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07/04/2011 1 Escolha do Consumidor sob condições de Risco e de Incerteza Capítulo 7 – Nicholson e Snyder Turma do Prof. Décio Kadota Distinção entre Risco e Incerteza Na literatura econômica, a primeira e mais importante distinção entre situações de risco e de incerteza foi feita por Frank Knight em 1921: • Risco: situação na qual é possível à priori conhecer todos as possibilidades de resultados do fenômeno incerto, bem como associar as probabilidades de ocorrência de cada um deles. • Incerteza: situação na qual, por alguma razão, não se consegue dar uma abordagem estatística ao fenômeno. 07/04/2011 2 Contudo, a partir da metade do século passado a distinção entre Risco e Incerteza passou a ser muito mais restrita, constituindo-se em sub-classes de fenômenos que são passíveis de tratamento estatístico através da probabilidade: • Risco: situação na qual as probabilidades de ocorrência dos resultados possíveis podem ser medidas de forma objetiva, ou seja, que diferentes indivíduos concordam com as medidas das mesmas. • Incerteza: situação na qual as probabilidades de ocorrência dos resultados possíveis são subjetivamente determinadas por cada indivíduo que defronta o fenômeno. Base da análise de Risco e Incerteza • Todas as situações que envolvem fenômenos aleatórios afetando os ambientes de decisão dos agentes econômicos, portanto que implicam em riscos ou incertezas na obtenção dos resultados das decisões e ações dos mesmos, são passíveis de abordagem estatística através de distribuições de probabilidades; • Portanto, sempre se conhece à priori todos os resultados possíveis dos fenômenos aleatórios envolvidos, bem como as chances de ocorrência de cada um deles; • O objeto de escolha de qualquer indivíduo nessas situações são tratadas genericamente como sendo Loterias; 07/04/2011 3 • Uma loteria é definida como onde Pi e Ti (i = 1, 2, ..., S) representam a probabilidade do evento i ocorrer e o respectivo prêmio a ser o obtido nesse caso; • Os prêmios podem ser objetos ou coisas de qualquer natureza, desde que desejados pelo indivíduo que está escolhendo as loterias (por exemplo, valores monetários, cestas com quantidades de bens; etc); { }= 1 1 2 2 S SL P : T ;P : T ;......;P : T Questão: como escolher entre duas loterias? Considere o caso simples de situações com apenas dois eventos possíveis, com as seguintes loterias: • Loteria 1: L1 = {20%: R$ 5; 80%: R$ 200} • Loteria 2: L2 = {20%: R$ 10; 80%: R$ 300} É fácil decidir que L2 é preferível a L1 • Loteria 3: L3 = {40%: R$ 100; 60%: R$ 200} • Loteria 4: L4 = {10%: R$ 100; 90%: R$ 200} Também é fácil decidir que L4 é preferível a L3 Contudo, a escolha entre L1 e L3 não é mais tão fácil decidir 07/04/2011 4 O critério Maior Prêmio Esperado resolve? Calculando-se o valor esperado do prêmio das 4 loterias, tem-se: • Loteria 1: L1 = {20%: R$ 5; 80%: R$ 200} • Loteria 2: L2 = {20%: R$ 10; 80%: R$ 300} • Loteria 3: L3 = {40%: R$ 100; 60%: R$ 200} • Loteria 4: L4 = {10%: R$ 100; 90%: R$ 200} ( ) = 1 L E T R$ 161 ( ) = 2 L E T R$ 242 ( ) = 3 L E T R$ 160 ( ) = 4 L E T R$ 190 Em princípio, o critério do maior valor esperado do prêmio da loteria parece funcionar: • Ele explicita porque foi fácil escolher L2 contra L1 e L4 contra L3 • E também porque não foi fácil escolher entre L1 e L3 • Em casos como esse último, ele propicia um critério simples para comparações de loterias com diferentes perfis de prêmios e respectivas probabilidades. Mesmo para casos mais complica- dos de loterias com diferentes números de eventos possíveis. 07/04/2011 5 Problema: O Paradoxo de São Petersburgo Considere que alguém proponha a você a escolha entre as seguintes duas loterias? • Loteria 1 – Um bilhete de loteria com um prêmio de R$ 1.000.000,00, com 50% de probabilidade de ganhar esse prêmio e 50% de não ganhar nada; • Loteria 2 – Um jogo em que você deve lançar repetidas vezes uma moeda perfeita, até que obtenha pela primeira vez a face Cara, onde o jogo termina. O seu prêmio então será de R$ 2k, onde k representa o número total de vezes que você necessitou lançar a moeda para encontrar a face Cara. A resposta mais comum é a loteria 1. Qual você escolheria? • Loteria 1: • Loteria 2: Prêmio R$ 1.000.000 R$ 0 Probabilidade 50% 50% = + = 1L E(T) 0,5.1.000.000 0,5.0 500.000 Nº Lançamentos 1 2 3 4 …. k …. …. Prêmio 2 22 32 42 …. k2 …. …. Probabilidade 1 2 ( )212 ( )312 ( )412 …. ( )k12 …. …. ( ) ( ) ( ) ( ) ( )= + + + + + +2 2 3 4 k2 3 4 kL 1 1 1 1 1E(T) 2. 2 . 2 . 2 . ... 2 . ....2 2 2 2 2 ou = + + + + + + = ∞ 2L E(T) 1 1 1 1 ... 1 .... 07/04/2011 6 Função Utilidade Esperada de Von Neumann e Morgenstern (FUVNM) Para todo indivíduo racional i, existe uma função utilidade iU ( )• definida sobre os valores dos prêmios de loterias, tal que esse indivíduo considera uma loteria 1 1 1 I IL {M : p ,......M : p }= no mínimo tão boa quanto uma outra loteria 2 1 1 J JL {N : q ,......N : q }= se e somente se i i1 2EU (L ) EU (L )≥ , onde I i i 1 i i i 1 EU (L ) p .U (M ) = =∑ J i i 2 j j j 1 EU (L ) q .U (N ) = =∑ OBS.: Se i i1 2EU (L ) EU (L )> , então diz que o indivíduo k prefere estritamente a loteria L1 à loteria L2. Atitude dos Indivíduos em relação ao Risco Suponha uma situação em que alguém lhe apresenta a seguinte loteria: Prêmio R$ 500 R$ 100 Probabilidade 50% 50% cujo valor do prêmio esperado é de: EP 0,5.500 0,5.100 300= + = e que lhe peça para escolher se você prefere receber a loteria L1 ou receber, com certeza, o valor equivalente ao prêmio esperado da mesma (R$ 300), ou seja, receber a loteria L2 = {300:1}. L1 = 07/04/2011 7 Se você possui uma FUEVNM, a sua resposta dependerá da relação entre os seguintes valores: i i i 1EU (L ) 0,5.U (500) 0,5.U (100)= + e i i 2EU (L ) 1.U (300)= As relações possíveis são: • i i 1 2EU (L ) EU (L )< - nesse caso, você preferiria receber, com certeza, o valor do prêmio esperado de R$ 300 (L2), do que arriscar a receber R$ 500 ou R$ 100 iguais probabilidades de 50% (L1). Isso significa que você seria um indivíduo que não gosta de aceitar riscos e é do tipo que se denomina de Avesso ao Risco; • i i 1 2EU (L ) EU (L )= - nesse caso você seria indiferente entre as loterias L1 e L2, ou seja, você seria do tipo que se denomina de Neutro ao Risco. • i i 1 2EU (L ) EU (L )> - nesse caso você seria um indivíduo que gosta do risco, ou seja de arriscar a ter o prêmio maior de R$ 500, mesmo ao custo da possibilidade de terminar com apenas R$ 100), do que receber com certeza o valor intermediário do prêmio esperado de R$ 300. Você então é do tipo que se denomina de Amante do Risco. 07/04/2011 8 Em resumo, tem-se então que, dada uma loteria qualquer L = (T1:p1, T2:p2, ….., TN:pN), simples ou composta, com prêmio esperado representado por LEP , um indivíduo i qualquer é tipificado por sua atitude em relação ao risco, da seguinte forma: • Avesso ao Risco se i i LEU (L) U (EP )< • Neutro ao Risco se i i LEU (L) U (EP )= • Amante do Risco se i i LEU (L) U (EP )> Pode-se verificar que a classificação da atitude de qualquer indivíduo em relação ao risco vai depender unicamente da característica da sua função iU (T) que está envolvida na definição da sua função utilidade esperada kEU (L) . • Se iU (T) é côncava (utilidade marginal do prêmio é decrescente), então o indivíduo é Avesso a Risco; • Se iU (T) é linear (utilidade marginal do prêmio é constante), então o indivíduo é Neutro ao Risco; • Se iU (T) é convexo (utilidade marginal do prêmio é crescente), então o indivíduo é Amante do Risco. 07/04/2011 9 Indivíduo Avesso a Risco x1 x2 U(x) 1 2EU(L) pU(x ) (1 p)U(x )= + − 1U(x ) 2U(x ) U(EX) EX = px1 + (1-p)x2 T1 T2 iU (T) i i i 1 2 iEU (L) pU (T ) (1 p)U (T ) U (ET)= + − = i 1U (T ) i 2U (T ) ET = pT1 + (1-p)T2 IndivíduoNeutro ao Risco 07/04/2011 10 T1 T2 iU (T) i i i 1 2EU (L) pU (T ) (1 p)U (T )= + − i 1U (T ) i 2U (T ) iU (ET) ET = pT1 + (1-p)T2 Indivíduo Amante do Risco Exemplo das Loterias do Paradoxo de São Petersburgo Vamos supor que se trata de um indivíduo Avesso a Risco, cuja FUEVNM é tal que U(M) M= . Nesse caso tem-se que: • Loteria 1: 1UE(L ) 0,5. 1.000.000 0,5. 0 500= + = • Loteria 2: ( ) ( ) ( ) ( )2 3 42 3 42 1 1 1 1UE(L ) . 2 . 2 . 2 . 2 ..............2 2 2 2= + + + + onde essa soma de uma PG infinita, com razão igual a 2 2 é 1aS 1 r = − ou: 2 2 2 2UE(L ) 2,41 2 221 2 = = ≅ − − 07/04/2011 11 Suponha uma situação com um indivíduo, com as seguintes condições: •Ele possui uma riqueza no valor de $ 35.000; • Ele tem a possibilidade de perder $ 10.000 devido a um sinistro, que tem probabilidade de ocorrência de λ = 1%; • Existe uma empresa de seguros que está disposta a oferecer um seguro que cobre até o valor total da possível perda, cobrando um valor de prêmio de seguro de µ% por cada unidade de valor segurado, preço esse que é atuarialmente justo; • Esse indivíduo possui uma função FUEVNM e é avesso a risco (ou seja, U(.) é tal que U´(.)>0 e U´´(.)<0) Exemplo: Demanda por Seguro Diz-se que um contrato de seguro tem um valor de prêmio P atuarialmente justo se o mesmo implica num lucro econômico nulo para a Cia de seguros. Para simplificar a análise, vamos supor que o custo unitário de produção de uma apólice de seguro é de valor desprezível em relação aos valores envolvidos na mesma, ou simplesmente que o mesmo é nulo. Portanto, o lucro esperado de uma apólice com valor segurado K é igual a: L = Valor do Prêmio P – valor esperado da indenização Ou L = µ.K – λK = 0 . Portanto, µ = 1% Prêmio de Seguro Atuarialmente Justo: 07/04/2011 12 Problema desse consumidor: Escolher se irá fazer um contrato de seguro e de qual valor K a ser segurado. Ou, escolher um dos infinitos contratos de seguro (K; µK) com . Ou uma das seguintes infinitas loterias: com 0 K 10.000≤ ≤ ( ) ( )i i i iL 99% : 35.000 0,01K ;1% : 35.000 10.000 K 0,01K = − − + − i0 K 10.000≤ ≤ Solução - Condição de 1ª ordem: Que implica em Como a função U(.) é estritamente côncava, essas duas derivadas só podem ser iguais se forem calculadas no mesmo ponto. Problema do Consumidor: ( ) ( ) K Maximizar EU 0,99.U 35.000 0,01K 0,01.U 25.000 0,99K= − + + ( ) ( ) ( ) ( )dEU 0,99.U´ 35.000 0,01K . 0,01 0,01.U´ 25.000 0,99K . 0,99 0dK = − − + + = ( ) ( )U´ 35.000 0,01K U´ 25.000 0,99K− = + 07/04/2011 13 Ou seja, ou Portanto ele escolhe o seguro total (K=10.000; P=100) Conclusão: Obtêm-se o conhecido resultado “Se um indivíduo avesso a risco tem possibilidade de comprar qualquer apólice de seguro, pagando um prêmio atuarialmente justo, então ele sempre escolhe a apólice com seguro total” Ou seja, ele sempre irá procurar fugir da situação de risco, repassando-a à Cia de Seguros, ficando com a situação (ou loteria) sem nenhum risco: 35.000 0,01K 25.000 0,99K− = + K 10.000= [ ] [ ]= =*L 99% : 34.900;1% : 34.900 100% : 34.900 Suponha uma situação com um indivíduo, com as seguintes condições: •Ele possui uma riqueza no valor de $ 100.000; • Ele tem a possibilidade 25% do seu carro de $ 20.000 ser roubado; • A função FUEVNM desse indivíduo é U(W) = Ln(W); •Como existe uma empresa de seguros que está disposta a oferecer um seguro total da possível perda, até que valor de prêmio esse indivíduo estará disposto a pagar para obter essa apólice de seguro? Exemplo 2: Disposição a Pagar por Seguro (Livro) 07/04/2011 14 Utilidade Esperada na situação sem seguro (L1): Utilidade Esperada na situação com seguro (L2): L2 = [75%:(100.000 – P); 25%: (80.000 + 20.000 – P)] 1EU(L ) = 0,75.Ln(100.000) + 0,25.Ln(80.000) 1EU(L ) = 0,75.(11,51293) + 0,25.(11,28978) 1EU(L ) = 11,45714 2EU(L ) = 0,75.Ln(100.000-P) + 0,25.Ln(100.000-P) = Ln(100.000-P) P* = valor máximo do prêmio que ele está disposto a pagar: ou P* = 5.426 Como o valor do prêmio de uma apólice atuarialmente justa é de A Seguradora pode conseguir obter uma margem de até $ 426 pela apólice vendida ao indivíduo. 2EU(L ) = Ln(100.000-P*) 11, 45714= 11,45714100.000 - P* = e ˆP = 0,25.20,000 = 5.000 07/04/2011 15 Medida de Pratt para Grau de Aversão ao Risco A medida do grau de aversão ao risco proposta por J. Pratt (1960) é a mais comumente utilizada na literatura de escolha envolvendo risco, e é definida da seguinte forma: 2 2 ( ) "( ) ( )' U W U Wr W U WU W ∂ ∂ = − = − ∂ ∂ Fim