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PERFORMANCE COMPORTAMENTAL E FILOSÓFICA1:
ALAVANCAGEM PARA UMA COMPETÊNCIA
INTEGRADA DO ADMINISTRADOR2
ELIDIHARA TRIGUEIRO GUIMARÃES
Professora da Universidade Federal do Ceará
"Com exceção de mudar o outro, tudo
é possível...
Inclusive (...)criar um planeta digno de
todos nós vivermos."
Roberto Shinyashiki
Resumo
Com as novas tendências mundiais simultaneamente pulverizadas e
maximizadas aos quatro cantos do planeta, através da globalização da
economia, vêm-se ecoando junto ao mercado de trabalho o novo perfil exigido
de competência profissional, especialmente do nosso Gestor / líder / condutor
de pessoas, ou seja, do administrador do futuro hoje. Administrar passou a ser
configurado como uma das profissões mais procuradas por um grande
contigente de jovens / adultos e profissionais que almejam abrir um negócio,
ser um consultor, gerenciar uma empresa e/ou conduzir o desenvolvimento de
grupos de trabalho. Dessa forma, a performance gerencial passou a ser a
grande meta, simbolizando evolução de status, de postura, de comportamento
e de visão sob todos os ângulos esperados, de acordo com as novas
demandas organizacionais. Faz-se mister, diante deste enfoque, uma
potencialização de ferramentas que integrem a nova Competência do
Administrador. Competência esta, integrada, antidual e realista composta de:
Pensamento Filosófico (episteme) e Assertividade Interpessoal (empatia)
sincronizados como uma dupla, face práxica fomentadora de ações efetivas no
campo gerencial, propiciando VISÃO / CONHECIMENTO /
INTERPESSOALIDADE, e que funcionem dentro de uma assertividade criativa
e condizente com as necessidades cotidianas advindas de uma avalanche de
mudanças voláteis.
Summary
With the new world tendencies simultaneously powdered and maximizes to the
whole planet, through the junction of the economy, a new professional profile is
come the market demandeding competence, especially of our Manager / leader
/ people's conductor, that is to say, of the administrator today. Administering
became configured as one of the professions more sought by a great contingent
1 As idéias inspiradoras desse artigo surgiram da experiência docente da autora junto as
disciplinas de Filosofia Aplicada à Administração e Comportamento Organizacional (UFC –
FEAAC).
2 Trabalho apresentado no IX ENANGRAD
of youths / adults and professionals that long for to open a business, to be a
consultant, to manage a company and / or to conduct the development of work
groups. In that way, the managerial performance became the great goal,
symbolizing status evolution, of posture, of behavior and of vision under all the
expected angles, according to the new organizational demands. It's necessary,
according to this, a potentialization of tools that integrate the Administrator's
new Competence. This competence, integrated, antidual and realistic
composed of Philosophical thought (episteme) and Interpersonal Behavior
(empathy) synchronizes as a couple, promoting of effective actions in the
managerial field, propitiating VISION / KNOWLEDGE / INTERPERSONALITY,
and that work inside of a creative assertivity and matching with the everyday
needs coming from a lot of volatile changes.
Área temática: COMPETÊNCIA HUMANA
INTRODUÇÃO
Diante de um grande arsenal de mutações tecnológicas, ambientais e
econômicas3, percebe-se o quanto os perfis profissionais, junto ao mercado de
trabalho, passaram também por uma guinada de modificações, desde a
qualificação básica até o conjunto de habilidades psicossociais exigidas para o
preenchimento de vagas ofertadas pelas inúmeras Organizações.
Em décadas passadas tinha-se o chamado exército industrial de reserva
composto por uma grande massa de profissionais semi e/ou desqualificados,
buscando uma oportunidade de capacitação via ação empregatícia.
Hoje, assiste-se uma quase que corrida frenética de todas as áreas de trabalho
tentando uma chance de ingresso e/ou permanência no mercado em contexto,
seja como empregado / autônomo / liberal e/ou prestador de serviço
temporário.
O exército industrial de reserva, agora passou a abranger quase todas
as categorias profissionais; posto que o novo passaporte para o profissional de
hoje, com vistas à sua manutenção no futuro, exige polivalência de habilidades,
conhecimentos básicos de línguas estrangeiras e computação, incrementando,
dessa forma, a busca de uma competência sintonizada com as novas
demandas sociais.
Mais do que nunca, os diversos profissionais da atualidade, deverão
buscar cursos / treinamentos, reciclagens e capacitação contínua, tendo em
vista a velocidade das informações chegando praticamente em tempo real,
exigindo postura e conhecimento profissionais de primeira linha aliados a uma
abertura mental para novos desafios e fronteiras de atuação4.
Nessa corrida, todo ofício deverá ser potencializado através do esforço
de cada profissional em descobrir um conjunto de variáveis intrínsecas à sua
3 Sobre o assunto, vide Stan Davis e Bill Davidson – Management 2000. 2.ª ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.
4 A este respeito, vide Peter Drucker – As Novas Reatividades. 2.ª ed. São Paulo: Pioneira,
1991.
personalidade e estilo de trabalho, a fim de desenvolver uma espécie de sensor
adaptável às velozes mutações conjunturais.
ADMINISTRAÇÃO - UMA PROFISSÃO EM AUGE NO MERCADO?
Dentre tantas áreas de trabalho existentes no mercado, atenção especial
e grifante torna-se crescentemente presente em referência ao curso de
Administração, posto que este engloba um leque de requisitos / conhecimentos
e habilitações imprescindíveis ao novo perfil profissional exigido, principalmente
no tocante aos cargos gerenciais, de assessoria e consultoria interna / externa
nas organizações públicas e/ou privadas.
Administrar passou a ser mais do que um ofício de gerenciamento formal
de processos internos de uma Organização, através das clássicas funções
administrativas: Planejar, organizar, coordenar e controlar. Hoje, administrar
exige uma articulação inteligente e efetiva numa era de incertezas e
imprevisibilidade contínua, resultante dos turbulentos ditames dos blocos
monopolistas da economia mundial5.
Assim, faz-se mister uma reestruturação curricular periódica e
sistemática no conjunto de matérias em Administração, vislumbrando a oferta
de um curso de visão contemporânea e atento às constantes demandas de
mercado.
Com isso, tem-se como meta básica, para a potencialização do novo
perfil desse administrador, a estruturação de um conjunto de habilidades
conjugadas e interdependentes capazes de fomentar uma nova competência
em Administração.
Uma vez que, acompanha-se o grande contigente de ocupações
profissionais interferindo e/ou invadindo as especificações aplicadas e
condizentes com a área de administração (hoje em dia todo profissional vê-se
capaz de ocupar o cargo de administrador), e a própria visão de mercado
solicitando uma postura gerencial6 em relação a quase todo profissional
(independente da área de atuação) em exercício, percebe-se a urgência de um
despertar rápido e eficaz da própria área em discussão, a fim de legitimar não
precisamente um espaço de trabalho, mas uma maturidade e lucidez em
termos de inteireza profissional (qualidade, desempenho, performance e
assertividade)7.
Alavancagem profissional: administrar é superar as próprias funções
gerenciais
Com o enfoque dessas reflexões, percebe-se que diversas
características e habilidades inovadoras estão sendo cobradas ao novo
administrador, tais como: criatividade, flexibilidade, sensibilidade, maestria,
5 Vide Ricardo Antunes – Adeus ao Trabalho. 4.ª ed. São Paulo: Cortez, 1997.
6 Sobre esse temário, vide Ichak Adizes – Gerenciando Mudanças. São Paulo: Pioneira, 1993.
7 Vide Jairo Siqueira – Liderança, Qualidade e Competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1995.
gestão de times. Contudo, ainda assim soa como algo subjetivo e pouco
concreto. Há inúmeras variáveis responsáveis por essa perspectiva.
Primeiramente pelo escasso exercício maturacional do próprio profissional ao
longo de sua história pessoal/ vida escolar e acadêmica. Segundo, pela
própria evolução recente e lenta da visão de amplitude da profissão em
Administração (anteriormente estanque / dicotomizada e pouco permitindo uma
visão generalista, em termos práticos, para o próprio formado na área).
Terceiro, pela ausência de clareza e delimitação da própria profissão junto às
organizações, reproduzindo por muitas décadas (e reforçadas pelas teorias
tradicionais da Administração), uma atuação direcionada apenas para a
gerência geral (muitas vezes com pouca autonomia decisória) ou para uma
gerência setorizada, e desprovida de intercâmbio com os outros departamentos
organizacionais.
Surge então a possibilidade de delinear um novo caminho para o
profissional de administração, sem desvinculá-lo de suas origens conceituais e
metodológicas, mas abrangendo um corpo de variáveis alicerçadas, que
permitam à profissão não um trilho engessante com padrões rígidos de conduta
e gestão, mas trilhas para nortear e embasar ações responsáveis, pró-ativas,
inteligentes e passíveis de mutação, de acordo com as vicissitudes do
mercado, e consequentemente das Organizações.
Superando as próprias funções gerenciais vigentes, o profissional /
administrador deverá agora exercitar e construir simultaneamente um novo
repertório de atividades, não mais técnicas, mas estratégicas e
comportamentais, capazes de fortalecer essa nova postura tão difundida e
ainda pouco atingida. O novo passo é pensar filosoficamente8 e ter
assertividade comportamental9.
Desenvolvimento comportamental e filosófico: construindo uma nova
competência gerencial
Durante muitas décadas a visão de habilidades gerenciais básicas
(técnica, conceitual e humana), foram difundidas e condicionadas de forma
separatista e hierárquica, dividindo a importância desse conjunto de variáveis,
e dicotomizando a competência profissional em diversas parcelas de
conhecimento e conduta gerencial. Consequentemente isso veio refletir-se até
os tempos atuais, permitindo um esfacelamento da grandeza global da ótica
administrativa10.
Vale salientar que enquanto formação acadêmica, a didática de ensino
exige e precisa delimitar / apresentar e focalizar as diversas vertentes em
Administração = Recursos Humanos, Materiais, Produção, Marketing, OS&M,
Geral e Finanças. Contudo, a articulação no gerenciamento prático deve
8 Sobre esse assunto, vide Urbano Zilles – Teoria do Conhecimento. Porto Alegre: 1994.
9 A respeito dessa variável, vide Waldemar Helena Júnior – Alquimia do Encontro. São Paulo:
Makron Books, 1994.
10 Ler retrospecto – Idalberto Chiavenato – Administração: Teoria, Processo e Prática. 2.ª ed.
São Paulo: Makron Books, 1994.
constituir-se num conjunto harmonioso e sistêmico, favorecendo a
especificidade com visão generalista.
Dessa forma, a performance do administrador deverá ser desenvolvida
ao longo de sua formação universitária, reciclada / potencializada e
retroalimentada no exercício contínuo de trabalho.
Ordenando pensamentos e registrando conclusões primeiras, o referido ensaio
enfatizará percepções obtidas do acervo teórico de diversos autores (vide
referências), refletindo-se no perpasse do discurso expresso no campo
comportamental e filosófico. Assim, delinear-se-á agora, um conjunto de
contribuições reflexivas favorecedoras de uma nova postura de trabalho ao
administrador:
· Pensamento Filosófico
Usar a racionalidade no campo de ação profissional, tem sido a grande
variável exercitada em toda atividade requerida nas Organizações, ainda que
em algumas tarefas houvesse um predomínio maior da execução.
Contudo, não se pode descartar a operação mental básica de todo ser
humano: pensar é fazer-se existir. Ser exímio na operacionalização não é só
ser técnico, é ser humano e agente de transformação. Construir, fazer e obter
resultados é articular a cognição, é expressar o uso do intelecto, ainda que com
intensidades diferenciadas.
Hoje, o pensar exige uma amplitude de conexões e de uma
sincronicidade, que supera a visão cartesiana e linear, promovendo a
variedade de ângulos de perguntas e respostas, favorecendo o caráter
dialógico e comunicativo, a reflexão pontuada e coerente, o exercício da
possibilidade e não somente da verdade única, resultando em uma descoberta
contínua do próprio potencial interno e infinito. É a condição de filosofar, ou
seja, conversar / argumentar / discutir e enunciar de forma contextualizada11.
Administrar exige uma combinação madura e efetiva nos processos
decisórios, nas delegações de tarefas, na condução de grupos de trabalhos, na
intervenção organizacional, no diagnóstico da cultura, na previsão de
resultados, no planejamento estratégico. Assim, permitir-se filosofar, é admitir a
própria essência pensante (episteme), e exercitar-se enquanto sujeito condutor
consciente das próprias ações e reações.
Com a perspectiva atual de estrategista e negociador contínuo nas
interfaces organizacionais, o administrador deverá desenvolver o senso
filosófico, desprendendo-se da visão estanque e limitante e tão previsível até
então exigida, e agora invertida, uma vez que a "desarrumação " estrutural e
cultural que impera as Organizações hoje, reflete a necessidade de um novo
cenário, de novos sistemas e processos administrativos, de novas condutas,
facilitando a co-responsabilidade da Organização e dos colaboradores
funcionais / parceiros, permitindo assim que o Administrador facilite esta
transição.
11 Vide sobre esse tema, Marilena Chauí – Convite à Filosofia. 7.ª ed. São Paulo: Ática, 1996.
· Assertividade Interpessoal
Usar prontidão e energia potencial assertiva tem sido uma das mais
fortes características exigidas do profissional de Administração, posto que
competitividade e produtividade têm sido as grandes "vedetes" durante a última
década no mercado de trabalho. Assim, garantir uma atuação determinada,
dinâmica, segura e com espírito ético tem sido a grande lacuna e desafio por
parte dos profissionais atuais.
Ser assertivo interpessoalmente é exalar coerência de discurso e
prática, é ser hábil no manejo das relações interpessoais respeitando os
diversos escalões hierárquicos sabendo exigir efetividade com sabedoria
embasada. É ter prontidão com qualidade, é ter determinação de propósitos e
ideais. É acreditar em si no exercício interacional. É romper barreiras com
inteligência e criatividade12.
Durante muitas épocas o exercício administrativo bastava-se pelo poder
autorizado, pela centralização de decisões, pela estratificação da autoridade.
Hoje, ser administrador é conquistar e não somente impor, é comandar e não
mais mandar, é manejar conflitos e não abafá-los, é gerenciar comportamentos
e não mais difundir padrões de conduta inflexíveis. É percebe-se como uma
Organização; portanto, exercitar a auto-gestão, e então poder refletir segurança
prática como gestor organizacional13.
Para desenvolver essa assertividade interpessoal, é imprescindível, pela
própria ousadia, a humildade de buscar-se o auto-conhecimento, percebendo-
se inteiro e dotado de limites e possibilidades, com aspectos a melhorar, outros
a superar e vários a desenvolver, permitindo-se uma auto-visão integrada:
sensações, emoções, reflexões e intuições. E a partir daí, potencializá-las e
definir uma performance de inteireza, um estilo pessoal consistente, uma
proposta de atuação contextualizada, um propósito de vida convergente e/ou
identificável com os desafios aos quais tenha que gerenciar nas Organizações.
· Competência Integrada14
Pensar de forma filosófica e agir de forma humanizada / estratégica não
é manipular pessoas e processos, é facilitar o desenvolvimento organizacional,
observando / intervindo / assessorando de forma criativa e intuitiva. Não é ser
empírico, é ter metodologia de trabalho, mas respeitando às próprias
habilidades pessoais e profissionais, construindo alternativas e tomando
decisões, a partir das próprias vozes e perguntas que saem de dentro das
Organizações, estando atento para as novas tecnologias, as novas exigências
de trabalho, e ao invés de ser um tecnicista/ especialista de área, articular a
técnica através de uma visão pró-ativa e humanizada, gerando não o
paternalismo autoritário, mas difundindo a co-responsabilidade de todos em
prol de um mesmo objetivo.
12 Vide Marcelo Galvão – Criativa Mente. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992.
13 Sobre esse assunto, vide Áurea Castilho – Liderando Grupos. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1992.
14 Vide Bennis/Nanus – Líderes. São Paulo: Harbra, 1988.
Assim administrar em tempos do hoje requer uma perspectiva de
empreendedorismo15 e não apenas de um executivo voltado para as funções
clássicas. É despertar o senso gerencial16 em um plano de ascendência
histórica, rompendo a linearidade do tecnicismo, e potencializar habilidades
lingüística / epistemológica e comportamentais fundamentando-se em prol da
superação dos limites de atuação no atual mercado de trabalho.
Com essa explanação, passar-se-á a delimitação de variáveis
intrínsecas ao processo de alavancagem17 do pensamento filosófico e da
assertividade comportamental.
FIGURA 1
FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 -
ESQUEMA TRIGOW I18.
Segundo o esquema exposto na Figura 1, o ser humano em sua maioria
busca como expectativa básica, o reconhecimento de suas ações e
realizações, seja o profissional que executa, seja o profissional que gerencia.
Dessa forma, o administrador sintonizado com as novas demandas
organizacionais deverá trabalhar suas próprias expectativas de auto-
reconhecimento, alimentando-se de conhecimentos e percepções
enriquecedoras, a fim de possibilitar o seu entendimento em relação às
expectativas organizacionais, (que em sua maioria, advém dos funcionários,
15 Vide Ansoff / Declerck / Hayes – Do Planejamento Estratégico à Administração Estratégica.
São Paulo: Atlas, 1981.
16 Vide Charles Handy – Deuses da Administração. São Paulo: Saraiva, 1994.
17 Vide Ruy de Alencar Mattos – Desenvolvimento de Recursos Humanos e Mudança
Organizacional. Rio de Janeiro: ANFUP, 1985.
18 Seqüência de Experimentos na área de Desenvolvimento Organizacional (por parte da
autora) de 1985 a 1995 / Área empresarial – Fortaleza – CE.
Habilidade Humana
Comportamento integral
Auto conhecimento
Decisão consciente
Mudança
Reconhecer-se
Habilidade Humana
Comportamento integral
Auto conhecimento
Decisão consciente
Mudança
Habilidade Humana
Comportamento integral
Auto conhecimento
Decisão consciente
Mudança
Reconhecer-se
clientes, colaboradores e de seus parceiros), e que precisarão ser gerenciadas
de forma habilidosa.
Pelo modelo apresentado a habilidade humana é um exercício de
potencialização dupla seta do próprio comportamento integral, no qual
implicará na otimização do auto-conhecimento, gerando decisões conscientes
e verdadeiras mudanças de comportamento, e não apenas reformas
conceituais e falsetes na postura profissional.
Somente vivenciando a contínua auto-avaliação, o administrador do
hoje/amanhã poderá incrementar a própria sensibilidade gerencial19,
aproximando-se verdadeiramente de seu grupo de trabalho, captando suas
reais necessidades e conjugando-as, na medida do possível, com as
expectativas organizacionais, podendo assim, florescer resultantes efetivas em
termos de maximização da produtividade esperada.
A partir da conscientização do administrador em reconhecer-se como ser
em processo contínuo de indagação e anseios (como todos que lhe rodeiam),
torna-se-á possível uma prática administrativa coerente, realista, ao mesmo
tempo estimuladora como também mais assertiva.
Com isso, percebe-se que, para administrar fluxos, processos e métodos
faz-se mister o gerenciamento eficaz da cultura organizacional, e somente
dessa forma, o administrador obterá retornos reais e rentáveis, posto que,
gerenciar cultura é desmistificar mitos e feudos organizacionais, desnudando
máscaras e projetando gradativamente talentos e potenciais funcionais. Assim,
através do conhecimento mais efetivo de si e do outro será possível atingir
comunhão e realização dos objetivos da missão empresarial. É a co-
responsabilidade na prática e aplicação real de um discurso muitas vezes
livresco.
Com esse ponto de vista em reflexão passa-se agora a outro modelo
explicativo.
19 Vide Pagès / Bonetti / Gaulejac / Descendre – O Poder das Organizações. São Paulo: Atlas,
1993.
FIGURA 2
FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 -
ESQUEMA TRIGOW II20.
De acordo com diversos autores em contexto, diversos fatores
intrínsecos ao comportamento humano navegam através de nossas atitudes e
posturas em geral, promovendo internalizações e mecanismos de defesa, que
limitam e/ou embotam a potencialidade latente em todo ser humano21.
Assim, segundo o que ilustra a Figura 2, faz-se necessário o
desenvolvimento contínuo, (através do feed-back e de uma interação
compartilhada), da crescente fomentação do próprio entusiasmo (estímulo
senso-perceptivo), que de acordo com a progressão otimizada gera a auto
confiança (emotividade sensibilizada), facilitando a maximização da auto-
estima (senso lógico da própria credibilidade), contribuindo para o exercício
contínuo da criatividade (geração intuitiva e motivadora).
Todo esse percurso permite ao administrador embasar sua atuação com
gestor / facilitador de comportamentos organizacionais saudáveis e pró-ativos,
pela consciência e vivência de auto-percepção, implicando em uma real
mudança de performance, contribuindo efetivamente para uma prática
modernizada e atualizante.
E com a perspectiva desse crescimento em competência integrada,
passa-se nessa evolução para a interface com o dispositivo filosófico,
conectando-se de forma simultânea e não dual.
20 Já citado, seqüência de pesquisas / experimento na área de D.O. (pela autora) fazendo
interface com o desenvolvimento intra e interpessoal de 1985 / 1995 – Anteprojeto para
especialização na área – Fortaleza – CE.
21 Vide Fela Moscovici – Renascença Organizacional. Rio de Janeiro: Livros técnicos e
científicos, 1988.
Criatividade
Auto-estima
Auto-confiança
Entusiasmo
Reconhecer-se
Criatividade
Auto-estima
Auto-confiança
Entusiasmo
Reconhecer-se
FIGURA 3
FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 -
ESQUEMA TRIGOW III22.
Com a Figura III expressa-se a importância do administrador observar o
seu próprio processo de captação da realidade e como é desenvolvido os atos
apreendidos, discernindo através do feed back estratégico (checagem
contínua) a qualidade das suas percepções (sensações) e formação de
opiniões (impressões), a fim de ampliar seu universo de reflexões (razões) e
obter a compreensão efetiva (intuições)23.
Esse percurso vem enfatizar a circularidade do conhecer e do aprender,
permitindo ao administrador ter um entendimento do real com sabedoria.
É o exercício da introspecção e extroversão de percepções e doxas que se
desvendam e são conferidas a cada interação, propiciando uma atuação
gerencial alicerçada em uma lógica racional e ao mesmo tempo
interpessoalizada, conduzindo a atos pensados e resoluções adequadas à
realidade em questão.
Administrar deve permitir a auto-gestão e o auto aprimoramento do
executivo/empreendedor, encaminhando-o para contínuos reexames de
postura com sobriedade e humildade, refletindo sobre os próprios valores,
crenças, estilo e atitudes, na busca de uma melhoria contínua de conduta e de
resultados profissionais, habilitando-se para poder detectar (no universo que
gerencie), todo esse processo nos grupos organizacionais, provocando-os para
o auto-desenvolvimento e para uma visão de compartilhamento de desafios e
incertezas.
22 Idem Notas 18 e 20.
23 Para maior aprofundamento, vide Iva Progoff – Sincronicidade e Destino Humano. São
Paulo: Cultrix, 1995.
Compreensão
Reflexão
Opinião
Percepção
Reconhecer-se
Compreensão
Reflexão
Opinião
Percepção
Reconhecer-se
Retomando o propósito inicial: Conexão Visão / Conhecimento /
Interpessoalidade.
Pelo o que este artigo teve como embrionária expressão, percebe-se a ampla
dimensão que deverá ser potencializadano campo de formação e atuação do
Administrador, ou seja, Conhecimento Conceitual atrelado a uma Prática
Estratégica gerando Ação Interventiva Humanizada.
Torna-se impraticável na atual conjuntura, o exercício gerencial pautado
em uma visão positivista e dicotomizada (onde visualiza-se as Organizações
como entidades abstratas e previsíveis em sua dinâmica interna e de interface
com o meio circundante).
Com as novas demandas, caberá ao Administrador conscientizar-se dos
impasses contigenciais existentes no novo perfil de sua gestão, e criar o hábito
contínuo de melhoria de performance pessoal e profissional como um valor
intrínseco à sua filosofia de vida. Pois, somente assim poderá conquistar e/ou
manter um espaço de trabalho praticável, em termos de aplicação real de
técnicas e processos aprendidos.
Visualizando ainda que, na medida em que haja um repensar acadêmico
na formação do Administrador, e uma revisão de princípios filosóficos e
comportamentais por parte do corpo de profissionais da área atuantes no
mercado, poder-se-á vislumbrar uma reestruturação educacional a nível
nacional, gerando quiçá a ressonância necessária ao redimensionamento de
teorias e práticas de trabalho.
Dessa forma, acredita-se que este ensaio surja como um despertar ou
reforço de reflexões já iniciadas, no sentido de fermentar uma ebulição positiva
no seio da profissão em debate.
Acreditando no pressuposto, de que antes de se ser um profissional, se
é uma pessoa inteira com limites e possibilidades, registra-se nesse final de
contribuições, que administrar com competência é ter consciência pessoal do
que se é, melhorar e potencializar pontos fortes e superar deficiências internas
com coragem e assertividade, e decorrente disto, exercitar como facilitador, o
processo de gerenciamento nos grupos que venha e/ou esteja conduzindo.
Mais do que ser executivo, ser administrador, é ter competência de auto-
gestão e ser empreendedor no manejo das potencialidades humanas das
Organizações, vislumbrando, que somente assim (pretensa premissa) poder-
se-á gerar a rentabilidade e produtividade da qual resume o grande reflexo das
missões empresariais.
Com o enfoque filosófico (estratégico) e uma postura de equilíbrio
pessoal (assertividade) a competência integrada do Administrador terá seu
espaço promissor num ambiente, em que quem exalar harmonia no caos e na
ambigüidade conquistará o direito de fato de ser chamado de líder.
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