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PERFORMANCE COMPORTAMENTAL E FILOSÓFICA1: ALAVANCAGEM PARA UMA COMPETÊNCIA INTEGRADA DO ADMINISTRADOR2 ELIDIHARA TRIGUEIRO GUIMARÃES Professora da Universidade Federal do Ceará "Com exceção de mudar o outro, tudo é possível... Inclusive (...)criar um planeta digno de todos nós vivermos." Roberto Shinyashiki Resumo Com as novas tendências mundiais simultaneamente pulverizadas e maximizadas aos quatro cantos do planeta, através da globalização da economia, vêm-se ecoando junto ao mercado de trabalho o novo perfil exigido de competência profissional, especialmente do nosso Gestor / líder / condutor de pessoas, ou seja, do administrador do futuro hoje. Administrar passou a ser configurado como uma das profissões mais procuradas por um grande contigente de jovens / adultos e profissionais que almejam abrir um negócio, ser um consultor, gerenciar uma empresa e/ou conduzir o desenvolvimento de grupos de trabalho. Dessa forma, a performance gerencial passou a ser a grande meta, simbolizando evolução de status, de postura, de comportamento e de visão sob todos os ângulos esperados, de acordo com as novas demandas organizacionais. Faz-se mister, diante deste enfoque, uma potencialização de ferramentas que integrem a nova Competência do Administrador. Competência esta, integrada, antidual e realista composta de: Pensamento Filosófico (episteme) e Assertividade Interpessoal (empatia) sincronizados como uma dupla, face práxica fomentadora de ações efetivas no campo gerencial, propiciando VISÃO / CONHECIMENTO / INTERPESSOALIDADE, e que funcionem dentro de uma assertividade criativa e condizente com as necessidades cotidianas advindas de uma avalanche de mudanças voláteis. Summary With the new world tendencies simultaneously powdered and maximizes to the whole planet, through the junction of the economy, a new professional profile is come the market demandeding competence, especially of our Manager / leader / people's conductor, that is to say, of the administrator today. Administering became configured as one of the professions more sought by a great contingent 1 As idéias inspiradoras desse artigo surgiram da experiência docente da autora junto as disciplinas de Filosofia Aplicada à Administração e Comportamento Organizacional (UFC – FEAAC). 2 Trabalho apresentado no IX ENANGRAD of youths / adults and professionals that long for to open a business, to be a consultant, to manage a company and / or to conduct the development of work groups. In that way, the managerial performance became the great goal, symbolizing status evolution, of posture, of behavior and of vision under all the expected angles, according to the new organizational demands. It's necessary, according to this, a potentialization of tools that integrate the Administrator's new Competence. This competence, integrated, antidual and realistic composed of Philosophical thought (episteme) and Interpersonal Behavior (empathy) synchronizes as a couple, promoting of effective actions in the managerial field, propitiating VISION / KNOWLEDGE / INTERPERSONALITY, and that work inside of a creative assertivity and matching with the everyday needs coming from a lot of volatile changes. Área temática: COMPETÊNCIA HUMANA INTRODUÇÃO Diante de um grande arsenal de mutações tecnológicas, ambientais e econômicas3, percebe-se o quanto os perfis profissionais, junto ao mercado de trabalho, passaram também por uma guinada de modificações, desde a qualificação básica até o conjunto de habilidades psicossociais exigidas para o preenchimento de vagas ofertadas pelas inúmeras Organizações. Em décadas passadas tinha-se o chamado exército industrial de reserva composto por uma grande massa de profissionais semi e/ou desqualificados, buscando uma oportunidade de capacitação via ação empregatícia. Hoje, assiste-se uma quase que corrida frenética de todas as áreas de trabalho tentando uma chance de ingresso e/ou permanência no mercado em contexto, seja como empregado / autônomo / liberal e/ou prestador de serviço temporário. O exército industrial de reserva, agora passou a abranger quase todas as categorias profissionais; posto que o novo passaporte para o profissional de hoje, com vistas à sua manutenção no futuro, exige polivalência de habilidades, conhecimentos básicos de línguas estrangeiras e computação, incrementando, dessa forma, a busca de uma competência sintonizada com as novas demandas sociais. Mais do que nunca, os diversos profissionais da atualidade, deverão buscar cursos / treinamentos, reciclagens e capacitação contínua, tendo em vista a velocidade das informações chegando praticamente em tempo real, exigindo postura e conhecimento profissionais de primeira linha aliados a uma abertura mental para novos desafios e fronteiras de atuação4. Nessa corrida, todo ofício deverá ser potencializado através do esforço de cada profissional em descobrir um conjunto de variáveis intrínsecas à sua 3 Sobre o assunto, vide Stan Davis e Bill Davidson – Management 2000. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 4 A este respeito, vide Peter Drucker – As Novas Reatividades. 2.ª ed. São Paulo: Pioneira, 1991. personalidade e estilo de trabalho, a fim de desenvolver uma espécie de sensor adaptável às velozes mutações conjunturais. ADMINISTRAÇÃO - UMA PROFISSÃO EM AUGE NO MERCADO? Dentre tantas áreas de trabalho existentes no mercado, atenção especial e grifante torna-se crescentemente presente em referência ao curso de Administração, posto que este engloba um leque de requisitos / conhecimentos e habilitações imprescindíveis ao novo perfil profissional exigido, principalmente no tocante aos cargos gerenciais, de assessoria e consultoria interna / externa nas organizações públicas e/ou privadas. Administrar passou a ser mais do que um ofício de gerenciamento formal de processos internos de uma Organização, através das clássicas funções administrativas: Planejar, organizar, coordenar e controlar. Hoje, administrar exige uma articulação inteligente e efetiva numa era de incertezas e imprevisibilidade contínua, resultante dos turbulentos ditames dos blocos monopolistas da economia mundial5. Assim, faz-se mister uma reestruturação curricular periódica e sistemática no conjunto de matérias em Administração, vislumbrando a oferta de um curso de visão contemporânea e atento às constantes demandas de mercado. Com isso, tem-se como meta básica, para a potencialização do novo perfil desse administrador, a estruturação de um conjunto de habilidades conjugadas e interdependentes capazes de fomentar uma nova competência em Administração. Uma vez que, acompanha-se o grande contigente de ocupações profissionais interferindo e/ou invadindo as especificações aplicadas e condizentes com a área de administração (hoje em dia todo profissional vê-se capaz de ocupar o cargo de administrador), e a própria visão de mercado solicitando uma postura gerencial6 em relação a quase todo profissional (independente da área de atuação) em exercício, percebe-se a urgência de um despertar rápido e eficaz da própria área em discussão, a fim de legitimar não precisamente um espaço de trabalho, mas uma maturidade e lucidez em termos de inteireza profissional (qualidade, desempenho, performance e assertividade)7. Alavancagem profissional: administrar é superar as próprias funções gerenciais Com o enfoque dessas reflexões, percebe-se que diversas características e habilidades inovadoras estão sendo cobradas ao novo administrador, tais como: criatividade, flexibilidade, sensibilidade, maestria, 5 Vide Ricardo Antunes – Adeus ao Trabalho. 4.ª ed. São Paulo: Cortez, 1997. 6 Sobre esse temário, vide Ichak Adizes – Gerenciando Mudanças. São Paulo: Pioneira, 1993. 7 Vide Jairo Siqueira – Liderança, Qualidade e Competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995. gestão de times. Contudo, ainda assim soa como algo subjetivo e pouco concreto. Há inúmeras variáveis responsáveis por essa perspectiva. Primeiramente pelo escasso exercício maturacional do próprio profissional ao longo de sua história pessoal/ vida escolar e acadêmica. Segundo, pela própria evolução recente e lenta da visão de amplitude da profissão em Administração (anteriormente estanque / dicotomizada e pouco permitindo uma visão generalista, em termos práticos, para o próprio formado na área). Terceiro, pela ausência de clareza e delimitação da própria profissão junto às organizações, reproduzindo por muitas décadas (e reforçadas pelas teorias tradicionais da Administração), uma atuação direcionada apenas para a gerência geral (muitas vezes com pouca autonomia decisória) ou para uma gerência setorizada, e desprovida de intercâmbio com os outros departamentos organizacionais. Surge então a possibilidade de delinear um novo caminho para o profissional de administração, sem desvinculá-lo de suas origens conceituais e metodológicas, mas abrangendo um corpo de variáveis alicerçadas, que permitam à profissão não um trilho engessante com padrões rígidos de conduta e gestão, mas trilhas para nortear e embasar ações responsáveis, pró-ativas, inteligentes e passíveis de mutação, de acordo com as vicissitudes do mercado, e consequentemente das Organizações. Superando as próprias funções gerenciais vigentes, o profissional / administrador deverá agora exercitar e construir simultaneamente um novo repertório de atividades, não mais técnicas, mas estratégicas e comportamentais, capazes de fortalecer essa nova postura tão difundida e ainda pouco atingida. O novo passo é pensar filosoficamente8 e ter assertividade comportamental9. Desenvolvimento comportamental e filosófico: construindo uma nova competência gerencial Durante muitas décadas a visão de habilidades gerenciais básicas (técnica, conceitual e humana), foram difundidas e condicionadas de forma separatista e hierárquica, dividindo a importância desse conjunto de variáveis, e dicotomizando a competência profissional em diversas parcelas de conhecimento e conduta gerencial. Consequentemente isso veio refletir-se até os tempos atuais, permitindo um esfacelamento da grandeza global da ótica administrativa10. Vale salientar que enquanto formação acadêmica, a didática de ensino exige e precisa delimitar / apresentar e focalizar as diversas vertentes em Administração = Recursos Humanos, Materiais, Produção, Marketing, OS&M, Geral e Finanças. Contudo, a articulação no gerenciamento prático deve 8 Sobre esse assunto, vide Urbano Zilles – Teoria do Conhecimento. Porto Alegre: 1994. 9 A respeito dessa variável, vide Waldemar Helena Júnior – Alquimia do Encontro. São Paulo: Makron Books, 1994. 10 Ler retrospecto – Idalberto Chiavenato – Administração: Teoria, Processo e Prática. 2.ª ed. São Paulo: Makron Books, 1994. constituir-se num conjunto harmonioso e sistêmico, favorecendo a especificidade com visão generalista. Dessa forma, a performance do administrador deverá ser desenvolvida ao longo de sua formação universitária, reciclada / potencializada e retroalimentada no exercício contínuo de trabalho. Ordenando pensamentos e registrando conclusões primeiras, o referido ensaio enfatizará percepções obtidas do acervo teórico de diversos autores (vide referências), refletindo-se no perpasse do discurso expresso no campo comportamental e filosófico. Assim, delinear-se-á agora, um conjunto de contribuições reflexivas favorecedoras de uma nova postura de trabalho ao administrador: · Pensamento Filosófico Usar a racionalidade no campo de ação profissional, tem sido a grande variável exercitada em toda atividade requerida nas Organizações, ainda que em algumas tarefas houvesse um predomínio maior da execução. Contudo, não se pode descartar a operação mental básica de todo ser humano: pensar é fazer-se existir. Ser exímio na operacionalização não é só ser técnico, é ser humano e agente de transformação. Construir, fazer e obter resultados é articular a cognição, é expressar o uso do intelecto, ainda que com intensidades diferenciadas. Hoje, o pensar exige uma amplitude de conexões e de uma sincronicidade, que supera a visão cartesiana e linear, promovendo a variedade de ângulos de perguntas e respostas, favorecendo o caráter dialógico e comunicativo, a reflexão pontuada e coerente, o exercício da possibilidade e não somente da verdade única, resultando em uma descoberta contínua do próprio potencial interno e infinito. É a condição de filosofar, ou seja, conversar / argumentar / discutir e enunciar de forma contextualizada11. Administrar exige uma combinação madura e efetiva nos processos decisórios, nas delegações de tarefas, na condução de grupos de trabalhos, na intervenção organizacional, no diagnóstico da cultura, na previsão de resultados, no planejamento estratégico. Assim, permitir-se filosofar, é admitir a própria essência pensante (episteme), e exercitar-se enquanto sujeito condutor consciente das próprias ações e reações. Com a perspectiva atual de estrategista e negociador contínuo nas interfaces organizacionais, o administrador deverá desenvolver o senso filosófico, desprendendo-se da visão estanque e limitante e tão previsível até então exigida, e agora invertida, uma vez que a "desarrumação " estrutural e cultural que impera as Organizações hoje, reflete a necessidade de um novo cenário, de novos sistemas e processos administrativos, de novas condutas, facilitando a co-responsabilidade da Organização e dos colaboradores funcionais / parceiros, permitindo assim que o Administrador facilite esta transição. 11 Vide sobre esse tema, Marilena Chauí – Convite à Filosofia. 7.ª ed. São Paulo: Ática, 1996. · Assertividade Interpessoal Usar prontidão e energia potencial assertiva tem sido uma das mais fortes características exigidas do profissional de Administração, posto que competitividade e produtividade têm sido as grandes "vedetes" durante a última década no mercado de trabalho. Assim, garantir uma atuação determinada, dinâmica, segura e com espírito ético tem sido a grande lacuna e desafio por parte dos profissionais atuais. Ser assertivo interpessoalmente é exalar coerência de discurso e prática, é ser hábil no manejo das relações interpessoais respeitando os diversos escalões hierárquicos sabendo exigir efetividade com sabedoria embasada. É ter prontidão com qualidade, é ter determinação de propósitos e ideais. É acreditar em si no exercício interacional. É romper barreiras com inteligência e criatividade12. Durante muitas épocas o exercício administrativo bastava-se pelo poder autorizado, pela centralização de decisões, pela estratificação da autoridade. Hoje, ser administrador é conquistar e não somente impor, é comandar e não mais mandar, é manejar conflitos e não abafá-los, é gerenciar comportamentos e não mais difundir padrões de conduta inflexíveis. É percebe-se como uma Organização; portanto, exercitar a auto-gestão, e então poder refletir segurança prática como gestor organizacional13. Para desenvolver essa assertividade interpessoal, é imprescindível, pela própria ousadia, a humildade de buscar-se o auto-conhecimento, percebendo- se inteiro e dotado de limites e possibilidades, com aspectos a melhorar, outros a superar e vários a desenvolver, permitindo-se uma auto-visão integrada: sensações, emoções, reflexões e intuições. E a partir daí, potencializá-las e definir uma performance de inteireza, um estilo pessoal consistente, uma proposta de atuação contextualizada, um propósito de vida convergente e/ou identificável com os desafios aos quais tenha que gerenciar nas Organizações. · Competência Integrada14 Pensar de forma filosófica e agir de forma humanizada / estratégica não é manipular pessoas e processos, é facilitar o desenvolvimento organizacional, observando / intervindo / assessorando de forma criativa e intuitiva. Não é ser empírico, é ter metodologia de trabalho, mas respeitando às próprias habilidades pessoais e profissionais, construindo alternativas e tomando decisões, a partir das próprias vozes e perguntas que saem de dentro das Organizações, estando atento para as novas tecnologias, as novas exigências de trabalho, e ao invés de ser um tecnicista/ especialista de área, articular a técnica através de uma visão pró-ativa e humanizada, gerando não o paternalismo autoritário, mas difundindo a co-responsabilidade de todos em prol de um mesmo objetivo. 12 Vide Marcelo Galvão – Criativa Mente. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. 13 Sobre esse assunto, vide Áurea Castilho – Liderando Grupos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. 14 Vide Bennis/Nanus – Líderes. São Paulo: Harbra, 1988. Assim administrar em tempos do hoje requer uma perspectiva de empreendedorismo15 e não apenas de um executivo voltado para as funções clássicas. É despertar o senso gerencial16 em um plano de ascendência histórica, rompendo a linearidade do tecnicismo, e potencializar habilidades lingüística / epistemológica e comportamentais fundamentando-se em prol da superação dos limites de atuação no atual mercado de trabalho. Com essa explanação, passar-se-á a delimitação de variáveis intrínsecas ao processo de alavancagem17 do pensamento filosófico e da assertividade comportamental. FIGURA 1 FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 - ESQUEMA TRIGOW I18. Segundo o esquema exposto na Figura 1, o ser humano em sua maioria busca como expectativa básica, o reconhecimento de suas ações e realizações, seja o profissional que executa, seja o profissional que gerencia. Dessa forma, o administrador sintonizado com as novas demandas organizacionais deverá trabalhar suas próprias expectativas de auto- reconhecimento, alimentando-se de conhecimentos e percepções enriquecedoras, a fim de possibilitar o seu entendimento em relação às expectativas organizacionais, (que em sua maioria, advém dos funcionários, 15 Vide Ansoff / Declerck / Hayes – Do Planejamento Estratégico à Administração Estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. 16 Vide Charles Handy – Deuses da Administração. São Paulo: Saraiva, 1994. 17 Vide Ruy de Alencar Mattos – Desenvolvimento de Recursos Humanos e Mudança Organizacional. Rio de Janeiro: ANFUP, 1985. 18 Seqüência de Experimentos na área de Desenvolvimento Organizacional (por parte da autora) de 1985 a 1995 / Área empresarial – Fortaleza – CE. Habilidade Humana Comportamento integral Auto conhecimento Decisão consciente Mudança Reconhecer-se Habilidade Humana Comportamento integral Auto conhecimento Decisão consciente Mudança Habilidade Humana Comportamento integral Auto conhecimento Decisão consciente Mudança Reconhecer-se clientes, colaboradores e de seus parceiros), e que precisarão ser gerenciadas de forma habilidosa. Pelo modelo apresentado a habilidade humana é um exercício de potencialização dupla seta do próprio comportamento integral, no qual implicará na otimização do auto-conhecimento, gerando decisões conscientes e verdadeiras mudanças de comportamento, e não apenas reformas conceituais e falsetes na postura profissional. Somente vivenciando a contínua auto-avaliação, o administrador do hoje/amanhã poderá incrementar a própria sensibilidade gerencial19, aproximando-se verdadeiramente de seu grupo de trabalho, captando suas reais necessidades e conjugando-as, na medida do possível, com as expectativas organizacionais, podendo assim, florescer resultantes efetivas em termos de maximização da produtividade esperada. A partir da conscientização do administrador em reconhecer-se como ser em processo contínuo de indagação e anseios (como todos que lhe rodeiam), torna-se-á possível uma prática administrativa coerente, realista, ao mesmo tempo estimuladora como também mais assertiva. Com isso, percebe-se que, para administrar fluxos, processos e métodos faz-se mister o gerenciamento eficaz da cultura organizacional, e somente dessa forma, o administrador obterá retornos reais e rentáveis, posto que, gerenciar cultura é desmistificar mitos e feudos organizacionais, desnudando máscaras e projetando gradativamente talentos e potenciais funcionais. Assim, através do conhecimento mais efetivo de si e do outro será possível atingir comunhão e realização dos objetivos da missão empresarial. É a co- responsabilidade na prática e aplicação real de um discurso muitas vezes livresco. Com esse ponto de vista em reflexão passa-se agora a outro modelo explicativo. 19 Vide Pagès / Bonetti / Gaulejac / Descendre – O Poder das Organizações. São Paulo: Atlas, 1993. FIGURA 2 FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 - ESQUEMA TRIGOW II20. De acordo com diversos autores em contexto, diversos fatores intrínsecos ao comportamento humano navegam através de nossas atitudes e posturas em geral, promovendo internalizações e mecanismos de defesa, que limitam e/ou embotam a potencialidade latente em todo ser humano21. Assim, segundo o que ilustra a Figura 2, faz-se necessário o desenvolvimento contínuo, (através do feed-back e de uma interação compartilhada), da crescente fomentação do próprio entusiasmo (estímulo senso-perceptivo), que de acordo com a progressão otimizada gera a auto confiança (emotividade sensibilizada), facilitando a maximização da auto- estima (senso lógico da própria credibilidade), contribuindo para o exercício contínuo da criatividade (geração intuitiva e motivadora). Todo esse percurso permite ao administrador embasar sua atuação com gestor / facilitador de comportamentos organizacionais saudáveis e pró-ativos, pela consciência e vivência de auto-percepção, implicando em uma real mudança de performance, contribuindo efetivamente para uma prática modernizada e atualizante. E com a perspectiva desse crescimento em competência integrada, passa-se nessa evolução para a interface com o dispositivo filosófico, conectando-se de forma simultânea e não dual. 20 Já citado, seqüência de pesquisas / experimento na área de D.O. (pela autora) fazendo interface com o desenvolvimento intra e interpessoal de 1985 / 1995 – Anteprojeto para especialização na área – Fortaleza – CE. 21 Vide Fela Moscovici – Renascença Organizacional. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1988. Criatividade Auto-estima Auto-confiança Entusiasmo Reconhecer-se Criatividade Auto-estima Auto-confiança Entusiasmo Reconhecer-se FIGURA 3 FONTE: Modelo explicativo concebido pela autora desse artigo em 1995 - ESQUEMA TRIGOW III22. Com a Figura III expressa-se a importância do administrador observar o seu próprio processo de captação da realidade e como é desenvolvido os atos apreendidos, discernindo através do feed back estratégico (checagem contínua) a qualidade das suas percepções (sensações) e formação de opiniões (impressões), a fim de ampliar seu universo de reflexões (razões) e obter a compreensão efetiva (intuições)23. Esse percurso vem enfatizar a circularidade do conhecer e do aprender, permitindo ao administrador ter um entendimento do real com sabedoria. É o exercício da introspecção e extroversão de percepções e doxas que se desvendam e são conferidas a cada interação, propiciando uma atuação gerencial alicerçada em uma lógica racional e ao mesmo tempo interpessoalizada, conduzindo a atos pensados e resoluções adequadas à realidade em questão. Administrar deve permitir a auto-gestão e o auto aprimoramento do executivo/empreendedor, encaminhando-o para contínuos reexames de postura com sobriedade e humildade, refletindo sobre os próprios valores, crenças, estilo e atitudes, na busca de uma melhoria contínua de conduta e de resultados profissionais, habilitando-se para poder detectar (no universo que gerencie), todo esse processo nos grupos organizacionais, provocando-os para o auto-desenvolvimento e para uma visão de compartilhamento de desafios e incertezas. 22 Idem Notas 18 e 20. 23 Para maior aprofundamento, vide Iva Progoff – Sincronicidade e Destino Humano. São Paulo: Cultrix, 1995. Compreensão Reflexão Opinião Percepção Reconhecer-se Compreensão Reflexão Opinião Percepção Reconhecer-se Retomando o propósito inicial: Conexão Visão / Conhecimento / Interpessoalidade. Pelo o que este artigo teve como embrionária expressão, percebe-se a ampla dimensão que deverá ser potencializadano campo de formação e atuação do Administrador, ou seja, Conhecimento Conceitual atrelado a uma Prática Estratégica gerando Ação Interventiva Humanizada. Torna-se impraticável na atual conjuntura, o exercício gerencial pautado em uma visão positivista e dicotomizada (onde visualiza-se as Organizações como entidades abstratas e previsíveis em sua dinâmica interna e de interface com o meio circundante). Com as novas demandas, caberá ao Administrador conscientizar-se dos impasses contigenciais existentes no novo perfil de sua gestão, e criar o hábito contínuo de melhoria de performance pessoal e profissional como um valor intrínseco à sua filosofia de vida. Pois, somente assim poderá conquistar e/ou manter um espaço de trabalho praticável, em termos de aplicação real de técnicas e processos aprendidos. Visualizando ainda que, na medida em que haja um repensar acadêmico na formação do Administrador, e uma revisão de princípios filosóficos e comportamentais por parte do corpo de profissionais da área atuantes no mercado, poder-se-á vislumbrar uma reestruturação educacional a nível nacional, gerando quiçá a ressonância necessária ao redimensionamento de teorias e práticas de trabalho. Dessa forma, acredita-se que este ensaio surja como um despertar ou reforço de reflexões já iniciadas, no sentido de fermentar uma ebulição positiva no seio da profissão em debate. Acreditando no pressuposto, de que antes de se ser um profissional, se é uma pessoa inteira com limites e possibilidades, registra-se nesse final de contribuições, que administrar com competência é ter consciência pessoal do que se é, melhorar e potencializar pontos fortes e superar deficiências internas com coragem e assertividade, e decorrente disto, exercitar como facilitador, o processo de gerenciamento nos grupos que venha e/ou esteja conduzindo. Mais do que ser executivo, ser administrador, é ter competência de auto- gestão e ser empreendedor no manejo das potencialidades humanas das Organizações, vislumbrando, que somente assim (pretensa premissa) poder- se-á gerar a rentabilidade e produtividade da qual resume o grande reflexo das missões empresariais. Com o enfoque filosófico (estratégico) e uma postura de equilíbrio pessoal (assertividade) a competência integrada do Administrador terá seu espaço promissor num ambiente, em que quem exalar harmonia no caos e na ambigüidade conquistará o direito de fato de ser chamado de líder. BIBLIOGRAFIA ADIZES, Ichak. Gerenciando as mudanças: o poder da confiança e do respeito mútuos na vida pessoal, familiar, nos negócios e na sociedade. Tradução Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Pioneira, 1993. ANSOFF, H. Igor; DECLERCK, Roger P.; HAYES, Robert L. Do Planejamento estratégico à Administração estratégica. Tradução de Carlos Roberto Vieira de Araújo. São Paulo: Atlas, 1981. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1997. BEAUPORT, Elaine de; DIAZ, Ana Sofia. Inteligência Emocional: As Três Faces da Mente. Tradução Marly Winckler. Editora Teosófica, 1988. BENNIS, Warren & NAMUS, Burt. 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