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Introdução O potencial de ação iniciado pelo nó sinoatrial propaga-se pelo sistema de condução e se espalha para excitar as fibras musculares atriais e ventriculares atuantes, chamadas de fibras contráteis. Células musculares cardíacas O coração consiste em três tipos de células com diferentes propriedades eletrofisiológicas: a) Células musculares: especializadas na contração muscular, presentes tanto nos átrios quanto nos ventrículos; b) Células de condução: especializadas na condução rápida de impulso elétrico (His- Purkinje); c) Células marca-passo: propriedade de automatismo, capazes de gerar estímulo elétrico, localizadas no nó SA e sistema His-Purkinje. O impulso elétrico se propaga por meio de potenciais de ação através da membrana celular de cada célula, incluindo duas etapas principais: despolarização e repolarização. Eletrofisiologia A célula muscular geralmente está polarizada devido a diferença de concentração de cargas elétricas entre os dois lados da membrana celular, ou seja, entre os meios intracelular e extracelular. Os eletrólitos que contribuem para esse gradiente elétrico são: a) Potássio: concentração 30 a 50 vezes maior no meio intracelular em repouso; b) Sódio: concentração 10 vezes maior no meio extracelular em repouso; c) Cálcio: concentração maior no meio extracelular em repouso. Canais iônicos Os canais iônicos são sistemas de proteínas que atravessam a membrana e permitem a passagem de outras substâncias, como íons. Devido as características da membrana celular, esses íons só atravessam as membranas dos canais iônicos, que são específicos para cada tipo de íon. A membrana celular possui um conjunto de proteínas que permitem o transporte de substâncias entre os meios intra e extracelular. Como os íons não são capazes de atravessar a bicamada lipídica da membrana, eles entram e saem das células através desses canais iônicos. No caso da célula muscular cardíaca, os principais canais iônicos são os de sódio, potássio e cálcio. Potencial de repouso Diferentemente das fibras autorrítmicas, as fibras contráteis têm um potencial de repouso estável, que é cerca de -90mV. Esses íons não atravessam a membrana celular a qualquer momento, pois eles são voltagem-dependente: abrem e fecham dependendo da voltagem da membrana celular. Bomba de sódio e potássio Esse potencial de repouso, de voltagem -90mV, é mantido graças a presença da bomba Na/K (bomba de sódio e potássio) na membrana celular; A bomba de sódio e potássio leva três íons de sódio para o meio extracelular, para cada dois íons de potássio para o meio intracelular, deixando a célula mais negativa, até atingir -90mV. Essa troca de íons requer energia, pois funciona através de transporte passivo de bomba de sódio e potássio. Essa energia é derivada da hidrólise de ATP pela enzima ATPase. Potencial de ação O potencial de ação das fibras contráteis é dividido em cinco fases (0, 1, 2, 3 e 4): Dentro dessas fases, estão incluídas as fases da despolarização e da repolariação. Fase 0 (despolarização rápida) A fase 0 ou despolarização consiste na entrada rápida de íons de sódio para o meio intracelular, elevando o potencial elétrico da célula de -90mV para 20mV. A fase 0 começa quando o estímulo proveniente do nó sinoatrial é transmitido célula-a- célula, ou seja, é o momento que uma fibra contrátil alcança o seu limiar de excitabilidade. Quando uma fibra contrátil alcança o seu limiar, seus canais de sódio ativados por voltagem se abrem, possibilitando a entrada de íons Na+ para dentro da célula, deixando o interior da célula mais positivo. Esses canais de sódio são chamados de “canais rápidos”, pois eles se abrem muito rapidamente em resposta a despolarização no nível do limiar. O influxo de sódio para dentro da célula aumenta a polaridade da membrana, até atingir cerca de 20mV, produzindo a despolarização rápida. Na sequência, os canais de sódio se inativam e se fecham automaticamente, até a polaridade da célula voltar para -90mV, e o influxo de Na+ diminui. Nessa fase, também ocorre a entrada de íons de cálcio. Fase 1 (repolarização) A fase de repolarização ocorre logo após o fechamento brusco dos canais rápidos de sódio. Assim, os canais de potássio se abrem e os íons k+ se movem para fora da célula, diminuindo o potencial de 20mV para 0mV. Fase 2 (platô) Na fase 2, ocorre o platô, ou seja, o potencial elétrico se mantem em 0mV, pois ocorrem dois fenômenos simultâneos: a) Entrada de íons de cálcio (positivos); b) Saída de íons de potássio (também positivos). Essa sobrecarga de cálcio para o interior da célula também é responsável pelo mecanismo de contração da célula muscular, ou seja, durante toda a fase platô, a célula permanece em contração. Nessa fase, a célula está em período refratário absoluto, ou seja, ela não pode ser despolarizada por nenhum estímulo externo. É o intervalo de tempo durante o qual uma segunda contração não pode ser acionada. Fase 3 (repolarização final) A fase 3 é a fase de repolarização rápida ou repolarização final. Nessa fase, o potencial elétrico se torna cada vez mais negativo, até atingir -90mV, pois os canais de cálcio se fecham, cessando a sua entrada no meio intracelular. Além disso, é mantida a saída de cálcio para o meio extracelular. Fase 4 (repouso) Por fim, a última fase corresponde ao repouso. Nessa fase, o potencial de membrana se mantém em torno de -90mV, até um novo estímulo externo provocar um potencial de ação. Período refratário Durante a fase de repolarização, a capacidade de a célula cardíaca responder a um novo estímulo depende do seu estado elétrico. Período refratário absoluto A célula está totalmente despolarizada e, por isso, não pode responder a nenhum estímulo, correspondendo às fases 1 e 2. Período refratário efetivo No período refratário efetivo, a célula pode gerar um potencial, mas muito fraco para ser propagado, correspondendo a uma parte da fase 3. Período refratário relativo No período refratário relativo, a célula se encontra parcialmente repolarizada e pode responder a um estímulo, desde que ele seja forte o suficiente. Corresponde a uma parte da fase 3 e se esende até o limiar de despolarização (-70mV). Tetania A tetania é o conceito de contração mantida. Nesse sentido, a tetania não pode ocorrer no músculo cardíaco, assim como ocorre no músculo esquelético. A função de bombeamento cardíaco depende da contração (ejeção de sangue) e relaxamento (enchimento). Se houvesse tetania, o fluxo cessaria.
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