Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direitos e Garantias Fundamentais • CONSIDERAÇÕES INICIAIS: • A CF/88, no seu Título II, classifica o gênero direitos e garantias fundamentais nos seguintes grupos: - Direitos e deveres individuais e coletivos - Direitos sociais - Direitos de nacionalidade - Direitos políticos - Partidos políticos • IMPORTANTE: O STF já se manifestou no sentido de que os direitos e deveres individuais e coletivos não se restringem ao art. 5º da CF/88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional, expressos ou decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição, ou ainda, decorrentes dos tratados e convenções internacionais firmados pelo Brasil. Ex.: STF entendeu ser cláusula pétrea a garantia do art. 150, III, b, da CF/88 em face da EC 3/93 (ADI 939-7/DF) – princípio da anualidade - tributos Evolução dos direitos fundamentais – Dimensão de Direitos (ou Geração) Direitos fundamentais de 1ª dimensão a) Passagem do Estado autoritário para um Estado de Direito; b) Respeito às liberdade individuais c) Perspectiva de absenteísmo estatal – um não fazer em face do Estado d) Evidência nas primeiras constituições escritas, frutos do pensamento liberal-burguês do século XVIII a) Diz respeito às liberdade públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos, a traduzir o valor liberdade b) Direitos de resistência ou de oposição perante o Estado c) Magna Carta de 1215, assinada pelo rei João Sem Terra; d) Paz de Westfália, de 1648; e) Habeas Corpus Act, de 1679; f) Bill of Rights, de 1688 g) Declarações, seja a Americana, de 1776, seja a francesa, de 1789. Direitos fundamentais de 2ª dimensão • Fato histórico que inspira tais direitos: Revolução Industrial europeia, a partir do século XIX; • Péssimas condições de trabalho. Movimentos de reivindicação trabalhista na Inglaterra e na França, em busca também de normas de assistência social. • Início do século XX é marcado pela 1ª. Guerra Mundial e pela fixação de direitos sociais; • Perspectiva de evidenciação dos direitos sociais, culturais e econômicos, direitos coletivos ou de coletividade; • Busca da igualdade substancial, material, e não meramente formal. • Constituição do México de 1917 • Constituição de Weimar, de 1919, na Alemanha. • Tratado de Versalhes, de 1919 (Organização Internacional do Trabalho – OIT) • No Brasil, Constituição de 1934 (lembrando que nos textos anteriores também havia alguma previsão de direitos sociais) Direitos fundamentais de 3ª dimensão • Marcados pela alteração da sociedade por profundas mudanças na comunidade internacional (sociedade de massa, crescente desenvolvimento tecnológico e científico); • Profundas alterações nas relações econômico-sociais • Novos problemas e novas preocupações mundiais: preservação ambiental, dificuldades para proteção dos consumidores etc • Ser humano inserido numa coletividade, passa a ter direitos de solidariedade ou fraternidade • São direitos transindividuais, ou seja, vão além dos interesses do indivíduo. Dizem respeito à proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade • Configuram direitos de 3ª dimensão: • a) direito ao desenvolvimento; • b) direito ao meio ambiente; • c) direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade; • d) direito de comunicação etc. Direitos fundamentais de 4ª dimensão • Segundo Norberto Bobbio, essa dimensão decorreria dos avanços no campo da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência humana, em razão da manipulação do patrimônio genético • Leva-se em consideração os efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica • Para Paulo Bonavides, a globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos de 4ª dimensão, que correspondem à última fase da institucionalização do Estado Social, com destaque para os direitos a: • a) democracia (direta) • b) informação • c) pluralismo Direitos fundamentais de 5ª dimensão • Paulo Bonavides cita o direito à paz como direito de 5ª dimensão • Para o i. autor o direito à paz deve ser tratado em dimensão autônoma, chegando a afirmar que a paz é axioma (pressuposto, máxima) da democracia participativa, ou, ainda, supremo direito da humanidade. • Observação: Karel Vasak classifica o direito à paz como direito de 3ª dimensão. Adotamos a classificação de Paulo Bonavides. Diferenciação entre direitos e garantias fundamentais • Analisando a Constituição de 1891, Rui Barbosa distinguiu as disposições meramente declaratórias, que imprimem existência legal aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem direitos, estas as garantias. • É possível e não raro que na mesma disposição constitucional, ou legal, seja fixada a garantia, com a declaração do direito. • Direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional • Garantias são os instrumentos por meio dos quais se assegura o exercício dos direitos (preventivamente) ou prontamente os repara, caso violados • Garantias fundamentais são gênero e os remédios constitucionais são espécies • Nem sempre a garantia será traduzida por meio dos remédios constitucionais (Habeas corpus, habeas data etc) • Em determinadas situações a garantia poderá estar na própria norma que assegura o direito. Dois exemplos: • A) É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos – art. 5º, VI (direito), garantindo-se na forma da lei a proteção aos locais de culto e suas liturgias (garantia) • B) Direito ao juízo natural (direito) – art. 5º, XXXVII, vedada a instituição de juízo ou tribunal de exceção (garantia). Características dos direitos e garantias fundamentais • Historicidade: Possuem caráter histórico e surgem nos decorrer na história, nascendo com o Cristianismo. • Universalidade: Destinam-se de modo indiscriminado a todos o seres humanos • Limitabilidade: Não são absolutos (relatividade). No caso concreto podem haver confronto, conflitos de interesses (direito de propriedade x desapropriação). Caberá ao juiz e ao intérprete decidir, no caso concreto, qual deve prevalecer, segundo a regra a máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos, com a sua mínima restrição. Ponderação de valores. • Concorrência: Podem ser exercidos cumulativamente (ex: jornalista transmite uma notícia (direito de informação) e ao mesmo tempo emite uma opinião (direito de opinião) • Irrenunciabilidade: Pode ocorrer o não exercício do direito, mas nunca a sua renunciabilidade. • Inalienabilidade: como são conferidos a todos, são indisponíveis; não se pode aliená-los por não terem conteúdo econômico-patrimonial. • Imprescritibilidade: como a prescrição é instituto jurídico que atinge a exigibilidade de direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade de direitos personalíssimos. São sempre exercíveis e exercidos, pelo que não há intercorrência temporal de não exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela prescrição. Abrangência dos direitos e garantias fundamentais • O art. 5º, caput, da CF/88 estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos dos seus 78 incisos e parágrafos. O rol de direitos é meramente exemplificativo. Outros podem decorrer do regime e dos princípios adotados ou dos tratados internacionais que a RFB seja parte (§2º). • Embora o caput faça referência somente a brasileiros (nato ou naturalizado) e a estrangeiros residente no País, o STF entende, mediante interpretação sistemática, que se encontram incluídos também os estrangeiros não residentes, por exemplo, turistas, os apátridas e as pessoas jurídicas. • Nada impede que um estrangeiro,de passagem pelo território nacional, ilegalmente preso, impetre um Habeas Corpus, para proteção do seu direito de ir e vir. Aplicabilidade das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais • O art. 5º, §1º, da CF/88 prevê que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. • Essa aplicação imediata não se confunde com a aplicabilidade das normas na classificação de José Afonso da Silva (eficácia plena, contida e limitada). • Segundo José Afonso da Silva essa aplicabilidade imediata significa que as normas constitucionais são dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam. A regra é que as normas definidoras de direitos e garantias individuais (direitos de 1ª dimensão) sejam de aplicabilidade imediata, mas aquelas definidoras de direitos sociais, culturais e econômicos (direitos de 2ª dimensão) nem sempre o são, porque muitas vezes dependem de providências ulteriores que lhe completem a eficácia e possibilitem sua aplicação. • Exemplo de norma definidora de direito e garantia fundamental que depende de lei é o direito de greve dos servidores públicos (art. 37, VII) ou da aposentadoria especial (art. 40, §4º). • José Afonso da Silva ainda explica que: “em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes” • Em caso de omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, a CF/88 previu o ajuizamento da ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e o mandado de injunção (MI). Em se tratando de Poder, a ADO seria o instrumento para fazer um apelo ao legislador, constituindo-o em mora, enquanto o MI, por seu turno, seria o importante instrumento de concretização dos direitos fundamentais, conforme jurisprudência do STF. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais • A eficácia horizontal surge como contraponto à eficácia vertical dos direitos fundamentais, que se referem à aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre o particular e o Estado. • A eficácia horizontal dos direitos fundamentais diz respeito à sua aplicação nas relações privadas, destacando-se: Teoria da eficácia indireta (mediata) ou direta (imediata) - Eficácia indireta ou mediata: Aplicação dos direitos fundamentais de tanto em uma dimensão proibitiva e voltado para o Legislador, que não poderá editar lei que viole direitos fundamentais, como, ainda, positiva, voltado para que o Legislador implemente os direitos fundamentais, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas. • - Eficácia direta ou imediata: Alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas sem que haja a necessidade de intermediação legislativa para a sua concretização. • Eficácia “irradiante” dos direitos fundamentais: Importante consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais é a sua eficácia irradiante (Daniel Sarmento), seja para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração Pública ao “governar”, seja para o Judiciário ao resolver eventuais conflitos. Alguns precedentes judiciais de aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas • RE 160.222-8: entendeu-se constituir “constrangimento ilegal” a revista íntima em mulheres em fábrica de lingerie • RE 201.819: exclusão de membro de sociedade sem a possibilidade de sua defesa – violação do devido processo legal, contraditório e ampla defesa (Min. Gilmar Mendes) O último é marcante quanto à tendência do STF em aplicar a teoria da eficácia direta dos direitos fundamentais às relações privadas. Deveres fundamentais • Diante da vida em sociedade, além dos direitos fundamentais, tem-se também os deveres fundamentais, pois muitas vezes o direito de um indivíduo depende do dever do outro em não violar ou impedir a concretização do direito. • Alguns deveres fundamentais (Dimoulis e Martins): • A) dever de efetivação dos direitos fundamentais: atuação positiva do Estado • B) deveres específicos do Estado diante dos indivíduos: por exemplo, indenizar o condenado por erro judiciário • deveres de criminalização do Estado: atuação do Poder Legislativo, como por exemplo, normatização do crime de tortura, cf. art. 5º, XLIII, da CF/88 • D) deveres dos cidadãos e da sociedade: exemplo do serviço militar obrigatório (art. 143 da CF) e da educação enquanto dever do Estado e da família (art. 205 da CF) • E) dever de exercício do direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da sociedade: exemplo do direito de propriedade, que deve ser exercido conforme a sua função social (art. 5º, XXIII, CF) • F) deveres implícitos: o exercício do direito por uma pessoa pressupõe o dever de todas as demais e, sobretudo, das autoridades do Estado.
Compartilhar