os atrai fazendo com que eles acreditem que ela está interessada em copular. Ela utiliza os macho como uma maneira fácil de obter os nutrientes necessários para que seus ovos �quem mais viáveis. Quando ela en�m aceita copular com um macho, eles copulam, ela come a cabeça dele, e o corpo dele, mesmo decapitado, copula novamente com a fêmea. Os machos continuam arriscando pois, de qualquer forma, eles irão morrer, então vale a pena correr o risco para tentar deixar mais descendentes. O corpo sem a cabeça consegue copular novamente pois, apesar de não ter mais o cérebro, no corpo ainda há alguns gânglios abdominais e torácicos que mantém o comportamento e esses gânglios independem do comando do cérebro, basta haver o estímulo da fêmea (feromônios). De ultrassom a radiação ultravioleta O comportamento migratório (tanto em aves quanto em alguns peixes e borboletas) também pode ser controlado por mecanismos neurais. No caso das Borboletas Monarcas, por exemplo, o estímulo para indicar o horário e a direção de migração é a luz polarizada. E a luz não é captada pelos olhos e sim por sensores nas antenas. Em um estudo, �ltrando a luz, os pesquisadores conseguiram mudar o horário de migração das borboletas e principalmente a direção da migração. Retransmissão seletiva de estímulos Com tantos estímulos no ambiente, como ocorre a seleção daqueles que devem ser respondidos? É necessário que algum neurônio ou grupo de neurônios faça a seleção do estímulo para saber se ele será levado a diante ou não e, em caso positivo, retransmita o estímulo. Exemplo: grilos Possuem interneurônios int-1 em cada lado do corpo, que controlam outros 20. Esse sistema é o sistema de percepção de ultrassom e está diretamente ligado à perna do outro lado. O mesmo mecanismo que percebe o ultrassom, percebe o som do parceiro sexual. Portanto, é o interneurônio que manda o comando para o grilo (fugir do morcego ou ir na direção do parceiro sexual). Porém, para responder ao parceiro sexual ele movimenta a perna do mesmo lado em que ele ouviu e para fugir do morcego ele movimenta a perna do lado contrário. Obs: 5 kHz é a frequência de parceiro sexual e 40 kHz é a frequência do morcego Existe um limiar de intensidade: se pegarmos os sons do ambiente e a intensidade necessária para obter resposta do animal, percebemos que tanto para parceiro sexual quanto para morcegos, não é necessário uma intensidade alta ➞ é um sistema muito preciso Essa resposta é rápida (ocorre em cerca de 100 milissegundos). Se retirar as pernas posteriores do grilo, as respostas continuam, mas demoram mais para acontecer (140 - 200 milissegundos), pois são enviadas para o SNC para que o grilo “tome uma decisão”. Respondendo a mensagens retransmitidas O comportamento de fuga do grilo e da mariposa é um comportamento simples (1 sistema neural envolvido): estímulo ➞ resposta. Porém, existem comportamentos que são mais complexos (mais de um sistema neural envolvido), Nesses casos, há uma série coordenada de resposta musculares e, para haver a coordenação da resposta, é necessário que haja um centro de controle. Exemplo: comportamento de fuga de lesma marinha Quando a estrela do mar, que é um predador, encosta na lesma, o corpo da lesma percebe a ameaça de predação e começa a produzir espasmos, hora contraindo a musculatura dorsal e hora contraindo a musculatura ventral. A contração é alternada e a resposta precisa ser rápida. O controle é feito por dois sistemasneurais: Neurônios Flexores Dorsais (DFNs) e Neurônios Flexores Ventrais (VFNs). As contrações são altamente coordenadas. O que controla essa resposta alternada? Existe um sistema neural intermediário chamado genericamente de “Gerador Central Padrão”, que controla conexões excitatórias e inibitórias. Na mesma hora que ele excita o sistema dorsal, o ventral é inibido, e o contrário também é válido. Ele não consegue inibir nem excitar os dois sistemas ao mesmo tempo. Os Geradores Centrais de Padrão não ocorrem apenas nos invertebrados. Um gerador muito poderoso já estudado é desse peixe da �gura ao lado (Plain�n Midshipman). Ele possui músculos sônicos, bexiga de natação e barbatana e com esse sistema ele consegue gerar um som. Os sons variam de acordo com a ocasião (defesa de ninho, rosnado, grunhido, etc). Apenas os machos que cantam possuem esse sistema neural desenvolvido e nas fases da vida em que eles não precisam cantar, ocorre uma regressão neural desse sistema, e ele volta a se desenvolver quando o canto é necessário novamente. Comando e Controle Neural - Filtragem de Estímulos A �ltragem de estímulos é a capacidade de ignorar (�ltrar) determinados estímulos recebidos. Exemplo dado: toupeira-nariz-de-estrela (Condylura cristata). É um animal que vive em galerias debaixo da terra, então a visão é um sentido que não serve praticamente para nada, então outros sentidos/órgãos se desenvolveram melhor, principalmente o nariz. Antes de comer a presa, ela encosta o nariz nela. As partes do cérebro envolvidas na percepção tátil dos apêndices nasais são extremamente desenvolvidas. Os pesquisadores acreditam que elas tateiam o ambiente com os apêndices e conseguem formar uma imagem do ambiente no cérebro. Ela consegue perceber que o que ela encostou é uma presa em 8 milissegundos (o ser humano precisa de no mínimo 400 milissegundos para tomar consciência de algo). O apêndice 11 representa uma área muito grande do cérebro ➞ então acredita-se que seja ele quem decide se o que está sendo tateado é comida ou não Esse fenômeno de uma área maior do cérebro processando e ampli�cando a informação de uma área sensorial é chamado de magni�cação cortical. De�nição de magni�cação cortical: aumento da representatividade de uma área ou estrutura corporal no córtex somatossensorial. A amplitude pode ser aumentada pelo reforço do comportamento, ou seja, é dependente da repetição do comportamento. O rato-toupeira-pelado possui uma sensibilidade enorme nas presas e a sensibilidade nas patas também é alta. Evolução de Habilidades Cognitivas Cognição: processo mental de aquisição de conhecimento e entendimento por pensamento, experiência e sentidos. É um processo custoso, pois depende do cérebro. Hipóteses de porque a cognição se desenvolve ● devido aos obstáculos da vida em sociedade ● para manter a coesão do grupo ● domesticação ● aumento da comunicação ● reconhecimento de indivíduos Uma das espécies de corvos que possui maior cognição não vive em grupo. Essa é uma das muitas evidências contrárias à “hipótese do cérebro social”. Em algumas espécies de aves o convívio social realmente contribuiu para o desenvolvimento da cognição, mas isso não é válido para os corvos solitários. Porém, eles são capazes inclusive de utilizar ferramentas, como na imagem ao lado, em que ele está utilizando um graveto para conseguir comida e isso é um indício de maior cognição. A necessidade de resolver problemas pode ter mais in�uência no desenvolvimento da cognição que o convívio em sociedade em si. Fizeram um experimento com diversos carnívoros em cativeiro e perceberam que realmente a resolução de problemas está relacionada à cognição. A imagem ao lado exempli�ca esse experimento, onde as duas hienas precisam puxar as cordas juntas para conseguir comida. As hienas foram os únicos carnívoros do experimento que perceberam que precisavam trabalhar juntas para conseguir comida. Em suma, os carnívoros com cérebro maior são mais hábeis. Domesticação: a habilidade de interpretar gestos humanos também pode ter sido um fator para o desenvolvimento da cognição (isso ainda é uma questão em aberto entre os pesquisadores). Fizeram um experimento com cães e lobos de cativeiro que interagem com humanos. No experimento eles tinham que entender qual a tigela de comida que eles deveriam usar. A diferença entre os resultados dos lobos e dos cães não convenceram tanto os pesquisadores de que a cognição nos cães se desenvolveu devido à domesticação, pois os lobos, mesmo não sendo domesticados, conseguiram atingir bons resultados. Há, inclusive, outros experimentos em que os lobos se saíram melhores que os cachorros.